Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Lídia Júlia dos Santos Farias Sistemas Orgânicos Integrados APG S8P1 Pirulito maldito Instituto Tocantinense Presidente Antonio Carlos Cruzeiro do Sul - Acre Broncoaspiração CONCEITO Aspirac ̧ão é definida como a inalac ̧ão de conteúdo gástrico ou orofaríngeo na laringe e trato respiratório inferior; A broncoaspirac ̧ão é a principal causa de pneumonia em unidade de terapia intensiva, e é um dos principais fatores de risco para a síndrome da angustia respiratória (SDRA); “Os mecanismos responsáveis pelo desenvolvimento da doença pulmonar nos processos aspirativos são: a aspirac ̧ão direta e o refluxo gastroesofágico (RGE) com aspirac ̧ão pulmonar” (NEVES, 2009, p.1); “A aspiração pulmonar pode ser aguda (acidental) ou cro ̂nica (habitual). A aspirac ̧ão aguda pode ocorrer desde o período neonatal até a adolesce ̂ncia” (NEVES, 2009, p.2); “Os casos de aspirac ̧ão cro ̂nica podem ocorrer devido a RGE com aspirac ̧ão do conteúdo gástrico e alimentos, em func ̧ão de distúrbios da deglutic ̧ão” (NEVES, 2009, p.2); EPIDEMIOLOGIA A broncoaspirac ̧ão ocorre com frequencia em vitimas de trauma ou pacientes de UTI com estado de conscie ̂ncia alterado (traumatismo craniano, AVC, álccol, intoxicac ̧ão por drogas e etc; “Doenças neurológicas-coma e epilepsia- onde são aspirados saliva e conteúdo gástrico podem ocasionar Lídia Júlia dos Santos Farias Sistemas Orgânicos Integrados APG S8P1 Pirulito maldito Instituto Tocantinense Presidente Antonio Carlos Cruzeiro do Sul - Acre casos de aspiração crônica” (NEVES, 2009, p.2); FATORES DE RISCO © Pacientes críticos > 65 anos de idade; © Depressão do nível de conscie ̂ncia; © Sedac ̧ão; © Intoxicac ̧ão por álcool. © Traumatismo cranioencefálico; © Convulsões; © Reflexo de tosse prejudicada; © Presenc ̧a de intubac ̧ão traqueal e sondas nasogástricas; © Transtornos da motilidade esofágica; © Refluxo gastresofágico; © Gastroparesia; © Drogas; CLASSIFICAÇÃO © Pneumonite química; © Pneumonia aspirativa (infecc ̧ão bacteriana); © Obstruc ̧ão das vias respiratórias; “A síndrome de aspiração também pode ser classificada de acordo com o tipo de material aspirado em: irritativa, infecciosa e obstrutiva. Como síndrome irritativa encontramos as pneumonites químicas por acido, hidrocarbonetos, óleo vegetal, meco ̂nio, álcool e gordura animal. Na síndrome de aspirac ̧ão infecciosa ocorre aspirac ̧ão de saliva e secrec ̧ões contaminadas, enquanto que as síndromes aspirativas obstrutivas são causadas por afogamento e aspirac ̧ão de corpo estranho” (NEVES, 2009, p.2); FISIOPATOLOGIA Nas vias inferiores, a tosse e o clearence mucociliar desempenham este papel de defesa. Os mecanismos responsáveis pelo desenvolvimento da doenc ̧a pulmonar nos processos aspira�vos são: a aspirac ̧ão direta e o re�fluxo gastroesófagico (RGE) com aspirac ̧ão pulmonar; © Na aspirac ̧ão direta, durante o ato de deglu�tic ̧ão, o conteúdo do orofaringe a�tinge as vias aéreas inferiores, promovendo obstruc ̧ão laríngea ou bro ̂nquica e sufocac ̧ão ou atelectasia macic ̧a; A resposta in�amatória local é alterada pela aspirac ̧ão de par�tículas alimentares, havendo in�fluxo de leucócitos polimorfonucleares e formac ̧ão de granulomas. © Nas situac ̧ões de RGE com aspirac ̧ão pulmonar, ocorre aspirac ̧ão do conteúdo gástrico re�fluído; quanto mais baixo for o pH do material, maior serão as alterac ̧ões estruturais; O aumento da resiste ̂ncia pulmonar total, devido à acidi�ficac ̧ão esofágica por meio de refl�exos vagais é outro mecanismo responsável pelo desenvolvimento da doenc ̧a no RGE; nesta situac ̧ão as manifestac ̧ões respiratórias Lídia Júlia dos Santos Farias Sistemas Orgânicos Integrados APG S8P1 Pirulito maldito Instituto Tocantinense Presidente Antonio Carlos Cruzeiro do Sul - Acre ocorrem sem que haja aspirac ̧ão pulmonar do conteúdo gástrico. A presenc ̧a de ácido no eso ̂fago terminal determina aumento da resiste ̂ncia pulmonar total, observada em pacientes com doenc ̧as pulmonares cro ̂nicas como asma grave ASPIRAÇÃO DE CORPO ESTRANHO Ocupa um dos primeiros lugares napatologia acidental e deve ser lembrada pelo pediatra, toda vez que es�tiver diante de uma síndrome broncopulmonar de causa incerta; A crianc ̧a pequena tem tende ̂ncia a colocar objetos na boca e acidentalmente, aspira estes objetos, podendo ocorrer desde um episódio de engasgo até uma obstruc ̧ão aguda e fatal das vias aéreas; Quanto à localizac ̧ão: © Se ele fica alojado em laringe ou faringe, os sintomas aparecem em tempo variável após o acidente, muitas vezes demorando a se manifestar causando dissociac ̧ão entre causa e efeito, o chamado “período de silencio”. © Quando o objeto ingerido tem calibre superior ao dos bro ̂nquios, pode ficar livre na traquéia, havendo o risco do mesmo encravar-se na subglote. Os sinais de localizac ̧ão não aparecem, ocorrendo tosse, estridor, sibilos e retrac ̧ão simulando um quadro de laringite. © Nos casos em que o objeto tem menor calibre a tende ̂ncia é que ele se fixe no bro ̂nquio. De acordo com o calibre do corpo estranho, este pode progredir até o bro ̂nquio de menor calibre e ai se encravar ou mobilizar-se posteriormente; © A presenc ̧a de corpos estranhos no eso ̂fago pode causar sintomas respiratórios, pelo fato de que a laringe, traquéia e eso ̂fago cons�tuem uma unidade embriológica e funcional. Quando o corpo estranho ultrapassa o esfí�ncter esofágico superior, pode ficar reti�do por estenose esofágica ou por caracterís�cas do próprio corpo estranho, tais como tamanho e forma; Quanto ao estado físico dos corpos estranhos: © Os mais comumente aspirados são sólidos, como brinquedos de materiais plás�ticos e metálicos, assim como alimentos, especialmente vegetais oleosos como amendoim e não oleosos como feijão e milho. © Como material liquido são citados leite, material gástrico, meco ̂nio e água doce ou salgada em casos de afogamento; © Como material gasoso, observa-se principalmente a inalac ̧ão de fumac ̧a. Lídia Júlia dos Santos Farias Sistemas Orgânicos Integrados APG S8P1 Pirulito maldito Instituto Tocantinense Presidente Antonio Carlos Cruzeiro do Sul - Acre © Outro deve ser considerado, como a aspirac ̧ão do talco usado em lactentes que desenvolve um quadro respiratório agudo e febril que pode evoluir para o óbito, assim como o afogamento; Na aspirac ̧ão de partículas sólidas: É uma macroaspirac ̧ão de partí�culas alimentares sólidas, resultando em obstruc ̧ão aguda das vias aéreas de menor calibre e possivelmente até das maiores. Tem como conseque ̂ncias hipoxemia arterial súbita, desenvolvimento de atelectasia distal ao corpo estranho e infecc ̧ão pulmonar secundária; Estudos em animais mostram que a ins�lac ̧ão pulmonar de par�culas não ácidas leva à resposta in�amatória neutro�lica aguda, que pode ser detectada em 4-6h, mas não há edema, como ocorre na inalac ̧ão ácida. Em 48h após a aspirac ̧ão surge um pico Na resposta monocí�tica e o tecido pulmonar já exibe sinais de formac ̧ão de granuloma. Mediadores de resposta infl�amatória aguda também estão presentes. Inalac ̧ão silenciosa: com consequente infecc ̧ão bacteriana secundária. A pneumonia aspira�va é um processo infeccioso, que é a conseque ̂ncia da inalac ̧ão de secrec ̧ão da orofaringe ou do conteúdo gástrico contaminado com bactérias patoge ̂nicas. Corresponde a um ou vários episódios de microaspirac ̧ões. Pneumonite aspirati�va ácida pode estar associada e favorecer o desenvolvimento secundário da pneumoniapela superinfecc ̧ão de bactérias, devido à destruic ̧ão do epitélio respiratório. REFLUXO GASTROESOFÁGICO É o retorno involuntário do conteúdo do esto ̂mago para o eso ̂fago. Pode ser fisiológico e patológico, cons�tuindo a Doenc ̧a do refl�uxo gastresofágico (DRGE); O re�fluxo é comum na alergia à proteína do leite de vaca e em crianc ̧as com paralisia cerebral e retardo mental; É uma macroaspirac ̧ão por inalac ̧ão do conteúdo gástrico, com pH inferior a 2,5 e um volume superior a 0,4 mL.kg- 1 do peso corporal, que ocasiona dano químico ao tecido pulmonar, cuja extensão vai depender do valor do pH e da quan�tidade de líquido aspirado. O mais comum é o conteúdo gástrico estéril, embora outros, como a bile ou agentes diversos insti�lados no esto ̂mago, possam também resultar nessa síndrome; A lesão no pare ̂nquima pulmonar após a aspirac ̧ão do conteúdo ácido tipicamente ocorre em duas fases. © A primeira é marcada por um processo físico-químico pelo efeito tóxico direto do ácido no epitélio respiratório. Há lesão da barreira alveolocapilar, com destruic ̧ão das células tipo I do epitélio alveolar, resultando em uma lesão grave do endotélio Lídia Júlia dos Santos Farias Sistemas Orgânicos Integrados APG S8P1 Pirulito maldito Instituto Tocantinense Presidente Antonio Carlos Cruzeiro do Sul - Acre pulmonar. Isso promove aumento da permeabilidade alveolar e in�filtrac ̧ão difusa, com o desenvolvimento de edema pulmonar inters�ticial e consequente reduc ̧ão da complace ̂ncia pulmonar e diminui o prejuízo na relac ̧ão venti�lac ̧ão-perfusão. © A segunda fase, em 4-6h, é caracterizada por uma resposta in�flamatória neutro�lítica aguda. Esse mecanismo patoge ̂nico leva à perda da integridade da microvasculatura pulmonar e extravasamento de fluidos e proteínas para as vias aéreas e alvéolos. Os neutró�filos também desempenham papel- chave no desenvolvimento da lesão pulmonar, pela liberac ̧ão de radicais livres e proteases. Adicionalmente à resposta infl�amatória celular, associam- se mediadores da resposta infl�amatória locais e siste ̂micos, como citocinas pró- infl�amatórias, fator de necrose tumoral (TNF)- α e citocinas quimiotá�ticas. Os eucasanoides também exercem papel na lesão pulmonar ácido- induzida e age em conjunto com as citocinas para promover infi�ltrac ̧ão e a�tivac ̧ão neutrofílica. A a�tivac ̧ão do complemento é conhecida como um fator importante na resposta in�flamatória que se segue à aspirac ̧ão. Clinicamente, a pneumonite aspirati�va pode evoluir de forma assintomá�ca ou com tosse não produ�tiva, quadro de taquipneia, broncoespasmo, escarros hemoptoicos, até o desenvolvimento de insufi�cie ̂ncia respiratória em 2-5h após a aspirac ̧ão © A aspirac ̧ão ácida, que leva à pneumonite química, devido à aspirac ̧ão de suco gástrico ácido, com o desenvolvimento imediato de hipoxemia, febre, taquicardia e alterac ̧ões patológicas nos Raios-X de tórax; © A presenc ̧a de sintomas respiratórios se deve a ac ̧ão irritati�va do material do re�fluxo no ouvido médio, faringe, seios da face e laringe. A crianc ̧a pode apresentar, tosse, rouquidão e quadros de oti�te, faringite, sinusite e laringite de repe�tic ̧ão. O refl�uxo para a parte alta do trato respiratório pode ocasionar, principalmente broncopneumonias além da Síndrome de Sandifer, na qual crianc ̧a promove uma inclinac ̧ão lateral do pescoc ̧o para proteger a árvore respiratória do material re�fluído; MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS © Febre; © Dispneia; © Escarro purulento; © Insuficiencia respiratória; Lídia Júlia dos Santos Farias Sistemas Orgânicos Integrados APG S8P1 Pirulito maldito Instituto Tocantinense Presidente Antonio Carlos Cruzeiro do Sul - Acre © Cianose e afonia; © Broncopneumonia; © Atelectasia; © Apneia; © Pneumonia aspirativa aguda; © Doenc ̧a pulmonar cro ̂nica; © Distúrbios da deglutic ̧ão; “Na primeira infância ela ocupa um dos primeiros lugares na patologia acidental e deve ser lembrada pelo pediatra, toda vez que estiver diante de uma síndrome broncopulmonar de causa incerta” (NEVES, 2009, p.2); “Após aspiração do corpo estranho, ocorre tosse paroxística e apneia em grau variável, com asfixia, levando à morte” (NEVES, 2009, p.2); “Se ele ficar alojado na laringe ou faringe, os sintomas aparecem em tempo variável após o acidente↠ período de silencio” DIAGNÓSTICO “A anamnese é extremamente importante, pois 95% dos casos se enquadra na tríade engasgo, sufocac ̧ão e tosse” (NEVES, 2009, p.3); Outros recursos diagnósticos: © Radiografia simples do tórax; © Ressona ̂ncia magnética; © Endoscopia; REFERÊNCIAS NEVES, Olga Maria Domingues; BRASIL, Laélia Maria Barra Feio; AMORIM, Cláudio Sérgio Carvalho de. Processos aspira�vos pulmonares em crianc ̧as. Rev. para. med, 2009. PARAIZO et al. Protocolo de prevenc ̧ão de microbroncoaspirac ̧ão. Diretriz clínica QPS, v. 2, p. 1-7, 2018. DOS SANTOS CARMO, Layanne Ferreira et al. Gerenciamento do risco de broncoaspirac ̧ão em pacientes com disfagia orofaríngea. Rev. CEFAC. v. 20, n.4, p. 532-540, 2018. DAS, Shailendra et al. Aspira�on due to swallowing dysfunc�on in children. UpToDate, 2020. Porth CM, Matfin G. Fisiopatologia. 8a ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2010. KUMAR, V.; ABBAS, A.; FAUSTO, N. Robbins e Cotran – Patologia –. Bases Patológicas das Doenças. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010
Compartilhar