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Trabalho semestral apresentado à disciplina de Análise Funcional do Comportamento do Curso de Psicologia da Universidade Paulista – UNIP, sob orientação da Prof.ª. Roseane Carvalho. Campus Chácara Santo Antônio São Paulo – 2021 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO........................................................................................................ 2 2 DESENVOLVIMENTO............................................................................................ 4 3 CONCLUSÃO...........................................................................................................9 5 BIBLIOGRAFIA.......................................................................................................11 2 INTRODUÇÃO A aplicação da Psicologia Comportamental começou na década de 50, e foi considerada nessa época como a Primeira Onda, com o Condicionamento Clássico, o Controle Operante e o Controle Correspondente. A segunda onda surgiu na década de 60, e é representada pela Terapia Cognitiva Comportamental (TCC) de Aaron Beck. A abordagem TCC, visa reduzir eventos internos que sejam disfuncionais para o sujeito, considerando certas cognições, emoções e estados fisiológicos. E visa reduzir ou eliminar, eventos internos que causam sofrimento no sujeito. As terapias de terceira onda surgiram por volta dos anos 2.000, com muitos estudos e pesquisas e assim novas maneiras de tratamento vêm sendo estudadas, o que contribuiu para o surgimento de diversas novas terapias, chamadas de terceira onda, algumas delas são: Terapia Comportamental Integrativa de Casais (TCIC), Terapia Cognitiva Baseada em Mindfulness (MBCT), Análise do Comportamento (AC), Terapia Funcional Analítica (FAP), Terapia De Aceitação e Compromisso (ACT), Terapia Focada nas Emoções (EFT), Terapia Focada na Compaixão (CFT) e a Terapia Comportamental Dialética (DBT). As terapias de terceira onda, surgiram como um aprimoramento e amplificação para a Terapia Comportamental. E buscam não somente resultados, mas procuram também, construir uma relação em um sentido mais amplo, com os eventos internos e externos que causam sofrimento para o sujeito, com um modelo diferenciado, do que proposto na década de 50. E visa possibilitar um conhecimento melhor do ser humano, e busca também um melhor desenvolvimento e melhor absorção dos resultados dos tratamentos. Escolhemos A Terapia Comportamental Integrativa de Casais (TCIC), como uma das terapias de terceira onda, para focarmos esse nesse trabalho. Visto que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de divórcios tem crescido significativamente no Brasil. O Censo Demográfico de 2010 mostrou que a proporção de pessoas que se separaram legalmente, ou seja, se divorciaram, quase dobrou em dez anos, passando de 1,7% para 3,1% da população. Além do aumento da taxa de divórcio, outro dado registrado foi a diminuição do tempo de duração dos casamentos. Em 2006, o tempo médio transcorrido entre a data de casamento e o divórcio era de 18 anos, passando para 15 anos em 2012. 3 Sendo assim, a terapia de casal é uma alternativa para lidar com as dificuldades e os descontentamentos na relação conjugal. A Terapia de Casal Comportamental Tradicional e a Terapia de Casal Comportamental Integrativa são dois modelos dentro do enfoque comportamental. No presente trabalho, pretendemos explorar a da Terceira onda, que é a TCIC. Sendo utilizado como principais mecanismos, o desenvolvimento de habilidades comportamentais, o desenvolvimento da empatia e tolerância em relação às diferenças, aos sentimentos e as necessidades do outro. A promoção e a aceitação emocional do casal no sentido de que as diferenças um do outro sejam respeitadas, e que os desafios de relacionamento, tenham como base na sua resolução diversas estratégias que promovam o diálogo e a comunicação assertiva. A Terapia de Casal Comportamental Integrativa está direcionada também, para os aspectos das reações emocionais que causam as dificuldades no relacionamento. As três principais mediações que a TCIC utiliza são: União Empática sobre o problema, Desenvolvimento da Tolerância e o Distanciamento Unificado. Essas serão algumas das mediações que serão apresentadas neste trabalho. 4 DESENVOLVIMENTO O principal conceito da Terapia Comportamental Integrativa de Casal (TCIC) é de Aceitação, voltado a uma sequência de respostas que surgem diante de um estímulo aversivo para cada um dos parceiros. Por exemplo: Valentina não gosta que seu marido Enzo visite sua família aos finais de semana. A Aceitação viria de um comportamento positivo, cuja função seria manter o contato com o parceiro, em uma conexão positiva e aceitar que não existem determinados tipos de situações em um casamento que não temos como mudá-las, mas também não reprimimos ou reagimos emocionalmente diante dela, o que se torna um elemento de afastamento entre o casal. Então o exemplo se tornaria: enquanto Enzo visita a família, Valentina escolhe passear num parque e marcam um horário para ficarem juntos depois, mantendo uma conexão positiva entre eles, mesmo existindo a diferença. Porém, segundo Jacobson e Christensen (1996), o trabalho de aceitação é voltado para o que se pode ser aceito em um relacionamento, o que não inclui relações abusivas, tais como violência física ou verbal, abuso de substâncias psicoativas, como álcool ou drogas ilícitas, e situações de infidelidade. Para estes casos, há uma outra abordagem terapêutica para tratamento. O trabalho de aceitação está voltado para os processos tanto internos de cada sujeito, quanto as emoções do parceiro, considerando sua personalidade e seus diferentes pontos de vista a respeito de um mesmo assunto. Geralmente, o principal elemento que impede que uma relação mude é a própria pressão criada entre o casal para que haja mudança na relação, é paradoxal. Porém, dentro dos preceitos da TCIC, a mudança só será possível de acontecer quando o casal passa a aceitar as características do outro que não serão mudadas, bem como das suas diferenças e a forma como cada parceiro lida com questões da vida. Sendo assim, a TCIC foi programada para ajudar os casais a utilizar seus problemas como combustível para estabelecer uma maior proximidade e intimidade. Uma das principais características da TCIC é o trabalho voltado para uma análise funcional da situação (Cordova & Scott, 2001 apud LINS, 2020, p. 167). É a possibilidade de observar quais variáveis controlam um determinado comportamento, as condições que o antecedem e suas consequências. A forma como cada parceiro irá reagir a determinada situações é diretamente influenciada por experiências 5 anteriores, ou seja, uma simples atitude pode ser reforçadora para um e punitiva para outro. Em um relacionamento, geralmente, há muita expectativa de como o outro deveria se comportar diante de conflitos, porém são pessoas distintas, com personalidades e vivências diferentes e esses atributos não podem ser mudados facilmente. Todos os casais possuem áreas de incompatibilidades com altos e baixos emocionais. Segundo Lins (2020, p 170), as relações íntimas estão ligadas a experiências que podem ser entendidas como negativas e, consequentemente, há uma percepção de que eventos privados (pensamentos e sentimentos) não podem ser aceitos e devem ser evitados. Ou seja, grande parte das pessoas estão propensas a usar o que aprenderam para se defender, esquivar-se dos sentimentos e pensamentos para evitar o conflito. O casal então, se vê preso em um ciclo de reações indesejadas e estratégias ineficazes, como por exemplo, culpar o cônjuge pelo problema, rotulá-lo de “louco” e, por fim, não o considerar suficientemente bom. A estratégia da TCICé concentrar-se nessas reações mais comuns e menos nas soluções ativas do problema, promovendo maior intimidade entre o casal por meio da aceitação das diferenças e das emoções, resultando na mudança dos padrões de interação. Ao iniciar o processo terapêutico, o casal passa por duas fases principais: uma fase de avaliação e retorno e uma segunda fase de tratamento ativo. Nas primeiras 3 sessões o terapeuta irá ouvir e analisar as queixas e preocupações do casal, gerando uma avaliação da situação atual. Sendo na primeira sessão, um panorama mais detalhado do relacionamento, como o casal se conheceu, com as duas partes presentes. Nesta sessão, ambos responderão um questionário de forma individual com a finalidade de elencar o maior número possível de informações de como cada um está se sentindo dentro deste relacionamento, como o nível de satisfação de cada um, se há violência ou não, qual o grau de compromisso de cada membro. O terapeuta utiliza-se também de mais duas ferramentas para completar o relatório do casal, uma avaliação mais completa sobre as áreas problemáticas de cada um em relação a aceitabilidade e as áreas mais problemáticas e de desentendimento do casal. Além desses instrumentos, o terapeuta pode utilizar como referência um quadro desenvolvido pelos teóricos da TCIC, como se fosse um guia. Neste guia há algumas perguntas que podem servir como norteadoras do processo. São elas: 1. Quão angustiado este casal está? 6 2. Quão comprometido é esse casal com essa relação? 3. Quais são os problemas que os dividem? 4. Por que essas questões são um problema para eles? 5. Quais são os pontos fortes que os mantém juntos? 6. O que o tratamento pode fazer para ajudá-los? Associadas às respostas dadas pelo do casal nos questionários, Jacobson e Christensen (1996) apud LINS (2020), p.173, propuseram a elaboração de uma avaliação da relação, a qual apresenta temas, o processo de polarização e suas consequências – essas também denominadas de “armadilha mútua”, demonstrando a paralisação do casal diante das fracassadas tentativas de mudança. Diante da história do casal, avaliando estímulos antecedentes, seus comportamentos padrões quando ocorre um conflito e a consequência como resultado dos comportamentos padrões, o terapeuta, por fim, retorna ao casal com os seus comentários de tudo que foi observado acerca do problema, bem como sobre os aspectos positivos, pontos fortes da relação e o que funciona quando não estão sob o comportamento de hostilidade e julgamento mútuo. Este retorno acontece na quarta sessão, depois de já ter ouvido o casal junto e cada um dos membros em sessões individuais e é neste momento que o terapeuta, com a participação ativa do casal, formula um plano de tratamento, podendo o casal aceitar ou não o compromisso com a terapia. APLICAÇÃO DA TCIC A intervenção terapêutica aqui apresentada, segue a proposta de Jacobson e Christensen (1996) apud LINS, p.175, baseada no manual de terapia de casal elaborada por ambos. Ao início de cada sessão, o casal responde sempre o Questionário Semanal, com o propósito de avaliar os acontecimentos mais significativos, sendo positivos ou negativos, que vivenciaram entre uma sessão e outra. De acordo com a relevância dos acontecimentos para cada um dos parceiros, o assunto é abordado naquela sessão. Como estratégias fundamentais para um resultado terapêutico satisfatório, a TCIC propõe, além da Estratégia de Aceitação que consiste em União Empática, Distanciamento Unificado e Tolerância, apresenta também a Estratégia de Mudança, 7 que consiste em: Intercâmbio de Comportamentos, Treinamento de Habilidades de Comunicação e Treinamento de Resolução de Problemas. Dentro das estratégias de aceitação, a União Empática tem como objetivo promover empatia, compaixão, aceitar verdadeiramente o que cada um está sentindo e pensar como sente o outro, com o propósito de mudar a perspectiva da culpabilidade de ambos. Se colocando no lugar do outro, pode-se neutralizar a “culpa” atribuída ao parceiro. O Distanciamento Unificado serve para estimular o casal a se unir e abordar juntos qualquer assunto, por mais difícil que seja. É proposto ao casal, enxergar o problema como algo externo a eles, algo contra o relacionamento e para solucioná-lo é preciso que o casal se una, tornando-se uma equipe contra qualquer adversidade. Uma das formas de aumentar a aceitação é aumentar a tolerância em relação ao comportamento do parceiro, sem lutar contra. Desta forma, os objetivos das Estratégias de Tolerância são aumentar a habilidade para lidar com aquele comportamento do outro que incomoda. É feito um treinamento, semelhante ao procedimento de exposição usado para tratar, por exemplo, transtornos de ansiedade, que consiste em expor os parceiros a conflitos e comportamentos negativos de cada um, dentro de um ambiente seguro com o intuito de que o comportamento passe a ser tolerado. Já dentro das Estratégias de Mudança, os objetivos são aumentar ou diminuir a frequência ou intensidade de determinados comportamentos, melhorar a comunicação e articulação do casal, ajudando-os nas tomadas de decisões e na resolução de problemas. As principais Estratégias de Mudança são: Intercâmbio de Comportamentos, Treinamento de Habilidades de Comunicação e Treinamento de Resolução de Problemas. Intercâmbio de Comportamentos Para Jacobson e Christensen 1996 apud LINS, 2020, p. 181), o intercâmbio de comportamentos envolve as intervenções que propõem diretamente a mudança por meio de instruções que ensina os casais a monitorar e reforçar determinado comportamento positivo, estimulando interesses em comum, hobbies e outras atividades que podem facilitar a construção de um relacionamento bem-sucedido. Treinamento de Habilidades de Comunicação Neste treinamento, o casal é convidado a desenvolver sua “escuta ativa”, ou seja, dar a devida atenção ao que o seu parceiro está dizendo, estimulando a capacidade de compreender o que foi dito através de exercícios como, por exemplo, 8 repetir com suas próprias palavras o que ouviu do parceiro, considerando o estado emocional do outro. O simples fato de se sentir verdadeiramente escutado pode gerar um sentimento de proximidade. Treinamento de Resolução de Problemas Se o objetivo do casal for claramente resolver um determinado conflito, esta estratégia pode ser a solução. O conflito definido deve estar evidente a ambos os parceiros. Para um melhor efeito, é indispensável que ambos consigam expressar seus sentimentos diante do problema e saibam reconhecer sua responsabilidade na manutenção do conflito. Segundo Lins (2020, p.184), após a clara definição do problema, o foco será voltado para o futuro, para sua solução. É importante ressaltar que a TCIC não é indicada para casos específicos de relacionamentos, como violência doméstica, abuso verbal, abuso de substâncias psicoativas e infidelidade. Essas situações, por si só, abusivas necessitam de cuidados especiais. Caso um terapeuta comportamental em TCIC se deparar com quaisquer uma das situações acima, este deve considerar outras possibilidades, como uma avaliação psiquiátrica ou mesmo, se julgar necessário, acionar recursos legais. 9 CONCLUSÃO “Não importa o quanto nos amamos, as diferenças entre nós acabarão por causar conflitos”. Disseram os autores do livro Diferenças Reconciliáveis logo no prefacio. E são essas diferenças que nos tornam únicos em qualquer relação com o outro ou entre casais. A preocupação com a qualidade matrimonial é fundamentada em décadas de pesquisas que indicam que o bem-estar individual está fortemente relacionado a estar casado. A intervenção terapêutica com casais tem sido uma área de interesse de teóricos e clínicos. Além disso, estesestudos apontam que a satisfação conjugal é muito mais importante para o bem-estar da pessoa do que fatores como sucesso profissional, religião, moradia e finanças. Logo, observamos em nossas pesquisas, que as estratégias de mudança da terapia comportamental de casal são dependentes da capacidade de cada um dos parceiros para colaborar. Assim sendo, os casais que possuem dificuldades em se conciliar e colaborar entre si se tornam mais arraigados às suas posições, quando submetidos a essas técnicas. Os autores estudados por nosso grupo nos mostraram que esses casais estariam em melhores condições usando seus problemas como veículos para um autoconhecimento mais profundo do que tentando livrar-se deles. Assim, a TCIC originou-se desse deslocamento da ênfase, integrando estratégias que promovem aceitação dos problemas com estratégias de mudança. E o mais interessante é que, depois de passar pelo processo de aceitação, é comum que os membros do casal tentem, genuinamente, realizar algumas das mudanças que o outro desejava, devido a intimidade que conquistaram. O terapeuta não toma uma posição sobre quando a mudança ou aceitação é desejável para o casal, e sim deixa isso para os clientes resolverem. O trabalho é criar condições para que o casal tenha experiências que promovam aceitação e mudança. É um erro achar que o trabalho terapêutico vai forçar tal mudança e aceitação. O principal aspecto que observamos em todas as pesquisas sobre a temática estudada - terapia comportamental integrativa de casal, que o processo terapêutico se conclui ao observarmos que o casal já possui habilidades para falar sobre um problema sem que isso seja um problema, ou seja, sem que o antigo padrão de 10 polarização os recoloque na armadilha da reatividade emocional, da apatia e paralisação. A proposta terapêutica é que o casal interaja de uma nova maneira, possibilitando novas formas de compreensão, empatia, tolerância e aceitação daquilo que não se pode mudar nem em si mesmo, nem no parceiro. Afinal, ninguém é perfeito. 11 BIBLIOGRAFIA ANDRETTA, I; PLENTZ, R. A eficácia das terapias comportamentais de casal na satisfação conjugal. R B Psicoterapia, Revista Brasileira de Psicoterapia, volume 16, número 3, p.30-43, dezembro, 2014. CARDOSO, BRUNO LUIZ AVELINO; PAIM, KELLY. Terapias Cognitivo- Comportamentais para casais e famílias. Bases teóricas, pesquisas e intervenções. Ed. Synopsys. 2020. CHRISTENSEN,A; DOSS, B.D; JACOBSON. N.S. Diferenças Reconciliáveis: reconstruindo seu relacionamento ao redescobrir o parceiro que você ama, sem se perder. Ed. Sinopsys, 2a edição, 2018. SANTOS, P.L; GOUVEIA, J.P; OLIVEIRA, MDS. Terapias comportamentais de terceira geração: guia para profissionais. [At.al]. Novo Hamburgo: Sinopsys, 2015.
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