Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
D I N H E I R O R U R A L - M A R Ç O / A B R I L 2 0 2 2 - A N O 1 7 - E D I Ç Ã O 1 8 5 ENTREVISTA: PEDRO FERNANDES Para diretor de Agro do Itaú BBA, Faria Lima só tem a lucrar no campo PISCICULTURA Alta demanda impulsiona plano de desenvolvimento USINAS NA ERA 4.0 Novas tecnologias revolucionam a produção de açúcar e etanol DUAS SEMANAS ANTES DE VLADIMIR PUTIN INVADIR A UCRÂNIA, A EMPRESA RUSSA ACRON ANUNCIOU A COMPRA DE UMA FÁBRICA DE NITROGENADOS DA PETROBRAS. ELA SE JUNTARIA ÀS CONTERRÂNEAS URALKALI E EUROCHEM QUE JÁ ATUAM NO PAÍS. O QUE ACONTECERÁ AGORA? Como a guerra afeta os planos dos de produzir no Brasil F E R T I L I Z A N T E S russos Rural185_CapaRussos.indd 1 16/03/22 1:48 AM Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS https://t.me/BrasilRevistas Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS O ROCKY MOUNTAIN GAMES É UM FESTIVAL DE MONTANHA QUE COMBINA COMPETIÇÕES ESPORTIVAS, ATIVIDADES RECREATIVAS E ATRAÇÕES CULTURAIS EM UM SÓ FINAL DE SEMANA. UMA EXPERIÊNCIA ÚNICA, CRIADA PARA DESAFIAR OS ATLETAS E DIVERTIR AS FAMÍLIAS, AS CRIANÇAS E OS AMIGOS. APOIOPATROCÍNIO RMG_ANUNCIO_dupla_2022-04.indd 8 16/03/22 19:12 Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS >TRA IL RU N >MO UNT AIN BIKE >GR AVEL >CA NICR OSS >DO WNH ILL >CO RRID A UP HILL >HIK E&F LY + GAS TRO NOM IA, MÚS ICA E CIN EMA >TRA IL RU N >MO UNT AIN BIKE >GR AVEL >CA NICR OSS >DO WNH ILL >CO RRID A UP HILL >HIK E&F LY + GAS TRO NOM IA, MÚS ICA E CIN EMA REALIZAÇÃO MÍDIA OFICIAL PARCERIA RMG_ANUNCIO_dupla_2022-04.indd 9 16/03/22 19:12 Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS EDIÇÃO 185, ANO 17 MAR/ABR DE 2022 O preço dos insumos aumentou, ele [o produtor] precisa de mais dinheiro para o pacote da safra, e o volume de crédito é finito 28286 DINHEIRO RURAL/185-MARÇO/ABRIL-2022 8 Porteira Aberta Pesquisa mostra que produção agrícola aumentou mais que área plantada 12 Entrevista PEDRO FERNANDES, DIRETOR DE AGRONEGÓCIO DO ITAÚ BBA 18 Capa OS PLANOS DOS RUSSOS EM PAUSA Além dos impactos na importação dos fertilizantes, a guerra contra Ucrânia torna incertos investimentos das empresas russas no Brasil 24 Agroeconomia O PRIMEIRO BIMESTRE Juros em alta e dólar em queda afetam rentabilidade do produtor 28 Agronegócios O SUL SOFRE Secas severas colocam em xeque a produção de grãos da região 30 MOSAIC Os planos da CEO Corrine Ricard para o Brasil 32 PISCICULTURA O potencial do Brasil no mercado internacional 36 TAUNSA Onde o agro e o futebol se encontram 38 PIRACANJUBA Marca prepara sua maior fábrica no País 40 BORRACHA Produção cresce, mas ainda é irrelevante 44 Agrofinanças A NOVA ERA DOS SEGUROS As insurtechs, startups de seguro, estão revolucionando os produtos para o campo FUNDADOR DOMINGO ALZUGARAY (1932 - 2017) EDITORA CATIA ALZUGARAY PRESIDENTE EXECUTIVO CACO ALZUGARAY DIRETOR EDITORIAL CARLOS JOSÉ MARQUES DIRETOR DE NÚCLEO CELSO MASSON TEXTO Editores: Lana Pinheiro e Romualdo Venâncio Repórter: Renata Duffles ARTE Diretor: Paulo Roberto Aloe Ilustração: Evandro Rodrigues FOTOGRAFIA Pesquisa: Sidinei Lopes Arquivo: Eduar do A. Con ceição Cruz CTI: Silvio Paulino e Wesley Rocha DINHEIRO RURAL ON-LINE Editor executivo: Airton Seligman Redatora: Thais Rodrigues Ferreira Fernandes APOIO ADMINISTRATIVO Gerente: Maria Amé lia Scarcello. Secretária: Terezinha Scarparo Assistente: Cláudio Monteiro MERCADO LEITOR E LOGÍSTICA Diretor: Edgardo A. Zabala DIRETOR DE VENDAS PESSOAIS: Wanderlei Quirino GERENTE GERAL DE VENDA AVULSA E LOGÍSTICA: Yuko Lenie Tehan CENTRAL DE ATENDIMENTO AO ASSINANTE: (11) 3618-4566 de 2a a 6a feira das 9h às 20h30. Outras Capitais: 4002-7334 Outras Localidades: 0800-888-2111 (exceto ligações de celulares) Assine: www.assine3.com.br Exemplar avulso: www.shopping3.com.br PUBLICIDADE Diretor nacional: Maurício Arbex Secretária da diretoria de publicidade: Regina Oliveira Assistente: Valéria Esbano Gerente executiva: Andréa Pezzuto Diretor de Arte: Pedro Roberto de Oliveira Coordenadora: Rose Dias Contato: publicidade@editora3.com.br ARACAJU – SE: Pedro Amarante • Gabinete de Mídia • Tel.: (79) 3246-4139 / 99978-8962 – BRASÍLIA – DF: Alessandra Negreiros • Tel.: (61) 3223-1205 / (61) 3223-1207 – BELÉM – PA: Glícia Diocesano • Dandara Representações • Tel.: (91) 3242- 3367 / 98125-2751 – BELO HORIZONTE – MG: Célia Maria de Oliveira • 1a Página Publicidade Ltda. • Tel./fax: (31) 3291-6751 / 99983-1783 – Campinas – SP: Wagner Medeiros • Wem Comunicação • Tel.: (19) 98238-8808 – FORTALEZA – CE: Leonardo Holanda – Nordeste MKT Empresarial – Tel.: (85) 98832-2367 / 3038-2038 – GOIÂNIA–GO: Paula Centini de Faria – Centini Comunicação – Tel. (62) 3624-5570/ (62) 99221-5575 – PORTO ALEGRE – RS: Roberto Gianoni, Lucas Pontes • RR Gianoni Comércio & Representações Ltda • Tel./fax: (51) 3388-7712 / 99309-1626 – INTERNACIONAL: Gilmar de Souza Faria • GSF Representações de Veículos de Comunicações Ltda • Tel.: 55 (11) 99163-3062 Dinheiro Rural (ISSN1807–3700) é uma publicação da Três Editorial Ltda . Redação e administração: Rua Rua Wil liam Speers, nº 1.088, São Paulo, SP, CEP: 05067-900 – Fone: (11) 3618-4200 – Fax da reda ção: (11) 3618-4109 Sucursais: Rio de Janeiro: Av. Almirante Barroso nº 63, sala 1510, fones: (21) 240-5224/533-1444 e Fax (21) 240-2925, Brasília: SCS, Quadra 2, Bl. D, Ed. Oscar Niemeyer, sala 201 a 203, Fone: (61) 3321-1212 e Fax (61) 3225-4062. Dinheiro Rural não se responsabiliza por conceitos emitidos nos artigos assinados. Comercialização e Distribuição: Três Comércio de Publicações Ltda, Rua William Speers, nº 1.212, São Paulo – SP. Distribuição exclusiva em bancas para todo o Brasil: FC Comercial e Distribuidora S.A., Rua Dr. Kenkiti Shimomoto, 1678, sala A, Osasco-SP. Tel.: 11 3789 3000 Impressão: Grafilar Lar Anália Franco de São Manoel, Rua Coronel Simões, 779, Centro - São Manoel - SP - CEP 18650-000 Rural185_Indice.indd 4 15/03/22 6:22 AM Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS CAPA: EVANDRO RODRIGUES/MONTAGEM FOTOGRÁFICA Oinício da agricultura no Brasil remonta às primeiras décadas da colonização portuguesa. Por volta do ano de 1530, o plantio de cana-de-açúcar e a cons-trução dos primeiros engenhos formaram a base de uma atividade econo- micamente estável no Brasil. A partir dali, mais 300 anos foram necessários para que o produtor rural brasileiro ouvisse falar em fertilizantes químicos. Outros 70 anos se passaram até que o insumo começasse a ter relevância na produção nacio- nal. Para entender o motivo da demora é preciso voltar ao tempo em que o aus- tríaco Franz Dafert (1863-1933) dirigia a Imperial Estação Agronômica de Campinas. Ao apresentar os primeiros fertilizantes químicos disponíveis no País para uso em grande escala, ele escolheu os cafezais do interior paulista. Deu com os burros n’água. O solo era rico em nutrientes e os produtores colhiam grandes safras a cada ano. Não havia necessidade do insumo. Foi somente a partir de 1967, com um trabalho conjunto de várias empresas e com a criação de uma associação para repre- sentar o setor, que o fertilizante passou a fazer parte da rotina das fazendas. Desde então, a indústria nacional passou por fases distintas até se consolidar como um grande importador, o que ocorreu por volta de 1990. À medida que crescia a produção de commodities para exportação, mais fertilizan- te era necessário importar. Em toneladas, a compra do insumo no mercado internacional cresceu gradativamente cerca de 15 milhões de toneladas no ano 2000 até aproximadamen- te 40 milhões de toneladas em 2021. Ainda assim, o governo pouco fez para tentar diminuir a dependência externa. Atualmente, o Brasil é responsável por cerca de 8% do consumo global deinsumos. Somos o quarto mercado do mundo, atrás de China, Índia e Estados Unidos. “É uma dependência total do fertilizante externo”, afirmou Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura do Brasil. Em 1998, uma tentativa de reverter o cenário foi feita: assustado por um pico nos preços após a crise econômica da moratória russa — desde aquela época um dos maiores fornecedores globais do insumo —, o então governo de Fernando Henrique Cardoso tentou diversificar mercados. Em 2008, sob governo de Lula, veio a primeira tentativa do Plano Nacional de Fertilizantes (PNF). O documento acabou na gaveta, que só foi reaberta no ano passado. Sob influ- ência da ministra Tereza Cristina, o governo preparava-se para anunciar com pompa e circunstância o PNF, mas aí veio a Rússia de novo. Com a guerra da Ucrânia, o movimento do governo deixou de ter ares de uma iniciativa estratégi- ca e ganhou status de urgência. Atrair investimentos externos para garantir a produção nacional é a única maneira de diminuir a vulnerabilidade do País. E é de olho no apetite do produtor pelo insumo que a Rússia tem buscado o solo bra- sileiro, como demonstra a reportagem de capa desta edição. COLHEITA DA REDAÇÃO O plano que tardou a chegar EDIÇÃO 185, ANO 17 MAR/ABR DE 2022 Lana Pinheiro, editora da Dinheiro Rural O preço dos insumos aumentou, ele [o produtor] precisa de mais dinheiro para o pacote da safra, e o volume de crédito é finito PEDRO FERNANDES, DIRETOR DO ITAÚ BBA 48 Vitrine Stonic C.251. Primeiro SUV híbrido da Kia 50 Estilo PESCA DE LUXO Esporte ganha novos adeptos em busca de um escape do caos da cidade grande 52 A VEZ DA VIOLA Instrumento conquista nova geração de músicos encantados por seu som 54 Sustentabilidade REFLORESTAMENTO CMPC lança projeto para agregar valor à silvicultura 58 SERVIÇOS AMBIENTAIS Iniciativas para pagamentos ao produtor que mantém floresta em pé saem do papel 60 Agrotecnologia A indústria 4.0 promove revolução no setor sucroenergético 64 Campo Digital O crescimento da automação no agronegócio DINHEIRO RURAL NO IPAD E ON-LINE: www.dinheirorural.com.br FO TO : C LA U B ER C LE B ER C AE TA N O / PR 7DINHEIRO RURAL/185-MARÇO/ABRIL-2022 66 Artigo O impacto que a Lei Geral da Proteção dos Dados traz para o setor Ministra Tereza Cristina e o presidente Jair Bolsonaro durante lançamento do Plano Nacional de Fertilizantes Rural185_Indice.indd 5 15/03/22 6:22 AM Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS P O R T E I R A A B E R T A 8 DINHEIRO RURAL/185-MARÇO/ABRIL-2022 IL U S TR AÇ ÃO : EV AN D R O R O D R IG U ES EVOLUÇÃO HISTÓRICA Estudo inédito do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) mostra o avanço da produ- ção nacional de alimentos. A pesquisa “Produção de Alimentos no Brasil: Geografia, Cronologia e Evolução” traz vários recortes sobre o desenvolvimento agrícola no País, inclusive sobre a concentração em poucas culturas e o avanço das fronteiras agrícolas. A relação entre o cresci- mento do volume produzido e o a área cultivada através do tempo (como mostrado ao lado) reforça o potencial de pro- dutividade do setor. Por outro lado, há dados preocupan- tes: redução de 2% na quantidade de estabelecimentos e o aumento de 7,4% na área média das propriedades. “No Sul do País, por exemplo, houve redução de 15,2% no número de estabelecimentos e aumento de área média de 21%, indicando uma forte concentração produtiva na região”, disse Vinicius Guidotti de Faria, coordenador de Geoprocessamento do Imaflora. O trabalho teve apoio de Instituto Ibirapitanga, Instituto Clima e Sociedade (iCS) e Grupo de Políticas Públicas (GPP/Esalq), e pode ser visto na integra no site imaflora.org. Cultura Produção Área plantada (%) (%) Soja 536 221 Milho 295 32 Cana 194 145 Arroz 5,5 -67* Café 95 -40* GANHO DE PRODUTIVIDADE Nas últimas décadas, as principais culturas de alimentos cresceram mais em produção do que em área plantada OCUPAÇÃO DA ÁREA AGRÍCOLA (2017) Soja 43,2% Milho 22,5% Cana 13,0% Feijão 3,9% Arroz 2,6% VARIAÇÃO ENTRE 1988 E 2017 *No caso do arroz e do café, a produção cresceu apesar da significativa redução da área plantada Fonte: Estudo – Produção de Alimentos no Brasil: Geografia, Cronologia e Evolução ALIMENTOS BOLSA DIGITAL E FÍSICA A agtech Gavea Marketplace recebeu um aporte de R$ 23 milhões em uma rodada “seed” liderada pela gestora de venture capital Astella. De acordo com o CEO da startup, Vitor Uchôa Nunes, a Gavea é a primeira bolsa digital do mundo para comercialização de commodities, mas com negócios imediatos. Por isso ele diz que é uma bolsa física. De maneira geral, a Gavea conecta quem vende e quem compra, de forma rápida, transparente e segura, inclusive com aplicação da tecnologia blockchain e audioria da KPMG, segundo Nunes. “Somos COMMODITIES uma bolsa e provemos informações, mas a decisão é de quem negocia”, afirmou o executivo. Para ele, o objetivo é agregar valor aos negócios, pois não há mais espaço para corretores que são apenas intermediários. Com esse investimento, a agfintech ganha fôlego para avançar com o plano de interna- cionalização. “Chegávamos até o porto nacional, agora queremos alcançar o distribuidor e o consumidor final”, disse Nunes. Dentro ou fora do Brasil. Rural185_Porteira.indd 8 15/03/22 5:48 AM Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS POR ROMUALDO VENÂNCIO 9 D IV U LG AÇ ÃO Com três décadas de trabalho cuidando de gente, Adriano Lima se tornou o responsável global de Recursos Humanos da Minerva Foods em meio à pandemia. Sua principal missão é aprimorar a relação da empresa com suas equipes, baseada em uma gestão flexível, humanizada e empática. PANDEMIA “No primeiro ano houve um trabalho muito sério, com protocolos sanitários definidos em parceria com um hospital de São Paulo. Lançamos o programa Estar-Bem, em janeiro do ano passado, que ajuda as pessoas a cuidarem de si mesmas para poderem cuidar das demais ao redor. Trouxemos especia- listas para falarem de diversos temas importantes para esse momento, como educação financeira, psicologia, saúde e até o lado espiritual.” LIDERANÇAS “Cobrança e controle estão presentes em todas as empresas, e devem existir de forma equilibrada, pois também precisamos de liberdade. Essa transição com as no- vas formas de trabalho tem muito mais a ver com uma cultura de engajamento e confiança. Por isso temos o programa de desenvolvimento de lideranças com 1,3 mil participantes de todos os países em que atuamos.” RESULTADO “Uma força de trabalho engajada pode gerar clientes e consumidores mais en- cantados, mais satisfeitos, e que podem gerar mais resultados para a empresa e retorno para os acionistas. Nossos relatórios sociais têm sido cada vez mais valorizados e as pesquisas mostram que empresas com melhor gestão de pesso- as apresentam melhor desempenho.” C H R O D A M I N E R VA F O O D S de 400% na vida útil dos pneus (passando de 3 mil horas para 15 mil), redução da geração de 73 toneladas de resíduos no primeiro ciclo de 18 meses e o incentivo ao descarte correto dos pneus. Após a utilização total, o material retorna para o fornecedor para que o elastômero seja retirado, reciclado e reaplicado em outra peça. Já a carcaça é triturada e reciclada. PNEUS COM MENOS IMPACTO As empresas Suzano e Gripmaster criaram o Projeto Elastômero para aplicação do polímero elástico nos pneus das máquinas que trabalham na produção de eucalipto. Entre os principais benefícios estão o aumento SUSTENTABILIDADE INSTITUCIONAL DESAFIO DA COMUNICAÇÃO Cuidar da imagem do setor é uma das prioridades do agronegócio para a presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Teresa Vendramini. Ela destacou o tema, entre vários outros pontos, durante um debate sobre desafios e perspectivas do agronegócio em 2022, realizadono início de fevereiro pela KPMG e pelo escritório FCAM Advogados. De acordo com a dirigente, tem sido desafiador falar sobre as atividades agropecuárias com o público dos grandes centros urbanos, e em alguns casos até frustrante. A julgar pelas várias tentativas de aprimorar esse diálogo, pode ser uma questão de sintonia, persistência e recursos para tal comunicação. Rural185_Porteira.indd 9 15/03/22 5:48 AM Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS P O R T E I R A A B E R T A 10 DINHEIRO RURAL/185-MARÇO/ABRIL-2022 POLÍTICA MINISTRA “PROGRESSISTA” Em abril, a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, vai se descompatibilizar do cargo para disputar as próximas eleições. E já vai sob nova legenda: estava marcada para o dia 20 de março a cerimônia de sua filiação ao PP (Partido Progressistas). Tereza Cristina deixa o DEM após a junção com o PSL para a criação do partido União Brasil. Resta saber se a corrida que ela começa agora será por uma vaga no Senado ou para o cargo de vice-presidente na tentativa de reeleição de Jair Bolsonaro. Entre os nomes cotados para substituí-la, o mais comentado nos bastidores é o do secretário- executivo da pasta, Marcos Montes. AGRICULTURA REGENERATIVA O primeiro cultivo de café arábica do mundo a receber a certificação de agricultura regenerativa Regenagri está no Brasil. Mais exatamente em Minas Gerais, na cidade de Patrocínio. A Fazenda Santa Cruz da Vargem Grande, propriedade do Grupo AgroBeloni, recebeu o reconhecimento da empresa britânica Control Union. Para o diretor da produção cafeeira da empresa, Fernando Nogues Beloni, esse momento único é consequência de um processo que vem ocorrendo naturalmente para equilibrar agricultura e preservação do meio ambiente. “A certificação foi instigada a partir da comercialização do nosso café pela Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado(Expocaccer) a uma empresa francesa que externou esse interesse”, disse. CAFEICULTURA SETOR CRESCE DE NOVO Segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), o setor cresceu 18% em 2021 na comparação com 2020. Para o vice-presidente executivo da entidade, Emilio Salani, a boa notícia vai além do número em si. Assim como para outros segmentos ligados ao agronegócio, o ano passado foi bastante desafiador por conta do câmbio, da escassez de insumos e até de embalagens. “Olhando horizontalmente, não houve uma indústria que não tenha passado por aumento do custo”, afirmou. O avanço resulta, em boa parte, pelo compromisso dos pecuaristas com a produtividade. “Na produção de um boi com 450 quilos, a saúde não passa de 3% das despesas.” SAÚDE ANIMAL AG ÊN C IA B R AS IL /E B C Rural185_Porteira.indd 10 15/03/22 5:48 AM Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS 11DINHEIRO RURAL/185-MARÇO/ABRIL-2022 CNA TEM ESCRITÓRIO EM DUBAI A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) passou a ter presença física em Dubai, nos Emirados Árabes. O objetivo é fomentar exportações do agronegócio brasileiro para Ásia e Oriente Médio, por meio de apoio a empresários e produtores rurais. A entidade foi acolhida pela Agência Paulista de Promoção de Investimentos e Competitividade (InvestSP), que tem esse escritório desde 2020. Nesse momento do comércio global, todo e qualquer apoio é muito bem-vindo para o agro nacional. INTERNACIONAL AGFINTECH META DE R$ 1,2 BILHÃO EM CRÉDITO O balanço da TerraMagna em 2021 foi bastante animador para seus fundadores, Rodrigo Marques e Bernardo Fabiani. No ano passado, a plataforma de financiamento BNPL (do conceito “buy now pay later” ou “compre agora e pague depois”) incorporada para a agricultura negociou R$ 700 milhões de crédito para compra de insumos — defensivos, sementes e fertilizantes. O início de 2022 ampliou o otimismo, com o recebimento de um aporte de R$ 220 milhões (US$ 40 milhões) em novos fundos de capital e dívida do SoftBank Latin America Fund, Shift Capital e Milenio Capital, com a participação de investidores anteriores. Com isso a expectativa em relação a 2022 subiu para R$ 1,2 bilhão em crédito, crescimento maior que 70%. Vale considerar que antes de terminar o primeiro bimestre deste ano o mundo ficou bem diferente: em janeiro não se falava em guerra. VENTRE DE OURO Um óvulo da égua árabe FT Shaella foi vendido por mais de R$ 4,5 milhões no Qatar (ou 3,2 milhões Riyals em moeda local). O negócio foi fechado no início de fevereiro, durante o prestigiado leilão Katara Arabian Horse Auction. A fêmea nasceu no Haras FT (Boituva, SP), propriedade de Flávia Torres, e foi vendida bem cedo para o criatório Dubai Stud, nos Emirados Árabes. FT Shaella virou campeã mundial da raça e gerou outros animais vencedores. “Eu acreditava muito que ela seria uma égua especial, tive que deixá-la ganhar o mundo”, disse Flávia. GENÉTICA Rural185_Porteira.indd 11 15/03/22 5:48 AM Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS DINHEIRO RURAL/185-MARÇO/ABRIL-202212 FO TO : C LA U D IO G AT TI PEDRO FERNANDES, diretor de Agronegócio do Itaú BBA “ESTAMOS NO COMEÇO DA DESCENTRALIZAÇÃO DAS FINANÇAS PARA O AGRO” Apenas no último ano, a carteira do agronegó-cio do Itaú BBA passou de R$ 42 bilhões para R$ 60 bilhões. Mas os esforços do banco em atender o setor são ainda mais estruturais com a criação de produtos específicos e o recente lança- mento do primeiro Fiagro da instituição, em 8 de março. “Essas ações mostram a dimensão que o setor tem ganhado para nós”, afirmou Pedro Fernandes, diretor de Agronegócio do Itaú BBA, nesta entrevista exclusiva à RURAL. POR LANA PINHEIRO Com taxa de crescimento próxima de 10% ao ano, o agronegócio demanda volume de crédito que o governo não é capaz de subsidiar. A saída para o impasse está no mercado financeiro, que enfim percebeu que o agro é um bom negócio Rural185_Verdes/Pedro Fernandes.indd 16 15/03/22 5:43 AM Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS Fiagro e, quando o instrumento foi lançado, tínhamos dois caminhos. Ou a Itaú Asset Management criava todas as competências para montar um Fiagro ou a gente faria o ecossistema do Itaú trabalhar da melhor forma. Escolhemos a última opção. No Fiagro Rural 11 que estamos lançando, a área de agronegócio presta consultoria para o gestor. Isso significa que fazemos toda a parte de seleção, avaliação e indicação dos ativos. Essa nossa capacidade de originação, de entender o que está acontecendo no agronegócio graças às 300 pessoas que vivem o setor 365 dias por ano, nos dá a pos- sibilidade de levar as melhores recomendações para os ges- tores do Fiagro decidirem onde alocarão os recursos. Dentro das novas ofertas, cresce também a emissão de títulos verdes no agronegócio. Como o Banco enxerga este mercado? A jornada de produtos verdes se tornou central em 2021 e no Itaú fizemos uma mudança importante: sair de uma área que só pensa sustentabilidade, para que o ESG se tornasse uma área estratégica. Então a área de produtos verdes está ligada à área de agronegócio e não institucional. Essa foi a maneira pela qual consegui- mos canalizar os compromis- sos do banco e toda a força que a sociedade civil coloca sobre a agenda para alterar a realida- de do cliente. Quais soluções o banco oferece alinhados aos critérios ESG? Nossa definição do que são pro- dutos verdes foi construída com a Imaflora onde estabele- cemos uma régua de cinco frentes que queremos atacar. Quais são elas? Agricultura de Baixo Carbono, Eficiência Energética, Eficiência de Recursos Hídricos, Biodiversidade e Bem- Estar Animal. Em dezembro de 2021 lançamos o primeiro produto na linha de Biodiversidade na frente de conserva- ção. O Reserva Legal+ é destinado ao produtor que tem um percentual de vegetação nativa dentro de sua propriedade acima do que é exigido pelalegislação. A nossa primeira operação de Reserva Legal+ foi de R$ 1 milhão o que mostra que é possível fazer operações com tíquetes mais reduzidos em relação com outros produtos verdes. Queremos democra- tizar o acesso a produtos ESG, mesmo que a gente abra mão do nosso retorno em alguns casos. E para as outras linhas? Os produtos estão sendo estruturados. Uma das nossas grandes preocupações é determinar como reconhecer a RURAL — De dois anos para cá, há uma aproximação entre o campo e a Faria Lima. O que explica esse movimento? PEDRO FERNANDES — Do lado do agronegócio há uma necessidade de capital que aumenta mais rapidamente do que crescem as fontes oficiais de financiamento. E o merca- do de capitais passa a enxergar melhor a importância do agro dentro da economia brasileira. Mais de 70% da produção de alimentos é feita pela agricultura familiar. O mercado de capitais é acessível a eles? As indústrias de açúcar-etanol e a de proteína animal foram as primeiras a organizar a governança corporativa. A partir daí passamos a ver os outros elos da cadeia com maior nível de acesso ao mercado de capitais. Mas ferra- mentas como Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA), debêntures e notas comerciais exigem um tíquete mínimo alto para as opera- ções, o que acaba excluindo os pequenos e médios. Como atender a demanda desse público por crédito? Temos visto o crescimento de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) patrocinados por empresas de insumos que têm feito esses recursos chegarem às peque- nas revendas e aos seus clien- tes. Além disso, desde o final de 2021, observamos os Fundos de Investimento das Cadeias Agroindustriais (Fiagros) sendo levantados, o que promoveu uma queda relevante no volume mínimo para as transações. A partir daí, empresas e produtores de porte médio passarão a ter mais acesso a novos bolsos de financiamento. Estamos no começo de uma longa jornada da descentralização das finanças para o agro. Em fevereiro, a cinco meses para o fim da safra, o BNDES sus- pendeu da contratação do crédito rural subsidiado. De onde virão os recursos que os produtores precisam? Essa é uma dor que vem do aumento da necessidade de financiamento dos produtores. O preço dos insumos aumen- tou, ele precisa de mais dinheiro para o pacote da safra e o volume de crédito é finito. Esses recursos muito provavel- mente vão vir em grande parte da indústria de insumos através dos barters e dos bancos por meio das Cédulas do Produto Rural (CPRs). No dia 8 de março, vocês lançaram o primeiro Fiagro do Itaú BBA. Quais são as expectativas do banco? Acompanhamos toda a agenda legislativa de criação do “A regularização fundiária é uma dívida que o País tem com quase 1 milhão de agricultores” DINHEIRO RURAL/185-MARÇO/ABRIL-2022 13 AG ÊN C IA E S TA D O Rural185_Verdes/Pedro Fernandes.indd 17 15/03/22 5:43 AM Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS Sem avanços nas políticas ambientais, crescem as ameaças de embargos a commodities brasileiras. Qual o impacto se o fluxo de comércio for interrompido? Trabalhando com o agronegócio há 20 anos, eu diria que pode- ríamos evitar quase todos os embargos. Isso passa por dois pontos. O primeiro é contarmos melhor a nossa história. É deixar mais transparente o quanto nossas organizações têm gasto tempo e recursos dentro da agenda ESG. Não dá para o mercado continuar pensando que a laranja produzida em São Paulo tem relação com o desmatamento na Amazônia. E o segundo? O agro precisa ter um maior nível de intransigência com o que são práticas ilegais. É necessário ter clareza do que pre- cisa ser tratado pelo ministério da Agricultura e o que é demanda para o da Justiça. O setor tem que ter mais energia para expelir players e indivíduos que prejudicam os produ- tores. A gente viu a veemên- cia do cancelamento e da con- denação de um grande banco em função de um posiciona- mento sobre pecuária, mas não vemos a mesma veemên- cia para excluir produtores com práticas criminosas. A despeito de todos esses desafios, a resiliência do agro vem se confirmando por meio de bons resultados. O que podemos esperar para o encer- ramento da Safra 2021/2022? Estamos acompanhando, com preocupação, essa varia- bilidade de produtividade especialmente na safra verão. Mas, ainda assim, mesmo com performances heterogê- neas será uma safra bastante rentável. A safrinha, por sua vez, vem sendo plantada em uma janela muito melhor do que no ano passado. Então a expectativa é boa. Quando a gente olha para proteína ani- mal, principalmente aves e suínos, teremos uma receita muito comprimida, com margem operacional negativa. E para a safra 2022/2023? Teremos um aumento importante no custo de plantação o que vai obrigar uma tomada de recursos maior por parte dos produtores em um cenário de juros mais elevado. Quando olhamos as relações de troca, a gente tem uma mar- gem da safra de verão convergindo para uma média históri- ca que não é tão alta como nas últimas três safras. Ainda assim bastante boa, mas sobrará menos. externalidade positiva e como conseguir fazer a verificação de uma maneira economicamente eficiente. Um dos princi- pais desafios para o crédito de carbono é medir o nível de fixação do solo. O custo da verificação acaba tornando a monetização de uma melhor prática muito difícil. Durante a COP-26, o governo assumiu o compromisso de reduzir os níveis de emissão de CO2 em 50% até 2030, reduzir a emis- são de metano e caminhar para o desmatamento zero. Como esses compromissos afetarão o agro? A primeira coisa que precisa ficar clara é a centralidade que o agronegócio tem na agenda. O setor sofre os impactos do clima e contribui para a sua mudança. Mais de 40% das emissões de gases de efeito estufa do Brasil vêm de mudanças de uso de solo. Dentro do banco, trabalhamos para termos protocolos mais adaptados à agricultura tropical e com obje- tivos atingíveis e monetizáveis. Existe hoje uma movimentação do governo em apoiar o agro na transição para uma economia de baixo carbono? O governo tem iniciativas muito boas como a CPR Verde em que reconhece o lastro flo- restal como um ativo a ser financiado, além de outras para reconhecer o serviço ambiental. Só que essas inicia- tivas ainda não produziram os efeitos esperados. São projetos ambiciosos que necessitam de uma alocação de recursos rele- vante, mas há um descompas- so entre o que pessoas e gover- no querem e a capacidade de alocar esse capital. Faltam recursos para que a agricultu- ra de baixo carbono seja imple- mentada em escala e há também a necessidade de corrigir decisões tomadas no passado. Como quais? A regularização fundiária é uma dívida que o País tem com quase 1 milhão de agricultores. É preciso resolver este pro- blema tanto por uma questão social como também para garantir o nível de organização necessário para poder remu- nerar por serviços ambientais. Se não conseguimos nem dar acesso a crédito para quem não tem título de terra, como remunerar por serviços ambientais? É preciso implementar uma série de iniciativas, mas é necessário também resolver problemas da década de 1980. E aí visões antagônicas dentro das esferas do governo nos impedem de avançar. E N T R E V I S T A DINHEIRO RURAL/185-MARÇO/ABRIL-202214 PEDRO FERNANDES “O agro precisa ter um maior nível de intransigência com o que são práticas ilegais” IS TO C K Rural185_Verdes/Pedro Fernandes.indd 18 15/03/22 5:43 AM Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS /nutrisafras Fertilizantes superiores do solo à safra. LINHA PERFORMANCE PEÇA AO SEU REVENDEDOR E COMPROVE. SE É MOSAIC FERTILIZANTES, FAZ TODA A DIFERENÇA. Saiba mais em: www.nutricaodesafras.com.br PERFORMANCE é a linha de tecnologias da Mosaic Fertilizantes que nutre a sua terra e os seus resultados. POTÊNCIA, EQUILÍBRIO e INTELIGÊNCIA em soluções de performance superior: Nitrogênio + fósforode alta eficiência + enxofre imediato e gradual = grânulo único com maior absorção e aproveitamento de nutrientes. Magnésio solúvel + enxofre + potássio = nutrientes solúveis, gerando colheitas maiores e com melhor qualidade. Potássio + 2 tipos de boro, liberados de forma imediata e gradual = nutrição em todo o ciclo da cultura. /nutricaodesafras /nutricaodesafras MG_0026_22A_Anuncio_LinhaPerformance_RevDinheiroRural_202x266_AF1.indd 1MG_0026_22A_Anuncio_LinhaPerformance_RevDinheiroRural_202x266_AF1.indd 1 10/03/22 14:5810/03/22 14:58 Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS Siga também pelas redes sociais Para anunciar O jornalismo da Editora Três sempre contribuiu para o fortalecimento do Brasil. Entregamos aos leitores o acesso completo à informação e opinião, de maneira ágil e precisa, seja pela internet, redes sociais ou na versão impressa. Por isso, para se manter bem informado e capaz de dialogar sobre os conteúdos relevantes para a sociedade, escolha nossas marcas. Plataforma de informação e conteúdo Uma revista semanal com jornalismo de qualidade, para ajudar o leitor a esclarecer o que é falso e o que é verdadeiro diante dos acontecimentos do Brasil e do mundo. A mais completa revista sobre o agronegócio, informando e contribuindo para fortalecer os empresários e investidores do campo. Siga pelas redes sociais as notícias de última hora, a atualização dos fatos e novidades quentíssimas a qualquer hora e qualquer lugar. Conecte sua marca ao público mais qualifi cado do segmento. Entre em contato com nossa equipe e anuncie. (11) 3618-4269 Já nas melhores bancas de sua cidade. Única revista semanal de negócios, economia e fi nanças do País, avaliando e informando sobre tudo o que acontece no mercado. www.istoedinheiro.com.br www.dinheirorural.com.br www.istoe.com.br A melhor informação para os apaixonados por velocidade, com notícias sobre os esportes a motor, conselhos para o consumidor e avaliações detalhadas sobre os carros à venda no Brasil. www.motorshow.com.br Todas as informações sobre o mundo das artes visuais e cultura contemporânea no Brasil e no mundo, com projeto gráfi co ousado. www.select.art.br www.revistamenu.com.br www.revistaplaneta.com.br Ca pa s il ust rat iva s SAC - Serviço de Atendimento ao Cliente São Paulo (11) 3618-4566 • Outras capitais 4002-7334 • Interior 0800 888-2111, de segunda a sexta das 10h às 16h20 e sábados das 9h às 15h. CALHAU INSTITUCIONAL_V114.indd 2-3 3/15/22 10:19 PM Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS Siga também pelas redes sociais Para anunciar O jornalismo da Editora Três sempre contribuiu para o fortalecimento do Brasil. Entregamos aos leitores o acesso completo à informação e opinião, de maneira ágil e precisa, seja pela internet, redes sociais ou na versão impressa. Por isso, para se manter bem informado e capaz de dialogar sobre os conteúdos relevantes para a sociedade, escolha nossas marcas. Plataforma de informação e conteúdo Uma revista semanal com jornalismo de qualidade, para ajudar o leitor a esclarecer o que é falso e o que é verdadeiro diante dos acontecimentos do Brasil e do mundo. A mais completa revista sobre o agronegócio, informando e contribuindo para fortalecer os empresários e investidores do campo. Siga pelas redes sociais as notícias de última hora, a atualização dos fatos e novidades quentíssimas a qualquer hora e qualquer lugar. Conecte sua marca ao público mais qualifi cado do segmento. Entre em contato com nossa equipe e anuncie. (11) 3618-4269 Já nas melhores bancas de sua cidade. Única revista semanal de negócios, economia e fi nanças do País, avaliando e informando sobre tudo o que acontece no mercado. www.istoedinheiro.com.br www.dinheirorural.com.br www.istoe.com.br A melhor informação para os apaixonados por velocidade, com notícias sobre os esportes a motor, conselhos para o consumidor e avaliações detalhadas sobre os carros à venda no Brasil. www.motorshow.com.br Todas as informações sobre o mundo das artes visuais e cultura contemporânea no Brasil e no mundo, com projeto gráfi co ousado. www.select.art.br www.revistamenu.com.br www.revistaplaneta.com.br Ca pa s il ust rat iva s SAC - Serviço de Atendimento ao Cliente São Paulo (11) 3618-4566 • Outras capitais 4002-7334 • Interior 0800 888-2111, de segunda a sexta das 10h às 16h20 e sábados das 9h às 15h. CALHAU INSTITUCIONAL_V114.indd 2-3 3/15/22 10:19 PM Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS 16 C A P A POR LANA PINHEIRO ALÉM DOS 20% DE FERTILIZANTES QUE O BRASIL IMPORTA DO PAÍS DE VLADIMIR PUTIN, A GUERRA CONTRA UCRÂNIA COLOCA EM XEQUE PLANOS DE EMPRESAS RUSSAS INSTALADAS EM SOLO NACIONAL russos no Brasil Planos em pausa Rural185_Mat.Capa_RUSSOS.indd 2 15/03/22 5:36 AM Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS M O N TA G EM C O M F O TO S I S TO C K uando foi à Rússia em visita ofi- cial a Vladimir Putin, duas sema- nas antes de a guerra contra a Ucrânia eclodir, o presidente Jair Bolsonaro atendia a pedidos enfáticos da ministra Tereza Cristina. À época, a dona da pasta da Agricultura, Pecuária e Abastecimento tinha na manga uma grande cartada como sua última ação no comando do ministério: anunciar um audacioso plano para aumentar a produ- ção de fertilizantes produzidos em terri- tório brasileiro. E a Rússia estava inti- mamente ligada a isso. A articulação dessa agenda movimen- tava os bastidores de Brasília há meses. Em salas fechadas do Mapa e da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, representan- tes de nove ministérios e entidades como Embrapa e Ibama se debruçavam Q Rural185_Mat.Capa_RUSSOS.indd 3 15/03/22 5:36 AM Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS 20 DINHEIRO RURAL/185-MARÇO/ABRIL-2022 C A P A sobre documento escrito em 2008, na gestão do então ministro da Agricultura Reinhold Stephanes, após uma grave crise econômica global que levou a um pico de alta no preço de fosfato, da amô- nia e do potássio. Aquele primeiro texto estava agora servindo de base para a redação do Plano Nacional de Fertilizantes (PNF) que, inicialmente, estava programado para ser anunciado como uma espécie de presente de despe- dida de Tereza Cristina ao agronegócio, o que deveria acontecer poucos dias antes de sua desincompatibilização do governo para concorrer ao Senado. Em paralelo ao trabalho burocráti- co dos técnicos e especialistas, a dama de aço do governo Bolsonaro intensifi- cou o que o time de trabalho batizou de “A Diplomacia dos Fertilizantes”. Primeiro destino: Rússia. Em 17 de novembro, a ministra se encontrou com representantes de empresas locais de fertilizantes e do governo Putin para uma reunião que tinha como objetivo oficial garantir o fornecimento do insu- mo a preços palatáveis aos produtores brasileiros. Após o encontro com o ministro do Desenvolvimento Econômico da Rússia, Maksim Reshetnikov, a própria ministra decla- rou o tom da conversa. “O ministro reforçou que o Brasil é um parceiro estratégico e que podemos ficar absolu- tamente tranquilos com o fornecimento de potássio e fósforo”, disse na ocasião. NOVO RUMO Segundo fontes da Esplanada dos Três Poderes, no entan- to, o encontro serviu para uma pré- -apresentação do PNF como ferramen- ta para, de forma geral, atrair o capital russo para o mercado de fertilizantes brasileiro e, em particular, para acele- rar a compra da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados (UFN3) da Petrobras em Três Lagoas (MS) pelo grupo russo Acron. Segundo o diretor da Efficienza Negócios Internacionais Fábio Pizzamiglio, quando começou a trabalhar no PNF, ano passado, o foco do governo era a Rússia. “Parecia uma boa ideia”, afirmou o executivo. Segundo o diretor de Projetos do Mapa, Luis Rangel, o plano mostrava uma ação do governo em um ponto nevrálgi- copara os russos: “Se o Brasil tem um plano estatal para o setor, então o NPK Sem produção suficiente para atender a demanda interna, agricultores importam 85% de seus fertilizantes Duas semanas antes da eclosão da guerra contra Ucrânia, grupo russo havia anunciado a compra da fábrica de fertilizantes da Petrobras VLADIMIR KUNITSKY CEO DA ACRON Após aquisição da Heringer por US$ 554,6 milhões em 2021, a empresa trabalhava para aumentar a participação no mercado brasileiro para 20% VLADIMIR RASHEVSKY CEO DA EUROCHEM Companhia de US$ 2,7 bilhões de faturamento previa aumentar a força no Brasil após a compra da FertiGrow em dezembro do ano passado VITALY LAUK CEO DA URALKALI IS TO C K Rural185_Mat.Capa_RUSSOS.indd 4 15/03/22 5:37 AM Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS anunciados pelo vice-pre- sidente da Acron, Vladimir Kantor, que pre- via começar as obras da unidade ainda em julho? Até os maiores especialis- tas do setor como Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura e atual coor- denador do Centro de Agronegócios da FGV, não têm uma resposta clara. “A Acron agora é uma interrogação”, afirmou. A empresa russa não se manifestou mais sobre o assunto, tampouco o fez o governo federal. Em funcionamento, a UFN3 teria capacidade de produção de 3,6 mil toneladas de ureia e de 2,2 mil toneladas de amônia por dia, ou cerca de 1,3 milhão e 803 mil toneladas anuais, respectivamente. A produção é irrisória: não chegaria nem perto de atender a demanda do mercado doméstico de mais de 45 milhões de toneladas de fertilizan- tes em geral, o que coloca o Brasil no posto de quarto maior consumidor do planeta, absorvendo 8% da produção de desde 2019. Para o advogado especialis- ta em governança Fernando Pessoa, a decisão do Planalto em manter a ida do presidente brasileiro foi uma atitude acertada, ainda mais diante do fato de que do ponto de vista do con- flito geopolítico o Brasil é um agente irrelevante. “Cancelar a viagem só iria irritar o presidente da Rússia que nos vende 20% dos fertilizantes que consu- mimos e que tinha acabado de anunciar um investimen- to no Brasil”, afirmou. Tudo ia bem, mas no dia 24 de fevereiro a guerra começou de fato. Sem que- rer, ao entrar na Ucrânia, a Rússia atingiu como um míssil o Ministério da Agricultura brasileiro. A narrativa em construção ganhou dúvidas. O que acontecerá com os planos 21DINHEIRO RURAL/185-MARÇO/ABRIL-2022 APÓS ESFORÇOS DO GOVERNO PARA ATRAIR INVESTIMENTOS RUSSOS, O BRASIL VÊ COMO INCERTO O FUTURO DAS EMPRESAS NO PAÍS investidor se sente seguro”, afirmou. Foi essa a segurança que Tereza Cristina foi dar aos russos. Menos de três meses depois, a pri- meira grande ação da Diplomacia dos Fertilizantes surtia efeito. No dia 4 de fevereiro, em visita a Três Lagoas (MS), cidade onde as obras da fábrica de ferti- lizantes da Petrobras que já consumi- ram R$ 3 bilhões em investimento estão paradas desde 2014, Tereza Cristina anunciava: “Concluímos a venda da UFN3 para a Acron”. Ali, o passo inicial para que a meta de reduzir a dependên- cia da importação de fertilizantes de 85% para 60% em 30 anos, como prevê o PNF, era dado. A narrativa estava se construindo como planejado. A etapa seguinte era um apertar de mãos entre os presidentes dos dois países, Rússia e Brasil, nas terras de lá. Foi neste contexto que a viagem de Jair Bolsonaro à Moscou foi agendada para o dia 14 de março. Cancelar a visita a Putin, que havia sido combinada muito antes da escalada do conflito com a Ucrânia e como queriam os Estados Unidos, seria, portanto, uma desfeita ao país que livrava a Petrobras de um ele- fante branco do qual tentava se desfazer VISITA Cumprimento dos presidentes Bolsonaro e Putin foi parte do ritual da vinda da Acron para o País G AB R IE L LO R D EL LO /M O S AI C O I M AG EM IS TO C K VENDA FINALIZADA Após duas tentativas, Dalton Heringer conclui venda da empresa aos russos Rural185_Mat.Capa_RUSSOS.indd 5 15/03/22 5:37 AM Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS 22 C A P A mundial de fertilizantes. Ainda assim, o começo das atividades seria uma boa sinalização para outros investidores olharem para o País, ainda mais se o pontapé inicial das obras acontecesse próximo à data inicialmente programa- da para a divulgação do Plano Nacional de Fertilizantes. Para o diretor técnico adjunto da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Reginaldo Minaré, o plano indica uma mudança significativa na vontade política para a construção de uma indústria essencial ao agro. “Nos últimos 25 anos não houve esforço do governo para a construção dessa indús- tria, a despeito da alta demanda inter- na.” Por uma infeliz coincidência, esse novo arcabouço chega em um momento em que os russos, detentores das melho- res tecnologias de produção, estão com outras prioridades e sofrendo com san- ções econômicas que podem prejudicar até mesmo as empresas de lá já instala- das por aqui. RUSSOS NO BRASIL Este é o caso da Uralkali. Considerada a 9ª maior produ- DINHEIRO RURAL/185-MARÇO/ABRIL-2022 Mercado para poucos Quatro empresas dominam o mercado interno de fertilizantes Alta dependência Fluxo que vem da Rússia (Fonte: Agrolink, dados mais recentes são de 2017) *fosfato monoamônico 1 2 Yara 25% Mosaic 20%Fertipar 15% Heringer 13% Outros 27% 75% 55% 94% 25% 45% 6% Nitrogênio: Fósforo: Potássio Importação Produção 3 Ureia: 98% Potássio: 26% Nitrato de Amônio: 18% MAP* 24% tora de fertilizantes à base de potássio do mundo com faturamento de US$ 2,7 bilhões em 2020, a empresa anunciou em dezembro do ano passado a compra de 100% da UPI Norte, acionista da maior distribuidora brasileira de fertilizantes, a FertiGrow. Em comunicado emitido na época, o CEO da Uralkali Trading, Alexander Terletsky, afirmou que a aqui- sição fazia parte de um plano de fortaleci- mento do grupo nos maiores mercados compradores do insumo. “O Brasil é um dos maiores consumidores de fertilizan- tes minerais, então a aquisição da FertGrow ajudará a otimizar significati- vamente as operações da Uralkali na América Latina”, disse Terletsky. A reportagem tentou contato com a empre- sa para questionar sobre os possíveis impactos da guerra em sua operação bra- sileira, mas não obteve sucesso. A Uralkali não foi a única a enxergar na expansão do agronegócio nacional, que deve alcançar Valor Bruto de Produção (VBP) de US$ 1,2 trilhão este ano, como uma grande oportunidade para a supremacia russa no mercado global de fertilizantes. No mesmo mês de dezem- Rural185_Mat.Capa_RUSSOS.indd 6 15/03/22 5:37 AM Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS cando um contato direto com seus consu- midores finais, como o produtor brasilei- ro”. Parecia o casamento perfeito. IMPORTAÇÃO Para o agronegócio nacional, a situação fica ainda mais grave uma vez que 20% da importação brasileira de fertilizantes vem da Rússia e encontrar novos fornecedores não será fácil. Segundo o sócio da Santos Neto Advogados, Frederico Favacho, “ainda que China e Canadá pudessem fornecer parte dos insumos, a produção nestes países é justa”. Por isso, segundo ele, a substituição não seria possível no curto prazo. Roberto Rodrigues, da FGV, ainda aponta a Jordânia como uma opção, mas essa alternativa é também inviável com a agilidade necessária. “Não temos relações com eles e cons- truí-las leva tempo”, afirmou. Neste cenário, o Plano Nacional de Fertilizantes ganha mais peso. Para Fábio Pizzamiglio, da Efficienza, “o governo começou a agir, mas o plano é de longo prazo”. Segundo estipulado no próprio PNF, diminuir a dependência do Brasil para 60% levaria cerca de 30 anos. Ainda entram nessa conta, a necessidade de mudanças regulatórias pro- fundas já que, especialmente em potássio, a extração dependeria de minas em ter- ras protegidas, comoas indí- genas na Amazônia. Uma situação que Jair Bolsonaro tem usado para tentar emplacar o Projeto de Lei 191/2020, que libera o garim- po nestes territórios. E aí o Brasil enfrentará outro pro- blema com o recrudescimen- to da União Europeia em barrar a compra de commo- dities agrícolas ligadas ao desmatamento. Além de um desastre sob qualquer ângulo huma- nitário, a guerra da Rússia impactou o pacífico e funda- mental agronegócio brasi- leiro colocando a segurança alimentar do planeta sob real ameaça. capital russo no mercado internacional, uma vez que foram excluídos do sistema Sociedade de Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais (Swift),além das incertezas sobre a prioriza- ção da utilização de recursos. Todas essas pontas soltas impactam o Brasil em um momento em que o País se preparava para colher melho- rias no ambiente de negócios feitas nos últimos anos e de uma vontade da Rússia de diversificar a origem de sua produção. Para o sócio do escritório Feijó Lopes, Lúcio Feijó Lopes, a conjunção da vontade dos dois países, no pré-guerra, teria chance de atrair novas tecnologias para o desenvolvimento do setor. “Nos últimos dez anos, o Brasil aperfeiçoou a Lei da Liberdade Econômica, a Lei do Agro, e garantiu cumpri- mento de contratos”, afirmou. No mesmo momento, disse Lopes, a Rússia “fazia um movimento para verticalizar a cadeia de fertilizantes, bus- 23DINHEIRO RURAL/185-MARÇO/ABRIL-2022 bro de 2021, o grupo russo EuroChem, que desde 2016 já tinha o controle acio- nário da Fertilizantes Tocantins, anun- ciou a compra de 51,48% da Heringer em um negócio de R$ 554,6 milhões que foi celebrado por analistas como um passo importante para o aumento da competiti- vidade do setor. Dados sobre participa- ção de mercado de 2017 indicam que qua- tro grandes companhias dominam o setor no Brasil. A Heringer, na 4ª colocação com 13% de participação, está entre elas. Perde para a norueguesa Yara (25%), para a americana Mosaic (20%) e para a brasileira Fertipar (15%). Os demais 26% são pulverizados. Agora, com a união, a expectativa do grupo EuroChem era alcançar 20% de participação no País. Diante do novo cenário, o coordena- dor do Mestrado Profissional em Agronegócio, Felippe Serigati, afirma que “o destino das empresas russas no Brasil é completamente incerto”. Fábio Pizzamiglio, da Efficienza, concorda, afi- nal não é claro como ficará a circulação de dinheiro russo no mundo. “Além da forte desvalorização do rublo, a Rússia terá que aumentar as reservas interna- cionais e repatriar divisas”, afirmou Pizzamiglio. Outras dúvidas dizem res- peito a ferramentas para a circulação do PLANO NACIONAL DOS FERTILIZANTES DEVE ATRAIR INVESTIDORES ESTRANGEIROS QUE MIRAM CRESCER NO 4o MAIOR MERCADO CONSUMIDOR DO INSUMO ESTRATÉGIA Ida da Ministra Tereza Cristina à Rússia inaugurou a Diplomacia dos Fertilizantes “Não houve esforço do governo para fortalecer o setor nos últimos 25 anos” REGINALDO MINARÉ CNA Rural185_Mat.Capa_RUSSOS.indd 7 15/03/22 5:37 AM Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS A G R O E C O N O M I A A R T E : E V A N D R O R O D R IG U E S frutos Rural185_Bimestre.indd 2 15/03/22 5:18 AM Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS o campo. O CEO da TerraMagna, Bernardo Fabiani, sintetiza o momento. “O produtor está com uma receita estacio- nada e com custos financeiros, operacio- nais e de produção em alta”, afirmou o executivo. Dentro da linha da receita, o compor- tamento do câmbio com a valorização do real nos últimos meses provocou o que Fabiani chamou de um “descasamento” com efeitos negativos para o campo: os insumos foram comprados com o dólar em alta, e a produção será vendida com a moeda americana em baixa. “O resultado será uma margem menor.” No período de IS T O C K 25DINHEIRO RURAL/185-MARÇO/ABRIL-2022 N o dia 24 de fevereiro, o mundo parou atônito diante da invasão militar da Ucrânia pela Rússia. A paralisia durou segundos. Não dava para ser mais do que isso. Era preciso agir. Um sinal veio do preço do trigo que fechou aquele mesmo dia no maior valor dos últimos doze anos, US$ 9,34 o bushel. Quase imediatamente, a esperança de que o mundo e o Brasil fos- sem começar a viver um período de preços mais estáveis com uma gradual recupera- ção econômica, após dois anos da pande- mia da Covid-19, caiu por terra. O agrone- gócio global, já certo de que sofreria com impactos diretos e indiretos do conflito, precisou sair do estado de choque rapida- mente para começar a traçar planos alter- nativos que garantissem a produção de alimentos mesmo caso o conflito se esten- da. Para lidar com essa crise, a melhor ferramenta que o produtor terá é uma gestão apurada em que um olho estará nos índices econômicos e o outro na lavoura. Diante do novo cenário, as projeções macroeconômicas anunciadas no fim do ano passado para este ano estão na ber- linda. O Itaú Unibanco já revisou a expectativa de crescimento do PIB Agro de 4% para 1,5%. “Tivemos uma piora no cenário nos últimos dois meses, o que provocou a revisão”, afirmou o economis- ta da instituição, Luka Barbosa. Já a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) estima alta entre 3% e 5%, na relação com 2020. Na conta, além dos impactos da guerra, está refletida a redução das estimativas de produção de soja e milho, culturas fortemente impac- tadas pela falta de chuvas no Sul do País. Mas o PIB do setor é somente um reflexo de um cenário econômico mais complexo que está afetando diretamente frutos EM UM ANO ESPECIALMENTE DESAFIADOR, O PRODUTOR BRASILEIRO DEVE ADMINISTRAR A PROPRIEDADE COM UM OLHO NA TERRA E OUTRO NOS INDICADORES POR LANA PINHEIRO INFLAÇÃO Preço do milho chegou ao maior valor da última década, US$ 9,34 o bushel ECONÔMICOS QUE FEREM E ALIMENTAM O CAMPO Rural185_Bimestre.indd 3 15/03/22 5:18 AM Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS A G R O E C O N O M I A um ano, o dólar passou de R$ 5,64 para R$ 5,15, considerando 1º de março de 2021 e a mesma data do ano corrente. Variação de 8,7%. O viés de baixa agora não é mais certo e a estimativa da CNA, que em sua primeira projeção para 2022 previa um câmbio de R$ 5,55, acaba de revê-lo para R$ 5,62 no fim do período. INFLAÇÃO Ao contrário da alta insta- bilidade cambial, a taxa básica de juro teve crescimento consistente. Na reu- nião de 17 de março de 2021, após nove meses de Selic estabilizada em 2%, o Banco Central (Bacen) iniciou movimento de elevação. A primeira alta não foi nada tímida com 75 pontos percen- tuais, para 2,75%. A agressividade se manteve e em março deste ano o juro ultrapas- sou a casa de dois dígitos pela primeira vez desde 2014 chegando a 10,75% com viés de alta. Se a tentativa era frear a inflação, o remédio nãosurtiu o efeito- desejado e o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) pas- sou dos 4,56% em janeiro de 2021 para os atuais 10,38%. Tudo isso se reflete ao produ- tor rural como aumento de custos. É esse o ponto que o consultor de Agro do Itaú BBA, Cesar de Castro Alves, aponta como críti- co para que empresários do campo consi- gam sair dessa crise com o menor dano possível. “Ninguém sabe direito o que acontecerá nas próximas semanas, mas os preços, sobretudo de fertilizantes, estão muito instáveis. É preciso acompanha- mento rigoroso”, afirmou. Só na primeira semana de conflito, além da alta do trigo, o preço do cloreto de potássio subiu 185%; da uréia, 138%; e do fosfato monoamônico, 103%, segundo a CNA. A encrenca agora é como amortizar esse impacto, diante de um mercado doméstico já no limite do preço dos ali- mentos. “Hoje no Brasil, não temos um ambiente que permita repassar custos”, afirmou Castro. Como fazer, então? A resposta não é fácil, mas é de conheci- mento geral: mergulhar nas despesas, cortar o supérfluoe acompanhar o desenrolar do cenário internacional pla- nejando e replanejando a atividade den- tro da porteira. “O produtor está com uma receita estacionada e com custos financeiros, operacionais e de produção em alta” BERNARDO FABIANI CEO DA TERRAMAGNA CUSTOS Alta dos fertilizantes impactará todas as lavouras em 2022/23 Mesmo com a guerra na Ucrânia e instabilidade climática no Brasil, o PIB agro deve crescer mais do que em 2021 2021 2022 PIB Brasil 4,50% 0,70% PIB Agropecuária 0,75% 2,6% PIB Agronegócio 9,37% de 3% a 5% Câmbio** (R$) 5,58 5,62 Selic 9,25% 11,75% IPCA 10,06% 5,4% VBP (R$) 1,12 trilhão 1,29 trilhão Tx Desemprego 13,20% 11,70% *Fonte CNA **Fim do período PARA FICAR DE OLHO Juros em alta e câmbio em baixa desafiarão gestão no campo. Rural185_Bimestre.indd 4 15/03/22 5:19 AM Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS Biológico é Koppert Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS A G R O E C O N O M I A ESCASSEZ DE CHUVAS AFETA ALGUMAS ÁREAS DESDE 2019, MAS SE INTENSIFICOU NO ÚLTIMO TRIMESTRE DO ANO PASSADO. GOVERNOS ESTADUAIS CALCULAM PREJUÍZOS FINANCEIROS E QUEDA NA PRODUÇÃO. PARA TENTAR REVERTER O CENÁRIO, BUSCAM AJUDA NO ÂMBITO FEDERAL PREJUÍZOS Região deve ter safra de grãos 12,7% menor do que na temporada passada, segundo dados da Conab ESTIAGEM CASTIGA O SUL POR ROMUALDO VENÂNCIO 28 DINHEIRO RURAL/185-MARÇO/ABRIL-2022 Rural185_O Sul sofre.indd 2 15/03/22 5:13 AM Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS R EU TE R S /D IE G O V AR A programa Avançar, que já soma R$ 4,5 bilhões em investimentos para atender diversos segmentos. Especificamente para a agropecuá- ria e para o desenvolvimento rural, são quase R$ 276 milhões. “Deste valor, R$ 201,4 milhões serão para a qualificação da irrigação. Ou seja, 73% do valor do Avançar na agro- pecuária será aplicado exatamente nesse tema que estamos discutindo”, afirmou o vice-governador gaúcho, Ranolfo Vieira Júnior. EFEITO CASCATA De acordo com relatório do Departamento de Eco- nomia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abaste- cimento do Paraná, a perda média na atual safra do estado pode ser de 39% para a soja, 36% no milho e 30% no feijão. Na região Oeste, onde o quadro é mais grave, a perspectiva de quebra é de 71% para a soja; 65%, milho; e 60%, primeira safra de feijão. O prejuízo para o período atual nas terras paranaenses, que vêm sendo afetadas por estiagem desde 2019, pode chegar a R$ 25,6 bilhões. Os efeitos também são sentidos na pecuária leiteira. O Paraná é o segundo maior produtor de leite do País, com mais de 4,3 bilhões de litros por ano, e tem sofrido com a estiagem mais intensa, os custos de produção mais altos, os preços em queda e a redução de consumo. Parte dos pecu- aristas reduziu o rebanho e alguns até abandonaram a atividade. Em Santa Catarina, sobretudo do extremo Oeste, Oeste e Meio-Oeste, a expectativa de chuvas entre dezem- bro do ano passado e fevereiro deste ano era de precipitações em torno de 150 mm, mas o índice não pas- sa de 40 mm, segundo dados do Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometerolo- gia (Ciram), órgão da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural do estado (Epagri). Os prejuízos da agricultura ca- tarinense com a estiagem já passam de R$ 3,7 bilhões, segundo a Epagri, somadas as culturas de soja, milho (grão e silagem) e feijão de primeira safra. O maior impacto é na soja, com quebra de 551 mil toneladas na safra — a expectativa era de colher mais de 2,5 milhões de toneladas — e perdas de R$ 1,5 bilhão. Na produção de milho grão, a redução na safra é de 34,5%, ou seja, 936 mil toneladas a menos, e prejuízos de R$ 1,4 bilhão. Essa quebra é muito significativa para a economia do estado, fortemen- te baseada na produção de aves e su- ínos, que têm o cereal como principal insumo da alimentação. O governo catarinense anunciou investimentos de R$ 150 milhões durante este ano para amenizar a situação. Todos os estados já apresentaram ao Mapa detalhes sobre o impacto da estiagem. A ministra Tereza Cristina visitou a região em janeiro, con- versou com produtores, lideranças do setor e membros dos governos locais, e se dispôs a oferecer socorro, juntamente com os demais órgãos do governo federal ligados ao agronegó- cio. “Estão comigo não só o time do Ministério da Agricultura, como tam- bém a Conab, a Embrapa, o Banco Central e o Banco do Brasil. Não há um modelo pronto do que o governo federal possa fazer, mas temos que dar agilidade para as medidas que já são previstas para a área”, disse ela em sua passagem pelo Paraná. ESTIAGEM CASTIGA O SUL A produção de grãos da região Sul, que repre- senta mais de 25% do total do País, terá queda de 12,7% na comparação da safra 2021/22 com a anterior. A estimativa da Companhia Nacio- nal de Abastecimento (Conab) é de que sejam colhidas cerca de 68 milhões de toneladas na temporada atual, ante as 78 milhões de toneladas do período anterior. Uma das razões para tal retração é a estiagem que se intensi- ficou no terceiro trimestre do ano passado e já gerou grandes prejuízos para os agricultores, pecuaristas e toda a cadeia. O que gover- nos estaduais, prefeituras e entidades de classe vêm fa- zendo para, no mínimo, ame- nizar os impactos é levantar em detalhes a real dimensão dessa situação, colocar em prática planos emergenciais e buscar a ajuda do Ministé- rio da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Ainda de acordo com a Conab, o Rio Grande do Sul é o estado com a maior redu- ção na produção. Enquanto a safra 2020/21 foi de 38 mi- lhões de toneladas, a 2021/22 será de 29 milhões de tone- ladas, queda de 24,7%. Em janeiro, 200 cidades gaúchas haviam decretado situação de emergência por conta da estiagem, conforme divulga- ção da Agência Brasil. Dados da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Sul (Emater- -RS) revelaram que 195 mil propriedades tiveram perdas na produção. Parte do socorro aos produtores rurais do Rio Grande do Sul vem do ÁGUA Governos locais investem em ações emergenciais para garantir abastecimento 29DINHEIRO RURAL/185-MARÇO/ABRIL-2022 Rural185_O Sul sofre.indd 3 15/03/22 5:13 AM Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS A G R O N E G Ó C I O S 3630 DINHEIRO RURAL/185-MARÇO/ABRIL-2022 “ N o início de fevereiro, a Mosaic Company divulgou os resultados de 2021. O faturamento cresceu 42% contra o ano anterior para US$ 12,4 bilhões. Já o Ebitda bateu recorde no ano fiscal com US$ 3,6 bilhões, alta de 129% na comparação ano a ano. Os números são globais, mas Corrine Ricard, presidente da Mosaic Brasil desde 2019, tem motivos bem locais para comemorar. Durante a apresentação dos números ao mercado, o CEO da companhia, Joc O'Rourke, atribuiu o bom desempe- nho da empresa a três fatores, dois deles com participação direta da exe- cutiva e seu time. “Como resultado de investimentos bem-sucedidos como nossa nova mina de potássio Esterha- CORRINE RICARD, PRESIDENTE DA MOSAIC BRASIL Investir em pastagens é uma relação de ganha- ganha para o solo, animais, produtores e meio ambiente” No horizonte da Mosaic, a meta é vender menos e melhor POR LANA PINHEIRO FOCO É AUMENTAR AS VENDAS DE FERTILIZANTES DE ALTA PERFORMANCE COM BENEFÍCIOS PARA DENTRO E FORA DA PORTEIRA Rural185_Mosaic.indd 2 15/03/22 5:09 AM Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS 31DINHEIRO RURAL/185-MARÇO/ABRIL-2022 31DINHEIRO RURAL/185-MARÇO/ABRIL-2022 zy K3 [Canadá], Mosaic Fertilizantes no Brasil, e nossa transformação de estrutura de custos, estamos gerando um enorme valor no ambiente atual”, afirmou. Além de estar à frente da unidade brasileira, Corrine contribuiu com mais de US$ 500 milhões em economias nos últimos anos. A redução de custos foi resultado de umprograma de sinergias imple- mentado na empresa após a compra da Vale Fertilizantes, uma operação finalizada em 2018 por cerca de US$ 2,5 bilhões, como explica a execu- tiva. “Quando o processo de aquisição foi finalizado, criamos um programa de transformação para integrar as duas operações e ganhar sinergias”, afirmou Corrine à RURAL. Na pri- meira etapa do projeto, as economias somaram US$ 330 milhões, volume superior ao objetivo de US$ 275 milhões. No ano passado, a segunda fase chegou à meta de atingir US$ 200 milhões após 21 meses de trabalhos — o plano previa 36 meses de prazo. Ao todo, desde 2018 a unidade brasileira já contribuiu com mais de meio bilhão de dólares em redução de custos e a presidente quer mais. “Acreditamos que ainda há oportunidades para ganhos de eficiência”, disse. Fazer mais com menos, por sinal, é um mantra dentro da Mosaic Brasil. E isso se aplica também à venda de produtos. Mas não é que a empresa, uma das maiores do País, queira perder participação em um dos maiores mercados para a compa- nhia. O objetivo é ensinar o produtor brasileiro a ter mais produtividade, usando menos fertilizantes. E aqui entra o grande esforço que a empresa tem feito para desenvolver produtos de alta performance. Demanda de mercado há. Em 2021, a empresa vendeu 2 milhões de toneladas dos fertilizantes mais eficientes e com menos impacto ambiental, crescimen- to de 20% em relação ao ano anterior. Os planos agora incluem destinar parte dos investimentos Capex, que em 2021 somaram US$ 1,2 bilhão, para o desenvolvimento de novas tecnologias que aliem produtividade e proteção ambiental. “Esse é um importante pilar dentro da nossa estratégia ESG”, afirmou Corrine. ESG Dentro dos planos de ter uma atuação cada vez mais responsável a empresa abriu as possibilidades de trabalhar em parceria com ou- tros players do mercado como está fazendo com a Bayer no programa PRO Carbono. “Queremos ajudar os produtores a melhorarem sua pro- dutividade e a também conseguirem aumentar a armazenagem de carbono no solo”, afirmou a presidente da Mosaic Brasil. Uma parceria com a Embrapa para a recuperação de pastagens degradadas também está em curso. Segundo a executiva, os produtores brasileiros têm uma gran- de oportunidade de usar fertilizantes apropriados para restabelecer a saúde do solo, tornando a terra um depósito de sequestro de CO2 e ainda acumu- lar ganhos econômicos com o aumento do peso do gado. “Temos estudos que comprovam que investir em pasta- gens é uma relação de ganha-ganha para o solo, animais, produtores e meio ambiente”, disse. Se a nova dinâmica só traz bene- fícios, porque demorou a vir? Para a executiva, a culpa é da própria indús- tria. “Quando discutíamos proteção ao meio ambiente, sempre pensávamos na Amazônia”, afirmou. “Somente de alguns anos para cá, começamos a estudar mais a fundo os benefícios da biodiversidade do solo, a capacidade de pastagens restauradas de seques- trar CO2 e os consequentes impactos no rebanho.” Estudo da Embrapa de junho de 2021 referenda a tese da executiva. De acordo com o material, um sistema de média lotação, de 3,3 unidades animais (UA) por hectare — uma uni- dade animal corresponde a 450 kg de peso vivo. —, em que a pastagem foi recuperada, foi capaz de neutralizar as emissões de gases de efeito estufa de bovinos e ainda gerar créditos de carbono correspondentes ao produzi- do por seis árvores de eucalipto. Esse foi um dos quatro sistemas montados na Embrapa Pecuária Sudeste (SP) para mensurar o ônus e o bônus de carbono, indicando o grau de susten- tabilidade ambiental da atividade. M O N TA G EM S O B R E FO TO C LA U D IO B EL L/ VA LO R Rural185_Mosaic.indd 3 15/03/22 5:10 AM Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS A G R O N E G Ó C I O S 32 DINHEIRO RURAL/185-MARÇO/ABRIL-2022 C arpas e tilápias produzidas, respectiva- mente, pela China e Egito. Foi assim que há cerca de 4 mil anos, ainda no período Paleolítico, o mundo começava a criar peixes em cativeiro. Nas Américas a atividade demorou a chegar. Só desembarcou no continente de forma comercial no século XX quando a tecnologia tornou a criação da tilápia, robalo e garoupa mais rentável. No Brasil, a profissionalização do setor ganhou força adi- cional em 2014 quando a Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR) foi criada trazendo COM A PISCICULTURA EM ASCENSÃO E UM PLANO DE DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE EM ANDAMENTO, BRASIL NAVEGA EM BOAS ÁGUAS QUANDO O ASSUNTO É PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE PEIXES DE CATIVEIRO O Brasil está para peixe mais governança para o setor. Desde então, a entidade registra aumento médio de 5% ao ano na produção de peixes em cativeiro. No ano passado, o ritmo se manteve com alta de 4,7% sobre o ano anterior. Foram 841 mil toneladas produzidas. “A piscicultura representa a ativi- dade de produção animal que mais cresceu nos últimos anos”, afirmou Francisco Medeiros, POR RENATA DUFFLES Rural185_Psicultura.indd 2 15/03/22 5:03 AM Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS 33 FO TO : IS TO C K DINHEIRO RURAL/185-MARÇO/ABRIL-2022 O CONSUMO MÉDIO NO BRASIL POR ANO É DE 5KG POR PESSOA INVESTIMENTO O emprego de recursos na área de pesquisa poderia significar aumento ainda maior na produção nacional Rural185_Psicultura.indd 3 15/03/22 5:03 AM Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS 34 DINHEIRO RURAL/185-MARÇO/ABRIL-2022 A G R O N E G Ó C I O S “A piscicultura representa a ativi-dade de produção animal que mais cresceu nos últimos cinco anos” FRANCISCO MEDEIROS PEIXEBR presidente-executivo da PeixeBR. A comparação com as demais proteínas de origem animal mostra o quanto a piscicultura pode evoluir. No mesmo ano em que o país pro- duziu 841 mil toneladas de peixes, foram 14,3 milhões ton de carne de frango, 4,7 milhões ton de suínos e 54 milhões de ovos. O baixo índice de consumo da carne branca no mercado interno é uma das razões para a discrepância. Os brasileiros consomem, em média, menos de 5 kg por habitante ao ano. A média global é de 20,5 kg per capita/ano. A outra explicação vem dos portos. Ainda que em expansão, a exportação nacional é baixa perante o imenso potencial que o Brasil tem. No ano passado foram embarcadas 9,9 mil toneladas, 49% a mais do que em 2020. Agora, um plano para acelerar a atividade no País está em curso. O PLANO Após sucessivas de- mandas dos criadores, a Secretaria de Aquicultura e Pesca (SAP) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) está, enfim, formulando uma política pública para estimular o campo aquícola brasilei- ro. O Plano Nacional de Desenvolvi- mento da Aquicultura (PNDA) tem como objetivos, atrair investimentos e impulsionar o desenvolvimento da atividade no País pelos próximos 10 anos. O diretor do Departamento de Ordenamento e setores produtivos da Aquicultura (DPOA) Maurício Pessôa afirmou que a proposta “vai servir como ferramenta para os in- vestidores estrangeiros identificarem que o Brasil tem um norte traçado”. Uma das estratégias para atrair o capital externo é o fomento à inova- ção, área que segundo o pesquisador científico do Instituto de Pesca da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (IP-APTA), Gianmarco David, começou a crescer recente- mente. “Só nos últimos cinco anos foi possível identificar um aumento na presença de tecnologia no setor", disse. Para a presidente da Sociedade Brasileira de Aquicultura e Biologia Aquática (Aquabio), Cintia Nakaya- ma, além de um plano institucional, o desenvolvimento do setor depende ainda do alinhamento dos interesses dos setores produtivo, acadêmico e financeiro. “À medida que o setor ga- nha força, o interesse na área de pes- quisa também cresce”, afirmou. Mais pesquisa e mais tecnologia permiti- riam ao Brasil aumentar a produção EXPANSÃO DO SETOR AMPLIA O INTERESSEPELA PESQUISA CIENTÍFICA SOBRE AS ESPÉCIES FO TO : TR IL U X Rural185_Psicultura.indd 4 15/03/22 5:03 AM Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS 35DINHEIRO RURAL/185-MARÇO/ABRIL-2022 de peixes nativos que hoje equiva- lem a somente 31,2% da produção nacional, com 262,3 mil toneladas. O volume representa queda de 5,85% em relação a 2020, movimento que a PeixeBR atribui a dois problemas enfrentados pelo setor que o PNDA deve solucionar: a regularização ambiental nos estados produtores e a necessidade de investimentos na infraestrutura de processamento e de insumos. Some na lista de desafios a tributação que encarece bastante os custos. Para o gerente da Fider Pescados Juliano Kubitza “uma ajuda importante seria a desoneração do PIS/COFINS da ração. Hoje ela leva essa taxa no preço que outras proteínas como frango e o suíno não têm”, afirmou. Segundo Maurício Pessôa, do DPOA, a Secretaria de Agricultura já reforçou a necessida- de de aprovar essa isonomia junto ao Ministério da Economia. Solucionar estes obstáculos traria vantagem competitiva aos produtores nacionais que diversificariam a oferta de produtos com opções que já caíram no gosto dos consumidores de algu- mas partes do País. Um exemplo é o tambaqui, peixe típico da Amazônia O setor de peixe de cultivo cresceu 4,7% em 2021 quando comparado a 2020: Fonte: Anuário 2022 da PeixeBr PRODUÇÃO EM ALTA: 2020 2021 802.930 Toneladas 841.005 Toneladas de gosto suave, mas bem particular. Foi justamente esta espécie que um estudo publicado pela Reviews in Aquaculture apontava como um peixe com potencial de crescimento da pro- dução similar à tilápia, o que poderia levá-lo a se ser uma típica commodity brasileira. Mas para isso é preciso que o Brasil veja a piscicultura do mesmo modo que o Chile olhou para o setor quando decidiu fazer do salmão chileno um sucesso mundial. A receita está pronta, só falta o peixe. FO TO : D IV U LG AÇ ÃO uma ajuda importante seria a desoneração do PIS/COFINS da ração” “ JULIANO KUBITZA FILDER PESCADOS Rural185_Psicultura.indd 5 15/03/22 5:03 AM Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS A G R O N E G Ó C I O S 3636 DINHEIRO RURAL/185-MARÇO/ABRIL-2022 POR ROMUALDO VENÂNCIO uando se olha para a tabela de classificação de um cam- peonato de futebol, é difícil acreditar que um time na 15ª colocação possa alcançar os líderes na mesma edição da competição. Mas com precisão nos investimentos e contratações, fome de bola e gestão estratégica, é possível obter esse avanço nos anos seguintes. A situação é semelhante no ranking de empresas do agro- negócio. A Taunsa Agrícola é a 15ª companhia na lista de exportadoras de commodities, mas deu passos importantes para encostar nas líde- res em um futuro nada distante. Ao abrir caminhos para negociação de grãos entre Brasil e Oriente Médio, a Taunsa Agrícola amplia seu potencial de investimento e de expansão. E ao apostar no marketing esportivo, ganha visibilidade dentro e fora do País A MELHOR JOGADA EM QUALQUER CAMPO Q Rural185_Taunsa.indd 2 15/03/22 4:42 AM Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS FO TO : JO AB I B O N IN I 37DINHEIRO RURAL/185-MARÇO/ABRIL-2022 37DINHEIRO RURAL/185-MARÇO/ABRIL-2022 Essa proposta de crescimento envolve uma injeção de capital de R$ 5,7 bilhões até 2028 e a construção – a partir do zero – de 34 novas unidades, que estarão dis- tribuídas entre Bahia, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Piauí, São Paulo e Tocantins. “É um plano bastan- te parrudo. Ao final desse projeto, a Taunsa também será a número um em armazenagem e recepção de grãos”, afirmou o presidente e fundador da empresa, Cleidson Cruz, à Re- vista ISTOÉ Dinheiro. Atualmente, a com- panhia conta com oito instalações em Mato Grosso e Tocantins e a sede administrativa na cidade de Campi- nas (SP). Atuando em quatro grandes áreas do agronegócio – com- modities, agricultura, agrofomento e trade – o grupo fatura R$ 31,5 bilhões por ano (cerca de US$ 486 milhões em contratos). Tais números se tornaram possíveis a partir da parceria com a Ahamed Ramadhan “ CLEIDSON CRUZ PRESIDENTE E FUNDADOR DA TAUNSA Juma (ARJ) Holding, empresa de investi- mentos dos Emirados Árabes, que abriu a porteira para o Oriente Médio. Para se ter uma ideia da dimensão do potencial nessas relações comerciais, no ano passado as exportações brasileiras para aquele bloco comercial somaram US$ 12,1 bilhões, sendo que a soja representou 6,8% e o milho, 7,4%, de acordo com o Sistema de Comércio Exterior (Siscomex), programa do Minis- tério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. QUATRO LINHAS Se a cor de referência para os negócios no agro e para o fatura- mento em dólar é o verde, para o recente investimento em marketing esportivo (cujo valor não foi divulgado) a opção é a combi- nação de preto e branco. A Taunsa fechou uma parceria com o futebol profissional do alvinegro Corinthians, para ganhar mais visibilidade tanto no mercado nacional quanto no internacional. Uma das primei- ras ações envolvendo essa união foi a partici- pação na contratação do jogador Paulinho, e já se espera que esse apoio também ocorra na busca por um centroavante. No perfil da compa- nhia no Instagram, já é possível ver pelos comen- tários do público que de fato a popularidade da Taunsa vem crescendo. Outra confirmação de que a estratégia está funcionando é o aumento de 30% na procura por novos negócios desde dezembro do ano passa- do. A tendência é que os resultados dessa parceira continuem melhorando, ao menos no que depen- der dos esforços e das milhagens do CEO da empresa. Em fevereiro, Cleidson Cruz esteve em Dubai para novos encon- tros de negócios, sempre levando como presente para seus anfitriões uma camisa do Timão. O Taunsa nasceu em Araçatuba, no interior de São Paulo, em 2008, com as atividades concentradas em produção leiteira. Com o objetivo de ampliar os negócios e já atento à ex- pansão do setor de grãos, o fundador da empresa, Cleidson Cruz, passou a adquirir terras em Mato Grosso. Era o primeiro passo para crescer em plantio, armazenamento e comercia- lização, dentro do Brasil e para países da África Ocidental. No ano passado, a companhia fretou dois navios Panamax exclusivamente para suas exportações, um deles com farelo de soja e o outro com óleo de soja. Origem e crescimento É um plano bastante parrudo. Ao final desse projeto, a Taunsa também será a número um em armazenagem e recepção de grãos” Rural185_Taunsa.indd 3 15/03/22 4:42 AM Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS A G R O N E G Ó C I O S 36 maior 38 DINHEIRO RURAL/185-MARÇO/ABRIL-2022 PIRACANJUBA DÁ INÍCIO ÀS OBRAS DE SUA NOVA UNIDADE INDUSTRIAL NO PARANÁ, QUE TERÁ CAPACIDADE PARA PROCESSAR QUASE 1,4 MILHÃO DE LITROS DE LEITE POR DIA E SERÁ A MAIOR FÁBRICA DE QUEIJOS DO BRASIL POR ROMUALDO VENÂNCIO H á pouco mais de dez anos a Laticínios Bela Vista come- çou a apostar em estrelas das telinhas e dos palcos para inovar suas campanhas publici- tárias, iluminar melhor sua primeira e principal marca, a Piracanjuba, e ganhar mais audiência entre os consumidores. A estratégia começou com a Glória Pires, depois vieram a Bruna Marquezine, a Ivete Sangalo e a Sabrina Sato. Com esse elenco de “embaixadoras” as linhas de produtos ganharam mais projeção, mas para a empresa goiana se manter entre as principais marcas brasileiras do setor lácteo, é fundamenal garantir o lastro dessa comunicação. É por isso que a base do negócio não sai do foco: já estão em andamento as obras para construção da nova unidade industrial da Piracanjuba, que promete ser a maior fábrica de queijos do Brasil. A planta está sendo instalada na cidade de São Jorge D’Oeste, no sudoeste paranaense. A disponibili- dade de matéria-prima em condições
Compartilhar