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Economia Sistemas Econômicos e o Mercado sob a Ótica do Consumidor – A Demanda Desenvolvimento do material William Rangel 1ª Edição Copyright © 2022, Afya. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Afya. Sumário Sistemas Econômicos e o Mercado sob a Ótica do Consumidor – A Demanda Para início de conversa... ................................................................................ 3 Objetivos ......................................................................................................... 3 1. Necessidades Humanas e Tipos de Bens ............................................. 4 1.1 Os Agentes Econômicos ...................................................................... 4 1.2 As Necessidades Humanas ................................................................. 5 1.3 Tipologia e Classificação dos Bens e Serviços ............................ 6 2. Sistemas Econômicos .................................................................................. 7 3. Mercados e Concorrência ........................................................................... 8 4. Mercado Competitivo .................................................................................. 9 5. Demanda de Mercado ................................................................................. 9 5.1 Lei Geral da Demanda .......................................................................... 10 5.2 Outras Variáveis que Afetam a Demanda de um Bem .............. 12 5.3 Efeito Substituição e Efeito Renda .................................................. 13 5.4 Choques de Expansão ou Contração da Demanda .................... 14 Referências ......................................................................................................... 16 Para início de conversa... Neste capítulo, conheceremos a classificação dos agentes econômicos que interagem em uma economia, que atuam visando a satisfação de suas necessidades pessoais. Veremos, também, que os bens que você deseja podem ser adequadamente agrupados para facilitar o seu estudo, sem ignorar a importância que tem o sistema econômico que está vigente em nosso país e de como ele organiza o processo produtivo para administrar a escassez. Assim, são criadas condições para que você participe ativamente do mercado, demandando os bens e serviços, de acordo com as suas exigências e restrições. Perceberemos que o ambiente externo exerce papel fundamental sobre as suas expectativas. Junto às interações com o mercado, você começará a conhecer os comportamentos dos agentes, identificando-os com casos reais da Economia. Objetivos ▪ Identificar corretamente o seu papel na sociedade, enquanto agente econômico, e também a tipologia das necessidades humanas; ▪ Reconhecer os tipos de bens e serviços existentes e suas classificações; ▪ Conhecer o conceito de sistema econômico, seus três tipos principais, e as suas características básicas; ▪ Conhecer o mercado pelo enfoque do consumidor, identificando a demanda por bens e serviços e as variáveis que a afetam a demanda, incluindo os choques de expansão e contração. Economia 3 1. Necessidades Humanas e Tipos de Bens Sabemos que existe um fluxo monetário e um fluxo de bens e serviços e de fatores da produção que fazem com que a economia de um país funcione. Essa atividade econômica se concentra na produção de uma enorme quantidade de bens e serviços, cujo destino final é a satisfação das necessidades humanas 1.1 Os Agentes Econômicos No fluxo circular da renda comentado acima, há três intervenientes, que chamamos de agentes econômicos: As famílias Cumprem uma dupla função, pois são as donas dos fatores de produção, principalmente o capital e o trabalho, e, por outro lado, demandam bens e serviços para a satisfação de suas necessidades. É importante maximizar a satisfação (também chamada de utilidade) que você vai obter dos bens que você compra, respeitando a sua disponibilidade de renda. Utilidade: grau de satisfação que os consumidores atribuem aos bens e serviços que podem adquirir no mercado. Ao comprar uma bicicleta, por exemplo, você espera que ela seja bonita, robusta, confortável, silenciosa, duradoura, que não apresente defeitos e, acima de tudo, barata! A esse conjunto de atributos nós chamamos de função utilidade. As empresas Elas se destinam exclusivamente a produzir bens e serviços. Para essa produção, as empresas necessitam dos fatores de produção, que lhes são ofertados pelas famílias. As famílias, por sua vez, recebem a devida remuneração pelos fatores que cedeu às empresas. Os bens e serviços produzidos pelas empresas são ofertados às famílias em troca de um preço. Governo ou setor público Atua no mercado como demandante de bens e serviços, e também como ofertante de serviços à sociedade, em áreas nas quais a iniciativa privada não vê incentivos para atuar. O governo tem o poder de arrecadar tributos das empresas e das famílias, e estabelece a política industrial do país e os marcos regulatórios para os setores econômicos. É o responsável pela condução da política econômica e também atua como empresário, especialmente no caso dos bens públicos e dos investimentos em infraestrutura. Em todas as ações, os agentes econômicos buscam a maximização de seus benefícios e, por isso, tomam as suas decisões de forma racional, de maneira que suas escolhas sejam consistentes com os custos e com os benefícios de cada escolha. Economia 4 Essas escolhas são motivadas pelas necessidades humanas, que são consideradas o ponto de partida e o principal motivador da atividade econômica. As necessidades derivam do desejo do homem e se manifestam de maneiras diferentes: às vezes para que sejam atendidas imediatamente e, em outras vezes, para que sejam atendidas gradativamente, sem pressa, aos poucos. Marco regulatório: o Estado regula o funcionamento da economia mediante um conjunto de leis, normas e regulamentos, por exemplo, as que definem a propriedade privada, os contratos de sociedades, os contratos de serviços com preços administrados pelo governo, o uso do solo urbano e industrial, a legislação trabalhista, dentre outros. Por meio das agências de regulação, como a ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil, ANATEL – Agência Nacional de Telecomunicações, ANS – Agência Nacional de Saúde Complementar, ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica, e a ANP – Agência Nacional de Petróleo, o governo exerce algum controle sobre o mercado e as empresas, de forma a proteger o consumidor e regular a atividade econômica. Lembre-se do exemplo da BRF – Brasil Foods! 1.2 As Necessidades Humanas As necessidades humanas podem ser definidas como exigências, carências ou falta de bens e serviços – sejam eles públicos ou privados – essenciais para satisfazerem as necessidades de um único indivíduo ou um grupo, ou da sociedade como um todo. Observe a Figura 1: Figura 1: Classificação das necessidades humanas. Fonte: Elaborado pelo autor. Economia 5 1.3 Tipologia e Classificação dos Bens e Serviços Os produtos que satisfazem as necessidades humanas são divididos em bens e serviços, e você os adquire segundo seus gostos e preferências, respeitando a sua disponibilidade de recursos. Um bem é tudo o que possui utilidade e pode satisfazer as necessidades humanas. É encontrado com escassez e requer o trabalho humano na sua produção ou elaboração. Ex.: alimentos, roupas, medicamentos etc. Os serviços são as atividades destinadas direta ou indiretamente à satisfação das necessidades humanas, ligadas ao terceiro setor da economia. De uma maneira generalizada, os bens podem ser classificados nos seguintes tipos: Tipos Características Bens econômicos São os bens escassos ou muito escassos, que demandam esforço humano para sua produção epossuem um preço de mercado. É a definição básica de um bem comercializável. Bens materiais São os bens que possuem forma física, podem ser tocados, são tangíveis, e podem ser estocados para consumo posterior. Exemplos: automóvel, tablet, computador, móveis etc. Bens não materiais São os bens intangíveis, imateriais, que não podem ser estocados ou medidos. Exemplos: serviço, marcas, patentes etc. Bens primários São os bens que utilizamos como matéria-prima ou fonte de energia para produção de outros bens, em seu estado puro, sem terem sido beneficiados. Exemplos: minério de ferro, petróleo etc. Bens intermediários São os bens que são consumidos no processo produtivo, mas que ainda precisam de transformação para atingir a sua forma definitiva, ou para serem utilizados na fabricação de outros bens. Exemplos: chapas de aço, componentes. Bens finais Bens que são vendidos para o consumo ou para utilização final. Bens de capital São os bens empregados no preparo ou na produção de outros bens, como máquinas e equipamentos pesados, ou instalações. Exemplos: tratores, máquinas utilizadas na fabricação de automóveis, guindastes etc. Bens de consumo duráveis São bens que se destinam ao atendimento imediato das necessidades humanas, e não se esgotam no primeiro uso por possuírem longa durabilidade. Exemplos: fogão, automóvel, TV de plasma etc. Bens de consumo não duráveis São bens que possuem pouca durabilidade, ou que se esgotam logo no primeiro uso e, por isso, são rapidamente consumidos. Exemplos: medicamentos, alimentos, bebidas, produtos de higiene e limpeza etc. Bens públicos São os bens gerais supridos pelo setor público. Exemplos: justiça, educação, segurança, transportes etc. Tabela 1: Classificação dos bens. Fonte: Elaborado pelo autor. Setores da economia: o setor primário trabalha com os recursos da natureza, como a agricultura, pesca, mineração e a pecuária. O setor secundário é o que transforma as matérias-primas em produtos industrializados, como roupas, máquinas, automóveis, alimentos industrializados etc. O setor terciário está relacionado aos serviços, como o comércio, a educação, seguros, transportes, turismo, telecomunicações etc. Economia 6 2. Sistemas Econômicos Por ser um agente econômico, você está cercado por um sistema econômico muito bem-estruturado, que facilita a convivência na sociedade. Um sistema econômico é a estrutura econômica, política e social adotada por uma sociedade, ou por sua maioria, que define como se organiza a produção, distribuição e consumo dos bens e serviços que seus membros utilizam. Em um sistema econômico, definem-se o tipo de propriedade (pública ou privada), os níveis de consumo, de desenvolvimento econômico e tecnológico e o tipo de gestão da economia. Resumidamente, é a maneira adotada por uma nação para resolver seus problemas econômicos fundamentais. São elementos de um sistema econômico: ▪ Sistema capitalista: O estoque de recursos produtivos, ou fatores de produção, como a terra, o capital, o trabalho, a tecnologia e a capacidade empresarial; ▪ Sistema socialista: As empresas, que são as unidades de produção de bens e serviços, que geram emprego, renda e também a arrecadação de tributos para o governo; ▪ Sistema de economia mista: As Instituições jurídicas, políticas, sociais e econômicas que formam a base dos direitos e deveres dos participantes de um sistema econômico. A seguir, veremos mais sobre estes três tipos de sistemas econômicos: Sistema capitalista Você é brasileiro e vive num país que adotou o sistema capitalista, que também é chamado de economia de mercado. É um sistema em que as forças do mercado atuam com pouca intervenção governamental. Nele, os fatores de produção pertencem à iniciativa privada, que administra e controla o funcionamento da economia, da produção de bens e serviços; determina os métodos de emprego dos fatores de produção; controla os custos da produção e organiza a distribuição dos bens produzidos. O governo deve apenas promover os itens básicos à sociedade, como saúde, educação, transporte, segurança e saneamento. A economia de mercado é um dos pilares do liberalismo econômico, fundamentado nas ideias de Adam Smith, com as seguintes características: respeito à propriedade privada; livre concorrência; livre mercado; livre iniciativa dos empresários para abrir e fechar empresas; produção e consumo determinados pela lei da oferta e da demanda; baixo grau de intervenção governamental, que atua apenas por meio de estatais em setores considerados estratégicos ou essenciais; comércio exterior com poucos obstáculos ao comércio internacional. Os Estados Unidos são o melhor exemplo desse tipo de sistema. Economia 7 Sistema socialista Também conhecido como economia centralizada ou planificada, o sistema defende a organização de uma sociedade igualitária e livre das relações de exploração entre as classes sociais. Nele, há total intervenção do Estado na economia, como a definição do valor dos salários ou os preços dos bens e serviços. Um órgão central é quem determina como serão resolvidos os problemas econômicos, quais serão os métodos de emprego dos fatores de produção, os custos da produção, os preços dos produtos, a distribuição e o consumo. Não existe a propriedade privada ou particular dos fatores de produção e toda a renda da produção é socializada entre os trabalhadores. Atualmente, Cuba, China, Vietnã e a Coreia do Norte são os países que ainda adotam esse sistema, que, na visão de muitos economistas, está completamente ultrapassado. Sistema de economia mista Com a crise de 1929 e a grande depressão dos anos 1930, ficou evidente que o sistema capitalista baseado no livre mercado não era capaz de, por si só, garantir o pleno emprego dos fatores de produção. Vieram outras crises no sistema capitalista, oriundas, por exemplo, do aumento da especulação financeira, da abertura ao comércio internacional, das forças dos sindicatos e, desde então, passaram a predominar as ideias de economia mista. Nesse sistema, o livre mercado e as demais premissas liberais continuam predominando, mas os agentes econômicos concordam que deve existir certo grau de intervenção do Estado na economia. O Estado aparece para resolver as chamadas falhas de mercado e promover o emprego e a renda, por meio da injeção de dinheiro público na economia e também pelo aumento da participação de empresas estatais no desenvolvimento e na infraestrutura do país, complementando a atuação das empresas privadas em investimentos que demandam elevado montante de recursos e longo prazo de maturação dos projetos. O Estado atua sobre a formação de preços por meio de impostos e subsídios, aplica tabelamentos e interfere nos contratos, fixa o valor do salário mínimo, compra bens e serviços em larga escala, dado que o governo é o maior agente do sistema. 3. Mercados e Concorrência Os termos “oferta” e “demanda” referem-se ao comportamento das pessoas quando interagem nos mercados. Um mercado é um grupo de compradores e vendedores de um dado bem ou serviço. Por um lado, os compradores, em conjunto, determinam a demanda pelo produto, e desejam maximizar a função utilidade; de outro lado, os vendedores, em conjunto, determinam a oferta dos bens e serviços, e desejam maximizar o lucro. Economia 8 Como vimos no fluxo circular da renda, você exerce um papel muito importante na economia, ora como consumidor, ora como fornecedor. Do embate entre esses agentes antagônicos e seus interesses também opostos, vai resultar o equilíbrio dos mercados. Veja um exemplo de oferta e demanda: Figura 3: Exemplo de oferta e demanda. Fonte: Elaborado pelo autor. 4. Mercado Competitivo Um mercado competitivo é um mercado em que há um número elevado de compradores e de vendedores, de modo que cada um deles exerce um impacto insignificante sobre os preços de mercado. Vamos a um exemplo: pense no mercado de queijo muçarela. Se um produtor desse tipo dequeijo fechar a empresa, os demais fornecedores vão cobrir a produção, e não vai faltar muçarela no mercado. Esse produtor, sozinho, é incapaz de influenciar na formação de preços para esse produto. Com os consumidores, o raciocínio é o mesmo: mesmo que uma grande pizzaria decida nunca mais vender pizza de muçarela, o mercado não entrará em colapso, pois esse consumidor, sozinho, não tem poder para alterar os preços do queijo. O mesmo se aplica para a entrada de mais um fornecedor ou de mais um consumidor no mercado. Cada vendedor de determinado bem tem um controle limitado sobre o preço pelo qual outros vendedores oferecem um produto similar. Assim, um vendedor não tem muitos motivos para cobrar mais ou menos do que o preço de um concorrente cobrando menos deixará de ganhar e, cobrando mais, perderá clientes. Da mesma maneira, um único comprador de determinado produto não tem como influenciar o preço do produto, pois compra apenas uma pequena fração do total que é comercializado. 5. Demanda de Mercado Todos os dias, logo após acordar, você, como agente econômico por excelência, começa a demandar produtos e serviços: bebe um copo de água, toma banho, troca de roupa, toma o café da manhã, e sai de casa Economia 9 para se dirigir ao local de sua primeira atividade. Água disponível nas torneiras, sabonete, shampoo, toalha, roupas lavadas e passadas, pão, café, leite, manteiga, bolo, frutas, serviço de transporte. Você nem se dá conta disso, mas o fato é que você demandou produtos e serviços da sociedade! A demanda por um bem ou por um serviço, também chamada de procura, pode ser definida como a quantidade de certo bem ou serviço que os consumidores desejam adquirir em determinado momento. Ela trata do comportamento dos consumidores. A demanda depende de variáveis que influenciam a escolha do consumidor, como o preço do produto, o preço dos outros produtos, a renda do consumidor, os preços dos bens relacionados (substitutos ou complementares), as expectativas, e a preferência individual. As propagandas e campanhas de marketing procuram incentivar e aumentar a procura dos bens e serviços, influenciando as preferências e hábitos dos consumidores. De modo simples, você pode pensar assim: você trabalha e, ao final do mês, recebe o seu salário. Esse montante de dinheiro você usa para adquirir bens e serviços, de acordo com a sua disponibilidade de dinheiro, seus gostos, suas preferências, suas necessidades. É, portanto, a essa necessidade, a essa vontade, essa intenção, esse desejo de adquirir bens e serviços que nós chamamos de demanda. Posteriormente, você vai ao mercado e demanda, de fato, esses bens e serviços: você vai ao mercado e gasta o seu dinheiro, demandando os bens de sua escolha. Para saber como cada uma das variáveis econômicas afeta separadamente as decisões dos consumidores, é utilizado o artifício da hipótese coeteris paribus, que quer dizer “tudo o mais constante”. Por exemplo, quando estamos estudando o comportamento do consumidor em relação aos preços, assumimos que todas as outras variáveis não se alteraram: a renda do consumidor é a mesma, não há sazonalidades a serem consideradas, não houve mudança na taxa básica de juros etc. 5.1 Lei Geral da Demanda Para entender sobre a Lei Geral da Demanda, veja o exemplo prático a seguir: ▪ Imagine que 1 kg de filé mignon custe R$ 30,00; ▪ Trata-se de uma carne nobre, e a este preço você estaria disposto a comprar 2 kg por mês para seu consumo. Se este preço subisse para R$ 35,00, certamente que você reduziria a quantidade, devido à sua restrição orçamentária, coeteris paribus; Economia 10 ▪ Mas se o preço cair para R$ 25,00, você aumentaria o consumo para 3 kg no mês; ▪ Melhor ainda seria se o preço fosse reduzido para R$ 20,00, e você aumentaria o seu consumo para 5 kg no mês, aproveitando o preço baixo. Nesse exemplo, você percebeu que há uma relação inversa entre a quantidade demandada e o preço do bem, coeteris paribus, ou seja, se o preço do bem aumenta, a quantidade demandada diminui; mas, se o preço diminui, a quantidade demandada aumenta. A relação inversa entre preço e quantidade demandada faz parte da chamada Lei Geral da Demanda. No gráfico da demanda, os vários preços (P) estão indicados no eixo vertical, e as quantidades demandadas (Q) aparecem no eixo horizontal. A função demanda expressa matematicamente a relação entre a quantidade demandada e o preço do produto: Qd = ƒ(P), em que Qd é a quantidade demandada e P é o preço do produto. Observe que, na tabela, estão indicados os possíveis preços de um bem qualquer, variando entre $2,00 e $11,00. Para cada nível de preço, há uma quantidade de produtos que será demandada pela sociedade. Observando apenas os extremos, veja que, para o menor preço ($2,00) a quantidade será de 12 mil unidades. Mas se o preço subir para $11,00, a quantidade demandada cairá para apenas três mil unidades. Esse conjunto de pontos, constituídos por pares ordenados (preço, quantidade), são plotados no gráfico da curva de demanda, e foi gerada uma curva de demanda, que revela a reação dos consumidores quanto às variações no preço do produto, bem como as suas preferências, considerando que eles estejam maximizando a satisfação pelo consumo do produto. Quando o preço é de $ 2,00, a quantidade demandada é de 12.000 unidades. Quando o preço é de $11,00, a quantidade demandada é de apenas 3.000 unidades. Portanto, quantidade demandada é um valor específico da quantidade de bens para um determinado nível de preços. Em outras palavras, quantidade demandada é um ponto qualquer da Economia 11 curva de demanda, dado o nível de preço. E a curva de demanda é o conjunto de todos os pontos de pares ordenados (preço, quantidade) que formam a função demanda. Assim, você percebe que a curva da demanda é negativamente inclinada, pois se inclina de cima para baixo, partindo da esquerda para a direita, demonstrando o comportamento inversamente proporcional entre as duas variáveis, preço e quantidade, coeteris paribus. Precisamos ver, agora, outra classificação de bens, que nos ajudará a compreender melhor a natureza desses bens e o comportamento dos consumidores frente às oscilações dos preços dos bens, ou variações em sua renda. 5.2 Outras Variáveis que Afetam a Demanda de um Bem Como mencionado no item anterior, a demanda por um produto também será afetada por outras variáveis, como a renda dos consumidores, pelo preço dos bens substitutos (ou concorrentes), pelo preço dos bens complementares e pelas preferências ou hábitos dos consumidores. Essa outra classificação de tipos de bens que apresentamos a seguir está diretamente relacionada às variações da quantidade de bens e serviços, demandada pelos consumidores. Veja, agora, os tipos de bens: 1. Bem Normal Tipo de bem em que a quantidade demandada varia diretamente com as variações na renda do consumidor, coeteris paribus. Assim, se a renda aumenta, a quantidade demandada aumenta. Se a renda diminui, a quantidade demandada diminui. Exemplo: ingressos para o teatro. Se sua renda aumenta, você irá mais vezes ao teatro, coeteris paribus. 2. Bem Inferior Tipo de bem em que a quantidade demandada varia no sentido inverso às variações da renda. Exemplo: se a sua renda aumenta, certamente você diminuirá o consumo de carne de segunda (pá, lombinho, carne moída) e aumentará o consumo de carne de primeira (contrafilé, alcatra, mignon). Nesse caso, sua renda aumentou, e o consumo de carne de segunda diminuiu; logo, nesse contexto, a carne de segunda é um bem inferior. 3. Bem Superior ou de Luxo Tipo de bens que apresentam variação na quantidade demandada maior do que a variação na renda do consumidor. São também chamados de bens supérfluos. Economia 12 4. Bem de Consumo Saciado Tipo de bem em que a demanda do bem não é afetada pela renda dos consumidores, pois existe uma quantidade máxima que o consumidor demandará, mesmo que a renda continueaumentando. Exemplo: arroz, farinha, sal, insulina etc. 5. Bens Substitutos ou Concorrentes A demanda de um bem é influenciada pelo preço de outro bem. Exemplo: Um exemplo típico é a variação no consumo de manteiga proporcionada por variações no preço da margarina: se o preço da margarina sobe muito, os consumidores passam a consumir a manteiga. 6. Bens Complementares São os bens cujo consumo são feitos em conjunto, simultaneamente. Uma variação de preços em um dos bens vai afetar a demanda do outro bem. Exemplo: Pense nos fabricantes de automóveis e nos fabricantes de pneus. Se o governo aumenta a alíquota do IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados para os automóveis, o preço dos carros vai subir e, como você já sabe, se o preço aumenta, a quantidade demandada vai diminuir. Se menos automóveis serão vendidos, menor também será a quantidade de pneus produzidos. Isso porque carros e pneus são bens complementares. 5.3 Efeito Substituição e Efeito Renda Quando o preço de um bem aumenta, o consumidor diminui o consumo desse bem. Mas nem sempre o consumidor fica privado do consumo de um bem, pois pode passar a adquirir o bem substituto. Se o preço da manteiga sobe, o consumidor pode reduzir o consumo de manteiga e passar a consumir mais margarina. O mesmo se dá entre o café e o chá, entre o óleo de soja e o azeite, entre o açúcar e o adoçante. A este processo chamamos de efeito substituição. O efeito substituição explica a relação negativa entre preço de um bem e a quantidade demandada deste bem, tal como vimos na curva de demanda. Outro processo que explica a relação inversa entre preço e quantidade demandada é o chamado efeito renda. Se o preço de um bem aumenta, porém, as demais variáveis permanecem iguais, como a renda do consumidor e o preço de outros bens, o consumidor perde poder de compra e a demanda por esse produto diminui. Vamos ver um exemplo prático? 1. Se o seu salário é de R$ 1.000, e 1 kg de carne custa R$ 20,00, Economia 13 se você quisesse usar todo o seu salário para comprar carne, você poderia comprar (R$ 1.000/R$ 20) = 50 kg de carne. 2. Mas se o preço subir para R$ 25,00, a sua quantidade demandada de carne cairá para (R$ 1.000/R$ 25) = 40 kg. 3. Assim, o efeito renda explica que se o preço de um bem sobe, a quantidade demandada desse bem vai cair, porque o seu poder aquisitivo diminui (neste exemplo, caiu de 50 para 40 kg de carne). 5.4 Choques de Expansão ou Contração da Demanda Até agora, vimos que alterações nos preços fazem com que haja um deslocamento da quantidade demandada ao longo da curva da demanda. Porém, é muito importante que você tenha em mente que a demanda é uma variável dinâmica, que pode constantemente estar mudando, em função de alterações nos fatores que a afetam, sejam para que essa demanda aumente (choque de expansão), ou para que ela diminua (choque de contração). Entenda melhor sobre esse assunto no exemplo a seguir: Imagine que estamos no inverno, época do ano em que o consumo de sorvetes cai bastante. Para esse produto e para época do ano, você sabe que podem ser vendidos a $2 e que, a esse preço, a sorveteria vende cerca de três mil sorvetes por mês. Isso está representado na linha mais clara do Gráfico 1: Gráfico 1: Números da venda de sorvetes com o choque de expansão. Chamemos a essa demanda conhecida de D0. Porém, vamos considerar que, por um efeito climático, esse período de inverno se mostra atípico, com um mês inteiro de temperaturas elevadas e sem chuvas. O que você Economia 14 imagina que deve acontecer? Claro! O consumo de sorvetes vai subir: mais e mais pessoas vão sentir a necessidade de tomar sorvete. Dizemos que está havendo um choque de expansão da demanda e, agora, a curva da demanda se deslocou para a direita, de D0 para D1. Os empresários percebem esse movimento e sabem que a demanda agora será de 4.000 unidades de sorvetes, em vez das 3.000 unidades anteriormente esperadas. Como você acha que esse empresário vai reagir? Vejamos, agora, uma situação oposta, de contração da demanda. Imagine que o empresário está vendendo sorvetes em pleno verão e espera vender 5.000 unidades ao preço de $ 3,50. Esta é a demanda D0, linha mais clara do Gráfico 2: Gráfico 2: Números da venda de sorvetes com contração da demanda. Mas acontece um imprevisto: fortes chuvas durante todo o mês fizeram cair a temperatura e provocaram deslizamentos de barreiras. Muitos turistas que estariam visitando a cidade naquele mês cancelam as viagens. Você percebeu que há um nítido choque de demanda, só que de contração da demanda? Você tem razão: menos consumidores estarão dispostos a comprar sorvetes, e em vez de vender cinco mil sorvetes, o empresário só vai vender 4.000 unidades. Choques de expansão e contração de demanda acontecem em vários mercados, a todo tempo, e por motivos diversos: choques climáticos, variações na renda dos trabalhadores, exportação de bens, importação de bens, mudanças nos gostos e preferências dos consumidores, resultados de pesquisas científicas, dentre outros. Neste capítulo, vimos que o estudo da Microeconomia nos dá a possibilidade de identificar as forças presentes no mercado, e como essas forças vão afetar o comportamento dos três agentes econômicos principais, que são os consumidores, as empresas e o governo, que interagem constantemente nos mercados. Economia 15 Aprendemos que o ser humano tem diferentes necessidades que precisam ser saciadas, e que a sociedade se organiza em três sistemas econômicos distintos, que podem ser: capitalista, socialista ou de economia mista, que é o mais usual. Na visão dos consumidores, o ambiente econômico ideal é aquele em que vigora o mercado perfeitamente competitivo, com muitos fornecedores e muitos consumidores. Vimos que a Lei Geral da Demanda estabelece uma relação inversa entre o preço dos bens e as respectivas quantidades demandadas para cada nível de preço. Essas quantidades variam em função dos fatores que alteram a demanda, como a renda, os preços dos produtos substitutos ou complementares entre si, os efeitos climáticos, ou por alterações bruscas no ambiente econômico (choques) podem provocar tanto a expansão como a contração da demanda. Referências PÁDUA, L. 1929 e 2008 - especialistas analisam efeitos da crise econômica na sociedade. Disponível em: www.jb.com.br/internacional/ noticias/2012/06/16/1929-e-2008-especialistas-analisam-efeitos-da- criseeconomica-na-sociedade/. Acesso em: 01 mar. 2018. PASSOS, C. R. M.; NOGAMI, O. Princípios de economia. 5 ed. São Paulo: Cengage Learning, 2008. PINHO, D. B.; VASCONCELLOS. M. A. S. de (org.). Manual de economia. Equipe de professores da USP. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2004. ROSSETI, J. P. Introdução à economia. 20 ed. São Paulo: Atlas, 2010. VASCONCELLOS, M. A. S. de. Fundamentos de economia. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2008. ______; GARCIA, M. E. Economia: micro e macro. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2009. Economia 16 http://www.jb.com.br/internacional/noticias/2012/06/16/1929-e-2008-especialistas-analisam-efeitos-da-crise-economica-na-sociedade/ http://www.jb.com.br/internacional/noticias/2012/06/16/1929-e-2008-especialistas-analisam-efeitos-da-crise-economica-na-sociedade/ http://www.jb.com.br/internacional/noticias/2012/06/16/1929-e-2008-especialistas-analisam-efeitos-da-crise-economica-na-sociedade/ Sistemas Econômicos e o Mercado sob a Ótica do Consumidor – A Demanda Para início de conversa... Objetivos 1. Necessidades Humanas e Tipos de Bens 1.1 Os Agentes Econômicos 1.2 As Necessidades Humanas 1.3 Tipologia e Classificação dos Bens e Serviços 2. Sistemas Econômicos 3. Mercados e Concorrência 4. Mercado Competitivo 5. Demanda de Mercado 5.1 Lei Geral da Demanda 5.2 Outras Variáveis que Afetam a Demanda de um Bem 5.3 Efeito Substituição e Efeito Renda 5.4 Choques de Expansão ou Contração da Demanda Referências