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Indaial – 2020 Ação e MediAção educAtivA eM espAços culturAis Profa. Katia Franklin da Silva Profa. Letícia Francez 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Profa. Katia Franklin da Silva Profa. Letícia Francez Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: S586a Silva, Katia Franklin da Ação e mediação educativa em espaços culturais. / Katia Franklin da Silva; Letícia Francez. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 174 p.; il. ISBN 978-65-5663-163-9 ISBN Digital 978-65-5663-164-6 1. Cultura. - Brasil. 2. Educação. – Brasil. I. Francez, Letícia. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 370 ApresentAção Caro acadêmico! É um prazer estar com você! Já de antemão explicitamos que as ações de mediação educativa em espaços culturais são muito amplas e estão em constante movimento, pois a cultura é um fenômeno em construção, pois muitos fatores sociais e econômicos influenciam. Por isso, trazemos, nestes textos, resumos e exemplos de espaços possíveis e potentes para ações de mediação educativa. Trataremos do tema para que você possa, a partir dos conceitos aqui discutidos e exemplos dados, construir sua própria experiência e concepção, incluí-las nos conteúdos escolares e perceber movimentações culturais a partir de um novo olhar. Na elaboração deste livro didático, realizamos uma parceria interessante, pois a professora Letícia Francez é Arte/Educadora e Mestre em Educação e a professora Katia Franklin é Química, Arte/Educadora e Doutora em Educação, no entanto, por termos formação em áreas diferentes, pudemos dialogar perpassando por nossas experiências, o que proporcionou a elaboração deste livro didático. Um abraço a todos e bons estudos! Profa. Katia Franklin da Silva Profa. Letícia Francez Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi- dades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra- mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida- de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun- to em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen- tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE suMário UNIDADE 1 — CULTURA VISUAL E ARTE ................................................................................... 1 TÓPICO 1 — CULTURA VISUAL, INSTITUIÇÕES E POLÍTICAS CULTURAIS ................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 CARACTERIZANDO A CULTURA VISUAL ................................................................................ 3 2.1VISÃO E VISUALIDADE ............................................................................................................... 5 2.2 O CAMPO DA CULTURA VISUAL ............................................................................................ 7 3 INSTITUIÇÕES CULTURAIS ........................................................................................................... 9 3.1 INSTITUIÇÕES CULTURAIS PÚBLICAS ................................................................................. 11 3.2 INSTITUIÇÕES CULTURAIS PRIVADAS ................................................................................ 12 3.3 ONG ................................................................................................................................................ 12 4 AS POLÍTICAS CULTURAIS .......................................................................................................... 13 4.1 POLÍTICAS CULTURAIS GLOBAIS .......................................................................................... 14 4.2 POLÍTICAS CULTURAIS NO BRASIL ...................................................................................... 15 4.3 LEIS DE INCENTIVO À CULTURA .......................................................................................... 15 4.3.1 A Lei de Incentivo à Cultura .............................................................................................. 16 4.3.2 O incentivo fiscal .................................................................................................................. 16 4.3.3 As leis estaduais ................................................................................................................... 16 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 18 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 19 TÓPICO 2 — MUSEUS E CURADORIA ......................................................................................... 21 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 21 2 CONCEITO DE MUSEU .................................................................................................................. 21 2.1 MUSEUS COM ACERVO ............................................................................................................ 22 2.2 MUSEUS VIRTUAIS ..................................................................................................................... 23 2.3 CENTROS INTERATIVOS........................................................................................................... 27 2.4 EXPOSIÇÃO E AÇÃO EDUCATIVA .........................................................................................29 3 TIPOLOGIAS DE MUSEUS ............................................................................................................ 30 4 ÓRGÃOS REGULADORES............................................................................................................. 32 4.1 INTERNACIONAIS ...................................................................................................................... 32 4.2 NACIONAIS .................................................................................................................................. 33 5 CURADORIA EDUCATIVA ............................................................................................................ 34 5.1 O PROFESSOR CURADOR ......................................................................................................... 35 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 39 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 40 TÓPICO 3 — PATRIMÔNIO CULTURAL E EDUCAÇÃO PATRIMONIAL ........................... 41 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 41 2 CONCEITO DE PATRIMÔNIO CULTURAL .............................................................................. 41 3 EDUCAÇÃO PATRIMONIAL ......................................................................................................... 46 3.1 ABRANGÊNCIA DA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL ............................................................. 47 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 50 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 56 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 57 UNIDADE 2 — MEDIAÇÃO E AÇÃO CULTURAL ..................................................................... 59 TÓPICO 1 — ESPAÇOS FORMAIS, NÃO FORMAIS E INFORMAIS DE ENSINO ............. 61 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 61 2 CARACTERIZAÇÃO DOS ESPAÇOS DE ENSINO .................................................................. 61 3 ESPAÇOS FORMAIS DE ENSINO ................................................................................................ 62 4 ESPAÇOS NÃO FORMAIS DE ENSINO ..................................................................................... 64 4.1 ESPAÇOS INSTITUCIONALIZADOS ....................................................................................... 64 4.2 ESPAÇOS NÃO INSTITUCIONALIZADOS ............................................................................ 68 5 ESPAÇOS INFORMAIS DE ENSINO ........................................................................................... 70 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 73 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 74 TÓPICO 2 — AS DIVERSAS DIMENSÕES DA MEDIAÇÃO: MEDIAÇÃO CULTURAL E AÇÃO CULTURAL ........................................................................... 75 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 75 2 CONCEITO DE MEDIAÇÃO .......................................................................................................... 75 3 CARACTERIZANDO A MEDIAÇÃO CULTURAL ................................................................... 76 4 CARACTERIZANDO A MEDIAÇÃO EDUCATIVA ................................................................. 78 5 CARACTERIZANDO A AÇÃO CULTURAL ............................................................................... 80 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 83 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 84 TÓPICO 3 — A AÇÃO MEDIADORA COM SUAS ESTRATÉGIAS DE ACESSO E APROXIMAÇÃO ...................................................................................................... 85 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 85 2 AÇÕES E ELEMENTOS DA MEDIAÇÃO CULTURAL ............................................................ 85 2.1 MEDIAÇÃO DIALÓGICA .......................................................................................................... 88 3 REVELANDO O MEDIADOR ........................................................................................................ 89 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 91 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 93 TÓPICO 4 — MEDIAÇÃO EDUCATIVA EM ESPAÇOS NÃO FORMAIS DE EDUCAÇÃO COMO PROPOSTA DE INCLUSÃO ....................................... 95 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 95 2 EDUCAÇÃO E INCLUSÃO ............................................................................................................. 95 3 POSSIBILIDADES DE MEDIAÇÃO EDUCATIVA INCLUSIVA ........................................... 97 3.1 PROPOSIÇÕES .............................................................................................................................. 99 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 103 RESUMO DO TÓPICO 4................................................................................................................... 105 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 106 UNIDADE 3 — DIFERENTES ESPAÇOS E PROPOSTAS DE ENSINO ................................ 107 TÓPICO 1 — ARTE CONTEMPORÂNEA: PROVOCAÇÕES E PROPOSIÇÕES PARA AS RELAÇÕES ENTRE ESPAÇOS FORMAIS, NÃO FORMAIS E INFORMAIS DE EDUCAÇÃO ............................................................................ 109 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 109 2 CARACTERIZANDO A ARTE CONTEMPORÂNEA ............................................................. 109 2.1 ESPAÇOS DE ARTE CONTEMPORÂNEA ............................................................................ 111 2.1.1 Espaços culturais................................................................................................................ 113 2.1.2 Espaços públicos ................................................................................................................ 118 3 PROVOCAÇÕES EDUCATIVAS DA ARTE CONTEMPORÂNEA ...................................... 123 3.1 RELAÇÕES ENTRE A ARTE, O ARTISTA E O ESPECTADOR .......................................... 126 4 PROPOSIÇÕES PARA RELAÇÕES NOS ESPAÇOS FORMAIS, NÃO FORMAIS E INFORMAIS DE EDUCAÇÃO .................................................................................................. 128 4.1 ESPAÇOS FORMAIS.................................................................................................................. 128 4.2 ESPAÇOS NÃO FORMAIS ........................................................................................................ 130 4.3 ESPAÇOS INFORMAIS ............................................................................................................. 133 4.4 RELAÇÕES ENTRE OS ESPAÇOS EDUCATIVOS ................................................................ 134 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 135 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 136 TÓPICO 2 — RELAÇÃO ENTRE MUSEU E EDUCAÇÃO ........................................................ 137 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 137 2 MUSEU DE ARTE E A EDUCAÇÃO ........................................................................................... 139 3 MUSEU DE CIÊNCIAS E A EDUCAÇÃO .................................................................................. 140 3.1 MUSEU DE CIÊNCIAS NATURAIS ........................................................................................ 142 3.2 CENTRO DE CIÊNCIAS ........................................................................................................... 142 4 MUSEU DE HISTÓRIA E A EDUCAÇÃO ................................................................................. 143 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 144 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 145 TÓPICO 3 — OS ESPAÇOS NÃO FORMAIS COMO PROPOSTAS DE EDUCAÇÃO ESTÉTICA .................................................................................. 147 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 147 2 A EXPERIÊNCIA .............................................................................................................................. 148 2.1 EXPERIÊNCIA NA ARTE ......................................................................................................... 151 3 CONCEITO DE EDUCAÇÃO ESTÉTICA .................................................................................. 153 4 A EDUCAÇÃO ESTÉTICA NOS ESPAÇOS NÃO FORMAIS DE ENSINO ....................... 154 4.1 MEDIAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO ESTÉTICA .................................................................... 156 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 159 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 164 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 165 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 167 1 UNIDADE 1 — CULTURA VISUAL E ARTE OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • relacionar arte e cultura; • compreender os aspectos característicos da cultura visual nos diferentes tempos e espaços; • identificar as principais instituições e políticas culturais nacionais e internacionais; • estabelecer relação entre museus e a construção histórica e entre museus e a escola; • definir a curadoria educativa. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – CULTURA VISUAL, INSTITUIÇÕES E POLÍTICAS CULTURAIS TÓPICO 2 – MUSEUS E CURADORIA TÓPICO 3 – PATRIMÔNIO CULTURAL E EDUCAÇÃO PATRIMONIAL Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 CULTURA VISUAL, INSTITUIÇÕES E POLÍTICAS CULTURAIS 1 INTRODUÇÃO Estamos cada vez mais rodeados por diversos tipos de visualidades que permeiam nosso cotidiano. Vivemos, portanto, imersos em uma cultura visual, em que as imagens e outras experiências visuais ocupam um importante espaço em nosso dia a dia. Saber compreender, analisar e interpretar esse mundo imagético torna- se essencial, pois ele faz parte da nossa cultura atual. É preciso ainda sabermos identificar e nos inteirarmos sobre os espaços que promovem e estimulam o acesso ao campo cultural, pois são estes lugares que apresentam e valorizam nossa construção e constituição identitária enquanto sociedade. Seja bem-vindo ao universo da cultura! Neste tópico, você estudará precisamente o que se entende por cultura visual e a sua importância na atualidade, além de conhecer as principais instituições e políticas culturais nacionais e globais. 2 CARACTERIZANDO A CULTURA VISUAL Você já observou a quantidade de imagens que são apresentadas a todo momento em nosso cotidiano? Elas estão presentes nas ruas, em muros e painéis, nas redes sociais e websites, em livros, jornais e revistas ou, ainda, no cinema, nos comerciais e programas de televisão. Quando nos deparamos com uma imagem, seja ela artística ou não, de alguma forma iremos nos afetar, pois é através dos nossos sentidos – e, neste caso, a visão – que percebemos o mundo a nossa volta. A cultura visual parte da ideia de incluir em um único conceito todas essas visualidades que de algum modo nos influenciam em nosso cotidiano. Ela diz respeito ao universo das imagens “que expressam e definem a nossa forma de pensar e viver”, sendo que hoje elas vão “além das categorias da história da arte tradicional” e não podem mais ser estudadas “com os mesmos conceitos que antes eram utilizados” (DIAS, 2011, p. 50). UNIDADE 1 — CULTURA VISUAL E ARTE 4 FIGURA 1 - IMAGENS DO COTIDIANO FONTE: <https://bit.ly/3izesev>. Acesso em: 21 set. 2019. Pensar de modo sistemático as imagens e todas as demais cenas visuais que nos envolvem diariamente, seja com o intuito de informação ou entretenimento, “pode proporcionar-nos uma compreensão crítica de seu papel e de suas funções sociais e das relações de poder às quais se vincula, além de sua mera apreciação ou do prazer que proporcionam” (HERNÁNDEZ, 2000, p. 135). Desse modo, torna-se fundamental percebermos e sabermos interpretar de modo crítico e consciente o campo visual que nos cerca, pois assim poderemos compreender de modo mais consciente nosso entorno, inclusive a nós mesmos e ao outro. Para compreendermos o que é a cultura visual, cabe ressaltar que o conceito de cultura está atrelado a “um sistema organizado de significados e símbolos que guiam o comportamento humano, permitindo-nos definir o mundo, expressar nossos sentimentos e formular juízos” (HERNÁNDEZ, 2000, p. 128). A cultura, portanto, corresponde aos nossos hábitos de vida, àquilo que nos circunda, que nos rege, e que viabiliza nosso modo de expressão. Sendo a cultura um tema que permeia muitas áreas do conhecimento, assim também a cultura visual é interdisciplinar. Diversos teóricos das Artes Visuais, da História, da Arquitetura, da Psicologia, da Antropologia, da Publicidade, do Cinema e do Design utilizam este conceito para estudar e compreender o modo como as imagens impactam e interferem na vida dos sujeitos. Ao passar por todas estas áreas, a noção de cultura visual busca referências em cada uma delas e não possui como foco artefatos, acontecimentos ou sujeitos,mas os significados que possuem culturalmente. Assim, o sentido que estas visualidades proporcionam importa mais do que o objeto a que correspondem. TÓPICO 1 — CULTURA VISUAL, INSTITUIÇÕES E POLÍTICAS CULTURAIS 5 A cultura visual pretende estimular um saber mais significativo sobre as representações visuais e as experiências culturais que nos envolvem. Ela compreende “[...] uma forma de discurso, um espaço que vai além das disciplinas e se constitui num lugar de investigação sobre diversos aspectos da visualidade”, compondo-se como “[...] um campo de estudos sobre a construção do visual tanto nas artes, como na mídia e na vida cotidiana” (MAGALHÃES, 2012, p. 42). Meira (2009, p. 30) explica que “paradoxalmente chegamos a um tipo de civilização que desenvolveu como nenhuma outra poderosos instrumentos para a ampliação do olhar, para a penetração nos desvãos mais escondidos do corpo e do universo” mas que, por outro lado, “desconhece os afetos, os efeitos e as percepções mais recônditos das imagens inventadas por nossas almas”. Logo, as imagens representam um importante objeto de estudo da cultura visual e discuti- las é algo fundamental nesse aspecto. Observe as imagens que você visualiza no decorrer de um dia e as escreva em um diário. Ao final do dia reflita sobre estas visualidades que você encontrou. Quais imagens chamaram mais a sua atenção? Onde estavam? O que elas revelam a você? ESTUDOS FU TUROS 2.1VISÃO E VISUALIDADE Se observarmos a importância que os nossos sentidos ocupam em nossa vida e as percepções que eles nos provocam, cabe refletirmos sobre aquele que tanto nos instiga à imaginação e ao pensamento: a visão. Nossa assimilação sobre o mundo acontece por meio de todas as nossas percepções sensoriais, porém, observamos que a visão parece carregar uma posição privilegiada em relação aos outros órgãos dos sentidos. O olhar carrega um notável espaço nas impressões que fazemos acerca das visualidades que aparecem em nosso cotidiano, pois, quando voltamos nossa visão para uma imagem, ela de alguma maneira nos afeta, trazendo significados ao nosso pensamento e provocando no corpo as mais diversas sensações. Direcionarmos nossa atenção para este sentido tão importante implica considerarmos um sujeito capaz de deixar-se afetar e sentir a si mesmo e ao mundo a sua volta por meio das visualidades que lhe são apresentadas. UNIDADE 1 — CULTURA VISUAL E ARTE 6 O ato de ver compreende explorar, conhecer e aproximar-se das paisagens, pessoas e objetos por meio da vista. A visão pode ser entendida não apenas como um sentido necessário que nos permite verificar o universo, mas também um meio de permitir o desenvolvimento de significados mais profundos sobre aquilo que nos cerca. Visão e visualidade são conceitos distintos, mas que podem se complementar. Para Foster (1988), a visão seria a atividade biológica que nos propicia enxergar o mundo, enquanto a visualidade trata da condição cultural da experiência visual. Desse modo, “para compreendermos os enfoques da Cultura Visual devemos nos dedicar à visualidade, ou seja, à dimensão cultural do olhar, dimensão histórica e contextual” (SÉRVIO, 2014, p. 198). A visão sem os aspectos culturais que a envolve pouco nos informará sobre algo, mas a visualidade corresponde a todos os sentidos e significados que estão contidos naquilo que enxergamos. O campo da visualidade inclui, portanto, a me- diação cultural do olhar, a imagem dentro da representação. Assim, a dimensão cultural é o que transforma a visão em visualidade (HERNÁNDEZ, 2007). A cultura visual se revela quando passamos a compreender que a experiência visual nos acontece por meio da cultura. Logo, o reconhecimento da intencionalidade das formas visuais presentes em uma imagem são um processo importante de leitura de mundo. A partir de construções simbólicas é que percebemos as visualidades e assim é preciso sabermos compreender as imagens que nos cercam, tomando como base não apenas as obras artísticas, mas todas as imagens que são colocadas em nosso cotidiano. Saber interpretar e refletir sobre estes objetos é algo que nos auxilia a exercitar e aguçar nossas percepções de uma forma mais sensível, crítica e autônoma. Para Nicholas Mirzoeff, a cultura pós-moderna em que vivemos é eminentemente visual. Para aprofundar seus conhecimentos em relação à cultura visual você pode consultar o livro An introduction to visual culture (ROUTLEDGE, 1999), além do artigo On visuality (Journal of Visual Culture, v. 5, n. 1, 2006, p. 53-79), no qual ele trata sobre a visualidade. DICAS TÓPICO 1 — CULTURA VISUAL, INSTITUIÇÕES E POLÍTICAS CULTURAIS 7 O conceito de cultura visual é relativamente recente e está atrelado às mudanças ocorridas nas últimas décadas a respeito da compreensão da arte, da cultura, da imagem, da história, da educação. Está ainda vinculado ao sentido de mediação, de expressão, valor e significado. Nesse caminho, para compreendermos como este campo se originou e qual a sua intenção, vamos fazer uma breve revisão de todos os vocábulos que já foram utilizados a respeito da arte e seus temas ao longo da história, a partir do que apresenta Dias (2011). A primeira expressão a ser verificada é o termo Belas-Artes, que surgiu com as Academias de Arte durante o Renascimento europeu, a qual originou ainda a distinção entre os artistas e artesãos. Neste período, as pinturas e esculturas que eram produzidas pelos artistas estavam atreladas ao conceito de belo e eram caracterizadas como Artes Maiores (ou seja, Belas-Artes), enquanto os artefatos cotidianos produzidos pelos artesãos, como gravuras, tapeçarias e cerâmicas, eram considerados como artes menores. Mais tarde, no século XX, o termo Artes Plásticas entrou em vigor no Brasil e passou a contemplar outras formas de arte, como a arte conceitual, as performances e instalações. Logo em seguida, por volta de 1960, nos Estados Unidos e 1990 no Brasil, surgiu o conceito de Artes Visuais, o qual estava estritamente associado à visão. Devido ao avanço da tecnologia e à massiva produção e utilização das imagens, este vocábulo englobava também outras áreas da visualidade, como o cinema, as artes digitais, o design e a comunicação visual. A partir do início do século XXI, disseminou-se então a expressão cultura visual para qualificar o universo imagético que engloba nosso cotidiano, afetando a maneira como pensamos, agimos, julgamos e nos expressamos. Hoje, a cultura visual é importante não apenas como um objeto de estudo das artes visuais mas, como já vimos, ela também auxilia no conhecimento de diversas outras áreas, a exemplo da economia, da publicidade e das novas tecnologias. Por abranger nossa experiência diária, este campo contribui para que outras esferas de estudo possam usufruir de seu entendimento e compreender como as visualidades se apresentam e interagem com o modo de vida das pessoas. FIGURA 2 - TERMINOLOGIA DA ARTE FONTE: Adaptado de Dias (2011) 2.2 O CAMPO DA CULTURA VISUAL UNIDADE 1 — CULTURA VISUAL E ARTE 8 Abordar a cultura visual também nos ajuda a verificar como as sociedades do passado se organizavam, visto que ela trabalha com a representação da imagem em seu contexto social e histórico. Desse modo, ao analisarmos uma obra de arte de séculos anteriores, ou a imagem contida em uma publicidade de décadas atrás, poderemos compreender quais eram os pensamentos, valores e crenças exercidos naquele período. Alguns autores consideram ainda que, além das imagens, os estudos em cultura visual devem abarcar todas as visualidades que nos permeiam. Para Mitchell (2002), por exemplo, este campo inclui a experiência visual como um todo, ou seja, engloba tudo o que vemos, apresentamos, exibimos, do mesmo modo como aquilo que omitimos, não mostramos e deixamos de observar. Assim, enquanto para algunsteóricos o estudo da imagem é apenas uma parte importante do campo de estudos da cultura visual, outros “dedicam-se exclusivamente às experiências mediadas por imagens” (SÉRVIO, 2014, p. 205). O fato de que a cultura visual está eminentemente ligada à atualidade, faz com que tenhamos que, cada vez mais, dirigir nossa atenção a este campo de estudo. Uma das ações voltadas ao estímulo da percepção visual é a educação em cultura visual, a qual pode servir como uma ponte entre os sujeitos e as visualidades, para que estes reflitam e ampliem sua compreensão sobre as imagens que observam. Trabalhar a noção de cultura visual nos espaços educativos contribui para que cada indivíduo possa construir e interpretar as experiências visuais em seu cotidiano. Uma educação voltada à ampliação do olhar, oportuniza novas possibilidade de decodificação do universo visual de cada indivíduo, para que ele possa visualizar, ressignificar e transformar as visualidades que encontra. Hernández (2007) propõe pensarmos a respeito de como as relações com a cultura visual evocam nossa percepção sobre o mundo, sobre nós mesmos e o outro. O autor busca trazer estas questões para o contexto educacional a partir da ideia de que este campo pode trazer um novo rumo para a educação das artes visuais, visto que vivemos hoje em um novo sistema imagético. Desse modo, não podemos mais ficar atrelados às imagens artísticas ligadas apenas à história da arte, pois as visualidades do mundo contemporâneo vão além desse repertório. Precisamos pensar uma educação em cultura visual que mobilize e estimule significados mais críticos e repletos de sentidos acerca das imagens e de todas as experiências visuais que nos acometem. TÓPICO 1 — CULTURA VISUAL, INSTITUIÇÕES E POLÍTICAS CULTURAIS 9 Para conhecer mais sobre a proposta de Fernando Hernández para uma nova narrativa educacional baseada na cultura visual, consulte o livro Catadores da cultura visual (MEDIAÇÃO, 2007). DICAS 3 INSTITUIÇÕES CULTURAIS Instituição cultural é um elemento em uma cultura que é entendida como importante, ou tradicionalmente valorizada entre seus membros por seus valores identitários. Para reconfigurar uma nova relação entre a cultura e a vida em comunidade as instituições culturais têm um papel importante na promoção de programas educativos, culturais, expositivos, que ultrapassam os muros da instituição para chegar a favelas e populações distantes. Exemplos de instituições culturais nas sociedades ocidentais modernas são museus, escolas e bibliotecas, que reinventam continuadamente as formas de se relacionarem com os seus públicos, os novos enfoques de gestão cultural e o trabalho em rede. • Museus FIGURA 3 - MUSEU FONTE: <viajandoporsantacatarina.wordpress.com>. Acesso em: 22 set. 2019. Um museu é, na definição do International Council of Museums (ICOM, 2001, p. 15), "uma instituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público e que adquire, conserva, investiga, difunde e expõe os testemunhos materiais do homem e de seu entorno, para educação e deleite da sociedade". UNIDADE 1 — CULTURA VISUAL E ARTE 10 • Escolas FIGURA 4 - ESCOLA FONTE: <https://www.riachaonet.com.br/portal/tag/uniasselvi/>. Acesso em: 22 set. 2019. É uma instituição concebida para o ensino de alunos sob a direção de professores. A maioria dos países tem sistemas formais de educação, que geralmente são obrigatórios. Nestes sistemas, os estudantes progridem através de uma série de níveis escolares e sucessivos. Os nomes para esses níveis nas escolas variam por país, mas geralmente incluem o ensino fundamental (ensino básico) para crianças e o ensino médio (ensino secundário) para os adolescentes que concluíram o fundamental. Uma instituição onde o ensino superior é ensinado, é comumente chamada de faculdade ou universidade. • Bibliotecas FIGURA 5 - BIBLIOTECA FONTE: <https://selecao.nead.com.br/fotos_polo.php?cp=10014>. Acesso em: 22 set. 2019. TÓPICO 1 — CULTURA VISUAL, INSTITUIÇÕES E POLÍTICAS CULTURAIS 11 Na definição tradicional do termo, é um local em que são guardados livros, documentos tridimensionais, e demais publicações para o público estudar, ler, e consultar tais obras. Desta forma, são espaços de: • Guarda dos livros e demais publicações em local adequado para preservação e demais perigos; • Conservação, porque o público manuseia constantemente as obras, ou porque os documentos ficam sujeitos à umidade ou em situações de vulnerabilidade; • Organização segundo algumas regras para catalogar e arquivar as obras impressas, por meio de classificações como autor, assunto, ou diferente característica de importância. • Centros culturais FIGURA 6 - CENTRO CULTURAL FONTE: <https://bit.ly/3iFzAQk>. Acesso em: 22 set. 2019. Um centro cultural é um espaço arquitetônico destinado à apresentação de manifestações culturais das mais diversas modalidades. Um Centro cultural tem como principais tarefas estimular a criação artístico-cultural; promover interações entre Arte, Ciência e Filosofia; promover o fortalecimento da identidade cultural da comunidade e a cidadania cultural da comunidade em geral; desenvolver experiências conjuntas entre as diferentes áreas do conhecimento artístico e cultural. 3.1 INSTITUIÇÕES CULTURAIS PÚBLICAS Podemos compreender como espaços culturais os locais que são destinados, de patrimônio público, para que possam ser realizadas atividades inerentes a culturas específicas: locais, estaduais, federais ou internacionais. Nesses locais podemos destacar a atuação de atividades como desenvolvimentos artísticos, teatrais, além de bibliotecas públicas, museus, cinemas, teatros, arquivos públicos e centros culturais atendendo aos requisitos legais e relacionados às demais formas de arte existentes no mundo; desenvolvendo ações de promoção da fruição cultural. UNIDADE 1 — CULTURA VISUAL E ARTE 12 3.2 INSTITUIÇÕES CULTURAIS PRIVADAS O papel exercido por um centro cultural tanto público como privado é para o aprimoramento cultural da população de uma cidade, e o caminho para tal é a inclusão social das pessoas na cadeia produtiva da cultura, oferecendo condições para que todos – especialmente aqueles excluídos do consumo das artes – tenham acesso à inventividade artística das diversas manifestações culturais. As instituições culturais privadas geralmente pertencem a segmentos que ancoram economicamente certas regiões com, um elenco de atividades comerciais, lúdicas, de circulação de bens simbólicos e com poder aglutinador de pessoas. Outro papel importante é contribuir no processo de maturação profissional da classe artística, abrindo oportunidades para a formação do artista bem como de público para a arte e proporcionar que os diversos tipos de artista possam apresentar seu trabalho de forma digna, em espaços adequados e com possibilidades da construção do diálogo entre artista e público. 3.3 ONG As Organizações não Governamentais (ONGs) são organizações sem fins lucrativos, constituídas formalmente e autonomamente, caracterizadas por ações de solidariedade no campo das políticas públicas e pelo legítimo exercício de pressões políticas em proveito de populações excluídas das condições da cidadania. Todavia, isso requer, ainda, um estudo político e sociológico mais profundo, principalmente no que diz respeito à regulamentação e representatividade de instituições políticas (partidos, agremiações) e sociais (clubes e agremiações sociais), e também às suas responsabilidades atuais perante a lei e as determinações constitucionais. Essas organizações podem complementar o trabalho do Estado, podendo receber financiamentos e doações dele, assim como de entidades privadas, para tal fim. Atualmente, estudiosos têm defendido o uso daterminologia "organizações da sociedade civil" para designar tais instituições. É importante ressaltar que, no Brasil, o termo "ONG" não tem valor jurídico, sendo que a qualificação de OSCIP (ou as antigas "entidades de utilidade pública") é o reconhecimento oficial e legal mais próximo do que se entende por ONG. IMPORTANT E TÓPICO 1 — CULTURA VISUAL, INSTITUIÇÕES E POLÍTICAS CULTURAIS 13 No Brasil, possuímos um mecanismo capaz de atender e financiar boa parte dos projetos dessas organizações – o incentivo fiscal. Através da legisla- ção vigente, pessoas físicas e jurídicas (tributadas pelo lucro real) podem di- recionar parte de seu imposto de renda devido se utilizando de sete diferentes fundos: Fundo da Infância e Adolescência (FIA), Fundo do Idoso, Lei Rouanet ou Lei do Audiovisual, Programa Nacional de Apoio à Atenção Oncológica (PRONON) e Programa Nacional de Apoio à Atenção da Saúde da Pessoa com Deficiência (PRONAS). 4 AS POLÍTICAS CULTURAIS Políticas culturais são formulações e/ou propostas desenvolvidas pela administração pública, organizações não governamentais e empresas privadas, com o objetivo de promover intervenções na sociedade através da cultura. Por se tratar de objeto de estudo recente, o conceito de políticas culturais ainda não alcançou uma delimitação consensual entre os teóricos. A complexidade subjacente a esta definição descende, inevitavelmente, de outros dois densos e amplos conceitos: Cultura e Política. Cultura significa todo aquele complexo que inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos pelo ser humano não somente em família, como também por fazer parte de uma sociedade da qual é membro: https://www.significados.com.br/cultura/. NOTA Política é a ciência da governança de um Estado ou Nação e também, uma arte de negociação para compatibilizar interesses. O termo tem origem no grego politiká, uma derivação de polis que designa aquilo que é público e tikós, que se refere ao bem comum de todas as pessoas. O significado de política é muito abrangente e está, em geral, relacionado com aquilo que diz respeito ao espaço público e ao bem dos cidadãos: https://www.significados.com.br/politica/. NOTA UNIDADE 1 — CULTURA VISUAL E ARTE 14 As discussões suscitadas pelo conceito de políticas culturais estão focadas no campo de atuação dessas políticas e nos agentes envolvidos em sua formulação e prática. Consideramos importante situar algumas questões a respeito do conceito de políticas públicas culturais. De acordo com Certeau (2008, p. 195), "qualifica-se como política cultural um conjunto mais ou menos coerente de objetivos, de meios e de ações que visam à modificação de comportamentos, segundo princípios ou critérios explícitos". Nessa visão podemos pontuar a ação governamental na construção das políticas públicas de maneira geral, e mais especificamente no campo cultural. Nesta perspectiva, podemos afirmar que as diferentes noções de políticas culturais vêm da tradição pós-monárquica europeia onde a cultura e especialmente as coleções e os museus tomam um caráter público ao longo do tempo, contribuindo para uma reflexão contemporânea sobre o papel das políticas culturais, seus impactos e suas motivações como ações culturais. Complemente seu conhecimento fazendo a leitura dos livros Política Nacional de Museus, em shorturl.at/fhnHK, e Legislação sobre museus, em shorturl.at/drBR9. DICAS 4.1 POLÍTICAS CULTURAIS GLOBAIS Teixeira Coelho Neto (1997, p. 292) afirma que as iniciativas desses agentes visam “promover a produção, a distribuição e o uso da cultura, a preservação e divulgação do patrimônio histórico e o ordenamento do aparelho burocrático por elas responsável”; considera, ainda, política cultural como uma “ciência da organização das estruturas culturais” que tem como objetivo “o estudo dos diferentes modos de proposição e agenciamento dessas iniciativas, bem como a compreensão de suas significações nos diferentes contextos sociais em que se apresentam”. A transversalidade do campo cultural, apontado por Rubim (2006), que perpassa todas as áreas da vida social, tais como economia, comunicação, direito, comportamento, diversidade, política (trans) nacional, exige das políticas culturais uma articulação capaz de romper as fronteiras da dimensão sociológica da cultura. TÓPICO 1 — CULTURA VISUAL, INSTITUIÇÕES E POLÍTICAS CULTURAIS 15 4.2 POLÍTICAS CULTURAIS NO BRASIL No Brasil, as conquistas sociais democráticas durante a luta pela redemocratização nacional nos anos 1980, foram asseguradas pela Constituição Federal de 1988, que consolidou novos espaços de participação social. No plano cultural, o contexto dos anos 1980-90 foi marcado por dois movimentos divergentes. Por um lado, discutia-se e programavam-se algumas experiências locais de políticas públicas culturais que visavam à vazão da pluralidade cultural, a ruptura com concepções hierarquizantes dos níveis culturais, o direito à cultura enquanto dimensão da cidadania e a participação cultural (CALABRE, 2007; RUBIM, 2013; BARROS, 2013; MATA-MACHADO, 2010a; 2010b). Por outro lado, o avanço neoliberal também foi sentido na política cultural. Nesse período, a política cultural nacional se resumiu às leis de incentivo e na retração do papel do Estado na cultura, onde “o poder de decisão sobre quais atividades [culturais] deveriam ser apoiadas passou a ser de responsabilidade das empresas” (RUBIM, 2013, p. 61). Já os anos 2000 são analisados pela literatura relevante como o início de mudanças significativas na política cultural democrática promovida pelo Governo Federal, sobretudo no sentido da ampliação da noção de cultura, valorização da diversidade cultural e ampliação da participação social na política pública cultural (RUBIM, 2007; SIMIS, 2007; CALABRE, 2007; 2010; 2013; RUBIM; BRIZUELA; LEAHY, 2010). 4.3 LEIS DE INCENTIVO À CULTURA Organismos internacionais como a Unesco recomendam que pelo menos 1% da riqueza de um país seja aplicado no setor cultural. O Brasil, apesar de ocupar importante posição econômica e querer assumir lideranças políticas, especialmente na América Latina, não consegue atentar para a importância do investimento em setores como tecnologia, meio ambiente, esporte e cultura. O contingenciamento de verbas para pagamento de dívidas ou para equilibrar orçamentos sempre recai sobre essas áreas, indispensáveis ao processo de inovação e desenvolvimento socioeconômico. O fomento à cultura acontece no nível federal, algumas vezes no nível estadual e também, municipal. A lei federal é conhecida como a Lei Rouanet – 8313/91 que usa o Imposto de Renda que é imposto federal para fomentar a cultura. Nos 21 Estados onde existe uma lei de fomento à cultura o imposto que é usado é o ICMS. UNIDADE 1 — CULTURA VISUAL E ARTE 16 4.3.1 A Lei de Incentivo à Cultura A Lei de Incentivo à Cultura, amplamente conhecida como Lei Rouanet (Lei nº 8.313/91), foi criada com a proposta principal de oferecer recursos financeiros a projetos artísticos. Por meio dela, profissionais e grupos de diversas áreas da arte têm conseguido capital para se desenvolver e realizar filmes, projetos musicais, peças teatrais e todos os tipos de manifestações culturais. 4.3.2 O incentivo fiscal É importante destacar que parte do dinheiro captado para esses projetos culturais vem por meio de um mecanismo de incentivo fiscal promovido pelo Governo Federal. Essa foi uma forma encontrada para que o setor privado apoiasse a cultura no Brasil – e tem feito muita diferença tanto para essas instituições, que se valem de benefícios, quanto para os artistas. A nova Instrução Normativa, aprovada em 2017, trouxe maiores possibilidades às empresas, como forma de estimular o patrocínio.Entre elas, está o incentivo para que essas instituições realizem ações de marketing promovendo suas marcas durante a divulgação dos projetos culturais apoiados. 4.3.3 As leis estaduais Além da Lei Rouanet, que é federal, diversos estados têm suas próprias leis de incentivo fiscal, que podem variar. Elas oferecem, basicamente, abatimento fiscal no ICMS, enquanto as que são de âmbito municipal garantem isenção de parte do ISS. Além disso, dispensam que as empresas sigam o regime tributário em lucro real. A seguir, conheça quais são as principais leis estaduais e entenda quais são as suas características mais importantes. ProAC O Programa de Ação Cultural (ProAC) é a principal lei de incentivo fiscal para a cultura de São Paulo. Ela permite que os patrocinadores apoiem projetos realizados no estado e, com isso, abatam os valores devidos do ICMS. O total é de até 3% do ICMS cobrado, com abatimento de 100% do montante destinado. Uma empresa que paga R$ 10 milhões de imposto estadual, por exemplo, pode oferecer até R$ 300 mil de incentivo. No entanto, também há alíquotas menores de teto para o apoio. Para poder recorrer a essa lei, o negócio deve ser credenciado pela Secretaria de Fazenda, que define um valor-limite para o apoio mensal. O desconto acontece no montante a ser pago em cada mês, o que gera um retorno quase imediato. TÓPICO 1 — CULTURA VISUAL, INSTITUIÇÕES E POLÍTICAS CULTURAIS 17 Lei Municipal de Incentivo à Cultura Existente na cidade do Rio de Janeiro, a Lei Municipal de Incentivo à Cultura oferece incentivo fiscal para empresas da capital carioca. Ela permite que o contribuinte destine até 20% do ISS para projetos culturais aprovados, com abatimento de 100% do valor. Se um estabelecimento paga R$ 1 milhão de ISS por mês, ela pode apresentar até R$ 200 mil de apoio cultural no período. O maior desafio é a burocracia envolvida, já que a empresa tem que se credenciar na Secretaria Municipal de Cultura. Também é preciso fazer a destinação de valores pela Nota Carioca e o desconto é feito no mesmo mês. LIC-DF A Lei de Incentivo à Cultura está entre as mais importantes do país. Os proponentes devem ter o Cadastro de Entes e Agentes Culturais para participar, o que pode ser uma barreira sem a ajuda de agentes culturais que conheçam a legislação e adaptem os projetos nas normativas. Para saber mais sobre as leis de incentivo à cultura no Brasil, acesse o site www.leideincentivoacultura.cultura.gov.br. Para complementar seus estudos, confira a dissertação de Maíra Lopes Viana da Costa, sobre a lei de incentivo como política cultural, disponível em: shorturl.at/ERS17. DICAS 18 Neste tópico, você aprendeu que: RESUMO DO TÓPICO 1 • A cultura visual diz respeito ao universo das imagens que fazem parte do nosso mundo. • A cultura é um tema que permeia muitas áreas do conhecimento, assim a cultura visual é também interdisciplinar. • O conceito de cultura visual está vinculado ao sentido de mediação, de expressão, valor e significado. • Uma educação voltada à ampliação do olhar, oportuniza possibilidade de decodificação do universo visual de cada indivíduo, contribui para que ele possa visualizar, ressignificar e transformar as visualidades que encontra. • Instituição cultural é um elemento em uma cultura que é entendida como importante, ou tradicionalmente valorizada entre seus membros por seus valores identitários. • Exemplos de instituições culturais nas sociedades ocidentais modernas são Museus, Escolas e Bibliotecas que reinventam continuadamente as formas de se relacionarem com os seus públicos, os novos enfoques de gestão cultural e o trabalho em rede. • Políticas culturais são formulações e/ou propostas desenvolvidas pela administração pública, organizações não-governamentais e empresas privadas, com o objetivo de promover intervenções na sociedade através da cultura. • O fomento à cultura acontece no nível federal, algumas vezes no nível estadual e também, municipal. A lei federal é conhecida como a Lei Rouanet – 8313/91 que usa o Imposto de Renda que é imposto federal para fomentar a cultura. 19 1 Quais são os traços culturais mais evidentes em sua comunidade? Cite e comente três deles. 2 Assinale a alternativa que apresenta instituições culturais: a) ( ) Museus, Bibliotecas, Escolas, Centros Culturais. b) ( ) Museus, Praças, Escolas, Centros Culturais. c) ( ) Museus, Estádios Esportivos, Praças, Monumentos. d) ( ) Praças, Livrarias, Estádios Esportivos, Bancos. 3 Leia a tirinha a seguir e teça um comentário sobre qual seu entendimento sobre cultura visual: AUTOATIVIDADE 20 21 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 MUSEUS E CURADORIA 1 INTRODUÇÃO No mundo contemporâneo, o museu consolidou-se e passou a desempenhar um papel fundamental no atual contexto, transformando-se em um dos paradigmas-chave das atividades culturais (HUYSSEN, 1997). Todas essas transformações impactaram o cenário brasileiro, deste início do século XXI. Neste novo ambiente, as fronteiras do museu tornaram-se cada vez mais móveis, rompendo as disciplinaridades, tornando-o lugar de preservação e também de integração, inclusão, reflexão e debate. Segundo Rangel (2010), na contemporaneidade, podemos observar um novo fenômeno de ressignificação e apropriação cultural do museu. Não estamos mais discutindo a democratização do acesso aos bens culturais presentes nas coleções museológicas ou o direito de acessar o capital cultural acumulado nestas instituições, mas sim a democratização do próprio museu, que passa a partir de agora a ser compreendido como uma ferramenta ou instrumento de trabalho que pode e deve ser utilizado por diferentes segmentos sociais. Ao adotarmos essa perspectiva, estamos afirmando que todo indivíduo e toda comunidade têm direito à memória, ou seja, à preservação, à transmissão e à continuidade do significado de todas as coisas consideradas relevantes para estes grupos. A memória identifica o grupo, conferindo sentido ao seu passado e definindo as suas aspirações para o futuro. 2 CONCEITO DE MUSEU Um museu é, na definição do International Council of Museums (ICOM, 2001), "uma instituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público e que adquire, conserva, investiga, difunde e expõe os testemunhos materiais do homem e de seu entorno, para educação e deleite da sociedade". Os museus tiveram origem no hábito humano do colecionismo, que nasceu junto com a própria humanidade. Desde a Antiguidade remota, o homem por infinitas razões, coleciona objetos e lhes atribui valor, seja afetivo, cultural ou 22 UNIDADE 1 — CULTURA VISUAL E ARTE simplesmente material, o que justifica a necessidade de sua preservação ao longo do tempo. Milhares de anos atrás já se faziam registros sobre instituições vagamente semelhantes ao museu moderno funcionando. Entretanto, somente no século XVII se consolidou o museu mais ou menos como atualmente o conhecemos. Depois de outras mudanças e aperfeiçoamentos, hoje os museus, que já abarcam um vasto espectro de campos de interesse, se dirigem para uma crescente profissionalização e qualificação de suas atividades, e se caracterizam pela multiplicidade de tarefas e capacidades que lhes atribuem os museólogos e pensadores, deixando de ser passivos acúmulos de objetos para assumirem um papel importante na interpretação da cultura e na educação do homem, no fortalecimento da cidadania e do respeito à diversidade cultural, e no incremento da qualidade de vida. Porém, muitos dos conceitos fundamentais que norteiam os museus contemporâneos ainda estão em debate e precisam de clarificação. 2.1 MUSEUS COM ACERVO O museu é um estabelecimento de caráter permanente, administrado para interesse geral, com a finalidade de conservar um acervo de espécimes ou artefatos, estudara origem da vida, valorizar de diversas maneiras os acervos e o conjunto de elementos de valor cultural material ou imaterial. A exemplo: coleções de objetos sonoros ou visuais artísticos, monumentos e patrimônios históricos, científicos e técnicos, também jardins botânicos, zoológicos e aquários. FIGURA 7 - MUSEU DE DOCUMENTOS FONTE: <https://bit.ly/2HYVYYk>.Acesso em: 22 set. 2019. TÓPICO 2 — MUSEUS E CURADORIA 23 FIGURA 8 - ACERVO MASP FONTE: <http://www.procimar.com.br/acervo-em-transformacao/>. Acesso em: 22 set. 2019. Acervo é o conteúdo de uma coleção privada ou pública, podendo ser de caráter bibliográfico, artístico, fotográfico, científico, histórico, documental, misto ou qualquer outro. Tanto os acervos públicos como os privados podem estar ainda desorganizados, ou já institucionalizados e sistematizados em museu ou sob outras formas de organização. O acervo caracteriza-se por ser um conjunto dos bens dinâmicos, em transformação em uma comunidade, e não somente uma coleção. Um conjunto de acervo cultural, por exemplo, pode ser de algum documento arquivado, de uma cultura que se perdeu no tempo, ou um conjunto de obra ou documento, isto é preservado e guardado em um museus. Acervo é uma palavra de origem no latim, acervus que condiz com coleção ou conjunto. 2.2 MUSEUS VIRTUAIS FIGURA 9 - VISITA EM MUSEU VIRTUAL FONTE: Disponível em: <https://www.melhoresdestinos.com.br/wp-content/uploads/2020/03/ museus-coronavirus-scaled.jpg>. Acesso em: 26. out 2020. 24 UNIDADE 1 — CULTURA VISUAL E ARTE A internet faz parte de nossas vidas e é um agente transformador em várias áreas do conhecimento. A Internet revolucionou a forma como as pessoas se comunicam. Os museus, como qualquer instituição, estão presentes na rede mundial de computadores. A criação de sites de museus proliferou a partir da década de 1990, com o avanço da Internet, mas muitos museus ainda nem possuem sites institucionais, ou possuem sites cujo único objetivo é disponibilizar informações de contato com a instituição. Em 1991, realizou-se em Pittsburgh, na Pensilvânia a primeira conferência sobre o uso da hipermédia e da interatividade nos museus. Mais conhecida pela sigla ICHIM – International Conference on Hypermedia and Interactivity in Museums – esta conferência tem se realizado bianualmente nos Estados Unidos e em alguns países da Europa para discutir as questões sobre o uso das novas tecnologias nos museus. O objetivo dessas conferências é promover o potencial da multimídia interativa nos programas dos museus. Nesse sentido, nos anos seguintes foi constante as reuniões de profissionais dos museus, principalmente aqueles ligados às áreas de novas tecnologias, em conferências, associações, congressos, criação de conselhos e outras ações pró conectividade em museus. Em relação às discussões institucionais, o CIDOC – International Committee for Documentation, através de um grupo de trabalho específico sobre o uso da Internet, produziu durante o encontro na Noruega, em 1995, um documento sobre o uso de multimídia nos museus. Em 1996, o documento foi finalizado e traça algumas diretrizes sobre a Internet e museus tornando possível abrir mão da exposição tridimensional tradicionalmente usada pelos museus como forma de divulgação de seu acervo, criando novas perspectivas de apresentação do acervo. Além disso, a Internet possibilita visitas virtuais, podendo atrair mais público para a visita ‘real’. Ou seja, além de ser um cartão de visitas do museu, a Internet possibilita o acesso ao patrimônio de uma forma mais ampla. Atualmente um grande número de museus possui sites institucionais para acessibilizar ao grande público informações sobre o conteúdo do seu acervo e sobre as atividades culturais desenvolvidas em seu espaço. Assim, o uso da Internet como meio de divulgação e comunicação possibilitou aos museus uma interação maior com os utilizadores. Além da criação de sites com informações sobre o conteúdo de seu acervo, os museus utilizam também dos meios de comunicação próprios da Internet: e-mails, boletins etc., para divulgar o trabalho desenvolvido. Além do uso como uma ferramenta de marketing, a Internet possibilita a montagem de redes de conexão entre várias instituições afins e com objetivos convergentes, principalmente pela difusão do conhecimento entre os especialistas. Este uso pode ser feito através de listas de discussões, fóruns, rede de comunicação, etc., pois a Internet possibilita uma troca de experiências entre os profissionais dos museus de forma mais rápida e consistente. Nesse sentido, a troca de informações e discussões sobre temas no âmbito da museologia, através da criação de redes de informação é uma ferramenta que pode ser usada na Internet. TÓPICO 2 — MUSEUS E CURADORIA 25 Outras formas de uso da Internet pelos museus são colaborações multi- institucionais. Nesse caso, a instituição responsável pelo projeto convida outras instituições a participarem com conteúdos específicos, criando exposições permanentes na Internet. Um exemplo disso é a exposição “Museus e Milénio”, promovida pelo Museu da Civilização de Québec em 2000. Naquele ano, o Museu da Civilização convidou várias instituições museológicas de todo o mundo para criar conteúdos ou expor conteúdos dos seus acervos relativos ao século XX. O resultado é uma exposição de conteúdos culturais e patrimoniais de vários museus no mundo. Nesta exposição colaboraram doze museus de várias partes do mundo: França, Estados Unidos, Suíça, Suécia, Eslovénia, Brasil, Canadá, Madagáscar, Itália e Alemanha. Este tipo de colaboração, embora mais raro, é de fundamental importância, pois permite que os museus usem a Internet no seu melhor: criando laços virtuais com outras instituições. Infelizmente, a maioria dos museus ainda não viram a potencialidade de utilizar a Internet para este tipo de colaboração inter-institucional. NOTA As discussões sobre os museus virtuais estão em constante construção e é fácil confundirmo-nos com as outras denominações, tais como: museu eletrônico, museu digital, museu online, museu hipermídia, metamuseu, museu cibernético, cibermuseu e museu no ciberespaço. Por se tratar de uma temática contemporânea na museologia, não há um consenso em relação ao que é considerado museu virtual e o que seria apenas um site de museu. A maioria dos autores que trabalha com a questão aponta para uma definição ligada à virtualização dos objetos e sua apresentação online, sem uma discussão mais profunda sobre os aspectos teóricos deste tipo de abordagem. A internet permitiu a possibilidade da emergência de uma outra cultura, pois o virtual alargou o campo da expografia, bem como o processo de sentir – experiência estética, as formas de exposição – acervos físicos e virtuais apoiando- se e o virtual como elemento que propõe uma nova forma de ver e estar no mundo. Nesse sentido, o museu virtual não é a reprodução de um museu físico, mas um museu completamente novo, criado para traduzir as ações museológicas no espaço virtual. O museu virtual é uma espécie de um museu imaginário porque ao mesmo tempo que trabalha com a reprodução, prioriza o uso da imagem como referência patrimonial. Em relação ao conceito do museu virtual é preciso esclarecer que o museu virtual pode ter duas configurações: vertentes virtuais de determinado museu físico, ou seja, podem ser uma outra dimensão do museu físico ou museus essencialmente virtuais. Nesse caso, a existência de um museu virtual não pressupõe a existência de um museu físico como exemplo o Museu do Amanhã no Rio de janeiro. 26 UNIDADE 1 — CULTURA VISUAL E ARTE Conheça o Museu do Amanhã pesquisando no site: www.museudoamanha.org.br. DICAS FIGURA 10 - EXTERIOR DO MUSEU DO AMANHÃ FONTE: <https://museudoamanha.org.br/>. Acesso em: 22 set. 2019. FIGURA 11 - INTERIOR DO MUSEU DO AMANHÃ FONTE: <https://museudoamanha.org.br/>.Acesso em: 22 set. 2019. TÓPICO 2 — MUSEUS E CURADORIA 27 2.3 CENTROS INTERATIVOS O museu interativo tem se transformado em espaços fundamentais para a apreciação e valorização do patrimônio material e imaterial. A tecnologia reinven- tou nosso modo de viver e nos permite simular os fenômenos naturais de forma que o sujeito participe, por meio de engenhocas, maquinário, robótica, instrumen- tos etc. Os museus precisaram se reinventar, deixando de ser um espaço somente de guarda de objetos para também serem espaços mediadores do conhecimento. O museu interativo tem a capacidade de criar experiências memoráveis, significati- vas a altamente contextualizadas, mas é pelo apelo estimulante das sensibilidades. É importante diferenciar experimento de experiência. Experimento é uma sequência de passos protocolados para realização de um fenômeno, também pode ser uma sequência de experimentalidades, ou seja, tentativas de chegar a um fenômeno ou a um objeto. Quanto à experiência, entendemos que é o que nos acontece quando somos afetados por algo, é um estado interno de suspensão onde nossos sentimentos e pensamentos estão a acontecer juntos, é um estado de ânimo que nos abarca e pode desencadear prazer ou desprazer quanto o que reverbera do fenômeno ou do objeto e é por nós significado. FIGURA 12 - USO DE TECNOLOGIAS NOS ESPAÇOS MUSEOLÓGICOS FONTE: <triscele.com.br>. Acesso em: 22 set. 2019. FIGURA 13 - USO DE EQUIPAMENTOS PARA MANIPULAÇÃO FONTE: <http://www.cataventocultural.org.br>. Acesso em: 22 set. 2019. 28 UNIDADE 1 — CULTURA VISUAL E ARTE A maioria das instituições buscou novas formas de trabalhar o museu, tor- nando-o mais atrativo. Os museus interativos são tecnológicos e despertam o inte- resse e a curiosidade dos que o visitam pelas possibilidades ofertadas de participar. A interatividade nos museus é uma tendência mundial. No Brasil as exposições com interatividade estão se tornando cada vez mais frequentes. O museu interativo seduz os usuários e oferecem condições de novas abordagens para os conteúdos que o museu quer transmitir. O uso das tecnologias no museu, trata-se portanto, de uma maior interatividade com o público. Isso permite maior acesso às informações, bem como a sua democratização. Qr Code: Tecnologia aplicada em exposições museológicas Eles apareceram no mundo praticamente de uma hora para a outra. Quase que sorrateiramente os QR Codes surgiram em vários lugares, desde embalagens de produtos até etiquetas espalhadas pelas grandes cidades. Nesse espaço também desponta o museu interativo com suas exposições. O QR Code é um código de barras em 2D que pode ser escaneado pelos celulares. Após decodificado, passa a ser um trecho de texto e/ou um link. Este então tem redirecionado o acesso ao conteúdo publicado em algum site. NOTA Aplicações touch em um museu interativo Cada vez mais a tecnologia propõe-se o desenvolvimento de APP interativo e tem permitido uma troca de conhecimento de modo dinâmico nos museus. Isso tem contribuído para a desmistificação destes espaços enquanto apenas lugares para a guarda de objetos antigos. O uso de recursos multimeios, principalmente os aplicativos, permite uma nova dinâmica de interpretação das exposições. Por meio do desenvolvimento de aplicativos específicos, o museu tem maiores possibilidades de apresentar e dinamizar suas informações. NOTA TÓPICO 2 — MUSEUS E CURADORIA 29 2.4 EXPOSIÇÃO E AÇÃO EDUCATIVA FIGURA 14 - AÇÃO EDUCATIVA DIRIGIDA A ESCOLAS NO MUSEU FONTE: <http://unespciencia.com.br/2018/03/01/museus-94/>. Acesso em: 22 set. 2019. A exibição de um acervo material ou imaterial é um processo tão complexo quanto sua conservação na armazenagem, envolve direta ou indiretamente todos os funcionários da instituição, é o grande bem do museu, é o motivo dele existir, é o que o identifica para poder contar sua narrativa ao público. Com o apoio de propostas pedagógicas que visam mediar a narrativa do museu e as opções expositivas da curadoria para contar uma história, as construções do conhecimento podem oportunizar o aprimoramento dos saberes que cada um traz, bem como a construção do novo significar. Oportunizar aos estudantes o contato direto com as peças possibilita se efetivar a educação estética de forma a não apartar o conhecimento sensível e o inteligível. As ações educativas dos museus, se constituem como sendo um dos objetivos primários da exposição e do próprio museu. Isso posto, a tendência atual é de que as exposições sejam organizadas com objetividade e clareza, sob um planejamento curatorial decididamente voltado para a educação, devidamente identificando as peças e contextualizando o material exposto com informações ricas e exatas, mas acessíveis ao visitante, e propondo ações educativas complementares variadas, mas também possibilitar ao público uma experiência estética. Uma mostra, para ser culturalmente bem sucedida, passa por um trabalho coletivo de grande escala, longo alcance e de cunho estético e científico, e implica pesquisa cultural, produção de materiais acessórios, como publicações, e minucioso planejamento logístico, incluindo roteiro de marketing e divulgação na mídia, um processo iniciando meses, ou até anos, conforme o porte da mostra, 30 UNIDADE 1 — CULTURA VISUAL E ARTE antes da data de inauguração, e continuando por algum tempo depois no processo de avaliação de resultados. Requer do museu também um bom conhecimento do perfil do seu público - e para isso são úteis pesquisas de opinião e estatísticas. As exposições podem ser de longa duração, de curta duração, virtuais, ou itinerantes. Museus com boa infraestrutura já produzem catálogos ilustrados e materiais gráficos e informativos para cada exposição, e mantêm websites com rico material disponível para consulta online; têm departamentos especiais para ação educativa, articulação com escolas e instituições culturais, acolhimento do visitante e monitoramento da visitação, oferecendo diversas opções de atividades paralelas, como oficinas, palestras, teatro, concertos, visitas guiadas etc., e também fazendo programações diferenciadas para públicos particularizados, como estrangeiros, escolares, pessoas com necessidades especiais, crianças/ adultos, leigos/especialistas etc. Conheça um pouco sobre o Museu da Língua Portuguesa através de sua página na internet: www.museudalinguaportuguesa.org.br. DICAS 3 TIPOLOGIAS DE MUSEUS Não há um consenso sobre uma classificação para organizar os museus em uma tipologia definida. Vejamos, então uma possibilidade que leva em consideração as coleções de bens culturais que compõem os acervos dos museus e que, segundo o IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, podem ser classificadas em: • Antropologia e Etnografia: coleções relacionadas às diversas etnias, voltadas para o estudo antropológico e social das diferentes culturas. Ex: acervos folclóricos, artes e tradições populares, indígenas, afro-brasileiras, do homem americano, do homem do sertão etc. • Arqueologia: coleções de bens culturais portadores de valor histórico e artístico, procedentes de escavações, prospecções e achados arqueológicos. Ex: artefatos, monumentos, sambaquis etc. • Artes Visuais: coleções de pinturas, esculturas, gravuras, desenhos, incluindo a produção relacionada à Arte Sacra. Nesta categoria também se incluem as chamadas Artes Aplicadas, ou seja, as artes que são voltadas para a produção de objetos, tais como porcelana, cristais, prataria, mobiliário, tapeçaria etc. • Ciências Naturais e História Natural: bens culturais relacionados às Ciências Biológicas (Biologia, Botânica, Genética, Zoologia, Ecologia etc.), às GeoCiências (Geologia, Mineralogia etc.) e à Oceanografia. TÓPICO 2 — MUSEUS E CURADORIA 31 • Ciências e Tecnologia: bens culturais representativos da evolução da Históriada Ciência e da Técnica. • História: bens culturais que ilustram acontecimentos ou períodos da História. • Imagem e Som: documentos sonoros, videográficos, filmográficos e fotográficos. • Virtual: bens culturais que se apresentam mediados pela tecnologia de interação cibernética (internet). • Biblioteconômico: publicações impressas, tais como livros, periódicos, monografias, teses etc. • Documental: pequeno número de documentos manuscritos, impressos ou eletrônicos reunidos intencionalmente a partir de uma temática. • Arquivístico: conjunto de documentos acumulados por pessoas ou instituições, públicas ou privadas, durante o exercício de suas atividades, independentemente do suporte. Essas várias classes constituem um amplo e diversificado campo de pesquisas sobre patrimônio material e imaterial, podendo os museus, em conformidade com suas escolhas interpretativas, enquadrar seu acervo em mais de uma temática. Os acervos de museus especializados são muito diversificados, encontra- mos coleções de objetos de arte ou da cultura material de um povo, artefatos arque- ológicos, de espécimes, de documentos gráficos e iconográficos etc. Vale ressaltar que os dados referentes ao tombamento também complementam a classificação dos acervos. Com essa diversidade, o que define o tipo de museu especializado são as suas coleções, sendo assim também encontramos a seguinte classificação: • Museu Histórico: museus em que prevalece a relevância histórica do seu acervo. Ex.: Museu Histórico de Ribeirão Preto e Museu Histórico Nacional no Rio de Janeiro. • Museu de Arte: onde o seu acervo é constituído exclusivamente de obras de arte, como esculturas, pinturas e instalações. Ex.: MARP – Museu de Arte de Ribeirão Preto Pinacoteca de São Paulo. • Museus de Ciência: onde o propósito é ensino da ciência e de suas formas de raciocínio. Ex.:Museu da PUC de Porto Alegre ou Museu Oceanográfico UNIVALI, SC. Estação Ciência da USP São Paulo; Museus de Zoologia, USP São Paulo • Museus Biográficos: onde todo o acervo pertenceu ou foi produzido por uma só pessoa. Ex.:Museu Lasar Segal em São Paulo; Museu de Portinari em Brodósqui. • Museus Comunitários/Ecomuseus: tem o intuito de preservar a região em que se encontra, o ambiente cultural, social e espacial, mais voltado para a comunidade de onde se encontra, do que para visitantes de fora. Ex.: Eco Museu de Itaipu. • Museus De Bairro/Cidade: o seu enfoque é sobre história e a cultura dessa localidade, um resgate da memória. Ex.: Museu da Cidade em São Paulo. • Museus Temáticos: trabalha somente um tema, se utilizando de qualquer suporte de acervo para isso. Ex.: Museu do Café de Ribeirão Preto; Museu do Índio em Brasília; MIS – Museu da Imagem e do Som de Ribeirão Preto. 32 UNIDADE 1 — CULTURA VISUAL E ARTE • Museu Militar: nas Normas Gerais dos Museus e Coleções Visitáveis do Exército (NGMCVE) cujo objetivo é estabelecer o regime comum e promover o rigor técnico e profissional das práticas museológicas e outros procedimentos comuns aos museus militares e coleções visitáveis do Exército, no respeito pelo quadro jurídico do património nacional. Esta norma define museu militar como: o Museu militar é um órgão de natureza cultural depositário e expositor do espólio de interesse histórico-militar, com possibilidade para garantir um destino unitário, designadamente a bens culturais militares e valorizá-los através da investigação, incorporação, inventário, documentação, conservação, interpretação, exposição e divulgação, com objetivos científicos, educativos e lúdicos, incluindo o acesso regular ao público. Estes são alguns tipos de museus que encontramos, e cada um deles pode ter instituições mantenedoras, em diferentes instâncias, como prefeituras, estados, federal, sindicatos, grêmios, universidades ou mesmo serem particulares. 4 ÓRGÃOS REGULADORES Os chamados órgãos reguladores, correspondem à regulamentação de padrões éticos para museus, estabelecidos pelo Conselho Internacional de Museus. Estes órgãos refletem os princípios adotados, de modo geral, pela comunidade internacional de museus. 4.1 INTERNACIONAIS O Conselho Internacional de Museus (em inglês: International Council of Museums, ICOM) é uma organização não governamental internacional, sem fins lucrativos, que se dedica a elaborar políticas internacionais para os museus. O ICOM foi criado em 1946, mantém relações formais com a UNESCO e é membro do Conselho Econômico e Social da Organização das Nações Unidas. Sua sede é junto à UNESCO em Paris. Suas principais atividades são: • Cooperação e intercâmbio profissional. • Difusão de conhecimentos e aumento da participação do público em museus. • Formação de pessoal. • Prática e promoção de ética profissional. • Atualização de padrões profissionais. • Preservação do patrimônio mundial e combate ao tráfico de bens culturais. O Ibermuseus é uma iniciativa de cooperação e integração dos países ibero-americanos para o fomento e a articulação de políticas públicas para a área de museus e da museologia. É dirigido por um Conselho Intergovernamental que define suas ações, estratégias e prioridades. É integrado por representantes de TÓPICO 2 — MUSEUS E CURADORIA 33 países-membros: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, Espanha, México, Paraguai, Peru, Portugal e Uruguai. As ações e projetos são executados por meio de sua Unidade Técnica, que atualmente tem sede no Ibram, em Brasília. Dentro do Ibermuseus, o Ibram é um protagonista. Coordena a linha de sustentabilidade, tem participação ativa em todas as demais linhas de ação e acolhe a Unidade Técnica dentro de sua estrutura. 4.2 NACIONAIS O Instituto Brasileiro de Museus foi criado, em janeiro de 2009, com a assinatura da Lei nº 11.906. A nova autarquia vinculada ao Ministério da Cultura (MinC) sucedeu o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) nos direitos, deveres e obrigações relacionados aos museus federais. O órgão é responsável pela Política Nacional de Museus (PNM) e pela melhoria dos serviços do setor – aumento de visitação e arrecadação dos museus, fomento de políticas de aquisição e preservação de acervos e criação de ações integradas entre os museus brasileiros. Também é responsável pela administração direta de cerca de 30 museus em todo território nacional. FIGURA 15 – MUSEUS E CENTROS CULTURAIS 34 UNIDADE 1 — CULTURA VISUAL E ARTE FONTE: <www.ibram.gov>. Acesso em: 22 set. 2019. 5 CURADORIA EDUCATIVA A ação educativa visa o conhecimento intelectual do objeto juntamente com o conhecimento afetivo. Juntos, o sensível e o inteligível possibilitam que o sujeito e o objeto se relacionem de forma que o primeiro possa significar o que repercute dessa relação. O sensível refere-se às possibilidades corpóreas do sujeito ser afetado, ou seja, ver, ouvir, tocar, cheirar, degustar, intuir, imaginar. O inteligível é o que a priori o sujeito traz e, pela percepção do que no sensível lhe aconteceu, possibilita um jogo entre a sensibilidade e o entendimento do que o objeto significa. Essa relação entre o sujeito e o objeto pode transformar os entendimentos de forma a significá-los no mundo vivido do sujeito e o seu reconhecimento e valorização pode desencadear o novo conhecimento como traço identificatório comum. É precisamente aí que se torna mais importante a interação entre os diversos sujeitos sociais, dando sentido e pertinência ao patrimônio cultural. O conhecimento se constrói numa estreita inter-relação entre o conhecimento intelectual e o conhecimento afetivo, ou seja, a identificação, no patrimônio, de valores que nos permitam reconhecê-lo como um bem. A palavra curadoria tem origem epistemológica na expressão do latim curator, que significa tutor, ou seja, aquele que tem uma administração a seu cuidado, sob sua responsabilidade. A
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