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FOUCAULT, M. A hipótese repressiva. In: ________. História da sexualidade I: A vontade de saber, tradução: Maria Thereza da Costa Albuquerque ; J. A. Guilhon Albuquerque.13 ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1988, p. 19- 49. I. A HIPÓTESE REPRESSIVA I.I. A Incitação dos discursos Afirma-se que a partir do século XVII começou o período de repressão sexual, no qual houve “ para dominá - lo no plano real, tivesse sido necessário, primeiro, reduzi-lo ao nível da linguagem, controlar sua livre circulação no discurso, bani-lo das coisas ditas e extinguir as palavras que o tornam presente de maneira demasiado sensível” (p. 21). Foucault argumenta que a partir do século XVIII, também é possível ver paralelo a esse mutismo sexual, uma “explosão discursiva”, no qual foi instaurada inúmeras normas no qual condenavam certos termos, definiram como, onde, quando e com quem deveria ser falado sobre esse assunto, que se tornou um tabu, mas com isso o autor chama a atenção que foi estabelecido um mutismo regional e não geral, no qual algumas relações sociais estavam mais fechadas (pai e filho) enquanto que em outras estavam mais abertas (relação médico-paciente, confissões religiosas, brincadeiras as escondidas). I.II. A implantação perversa A proliferação dos discursos envolve a quantidade de ocorrência e de instrumentos de repressão sexual sobre as sexualidades que não estão submissas a ordem da reprodução econômica, associando-as à doença mental, foi definida uma norma sexual, controles pedagógicos e tratamentos médicos, com a preocupação de assegurar uma sexualidade economicamente útil e politicamente conservadora. Como reação a isso, nos séculos subsequentes1, a sexualidade apresenta uma diversificação (p. 37). Até o final do século XVIII, existiam três grandes códigos explícitos que regiam as práticas sexuais: direito canônico, pastoral cristã e lei civil. Eles dividiam a linha divisória entre o lícito e o ilícito, todos voltados nas relações matrimoniais: dever conjugal, capacidade de desempenhá-lo, o seu cumprimento, as exigências e as violências que o acompanhavam, as carícias indevidas, sua fecundidade, períodos perigosos de gravidez e da amamentação, tempos proibidos como quaresma e de jejum, sua frequência, que incluía 1 Com foco no XIX e XX. regras e recomendações. As relações matrimoniais tinham que ser confessadas detalhadamente, ou seja, a intimidade do casal estava em vigilância, na qual o rompimento das leis do casamento ou a procura por prazeres considerados estranhos levavam a condenação. Era considerados pecados graves o estupro (relações fora do casamento), adultério, rapto, incesto espiritual ou carnal, sodomia, carícia recíproca (p. 38). Os tribunais condenaram a homossexualidade e a infidelidade, o casamento sem consentimento dos pais e zoofilia (bestialidade). Ordem civil como na ordem religiosa considerava o ilegalismo global, o que era considerado “contra a natureza”, que era espécie de direito, com isso por muito tempo os hermafroditas foram considerados criminosos ou filhos do crime. A multiplicação discursivas do século XVIII e XIX causou a mudança de falar menos da intimidade do casal legítimo, mas o foco continua sendo a legitimidade da relação monogâmica heterosexual, falando mais sobre a sexualidade das crianças, dos loucos e dos criminosos, que incluia a homossexualidade (p.42). Foucault mostra como a medicina no século XIX tomou o lugar que a igreja tinha no século XVII, tanto que a justiça a segue. O lugar de vigilância da sexualidade, inventando patologia orgânica, funcional ou mental, classificou detalhadamente todas as formas de prazeres (p.41). Criticando a hipótese repressiva aponta que o importante é entender como o poder é exercido, e não o fato dele permitir ou proibir, com isso ocorreu quatro situações, que mostram que o poder não age em simples sentenças de proibição e permissão (p.42). 1.Se mantém a proibição de alianças consanguíneas e o adultério, surge no século XIX o adestramento da sexualidade das crianças e “hábitos solitários”, que são táticas de poder diferentes, a primeira de penalidade, a outra de adestramento, lei e medicina, que procura acabar com condutas consideradas erradas, mas que sempre fracassam e com isso tendo que recomeçar sucessivas vezes aperfeiçoando sua ação de vigilância que ao mesmo tempo desperta ainda mais o interesse nessas práticas (p. 42). 2. A caça às sexualidades periféricas levou a incorporação das perversões e a nova especificação dos indivíduos. Antes só havia a sodomia, a partir do século XIX surge a categorização homossexual, que tem passado, carater e forma de vida, a sexualidade é o que ele é, ditando suas condutas, uma natureza singular. Os psiquiatras atribuíram nomes às práticas consideradas estranhas. A mecânica do poder persegue toda sexualidade periférica pretendendo suprimir, transformando em categorias analíticas e permanentes (pg. 43). 3. A dinâmica desse poder exige presenças constantes, através de exames e observações, discursos de perguntas e confissões. O poder age sobre como os corpos são vistos, ocorre “o aumento da eficácia e extensão do domínio sob controle, mas também a sensualização do poder e benefício de prazer” (p. 44). “O exame médico, a investigação psiquiátrica, o relatório pedagógico e os controles familiares podem, muito bem, ter como objetivo global e aparente dizer não a todas as sexualidades errantes ou improdutivas mas, na realidade, funcionam como mecanismos de dupla incitação: prazer e poder”(p.45). Quando o poder persegue determinado tipo de prazer ele está ao mesmo tempo o afirmando e reforçando-o, que levam a uma perpétua espiral de poder e prazer. 4.Pode-se afirmar que a modernidade fez surgir e proliferar, “grupos com elementos múltiplos e sexualidade circulante: uma distribuição de pontos de poder hierarquizados ou nivelados, uma "busca" de prazeres — no duplo sentido de desejados e perseguidos”(p.45). Os procedimentos de vigilância também funcionam como mecanismos de intensificação, no qual são incluídas as instituições escolares ou psiquiátricas, que têm as características de numerosa população, sua hierarquia, suas organizações espaciais e seu sistema de fiscalização, a família tem é um, mas tem outra maneira de distribuição de poderes e prazeres, que também indicam regiões de alta saturação sexual com espaços ou ritos privilegiados, como a sala de aula, o dormitório, a visita ou a consulta. A sociedade burguesa ao querer erguer uma barreira rigorosa contra a sexualidade acabou estimulando diversas formas de sexualidade (pg. 46): “...provoca suas diversas formas, seguindo-as através de linhas de penetração infinitas. Não a exclui, mas inclui no corpo à guisa de modo de especificação dos indivíduos. Não procura esquivá-la, atrai suas variedades com espirais onde prazer e poder se reforçam. Não opõe uma barreira, organiza lugares de máxima saturação. Produz e fixa o despropósito sexual. A sociedade moderna é perversa, não a despeito de seu puritanismo ou como reação à sua hipocrisia: é perversa real e diretamente”(FOUCAULT, 1988, p.47). Mesmo que o Ocidente não tenha inventado novos prazeres, com certeza definiu novas regras no jogo dos poderes e dos prazeres e com isso implantou a perversão, que tem como efeito-instrumento o isolamento, intensificação e da consolidação das sexualidades periféricas, no qual as relações do poder com o sexo e o prazer se correlacionam, fixam-se sexualidades disseminadas, rotuladas segundo uma idade, um lugar, um gosto, um tipo de prática. Principalmente apartir do século XIX ocorre uma conexão entre o lucro e a sexualidade atraves da medicina, da psquiatria, pornografia e prostituição, ao mesmo tempo que se aumentou a análise do prazer e do poder, pois os dois não se anulam “não se voltam um contra o outro; seguem-se, entrelaçam-se ese relançam” (p.48). O segundo capitulo conclui que “é preciso abandonar a hipótese de que as sociedades industriais modernas inauguraram um período de repressão mais intensa do sexo, pois assistimos uma explosão visível das sexualidades e através de uma rede de mecanismos entrecruzados, uma proliferação de prazeres específicos e a multiplicação de sexualidades” (p. 48).
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