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PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA E PRÁTICA CLÍNICA AULA 6 Prof.a Fabrine Cecon 2 CONVERSA INICIAL Com a regulamentação da resolução no 586, de 29 de agosto de 2013, a classe farmacêutica deu um grande passo. Para uma categoria profissional que se encontrava (e continua) muito distante do paciente, declarar-se apto a prescrever é uma grande responsabilidade, e isso revela coragem para assumir algo que, na prática, já acontecia nas farmácias de todo o país, sem ter um documento comprobatório e responsabilizador da atitude profissional. Em artigo intitulado Prescrição farmacêutica: é preciso abandonar a discussão classista, disponível no blog da CEMED, Edson Perini comenta que [...] A indicação de medicamentos isentos de prescrição é fato comum nas farmácias brasileiras [...], e pior, feita por profissional sem a formação que o farmacêutico tem. A guerra velada entre farmacêuticos e balconistas ou técnicos de farmácia é insana e o ato da prescrição poderia ser mais um passo na direção de trazer ao farmacêutico uma maior responsabilidade sobre a determinação do que se vende, quando e para quem. [...] E o ensino farmacêutico nas últimas décadas se voltou demasiadamente para os aspectos tecnológicos do medicamento, deixando fragilidades no estudo do conhecimento e reconhecimento das patologias, ainda que ditas menores. O farmacêutico atual tem razões para dizer que conhece muito o medicamento, mas precisa se preparar para o exercício da prescrição, inicialmente se conscientizando de que a prescrição não é um simples pedaço de papel assinado. Ela é um documento legal por meio do qual um profissional se responsabiliza pelas intervenções que uma pessoa deve realizar sobre seu estado de saúde. Portanto, neste último módulo, veremos que nem tudo é favorável no que diz respeito à regulamentação. Há necessidade de um embasamento técnico- científico mais completo, que contemple não somente o conhecimento sobre os medicamentos, mas também sobre a semiologia e anamnese dos pacientes. Nas farmácias comerciais, onde a visão estratégica é somente o lucro sobre as vendas de medicamentos, o farmacêutico, para ganhar espaço, terá que associar as questões de serviço técnico com clínico, considerando a estratégia de negócio do estabelecimento. 3 CONTEXTUALIZANDO A atuação clínica dos farmacêuticos, na provisão de serviços farmacêuticos, constitui a base para a formação de novos profissionais e até mesmo daqueles que já estão no mercado de trabalho. A orientação da formação, tanto na graduação quanto na pós-graduação, deve estar direcionada à integração entre a teoria, a simulação (atividades de prática profissional) e o estágio (atividades no serviço). Conforme citação do próprio presidente do CFF, Jaldo de Souza Santos, “A sociedade não pode deixar de contar com a prescrição farmacêutica, porque ela é um anteparo contra as reações indesejáveis provocadas pelos medicamentos”. Para concluirmos esse módulo, restam algumas vertentes a serem analisadas. E a dúvida a ser esclarecida é: O farmacêutico, além de capacitado para a prescrição farmacêutica, tem caminho livre para a atividade em questão? TEMA 1 - ASPECTOS TECNOLÓGICOS DOS MEDICAMENTOS De acordo com FILGUEIRA e BOUSQUAT (2012), [...] A inovação farmacêutica se produz, em grande maioria, nos laboratórios privados, em detrimento do papel inovativo dos laboratórios estatais. A competição entre as indústrias do setor é alicerçada por investimentos em atividades de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) e de marketing. No Brasil, a semelhança da situação internacional, a produção de medicamentos apresenta um cenário de extrema concentração e a parte mais substancial e modernizada da produção se concentra, sobretudo, nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. Numa visão geral, o panorama da produção de medicamentos é dominado pela indústria transnacional, que mesmo com uma alta margem de lucro, praticamente não investe em P&D no Brasil. O parque industrial brasileiro de medicamentos é bastante desenvolvido no que diz respeito ao produto acabado apresentando uma capacidade produtiva elevada. Por outro lado, há uma capacidade bastante restrita na produção dos insumos farmacêuticos da química fina. A parte majoritária da produção nacional é direcionada para o mercado interno, sendo uma pequena parcela exportada. Uma das peculiaridades da indústria farmacêutica brasileira é a existência de um sistema público de produção de medicamentos, de abrangência nacional, que desempenha um importante papel na assistência farmacêutica do país. 4 A indústria farmacêutica em geral e particularmente os laboratórios públicos ganham relevância, pois são centrais para a compreensão dos trajetos das políticas de ciência, tecnologia e inovação em saúde no país. Os autores VIEIRA e OHAYON (2006) citam que: O conceito de inovação tecnológica está ligado à introdução de um novo produto ou novo processo industrial; e, sobretudo, à ideia de sua introdução no mercado, sem o que não há inovação. Tidd et al. (1997) trazem inúmeras explicações sobre as diferenças entre estes conceitos. Os autores enfatizam o fato de que, se uma invenção não é desenvolvida para fins de apropriação comercial, ela termina caindo no esquecimento e não melhora a qualidade de vida das pessoas. Ou seja, uma invenção deve ser apropriada comercialmente para obter valor de uso e se tornar uma inovação. No caso da indústria farmacêutica, inovar significa disponibilizar comercialmente para o consumo humano um novo medicamento para o tratamento de doenças. Descobrir um novo princípio ativo, ou uma nova molécula, é uma invenção de uma nova entidade química, mas somente será uma inovação quando tiver sua eficácia comprovada no combate a uma doença, e seu consumo for viabilizado através de um novo medicamento colocado no mercado. [...] As ideias para uma nova droga medicinal são o resultado direto da avaliação das necessidades e oportunidades de mercado, em uma dada área terapêutica. O desenvolvimento de novos produtos se dá de forma simultânea e imprevisível, em complexos científico-tecnológicos organizados em rede, que incluem todas as etapas relevantes da cadeia de geração-produção de conhecimentos e de produtos. A inovação na indústria farmacêutica se expressa, também, com tarefas de desenvolvimento de melhorias. Muitas vezes os produtos têm roupagens novas ou alguma agregação de valor (por exemplo, melhor absorção pelo organismo) sem apresentarem novidades terapêuticas: a isso chamamos de inovações incrementais. Diante desse cenário em integração com a prescrição farmacêutica, coloca em xeque a necessidade de atualização constante do profissional farmacêutico. No ato da prescrição, é necessário a escolha da melhor forma farmacêutica para a administração, a análise da funcionalidade do organismo do paciente para uma absorção segura e efetiva e a visualização dos possíveis eventos que podem ocorrer com a administração dos medicamentos. TEMA 2 - PROMOÇÃO DE BOA PRESCRIÇÃO Conforme citado em BARROS e JOANY (2002, p. 892), Com o incremento da quimiossíntese industrial farmacêutica, nas últimas seis décadas, os medicamentos passaram a ocupar, de forma crescente, lugar de destaque e hegemônico como alternativa para a cura das doenças e alívio dos sintomas. A despeito dos inegáveis ganhos 5 terapêuticos obtidos, os produtos farmacêuticos passaram a sofrer um uso indiscriminado e irracional, sobretudo em virtude da lógica de mercado que tudo transforma em mercadoria, privilegiando uma visão da saúde como fenômeno estritamente biológico, assim como o bem-estar e a felicidade, de forma mais ampla, como dependentes do consumo de variados bens e serviços [...]. Esse uso indiscriminado, obviamente, termina por acarretar consequências negativas importantes,tanto nos custos de ordem econômica que governos e indivíduos passaram a fazer de forma crescente, como nos malefícios no âmbito sanitário, traduzidos, particularmente, pelo aumento de efeitos colaterais ou reações adversas, por vezes bastante graves. Tais fenômenos, ao se intensificarem, provocaram, em diferentes países, em especial nos mais desenvolvidos, o estabelecimento de políticas de controles sobre os diferentes elos que integram a cadeia que vai da produção ao consumo, passando pela prescrição, dispensação, comercialização e uso final dos insumos farmacêuticos. Destacam-se tanto os controles sobre preços e margem de lucros, como sobre a busca do máximo de evidências da eficácia terapêutica e segurança, neste último caso, não só quando do registro e autorização iniciais (papel dos órgãos de vigilância sanitária), mas igualmente pelos sistemas de monitorização após a comercialização, de que se encarrega a farmacovigilância. Entre os múltiplos fatores que já vêm sendo estudados como exercendo influência sobre a prescrição, destacam-se os relacionados às fontes de informação de que lançam mão os médicos, especialmente as produzidas e disseminadas pelos produtores. A veiculação de anúncios nas revistas médicas estudadas – e pode-se pressupor que esse comportamento se repete nas revistas médicas em geral – ocupa um número significativo de páginas. Há lacunas importantes, nos anúncios veiculados, quanto a informações básicas para orientar a prescrição e que deveriam constar, obrigatoriamente, dos mesmos, se partimos do pressuposto de que o propósito da publicidade destinada aos médicos é possibilitar-lhes acesso aos dados técnico-farmacológicos dos produtos anunciados. É urgente a necessidade de que autoridades sanitárias e da área da educação, somadas a iniciativas das associações profissionais, criem instrumentos de atualização e divulgação no campo da farmacoterapia que guardem independência do financiamento dos produtores e propiciem informações com características técnicas e científicas. 6 TEMA 3 - CONFLITOS DE INTERESSE ENTRE A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA E PRESCRIÇÃO Segundo citação de Marques (2010, p. 148) No relacionamento entre a indústria farmacêutica e a classe médica podem ocorrer situações de conflitos de interesses. Esse relacionamento, iniciado nas primeiras décadas do século passado, tem aumentado em frequência e intensidade, levando a situações que podem interferir na graduação, na educação continuada, nas publicações científicas e na própria prática da prescrição. [...] Os médicos e a indústria têm em comum o interesse pelos avanços dos conhecimentos médicos. Entretanto, o interesse primário do médico é promover o melhor interesse de seu paciente, enquanto o da indústria é o seu próprio desenvolvimento. Conflito de interesses, de acordo com Thompsom (1993), citado por Marques (2010, p. 148-149), [...] é um conjunto de condições em que o julgamento de um profissional a respeito de um interesse primário tende a ser influenciado indevidamente por um interesse secundário. Os conflitos de interesses não se resumem a situações que envolvem somente aspectos econômicos, mas reportam-se àquelas em que aspectos de ordem financeira e outras de interesse pessoal podem comprometer o julgamento ou decisão de um profissional em suas atividades administrativas, gerenciais, de ensino, de pesquisa e outras. O maior problema, na maioria das vezes, não é a existência de um conflito de interesses, mas, sim, a sua não declaração. [...] A necessidade de pesquisar novos fármacos e sua consequente divulgação tem levado a grandes investimentos por parte da indústria, com a utilização de técnicas de marketing cada vez mais sofisticadas e agressivas. De acordo com Marques (2010, p. 149) Os resultados de grandes estudos são fundamentais para a entrada de um novo medicamento no mercado. Esses grandes estudos, geralmente multicêntricos, visam a avaliar a eficácia e a segurança de novos fármacos e resultam responsáveis por boa parte dos investimentos da indústria. Quando publicados em revistas científicas conceituadas, seus resultados constituem a base da orientação dos clínicos em suas opções de prescrição. É fundamental que os princípios científicos e a adequada metodologia, assim como a interpretação dos dados, sejam rigorosamente observados. A metanálise é um dos métodos mais utilizados hoje para avaliar as evidências de efetividade e a segurança de um novo fármaco ou procedimento médico. Observando-se criteriosamente os grandes estudos publicados pela indústria farmacêutica, pode-se observar que as apresentações dos dados são feitas de maneira a dar evidências a resultados favoráveis a determinado fármaco em estudo, em detrimento 7 de dados menos favoráveis. Um dos recursos utilizados é a maneira de apresentação dos dados. Um novo medicamento tem maior possibilidade de ser prescrito quando os benefícios são expressos em termos de riscos relativos, não em termos de risco absoluto. TEMA 4 - CASES (PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA × ATENÇÃO FARMACÊUTICA) Conforme esclarem Bortolon, Karnikowski e Assis (2007, p. 7-8), Nas sociedades modernas, as pessoas estão cada vez mais familiarizadas com os fármacos, uma vez que os medicamentos se tornaram rotina na conduta médica. Antigamente, as pessoas não tinham tanta intimidade com remédios, pois esses eram usados em casos particulares e raros. Atualmente, além dos medicamentos serem opção comum na terapêutica, a prescrição está cada vez mais padronizada, possibilitando que as pessoas utilizem os critérios de decisão médica para problemas mais simples de saúde. O medicamento passou a ser visto como símbolo de saúde. [...] O restabelecimento da saúde é um processo longo que abrange um contexto multidimensional, resultado de fatores biológicos, sociais, culturais e psicológicos, não devendo ser entendido apenas pela ausência de sintomatologias clínicas e desconfortos fisiológicos. Neste contexto, o medicamento é visto como um dos meios (e não o único meio) de um processo longo a ser recuperado ou evitado no enfrentamento de situações nas quais ocorre um desequilíbrio no organismo do indivíduo. É, portanto, um bem intermediário e não necessariamente a única forma de restabelecer a saúde [...]. Uma vez que a automedicação encontra-se amplamente inserida enquanto prática exercida pelos brasileiros, tanto pela dificuldade de acesso aos serviços de saúde como pelas classes mais privilegiadas na busca de soluções rápidas para seus problemas de saúde a fim de evitar que suas atividades diárias fiquem impedidas. [...] cabe ao profissional de saúde a iniciativa de incentivar e promover a reflexão e a discussão acerca do assunto envolvendo profissionais de saúde, gestores, políticos e a população. No contexto atual, o profissional habilitado deve orientar a população sobre o medicamento visando à diminuição de risco e a maior eficácia possível. Na atual estrutura da sociedade de consumo, o medicamento é concebido como mercadoria que precisa estar constantemente atualizada e renovada. Ainda segundo Bortolon, Karnikowski e Assis (2007, p. 16) 8 A indicação farmacêutica leva em consideração os aspectos fisiológicos e patológicos do paciente na escolha da farmacoterapia adotada. Utilizando as especialidades do saber profissional de farmácia, a ajuda prestada por este profissional, no que tange ao tratamento medicamentoso, pode significar uma valiosa contribuição à saúde dos idosos. Existem poucos artigos que descrevem na prática os efeitos da prescrição farmacêutica. Muitos deles são voltados à Atenção Farmacêutica e outras atividades da Assistência Farmacêutica. A Resolução no 586 veio atribuir a responsabilidade de prescrição ao farmacêutico e ao mesmo tempo o registro e acompanhamento legal da saúde dos pacientes. Para Bortolon,Karnikowski e Assis (2007, p. 1) A indicação farmacêutica é discutida como uma nova atuação do profissional de farmácia na prestação de serviços de atenção primária à saúde dos idosos. Utilizando a atenção farmacêutica, este profissional aconselha o melhor recurso terapêutico a ser adotado nos casos em que consultas clínicas não sejam necessárias. Além disso, o atendimento farmacêutico ajuda na triagem dos pacientes que necessitam de atendimento médico. Conclui-se que a utilização do saber do farmacêutico na atenção primária ajuda a diminuir os riscos associados à automedicação e os problemas relacionados ao uso de medicamentos, contribuindo para a melhoria dos níveis de saúde da pessoa idosa. TEMA 5 - PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA NO MUNDO Fábio Reis (2013), em artigo publicado no site da Pfarma, esclarece que No Reino Unido em vigor desde 2006 os “Pharmacist independent prescriber” podem prescrever medicamentos de forma autônoma para qualquer condição de sua competência clínica. Atualmente, há apenas 3 medicamentos controlados que não podem ser prescritos pelos farmacêuticos. Para se qualificar como “Pharmacist independent prescriber”, os farmacêuticos devem completar um programa de credenciamento (GPhC-accredited programme), passar por treinamento prático e ter pelo menos dois anos de experiência em um hospital do Reino Unido, farmácia comunitária ou em cuidados primários a saúde. O programa de credenciamento dura aproximadamente 6 meses de estudo e pelo menos 12 dias de prática com orientação de um médico. No Reino Unido, a Orientação dos Medicamentos e Produtos de Saúde Agência Reguladora (MHRA), órgão executivo do Ministério da Saúde, afirma que apenas “profissionais habilitados” podem prescrever medicamentos no Reino Unido. Os prescritores independentes são profissionais de saúde que são responsáveis por avaliar a sua saúde e tomada de decisões clínicas sobre como gerenciar sua condição, incluindo medicamentos de prescrição. 9 Os prescritores farmacêuticos independentes são os que podem prescrever qualquer medicamento para qualquer condição médica dentro de sua competência, incluindo alguns medicamentos controlados (exceto cocaína diamorfina, e dipipanona para o tratamento de dependência). No Reino Unido, existe a categoria de medicamentos chamadas de “Pharmacy only”, conhecida por P, que devem ser prescritas por um farmacêutico. Estão incluídos nessa categoria os medicamentos considerados intermediários entre o OTC e os de venda sob prescrição médica. São medicamentos como Cefalexina, Aciclovir, Alopurional, Loratadina, Budesonida entre outros. Os prescritores são chamados de “prescritores independentes”, que incluem: médicos, dentistas, enfermeiros, farmacêuticos e optometristas. Ser um prescritor independente significa que ele pode avaliar alguém e prescrever um medicamento como auxílio na atenção à saúde. No Canadá, o Farmacêutico é licenciado para realizar prescrição adicional e também pode prescrever de forma colaborativa com um médico. Em outros países como EUA, Austrália e Espanha o farmacêutico pode realizar a repetição da prescrição de repetição e junto aos programas do Sistema de Saúde. Nos Estados Unidos, em 40 (quarenta) estados os farmacêuticos estão autorizados a fazer ajustes na farmacoterapia, de acordo com protocolos; em 44 (quarenta e quatro) estados executam imunização; e em 09 (nove) estados têm autorização para prescrever e dispensar certas classes de fármacos que exigem receita, incluindo os anticoncepcionais emergenciais. Na França, o farmacêutico atua como no Brasil: efetua serviços de atenção básica e, por meio de entrevistas com o paciente, ou seja, a atenção farmacêutica, indica, se necessário, medicamentos isentos de prescrição ou orientam sobre cuidados à saúde. FINALIZANDO Em artigo intitulado Prescrição farmacêutica: é preciso abandonar a discussão classista, Edson Perini esclarece que [...] há coisas acontecendo na profissão farmacêutica e elas devem ser discutidas para serem revertidas em maior responsabilidade (e direitos, por suposto) para o profissional, e a prescrição é uma delas. Não sei se é melhor, ou se é a mais oportuna, dado que há tantas questões para mudar em relação à sociedade e com as pessoas que utilizam medicamentos. [...] 10 Os farmacêuticos precisam urgentemente compreender um ponto crucial nessa questão para não sustentar o debate em terra fofa: para prescrever não basta ser bom em farmacologia. É preciso mais do que isso. É preciso transcender a relação direta entre fármaco e enfermidade. Já para Jeferson Machado, em artigo intitulado Farmacêuticos poderão receitar medicamentos de venda livre, A prescrição farmacêutica nada mais é que a documentação de uma ação que acontece há muito tempo nas farmácias do Brasil. Afinal, quem nunca foi na farmácia com algum transtorno menor e o farmacêutico ajudou? Pois é, as dicas que muitos de nós já recebemos foram para, mesmo que o medicamento seja de venda livre, evitar o uso incorreto do medicamento ou problemas relacionados aos mesmos. Sim, mesmo esses medicamentos que não precisam de receita podem causar muitos transtornos à saúde, se usado da maneira inadequada. Em alguns casos, até desnecessária. Nós, farmacêuticos, não vamos fazer diagnóstico, faremos apenas a constatação do estado mórbido. Nada mais é que observar se o paciente necessita de um medicamento isento de prescrição ou se o caso é de encaminhar para um médico ou, até mesmo, outro profissional da área da saúde. Essa orientação poderá ser oral ou em um documento, caracterizando assim a prescrição. A resolução que acabou de ser regulamentada informa que, “a prescrição farmacêutica deverá ser realizada com base nas necessidades de saúde do paciente, nas evidências científicas disponíveis, em princípios éticos e em conformidade com as políticas de saúde.” Tal proposta do Conselho Federal para a Prescrição Farmacêutica toma por base os modelos de implantação que já ocorreram em diversos países do mundo (Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Espanha, Portugal, França). Nesses países a atuação do farmacêutico vai muito mais além. Sendo importante lembrar que eles conseguiram isso ao longo do tempo, preparando e melhorando seus currículos para isso. Além da consolidação do processo de prescrição ter ocorrido de maneira paulatina, há medida que o trabalho do farmacêutico foi sendo reconhecido e se tornado importante para a saúde pública de cada país. Há muita discussão sobre a competência do Farmacêutico para tal função. E esse espaço será conquistado pelo próprio profissional, ao comprovar que o farmacêutico poderá trazer economia ao país e conforto à saúde de incontáveis brasileiros que não tem acesso a médicos e hospitais. O farmacêutico reduzirá os agravos à saúde, assim como pretendeu o constituinte na elaboração do art. 196 da CF/88. Ademais, a saúde não é de ninguém senão do próprio indivíduo e de todos nós. Saúde é mais que direito constitucional, é um dever de todos os cidadãos. Saúde não se define nem se conceitua sem análise holística, sem democracia, sem 11 participação. Saúde se conceitua por meio de aspectos da coletividade, da individualidade e da cultura, considerando elementos e domínios do ambiente, da economia, dos costumes, do clima, da alimentação, da moradia, das condições do país, das políticas públicas adotadas, do nível e da atenção dada pelos políticos à saúde, investimento, tecnologia e a relação dos profissionais da saúde com os pacientes. São multifatoriais as reflexões para o melhor conceito de saúde. Por isso, o farmacêutico pode ser muito mais útil, e um alento para a saúde pública precária, a beira do caos, em que a consequência vista é o medo, a dor, o sofrimento e a morte. REFERÊNCIAS BARROS, J. A. C. A (des)informação sobre medicamentos: o duplo padrão de conduta da indústriafarmacêutica. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102- 311X2000000200012&script=sci_abstract&tlng=pt>. Acesso em: 16 abr. 2017. ______.; JOANY, S. Anúncios de medicamentos em revistas médicas: ajudando a promover a boa prescrição? Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csc/v7n4/14612.pdf>. Acesso em: 16 abr. 2017. ______. Propaganda de medicamentos: atentado à saúde? São Paulo: Sociedade Brasileira de Vigilância de Medicamentos-Ed. Hucitec, 1995. BASTOS, V. D. Laboratórios farmacêuticos oficiais e doenças negligenciadas: perspectivas de política pública. 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