Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL PROFª. VANESSA ZAMBALDI 2 Referência Bibliográficas Passos para acessar biblioteca virtual: 1. Entrar no site: https://biblioteca-virtual.com/uk; 2. Efetuar o login; 3. Acessar o ícone: minha biblioteca e acessar o portal; 4. Clicar no ícone pesquisar; 5. Digitar: DIREITO CIVIL – PARTE GERAL. https://biblioteca-virtual.com/uk 3 CONTEÚDO PROGRAMÁTICO AULA 01 LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO – LINDB. LEI Nº 12.376/2010. (IMPORTANTE) Antes de iniciar o estudo da LINDB: VOCÊ SABE O QUE É ARTIGO, INCISOS, PARÁGRAFOS, ALÍNEAS E ITENS DE UMA LEI? 4 5 O QUE É ARTIGO, INCISOS, PARÁGRAFOS, ALÍNEAS E ITENS? As expressões artigos, alíneas, incisos, parágrafos, entre outras, são muito comuns quando estamos estudando ou mesmo ouvindo falar de uma determinada lei, resolução, portaria, etc. 1. ARTIGO: É a unidade básica da lei. Toda lei tem, no mínimo, um artigo, e eles constituem a forma mais prática de se localizar alguma informação dentro da lei, por maior que ela seja. Os artigos são representados pela abreviatura art. seguidos de numerais ordinais até o 9º; após, segue com números cardinais, exemplo: art. 9º, art. 10. Ao enunciado do artigo dá-se o nome de caput. 6 2. PARAGRÁFOS: É um desdobramento da norma de um determinado artigo, podendo complementá-la, indicar alguma exceção, etc. é indicado pelo símbolo § e vem seguido de um número ordinal até o 9º; após, segue com números cardinais, da mesma forma que o artigo. Quando o artigo possui apenas um parágrafo, o chamamos de parágrafo único. Todo parágrafo deve estar vinculado a um determinado artigo, ou seja, é incorreto dizer: Me refiro ao parágrafo tal da lei tal… Devemos, portanto, dizer: Me refiro ao parágrafo tal, do artigo tal, da lei tal … Pode existir apenas um art. 1º em uma lei, mas podem existir vários §. 7 3. INCISO: É um desdobramento do artigo ou do parágrafo, conforme o caso. São representados por algarismos romanos e são encerrados, geralmente, por ponto-e-vírgula, salvo se for o último inciso do artigo ou parágrafo ou se o inciso se desdobrar em alíneas. É importante não confundir: o inciso não se encontra no mesmo “nível hierárquico” do parágrafo. Um parágrafo pode ser divido em incisos, mas um inciso não pode se dividir em parágrafos. 8 4. ALÍNEAS: Representam o desdobramento dos incisos ou dos parágrafos. São representadas por letras minúsculas, acompanhadas de parênteses. Um artigo também pode se desdobrar diretamente em alíneas, sem a necessidade de incisos ou parágrafos. 5. ITENS: É o desdobramento da alínea. É representado por algarismos arábicos (ou seja, os algarismos “normais”) seguido de ponto final. FONTE: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5569498/mod_resource/c ontent/1/Estrutura%20do%20texto%20legal.pdf#:~:text=%C3%89% 20um%20desdobramento%20do%20artigo,inciso%20se%20desdobr ar%20em%20al%C3%ADneas. https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5569498/mod_resource/content/1/Estrutura%20do%20texto%20legal.pdf#:~:text=%C3%89%20um%20desdobramento%20do%20artigo,inciso%20se%20desdobrar%20em%20al%C3%ADneas 9 Exemplo: Lei nº xxx/ano xxxx Art. 1º Aqui virá o caput, que é o enunciado do artigo. § 1º Aqui virá o texto do parágrafo único, que é um desdobramento do artigo, que terminará com dois-pontos porque será complementado pelo inciso abaixo: I - aqui virá o texto do inciso I, que será desdobrado na alínea abaixo: aqui virá o texto da alínea a, que conterá os itens abaixo: 1. informação do primeiro item; 2. informação do segundo item. Portanto, se quisermos, por exemplo, nos referir ao termo que está em negrito, devemos dizer: item 1, da alínea a, do inciso I, do § 1º, do artigo 1º da lei xxx/xxxx. 10 1. INTRODUÇÃO A LINDB - LEI Nº 12.376/2010 A LINDB, inicialmente conhecida como Lei de Introdução ao Código Civil (LICC), promulgada pelo Decreto-Lei nº 4.657 de 1942, era tratada como um conjunto de normas de introdução ao Direito Civil/Privado, entretanto as normas contidas não versavam apenas sobre o direito civil. Seu objetivo quando da criação era de orientar a aplicação do Código Civil, dirimindo controvérsias que foram surgindo desde a edição do primeiro CC/1916. A partir de 2010, a lei de introdução NÃO INTEGRA O CÓDIGO CIVIL. Pois essa lei PRESTA SERVIÇO A TODO O SISTEMA JURÍDICO NACIONAL. 11 Portanto sua amplitude de aplicação abrange todas as normas do ordenamento jurídico brasileiro. Estabelece os alicerces de nosso sistema jurídico. Estabelece regras e institutos que abrangem todos os ramos do direito. É um "conjunto de normas" sobre as “normas”. Conhecido também como "uma lei" sobre "as leis“. É uma norma de “sobredireito” ou seja é uma norma jurídica que visa regulamentar outras normas. (Norma sobre as normas, o sobredireito, superdireito, lei das leis, ou seja a norma que normatiza outra). É uma norma ATEMPORAL, serve para introduzir diversos códigos e leis no ordenamento jurídico. 12 1.1 PRINCIPAIS FINALIDADE DA LINDB ➢ Estabelecer a Vigência e eficácia das normas jurídicas – como nosso sistema é baseado em lei (escrita) é importante a preocupação com a sua vigência. ➢ Estabelecer o caso de conflitos das leis no tempo – as leis vão se sucedendo no tempo. O direito é dinâmico, acompanha a sociedade e é necessário uma "regra geral" de funcionamento. ➢ Estabelecer o caso de conflitos de leis no espaço – no caso concreto pode se haver dúvidas se usaremos a lei estrangeira x lei brasileira . A LINDB versa sobre tal competência. 13 ➢ Critérios hermenêuticos – é impossível o legislador prevê a totalidade dos fatos – caberá assim a interpretação. ➢ Critérios de integração do ordenamento jurídico - é impossível o legislador prevê a totalidade dos fatos – caberá assim a integração. ➢ Normas de direto internacional privado. 14 CARACTERÍSTICAS DA LEI Sabendo que a lei é o objeto de estudo da LINDB, vale a pena enumerarmos as suas características: 1. Generalidade ou impessoalidade: a lei se dirige a todos, indistintamente 2. Obrigatoriedade e imperatividade: o descumprimento da lei autoriza a aplicação de uma sanção. 3. Permanência ou persistência: a lei não se esgota em uma única aplicação. 4. Autorizante: se a lei for violada, o ofendido pode pleitear uma indenização por perdas e danos caso tenha sofrido um prejuízo em virtude da lei. 15 2.INTRODUÇÃO A LINDB As leis introdutórias direcionam a interpretação e a aplicação das demais normas. É uma lei autônoma, não integrante do Código Civil, que dispõe sobre a vigência e obrigatoriedade das normas integrantes do ordenamento jurídico, como devem ser compreendidas e integradas, além de estabelecer diretrizes para o Direito Internacional no que se refere aos direitos que envolvem personalidade, bens, heranças e obrigações. 16 2.1 VIGÊNCIA E EFICÁCIA DA NORMA Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto- lei/del4657compilado.htm ➢ Os arts. 1º e 2º da LINDB tratam da vigência da lei, que é a possibilidade, em tese, de ela produzir efeitos na vida em sociedade. ➢ Princípio da vigência sincrônica: a obrigatoriedade da lei no país é simultânea, pois ela entra em vigor a um só tempo em todo o país, ou seja, quarenta e cinco dias após sua publicação, não havendo data estipulada para sua entrada em vigor. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del4657compilado.htm 17 Art. 1o Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada. § 1o Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada. § 2o (Revogado pela Lei nº 12.036, de 2009). § 3o Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação. § 4o As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova. Art. 2o Não se destinando à vigência temporária, a leiterá vigor até que outra a modifique ou revogue. § 1o A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. § 2o A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior. § 3o Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12036.htm#art4 18 Exemplo: Quando a lei for omissa quando a data do vigor, segue o que dispõe a LINDB – 45 dias após a publicação. 19 Após a publicação da lei, para que a população conheça o seu conteúdo e se prepare para os seus efeitos, é instituído o chamado período de vacância, indicado expressamente no texto legal. O período de vacância, ou vacatio legis, é o período de tempo entre a publicação da lei (quando ela se torna válida no ordenamento jurídico) e o início da efetiva produção dos seus efeitos. 20 O que é publicação? O processo de nascimento de uma lei pode ser apresentado da seguinte forma: 1. Edição; 2. Processo legislativo; 3. Sanção do presidente da República; 4. Publicação; e 5. Vigência. 21 As fases de edição e do processo legislativo são estudadas pelo direito constitucional. Após a lei ser sancionada, deve haver a sua publicação para que as pessoas tomem conhecimento do seu conteúdo; e, consequentemente, o diploma legal irá adquirir vigência (validade), estando apto a produzir efeitos. Entretanto, o nascimento da lei se dá com a promulgação. 22 Promulgação ≠ Publicação Não podemos confundir a promulgação com a publicação, apesar de ambas constituírem fases essenciais da eficácia da lei. A promulgação atesta a existência da lei, produzindo dois efeitos básicos: ➢ Reconhece os fatos e atos geradores da lei; ➢ Indica que a lei é válida, ou seja, que obedece aos requisitos formais. 23 A promulgação das leis compete ao presidente da República, conforme prevê o art. 66, § 7º, da Constituição Federal. Ela deverá ocorrer dentro do prazo de 48 horas decorrido da sanção ou da superação do veto. Neste último caso, se o presidente não promulgar a lei, competirá a promulgação ao presidente do Senado Federal, que disporá, igualmente, de 48 horas para fazê- lo; se este não o fizer, deverá fazê-lo o vice-presidente do Senado, em prazo idêntico. 24 A publicação constitui a forma pela qual se dá ciência da promulgação da lei aos seus destinatários. É condição de vigência e eficácia da lei. Denomina-se vacatio legis o período de tempo que se estabelece entre a publicação e a entrada em vigor da lei. Nesse intervalo de tempo, a lei não produzirá efeitos, devendo incidir a lei anterior no sistema. 25 CONTAGEM DO PRAZO DE VACATIO LEGIS A forma de contagem do prazo de vacatio legis é regulada pelo artigo 8º, § 1º, da Lei Complementar n. 95/1998, incluindo o dia da publicação e o último dia na contagem do prazo. Art. 8º A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância far-se-á com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia subsequente à sua consumação integral. Para exemplificar, se uma lei for publicada no dia 2 de janeiro, estabelecendo prazo de 15 dias de vacância, ela entrará em vigor em qual dia? No exemplo apresentado, a contagem do prazo de vacância (vacatio legis) inclui o dia 2 de janeiro e vai até o dia 16 de janeiro (15 dias), entrando a lei e vigor no dia subsequente (17 de janeiro). 26 Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo 01 02 Publicada a lei - Estabeleceu 15 dias de vacância. 1º dia de vacância 03 2º dia de vacância 04 3º dia de vacância 05 4º dia de vacância 06 5º dia de vacância 07 6º dia de vacância 08 7º dia de vacância 09 8º dia de vacância 10 9º dia de vacância 11 10º dia de vacância 12 11º dia de vacância 13 12º dia de vacância 14 13º dia de vacância 15 14º dia de vacância 16 15º dia de vacância 17 Entrada em vigor da LEI 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 27 Se uma lei for publicada com erro substancial acarretando divergência de interpretação, então, poderemos observar situações distintas por ocasião da correção de tal erro, dependendo de qual fase se encontra o processo de criação da norma: 1. Correção antes da publicação: a norma poderá ser corrigida sem maiores problemas; 2. Correção no período de “vacatio legis”: a norma poderá ser corrigida; no entanto, deverá contar novo período de vacatio legis para o texto corrigido; 3. Correção após a entrada em vigor: a norma poderá ser corrigida mediante uma nova norma de igual conteúdo. 28 2.2 REVOGAÇÃO DA LEI É a hipótese em que a norma jurídica perde a vigência, porque outra norma veio modificá-la ou revogá-la. A norma jurídica é permanente e só poderá deixar de surtir efeitos se a ela sobrevier outra norma que a revogue. O desuso não implica a perda da vigência da norma, e, sim, a perda de sua efetividade. Através do art. 2º, caput, da LINDB, o legislador expressou o princípio da continuidade. Dessa forma, em regra, as leis possuem efeito permanente, isto é, vigência por prazo indeterminado, excetuando-se as leis com vigência temporária, que possuem data certa para “morrer” (perder a vigência). 29 A revogação citada na LINDB pode ser parcial ou total, por atingir parte ou a totalidade dos dispositivos legais. •Revogação TOTAL; •Exclui por completo a eficácia da lei anterior; •Desaparece e é inteiramente substituída pela lei re-vogadora, ou simplesmente se anula, perdendo o vigor de norma jurídica a partir do momento em que entra em vigor a que a ab-rogou. AB-ROGAÇÃO •Revogação PARCIAL; •Atinge apenas uma parte, permanecendo plenamente vigentes as disposições não derrogadas; •A lei não fenece, não sai de circulação jurídica, mas é amputada nas partes ou dispositivos atingidos, apenas estes perdem a obrigatoriedade. DERROGAÇÃO 30 A ab-rogação e a derrogação podem ser expressas ou tácitas. Expressa, ou direta, é a forma de atuação que consiste na declaração da lei nova revogando a lei anterior, declarando-a extinta total ou parcialmente. É pouco comum, mas oferece maior segurança jurídica para os seus efeitos, como afirma Maria Helena Diniz (2014, p. 114): “[...] é evidente que, na formação das leis, deveria haver cuidado em indicar nitidamente, ao menos tanto quanto possível, quais as leis que se ab-rogam. Seria o melhor meio de evitar antinomias e obscuridades”. 31 1. Revogação expressa ou direta: quando a lei indica os dispositivos que estão sendo por ela revogados; 2. Revogação tácita ou indireta: subdivide-se em dois tipos: ➢ Revogação tácita por incompatibilidade; e ➢ Revogação tácita global (quando uma lei nova regula inteiramente uma matéria tratada por uma lei anterior). 32 O art. 2º, § 2º, da LINDB, consagra o princípio da conciliação. Art. 2º, § 2º A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior. De acordo com tal princípio, se uma lei não contraria outra já existente, então eles podem coexistir, não havendo a necessidade de revogação. 33 2.2.1. REPRISTINAÇÃO Já o art. 2º, § 3º, da LINDB: Art. 2º, § 3º Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência. Por meio da sua leitura, a regra é a não restauração da norma, ou seja, há a impossibilidade de uma norma jurídica, uma vez revogada, voltar a vigorar no sistema jurídico pela simples revogação de sua norma revogadora. O motivo dessa não restauração de normas é o controle do sistema legal, para que se saiba exatamente qual norma está em vigor. Admite- se, no entanto, a restauração expressa da norma, ou seja, uma norma nova que faça, tão somente, remissão à norma revogada poderá restituir-lhe a vigência, desde que em sua totalidade.34 Esquema gráfico sobre a repristinação: Sendo a Lei A revogada pela Lei B e, posteriormente, a Lei B revogada pela Lei C, a Lei A irá “ressuscitar”? Ou seja, irá ocorrer a repristinação? Caso a Lei C disponha expressamente sobre o “renascimento” da Lei A, então é possível a repristinação, caso contrário, a Lei A continua “morta”. 35 2.3 DA OBRIGATÓRIEDADE DA LEI O alcance da lei é universal, não se destinando somente a determinadas classes sociais, etnias ou religiões. Uma vez publicada e em vigor, a lei é obrigatória para todos. Tendo a publicação o objetivo de tornar a lei conhecida, o art. 3° estatui a impossibilidade de o indivíduo escusar-se de cumprir a lei alegando que não a conhece. Art. 3o Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece 36 Tal dispositivo busca garantir a manutenção da ordem jurídica, que poderia ser prejudicada caso fosse permitida a alegação de ignorância diante do descumprimento da lei vigente. 37 2.4 DA APLICAÇÃO, INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DAS NORMAS ➢ O art. 4º da LINDB apresenta um importante aspecto para a aplicação normativa, que se refere às fontes do Direito. ➢ Percebe-se, portanto, que as fontes são entendidas de maneira hierárquica, sendo que o sistema jurídico deve ser integrado na medida em que uma fonte do Direito não forneça elementos para a solução de determinada demanda. Então caberá ao juiz socorrer-se primeiramente da lei e depois das outras fontes, que são: analogia, costumes e princípios gerais do Direito. Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. 38 Preenchimento de Lacuna Jurídica Segundo o princípio da indeclinabilidade de jurisdição ou da jurisdição obrigatória, o juiz é obrigado a decidir, ainda que não exista lei disciplinado o caso concreto. Dessa forma, diante da ausência de lei regulando uma determinada situação jurídica, faz-se necessário que o magistrado valha-se dos mecanismos de integração do ordenamento jurídico indicados pelo art. 4º da LINDB. 39 40 2.4.1 INTEGRAÇÃO 2.4.1.1 Analogia Analogia é fonte formal mediata do direito, utilizada com a finalidade de integração da lei, ou seja, a aplicação de dispositivos legais relativos a casos análogos, ante a ausência de normas que regulem o caso concretamente apresentado à apreciação jurisdicional (a que se denomina anomia – falta de norma). 41 A doutrina costuma distinguir a analogia em legal (legis) ou jurídica (júris). Vejamos: 1. Analogia legal (legis) – aplica-se ao caso omisso uma lei que regula caso semelhante; 2. Analogia jurídica (júris) – aplica-se ao caso omisso um conjunto de normas para extrair elementos que possibilitem a aplicabilidade ao caso concreto. 42 2.4.1.2 Costume O costume é a repetição da conduta, de maneira constante e uniforme, em razão da convicção de sua obrigatoriedade. No Brasil, existe o predomínio da lei escrita sobre a norma consuetudinária. O costume deriva da longa prática uniforme, constante, pública e geral de determinado ato, com a convicção de sua necessidade jurídica. São, pois, condições indispensáveis à sua vigência: continuidade, uniformidade, diuturnidade (constância na realização do ato, não implicando sanção), moralidade e obrigatoriedade. 43 2.4.1.3 Princípios Gerais do Direito Princípios gerais do direito são postulados que estão implícita ou explicitamente expostos no sistema jurídico, contendo um conjunto de regras. Os princípios gerais de direito são a última salvaguarda do intérprete, pois este precisa se socorrer deles para integrar o fato ao sistema. De acordo com as lições de Celso Antônio Bandeira de Mello, princípios são vetores de interpretação, que, por sua generalidade e amplitude, informam as demais regras, constituindo a base de todo o ramo do direito ao qual se aplica. 44 Aqui, cumpre destacar a possibilidade de conflito entre duas normas vigentes, chamado de antinomia. Para Flávio Tartuce (2015, p. 37), “[...] antinomia é a presença de duas normas conflitantes, válidas e emanadas de autoridade competente, sem que se possa dizer qual delas merecerá aplicação em determinado caso concreto”. Para solucionar uma antinomia, a doutrina majoritária considera três critérios: 1. Critério cronológico — norma posterior prevalece sobre norma anterior; 2. Critério da especialidade — norma especial prevalece sobre norma geral; 3. Critério hierárquico — norma superior prevalece sobre norma inferior. 45 2.4.2 INTERPRETAÇÃO - Critérios de Hermenêutica Jurídica Hermenêutica jurídica é a ciência, a arte da interpretação da linguagem jurídica. Serve para trazer os princípios e as regras que são as ferramentas do intérprete. A aplicação, a prática das regras hermenêuticas, é chamada exegese. Não se deve confundir integração da lei com interpretação da lei. Na primeira, a lei não regula determinado fato, ao passo que, na segunda, a lei regula, mas não é cristalina e precisa. Quando a lei não permite a exata compreensão da ordem, faz-se necessário o seu exercício interpretativo buscando alcançar o seu real sentido. 46 Veja o esquema gráfico a seguir: 47 Dentre as diversas formas de interpretar as leis, destacam-se as seguintes: 48 49 50 2.5 CONFLITOS DE NORMAS NO TEMPO O direito intertemporal visa a solucionar os conflitos entre as novas e as velhas normas, entre aquela que acaba de entrar em vigor e a que acaba de ser revogada. Isso, porque alguns fatos iniciam-se sob a égide de uma lei e só se extinguem quando outra nova está em vigor. Para solucionar tais conflitos, existem dois critérios: 1. Disposições transitórias: o próprio legislador no texto normativo novo concilia a nova norma com as relações já definidas pela norma anterior; 2. Princípio da irretroatividade: a lei não deve retroagir para atingir fatos e efeitos já consumados sob a lei antiga. 51 Observando os fatos jurídicos e relacionando-os cronologicamente de acordo com a produção de efeitos, temos que eles podem ser: a) Pretéritos: são os que se constituíram na vigência de uma lei e tem seus efeitos produzidos na vigência daquela lei; b) Futuros: são os que ainda não foram gerados; c) Pendentes: são os que foram constituídos na vigência de uma lei anterior e não produziram todos os seus efeitos nela. 52 EXEMPLO: Celebrei um contrato de empréstimo no ano passado. No início deste ano, entrou em vigência uma nova lei e até hoje a coisa emprestada está na minha posse. Esse contrato, embora constituído na vigência de uma lei, continua produzindo seus efeitos na vigência da lei revogadora. Segundo o princípio da irretroatividade, aos fatos pendentes, é aplicada a lei anterior, porque a lei posterior só se aplica para o futuro. 53 Analisando o art. 6º da LINDB, percebemos que a lei, em regra, é irretroativa, devendo ser expedida para disciplinar fatos futuros. Entretanto, a retroatividade da lei pode ocorrer excepcionalmente para fatos pendentes, desde que respeite o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. 54 2.5.1 ATO JURÍDICO PERFEITO, DIREITO ADQUIRIDO E COISA JULGADA A norma jurídica é criada para valer no futuro. Porém, eventualmente, uma norma pode atingir fatos passados, situação a qual devem ser considerados três elementos. Prevê o art. 6º: Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. § 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. § 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré- fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. § 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso. 55 Por direito adquirido entende-se o direito já incorporado ao patrimônio de uma pessoa natural, jurídica ou ente despersonalizado. No que se refere ao ato jurídico perfeito, tem-se aquele já consumado de acordo com a lei vigente ao tempo em que se efetuou. Por sua vez, coisa julgada é a decisão judicial proferida da qual não cabe mais recurso. Assim, podemos afirmar que o direito adquirido é o mais abrangente, pois tanto no ato jurídico perfeito quanto na coisa julgada há direitos já consolidados, sendo a coisa julgada um ato jurídico perfeito. 56 A diferença entre o ato jurídico perfeito e o direito adquirido é muito difícil de ser estabelecida, mas parte do seguinte conceito básico: ➢ Ato jurídico perfeito: é o ato que já se consuma segundo a lei de seu tempo; ➢ Direito adquirido: é direito incorporado ao patrimônio do particular. 57 EXEMPLO: Ato jurídico perfeito, temos o contrato de locação celebrado durante a vigência de uma lei que não pode ser alterado somente porque a lei mudou; ou seja, é necessário que o prazo do contrato termine. Direito adquirido, temos a pessoa que se aposenta e, posteriormente, a lei modifica o prazo de aposentadoria. Tal modificação não irá atingir aquele que já está aposentado. Coisa julgada, trata-se da qualidade conferida à sentença judicial contra a qual não cabem mais recursos, tornando-a imutável e indiscutível. Apesar de não ser cabível recurso, a coisa julgada pode ser questionada por meio de ação rescisória (que não é um recurso). 58 2.6 DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO A partir do art. 7º, a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, por alguns denominada de Estatuto de Direito Internacional Privado, versa sobre temas como conflitos de jurisdição, critérios para solucionar problemas de qualificação, efeitos de atos realizados em outros países, condições de estrangeiros e eficácia internacional de posições jurídicas legitimamente adquiridas em certo país, com possíveis reconhecimento e exercício em outro país. 59 Tal assunto costuma ser cobrado em provas de concurso pela sua literalidade. Sendo assim, faz-se necessário a leitura dos artigos. DÚVIDAS? 60 FIXAÇÃO DO CONTEÚDO QUESTÕES DE CONCURSOS: 61 62 QUESTÃO 01 (FGV/PGE-RO/TÉCNICO DA PROCURADORIA/2015) Em relação à vigência de leis no Brasil, é correto afirmar que a lei, depois de oficialmente publicada, começa a vigorar em todo o país, salvo disposição contrária, em: a) 30 dias; b) 45 dias; c) 60 dias; d) 120 dias; e) 180 dias. 63 RESPOSTA 01 LETRA B. A questão tem como fundamento o art. 1º da LINDB, que trata do prazo de vacatio legis e do princípio da vigência sincrônica. Art. 1º Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada. 64 QUESTÃO 02 (FCC/SEFAZ-PE/JULGADOR TRIBUTÁRIO/2015) A contagem do prazo de vacância para entrada em vigor das leis far-se-á com a a) exclusão da data da publicação e inclusão do último dia do prazo, entrando em vigor no dia subsequente à sua consumação integral. b) exclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia subsequente à sua consumação integral. c) inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia subsequente à sua consumação integral. d) exclusão da data da publicação e inclusão do último dia do prazo, neste entrando em vigor. e) inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia anterior. 65 RESPOSTA 02 LETRA C. Conforme salientado no decorrer da explanação teórica, a contagem do prazo de vacatio legis deve ser feita de acordo com o art. 8º, § 1º, da LC n. 95/1998. Art. 8º, § 1º A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância far-se-á com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia subsequente à sua consumação integral. 66 QUESTÃO 03 FCC/TRE-PB/AJAA/2015) Considere: I. As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova. II. Nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia seis meses depois de oficialmente publicada. III. Em regra, a lei revogada se restaura quando a lei revogadora perde a vigência. De acordo com a Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro, está correto o que se afirma APENAS em: a) II e III. b) I e II. c) I. d) I e III. e) III. 67 RESPOSTA 03 LETRA C. I – Correta. Em conformidade com o art. 1º, § 4º, da LINDB. Art. 1º, § 4º As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova. II – Errada. Segundo o art. 1º, § 1º, da LINDB, o prazo nos Estados estrangeiros é de 3 meses. Art. 1º, § 1º Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada. III – Errada. Como regra, segundo o art. 2º, § 3º da LINDB, a repristinação não deve ocorrer. Ou seja, a lei revogada não se restaura quando a lei revogadora perde a vigência. Art. 2º, § 3º Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência. 68 QUESTÃO 04 (FGV/PGE-RO/TÉCNICO DA PROCURADORIA/2015) De acordo com o que é apontado na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro, é correto afirmar que: a) as correções de texto de lei em vigor não se consideram lei nova; b) reputa-se direito adquirido o direito consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou; c) quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes, a equidade e os princípios gerais de direito; d) ninguém se escusa de cumprir a lei, salvo alegando que não a conhece; e) salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência. 69 RESPOSTA 04 LETRA E. Em consonância com o art. 2º, § 3º, da LINDB, a repristinação, em regra, não deve ocorrer. Ou seja, a lei revogada não se restaura quando a lei revogadora perde a vigência. Art. 2º, § 3º Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência. a) Errada. A assertiva está em desacordo com o art. 1º, § 4º, da LINDB. Art. 1º, § 4º As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova. b) Errada. A assertiva apresenta a definição de ato jurídico perfeito e não de direito adquirido. Vejamos os §§ 1º e 2º, do art. 6º, da LINDB. Art. 6º, § 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. § 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição preestabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. c) Errada. Apesar da doutrina considerar a equidade como um mecanismo de integração do ordenamento jurídico, perceba que o enunciado da questão faz expressa referência à Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro. Sendo assim, devemos considerar a previsão do art. 4º da LINDB e lembrar que a equidade é citada no Novo Código de Processo Civil. Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. d) Errada. A assertiva está em desacordo com o princípio da obrigatoriedade, previsto no art. 3º da LINDB. Art. 3º Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece. 70 QUESTÃO 05 (FCC/TJ-PI/JUIZ SUBSTITUTO/2015) Lei nova que estabelecer disposição geral a par de lei já existente, a) apenas modifica a lei anterior. b) não revoga, nem modifica a lei anterior. c) derroga a lei anterior. d) ab-roga a lei anterior. e) revoga tacitamente a lei anterior. 71 RESPOSTA 05 LETRA B. A questão trata do princípio da conciliação, previsto no art. 2º, § 2º, da LINDB. Art. 2º, § 2º A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior. 72 QUESTÃO 06 Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada. Se, antes de entrar a lei em vigor,ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, este prazo a) começará a correr da nova publicação. b) não será interrompido, continuando a correr normalmente, tendo me vista que a nova publicação ocorreu apenas para correção. c) será contando em dobro, independente da data da nova publicação. d) será contado em dobro apenas se a nova publicação ocorrer nos quinze primeiros dias da primeira publicação. e) será contado em dobro apenas se a nova publicação ocorrer nos quinze últimos dias da primeira publicação. 73 RESPOSTA 06 LETRA A. O enunciado da questão aborda a hipótese de correção a texto de lei durante o prazo de vacatio legis. Sendo assim, devemos recorrer ao art. 1º, § 3º, da LINDB. Art. 1º, § 3º Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação. 74 QUESTÃO 07 (CESPE/TRE-PI/AJAJ/2016) O aplicador do direito, ao estender o preceito legal aos casos não compreendidos em seu dispositivo, vale-se da a) interpretação teleológica. b) socialidade da lei. c) interpretação extensiva. d) analogia. e) interpretação sistemática. 75 RESPOSTA 07 LETRA D. A analogia é a fonte formal mediata do direito, utilizada com a finalidade de integração da lei, ou seja, a aplicação de dispositivos legais relativos a casos análogos, ante a ausência de normas que regulem o caso concretamente apresentado à apreciação jurisdicional.
Compartilhar