Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CURSO INTENSIVO PARA RESIDÊNCIAS FA R M ÁC I A FARMACOLOGIA – PARTE I PROFESSORA Thassila Nogueira Pitanga ORGANIZADORA Farmacêutica graduada pela Universidade Federal da Bahia. Mestre e Doutora em Pato- logia Humana pelo Instituto Gonçalo Moniz (IGM, Fiocruz-Ba). Pós doutora com ênfase em Farmacodinâmica e Biologia Molecular (IGM, Fiocruz-Ba). Professora e pesquisadora da Universidade Católica do Salvador. Presidente da Comissão de Pesquisa do Conselho Regional de Farmácia (CRF-BA). Pesquisadora colaboradora nos Laboratórios de Inves- tigação em Genética e Hematologia Translacional (LIGHT/IGM) e de Pesquisa Experi- mental (LAPEX/IGM). Supervisora Técnica do Núcleo de Farmácia na Editora Sanar. 2020 © Todos os direitos autorais desta obra são reservados e protegidos à Editora Sanar Ltda. pela Lei nº 9.610, de 19 de Fevereiro de 1998. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume ou qualquer parte deste livro, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, gravação, fotocópia ou outros), essas proibições aplicam-se também à editoração da obra, bem como às suas características gráficas, sem permissão expressa da Editora. Intensivo para residências em farmácia: Farmacologia - Parte I Karen Nina Nolasco Microart Design Editorial Fabrício Sawczen Microart Design Editorial Caio Vinicius Menezes Nunes Paulo Costa Lima Sandra de Quadros Uzêda Silvio José Albergaria da Silva Título | Editor | Diagramação| Projeto gráfico e Capa | Revisor Ortográfico | Conselho Editorial | Editora Sanar S.A R. Alceu Amoroso Lima, 172 - Salvador Office & Pool, 3ro Andar - Caminho das Árvores CEP 41820-770, Salvador - BA Tel.: 0800 337 6262 atendimento@sanar.com www.sanarsaude.com Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Tuxped Serviços Editoriais (São Paulo-SP) Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário Pedro Anizio Gomes CRB-8 8846 P681if Pitanga, Thassila Nogueira. Intensivo para residências em Farmácia: Farmacologia - Parte I / Thassila Nogueira Pitanga. - 1. ed. - Salvador, BA : Editora Sanar, 2020. 111 p.; il. E-Book: PDF Inclui bibliografia. ISBN 978-65-86246-99-5 1. Farmácia. 2. Farmacologia. 3. Medicina. 4. Residências. I. Título. II. Assunto. III. Pitanga, Thassila Nogueira. CDD 615 CDU 615 ÍNDICE PARA CATÁLOGO SISTEMÁTICO 1. Farmácia. 2. Farmácia. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA PITANGA, Thassila Nogueira. Intensivo para residências em Farmácia: Farmacologia - Parte I. 1. ed. Salvador, BA: Editora Sanar, 2020. EBook (PDF). ISBN 978-65-86246-99-5. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Formas de transportes de fármacos pela membrana plasmática Figura 2 – Influência do pH na absorção de fármacos ácidos fracos Figura 3 – Vias de administração mais utilizadas Figura 4 – Interação medicamentosa Figura 5 – Reações metabólicas de fase I e II Figura 6 – Atividade da CYP na presença de indutor enzimático Figura 7 – Atividade da CYP na presença de inibidor enzimático Figura 8 – Inter-relações dos processos farmacocinéticos Figura 9 – Curvas dose-resposta Figura 10 – Formas de interação de fármacos com receptores e a respectiva res- posta celular Figura 11 – Curvas dose-resposta diante do tipo de fármaco e da respectiva eficácia Figura 12 – Curvas dose-resposta no agonismo competitivo Figura 13 – Tipos de receptores farmacológicos, da esquerda para a direita: canal iônico, receptor acoplado a proteína G, receptor ligado a quinase e receptor nuclear Figura 14 – Receptor do tipo ionotrópico (receptor nicotínico) Figura 15 – Receptor acoplado à proteína G Figura 16 – Sistemas efetores da proteína G: adenilil ciclase e fosfolipase C Figura 17 – Formas de quantificar o agonismo Figura 18 – Organização do Sistema Nervoso Autônomo Simpático e Parassimpáti- co Figura 19 – Características comparativas dos nervos motores somáticos e dos nervos eferentes do sistema nervoso autônomo Figura 20 – Mecanismo de ação da toxina botulínica Figura 21 – Características da inervação na via simpática para liberação de noradre- nalina Figura 22 – Via do ácido araquidônico e locais de ação dos anti-inflamatórios Figura 23 – Prostanoides Figura 24 – Papel das COX-1 e COX-2 na homeostasia vascular Figura 25 – Seletividade dos AINES com relação às enzimas COX-1 e COX-2 Figura 26 – Eixo hipotálamo-hipófise-adrenal Figura 27 – Influência da administração exógena de glicocorticoide sobre a produ- ção de cortisol Figura 28 – Efeitos da administração de glicocorticoide na produção endógena de cortisol, durante o ciclo circadiano Figura 29 – Mecanismo de ação dos glicocorticoides Figura 30 – Produção de anticorpos monoclonais Figura 31 – Reação de hipersensibilidade mediada por IgE LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Vias de administração e características farmacocinéticas Quadro 2 – Divisão do Sistema Nervoso Autônomo Quadro 3 – Receptores adrenérgicos, seus sistemas efetores e efeitos observados Quadro 4 – Potência dos glicocorticoides Quadro 5 – Efeitos fisiológicos da histamina Quadro 6 – Principais drogas de abuso SUMÁRIO Apresentação .................................................................................... 7 Introdução ......................................................................................... 8 1. Farmacocinética e Farmacodinâmica ......................................... 9 2. Farmacologia do Sistema Nervoso Autônomo (SNA) ............. 40 3. Farmacologia da Inflamação ....................................................... 58 4. Aspectos Gerais e Clínicos da Farmacologia ........................... 83 5. Toxicologia..................................................................................... 94 Gabarito ............................................................................................. 105 Referências ....................................................................................... 106 Olá, futuro (a) residente! Seja bem-vindo(a) à aula sobre a Farmacologia – Parte I. Esta aula abrange o entendimento sobre a Farmacologia e os conteúdos mais prevalentes em provas de residência. Aqui você poderá reforçar o conhecimento sobre os pontos mais impor- tantes dos processos farmacocinéticos e a farmacodinâmica, assim como uma abordagem direcionada aos assuntos que mais caíram nas últimas provas de residência, a partir de uma leitura fácil e com dicas para você gabaritar sua prova. No decorrer do texto, você poderá testar seu aprendizado com questões de provas anteriores, e assistir a pocket aulas, direcionando você sobre aquele conteúdo que você não pode deixar de saber para realizar com ex- celência as provas da sua tão sonhada residência! Não se esqueça que ao final do curso você poderá revisar todo o conteú- do dessa disciplina com uma aula dica, além de aulas com questões co- mentadas de provas anteriores, e simulados, para você colocar em práti- ca tudo o que aprendeu. Vamos juntos! APRESENTAÇÃO Clique no ícone para assistir a apresentação gravada. http://sanar.link/ZaGGM 8Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I INTRODUÇÃO A Farmacologia é a ciência que estuda as drogas, os processos farmaco- cinéticos (e aqui a gente inclui absorção, distribuição, metabolismo e elimi- nação), os mecanismos de ação, e procura entender como essa interação droga x local de ação interfere nas funções orgânicas. Assim, perpassa- remos, juntos, pela farmacocinética e farmacodinâmica; entenderemos como alguns fármacos interferem no Sistema Nervoso Autônomo (SNA); como modulam os processos inflamatórios (ex.: AINES e glicocorticoi- des). Você também verá uma abordagem sobre aspectos gerais e clínicos da farmacologia, abordando pontos-chave sobre alguns fármacos utiliza- dos em algumas situações clínicas frequentes nas provas de residência: câncer, alergia e dor. Também veremos pontos importantes, no capítulo de Toxicologia, acerca dos antídotos e drogas de abuso. Acompanhetudo com mais detalhes ao longo desta aula! 9Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I 1. FARMACOCINÉTICA E FARMACODINÂMICA A farmacologia é o estudo das substâncias (drogas, fármacos) que intera- gem com o organismo vivo e geram um efeito biológico. No entanto, para isso, os fármacos precisam, primeiro, ser administrados, absorvidos, dis- tribuídos, alcançar o local de ação (podendo gerar uma resposta tecidual ou levar a um bloqueio da sinalização celular), metabolizados e excreta- dos. Portanto, precisamos entender essa divisão da farmacologia em far- macocinética e farmacodinâmica. A farmacocinética estuda os processos que ocorrem com as drogas (= fármacos) no organismo. Então, a pergunta que norteia a farmacocinética é: o que o organismo faz com o fármaco? Absorve, distribui, metaboliza e elimina o fármaco. E o que são fármacos (= drogas)? Fármaco é uma substância química de estrutura conhecida que, quando administrada a um organismo vivo, produz um efeito biológico. Observe que a definição de fármaco já diferencia essa substância de “medicamen- to”, produto farmacêutico, tecnicamente obtido ou elaborado com finali- dade profilática, curativa, paliativa ou para fins de diagnóstico, que pode conter um ou mais fármacos, e é administrado com a intenção de pro- duzir um efeito terapêutico. Em sua maioria o efeito e observado após a disponibilização do fármaco na circulação sistêmica, mas não podemos esquecer que alguns fármacos possuem efeitos locais. Se a via de administração for oral, o fármaco precisará sofrer absorção no trato gastrintestinal (TGI) para alcançar seu alvo. Significa que es- sas substâncias necessitam atravessar membranas celulares até alcan- çar seu local de ação. E, para isso, vários mecanismos de transporte de 10Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I fármacos são necessários, como transporte paracelular, difusão passiva, difusão facilitada, transporte ativo (primário e secundário), além de endo- citose e exocitose. Figura 1 – Formas de transportes de fármacos pela membrana plasmática Fonte: Katzung, Trevor, 2017. É importante destacar que a disponibilização dos fármacos no local de ação depende dos processos farmacocinéticos (disponibilização do fármaco de sua forma farmacêutica para ser absorvido, distribuído, metabolizado e eliminado) e de suas características físico-químicas. Para que seja possível prever o transporte e a disponibilização desses fármacos em seus locais de ação, torna-se necessário, portanto, observar algumas características, como tamanho e configuração molecular; lipossolubilidade, hidrossolubi- lidade, grau de ionização, velocidade de dissolução no TGI, perfusão (fluxo sanguíneo), concentração da droga, coeficiente de partição lipídio-água (fração do fármaco que consegue se solubilizar em gordura). E, como todo esse processo envolve a travessia de membranas, podemos falar em absorção de fármacos. E o que seria, então, absorção? Absorção é a passagem do fármaco, já em solução, do local em que foi administrado até alcançar a circulação sistêmica. Lúmen A B C D Interstício 11Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I Nesse meio caminho, se considerarmos a administração oral, o percurso do fármaco envolve o TGI, e no estômago o fármaco já pode sofrer absor- ção, ainda que em menor extensão – pois o pH ácido e a mucosa espessa dificultam esse processo. No intestino, local de maior absorção do TGI, ele é absorvido, cai nas veias mesentéricas, veia porta, e segue para o fígado, onde parte da droga será metabolizada e excretada na bile. Isso chama- mos de efeito de primeira passagem hepática. Essa etapa metabólica ini- cial reduz a biodisponibilidade que representa a quantidade de fármaco que chegou a circulação sistêmica intacto e portanto está disponível na corrente sanguínea. Então o metabolismo de primeira passagem reduz a porcentagem da droga em seu estado íntegro (inalterado) que atinge a circulação sistêmica e consequentemente o local de ação. . Dois produtos farmacêuticos são considerados bioequivalentes quando as porcentagens e amplitudes de biodisponibilidade do ingrediente ativo dos dois produtos não são significativamente diferentes sob condições experi- mentais adequadas (Goodman, Gilman, 2019). A maioria dos fármacos consiste em ácidos ou bases fracas, presentes nos líquidos fisiológicos em sua for- ma ionizada ou não ionizada – a de- pender do seu pKa e do pH do meio. E uma característica do ácido ou base fraca é encontrar-se parcialmente ionizada, tentando manter-se em equilíbrio com a forma não ionizada. Nesse sentido, e lembrando das características da bicamada lipídi- ca semipermeável, a ionização das drogas confere a elas um caráter mais hidrossolúvel, e isso compro- Para que você nunca mais esqueça, lembre- -se que pH se refere ao meio. Portanto, o valor do pH varia a depender do compartimento (ex.: estômago, com pH 1,5; sangue: 7,4; urina: 6,0). Já o pKa é particular da substância. Pense no pKa como se fosse uma impressão digital: cada droga tem o seu, e não muda com os diferen- tes compartimentos. Entendeu? 12Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I mete sua absorção no TGI, limita sua metabolização nos hepatócitos, e ajuda na excreção do composto inalterado (ou seja, do fármaco ativo), uma vez que a forma ionizada não é reabsorvida no epitélio dos túbulos renais. Entretanto, a forma não ionizada apresenta um caráter mais lipossolú- vel, atravessando com mais facilidade as membranas biológicas. Um fármaco ácido fraco, portanto, tende a ser mais absorvido em um meio ácido, pois, nessas condições, o fármaco encontra-se predominantemente em sua forma não ionizada. E o mesmo é observado com uma droga base fraca em um meio básico. Sendo assim, a distribuição transmembrana de um fármaco será sempre determinada pelo seu pKa (constante de disso- ciação da droga) e pelo gradiente de pH ao longo da membrana. Só relembrando: a proporção entre as formas ionizada e não ionizada de uma substância é definida pela tão conhecida equação de Handerson- -Hasselbalch, apresentada a seguir: log [forma ionizada]/[forma não ionizada] = pKa – pH O pKa corresponde ao valor de pH em que as espécies ionizadas (H+ e A-) e não ionizada (HA) encontram-se em equilíbrio (ou seja, em concentrações iguais). Para uma melhor compreensão, observe a figura 2. Nela podemos extrair algumas informações muito importantes: • As formas ionizadas e não ionizadas tendem a manter-se em equilíbrio em solução; • A droga na forma não ionizada (HA) apresenta um caráter mais liposso- lúvel, e atravessa mais facilmente a membrana; • Se a droga tem pKa 4,4, e o pH é 7,4 (plasma), ela apresenta um caráter ácido em relação ao meio alcalino. Então predomina sua forma ionizada; • A droga HA, ao alcançar o suco gástrico do estômago, encontra um am- biente muito mais ácido do que seu pKa. Embora o pKa=4,4 demonstre que a droga é um ácido, o meio está muito mais ácido (pH=1,5) do que o valor de pKa. Nessas condições, predomina a forma não ionizada. Portanto, podemos observar que, em pH ácido, predomina a forma não io- nizada (lipossolúvel) do ácido fraco, e, em pH alcalino, prevalecem as for- 13Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I mas ionizadas (hidrossolúveis). Essa informação é fundamental para sua compreensão acerca do fenômeno conhecido como “sequestro iônico”, em que, partindo dessa premissa do equilíbrio dinâmico, o fármaco ácido acumula-se no compartimento com pH básico, e o fármaco básico, no am- biente mais ácido. Figura 2 – Influência do pH na absorção de fármacos ácidos fracos pKa = 4!4 [ , O] HA ----A-+ H+ Pasma pH = 7 4 Barreira mucosa lipídica Suco gás rico pH = 1 4 001 = [HA] + [A-J O = [HA] + [A-J Fonte: Goodman, Gilman, 2019. Assim, se o pKa for igual ao pH, significa que a droga estará emequilíbrio com o meio. Contudo, se a droga tem pKa ácido, e ela se encontra em um compartimento com pH ácido, predominará a forma não ionizada, logo, mais lipossolúvel (mais fácil de atravessar membranas). Se esse mesmo fármaco, entretanto, se encontrar em meio com pH básico, a maior por- centagem será da forma ionizada, ou seja, sua forma mais hidrossolúvel, dificultando, portanto, o transporte através da bicamada lipídica. ACERTE O ALVO! Se pKa da droga é igual ao pH do meio, significa que 50% da droga encontra-se em sua forma ionizada e 50% não ionizada. Plasma pH = 7,4 pH = 1,4 1001 = [HA] + [A–] HA A–+H+ HA A–+H+ [1000] pkα = 4,4 [1] [1] [0,001] 1,001 = [HA] + [A–] Barreira mucosa lipídica Suco gástrico 1,5 14Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I 01. A maioria dos fármacos consiste em ácidos ou bases fracas, exis- tindo em solução sob as formas ionizada ou não ionizada. De modo geral, as formas não ionizadas são mais lipofílicas, podendo, assim, difundir-se mais facilmente pela membrana celular, permitindo o processo farmacocinético de absorção. As formas ionizadas são mais hidrofílicas, o que dificulta sua penetração na membrana celu- lar. Por essa razão, a distribuição transmembrana de um eletrólito fraco é determinada pelo seu pKa e pelo gradiente de pH através da membrana. Sobre as características de ionização dos fármacos e sua influência no processo de absorção dos mesmos, analise as assertivas e identifique com V as verdadeiras e com F as falsas. ( ) Um fármaco do tipo ácido fraco (pKa = 5,4) se encontra, predo- minantemente, ionizado quando em pH menor que o seu pKa, sendo mais bem absorvido no intestino que no estômago. ( ) Um fármaco do tipo base fraca (pKa = 8,6) é, facilmente, absor- vido no estômago, uma vez que se encontra, predominantemente, na forma não ionizada em ambiente estomacal. ( ) Os fármacos do tipo ácido fraco são mais bem absorvidos em locais onde o pH é menor que o seu pKa, uma vez que se encontram, predominantemente, na forma não ionizada nesse pH. ( ) Um fármaco do tipo base fraca, para ser facilmente absorvido, precisa se encontrar em um ambiente com pH menor que seu pKa. A alternativa que contém a sequência correta, de cima para baixo, é: 🅐 V F V V. 🅑 F V F F. 🅒 F F V F. 🅓 F V F V. 🅔 V V F F. Clique aqui para ver o gabarito da questão. 15Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I Outra via muito utilizada é a tópica. A administração de medicamentos por essa via envolve formulações altamente lipossolúveis utilizadas, normal- mente, na pele íntegra (de preferência, sem pelo, para melhor adesão, e maior área livre de absorção). O intuito é facilitar a migração pela camada córnea, principal barreira da pele e etapa limitante à absorção percutânea. Além da via oral, existem várias outras vias de administração. Aqui desta- camos as vias que objetivam alcançar, predominantemente, efeitos sis- têmicos. As mais frequentes na prática clínica são a via oral, sublingual, subcutânea, intramuscular, endovenosa e inalatória. Atualmente, a administração de fármacos utilizando sistemas transdér- micos (ST) de liberação vem ganhando mais espaço nesse processo de liberação controlada de fármacos, e com foco nos efeitos sistêmicos. Em situações de impossibilidade da administração oral, o ST pode ser utili- zado como substituto, principalmente nos quadros de náusea e vômito, e nos quadros diarreicos. Como é um sistema de liberação, em caso de necessidade de suspensão do tratamento, basta que o paciente remova o adesivo da pele. Quadro 1 – Vias de administração e características farmacocinéticas Algumas vias de administração Características Oral Absorção de drogas pelo TGI, cai nas vias mesentéricas, veia porta e fíga-do; sofre metabolismo de primeira passagem hepática. Sublingual Absorção de fármacos colocados abaixo da língua; apresenta início de ação rápido e evita metabolismo de primeira passagem hepática, seguin- do diretamente para a veia cava. Subcutânea Absorção lenta, constante e com efeito prolongado. Evita metabolismo de primeira passagem hepática. Intramuscular Absorção a partir da aplicação do fármaco, em veículos oleosos e suspen- sões, no músculo esquelético (sem atingir nervos e vasos); como forma uma região de depósito da droga, sua liberação é mais lenta, constante e prolongada. Evita metabolismo de primeira passagem hepática. Fonte: Autoria Própria, 2020. 16Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I Continuação Quadro 1 – Vias de administração e características farmacocinéticas Algumas vias de administração Características Endovenosa Não sofre absorção. Apresenta biodisponibilidade 100%, com ação rápi- da e precisa do fármaco no local de ação. Evita metabolismo de primeira passagem hepática. Inalatória Absorção rápida ao longo do epitélio pulmonar. Evita metabolismo de primeira passagem hepática. Sistemas transdér- micos de liberação Absorção do fármaco através do estrato córneo e difusão pela pele (a qual deve estar limpa, seca e, de preferência, sem pelos). Evita metabolis- mo de primeira passagem hepática. Fonte: Autoria Própria, 2020. Os sistemas transdérmicos de liberação são sistemas adesivos, aplicados na pele, como o intuito de alcançar a corrente sanguí- nea em uma velocidade constante, lenta e prolongada. Figura 3 – Vias de administração mais utilizadas IV, intravenosa; IM, intramuscular; SC, subcutânea. Fonte: Whalen, Finkel, Panavelil, 2016. 17Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I Depois da absorção ou administração sistêmica na corrente sanguínea, o fármaco precisa ser distribuído pelo organismo, atingindo os líquidos intersticiais e intracelulares, a fim de alcançar seu local de ação. Distribuição é o processo pelo qual o fármaco percorre o organismo. Uma vez que entendemos o conceito de distribuição, precisamos aprender como calcular o Volume de Distribuição (Vd) de cada fármaco (parâmetro impor- tante no planejamento posológico do paciente). Vd é o volume necessário para o fármaco estar distribuído entre o sangue e os tecidos, é utilizando a equação abaixo podemos fazer inferência da localização do fármaco. Vd= D/Cp D= Doses Cp = Concentração plasmática Vd alto implica que o fármaco está amplamente localizado nos tecidos. Vd baixo implica que o fármaco está amplamente contido no espaço vascular. Alguns fatores interferem na distribuição dos fármacos, como o fluxo san- guíneo, permeabilidade capilar, estrutura do fármaco e ligação de fárma- cos a proteínas plasmáticas. A velocidade do fluxo sanguíneo nos tecidos capilares vai variar bastante como resultado de uma distribuição desigual do débito cardíaco aos vários órgãos: fígado, rins e cérebro são órgãos bastante irrigados e recebem a maior parte dos fármacos. Já nos múscu- los, maioria das vísceras, pele, tecido adiposo a distribuição dos fármacos é mais lenta. A permeabilidade capilar, por sua vez, é determinada pela estrutura capilar e estrutura do fármaco (lipofílico ou hidrofílico). Atenção! O tecido adiposo funciona como reservatório de drogas lipos- solúveis e, como sua perfusão sanguínea é lenta (baixa vascularização), a liberação dessas substâncias desse tecido acaba também sendo lenta, o que provoca o aumento da meia-vida da droga, retardando sua depura- ção do organismo. Opa, aqui nos deparamos com duas informações novas: “meia-vida” (T1/2) e “depuração”. 18Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I ACERTE O ALVO! Meia-vida refere-se ao tempo necessário para que a concentração da droga reduza pela metade. Depuração corresponde à capacidade de excreção de uma droga no nosso organismo. Com exceção do sistema nervoso central (SNC), a difusão das drogas pe- los fluidos corporais acaba sendo rápida, pois a membrana do endotélio vascular é mais permeável que o endotélio da região central. Observe que o sequestroiônico (aquilo que comentamos na ionização de fármacos) é bem pequeno nesses tecidos, pois a diferença de pH é baixa (enquanto nos tecidos o pH fica em torno de 7,0, no sangue o pH é 7,4). Durante a distribuição do fármaco, a ligação desses compostos a proteínas plasmáticas é o determinante mais importante do seu fracionamento entre o sangue e os tecidos. Como o sangue é um ambiente aquoso, nem todos os fármacos podem ser transportados livremente no sangue. Para os fármacos hidrofílicos, o transporte é livre, sem a necessidade de carreador. Entretanto, para fár- macos lipossolúveis, são necessárias proteínas carreadoras para serem distribuídos pelo organismo. As duas proteínas mais importantes para o transporte de fármacos são a alfa-1 glicoproteína ácida e a albumina, tendo a primeira afinidade por fármacos básicos e a segunda por fárma- cos ácidos, e ambas se ligam de maneira reversível à droga. Nesse contexto, vale a pena destacar que somente os fármacos livres estão em sua forma ativa, ou seja, na corrente sanguínea são capazes de atuar em seu sítio ativo. Por sua vez, aqueles combinados a proteínas 19Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I transportadoras são inativos, e, para ter atividade, precisam se desligar dessas proteínas. Aqui cabe conversarmos sobre um tipo de interação en- tre anti-inflamatórios e proteínas. Determinados fármacos são capazes de deslocar outros que estão liga- dos a proteínas em razão da maior afinidade de ligação. Acompanhe o exemplo, a seguir, em que temos varfarina (anticoagulante) e fenilbutazo- na (anti-inflamatório) competindo pelo sítio de ligação na albumina. Figura 4 – Interação medicamentosa Varfarina – fração livre Albumina 98% de ligação Fenilbutazona A Varfarina – fração livre Albumina Aumenta a fração livre de varfarina Fenilbutazona Risco elevado de hemorragia B A. Varfarina sozinha ligada a albumina. B. Competição da varfarina com a fenilbutazona pela albumina. Fonte: Autoria Própria, 2020. Na administração do anticoagulante sozinho, este circula ligado à albumi- na, e sua liberação terapêutica é de apenas 2% para atuar em seu local de 20Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I ação. Essa é a quantidade de fármaco necessária para o tratamento. En- tretanto, a adição do anti-inflamatório ao esquema terapêutico interfere na disponibilização da varfarina. Ambos têm afinidade (tendência a se li- gar) pela albumina, mas o anti-inflamatório apresenta mais. Nesse caso, a administração concomitante dos dois fármacos implica uma interação de risco para o paciente, pois a fenilbutazona desloca a varfarina do seu sítio de ligação, aumentando a proporção do anticoagulante em sua forma livre. E, como vimos, a forma livre do fármaco é a forma ativa! Resultado: au- menta o risco de hemorragia nesse paciente! É importante destacar que as interações medicamentosas, algumas ve- zes, causam reações adversas, em que os efeitos farmacológicos de um medicamento podem ser alterados por outro(s). Logo, a administração de dois fármacos pode interferir, por exemplo, no perfil farmacocinéti- co do outro, influindo na absorção, competição pelo sítio de ligação em proteínas plasmáticas (como albumina e alfa-1-glicoproteína ácida), pro- mover indução ou inibição enzimática das enzimas metabolizadoras ou mesmo alterar a taxa de eliminação do fármaco (aumentando ou reduzin- do sua meia-vida). Após a distribuição e atuação em seu local de ação, as drogas precisam ser excretadas do nosso organismo. Para isso, a maioria delas necessita sofrer biotransformação – reações que, normalmente, resultam em me- tabólitos inativos, mais polares e facilmente excretados pelo organismo. Isso porque produtos estranhos ao nosso organismo (= xenobióticos), como os fármacos, devem passar por modificações estruturais, princi- palmente por ação das enzimas hepáticas, para serem eficientemente eliminados. Atenção: embora cada tecido possa metabolizar xenobióticos (ex.: TGI, pul- mões, cérebro), o fígado é, sem dúvida, o principal órgão metabolizador. 21Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I Biotransformação é o processo pelo qual o fármaco sofre uma série de alterações químicas no organismo, resultando, normalmente, em produtos mais hidrossolúveis, a fim de facilitar sua excreção. Biotransformação é a conversão metabólica de substâncias endógenas e xenobióticos a compostos de maior solubilidade em água, a fim de facili- tar sua excreção pelo organismo. As reações de biotransformação podem resultar em inativação do fármaco (ex.: metabolismo da morfina gerando morfina-3-glicuronídeo); metabólito ativo (ex.: codeína parcialmente me- tabolizada gerando morfina); e ativação da droga inativa ou pró-fármacos (ex.: levodopa sendo convertida em dopamina). Existem ainda alguns fár- macos tão hidrossolúveis que escapam do metabolismo e são rapidamen- te excretados do organismo. As reações de biotransformação podem inativar o fármaco; gerar metabólitos inativos; resultar em metabólitos ativos; e ativar um fármaco inativo. A maioria das reações metabólicas relaciona-se às reações de fase I e II. A fase I do metabolismo normalmente envolve reações que geram regiões polares na molécula (expondo, por exemplo, -OH, -NH2, -SH), e que vão ser- vir de locais de conjugação com moléculas polares e favorecer a reação de fase II. Caso o metabólito, após a fase I, apresente-se muito hidrossolúvel, ele nem chega a passar pela fase II e acaba sendo rapidamente eliminado. Muitos metabólitos da fase I, entretanto, necessitam ser conjugados, por exemplo, com ácido glicurônico ou ácido sulfúrico para formar um produ- to bastante polar. E essa conjugação representa a fase II do metabolismo. Normalmente, um fármaco bastante lipossolúvel, a depender de sua es- trutura química, precisa passar pelas duas fases do metabolismo hepá- 22Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I tico, as quais compreendem principalmente enzimas microssomais do retículo endoplasmático (RE) e enzimas citosólicas. A principal enzima mi- crossomal envolvida na fase I do metabolismo é a citocromo P450 (CYP), que catalisa principalmente reações de oxidação, redução e hidrólise do fármaco. Existem numerosas isoformas de CYP no fígado (ex.: CYP1A2, CYP2D6, CYP2E1, CYP3A4), e esta última, sozinha, participa do metabolis- mo de quase metade de todos os fármacos normalmente prescritos. Den- tre estas CYPs, a 2D6 é uma das isoformas que mais apresenta variabilida- de entre as pessoas, por conta dos polimorfismos gênicos, o que interfere diretamente no metabolismo de várias substâncias endógenas e xenobió- ticos (como antiarrítmicos e fármacos betabloqueadores e opióides). Se estamos falando sobre enzimas metabolizadoras, então cabe dar uma pausa rápida para perguntar a você o que é farmacogenética. Sabe definir? Contudo, antes, pense comigo! A estrutura de uma enzima (ou seja, a sequ- ência linear de aminoácidos), responsável pela biotransformação de uma determinada droga, pode diferir entre os indivíduos (claro, pelas diferen- ças genéticas, correto?), o que pode determinar, geneticamente, dife- renças na velocidade de biotransformação dos xenobióticos. Tendo essa compreensão, agora podemos definir a farmacogenética: “é o estudo das causas, da prevalência e do impacto das diferenças herdadas nas enzimas de biotransformação de xenobióticos” (KLAASSEN, WATKINS, 2012). Farmacogenética é o estudo das causas, da prevalência e do impacto das diferenças herdadas nas enzimas de biotransformação de xenobióticos. É importante também destacarmos sobre o funcionamento adequado da CYP no que tange ao metabolismo em neonatos (engloba recém-nascidos 23Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I com até 30 dias de vida), crianças, adultos e idosos. A atividade da CYP está quase nula em fetose muito baixa em recém-nascidos. Sua capaci- dade metabolizadora vai aumentando com a idade, alcançando o ápice da atividade na fase adulta. A partir daí, observa-se uma queda na atividade enzimática, e os idosos, aqueles que mais utilizam medicamentos, apre- sentam enzimas com atividade metabolizadora lenta ou ineficaz. Por isso, o cuidado de se utilizar fármacos, principalmente em neonatos e idosos, pois o risco de intoxicação é elevado nessas faixas etárias. Figura 5 – Reações metabólicas de fase I e II Fonte: Katzung, Trevor, 2019. Nas reações de fase II, os metabólitos resultantes da fase I sofrem rea- ções de conjugação com ácido glicurônico (glicuronidação) ou ácido sul- fúrico (sulfatação), gerando produtos muito mais hidrossolúveis. E essas reações costumam ser mais rápidas do que as de fase I, acelerando esse processo de metabolismo dos fármacos. Entre os fatores externos que interferem na biotransformação, temos os indutores e os inibidores das CYPs. Na indução enzimática, algumas drogas podem aumentar a atividade metabólica dessas enzimas. Como 24Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I exemplo, o barbitúrico é um indutor da CYP2B; o etanol e o antibiótico iso- niazida são indutores da CYP2E. Então, o que acontece na presença des- ses indutores? Figura 6 – Atividade da CYP na presença de indutor enzimático Indutor enzimático Aumenta a velocidade do metabolismo da droga Reduz a concentração da droga no sangue Aumenta a excreção da droga Reduz a meia-vida plasmática da droga Fonte: Autoria Própria, 2020. Na inibição enzimática, algumas drogas diminuem a atividade das en- zimas CYP, como a cimetidina (usado para tratamento de gastrite), que reduz a atividade da CYP2D, e o cetoconazol (antifúngico), que inibe a CY- P3A. Todos os substratos (no caso, os fármacos) dessas enzimas apresen- taram uma série de modificações farmacocinéticas, como redução de sua excreção, aumento da concentração plasmática e da meia-vida. Figura 7 – Atividade da CYP na presença de inibidor enzimático Inibidor enzimático Diminui a velocidade do metabolismo da droga Aumenta a concentração da droga no sangue Diminui a excreção da droga Aumenta a meia-vida plasmática da droga Fonte: Autoria Própria, 2020. 25Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I Os rins são os principais órgãos de excreção de fármacos, mas também ob- servamos excreção por outras vias, por exemplo, o trato biliar e fezes e via pulmonar. A maioria dos fármacos segue para os rins, onde sofrem filtra- ção glomerular ou secreção ativa (no epitélio dos túbulos proximais) e são eliminados na urina, seja em sua forma inalterada, seja como metabólitos. Excreção é o processo no qual o fármaco é eliminado do organismo. A eliminação pela via renal excreta facilmente substâncias polares e hi- drossolúveis e em sua forma livre. Em condições fisiológicas, drogas li- gadas a proteínas plasmáticas não são eliminadas por esse processo. No caso de drogas ácidas e básicas em sua forma molecular (lipossolúvel), parte delas acaba sofrendo reabsorção por difusão passiva. A excreção dessas drogas, portanto, vai depender de uma alteração no pH urinário. Para uma droga ácida, como os barbitúricos, a administração de bicarbo- nato de sódio acelera sua excreção, pois torna o pH da urina mais alcali- no, provocando um aumento no processo de ionização do barbitúrico. Bom, com todo esse conhecimento acerca da farmacocinética, observe agora os processos farmacocinéticos e tente entender como todo esse processo está interligado, inclusive com a farmacodinâmica (calma que já vamos estudar!). Se você conseguisse fotografar todo o processo, você veria exatamente o esquema de fluxos da droga, representado na Figura 8. Divirta-se com ela e ótima revisão! 26Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I Figura 8 – Inter-relações dos processos farmacocinéticos Fonte: Goodman, Gilman, 2019. FARMACODINÂMICA A farmacodinâmica estuda o mecanismo de ação dos fármacos, ou seja, a pergunta que norteia esse processo é: “o que a droga faz com o organis- mo?”. Ela modula a resposta orgânica, mediante a interação droga-recep- tor. Em outras palavras, o efeito observado é resultante da transdução de sinal gerada pela ativação do receptor pelo seu ligante. Farmacodinâmica ocupa-se do estudo dos efeitos bioquímicos e fisiológicos dos fármacos e seus mecanismos de ação. Você já deve ter se perguntado por que algumas drogas têm um efeito maior sobre o coração do que os brônquios, ou por que quando usamos a bombinha de asma sentimos taquicardia e tremor muscular. No entan- to, para responder a essas perguntas, precisamos entender os princípios básicos da farmacodinâmica e adentrar nesse universo da interação fár- 27Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I maco-receptor, compreendendo os principais tipos de receptores farma- cológicos e seus sistemas efetores. Fármacos são moléculas que interagem com componentes moleculares (macromoléculas) específicos de um organismo, produzindo alterações bioquímicas e fisiológicas dentro do organismo. Antes de avançarmos para os receptores farmacológicos, precisaremos entender alguns conceitos fundamentais. Todo fármaco precisa interagir com seu local de ação para gerar uma res- posta. E essa interação chamamos de afinidade. Afinidade é a tendência de um fármaco de se ligar ao receptor. Nesse sentido, se um fármaco tem elevada capacidade de ligação com o seu receptor, significa que ele dura o tempo necessário para gerar a resposta farmacológica. Alta afinidade im- plica elevada ocupação (o fármaco não ficará se desligando do receptor, ok?). Então, para esse fármaco, de elevadas afinidade e ocupação, basta administrar uma concentração baixa do fármaco para se obter a resposta tecidual desejada. Nesse contexto, pergunto a você: o que é um fármaco agonista? Será que um fármaco que se liga já ativa o receptor? Além da afinidade com o re- ceptor, é necessário que a droga apresente atividade intrínseca, isto é, capacidade de formar o complexo droga-receptor que produza uma res- posta biológica. E essa é uma propriedade exclusiva dos agonistas. Ati- vação é a capacidade da molécula, uma vez ligada ao seu receptor, de desencadear uma resposta tecidual. E esse conceito está diretamente relacionado à eficácia. Um fármaco é eficaz quando ele ativa o receptor. 28Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I Portanto, quanto maior a capacidade intrínseca da molécula de ativar o receptor, maior é a sua eficácia. Agonistas são fármacos que se ligam aos receptores, ativando-os, ou seja, simulando os efeitos das nossas substâncias endógenas. Os receptores apresentam-se em duas conformações que, normalmente, se encontram em equilíbrio: receptor ativo e receptor inativo. O agonis- ta tem maior afinidade pela forma ativada do receptor. O agonista pode ser pleno, nas condições virtuais, quando ativa o receptor ao seu estado máximo, gerando, nessas condições, uma eficácia máxima. O agonista parcial apresenta uma afinidade moderadamente maior pelo receptor no estado ativado do que na forma inativa, ou seja, nessas condições sua eficácia é parcial. Mesmo aplicando esses conceitos, nas condições reais, todos os fármacos agonistas acabam sendo parciais, pois a seletividade pela forma ativa não consegue ser 100%. Os antagonistas, por sua vez, são drogas que têm afinidade pelo recep- tor (até porque, se não tivesse, como ele o bloquearia?), mas não apre- sentam atividade intrínseca (ou seja, capacidade de ativar o receptor). Em outras palavras, o complexo antagonista-receptor não gera resposta biológica, pois não tem eficácia. Assim, enquanto a ocupação do receptor é regulada pela afinidade, a ati- vação é controlada pela eficácia! Agonistas totais → eficácia máxima Agonistas parciais→ eficácia intermediária Antagonista → não tem eficácia 29Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I Agora que entendemos o conceito de eficácia, podemos partir para outra propriedade muito importante dos fármacos e que leva em consideração a atividade intrínseca do fármaco e a afinidade pelo receptor – potência. Para determinarmos a potência de um fármaco, usamos o conceito de CE50, ou seja, a concentração da droga capaz de gerar 50% da resposta (eficá- cia) máxima (WHALEN; FINKEL; PANAVELIL, 2016). Na Figura 9A, podemos observar que o fármaco X é mais potente do que o Y, pois necessita de uma concentração menor para alcançar a mesma resposta máxima. Potência é uma medida da quantidade de fármaco necessária para produzir um efeito de determinada intensidade. Para saber se um fármaco é mais potente que o outro, comparam-se os valores de CE50. Figura 9 – Curvas dose-resposta A. Comparação da potência relativa entre os fármacos X e Y. B. Comparação da eficácia entre os fármacos X e Y. Fonte: Goodman, Gilman, 2019. 30Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I A interação do fármaco com o local de ação envolve diferentes interações e respostas celulares. Um agonista se liga ao seu local de ação e gera uma resposta celular. O antagonista competitivo compete com o agonista pelo mesmo local de ação. Na competição, geralmente “ganha” (ou seja, ocupa o receptor) o fármaco que se encontra em maior concentração. A presença de um ativador ou inibidor alostérico implica a interação desse fármaco em uma região alostérica, diferente do sítio de ação do fármaco, mas que consegue modificar essa interação ligante x receptor. Assim, a quantidade aumentada do agonista não vai interferir na resposta do an- tagonista alostérico (ou alotópico). O ativador vai atuar aumentando a eficácia do fármaco. O inibidor, por sua vez, atua reduzindo a afinidade do agonista ao receptor, resultando na redução da resposta máxima. Figura 10 – Formas de interação de fármacos com receptores e a respectiva resposta celular Fonte: Adaptada de Katzung, Trevor, 2019. Agonista A B C D Inibidor competitivo Ativador alostérico Inibidor alostérico 31Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I Como vimos anteriormente, os receptores apresentam-se, em equilíbrio, nas formas ativa e inativa. O agonista inverso é um tipo de fármaco ago- nista que tem elevada afinidade pelo receptor na conformação inativa. Esses fármacos são importantes naqueles casos em que o receptor já se encontra ativo (tem atividade constitutiva, independentemente de um li- gante) e precisa ter a atividade reduzida. Como exemplo podemos citar os receptores de benzodiazepínicos, de histamina e de opioides. Figura 11 – Curvas dose-resposta diante do tipo de fármaco e da respectiva eficácia L: ligante (fármaco); Ra: receptor ativo; Ri: receptor inativo. Fonte: Goodman, Gilman, 2019. Observem, na Figura 12, que na presença do antagonista competitivo o aumento da concentração do agonista em resposta ao aumento do an- tagonista desloca o gráfico para a direita, sem interferir na eficácia (todas as curvas alcançam o efeito máximo). É importante salientar que a magnitude do desvio da curva à direita depende da concentração do antagonista e da sua afinidade pelo receptor. Para vencer o bloqueio do receptor, a concentração do agonista aumenta e desloca o antagonista do local de ação. N ív el d e re sp os ta (u ni da de s a rb itr ár ia s) Agonista pleno Agonista parcial Antagonista competitivo (nenhum agonista presente) Agonista inverso 32Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I Figura 12 – Curvas dose-resposta no agonismo competitivo L: ligante (fármaco). Fonte: Goodman, Gilman, 2019. Ainda que a eficácia permaneça constante, observa-se uma redução na potência. Perceba que o deslocamento à direita reflete a necessidade de um aumento da concentração do agonista para deslocar o antagonista e conseguir ocupar o receptor. Se, para conseguir o efeito máximo, foi ne- cessário aumentar a concentração, então, consequentemente, a potência do fármaco reduziu na presença do antagonista. ACERTE O ALVO! No antagonismo competitivo, há deslocamento do gráfi- co para a direita, mostrando que a eficácia do fármaco não se altera, mas há aumento do EC50 e, portanto, redu- ção da potência. Bom, uma vez entendido alguns princípios básicos da farmacologia, ago- ra, sim, podemos abordar os aspectos moleculares e os mecanismos de ação dos fármacos. Respira, vá beber uma água e retorna porque vamos mergulhar juntos nos tipos de alvos dos fármacos! 33Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I Vamos juntos? Existem basicamente quatro tipos de receptores farmacológicos, sendo eles: canais iônicos controlados por ligantes; receptores acoplados à pro- teína g; receptores ligados a quinases; e receptores nucleares. Como os dois primeiros tipos são os mais frequentes em provas de residência, eles receberão um enfoque especial! Figura 13 – Tipos de receptores farmacológicos, da esquerda para a direita: canal iônico, receptor acoplado a proteína G, receptor ligado a quinase e receptor nuclear Fonte: Adaptada de Whalen, 2016. Os receptores ionotrópicos são canais iônicos que respondem, em uma fração de milissegundos, ao ligante. Por exemplo, a ligação da acetilcolina ao receptor nicotínico promove abertura desse canal, influxo de sódio e efluxo de potássio, aumentando a carga positiva intracelular, o que leva à despolarização da membrana (potencial de ação). 34Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I Figura 14 – Receptor do tipo ionotrópico (receptor nicotínico) Fonte: Adaptada de Golan, 2018. Outro exemplo de receptor ionotrópico é o receptor ácido-gama-amino- butírico (GABA). A ligação do agonista provoca abertura do canal, influxo de cloreto, e esse acúmulo intracelular de carga negativa leva a um estado de hiperpolarização da membrana. Os receptores acoplados à proteína G correspondem a um grupo de re- ceptores que têm, como mediador da resposta ao ligante, a proteína tri- mérica G. Essa proteína apresenta três subunidades: alfa (com atividade catalítica), beta e gama, e o dímero βγ atua em vários sistemas (ex.: ativa- ção dos canais de potássio, ou bloqueio dos canais de cálcio). Quando o fármaco se liga ao receptor, este sofre uma alteração confor- macional e cria afinidade pela proteína G, que se desloca na face interna 35Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I da membrana e interage com o receptor. A proteína G é ativada pelo re- ceptor e sua subunidade alfa, que tem atividade catalítica intrínseca de GTPase, converte GDP (de baixa energia) em GTP. E, nesse estado de alta energia, a subunidade alfa perde afinidade pelo dímero βγ, desliga-se e segue para ativar ou inibir seu sistema efetor. O dímero βγ livre difunde- -se para interagir com proteínas efetoras (ex.: canais de potássio). Figura 15 – Receptor acoplado à proteína G Fonte: Golan, 2018. A proteína G pode ser inibitória (bloqueando sistemas efetores) ou es- timulatória (estimulando sistemas efetores), a depender do tipo de pro- teína G do sistema. Por exemplo, receptores de opioides são acoplados à proteína G inibitória e os receptores de adrenalina, à proteína G estimula- tória. Quando se fala em receptor acoplado à proteína G, duas vias muito frequentes nas provas de residência são adenilil ciclase e fosfolipase C. 36Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I Figura 16 – Sistemas efetores da proteína G: adenilil ciclase e fosfolipase C Fonte: Adaptada de Golan, 2018. Na via da adenilil ciclase (AC), a subunidade alfa ligada ao GTP ativa esse sistema efetor (AC), a qual catalisa a conversão de ATP em AMPc, e este 2º mensageiro ativa a proteína quinase A e, como todaquinase, fosfori- la vários outros sistemas celulares (ex.: fosforilação de canais de cálcio, promovendo contração do miocárdio). O outro sistema efetor ativado pela proteína G é a fosfolipase C. Nesta, a subunidade alfa, ligada ao GTP, ativa essa enzima que converte fosfolipí- dios de membrana do tipo inositol em diacilglicerol (DAG) e trifosfato de inositol (IP3). O DAG, por ser lipossolúvel, permanece na membrana e cria um sítio de afinidade para a proteína quinase C. Essa enzima, que es- tava inativa no citosol, migra para a membrana, onde é ativada pelo DAG, promovendo uma série de fosforilações (fosforila canais de cálcio). Quan- to ao IP3, este migra para o citosol e interage com seu receptor ionotró- pico (canal de cálcio), na superfície do retículo endoplasmático. O canal 37Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I se abre e o cálcio segue do RE para o citosol. O aumento intracelular de cálcio provoca, por exemplo, vasoconstrição nos vasos sanguíneos. Figura 17 – Formas de quantificar o agonismo Fonte: Brunton, Lazo e Parker, 2012. 02. Com relação às formas de quantificação do agonismo, de acordo com a figura 1 7, é correto afirmar que: 🅐 a figura 1 representa a comparação da eficácia relativa entre os fármacos X e Y. 🅑 a figura 2 representa a comparação da potência relativa entre os fármacos X e Y. 🅒 pelas informações da figura 1, é possível afirmar que o fármaco X apresenta potência relativa maior que o fármaco Y. 🅓 a propriedade apresentada na figura 1 depende, unicamente, da eficácia intrínseca dos fármacos, e não da afinidade destes com o receptor. 🅔 é conveniente descrever a resposta ao agonista determinando a EC50, que representa o tempo em que a concentração plasmática de um fármaco diminui em 50%, como mostrado na figura 1. Clique aqui para ver o gabarito da questão. % d a re po st a m áx im a % d a re po st a m áx im a Fármaco X Log [Agonista] 100 80 60 40 20 0 100 80 60 40 20 0 Figura 1 Figura 2 Log [Agonista] Fármaco Y Fármaco X A B EC50 EC50 Fármaco Y 38Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I Assista agora a Pocket Aula sobre Farmacocinética e Farmacodinâmica clicando no ícone ao lado http://sanar.link/t9aEL 39 ANOTAÇÕES 40Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I 2. FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO (SNA) O Sistema Nervoso Periférico é dividido em autônomo (involuntário) e somático (voluntário). O SNA, por sua vez, é responsável pela regulação das respostas involuntárias dos músculos lisos e glândulas. Ele pode ser dividido em simpático e parassimpático. Quadro 2 – Divisão do Sistema Nervoso Autônomo Simpático x Parassimpático “Luta ou fuga” “Restauração ou manutenção” Origem: tóraco-lombar Origem: crânio-sacral Alterações funcionais: • Aumento da FC e PA • Relaxamento da bexiga • Contração dos esfínteres • Broncodilatação • Midríase (dilatação) • Aumento da gliconeogênese (aumento da glicemia) • Desvio do fluxo sanguíneo para mm. esqueléticos Alterações funcionais: • Redução da FC e PA • Contração da bexiga • Relax. dos esfícteres (ex: TGI) • Broncoconstrição • Miose (contração) • Aumento das secreções Fonte: Autoria Própria, 2020. O sistema nervoso parassimpático (SNP) envolve o sistema colinérgico e seu principal neurotransmissor é a acetilcolina (ACh). O SNP atua mo- dulando o organismo no intuito de manter as condições mais próximas do normal, ou numa tentativa de restaurar alguma perturbação na home- ostasia. Entre suas funções podemos destacar a redução da frequência cardíaca e da pressão arterial, contração da bexiga, relaxamento dos esfíncteres, broncoconstrição, miose e aumento da atividade glandu- lar (ex.: sialorreia). 41Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I Figura 18 – Organização do Sistema Nervoso Autônomo Simpático e Parassimpático Fonte: Macedo, 2011. Vamos entender a Figura 19? Será importante até para compreendermos os mecanismos de ação das drogas envolvidas no SNA. Quando observa- mos as fibras nervosas, já se percebe um neurônio motor (na forma de uma fibra única, sem gânglio) saindo da medula espinal até a placa motora. Esse o SN somático. Na terminação dessa fibra, há liberação de ACh, que vai atuar em seu receptor nicotínico localizado no músculo esquelético. Quando observamos a organização das fibras no SNA, exceto a inerva- ção da medula adrenal, todos apresentam um trajeto que faz sinapse com neurônios presentes nos gânglios. Então, no simpático, a fibra sai da re- gião “toracolombar”, libera ACh, que vai atuar no receptor nicotínico dos neurônios do gânglio. Isso faz com que a via pós-ganglionar seja ativada, 42Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I liberando noradrenalina em sua terminação – mais precisamente, nos re- ceptores alfa e beta adrenérgicos. Figura 19 – Características comparativas dos nervos motores somáticos e dos nervos eferentes do sistema nervoso autônomo Fonte: Goodman, Gilman, 2019. O sistema parassimpático organiza-se da seguinte forma: uma fibra pré- -ganglionar sai da região craniossacral, libera ACh no receptor nicotínico (localizado no gânglio) e ativa a fibra pós-ganglionar a liberar ACh nos re- ceptores muscarínicos dos órgãos efetores. A via colinérgica envolve duas classes de receptores: nicotínicos e musca- rínicos. Os receptores nicotínicos são receptores ionotrópicos (canais iô- nicos de sódio) que, ao serem ativados, permitem influxo de sódio e despo- larização da membrana; eles se encontram espalhados por todo o SNC, na placa motora dos músculos esqueléticos (função neuromuscular esquelé- 43Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I tica) e nos gânglios (transmissão nos gânglios simpáticos e parassimpáti- cos). Os receptores muscarínicos, por sua vez, são receptores metabotró- picos (acoplados à proteína G) e apresentam respostas mais lentas do que a ativação dos receptores nicotínicos, podendo ser excitatórias ou inibitó- rias. São conhecidos cinco subtipos moleculares de receptores muscaríni- cos, sendo todos amplamente expressos no SNC, mas com predominância de outras regiões periféricas de importância clínica: M1 (córtex cerebral; glândulas gástricas e salivares), M2 (músculo cardíaco), M3 (musculatura lisa e glândulas secretoras), M4 (córtex cerebral) e M5 (substância negra do SNC) (MACEDO, 2011; GOODMAN; GILMAN, 2019). Os receptores M1, M3 e M5 (números ímpares) são todos acoplados à proteína G estimulatória e ativam a fosfolipase C. Portanto, seus efeitos estimulatórios envolvem DAG, IP3, aumento da concentração intracelular de cálcio e ativação de proteína quinase C. Os receptores M2 e M4 (números pares) são acoplados à proteína G inibitória e inibem a adenilil ciclase. Como resultado, observam- se redução na produção do AMPc e da ativação da proteína quinase A, bloqueio da entrada de cálcio e hiperpolarização da membrana celular decorrente do efluxo de potássio. O sistema parassimpático apresenta como neurotransmissor a ACh, os quais atuam nos receptores muscarínicos (M1, M2, M3, M4 e M5), todos acoplados à proteína G. Os parassimpaticomiméticos são divididos em fármacos de ação direta e indireta nos receptores muscarínicos. Os de ação direta podem ser do tipo ésteres de colina (ex.: acetilcolina, metacolina, carbacol, betanecol), ou do tipo alcaloides e derivados (ex.: muscarina, pilocarpina). Os ésteres são aminas quaternárias, apresentam um caráter mais hidrossolúvel e, portanto, baixa penetração no SNC. Esse tipo de fármaco pode ser usado para situações clínicas como estimular a bexiga atônica e aumentar mo- 44Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I tilidade intestinal (principalmente nos casos de íleo paralítico) (FUCHS; WANNMACHER, 2017). Já os alcaloides são aminas terciárias e mais lipos- solúveis,facilitando sua ação no SNC. O fármaco pilocarpina é um colírio utilizado para o tratamento do glaucoma. Glaucoma é uma neuropatia óptica caracterizada pela degeneração progressiva das células ganglionares da retina e alteração característica da cabeça do nervo óptico, levando ao comprometimento irreversível da visão (SOCIEDADE BRASILEIRA DE GLAUCOMA, 2019). ACERTE O ALVO! O uso de pilocarpina também pode apresentar efeitos colaterais oculares como: miose, miopia, espasmo ciliar e catarata (BARBOSA et al., 2018). Os fármacos de ação indireta atuam inibindo a acetilcolinesterase (AchE) e podem ser reversíveis (ex.: Neostigmina) ou “irreversíveis” (ex.: Ecotiofato). O resultado é o aumento da disponibilização de Ach na fenda sináptica, com uma atuação mais demorada desse neurotransmissor em seus receptores nicotínicos e muscarínicos. Algumas respostas clínicas diante do uso de parassimpaticomiméticos: • Miose (ativa músculo constritor) e aumento do fluxo de humor aquoso no canal de Schlemm, e redução da pressão intraocular, melhorando os sintomas do glaucoma; • Aumento da motilidade (do peristaltismo) e relaxamento dos esfíncteres; 45Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I • Aumento do suco gástrico; • TGU (trato geniturinário) – relaxamento dos esfíncteres da bexiga e au- mentando a contração da musculatura lisa (favorecendo a micção); • Redução da frequência cardíaca (bradicardia); • Aumento da salivação; • Leve relaxamento/vasodilatação; • Broncoconstrição. A latanoprosta é um análogo direto da prostaglandina F2-alfa, originalmente utilizado como colírio no tratamento de glaucoma e hipertensão ocular, e com baixa frequência de reações adversas. Quais os efeitos observados dos fármacos de ação indireta? São os mes- mos de ação direta, mas com a inclusão dos efeitos sobre a junção neu- romuscular. Isso porque, na ação indireta, há aumento dos níveis de Ach, e esta atua em seus receptores M e N sem distinção. E, como esses fárma- cos de ação indireta inibem a AchE, a Ach atua por mais tempo em ambos os receptores, provocando aumento da contração do músculo esquelético. Uma aplicação clínica desses fármacos seria na anestesia (por este indu- zir bloqueio neuromuscular). A utilização de um agonista indireto ocorre- ria na reversão desse quadro, provocando aumento da contratilidade do músculo esquelético. Em um bloqueio neuromuscular pós-operatório, decorrente, por exemplo, do uso de pancurônio e vecurônio, o uso do an- ticolinesterásico neostigmina é eficaz na reversão desse bloqueio (MO- RAIS et al., 2005). Outra aplicação seria no tratamento de Miastenia Grave, uma doença que envolve a destruição dos receptores nicotínicos. O uso de edrofônio ou 46Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I neostigmina poderia ajudar na melhora dos sintomas, uma vez que favo- recem, ao bloquear a AchE, uma maior disponibilização e duração de Ach nos receptores nicotínicos remanescentes. Alguns inibidores reversíveis de acetilcolinesterase fazem parte do esquema terapêutico da doença de Alzheimer, como a rivastigmina, tacrina, donepezila, galantamina (SILVA, 2010; VALE et al., 2011; GOODMAN; GILMAN, 2019). Miastenia Grave é uma doença autoimune, em que se observa destruição de receptores nicotínicos por anticorpos, levando à perda da força muscular. 03. Inibidores de acetilcolinesterase são indicados para o trata- mento da doença de Alzheimer. Analise as seguintes afirmativas e assinale com V as verdadeiras e com F as falsas. ( ) Donepezila é inibidor reversível de acetilcolinesterase e não induz hepatotoxicidade. ( ) Galantamina melhora a cognição em pacientes com doença de Alzheimer leve a moderada. ( ) Tacrina é amplamente indicada devido a seu bom perfil de segurança. Assinale a sequência CORRETA. 🅐 V F V. 🅑 F V F. 🅒 V V F. 🅓 F V V. Clique aqui para ver o gabarito da questão. 47Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I ACERTE O ALVO! O primeiro fármaco sintético aprovado para o trata- mento da doença de Alzheimer foi a tacrina, que é um inibidor reversível da acetilcolinesterase (encontrada no SNC) e também da butirilcolinesterase (frequente no sistema periférico). No entanto, apresenta alto risco de hepatotoxicidade, interações medicamentosas e distúr- bios gastrointestinais. Os antagonistas muscarínicos (parassimpatolíticos) são usados prin- cipalmente para inibir os efeitos da atividade parassimpática nos tratos respiratório, urinário e GI, nos olhos e no coração. Entre esses antagonis- tas, temos: • Alcaloides naturais: atropina e escopolamina (hioscina); • Derivados semissintéticos: homatropina; nitrato de metilatropina; brometo de N-butilescopolamina; • Derivados sintéticos: pirenzepina (M1 seletivo); ipratrópio (M3 seleti- vo); tiotrópio (M1 e M3); tolterodina (M3 seletivo). A escopolamina (hioscina) é um antagonista muscarínico, bastante lipos- solúvel, que atravessa, com facilidade, a barreira hematoencefálica. Esse fármaco costuma ser utilizado em algumas situações clínicas, como cine- tose; tratamento de cólicas intestinais e menstruais; e nos quadros de incontinência urinária, uma vez que o parassimpático atua aumentando a força de contração do músculo detrusor da bexiga e a escopolamina age reduzindo essa força. 48Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I Cinetose: vontade de vomitar por causa de movimentos (carro, barco). Outro agente intoxicante que modula a via colinérgica é a toxina botulíni- ca, uma proteína composta por uma cadeia leve (50-kDa) e uma cadeia pe- sada (100-kDa), unidas por uma ponte dissulfeto; e a forma mais comum na clínica é a toxina tipo A. Atenção ao mecanismo de ação: a toxina atravessa a membrana do neurônio pré-sináptico através da ligação da cadeia pesada à proteína da vesícula sináptica (proteína receptora que reconhece a toxina), sendo esse o gatilho para sua endocitose. Logo, em seguida, a ponte dissulfeto é clivada e a cadeia leve (porção ativa da toxina) é secretada da vesícula endocítica para o citosol, ligando-se à SNAP-25 (nervo sinaptossomal 25) – uma proteína do tipo Snare, com função essencial para a ligação de vesí- culas à membrana celular e à transdução de sinal. Com isso, a toxina inibe a exocitose da Ach na fenda sináptica, impedindo sua ação nos receptores nicotínicos e muscarínicos (ROWLAND, 2002; LIN; CHIANG; LIAO, 2020). ACERTE O ALVO! A toxina botulínica inibe a liberação de acetilcolina das terminações nervosas por interferir na exocitose, sem, contudo, alterar a condução dos sinais elétricos nem as etapas da síntese e armazenamento em vesículas de acetilcolina. 49Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I Figura 20 – Mecanismo de ação da toxina botulínica Fonte: Adaptada de Rowland, 2002. O equilíbrio no funcionamento dos órgãos e tecidos, em conjunto com o sistema endócrino, é fundamental para manter a homeostasia. Para isso, o sistema nervoso parassimpático precisa se manter em harmonia com o sistema simpático, seu conhecido “antagônico funcional”. De fato, a maioria das respostas fisiológicas desses sistemas é antagônica, como observado no sistema cardiorrespiratório, em que o simpático, contrário ao parassimpático, promove broncodilatação, taquicardia e elevação da pressão arterial. Entretanto, temos uma exceção importante. O processo de ereção (sistema parassimpático) e o de ejaculação (simpático) traba- lham juntos de maneira coordenada. Enquanto a ativação do receptor M3 promove a ereção, α1 induz a ejaculação. No sistema simpático, a fibra nervosa pró-ganglionar sai da região central e faz sinapse com o gânglio, liberando Ach, que vai atuar nos receptores 50Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I nicotínicos ganglionares. Isso ativa a fibra pós-ganglionar, a qual libera noradrenalina, levando a estimulação de receptores adrenérgicospre- sentes no órgão-alvo. Figura 21 – Características da inervação na via simpática para liberação de noradrenalina Fonte: Autoria Própria, 2019. O sistema simpático apresenta como principal neurotransmissor a noradrenalina, a qual atua nos receptores α (1,2) e β (1,2,3) adrenérgicos, e todos são acoplados à proteína G. Uma fibra diferenciada na via simpática é a inervação da glândula sudo- rípara. A organização sequencial da fibra nervosa é muito semelhante à fibra parassimpática. O nervo eferente sai da região toracolombar, libera ACh no gânglio (no receptor nicotínico), levando à ativação da fibra pós- -ganglionar. Isso induz liberação de ACh no receptor muscarínico locali- zado na glândula sudorípara. Observe atentamente a organização dos receptores e o mecanismo envolvido em cada um. Como você já estudou a proteína G e os dois sistemas efetores mais associados a ela (adenilil/ adenilato ciclase e fosfolipase C), então será mais tranquilo compreender os efeitos dos fármacos nesses receptores. Ach NAFibra pré- ganglionar Sinápse efetora Fibra pós- ganglionar Local da ação dos agonitas adrenérgicos (simpatomiméticos) Gânglio simpático Medula espinhal Existem duas classes de receptores adrenérgicos: α (1 e 2) e β (1, 2 e 3) 51Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I O receptor α2 é o único do sistema adrenérgico que é acoplado a uma proteína G inibitória. Significa que seu papel é mais regulador da resposta simpática e normalmente ele é encontrado nas fibras pré-sinápticas, reduzindo o efluxo simpático. Quadro 3 – Receptores adrenérgicos, seus sistemas efetores e efeitos observados Receptor G Sistema efetor Alguns efeitos α1 s Fosfolipase C Vasos sanguíneos (constrição), ↓ gls. salivares (constrição) Olho (Midríase – dilatação); esfíncter da bexiga (contração); lipólise e termogênese α2 i Adenilil ciclase Ilhotas pancreáticas (↓ Insulina) 🡪 hiperglicemia SNC (↓ efluxo simpático) 🡪 ↓ canais de Ca++ 🡪 ↓ liberação de NA β1 s Adenilil ciclase Coração: ↑ Freq. Cardíaca e Força de contração; lipólise e termogênese β2 s Adenilil ciclase Vasos sanguíneos (predomina vasodilatação: “luta ou fuga”) Mm. esqueléticos: tremor e aumento da veloc. de contração muscular Bronquíolos: broncodilatação M. liso (ex.: útero e bexiga): relaxamento Tecido adiposo: lipólise e termogênese Fígado: Glicogenólise β3 s Adenilil ciclase Lipólise e termogênese G, Proteína G; Gs, estimulatória; Gi, inibitória. Fonte: Autoria Própria, 2020. Nosso organismo é capaz de sintetizar três catecolaminas: adrenalina, noradrenalina e dopamina. Essa classificação decorre, justamente, do nú- cleo catecol. E como essas catecolaminas são formadas? Vamos juntos nas etapas! 52Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I Todas as três catecolaminas derivam do mesmo aminoácido tirosina. Esse aminoácido é carreado para dentro do neurônio pré-ganglionar, onde, no citosol, encontra a enzima tirosina hidroxilase. Esta catalisa a hidroxila- ção da tirosina, gerando o intermediário DOPA. Este, por sua vez, sofre descarboxilação pela DOPA descarboxilase, gerando dopamina, a qual ficará armazenada na vesícula. Se o neurônio for noradrenérgico, dentro dessa vesícula haverá a enzima dopamina-β-hidroxilase, a qual converte dopamina em noradrenalina. Contudo, se for da glândula adrenal, no cito- sol das células cromafins, há uma enzima N-metiltransferase feniletano- lamina, a qual converte noradrenalina em adrenalina. Na transmissão simpática, o influxo de cálcio promove exocitose das ve- sículas de noradrenalina na fenda sináptica. Ela atua em seus receptores adrenérgicos, mas é interrompida principalmente por recaptação pelas terminações nervosas, através do transportador de noradrenalina (NET). Após a captação, a noradrenalina pode ser reestocada em vesículas ou metabolizadas. Basicamente, duas enzimas metabolizam esses neuro- transmissores: monoaminoxidase (MAO) e catecol-o-metil-transferase (COMT). A MAO é associada primariamente na membrana externa da mi- tocôndria, regulando a concentração intraneuronal livre de noradrenalina, enquanto a COMT é encontrada primariamente no citoplasma do neurô- nio pós-sináptico, exceto em células cromafins da glândula adrenal, onde a COMT está ligada à membrana (GOODMAN; GILMAN, 2019). Os agonistas adrenérgicos simpaticomiméticos são fármacos que repro- duzem as ações das catecolaminas endógenas em seus receptores e são divididos basicamente em agonistas de ação direta e indireta. Os de ação direta atuam direto nos receptores adrenérgicos. Já os fármacos de ação indireta atuam interferindo em rotas metabólicas da noradrenalina: po- dem atuar ao nível de vesículas do neurotransmissor, podem inibir a NET e podem inibir as enzimas metabólicas MAO e COMT. 53Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I Com relação aos receptores do tipo α adrenérgicos, fármacos agonistas α1 seletivos induzem vasoconstrição e hipertensão por um mecanismo que envolve o sistema efetor fosfolipase C. Com isso, o uso de fármacos como a nafazolina (um dos princípios ativos do sorine) contribui para o aumento da resistência periférica vascular e, consequentemente, aumen- to da pressão arterial (PA). Geralmente, esses fármacos são utilizados em casos de hipotensão e congestão nasal. Por outro lado, agonistas α2– seletivos são hipotensores, o que justifica seu uso clínico no tratamento da hipertensão sistêmica. Como exemplo, temos a clonidina. A ativação desses receptores, no SNC, leva à supressão da atividade simpática, pois suprime o efluxo simpático, levando à bradicardia e redução de PA. Os receptores do tipo β adrenérgicos apresentam vasta dispersão so- bre os órgãos e todos eles são acoplados à proteína G estimulatória. Seus efeitos são decorrentes da ativação da adenilil ciclase, aumento do AMPc e ativação da proteína quinase A. O receptor β1 apresenta uma densidade elevada no coração. Uma vez ativados, por exemplo, pela do- butamina (seletivo β1), esse fármaco, que é de uso injetável, leva ao au- mento das forças de contrações cardíacas, auxiliando no tratamento da insuficiência cardíaca. Os receptores β2 apresentam vasta distribuição nos brônquios, vasos sanguíneos dos músculos esqueléticos e no útero gravídico. Por esse motivo, os principais efeitos do uso de agonista β2 são broncodilata- ção, vasodilatação e relaxamento da musculatura uterina, evitando o parto prematuro. Vamos aproveitar esse assunto de adrenérgicos para comentar sobre a asma? O uso de agonistas β2 é muito frequente nas exacerbações da asma. Mui- tas vezes, as exacerbações asmáticas são controladas e/ou reduzidas 54Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I com o tratamento combinado de corticoide inalatório e broncodilatado- res do tipo agonistas β2 (CASTILLO; PETERS; BUSSE, 2017). Exemplos de agonistas β2 broncodilatadores de curta duração: fenoterol e salbutamol; e de ação prolongada: formoterol e salmeterol. Entretanto, cabe destacar que, na asma não controlada, em que o paciente evolui para um quadro de inflamação e edema das vias aéreas, observa-se baixa resposta aos bron- codilatadores. Nesse caso, inclui-se no esquema terapêutico um corticoi- de endovenoso (ex.: metilprednisolona). A asma é uma doença heterogênea, geralmente caracterizada por inflamação crônica das vias aéreas. Ela é definida pela história de sintomas respiratórios, tais como sibilos, dispneia, opressão torácica retroesternal e tosse, os quais variam com o tempo e na intensidade, sendo esses associados à limitação variável do fluxo aéreo (PIZZICHINI et al., 2020). ACERTE O ALVO! Nas crises graves de asma, recomenda-se associar bro- meto de ipratrópio (anticolinérgico) a um beta 2-agonis- tas por inalação, oxigênio e corticoide sistêmico. 55Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I 04. A asma nãocontrolada pode evoluir para um estado agudo no qual há sintomas como inflamação, edema das vias aéreas, acúmulo excessivo de muco e broncoespasmo que podem resultar em um estreitamento das vias aéreas. Nesse quadro, há baixa resposta aos broncodilatadores, e a farmacoterapia empregada consiste na administração de agentes beta – agonistas ou anticolinérgicos inalatórios e corticoide intravenoso. A alternativa que contém apenas exemplos dos fármacos utilizados para o tratamento da asma em suas respectivas vias de administração é: 🅐 Salbutamol, brometo de ipratrópio e clobetasol. 🅑 Salbutamol, brometo de ipratrópio e metilprednisolona. 🅒 Salbutamol, brometo de ipratrópio e prednisona. 🅓 Salbutamol, terbutalina e prednisona. 🅔 Salbutamol, epinefrina e prednisona. Clique aqui para ver o gabarito da questão. Os antagonistas adrenérgicos atuam antagonizando os efeitos da nora- drenalina, levando a respostas contrárias dos agonistas. Observe: • Agonistas α1 induzem vasoconstrição, levando ao aumento da resistên- cia periférica e da PA. O uso de antagonistas α1, como fenoxibenzamina e fentolamina, não seletivos, causam hipotensão e congestão nasal por conta da vasodilatação. Outro fármaco utilizado é o tansulosina. Este é antagonista competitivo α1 (seletivo), também conhecido por ser urosseletivo e utilizado para tratar a hiperplasia da próstata. Com isso, predomina o relaxamento da musculatura lisa da próstata e da uretra. • Antagonistas β1 induzem efeito cronotrópico e inotrópico negativos, uma vez que reduzem, respectivamente, a frequência cardíaca e a for- 56Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I ça de contração. Como exemplo temos atenolol, um bloqueador seleti- vo β1, utilizado no tratamento da pressão alta. O propranolol, também muito usado como anti-hipertensivo, é betabloqueador não seletivo e, por isso, tem maior chance de efeitos adversos, como causar bronco- espasmos (BARBOSA; ROSITO, 2013). O betaxolol também é um an- tagonista adrenérgico β1, utilizado para o tratamento da hipertensão ocular e glaucoma (LIVERTOX, 2012a). Assista agora a Pocket Aula sobre Farmacologia do Sistema Nervoso Autônomo (SNA) clicando no ícone ao lado http://sanar.link/4C5Xg 57 ANOTAÇÕES 58Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I 3. FARMACOLOGIA DA INFLAMAÇÃO Antes de iniciarmos, tenho uma pergunta para você: os anti-inflamató- rios apresentam atividade anti-inflamatória, analgésica e antitérmica. Quais mecanismos justificam esse perfil transversal dessa classe de fár- macos? Relaxe que teremos essas respostas juntos! Mergulha em nossa aula! O processo inflamatório envolve defesa e reparo do organismo, ou seja, é uma resposta orgânica que tende a ser resolutiva sem auxílio de um me- dicamento. A inflamação só deve ser combatida (usando algum anti-infla- matório) quando as manifestações clínicas ultrapassam os limites de to- lerância e resolutividade orgânica, podendo culminar com manifestações sintomáticas decorrentes da perda da função (o último sinal cardinal da inflamação). O processo inflamatório pode ser dividido em agudo e crônico. A inflama- ção aguda inicia-se rapidamente (minutos a poucos dias) e é caracteriza- da por formação de exsudato do líquido, edema e quimioatração de leucó- citos para o ambiente que sofreu o estímulo/lesão. A inflamação crônica, por sua vez, apresenta-se mais demorada e é caracterizada por conter um predomínio de linfócitos e macrófagos, e, se a resposta inflamatória não for contida, pode ocorrer necrose celular (KUMAR et al., 2010). Os anti-inflamatórios não esteroidais (AINES) atuam na via do ácido ara- quidônico, bloqueando as prostaglandina G/H-sintase (ciclooxigenases, COX). Atualmente são bem conhecidas as isoformas COX-1 e COX-2. E como se inicia esse processo no nível celular? Estímulos químicos e físi- cos ativam a translocação dependente de cálcio da fosfolipase A2 (PLA2) citosólica até a membrana, onde a enzima hidrolisa a ligação éster dos fosfolipídios da membrana (GOODMAN; GILMAN, 2019; GOLAN, 2018). 59Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I Lembre-se: os fosfolípidos são lipídios de membrana constituídos a par- tir da esterificação de duas hidroxilas do glicerol com ácidos graxos (AG), formando uma ligação do tipo éster. A terceira hidroxila (ligada ao C3 do glicerol) forma uma ligação fosfodiéster pela ligação com um fosfato. O AG ligado ao C2 do glicerol corresponde ao ácido araquidônico e ele é o AG disponibilizado pela hidrólise catalisada pela PLA2. A PLA2, então, disponibiliza o ácido araquidônico, um ácido graxo cons- tituinte de fosfolipídios de membrana. Faz parte desse complexo, ainda, uma elevação da concentração de íons cálcio no meio intracelular. O sítio ativo da COX é um canal hidrofóbico que se encontra associado à mem- brana plasmática. Por isso, a disponibilização do ácido araquidônico não precisa ser no citosol, ocorre na própria membrana. Figura 22 – Via do ácido araquidônico e locais de ação dos anti-inflamatórios AAS, ácido acetilsalicílico; LT, leucotrieno; AINE, anti-inflamatório não esteroidal. Fonte: Kumar et al., 2010. 60Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I O ácido araquidônico, disponibilizado, é substrato para as enzimas lipo- xigenases (LOX) e COX. O produto gerado pela ação da LOX são os leu- cotrienos (LT), e o LTB4 merece destaque por ser, além de inflamatório, broncoconstritor. A via da COX gera uma prostaglandina (PG) interme- diária – prostaglandina H2 (PGH2) e precursora dos prostanoides (PGD2, PGE2, PGI2 e TXA2). Atenção: como a via da LOX gera leucotrienos, e eles são broncoconstri- tores, um dos tratamentos da asma envolve a utilização de antagonistas do receptor de leucotrienos (como montelucaste e zafirlucaste) ou inibi- dor da LOX (zileutona). Existem duas isoformas de COX (COX-1 e -2), e cada uma delas tem suas peculiaridades tanto estruturais como no contexto inflamatório. Em com- paração com a COX-1, a isoforma 2 apresenta um canal hidrofóbico – local de acesso do ácido araquidônico – maior. Outras diferenças na estrutura das duas isoformas possibilitaram o desenvolvimento de fármacos que atuam seletivamente sobre a COX-2. A COX-1 é constitutiva e, portan- to, responsável pelas respostas homeostáticas. Já a isoforma 2, normal- mente, é expressa em condições inflamatórias, o que nos faz pensar que a utilização de fármacos seletivos COX-2 seria ideal para controlar a infla- mação. Entretanto, sabe-se que a COX-2 é constitutiva, por exemplo, nos rins e cérebro e acaba sendo continuamente expressa no sistema cardio- vascular (pela força de cisalhamento). Sendo assim, um bloqueio seletivo COX-2 pode interferir no funcionamento normal, em que sua expressão é constitutiva (GOLAN, 2018; GOODMAN; GILMAN, 2019). No geral, a COX-1 é ativada por estímulos fisiológicos e está relacionada aos efeitos homeostáticos, como proteção gástrica, homeostasia renal e plaquetária. A COX-2, por sua vez, encontra-se predominantemente ex- pressa após estímulos inflamatórios, sendo, portanto, responsável pelos efeitos na inflamação, como a própria resposta inflamatória, dor e febre. 61Curso Intensivo para Residências | Farmácia | Farmacologia – Parte I A inflamação ocorre, por exemplo, em resposta a uma lesão tecidual. Os eventos celulares relacionados ao processo inflamatório envolvem a es- timulação de células inflamatórias, com liberação de mediadores inflama- tórios, quimiocinas e ativação leucocitária, que levam aos sinais cardinais da dor: calor, rubor, edema, dor e perda da função. Entre os mediadores inflamatórios podemos destacar, além dos eicosanoides (prostanoides e leucotrienos), histamina, bradicinina, óxido nítrico e citocinas pró-infla- matórias (interleucinas [IL] 1 beta, IL-6, TNF, quimiocinas). • Histamina é liberada, principalmente, pela ativação e degranulação de mastócitos. Promove vasodilatação
Compartilhar