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UNIDADE DE ENSINO SUPERIOR DE FEIRA DE SANTANA BACHARELADO EM FARMÁCIA Anaelza lima Nogueira Marques Andréia Almeida Lopes HEMATOLOGIA CLÍNICA Casos Clínicos Feira de Santana 2021 Anaelza lima Nogueira Marques Andréia Almeida Lopes HEMATOLOGIA CLÍNICA Casos Clínicos Estudo de caso apresentado ao sétimo semestre do curso de Bacharelado em Farmácia, da Unidade de Ensino Superior de Feira de Santana – UNEF, como requisito avaliativo para a disciplina de Microbiologia Clínica, ministrada pela professora Drª. Ana Carolina S. de Oliveira. Feira de Santana 2021 Sumário 1. DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO 1 ........................................................... 3 2. QUESTIONÁRIO ......................................................................................... 4 3. PROVAVEL DIAGNÓSTICO ....................................................................... 4 3.1. ELEMENTOS UTILIZADOS NA ESCOLHA DO PROVAVEL DIAGNÓSTICO ............................................................................................... 5 3.1.1. Resultados dos exames do paciente .............................................. 5 3.1.2. Sinais e Sintomas apresentados pelo paciente .............................. 7 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 9 4. DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO 2 ........................................................ 11 5. QUESTIONÁRIO ...................................................................................... 12 7. PROVAVEL DIAGNÓSTICO .................................................................... 13 7.1. ELEMENTOS UTILIZADOS NA ESCOLHA DO PROVAVEL DIAGNÓSTICO ............................................................................................. 14 7.1.1. Resultados dos exames do paciente ............................................ 14 7.1.2. Sinais e Sintomas apresentados pelo paciente ............................ 17 8. CAUSAS COMUNS DE LINFOCITOSE ................................................... 18 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 19 3 1. DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO 1 Um homem de 55 anos de idade, previamente saudável, apresenta-se ao seu clínico geral com preocupações em relação à sua energia para o dia a dia; tem estado tão ruim ultimamente que ele se sente muito cansado enquanto faz um simples serviço de jardinagem. Ele perdeu 10 kg de peso nas últimas seis semanas. Ele não tem história anterior de doença cardíaca ou pulmonar e o único medicamento que ele toma é alopurinol para gota. Seu único outro sintoma é leve desconforto abdominal, que ele atribui à medicação. Exame O paciente parecia ofegante, mas com exame cardiológico e respiratório normal. Seu exame abdominal também é normal, exceto por um baço dilatado. A temperatura é 37,2°C. A pressão arterial é 135/75. Exames laboratoriais são listados abaixo: O paciente é encaminhado para a clínica de hematologia local para acompanhamento por especialista. Seu esfregaço sanguíneo está ilustrado abaixo. Hemoglobina 12,5 g/dL Leucócitos 65.000 Linfócitos 4.000 Plaquetas 430.000 VCM 82 fL PCR 6 4 2. QUESTIONÁRIO De acordo com o caso clínico, responda às perguntas abaixo: Qual o diagnóstico clínico mais provável? Descreva os achados clínicos e do hemograma que definem essa condição. Qual teste específico poderia ser feito para confirmar o diagnóstico? 3. PROVAVEL DIAGNÓSTICO As informações contidas no caso clínico como os sinais e sintomas do paciente e os resultados dos seus exames físicos e hematológicos assim como a lâmina utilizada na análise do seu esfregaço sanguíneo, sugerem que a patologia responsável pelo quadro clínico do paciente é Leucemia Mieloide Crônica (LMC). A LMC faz parte de um grupo de neoplasias hematológicas denominadas como doenças mieloproliferativa crônicas. Este tipo de leucemia possui como característica principal a leucocitose com desvio à esquerda, o desenvolvimento dessa patologia é associada a uma mutação genética, que se inicia com uma translocação mútua entre os cromossomos 9q34 e 22q11, essa mutação gera um efeito cascata que resulta na produção de células neoplásicas. Como o cromossomo 9 sintetiza o gene ABL e o cromossomo 22 sintetiza o gene BCR, a mutação entre esses cromossomos resulta na fusão desses genes, formando assim um novo gene BCR-ABL, esse gene mutante produz uma proteína enzimática anormal denominada BCR-ABL tirosina quinase, sendo essa proteína que é responsável pelo processo leucêmico. Essa proteína, emite sinais para que as células tronco aumente a produção de glóbulos brancos e além de induzir o aumento na produção, a mesma emite sinais de indução para que essas células cresçam e se dividam inúmeras vezes, gerando assim mais células neoplásicas. Esse gene mutante também resulta na formação de um cromossomo mutante o Philadelphia (Ph). Desta forma o diagnóstico é realizado através da pesquisa da proteína BCR- ABL e do cromossomo Ph. O desenvolvimento da LMC, é classificada em fases que representam a 5 progressão da patologia, a fase inicial é nomeada como fase crônica (FC) caso o paciente não responda bem ao tratamento, ocorre a evolução para as fases mais avançadas, fase de transformação (FT) e a blástica (FB), cada fase tem seu critério diagnostico que associa informações como sinais e sintomas apresentados pelo paciente e os achados laboratoriais, pois com a progressão da patologia e a transição de uma fase para outra, ocorre um aumento da contagem e visualização de células jovens, na fase inicial ocorre < 10% de mieloblastos e promielócitos, o aumento da quantidade dessas células, indica que o paciente está saindo da fase crônica para fases mais avançadas da patologia, precisando assim mudar a abordagem terapêutica do mesmo. Desta forma a quantidade de células jovens no sangue do paciente esta diretamente relacionada com a fase da LMC que esta sendo cursada, por esta razão é comum visualizar diferentes estágios das células mielocíticas na análise do esfregaço sanguíneo do paciente, porém em todas essas fases sempre será constata uma predominância de células maduras, principalmente neutrófilos segmentado. A lâmina do paciente, expressa de forma nítida esses achados, apresentando vários estágios de granu-locitopoese como promielócitos, mielócitos, metamielócitos, bastonetes e neutrófilos segmentados, sendo os neutrófilos segmentados a forma predominante encontrada neste esfregaço sanguíneo. Sendo assim essa análise, torna-se a principal prova confirmatória do possível diagnóstico de LMC, a associação dessa informação com outros elementos relatados neste caso clínico constituíram o embasamento necessário para definição do presente diagnóstico. 3.1. ELEMENTOS UTILIZADOS NA ESCOLHA DO PROVAVEL DIAGNÓSTICO 3.1.1. Resultados dos exames do paciente Nota-se que o paciente apresentou uma elevação considerável da contagem dos leucócitos (leucocitose), porém sem alteração nos linfócitos, indicando assim que esse aumento não ocorreu decorrente da linhagem linfocítica, descartando assim suspeitas referente a patologias linfoproliferativas. Neste caso a leucocitose ocorreu às custas dos granulócitos 6 pertencentes a linhagem mielocitica, pois mesmo o hemograma não indicando a contagem dos outros leucócitos, a lâmina do paciente apresenta uma elevada quantidade de neutrófilos segmentados, indicando assim que essa leucocitose ocorre as custas de uma neutrofilia. A hemoglobina do paciente se encontra pouco abaixo do valor de referência, porém não a sinal visível referente à anemia. Os outros elementos como plaquetas e VCM também apresenta valores dentro da faixa de referência.Desta forma a única alteração considerável constatada no hemograma foi á leucocitose. Essa leucocitose é constatada na análise da lâmina do paciente, é visto uma quantidade numerosa de neutrófilos segmentados e suas células antecessoras os bastonetes, porém também é possível visualizar algumas células mais jovens como metamielocitos e promielócitos. Uma sombra celular e evidenciada na lâmina, o que é comum em leucemias crônicas, pois essas células neoplásicas encontram-se fragilizadas e se rompem com facilidade. Esses achados contribuíram na definição do possível diagnóstico de LMC. Outro exame laboratorial realizado pelo paciente foi PCR (Proteína C Reativa) que é um teste de aglutinação indireta que tem como intuito identificar a concentração dessa proteína, que é produzida pelo fígado e cuja concentração sanguínea se eleva radicalmente quando há indicativo de processos inflamatórios ou infecciosos. O aumento dessa proteína ocorre sempre no inicio da fase aguda, tendo um declínio no final da segunda e terceira semana do processo infeccioso e/ou inflamatório, porém o valor obtido no teste do paciente foi relativamente baixo, indicando assim que o paciente está cursando um processo inflamatório ou infeccioso de grau leve, visto que valores altos nesse teste indica infeções ou inflamações graves. Exames físicos também foram realizados apresentando alterações apenas no baço, que está dilatado indicando assim que o paciente desenvolveu uma esplenomegalia, sinal clínico comum nesse tipo de patologia. Porém esses exames realizados no paciente fornecem apenas pistas referentes ao diagnóstico, que possivelmente é um quadro clínico de LMC. Contudo, para definição diagnóstica seria necessário que o paciente realizasse um teste especifico para confirmar à presente suspeita. 7 O teste especifico que poderia ser realizado é RT-PCR (Reação em cadeia da polimerase -transcriptase reversa), visto que essa técnica possibilita realizar o diagnóstico de LMC em pacientes que apresentaram resultado negativo em teste de citogética para identificação do cromossomo Ph,além desse ponto positivo a RT-PCR também realiza a identificação do tipo específico de rearranjo BCR-ABL, sendo este um ponto crucial para realização do monitoramento do tratamento do paciente. 3.1.2. Sinais e Sintomas apresentados pelo paciente Conforme abordado anteriormente, a LMC é classificada de acordo com as fases da progressão da patologia, por esta razão ocorre uma heterogeneidade de sinais e sintomas em todas as fases da LMC. Alguns pacientes podem se apresentar assintomáticos na fase inicial da patologia ou manifestar sinais e sintomas diversos como anemia, parestesia palmar, artralgia, hepatoesplenomegalia, gota, insuficiência renal, além de sintomas relativos à hipercatabolismo que resulta em perda de peso, sudorese noturna, fadiga e febre, sinais mais raros como complicações trombóciticas e hemorragias também podem ocorrer em pacientes cursando a FC da LMC. Por outro lado nas fases mais avançadas da doença apresenta sinais e sintomas mais graves, além dos sintomas associados à fase crônica, como aumento da hepatoesplenomegalia, sagramentos, infecções, distúrbios visuais, falência de múltiplos órgãos e equimoses fáceis e refratariedade ao tratamento. De acordo com as informações contidas no caso clínico o paciente apresenta uma pequena elevação na temperatura corporal, apresentando-se febril, além de cansaço aos mínimos esforços, perda de peso considerável em curto tempo sem relato de dieta ou procedimento cirúrgico e uma possível esplenomegalia detectada no seu exame físico. Todos esses sinais e sintomas podem ser correlacionados os aspectos clínicos geralmente encontrados em pacientes diagnosticados na fase crônica da LMC, fortalecendo assim as suspeitas em relação ao diagnóstico do paciente. A fadiga, perda de peso e a elevação na temperatura corporal, pode ser associado ao hipercatabolismo que por sua vez é associado ao aumento da atividade enzimática da proteína tirosinaquinase. O desconforto abdominal 8 relatado pelo paciente o qual correlacionou com o uso do medicamento, pode ser associado à esplenomegalia detectada no exame físico posteriormente, pois a esplenomegalia geralmente causa desconforto abdominal, indigestão ou dor. Essa manifestação clínica por sua vez, é associado à leucocitose, pois é característico da LMC, o acúmulo anormal dos leucócitos em órgãos pertencente ao sistema hematopoiético, causando desregulação nesses órgãos, principalmente o baço. Porém é notório também que o paciente foi anteriormente diagnosticado com gota, antes mesmo da atual suspeita diagnóstica. Desta forma esse sinal clínico pode ser associado á hiperuricemia causada pela LMC. Conclui-se assim que tanto os sinais e sintomas do paciente, quanto os resultados dos seus exames, indicam que o mesmo está cursando um quadro clínico de Leucemia Mieloide Crônica, e possivelmente encontra-se na fase inicial da patologia, ou seja, a fase crônica (FC). 9 REFERÊNCIAS ABRALE. Cromossomo Filadélfia e o BCR-ABL: Leucemia Mieloide Crônica-LMC. Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia. 2021. Disponível em: <https://www.abrale.org.br/doencas/leucemia/lmc/cromossomo-filadelfia-e- o-bcr abl/#:~:text=A%20parte%20translocada%20do%20cromossomo,chamada%20 BCR%2DABL%20tirosina%20quinase>. Acesso em: 15 de maio de 2021. BELIGOY, Luis et al. Leucemia mieloide crónica. 2019. Disponível em: https://ri.conicet.gov.ar/bitstream/handle/11336/130967/CONICET_Digital_Nro. 80e6b27c-46fe-4aeb-94b7-dd726b567902_A.pdf?sequence=2&isAllowed=y. Acesso em: 14 maio 2021. CONITEC, Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologia no Sus. PROTOCOLO CLÍNICO E DIRETRIZES TERAPÊUTICAS DA LEUCEMIA MIELOIDE CRÔNICA DO ADULTO: relatório de recomendação. 2020. Disponível em: http://conitec.gov.br/images/Consultas/Relatorios/2020/PCDT_LeucemiaMieloid eCronicaAdulto_CP_02_2020.pdf. Acesso em: 13 maio 2021. CONITEC, Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologia no Sus. Reação em cadeia da polimerase – transcriptase reversa (RT-PCR) qualitativa e quantitativa (RT-qPCR) e Hibridização in situ (ISH) para o diagnóstico e monitoramento da Leucemia Mieloide Crônica (LMC) e da Leucemia Linfoblástica Aguda cromossoma Philadelphia positivo (LLA Ph+): relatório de recomendação. RELATORIO DE RECOMENDACAO. 2019. Disponível em: http://conitec.gov.br/images/Relatorios/2019/Relatorio_ReacaoCadeiaPolimeras e_LeucemiasPh.pdf. Acesso em: 13 maio 2021. CUNHA, Ana Beatriz Gonçalves.Leucemia Mieloide Crônica. Faculdade de Farmácia. Universidade do Porto. Monografia de Mestrado. 2018. HOFFBRAND, A.V. et al. Fundamentos em hematologia. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2018. JESUS, Caroline Regina de. AVALIAÇÃO DE PARÂMETROS LABORATORIAIS E CLÍNICOS DE PACIENTES PORTADORES DE LEUCEMIA MIELÓIDE CRÔNICA SUBMETIDOS AO TRATAMENTO COM MESILATO DE IMATINIB E SUA RELAÇÃO COM ALTERAÇÕES OBSERVADAS NO ESTROMA DA MEDULA ÓSSEA. 2007. 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Leucemia mieloide crônica. 2012. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/ramb/v59n3/v59n3a06.pdf. Acesso em: 14 maio 2021. 11 4. DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO 2 Um homem saudável de 65 anos de idade passa por exames de sangue de rotina como parte de um check up proposto por seu médico. Seu histórico médico anterior inclui apendicectomia e correção de hérnia inguinal. Ele não toma nenhum medicamento regular. Exame Os exames cardiovasculares e respiratórios são normais. Ele não tem organomegalia ou linfadenopatia.Exames laboratoriais são listados abaixo: O restante de seus exames de sangue foi normal, incluindo ureia e eletrólitos, função hepática, da tireóide e PSA.O paciente é encaminhado para a clínica de hematologia, onde novas investigações são realizadas, incluindo um esfregaço de sangue e imunofenotipagem. Imunofenótipo de linfócitos: CD5 / 19/20/23 + ve e CD79b negativo. O hematologista opta por adotar uma estratégia de tratamento de "observar e esperar" e dar alta o homem que fará exames de sangue de acompanhamento com seu médico de família. Os exames de sangue não mostram resultados significativos. Três anos depois, o paciente desenvolve fadiga crescente. No exame, há conjuntival palidez e icterícia escleral leve, mas sem linfadenopatia ou organomegalia. Direto o teste de antiglobulina é positivo. Uma repetição do exame de sangue é feita, o que mostra: Hemoglobina 14,2g/dL Leucócitos 20.100 Neutrófilos 5.000 Linfócitos 14.000 Plaquetas 350.000 VCM 86 fL Hemoglobina 9,8g/Dl Leucócitos 30.100 Neutrófilos 5.000 12 5. QUESTIONÁRIO Quais são as causas comuns de linfocitose? Com base nos resultados iniciais de sangue e no esfregaço, qual é o diagnóstico provável? Explique como os resultados dos últimos exames de sangue (em três anos) se relacionam com o diagnóstico do paciente anteriormente. Descreva quais os achados presentes nessa lâmina Linfócitos 24.000 Plaquetas 250.000 VCM 86 Fl 13 7. PROVAVEL DIAGNÓSTICO As informações contidas no caso clínico como os sinais e sintomas do paciente e os resultados dos seus exames físico e hematológicos assim como a lâmina utilizada na análise do seu esfregaço sanguíneo, sugerem que o paciente está cursando um quadro leucêmico. Ao proceder uma comparação dessas informações com materiais científicos sobre neoplasias, presume-se que a conclusão plausível sobre a condição clínica do paciente seja possivelmente uma Leucemia Linfocítica Crônica-B (LLC-B). A LLC-B faz parte de um grupo de neoplasias hematológicas denominadas como doenças linfoproliferativas crônicas de células B. Este tipo de leucemia é caracterizada pela desordenada proliferação de linfócitos B monoclonais maduros, resultando no acúmulo dessas células no tecido sanguíneo e em outros demais tecidos e órgãos que compõe o sistema hematopoetico. Essa patologia possui um mecanismo de progressão lenta, por esta razão geralmente seu diagnóstico é realizado de maneira acidental, quando o paciente realiza um exame de rotina como foi o caso do paciente. Desta forma o médico detecta leucocitose acentuada, devido uma linfocítose sem causa aparentemente justificável para desenvolvimento da mesma. As células B monoclonais maduras, expressão marcadores B, que são detectados no exame de imunofenotipagem, marcadores como CD19, CD20, C22 e CD23, além da imunofenotipo CD5 marcador linfoide T que apresenta uma co-expressão. O resultado da imunofenotipagem do paciente apresentou positividade nesses marcadores de células B indicando assim que a linhagem afetada neste caso é a linfoide B. Apesar da progressão desta patologia ser lenta, a mesma é considerada bastante danosa, visto que compromete o sistema imunológico, podendo causar manifestações autoimunes, o mecanismo relacionado a essa autoimunidade na LLC ainda é desconhecido, porém estudos relatam que possui uma forte associação dessas manifestações com a progressão da Leucemia Linfocítica Crônica. De maneira que pode associar a manifestação autoimune detectada no teste de Combs direto com a progressão da LLC. Nesse sentido, a junção dos elementos contidos no caso juntamente com uma pesquisa cientifica aprofundada sobre a referida patologia, elucida esse 14 possível diagnóstico clínico. 7.1. ELEMENTOS UTILIZADOS NA ESCOLHA DO PROVAVEL DIAGNÓSTICO 7.1.1. Resultados dos exames do paciente Um dos pontos cruciais para determinação do possível diagnóstico foram os resultados dos exames laboratoriais, pois como é sabido a associação dos resultados obtidos no hemograma, na imufenotipagem e análise do quadro clínico do paciente, formam um conjunto tríplice da avaliação diagnostica, permitindo estabelecer um diagnóstico diferencial no que se refere às outras demais síndromes linfoproliferativas. Todavia, os resultados do Hemograma, Imunofenotipagem, análise da sintomatologia apresentada pelo paciente e da lâmina conteúdo o esfregaço sanguíneo do mesmo, sustentam o possível diagnóstico de LLC. Nota-se que o paciente realizou dois hemogramas o primeiro como check up, que apresentou uma elevação considerável nas contagens de leucócitos totais (leucocitose) e linfócitos (linfocitose), por outro lado a quantidade dos neutrófilos que se encontram dentro da faixa de normalidade, indicando assim que o aumento dos leucócitos é oriundo das células linfociticas. Essa análise é posteriormente confirmada com o resultado do hemograma que é realizado pelo paciente, três anos após a realização do check up, pois é sabido que o resultado expresso neste exame apresentou uma considerável leucocitose, linfocitose e uma considerável diminuição dos níveis de hemoglobina indicando que o paciente desenvolveu um quadro anêmico neste período. Ao realizar uma comparação entre os dois resultados, é possível observar que houve uma diminuição alarmante dos níveis de hemoglobina, pois no primeiro exame relatado no caso o paciente apresentava hemoglobina de 14,2 g/ dL, sem sinais de anemia, visto que o resultado expresso neste exame encaixa-se dentro da faixa de referência. Porém no novo exame realizado, percebe-se uma redução de 4,4 g/dL nos níveis séricos de hemoglobina do paciente, apresentando um resultado de 9,8 g/dL, indicando assim que o mesmo está cursando um quadro de anemia, apesar de que na maioria dos 15 casos de LLC os pacientes apresentam uma pequena diminuição dos níveis de hemoglobina, apresentando assim uma anemia normocrômica e normocitica, por tanto, no caso do paciente essa anemia pode ser justificada devido à progressão da patologia, que por sua vez gera um comprometimento da eritropoese. Ainda sobre a análise comparativa entre os hemogramas, outro elemento que apresentou uma diminuição considerável foram as plaquetas, visto que no primeiro exame o pacienta apresentava 350.000, enquanto no segundo hemograma apresentado no caso, o mesmo apresentou uma redução de 100.000, apresentando um resultado de 250.000, porém mesmo com a redução significativa nos níveis plaquetarios, os mesmos encontram-se dentro da faixa de referência. Mas essa redução dos níveis plaquetarios, é característico da LLC, visto que quando os linfócitos tomam conta da medula causando infiltração medular, causam comprometimento da eritropoese e trombocitopoese. Quanto aos leucócitos, percebe-se que o paciente já apresentava leucocitose no primeiro hemograma realizado, apresentando uma contagem de 20.100 leucócitos, porém o exame deixa nítido que esse aumento é causado pelos linfócitos, pois o paciente apresentou uma considerável linfocitose, expressando uma contagem de 14.000 linfócitosmais da metade da quantidade dos leucócitos apresentados no resultado. Essa alteração já é um indicativo de que o problema da paciente encontra-se na linhagem linfoide. Isso é confirmado nos resultados do ultimo hemograma, visto que em uma analise comparativa com o anterior, nota-se novamente aumento dos leucócitos, aumento esse de 10.000 leucócitos totais, sendo esse aumento proporcional ao aumento dos linfócitos que também aumentou 10.000 em comparação com o resultado anterior. Essa linfocitose em ambos os exames indica que a causa provavelmente é medular, resultando na produção numerosa de linfócitos que posteriormente migraram para o sangue vascular periférico causando acúmulo no mesmo, sendo assim detectado no hemograma. É digno de nota que em ambos os resultados, a contagem dos neutrófilos estão dentro da faixa de referência. Confirmando assim que a linhagem linfocítica é a causa do problema, visto que os neutrófilos que são 16 pertencentes à linhagem mielocítica não foram afetados, essa analise fortalece a suspeita de que a anemia grave do paciente provavelmente possui uma causa secundaria, precisando assim ser mais bem investigada. A imagem da lâmina anexada ao caso clínico do paciente, confirma a lifocitose indicada no hemograma, pois na lâmina é possível visualizar uma numerosa quantidade de linfócitos maduros com cromatina densa e pouco citoplasma, células jovens também foram visualizadas, como prolinfócitos, além de algumas plaquetas. Essa predominância de linfócitos maduros na lâmina do paciente é um indicativo de que o mesmo está cursando uma doença linfoproliferativa, que possivelmente seja LLC. Porém a confirmação da suspeita ocorre após a análise do resultado de imunofenotipagem, visto que este teste é utilizado como confirmatório, sendo esse essencial para definição do diagnóstico de leucemias e Linfomas, esse teste possibilita diferenciar os linfócitos utilizando anticorpos monoclonais para detecção de antígenos presentes nas superfícies dessas células, servindo assim como marcadores. Conforme o relato do caso, o paciente realizou o exame de Imunofenotipagem, com intuito de detectar antígenos de superfície associados às linhagens linfoides, visto que o paciente apresentou aparente alteração nesta linhagem celular especifica, indicando assim que a causa do problema decorre da linhagem linfoide. Desta maneira, os resultados obtidos foram positivos para as proteínas de superfície CD5, CD19, CD20, CD23 e resultado negativo para ve e CD79b. Esses resultados foram essenciais para estabelecer o diagnóstico, visto que a LLC possui como principal característica o acúmulo de linfócitos B maduros CD5; CD19 e CD23 +, enquanto a proteína CD79b é expressada de forma fraca ou se encontra ausente na maioria dos casos relatados dessa patologia. Essa informação juntamente com o fato de que atualmente a confirmação do diagnóstico de LLC ocorre quando o teste de imunofenotipagem detecta imunofenotipo característico CD5+ e CD23+ em pelo menos 5x106 linfócitos/dl. Assim, os achados relatados nesse exame, estabelece um forte indicativo de confirmação do possível diagnóstico pré suposto anteriormente. 17 7.1.2. Sinais e Sintomas apresentados pelo paciente Conforme foi relatado no caso, os sinais e sintomas do paciente iniciaram-se após três anos da realização do primeiro hemograma, onde foi detectado a linfocitose, por isso, pode-se correlacionar o surgimento da sintomatologia com o progresso da patologia que pelas informações contidas no mesmo não foi diagnosticada, mesmo após a realização do exame, visto que mostra que o médico apenas adotou a conduta de observar e acompanhar o paciente, essa conduta não é classificada como errônea, porém o diagnóstico tardio da LLC resulta em complicações no estado de saúde do paciente, podendo assim ser esse o principal responsável pelo estado atual do paciente. Na maioria dos casos os sinais e sintomas da LLC são devido à progressão da doença, como no caso do paciente que os sinais relatados são característicos da anemia desenvolvida pelo mesmo. Então, a fadiga crescente, conjuntival palidez e icterícia escleral leve são sinais clínicos característicos de anemia. A fadiga crescente é justificável decorrente do comprometimento da eritropoese devido progressão da doença, causando por sua vez uma diminuição da produção dos eritrócitos, gerando uma quantidade insuficiente dessas células vermelhas na circulação sanguínea, e consequentemente ocorre a diminuição dos níveis de oxigênio circulante, causando uma baixa na saturação o que gera fadiga. Essa diminuição na produção das células vermelhas é devido o avanço da patologia do paciente, que gera também uma palidez no tecido conjuntivo, sinal característico da anemia. Porém em relação ao sinal de icterícia escleral leve apresentado pelo paciente pode demonstrar que o mesmo está apresentando um problema hepático, ou o paciente pode ter desenvolvido uma anemia hemolítica auto- imune, sendo relatado em cerca de 15% dos casos de LLC, sendo essa patologia a causa mais comum de AHAI dentre todas as outras demais patologia. Esse tipo de anemia gera um aumento de bilirrubina, decorrente da degradação da hemoglobina, essa elevação na bilirrubina causa icterícia, sendo esse sinal comum, nesse tipo de anemia. Porém o caso não possui informações suficientes para determinar se essa seria a causa da manifestação clínica, seria preciso uma maior investigação referente a essas suspeitas. 18 O fato do paciente não apresentar linfadenopatia e organomegalia é um indicativo de que as células linfociticas malignas acumularam-se apenas no sangue, não invadiram outros órgãos. 8. CAUSAS COMUNS DE LINFOCITOSE São várias as causas fisiopatológicas que podem gerar uma linfocitose em uma pessoa, porém as causas mais comuns são um grupo de patologias conhecidas como doenças linfoproliferativas. As patologias linfoproliferativas são: Leucemia Linfocítica Crônica (LLC); Leucemia de células pilosas; Leucemia prolinfocítica de células B; Leucemia prolinfocítica de células T; Leucemia / linfoma de células T do adulto; Linfoma não-Hodgkin no estágio leucêmico; Linfoma esplênico com linfócitos vilosos e Leucemia de células pilosas. Indivíduos portadores dessas comodidades tendem a apresentar elevação considerável na contagem dos linfócitos, esse tipo de linfocitose tende a ser persistente, visto que essas células tendem a se acumular no sangue e em órgãos do sistema linfoide gerando assim uma linfadenopatia. Porém alguns tipos de patógenos como vírus, parasitas e bactérias podem gerar infecções cuja fisiopatologia resulta na elevação da contagem linfocítica, sendo as principais infecções causadas pelos microorganismos: Treponema pallidum; Toxoplasma Gondii; Bordetella Coqueluche; Bartonella henselae; HTLV-1 (infecção linfocítica T humana tipo 1); vírus da Hepatite; vírus da Imunodeficiência Humana (HIV); Epstein-Barr (EBV); vírus da Rubéola e da Caxumba. Quando um indivíduo apresenta uma dessas infecções virais, bacterianas ou parasitarias, geralmente a linfocitose é passageira. 19 REFERÊNCIAS ANDRADE, Thays Aparecida de; FERREIRA, Gabriela Rossi. LEUCEMIA LINFOCÍTICA CRÔNICA-B (LLC-B): Uma Revisão da Abordagem: terapêutica monoclonal. Terapêutica Monoclonal. 2020. Disponível em: https://www.metodista.br/revistas- izabela/index.php/bio/article/viewFile/2100/1114. Acesso em: 15 maio 2021. BLANCO, Daily Pino et al. 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