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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA GRADUAÇÃO EM LETRAS - PORTUGUÊS E INGLÊS MATHEUS SERGIO OLIVEIRA MANCHESTER CARACTERÍSTICAS MORFOFONOLÓGICAS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO RIO DE JANEIRO 2021 Este trabalho tem por objetivo analisar cinco características morfofonológicas do português brasileiro utilizando a canção Língua, do cantor baiano Caetano Veloso, como objeto de estudo. Primeiramente, pode-se ver que, na terceira estrofe, a utilização do pronome pessoal oblíquo “lhe” em “E quem há de negar que esta lhe é superior?” é um fenômeno explicável pela ortoépia, o estudo do bem falar. A rara utilização do pronome “lhe” no português casual traz atenção extra à frase corretamente escrita. A dissonância deste verso com relação a outros ao longo da música pode ser explicada pelo contexto da estrofe: a menção aos colonizadores no verso seguinte, em “E deixe os Portugais morrerem à míngua” demonstra a versatilidade do português brasileiro e facilidade com a qual se navega nas diversas estruturas desta variação na letra da canção. Em “Vamos na velô da dicção choo-choo de Carmem Miranda”, percebe-se uma aliteração através da proximidade do fonema /v/ em “vamos na velô”. O fonema labiodental, similar ao som de um motor de um carro, confere aspecto de velocidade ao verso. Como se não bastasse, a performance do cantor, prevista pela teoria gerativa, também entra em cena com a rápida enunciação da frase. Percebe-se, desta forma, um tripé de fonemas, seleção vocabular, e performance do falante que, integradas, exprimem o conceito de velocidade. A assonância percebida nos versos “Nomes em ã / De coisas como rã e ímã / ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã” é mais uma tentativa do cantor de atrair a atenção do ouvinte. Tal qual um ímã que, por natureza, atrai outros objetos magnetizados, a assonância com o fonema nasal /ã/, em suas rápidas repetições, atrai a atenção do ouvinte. Formas livres diferenciadas são utilizadas em alguns versos na estrofe “Flor do Lácio / Sambódromo / Lusamérica / Latim em pó” Em sua definição, uma forma livre é possível de ser compreendida sem outros construções. Aqui, a utilização de formas livres no campo semântico de características da comunidade lusófona brasileira incita o orgulho de ser falante do português brasileiro. Por último, pode-se salientar o estrangeirismo relax em “Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas / E o falso inglês relax dos surfistas / Sejamos imperialistas! Cadê?” Apesar de ser um empréstimo de um vocábulo do inglês, a aproximação com possíveis contrapartes portuguesas como “relaxar” e “relaxado” não causam confusão ou estranhamento no ouvinte. A escolha da palavra “imperialista” também possui duplo sentido nesta estrofe: tal qual uma referência aos históricos imperialistas ingleses, a ideia de imperialismo na música não significa imperialismo territorial, mas sim uma expansão e propagação da língua portuguesa como tesouro cultural mundial. Tal interpretação é possível graças à performance do cantor. A repetição contínua do verso “Sejamos imperialistas! Cadê?” reforça a ideia e a necessidade de levarmos o português brasileiro afora. Através da análise dos exemplos acima, é possível perceber a riqueza, versatilidade e grandeza do português brasileiro em toda sua extensão fonética, vocabular e sintática.
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