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Módulo 7 Prática Pedagógica Interdisciplinar Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem

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1
FACULDADE ÚNICA
DE IPATINGA
2
Roberta Andrade e Barros
Doutora em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2021). Mestre
em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (2013). Especialista em
Psicoterapia de Família e de Casal pela PUC-MG (2010). Graduada em Psicologia pela
PUC-MG (2008). Atua como professora universitária desde 2009 em instituições públicas e
privas e leciona em diversos cursos de graduação e especialização.
PRÁTICA PEDAGÓGICA INTERDISCIPLINAR:
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E DA
APRENDIZAGEM
1ª edição
Ipatinga – MG
2021
3
FACULDADE ÚNICA EDITORIAL
Diretor Geral: Valdir Henrique Valério
Diretor Executivo: William José Ferreira
Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Cristiane Lelis dos Santos
Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Gilvânia Barcelos Dias Teixeira
Revisão Gramatical e Ortográfica: Izabel Cristina da Costa
Revisão/Diagramação/Estruturação: Bárbara Carla Amorim O. Silva
Bruna Luiza Mendes Leite
Carla Jordânia G. de Souza
Guilherme Prado Salles
Rubens Henrique L. de Oliveira
Design: Brayan Lazarino Santos
Élen Cristina Teixeira Oliveira
Maria Luiza Filgueiras
Taisser Gustavo de Soares Duarte
© 2021, Faculdade Única.
Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autorização
escrita do Editor.
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920.
NEaD – Núcleo de Educação a Distância FACULDADE ÚNICA
Rua Salermo, 299
Anexo 03 – Bairro Bethânia – CEP: 35164-779 – Ipatinga/MG
Tel (31) 2109 -2300 – 0800 724 2300
www.faculdadeunica.com.br
4
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Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo
aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones ao lado dos textos.Eles
são para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um
com uma função específica, mostradas a seguir:
São sugestões de links para vídeos, documentos científicos
(artigos, monografias, dissertações e teses), sites ou links das
Bibliotecas Virtuais (Minha Biblioteca e Biblioteca Pearson)
relacionados com o conteúdo abordado.
Trata-se dos conceitos, definições ou afirmações
importantes nas quais você deve ter um maior grau de
atenção!
São exercícios de fixação do conteúdo abordado em cada
unidade do livro.
São para o esclarecimento do significado de determinados
termos/palavras mostradas ao longo do livro.
Este espaço é destinado para a reflexão sobre questões
citadas em cada unidade, associando-o a suas ações, seja
no ambiente profissional ou em seu cotidiano.
5
SUMÁRIOUNIDADE
01
UNIDADE
02
UNIDADE
03
UNIDADE
04
UNIDADE
05
UNIDADE
06
6
CONFIRA NO LIVRO
A primeira unidade contextualiza a Psicologia e, mais
especificamente, a Psicologia da Educação, para tanto, apresenta
duas grandes psicólogas da Educação brasileira: Helena Antipoff e
Maria Helena Souza Patto.
Esse segundo capítulo traz os pontos mais relevantes sobre o
desenvolvimento humano e o seu estudo, quais as suas dimensões,
os seus domínios, qual a sua relação com a educação.
A Unidade III apresenta o inatismo, ambientalismo e a Psicologia
Comportamental, quais as suas concepções sobre o
desenvolvimento e suas ideias para a educação.
No quarto capítulo serão expostas as teorias de Piaget, Vigotski e
Wallon, três dos mais reconhecidos pensadores sobre o
desenvolvimento e o aprendizado humano.
Essa unidade abordará a teoria das inteligências múltiplas: o que é
inteligência? É possível falar em uma inteligência? Além disso, trará
contribuições dessa teoria para a educação.
Nesse último capítulo serão propostas discussões relevantes para o
cotidiano escolar: a relação família e escola, o bullying, a
indisciplina e violência na escola e o absenteísmo estudantil.
7
A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO:
INTERAÇÃO ENTRE A PSICOLOGIA
E A EDUCAÇÃO
1.1 BREVE HISTÓRICO E CONTEXTUALIZAÇÃO DA PSICOLOGIA
Essa unidade tratará sobre a contextualização e breve histórico da Psicologia
bem como sua relação com a Educação. Para compreender a interação entre
essas duas ciências, faz se necessário, inicialmente, entender o que é a Psicologia.
No dicionário online Aulete, “psique” é explicada como alma, mente, espírito.
Já “logia” é o discurso, tratado. Assim sendo, a Psicologia pode ser compreendida
como o estudo da mente. Atualmente, com a preocupação em manter o seu
compromisso com a cientificidade, a Psicologia é entendida como o estudo da
subjetividade. Mas, afinal, o que é a subjetividade?
A definição do conceito da subjetividade é bastante complexa. Para Bock,
Furtado e Teixeira (2008) podemos compreendê-la como o modo de ser, de sentir e
de se comportar de cada um. É importante entender que cada pessoa tem uma
subjetividade que é determinada pelo contexto social em que se está inserida, da
mesma forma que o sujeito vai também determinar esse contexto: é uma via de mão
dupla, o meio determina o sujeito e é por ele determinado. Ao longo da vida, de
acordo com as experiências que tem, com as pessoas com as quais convive, o
indivíduo pode mudar.
De acordo com Bock, Furtado e Teixeira (2008), antes de ser conhecida como
uma ciência e uma profissão, os assuntos hoje discutidos na Psicologia faziam parte
do cotidiano das pessoas, do senso comum, eram as ideias psicológicas. A partir do
século XIX, surge a Psicologia científica.
Nessa época, o padrão de cientificidade reconhecido era o das ciências
exatas, por isso, em um primeiro momento, a Psicologia tentou se adequar a esse
modelo: empenhou-se para mensurar os comportamentos e as características dos
seres humanos, além disso, preocupou-se em se manter neutra e distante do seu
objeto de estudo, a subjetividade humana. (BOCK, FURTADO E TEIXEIRA, 2008).
Ainda segundo os referidos autores, com o passar do tempo, a Psicologia
UNIDADE
01
8
compreendeu que não poderia ser igualada às ciências exatas, pois seu objeto de
estudo não é como uma máquina. Diante disso, aceitou as suas especificidades e
buscou criar os seus padrões de cientificidade, juntamente às outras ciências
humanas, como a Antropologia e a Sociologia, por exemplo.
No Brasil, antes de ter um curso próprio, a Psicologia foi ensinada como
disciplina em graduações de Direito, Medicina e Educação, no século XIX (CRPSP,
2011).
Como pode ser constatado, desde o início da sua história, a Psicologia traz
importantes contribuições para diferentes áreas do conhecimento, conforme será
discutido, especificamente sobre a Educação, ao longo deste livro.
A Psicologia é uma ciência e uma profissão, nesse sentido, outras profissões,
como os docentes, podem utilizar os conhecimentos psicológicos. Além disso, as
profissionais de Psicologia podem atuar em variadas áreas, utilizando diferentes
teorias.
O campo ou área de atuação pode ser compreendido como o “lugar” em
que a psicóloga pode atuar. Para as profissionais da educação, é comum que
trabalhem com psicólogas escolares/educacionais, clínicas, especialistas em
psicopedagogia, em psicomotricidade ou avaliação psicológica. Por exemplo, uma
professora pode ser convidada pela psicóloga para conceder entrevista sobre um
determinado estudante ou a psicóloga pode auxiliar no acompanhamento escolar
quando um aluno estiver com alguma dificuldade de aprendizagem ou precisar
passar por uma avaliação psicológica ou ainda necessitar realizar algum tipo de
acompanhamento psicológico.
Atualmente, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) reconhece 13 campos
de atuação para as profissionais dessa área: Psicologia Escolar/Educacional;
Psicologia Organizacional e do Trabalho; Psicologia de Trânsito; Psicologia Jurídica;
Psicologia do Esporte; Psicologia Clínica; Psicologia Hospitalar; Psicopedagogia;
Psicomotricidade; Psicologia Social; Neuropsicologia; Psicologia em Saúde e
Avaliação Psicológica.
Para atuar em cada uma dessas áreas, a psicóloga deve escolher uma
abordagem ou teoria, que é como a lente usada para compreender o mundo, os
sujeitos e suas interações. Existem diversasabordagens, as mais conhecidas, que são
denominadas de “as grandes forças da Psicologia”, são: a Psicanálise, a Psicologia
Comportamental, o Humanismo e a Gestalt, que serão brevemente apresentadas a
9
seguir.
A Psicanálise, foi criada por Sigmund Freud (1856-1939). Essa abordagem
trouxe relevantes contribuições sobre a estruturação do aparelho psíquico e tem
como principal descoberta o sistema inconsciente. Além disso, colabora para a
prática profissional de psicólogas e profissionais que atuam na saúde mental. De
acordo com Ferreira (2001, p. 110), ao realizar uma pesquisa bibliográfica sobre a
relação entre Educação e Psicanálise, foi possível constatar que “o ponto de maior
controvérsia entre os autores que se ocupam do tema reside no debate sobre o
possível e o impossível de ter na Psicanálise uma ciência aplicável à educação [...]”.
A Psicologia Comportamental, que será mais bem discutida na unidade 3
deste livro, foi criada por John Watson (1878-1958) e depois desenvolvida por Burrhus
Frederic Skinner (1904-1990). Trouxe grandes contribuições para a Psicologia
organizacional e clínica, além dos campos da Propaganda e Educação,
especialmente no que se refere à aprendizagem (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 2008).
A Psicologia Humanista foi desenvolvida por Carl Rogers (1902-1987), dentre
outros pensadores. Para Rogers, deve-se ter uma consideração positiva das pessoas,
para que cada uma possa de fato ser quem se é, sem que os obstáculos sociais, por
exemplo, o temor de mostrar-se, impeça a aceitação da sua própria experiência e
a autorrealização. Algumas contribuições de Rogers para a educação são a
necessidade de a professora estimular o estudante a sair da posição de heteronomia
para alcançar a autonomia, bem como a importância da aceitação do outro- tanto
o educador como o aluno- e do estímulo à criatividade no processo educativo
(ALMEIDA, 2012).
E, por fim, a Psicologia da Gestalt, que foi criada por três pensadores alemães:
Max Whertheimer (1880-1943), Kurt Koffka (1886-1941) e Wolfgang Köhler (1887-1967).
Essa abordagem é conhecida como Psicologia da Forma e tem como um dos
principais focos o estudo da percepção, ou seja, um determinado estímulo, fará com
que cada pessoa tenha uma percepção e, em seguida, ela dará uma resposta.
10
Nesse sentido, quanto mais claro for o estímulo, mais fácil ele será compreendido.
No caso da educação escolar, por exemplo, isso significa que o professor deve expor
o conteúdo de forma mais organizada e compreensível possível para que o
estudante tenha uma boa percepção e dê a resposta adequada.
Depois de realizada essa contextualização da Psicologia de uma forma geral,
no item a seguir serão discutidas questões específicas da Psicologia da Educação,
de que trata esse campo do conhecimento e sua construção no Brasil.
1.2 O QUE É A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
Inicialmente, faz-se importante compreender a complexidade do termo
educação. É muito comum que as pessoas pensem que a educação é
especificamente o processo que ocorre em uma escola, mas a educação não está
restrita ao ambiente escolar, ela pode ocorrer no contexto familiar, de uma igreja, de
uma Organização Não Governamental, por exemplo.
Pelo dicionário online Aulete, a educação é explicada como “Processo formal
de transmissão de conhecimentos em escolas, cursos, universidades”, como
“Formação e desenvolvimento da capacidade física, moral e intelectual do ser
humano.”.
O presente livro irá abordar especificamente sobre a educação escolar, por
se tratar de um material de formação para futuros professores. De acordo com
Larocca (2007, p. 59) para além de uma preparação ou treinamento, a educação
deve ser compreendida como uma “atividade intencional, histórica, social e
culturalmente situada”. Ainda para essa autora, “a educação não se restringe a
transmissão dos saberes formalizados, científicos ou técnicos, mas exige algo maior,
pois requer a transformação substantiva” das pessoas que dela fazem parte
(LAROCCA, 2007, p. 59).
Em relação à Psicologia da Educação, de acordo com Coll (2004), essa deve
ser compreendida como uma “disciplina ponte” que tem como objeto de estudo
compreender os processos de mudanças oriundos do desenvolvimento, da
11
aprendizagem e da socialização que são decorrentes da educação. Esse autor
ressalta que as atividades educacionais não estão restritas ao ambiente escolar e
ocorrem entre pessoas de diferentes características concretas, por exemplo, a idade,
pode-se considerar também o pertencimento social, o gênero, a raça como
aspectos relevantes de serem considerados nos processos educacionais. Ou seja, o
aprender de um menino de dez anos, branco, pertencente à camada média, que
estuda em uma escola particular será diferente de uma mulher adulta, negra,
transexual, que foi expulsa da escola pública que frequentava quando era
adolescente, por exemplo.
É imprescindível considerar que não se trata de pensar que a Psicologia
esteja a serviço da Educação, ou o contrário. É importante compreender que
Psicologia e Educação (Pedagogia, Licenciaturas, Didática) se complementam,
trazem questionamentos, reflexões e contribuições para entender um fenômeno tão
complexo como a educação. Assim sendo, a Psicologia da Educação é um campo
de conhecimento multidisciplinar, que integra diferentes disciplinas, sem hierarquias
entre esses campos de saber (COLL, 2004).
Apesar de abranger diversas abordagens, ainda segundo Coll (2004) são
orientações da Psicologia da Educação de uma forma geral:
 Relações entre desenvolvimento, aprendizagem, cultura e educação:
conceber que o desenvolvimento e a aprendizagem ocorrem inseridos em
uma dada cultura, principalmente por meio da educação, seja no âmbito
familiar ou escolar, dentre outros.
 Enfoques e modelos contextuais e culturais dos processos psicológicos:
considerar como o contexto e a cultura, por exemplo, frequentar uma escola
pública de periferia de uma grande cidade do sudeste brasileiro, determina a
forma como a aprendizagem vai ocorrer, além dos processos de atenção,
comportamentos conscientes.
 Unidade do ensino e aprendizagem: compreender a indissociabilidade dos
processos de ensino e aprendizagem, a forma como o professor ensina,
determina a maneira como o estudante vai aprender.
 Interesse por diferentes tipos de práticas educacionais: abarcar a educação
como um processo complexo, que ocorre em diferentes contextos, formais,
por exemplo, a escola, e informais, como as relações familiares. E, mesmo no
ambiente escolar, considerar as diferentes práticas possíveis de serem
12
utilizadas, como as metodologias ativas, a gamificação, dentre outras.
Dentre as várias contribuições da Psicologia para a Educação, podem-se
destacar os estudos e as reflexões acerca do:
 Desenvolvimento humano: conhecer como as pessoas se desenvolvem, quais
capacidades são adquiridas em quais etapas da vida.
 Processo de ensino-aprendizagem: compreender como as pessoas
aprendem, por exemplo, quais as diferenças na forma de aprendizagem de
crianças de sete anos e de uma pessoa idosa? Como ensinar uma criança e
um adulto a ler?
 Diferentes contextos educacionais: as formas como os conteúdos são
apresentados em uma escola formal é diferente das maneiras como as
aprendizagens são abordadas no ambiente familiar. Quando, durante o
lanche da família, uma mãe solicita ao filho que divida o bolo em partes iguais
para os irmãos, é diferente de quando a professora, na prova, coloca uma
questão de “quanto é 1 dividido por 4?”.
 Importância da relação entre professor e estudante para o processo de ensino
e aprendizagem: Pesquisas, como a de Veras e Ferreira (2010), apontam que
a relação estabelecida entre educadoras e alunos, mesmo no ensino superior,
é determinante para “uma experiência de aprendizagem favorável” (p. 219).
 Especificidades da profissão docente: como a formação, o adoecimento, a
superação de desafios e a criação de diferentes estratégias para aaprendizagem. Um exemplo disso são as pesquisas que buscam conhecer
como os professores se adaptaram, adaptaram os conteúdos, os métodos e
as aulas durante o ensino remoto decorrente da COVID-19.
No próximo item, último dessa unidade, serão discutidas questões pertinentes
à Psicologia da Educação que vem sendo desenvolvida no Brasil.
1.3 A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL
A Psicologia da Educação que vem sendo construída no Brasil tem trazido
contribuições importantes acerca do contexto escolar. Por exemplo, em 2015, o
Conselho Federal de Psicologia (CFP) publicou uma pesquisa sobre preconceito e
13
violência na escola, em que apresenta o resultado de um levantamento
documental, pesquisa bibliográfica e de campo, sendo essa última realizada por
meio de oficinas que ocorreram nas cinco regiões do país (CFP, 2015). Ao estudar
sobre a escola, é imprescindível considerar o seu cotidiano, repleto de desafios -
como preconceito e violência- e de desigualdades- não apenas entre instituições
públicas e privadas, mas, também, se forem comparadas as escolas particulares
entre si e as públicas entre si.
Essas desigualdades de acesso e de qualidade da educação vêm sendo
constantemente denunciadas pela Psicologia, tanto pelo CFP como pela
Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPPE). É muito
importante que o conhecimento das teorias da Psicologia da Educação seja aliado
ao conhecimento do contexto em que essa educação ocorre, bem como dos
estudantes que dela fazem parte. Não é possível promover o processo de ensino e
aprendizagem descontextualizado, há de se considerar as condições da escola e
das pessoas (equipe pedagógica, pessoal de apoio, estudantes), principalmente, as
condições materiais.
Foram escolhidas duas personalidades que trouxeram muitas contribuições
para a Psicologia da Educação brasileira, duas mulheres, uma pioneira e outra
contemporânea desse campo do saber: Helena Antipoff e Maria Helena Souza Patto.
Helena Antipoff
14
Figura 1: Fotografia de Antipoff
Fonte: Fundação Helena Antipoff (2020)
Nasceu em 1892, na Rússia e formou-se psicóloga, na Suíça. Em 1929, foi
convidada pelo governo de Minas Gerais para participar da Reforma Educacional
Francisco Campos Mário Casassanta. (CAMPOS, 2000).
Suas pesquisas e práticas objetivaram conhecer e atuar sobre o
desenvolvimento das crianças, especialmente aquelas com alguma deficiência,
bem como contribuir para a formação de professores mais capacitados.
Antipoff demostrava interesse e preocupação com a democratização da
educação e com a exclusão social. Já na década de 1930, denunciou a situação
das crianças que permaneciam nas ruas da capital mineira, comparando esse
contexto à realidade vivenciada pelas crianças europeias, durante a Primeira
Grande Guerra Mundial. (CAMPOS, 2003).
Entre seus vários projetos, destacam-se dois: a Sociedade Pestalozzi e a
Fazenda do Rosário. Antipoff foi uma das organizadoras da Sociedade Pestalozzi,
instituída em 1932, que buscou promover a assistência às crianças excepcionais, além
de formar professores que as educavam. (CAMPOS, 2003).
Ainda de acordo com Campos (2003), a Fazenda do Rosário, instalada em
1940, em Ibirité/Minas Gerais, foi uma extensão da Sociedade Pestalozzi e teve como
objetivo a (re) educação de crianças abandonadas ou “excepcionais”. Na década
seguinte, participou do movimento de criação da Associação de Pais e Amigos dos
Excepcionais (APAE).
Antipoff faleceu, em 1974, no Brasil.
15
Como contribuições de Antipoff que influenciam a educação brasileira até os
dias atuais, sobressaem-se:
 A inteligência não é resultado apenas da predisposição genética e da idade
da criança, mas também é influenciada por fatores do ambiente, ou seja, ela
propôs uma “análise psicossocial da cognição.” (CAMPOS, 2010, p. 26).
 Tanto a inteligência quanto a personalidade do aluno são produzidas em sua
relação com o meio em que está inserido, social e cultural. (CAMPOS, 2010).
 A necessidade de que os educadores conheçam os estudantes. (CAMPOS,
2010).
 A relevância concedida à formação continuada dos professores.
 A importância de que as pesquisas sobre os processos psicológicos que
ocorrem durante o ensino-aprendizagem sejam testadas no cotidiano escolar.
(CAMPOS, 2010).
 A defesa de que a educação pode auxiliar no processo de adaptação das
crianças consideradas “excepcionais”, principalmente as escolas que tenham
contato com a natureza. Outro ponto é a necessidade de respeito, carinho e
garantia da dignidade desses estudantes. (ANTIPOFF, 1944)
E, para finalizar esse tópico sobre Helena Antipoff, segue o trecho de um de
seus textos:
A arte de ensinar, ou melhor, a arte de educar é a mais delicada no
mundo. Não basta, como em outras artes, vestir de forma a ideia,
escolhendo à vontade a matéria-prima. Aqui o artista não tem
escolha: recebe quantos meninos nasceram no município. A grande
arte consistirá em adaptar a sua ideia ao feitio particular do
educando, e no universo psicológico da criança fazer ressoar o seu
próprio universo. Explícita ou implicitamente, deve haver entre os dois,
entendimentos. Senão, na melhor das hipóteses, os feitos educativos
serão transitórios, não passando de um verniz muito superficial; na pior,
criará rebeldia e revoltas.
16
Maria Helena Souza Patto
Figura 2: Fotografia Patto
Fonte: Disponível em https://bit.ly/39oJhjW. Acesso em: 20 jun. 2021.
Autora de uma das principais obras brasileira de Psicologia Educacional “A
produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia”, publicado pela
primeira vez em 1990, Patto, ao realizar uma pesquisa em um escola municipal de
São Paulo, mostra as dificuldades da escolarização das camadas populares: o
preconceito social, racial e linguístico, as acusações sofridas pelas famílias que eram
consideradas culpadas pelo insucesso dos filhos na escola e os obstáculos
enfrentados pelas professoras.
Ao longo do livro, Patto apresenta quatro histórias de (re) provação escolar,
que foram acompanhadas durante a realização de sua pesquisa. A primeira delas,
a de Ângela, filha mais velha de migrantes pernambucanos, desde nova vivenciou a
sobrecarga do trabalho doméstico. Repetente no 1º ano do ensino fundamental, ela
foi apresentada pela equipe pedagógica como imatura, com deficiência mental e
paranoica, já seus pais, foram retratados como desinteressados no desenvolvimento
17
e na escolarização da filha. De acordo com a coordenação escolar, ela, assim como
todos os outros “repetentes” não possuíam “condições pessoais de aprendizagem de
um mínimo que justifique sua promoção.” (PATTO, 2008, p. 358). Para a mãe de
Ângela, a filha “não tem amor na escola” (PATTO, 2008, p. 360), ela relatou que a
professora disse que “não entra nada na cabeça dela” (PATTO, 2008, p.360). Ao
analisar a relação da criança com a escola, Patto afirma: “Ângela defrontou-se com
o preconceito, a discriminação, o estigma e um ensino de má qualidade, o que
inegavelmente a leva a evitar a escola e a aprendizagem escolar e a dar a impressão
de que ‘não tem amor na escola.” (PATTO, 2008, p. 362)
Com seu livro, Patto demonstrou uma situação que ainda hoje é vivenciada:
o fracasso escolar é explicado por problemas genéticos, algo que a criança já nasce
ou por problemas econômicos e familiares, a família não tem boas condições sociais
e/ou não valoriza a escola. Era a vivência prática daquilo que foi postulado pela
teoria da carência cultural: as dificuldades escolares dos estudantes das camadas
populares são reflexos da sua privação cultural, ou seja, o meio em que essas crianças
vivem não é adequado nem estimulante o suficiente para que elas aprendam.
Em todas essas justificativas descritas anteriormente, a escola se isenta da sua
responsabilidade no processo de ensino-aprendizagem, o estudante não aprende
por motivos externos à instituição escolar e, com isso, ela não pode melhorar a
educação que oferece.
18
FIXANDO O CONTEÚDO
1. (ENADE/Adaptada)A Psicologia se reconhece e é socialmente identificada como
um campo multifacetado e dividido em várias áreas de atuação. Tais áreas
configuram temáticas, problemas, conhecimentos, tecnologias, modos de pensar
e de atuar sobre as demandas oriundas de diferentes segmentos e contextos
sociais.
Bastos, A. V. B. et al. As mudanças no exercício profissional da psicologia no Brasil: o que se alterou nas últimas décadas e o que
vislumbramos a partir de agora? In: Bastos, A. V. B., & Gondim, S. M. G. (Orgs.) (2010). O trabalho do psicólogo no Brasil: um
exame à luz das categorias da psicologia organizacional e do trabalho. Porto Alegre: Artmed.)
Considerando esse contexto, avalie as afirmações a seguir e a relação proposta
entre elas.
I. O estudo da Psicologia é exclusivo para as psicólogas.
PORQUE
II. Apenas as psicólogas conseguem compreender a complexidade dos fenômenos
psicológicos.
A respeito dessas afirmativas, assinale a opção correta.
a) As afirmações I e II são verdadeiras, e a II é uma justificativa da I.
b) As proposições I e II são verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I.
c) A afirmação I é verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
d) A proposição I falsa, e a II é verdadeira.
e) As afirmações I e II são falsas.
2. (ENADE/Adaptada) As teorias em Psicologia constituíram-se de diversas raízes
filosóficas e epistemológicas, que deram origem a sistemas complexos de
conceitos, histórica e culturalmente determinados. Tais sistemas conceituais, por
sua vez, possibilitaram a emergência de abordagens, escolas, teorias e práticas
diferenciadas de Psicologia. Essa situação configura um campo de dispersão da
Psicologia, que se formou com a utilização de diversas perspectivas
epistemológicas, metodológicas e conceituais. A manifestação desse processo
ocorreu por meio da produção de diferentes teorias e sistemas que marcaram a
19
primeira metade do século XX.
BARRETO, C. L. B. T.; MORATO, H. T. R A dispersão do pensamento psicológico. Boletim de Psicologia, São Paulo, v. 58, n. 129, dez.
2008.
Considerando os fundamentos epistemológicos da Psicologia, é correto apenas o
que se afirma em
a) Existem poucas abordagens na Psicologia.
b) Existe uma abordagem psicológica: a Psicanálise.
c) Existem três abordagens na Psicologia, reconhecidas como “As três grandes
forças”.
d) Apesar de serem reconhecidas três principais abordagens, existem diversas outras.
e) A abordagem psicológica mais famosa é a sistêmica.
3. Em 06 de agosto de 2020, foi publicado o seguinte comunicado: Celebramos hoje
os 91 anos da chegada do/a educador/a e psicólogo/a russo/a
_____________________ à Minas Gerais com o objetivo de ajudar na reforma do
ensino e deixou um legado importantíssimo para educação brasileira.
O relato acima refere-se a:
a) Helena Antipoff.
b) Maria Helena Souza Patto.
c) Francisco Campos Mário Casassanta.
d) Lev Vigotski.
e) Alexei Leontiev.
4. (COMPERVE - 2018 – UFRN/ Adaptada) Desde o surgimento da psicologia escolar e
educacional, o fenômeno denominado de fracasso escolar constituiu-se como
objeto de estudo privilegiado dessa área. Nesse contexto, Maria Helena Souza
Patto, pesquisadora com estudos consagrados na área, analisa que para
compreender a gênese dessa problemática, é necessário considerar:
a) A precariedade das condições sociais de crianças e adolescentes que, devido às
privações sofridas, são incapazes de aprender.
20
b) A influência da teoria da carência cultural, que marcou o início das práticas
psicológicas na educação no Brasil.
c) O contexto familiar que desvaloriza os saberes escolares e desacredita na
educação formal como meio de ascensão social.
d) O aspecto hereditário, uma vez que todos os transtornos de aprendizagem têm
causas genéticas e congênitas.
e) O rendimento escolar é resultado direto das capacidades psicológicas naturais de
cada um.
5. Analise a tirinha abaixo:
O quadrinho acima trata sobre a discussão se já nascemos com o nosso destino
traçado. Nesse sentido, é importante considerar a subjetividade, que é um
conceito de estrema relevância para a Psicologia, e pode ser melhor
compreendida como:
a) A essência com a qual o sujeito nasce.
b) Aquilo que a pessoa é.
c) Algo totalmente individual.
d) Algo exclusivamente interno, aquilo que ocorre dentro do sujeito.
e) A forma como o sujeito é, de acordo com suas determinações sociais e materiais.
6. Por suas contribuições para a educação e sua sensibilidade, Carlos Drummond de
Andrade escreveu um poema para homenagear Helena Antipoff, intitulado “A
casa de Helena”. Essa psicóloga foi uma das responsáveis pela criação:
a) Fazenda do Rosário, Sociedade Pestallozi, Associação de Pais e Amigos dos
21
Excepcionais (APAE).
b) Fazenda do Rosário, apenas.
c) Sociedade Pestallozi e Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE),
apenas.
d) Fazenda do Rosário e Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE),
apenas.
e) Sociedade Pestallozi, apenas.
7. De acordo com Coll (2004, p. 19) “A existência da psicologia da educação como
uma área de conhecimento e de saberes teóricos e práticos claramente
identificável, relacionado com outros ramos e outras especialidades da psicologia
e das ciências da educação, mas ao mesmo tempo distintos delas, tem sua origem
na crença racional e na convicção profunda de que a educação e o ensino
podem melhorar sensivelmente com a utilização adequada de conhecimentos
psicológicos.”
É possível afirmar que uma das principais tendências atuais na concepção da
Psicologia da educação é:
a) Compreender a Psicologia como a disciplina “mestra” nos estudos da educação.
b) Conceber a Psicologia da educação como uma disciplina ponte.
c) Considerar a pedagogia como a disciplina “rainha” nas pesquisas educacionais.
d) Defender que a Psicologia deve compreender a supremacia da didática no
campo educacional.
e) Defender que os conhecimentos sobre os fenômenos psicológicos são restritos às
psicólogas, mesmo quando ocorridos no contexto educacional.
8. Leia o trecho abaixo, retirado da música “Estudo Errado”, escrita por Gabriel, O
Pensador:
“Encarem as crianças com mais seriedade
Pois na escola é onde formamos nossa personalidade
Vocês tratam a educação como um negócio onde a ganância a exploração e a
indiferença são sócios
Quem devia lucrar só é prejudicado
Assim cês vão criar uma geração de revoltados
22
Tá tudo errado e eu já tou de saco cheio
Agora me dá minha bola e deixa eu ir embora pro recreio...”
O autor relata uma situação ocorrida no ambiente escolar. Diante das reflexões
realizadas até o momento, a educação pode ser compreendida como:
a) Processo de aprendizagem que ocorre exclusivamente na escola.
b) Formação intelectual das crianças.
c) Preparação moral de crianças e adolescentes.
d) Construção do conhecimento que pode ocorrer em diversos ambientes.
e) Criação que os pais dão aos filhos, exclusivamente.
23
24
INTRODUÇÃO ÀS DIFERENTES
CONCEPÇÕES DE
DESENVOLVIMENTO
2.1 DESENVOLVIMENTO HUMANO: INTRODUÇÃO
Desenvolvimento humano pode ser progredir, regredir ou manter determinada
característica/habilidade física, cognitiva ou psicossocial (PAPALIA, OLDS, FELDMAN,
2009). Assim sendo, nesta unidade serão trabalhadas questões acerca das
mudanças e permanências das pessoas ao longo dos anos.
No dicionário Aurélio, desenvolvimento está descrito como: 1) Fazer crescer,
prosperar. 2) Gerar, produzir. 3) Crescer, aumentar, progredir. É importante atentar-se
ao fato de que, por esse significado, o desenvolvimento é entendido sempre como
crescimento, todavia, como será discutido a seguir, essa concepção não pode ser
utilizada nas pesquisas sobre o desenvolvimento humano.
De acordo com Papalia, Olds e Feldman (2009), o estudo do desenvolvimento
humano é o conhecimento científico de como as pessoas se transformam, além
daqueles atributos que continuam moderavelmente estáveis durante a vida do
indivíduo.
As pesquisas mais atuais em desenvolvimento humano concordam em trêspontos que são (quase) consenso: o desenvolvimento ocorre ao longo de todo o
ciclo vital, desenvolver significa mudar e também manter e, por último, o
desenvolvimento é resultado da interação entre os fatores ambientais e genéticos.
Como esses pontos são muito importantes, elas serão discutidas
detalhadamente.
UNIDADE
02
25
1) Desenvolvimento ao longo do ciclo vital
Isso significa afirmar que as pessoas se desenvolvem até o último dia de sua
vida, mesmo se falecerem aos 100 anos ou mais. Durante o início dos estudos do
desenvolvimento humano, acreditava-se que os sujeitos só se desenvolviam no
começo da vida, principalmente durante a infância. Para se ter uma noção,
segundo Papalia, Olds e Feldman (2009), a adolescência passou a ser estudada pela
Psicologia no início do século XIX e a velhice apenas nas décadas de 1920/30. O
estudo de cada uma das etapas do desenvolvimento trouxe efeitos para o cotidiano
e a educação, em específico. Saber como ocorre o desenvolvimento cognitivo
auxilia no planejamento das aulas, que deve ser diferente se os estudantes estão no
ensino fundamental, médio ou na Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Conceber o desenvolvimento como um processo que ocorre durante toda a
vida do sujeito é considerar que:
 O passado influencia o presente e o futuro, ou seja, as experiências que a
pessoa vivenciou vão intervir no seu futuro. Por exemplo, estudos de Alves et al
(2005) apontam a relação entre a inatividade física na adolescência e o
sedentarismo adulto. Isso não significa que necessariamente um adulto que
não exerceu atividades físicas durante a adolescência será sedentário, mas
há uma probabilidade de que ele o seja.
 O futuro também pode influenciar o presente. Se um adulto objetiva ser
aprovado em um concurso público, por exemplo, ele pode criar estratégias
para alcançar o seu objetivo, como estudar por quatro horas diariamente,
reduzir o tempo que gasta nas redes sociais para se dedicar à preparação
para a prova.
 É importante destacar que as teorias psicológicas têm ideias diferentes de
quanto/como o passado, o presente e o futuro interferem um no outro, mas,
de uma forma geral, acreditam nessa mútua influência. Por exemplo, a
Psicanálise tem o foco nos eventos passados, especialmente a primeira
infância. Já a abordagem de Vigotski, que será estudada na unidade 4 dessa
obra, concede grande relevância ao que estar por vir, à potencialidade do
aprendizado.
2) Desenvolver: transformar e manter
26
Esse é um ponto polêmico dentro das pesquisas sobre o desenvolvimento
humano, algumas abordagens defendem que há certa estabilidade ao longo da
vida, como algumas pesquisas que utilizam o Modelo dos traços, já outras partem do
pressuposto de que desenvolver significa basicamente modificar (PAPALIA; OLDS;
FELDMAN, 2009).
Alguns aspectos que se mantém razoavelmente estáveis ao longo do
desenvolvimento de uma pessoa: tipo sanguíneo, pigmentação dos olhos. De acordo
com Papalia, Olds e Feldman (2009), existem estudos que demonstram que alguns
traços da personalidade e do comportamento humano têm certa constância.
Já outras características, como a estatura, o peso e a capacidade cognitiva
alteram-se ao longo do ciclo vital. Pesquisas recentes apontam que até mesmo o
Ácido Desoxirribonucleico (DNA) pode-se alterar durante a vida da pessoa,
diferentemente do que se achava há até pouco tempo (MARASCIULO, 2020).
Dessa forma, constata-se que ao longo da vida, algumas características serão
mantidas, outras irão se transformar. Apesar de não haver um consenso de quais são
os aspectos estáveis e quais são os mais modificáveis.
3) Natureza e/ou contexto social
Dentre os aspectos aqui abordados, provavelmente esse é o mais controverso:
quanto do desenvolvimento humano é determinado pela natureza e quanto é
resultado da influência do contexto social do qual o sujeito faz parte?
As abordagens iniciais do estudo do desenvolvimento humano, como o
inatismo, que será estudado na próxima unidade, defendiam que esse é resultado
exclusivo da hereditariedade: as pessoas se desenvolveriam de acordo com os seus
aspectos biológicos, independentemente do meio em que estão inseridas. Assim
sendo, desde o nascimento, já existiria a essência, a semente de como esse sujeito
iria se desenvolver (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2009).
Um acontecimento importante para compreender a relação entre a discussão
sobre a afirmação de que as pessoas são resultado unicamente dos aspectos
biológicos foi o aparecimento do menino Victor, em 1800, no sul da França.
27
Figura 3: Ilustração Victor de Aveyron
Fonte: Disponível em https://bit.ly/2XMJAmq. Acesso em: 15 jun. 2021.
De acordo com Pereira e Galuch (2012) essa é uma história verídica, que serviu
como inspiração para o filme “Garoto selvagem”, na qual um menino foi encontrado
sozinho em um bosque: ele vivia como um animal, não sabia se comunicar, andar,
nem se comportar como um ser humano.
Victor foi levado a diversas instituições e, em determinado momento, ficou aos
cuidados do famoso médico Philipe Pinel, que acreditava que o garoto tinha sido
abandonado por sua família por ter demência, o que justificaria o fato de não andar,
falar etc. Além disso, o especialista acreditava que ele não seria capaz de aprender
essas habilidades.
Outro médico responsável pelo tratamento de Victor foi Jean Marc Gaspard
Itard que, diferentemente de seu professor Pinel, acreditava na possibilidade de
educar o menino, pois defendia que o desenvolvimento poderia ser potencializado
por meio do contato social (PEREIRA; GALUCH, 2012).
Apesar de algumas limitações, com a educação dada por Itard, Victor teve
progressos em seu desenvolvimento, aprendeu a ler, escrever e a obedecer a regras
(PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2009).
Se, por um lado, Pinel defendia o desenvolvimento como resultado exclusivo
de fatores biológicos, por outro, Itard acreditava no poder do meio como importante
aspecto no seu desenrolar. Nos dias de hoje, compreendemos que Pinel acreditava
nas ideias inatistas, já Itard, inseria-se em uma concepção interacionista do
28
desenvolvimento, conforme será estudado nas duas próximas unidades.
Atualmente, a maior parte das pesquisas defende uma relação entre as
dimensões biológicas e sociais como determinantes do desenvolvimento humano.
Teóricos como Piaget, Vigotski e Wallon, que serão estudados na Unidade IV,
defendem a importância de fatores biológicos e sociais para o desenvolvimento
humano.
Os estudos sobre o desenvolvimento humano são interdisciplinares, ou seja,
diversos campos do saber trazem contribuições e se beneficiam das suas
descobertas, como a educação, a medicina, a terapia ocupacional, o serviço social.
Além disso, há uma interação entre as ciências que sobre ele se debruçam. Por
exemplo, uma pesquisa que objetiva compreender o impacto da pandemia COVID-
19 no desenvolvimento adolescente pode contar com a presença de educadoras,
psicólogas, médicos, nutricionistas, terapeutas ocupacionais, sociólogos, dentre
outros especialistas. O objetivo dessa investigação científica seria conhecer o seu
objeto – o impacto da pandemia COVID-19 no desenvolvimento adolescente-
através de diferentes saberes, com a colaboração de várias ciências e,
consequentemente, auxiliando-as em suas práticas profissionais.
De acordo com Papalia, Olds e Feldman (2009), os estudos sobre o
desenvolvimento humano objetivam:
 Descrever: quando ocorrem determinados comportamentos, por exemplo:
qual a idade geralmente as crianças conseguem controlar os esfíncteres.
 Explicar: como ocorrem determinados comportamentos, por exemplo: o que
é necessário para que as crianças controlem seus esfíncteres.
 Prever: comportamentos posteriores, por exemplo, se a criança já consegue
identificar quando está com vontade de urinar, provavelmente ela irá
conseguir controlar os esfíncteres.
 Modificar: comportamentos considerados inadequados, por exemplo, se a
criança tem nove anos e ainda não conseguecontrolar os esfíncteres, ela
deve ser avaliada por uma especialista e passar por um tratamento para que
consiga fazê-lo, pois os estudos sobre o desenvolvimento infantil mostraram
que nessa idade a criança já deve ser capaz de controlar os esfíncteres.
É possível relacionar os quatro grandes objetivos do estudo do
desenvolvimento ao processo educativo. Em uma escola infantil, se todas as crianças
29
do Maternal 3 conseguem se comunicar, quando uma criança não o faz, a
coordenação pode solicitar que a família a leve para uma avaliação. Considere que
ela foi avaliada por um fonoaudiólogo e foi constatado algum problema de audição
(explicação). O fato de a criança ter dificuldades para se comunicação pode
prejudicar o seu desenvolvimento cognitivo e afetivo (possibilidade de prever), o que
sugere que ela seja avaliada e, se necessário faça acompanhamento com o
profissional indicado (para modificar).
Domínios do desenvolvimento
O desenvolvimento humano pode ser dividido em três dimensões: física,
cognitiva e psicossocial. É importante destacar que esses domínios estão interligados
e um interfere no outro (PAPALIA, OLDS, FELDMAN, 2009).
Exemplos de desenvolvimento:
 Físico: aumento da estatura, amadurecimento dos órgãos sexuais, o
branqueamento dos cabelos.
 Cognitivo: aumento e diminuição da concentração, compreensão de
conceitos abstratos, capacidade de planejamento.
 Psicossocial: desenvolvimento da capacidade de cooperar com outras
pessoas, do sentimento de solidariedade, e da sabedoria.
Para ilustrar a afirmação de que cada uma dessas dimensões interfere na
outra, considere uma adolescente que teve a menarca (primeira menstruação), com
isso, ela se interessou em estudar sobre a reprodução humana e, ao mesmo tempo,
sua família a orientou sobre a possibilidade de gravidez na adolescência.
Em se tratando do ambiente escolar, pode-se ilustrar com a situação de um
estudante, de estatura baixa, que quer chamar a atenção das meninas de sua sala.
Por ser baixo, ele percebeu que teria dificuldades em entrar para o time de basquete,
assim sendo, ele resolveu estudar bastante, para se sobressair durante as aulas e ser
o foco da atenção das colegas.
Por sua complexidade, a escola influencia e é influenciado pelas três
dimensões do desenvolvimento humano. Por exemplo, as aulas de Educação Física,
contribuem no aumento da força física. As aulas de História, possibilitam o
conhecimento de outros momentos históricos e a convivência com colegas, pode
auxiliar no desenvolvimento do sentimento de solidariedade. Uma criança obesa que
30
é sempre deixada no banco reserva na hora do jogo de vôlei, como consequência,
poderá ficar isolada e não terá mais interesse em ir para a escola. Já a estudante
que tem facilidade com cálculos, será solicitada a explicar a matéria para os
colegas, isso fará com que ela se sinta motivada a estudar cada vez mais, além de
valorizada por sua capacidade cognitiva.
As mudanças no desenvolvimento humano podem ser divididas em
qualitativas e quantitativas. Como os próprios termos indicam, as qualitativas referem-
se à qualidade e as quantitativas, à quantidade (BEE; BOYD, 2011).
Para que possa ficar mais compreensível, pense em uma criança pré verbal,
ou seja, que ainda não fala, mas que emite alguns sons, como os balbucios. Quando
ela passa a ter a capacidade de usar a linguagem verbal, por exemplo, fala “mama”
(para expressar mamãe) ou “quê” (para demonstrar o verbo querer), ocorreu o
desenvolvimento qualitativo, de pré verbal a criança passou a ser verbal (PAPALIA;
OLDS; FELDMAN, 2009). Já quando a família registra o número de palavras que essa
criança fala, ela acompanha o seu desenvolvimento verbal quantitativo.
Outro exemplo seria uma criança que entrou na escola pela primeira vez e
tinha apenas três amigos, vizinhos do prédio em que mora. No final do ano letivo, ele
fez 20 amigos, nesse caso, observa-se uma mudança quantitativa. Ao se comparar a
amizade entre crianças menores, que apenas brincam juntas e adolescentes, que
têm grupos para estudar, grupos para ir para balada, grupos para praticar esporte,
constata-se mudanças qualitativas (BEE; BOYD, 2011).
Influências no desenvolvimento humano
Conforme explicitado anteriormente, a tendência atual dos estudos sobre o
desenvolvimento humano é concebê-lo como multicausal, não apenas como
puramente biológico ou exclusivamente social.
31
Dentre os fatores determinantes do desenvolvimento humano, destacam-se:
hereditariedade, família, condições socioeconômicas, cultura, raça-etnia e contexto
histórico. Abaixo serão apresentadas pesquisas que comprovam a influência de
cada um desses aspectos do desenvolvimento humano:
 Hereditariedade: Segundo Marques-Lopes et al. (2004), há a estimativa de que
a obesidade tenha entre 40% a 70% de caráter hereditário. Em um país
gordofóbico, no qual comumente alunos obesos sofrem preconceito na
escola, é importante que os professores e toda a comunidade escolar saibam
que muitas vezes a obesidade é resultado de fatores que não são de
responsabilidade do aluno e/ou sua família.
 Família: Para Silva et al. (2008) a família apresenta fatores de risco e de
proteção que impactam o desenvolvimento infantil. Um exemplo dado pelas
referidas autoras é quanto à escolarização: nas famílias que se envolvem mais
na educação escolar de seus filhos, bem como naquelas cujos pais têm maior
escolarização, a tendência é que os estudantes obtenham maior sucesso
escolar.
 Condições socioeconômicas: A situação socioeconômica é um importante
determinante para a saúde do idoso (CONFORTIN et al., 2017): ter uma casa
segura, alimentação apropriada para a idade, acesso a medicamentos e
acompanhamento médicos de qualidade fazem com que a pessoa consiga
se desenvolver de maneira adequada e saudável. Essa situação pode
inclusive favorecer a sua capacidade/vontade de voltar a estudar.
 Cultura: O comportamento alimentar é um dos principais determinantes do
desenvolvimento infantil. De acordo com Rossi, Moreira e Rauen (2008), a
cultura exerce forte influência na alimentação das crianças: disponibilidade e
acesso a determinados alimentos, bem como a estrutura das refeições podem
ser apontados como fatores culturais que interferem na alimentação. Com
essa informação, principalmente as professoras da educação infantil e do
ensino fundamental saberão da sua responsabilidade sob o comportamento
alimentar e poderão abordar questões sobre esse tema em suas aulas.
 Raça-cor: Em um estudo que objetivou conhecer a prevalência dos principais
fatores de risco e proteção em escolares, segundo as diferenças de raça-cor,
baseando-se na Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE/2012), Malta
et al (2017) constataram que: 1) Adolescentes brancos: frequentam escolas
32
privadas, suas mães são mais escolarizadas, experimentam mais bebida
alcoólica. 2) Estudantes pretos, pardos e indígenas: consomem mais feijão e
frutas. 3) Adolescentes indígenas: praticam mais atividades físicas e relataram
ser mais vítima de violência física. 4) Estudantes amarelos e pretos: informaram
sofrer mais bullying. Por meio dessa pesquisa, constata-se que o pertencimento
racial e de cor é um importante determinante do desenvolvimento de várias
maneiras, desde o tipo de escola frequentada e da alimentação, até às
atividades físicas realizadas, ao tipo de violência sofrida.
 Contexto histórico: É importante que o sujeito seja concebido como um ser
inserido em uma história, sendo determinado por ela e, ao mesmo tempo,
determinando-a. Isso significa compreender a historicidade das pessoas.
Nascer e viver em um determinado momento histórico tem as suas
especificidades: durante a colonização dos portugueses, as guerras mundiais,
a ditadura civil-militar ou a pandemia do Coronavírus 19. Nesse último caso,
Costa et al. (2021) fizeram uma pesquisa para conhecer as consequências da
pandemia do coronavírus para os adolescentes: mudanças nas formas de
convivência;os lugares ocupados; as mídias; os riscos e as preocupações,
todos esses aspectos acarretam consequências para o seu desenvolvimento.
Destacam-se: a impossibilidade de separação dos pais e de convivência física
com seus grupos de pares, o fechamento de serviços, como escola (COSTA et
al., 2021).
De acordo com Papalia, Olds e Feldman (2009), as influências no
desenvolvimento humano podem ser normativas e não normativas. As normativas
são aqueles eventos que ocorrem de maneira muito parecida entre as pessoas.
Podem ser histórico-contextuais, como no caso da pandemia do coronavírus, ou
etários, de acordo com a faixa etária, por exemplo, o período em que ocorre a
menarca. Já as influências não normativas são aquelas situações inesperadas para
aquele momento do desenvolvimento humano, como o casamento na infância, a
viuvez no início da vida adulta.
No contexto educacional, pode-se ilustrar como influência normativa a
passagem da escola para o ensino superior, na juventude. Já um exemplo de evento
não normativo é a interrupção dos estudos durante a alfabetização de uma criança
que precisa trabalhar.
33
O desenvolvimento humano é dividido em períodos, de uma forma
geral, no cotidiano, referimo-nos à infância, à adolescência, à juventude, à vida
adulta e à velhice. No entanto, para o estudo do desenvolvimento, esses períodos
são mais específicos, de forma a possibilitar o maior conhecimento sobre cada um
deles, por exemplo, o que ocorre com a cognição de um bebê que acabou de
nascer? Quais são as características físicas esperadas de uma senhora de 80 anos?
Abaixo está reproduzida a proposta de Papalia, Olds, Feldman (2009) de
divisão dos períodos do desenvolvimento humano de acordo com a faixa etária. É
importante ressaltar que essa divisão, apesar de se basear no critério etário, leva em
consideração também aspectos culturais. Por exemplo, para determinadas culturas,
como as etnias indígenas Tembé e Kaxuyana, a adolescência não existe, da infância,
passa-se para a vida adulta (TRAVASSOS, CECCARELLI, 2017), para outras, como a
brasileira, considerando o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), a
adolescência acaba aos 18 anos.
Quadro 1: Faixa etária e período do desenvolvimento
Faixa etária Período
Da concepção ao nascimento Pré-natal
Do nascimento aos três anos Primeira infância
Dos três aos seis anos Segunda infância
Dos seis aos 11 anos Terceira infância
Dos 11 aos 20 anos Adolescência
Dos 20 aos 40 anos Início da vida adulta
Dos 40 aos 65 anos Vida adulta intermediária
Dos 65 anos em diante Vida adulta tardia
Fonte: Papalia, Olds, Feldman (2009, p. 12-13)
34
É imprescindível que futuros professores tenham conhecimento científico sobre
o desenvolvimento humano considerando, inclusive, que o processo educativo pode
ocorrer com estudantes em diferentes faixas etárias, desde a mais tenra idade, até
os idosos, conforme explicitado anteriormente.
O estudo sobre o desenvolvimento humano pode auxiliar os professores a
saber como lidar com os estudantes, o que esperar de cada um deles, o que eles já
devem saber, bem como o que podem aprender. Esse entendimento será
indispensável no momento da construção das atividades pedagógicas. Por exemplo,
para Jean Piaget, (como será estudo na unidade IV) é por volta dos 12 anos que os
adolescentes conseguem ter uma compreensão dos conceitos abstratos, assim
sendo, nesse período, as tarefas escolares devem explorar essa habilidade.
Além do conteúdo pedagógico a ser desenvolvido, outro aspecto que o
estudo do desenvolvimento pode contribuir para a prática da professora é como
abordar tais conteúdos, qual a metodologia a ser utilizada? De acordo com Henri
Wallon (que também será abordado na unidade 4), geralmente, por volta dos três
anos, a criança passa por uma fase de oposição, em que quer vivenciar a sua
independência. Os professores podem aproveitar esse momento e estimular que as
crianças explorem o ambiente da escola, busquem aquilo que as interessa, por
exemplo.
Com essa unidade, foi possível constatar que o estudo do desenvolvimento
descreve, em cada um dos períodos, o tipo de desenvolvimento esperado, por
exemplo, para os professores de adolescentes, quais os tipos de desenvolvimento
físico, cognitivo e psicossocial espera-se que ocorram, além disso, quais as influências
desse desenvolvimento? Com essas informações, a educadora estará mais apta
para escolher o conteúdo e o método mais adequados para planejar e executar as
suas aulas.
35
A partir das próximas duas unidades, será abordado o estudo sobre as
correntes epistemológicas do desenvolvimento humano, ou seja, como as diferentes
abordagens/teorias acreditam que ocorre esse desenvolvimento, quais são as suas
determinações, como cada uma acredita que ocorre o processo de ensino e
aprendizagem. Serão abordados: o inatismo, o ambientalismo, a abordagem
comportamental e as teorias interacionistas.
36
FIXANDO O CONTEÚDO
1. (Quadrix - 2018 - CFP - Especialista em Psicologia – Psicopedagogia/Adaptada)
Toda prática educativa traz em si uma teoria do conhecimento. Itard, médico francês
nascido em 1975, foi um dos primeiros a trabalhar com dificuldades de
aprendizagem, propondo um tratamento para o menino Victor de Aveyron, que
ficou conhecido como “menino selvagem”. Nessa ocasião, ainda não se acreditava,
por forças do capitalismo, que pacientes com algum tipo de atraso pudessem
aprender, sendo esse caso um marco na construção da visão atual em relação ao
ser que não aprende. Considerando o contexto apresentado e o atual, assinale a
alternativa correta.
a) Atualmente não existem mais práticas que tendem a segregar alunos que
aprendem de alunos que não aprendem.
b) Os estudos do desenvolvimento humanos são exclusivos dos médicos, assim sendo,
apenas eles podem opinar sobre o que está sendo solicitado na questão.
c) Ao professor cabe lecionar sua disciplina, independentemente do
desenvolvimento de seus alunos.
d) O professor, sozinho, não tem base teórica para conhecer os seus alunos, pois ele
não estuda sobre o desenvolvimento humano.
e) É de extrema relevância ampliar as discussões em torno da temática do
desenvolvimento humano e buscar a contextualização histórica, além de teorias
e pesquisas científicas para fomentar novas posturas.
2. Uma professora de Ensino Fundamental é convidada a assumir uma turma de
Educação de Jovens e Adultos (EJA). Apesar de estar muito sobrecarregada, ela
aceita a oferta, afinal, já possui todo o material das aulas preparado.
Considerando os estudos sobre o desenvolvimento humano, marque a alternativa
abaixo que melhor analisa o pensamento dessa professora:
a) Ela está correta, afinal, independentemente da idade do estudante, o conteúdo
37
deve ser ministrado da mesma forma para todos.
b) Ela está errada, pois deve considerar a etapa de vida dos alunos para planejar a
aula.
c) Ela está correta, uma vez que todas as turmas são iguais, independentemente não
apenas do pertencimento etário, mas também sociocultural.
d) Ela está errada, pois, independentemente de seus esforços, os idosos não têm
capacidade de se desenvolverem.
e) Os estudos do desenvolvimento não trazem contribuições para a educação
escolar.
3. Diversas pesquisas têm buscado conhecer as consequências da pandemia para
o desenvolvimento humano, desde os recém-nascidos, até os idosos.
Compreendendo que o desenvolvimento humano sofre influências normativas e
não normativas (Papalia, Olds e Feldman, 2009), complete a frase a seguir com a
alternativa que melhor a completa:
A pandemia do coronavírus é um evento ___________ do desenvolvimento
humano, pois ____________________________.
a) Normativo/ afetou todas as pessoas do mundo.
b) Não normativo/ atingiu os sujeitos de maneira diferente.
c) Normativo etário/ afetou as pessoas da mesma idade de forma idêntica.
d) Não normativo/ atingiu todas as pessoas que viveram nesse contexto histórico.
e) Normativo histórico/ afetou todas as pessoas que viveram nessecontexto histórico.
4. A escola é um dos principais contextos em que os estudantes se desenvolvem.
Analise as afirmativas abaixo, que relacionam o desenvolvimento e a
escolarização, e marque a alternativa correta:
I. Na escola deve ser priorizado o desenvolvimento cognitivo, pois esse é o mais
importante.
II. O desenvolvimento psicossocial deve ocorrer exclusivamente no seio familiar.
38
III. Um desenvolvimento interfere no outro.
a) Todas estão corretas.
b) Todas estão erradas.
c) I e II estão corretas e III está errada.
d) I está errada e II e III estão corretas.
e) I e II estão erradas e III está correta.
5. (IBADE- Psicóloga) De acordo com Papalia, Olds e Feldman (2006), o
desenvolvimento humano é composto por três aspectos que estão interligados
durante toda a vida, e cada um influencia os outros. São eles, respectivamente:
a) Biológico, cognitivo e social.
b) Físico, mental e psicológico.
c) Biológico, cognitivo e psicossocial.
d) Físico, cognitivo e psicossocial.
e) Biológico, mental e psicológico.
6. Maria, uma aluna com dificuldades de interação com outros adolescentes, é
convidada pela professora de Química para participar do grupo de estudos sobre
balanceamento de equações. A mãe da estudante, no dia seguinte, se dirige à
escola e reclama com a direção que a educadora quer que a filha estude mais,
apesar de saber que seu problema é fazer amigos e não compreender a matéria.
A genitora:
a) Não conhece os estudos do desenvolvimento humano, pois não sabe que o
desenvolvimento cognitivo pode influenciar o desenvolvimento psicossocial, assim,
Maria, ao ajudar os colegas, pode fazer amigos. Ou seja, a estratégia da
professora foi proposital, para ajudar Maria.
b) Conhece os estudos do desenvolvimento humano e sabe que o desenvolvimento
psicossocial é o mais relevante de todos, independentemente da situação e do
contexto.
c) Não conhece os estudos do desenvolvimento humano, pois não sabe que o
desenvolvimento cognitivo é o mais importante de todos. Ou seja, Maria não tem
problema sério.
39
d) Conhece os estudos do desenvolvimento humano e sabe que um tipo de
desenvolvimento não interfere no outro. Ou seja, a escola deveria ter criado uma
estratégia puramente psicossocial para auxiliar Maria em sua dificuldade para
fazer amigos.
e) Não conhece os estudos do desenvolvimento humano, pois não sabe que se a
pessoa tem dificuldade em um tipo de desenvolvimento, necessariamente o terá
em todos. Ou seja, se Maria tem problemas para fazer amigos (desenvolvimento
psicossocial), ela terá dificuldades para compreender a matéria (desenvolvimento
cognitivo).
7. Analise as asserções abaixo marque a alternativa correta:
I. Os estudos do desenvolvimento humano são multidisciplinares.
II. Podem ser beneficiados por diferentes campos do saber, assim como podem
beneficiar diferentes práticas profissionais.
a) Ambas as afirmativas são falsas.
b) Ambas as afirmativas são verdadeiras e não há correlação entre elas.
c) A afirmativa I é falsa e a II é verdadeira.
d) A afirmativa I é verdadeira e a II é falsa.
e) Ambas as afirmativas são verdadeiras e há relação entre elas.
8. Considerando os tipos de desenvolvimento humano, complete o quadro a seguir
e marque a alternativa correta:
Tipo de
desenvolvimento
Conceito Exemplo
1) Relacionado às
habilidades mentais
Capacidade de abstração
Físico Relativo ao corpo 2)
Psicossocial 3) Emoções
a) 1) Cognitivo; 2) Peso; 3) Referente a si e aos outros.
b) 1) Mental; 2) Beleza; 3) Relacionado à inteligência.
c) 1) Cognitivo; 2) Inteligência emocional; 3) Referente a si e aos outros.
d) 1) Interpessoal; 2) Hipotireoidismo; 3) Referente à capacidade de comunicação.
40
e) 1) Intrapessoal; 2) Peso; 3) Relacionado à inteligência.
41
CORRENTES EPISTEMOLÓGICAS:
INATISMO, AMBIENTALISMO E A
PSICOLOGIA COMPORTAMENTAL
Nessa unidade, serão apresentadas três formas de conceber o
desenvolvimento humano: o inatismo, o ambientalismo e a Psicologia
Comportamental. No final de cada uma delas, são apresentadas suas ideias sobre o
papel da educação no desenvolvimento.
3.1 INATISMO
Inato é aquilo que nasce com o sujeito, independentemente da sua
experiência e do contexto em que está inserido (DICIONÁRIO AULETE, 2021). Assim
sendo, a corrente epistemológica do inatismo defende que a pessoa vai se
desenvolver exclusivamente de acordo com os aspectos biológicos herdados,
independentemente do meio em que está inserida (ALMEIDA, 2015). Dessa forma, os
acontecimentos que ocorrem após o nascimento têm pouca importância para a
definição da personalidade, dos valores, das condutas e da aprendizagem do sujeito
(DAVIS; OLIVEIRA, 1994).
Alguns ditados populares, como “quem herda, não furta”, “filho de peixe,
peixinho é” e “pau que nasce torto, nunca se endireita”, são expressões muito
comuns no cotidiano e partem dos pressupostos do inatismo: as pessoas são aquilo
que herdam e não vão se modificar, independentemente das experiências que
tiverem.
De acordo com Davis e Oliveira (1994), o inatismo foi influenciado por ideias
religiosas (cada pessoa é a imagem e semelhança de Deus e nasce com seu destino
determinado), por concepções equivocadas da teoria evolucionista de Darwin (ao
conceder ínfima importância aos fatores ambientais) e pelos primeiros estudos de
embriologia (que erroneamente desconsideravam a influência do ambiente externo
no desenvolvimento embrionário).
Para o inatismo, a aprendizagem ocorrerá de acordo com o desenvolvimento
de cada sujeito, que será determinado unicamente por sua herança genética. Dessa
UNIDADE
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forma, o papel da professora é passivo e restrito: a ele cabe esperar o momento em
que o estudante está pronto para determinada aprendizagem, sua função é
principalmente auxiliar o aluno a organizar a predisposição com a qual nasceu
(ALMEIDA, 2015). Dessa forma, acredita-se que a professora interfere minimamente
no desenvolvimento (DAVIS; OLIVEIRA, 1994).
Para o inatismo, os estudantes provenientes de famílias com histórico de
dificuldades de aprendizagem e/ou problemas no desenvolvimento irão,
necessariamente, apresentar sérias limitações na sua escolarização (ALMEIDA, 2015)
e nada poderá alterar esse destino que foi genética e previamente traçado, a
professora pode tentar usar diferentes metodologias, conteúdos, mas não terá
sucesso.
Um dos grandes nomes a defender essas ideias foi Francis Galton (1822-1911),
para ele, a inteligência era herdada. Em 1869, ele publicou o livro “A genialidade
herdada” em que, por meio da história familiar, analisou homens muito inteligentes.
Galton é reconhecido como um dos pais da eugenia, ciência que tinha como
objetivo “aperfeiçoar” a espécie humana através do controle do cruzamento entre
indivíduos pré-determinados (PATTO, 2008).
Até hoje, as ideias de Galton impactam a sociedade de uma forma geral e,
especificamente, a educação escolar. O pré-conceito de que as pessoas negras são
menos inteligentes, de que os europeus são superiores, essas definições são
estabelecidas sem se conhecer aquele determinado sujeito, apenas por ele
pertencer a determinado grupo racial, espera-se que ele tenha certa capacidade
(ou não), pois a herdou geneticamente. No Brasil, é possível pensar nas diferenças de
padrões sociais construídos acerca das pessoas afrodescendentes e descendentes
de europeus, por exemplo, conforme analisado no capítulo I dessa obra, no item
sobre as pesquisas de Patto (2008).
3.2 AMBIENTALISMO
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Oposta ao inatismo, o ambientalismo defende que o comportamento é
resultado exclusivo da experiência que o indivíduo vivencia, independentemente da
sua genética. Essa concepção foi baseada no empirismo (ALMEIDA, 2015).
O fundador do empirismo foi o filósofo inglês John Locke (1632-1704). Ele
rejeitava a concepção de que os sujeitos já nasciam com ideias, para ele, os seres
humanos eram como uma lousa em branco, que era preenchida através das
experiências que tinha ao longo da sua vida, por meio delas, os indivíduosconstruiriam o seu conhecimento. SCHULTZ; SCHULTZ, 2016).
Para o ambientalismo, os sujeitos vão se desenvolver de acordo com o meio
em que estão inseridos e as experiências que viverão nele, isso lhes concede uma
capacidade de plasticidade muito grande (DAVIS; OLIVEIRA, 1994). De acordo com
o dicionário Aulete, a plasticidade pode ser compreendida como a qualidade do
que pode ser moldado, ao consideramos a plasticidade das pessoas, isso significa
que elas irão mudar de acordo com o que vivenciarem (estímulos, condições
ambientais, dentre outros aspectos).
Diferentemente da teoria inatista, a ambientalista concede destaque à
professora, pois é responsabilidade sua conduzir o processo de aprendizagem (seja
no seu planejamento, sua execução e sua organização) (DAVIS; OLIVEIRA, 1994).
Para Davis e Oliveira (1994), o principal questionamento do ambientalismo é a
passividade do sujeito, ele será determinado pelo ambiente. Especificamente no
contexto escolar, essas autoras criticam o diretismo exacerbado da professora, que
não abre margem para a espontaneidade dos estudantes. Ainda de acordo com
elas, o ambientalismo não valoriza, por exemplo, as aprendizagens advindas das
situações de convívio entre as crianças, aquelas em que não há intervenção da
professora (DAVIS; OLIVEIRA, 1994).
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3.3 ABORDAGEM COMPORTAMENTAL E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA O
DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO: DE WATSON A SKINNER
Algumas estudiosas, como Davis e Oliveira (1994) e Alencar (2015), consideram
que a abordagem Comportamental se encontra inserida na corrente Ambientalista,
dada a relevância que esta concede ao ambiente como determinante para o
comportamento humano. Todavia, como nessa obra apresentamos o Ambientalismo
reducionista, que negligencia os fatores biológicos e genéticos, consideramos que a
abordagem Comportamental não se insere nessa corrente epistemológica, pois,
apesar da grande importância que confere ao ambiente, ela não nega a influência
genética e ambiental. Além disso, dada a sua importância para a Psicologia e suas
contribuições para a educação, optou-se por apresentá-la em um item
separadamente.
Conhecida como Psicologia Comportamental, Comportamentalismo,
Psicologia Experimental, Análise Experimental do Comportamento ou Behaviorismo
(do inglês behavior- comportamento), essa importante teoria tem como foco, como
o próprio nome sugere, o comportamento humano (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 2008).
De acordo com o dicionário Aulete (versão online) comportamento é a
maneira de se comportar, de viver, de agir e reagir; o modo de agir, em geral, em
relação aos fatores ambientais; o conjunto de reações e atitudes do indivíduo diante
do meio social, em sua interação com as situações, a reação de algo em
determinadas circunstâncias ou a forma pela qual um organismo, ou parte dele,
funciona ou reage aos estímulos.
Na Psicologia: “Comportamento é entendido como interação entre indivíduo
e ambiente [...]. O ser humano começa a ser estudado a partir de sua interação com
o ambiente, sendo tomado como produto e produtor dessa interação” (BOCK;
FURTADO; TEIXEIRA, 2008, p. 59). De acordo com a abordagem Comportamental, as
pessoas têm padrões de comportamento, por exemplo, ser tímido ou agitado, que
são apresentados em diferentes contextos e com certa regularidade.
Além do comportamento, um outro ponto muito discutido pela
Comportamental é a aprendizagem que, nessa abordagem, pode ser
compreendida como “qualquer mudança duradoura na maneira como os
organismos respondem ao ambiente” (Goulart, Delage, Rico, Bríno, 2012, p. 21). Para
entender de que forma ocorre a aprendizagem, faz-se necessário esclarecer alguns
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conceitos, que serão discutidos a seguir.
A Comportamental divide o comportamento em dois tipos:
 Respondente ou reflexo, que ocorre de maneira involuntária (GOULART,
DELAGE, RICO, BRÍNO, 2012). Por exemplo, quando a professora fecha os olhos
no momento em que a luz do aparelho data show reflete diretamente sobre o
seu rosto, ou seja, o estímulo luz eliciou (provocou) a resposta fechar os olhos.
 Operante, que ocorre de maneira voluntária, é aprendido e vai ocorrer para
que seja obtida alguma resposta almejada (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008).
Por exemplo, o aluno que tem o comportamento de estudar para conseguir
uma boa nota.
No exemplo acima tem-se um outro conceito essencial, o de reforçador, a
nota foi o reforçador para que o aluno estudasse. O reforço altera a possibilidade de
ocorrência de um determinado comportamento: os reforços positivos aumentam
essa chance (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008) e os negativos retiram um estímulo
considerado aversivo (JUNIOR; SOUZA; DIAS, 2005)
Em sala de aula, pode-se considerar que todas as crianças querem ser o
ajudante do dia e irão se comportar de maneira adequada para ocuparem tal
cargo, assim sendo, querer ser ajudante do dia é um reforçador positivo, é a resposta
que as crianças querem obter e irão se comportar para consegui-la. Já na situação
de uma professora que começa a gritar sempre que os estudantes mantêm muitas
conversas paralelas, trata-se de um reforçador negativo, os alunos irão deixar de
conversar durante as aulas para que a educadora não grite (estímulo aversivo).
Outros conceitos importantes para o entendimento da Comportamental no
ambiente escolar são:
 Esquiva e fuga: a esquiva é a tentativa que algo indesejado não ocorra, já a
fuga, como o próprio termo indica, é a tentativa de cessação de um estímulo
aversivo quando ele já foi iniciado. (JUNIOR; SOUZA; DIAS, 2005; BOCK;
FURTADO; TEIXEIRA, 2008). Por exemplo, o aluno que não vai à escola (esquiva)
ou sai durante a aula (fuga) para não ser vítima de bullying (estímulo aversivo).
 Punição: estratégia usada para reduzir a ocorrência de um dado
comportamento (JUNIOR; SOUZA; DIAS, 2005), pode ocorrer através do uso de
um estímulo considerado aversivo ou da retirada de um reforçador positivo.
(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). Por exemplo, quando uma aluna que
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costumava ser participativa deixa de participar da aula depois que considerou
que a professora foi injusta na correção de sua avaliação, ela está punindo a
educadora.
 Discriminação de estímulos: quando uma resposta é dada diante de um
estímulo x, mas não no estímulo z (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). Por
exemplo, quando a criança ouve o barulho da sirene escolar e entende que
acabou o horário do recreio, ou seja, ela reconhece que o som do toque de
saída da aula é diferente do término do recreio.
 Generalização de estímulos: ocorre quando as respostas dadas a diferentes
estímulos são semelhantes, pois os estímulos são compreendidos como
semelhantes (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). Para ilustrar, considere um
estudante que se formou no ensino médio e, ao ingressar na faculdade, age
da mesma maneira como o fazia na escola, como pedir permissão à
professora para ir ao banheiro. Outra situação, é a criança que recém
ingressou na escola e chama a professora de mãe.
Para finalizar o tópico inicial da Comportamental, a seguir serão apresentados
três importantes teóricos dessa abordagem: Pavlov, Watson e Skinner.
Ivan Pavlov (1849/ 1936), cientista russo, que ao realizar um experimento com
um cachorro, constatou o processo de condicionamento, que pode ser
compreendido como uma alteração na forma que um ser vivo responde a um
estímulo, sob influência do meio (JUNIOR; SOUZA; DIAS, 2005). Abaixo está descrita a
experiência de Pavlov (CARRARA, 2004):
1) Antes do condicionamento:
O cão via o alimento → ele salivava (o alimento é um estímulo incondicionado-
que causa uma resposta reflexa, ou seja, o sujeito não consegue controlar, não é
aprendida)
O cão ouvia o som do sino → nada ocorria (o sino era um estímulo neutro)
2) Durante condicionamento:
Pavlov tocava o som do sino ao mesmo tempo em que oferecia o alimento ao
cão → o animal salivava (o estímulo neutro foi oferecido junto ao estímulo
incondicionado, ocorreu o que os Behavioristas chamam depareamento de
estímulos)
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3) Depois do condicionamento:
Ao ouvir o som do sino, mesmo sem a presença do alimento → o cachorro
salivava (ocorreu o condicionamento)
Esse é conhecido como condicionamento pavloviano, clássico ou
respondente (pois é baseado nos reflexos) e é a maneira mais simples de
aprendizagem (ALENCAR, 2007). Abaixo encontra-se um quadrinho que pode auxiliar
na compreensão do experimento de Pavlov:
Figura 4: Ilustração da experiência de Pavlov com cães
Fonte: Disponível em https://bit.ly/3CAeHRg. Acesso em: 20 jun. 2021.
O primeiro nome reconhecido como um psicólogo comportamental é John
Watson (1878/1958), pesquisador estadunidense que defendeu que a Psicologia é o
estudo do que é observável e mensurável, que seus objetivos são a predição e o
controle do comportamento, o oposto do que era comum na época: a Psicologia
como o estudo da consciência e o uso do método introspectivo (CARRARA, 2004) Ele
estudou sobre o comportamento animal de uma forma geral e, em 1913, cunhou o
termo “Behaviorismo”.
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Em 1925, Watson deu uma polêmica declaração: “Dê-me uma dúzia de bebês
sadios e bem constituídos e eu poderei tomar qualquer um deles ao acaso e treiná-
los em qualquer especialidade que eu selecione”, continuou o pesquisador:
“tornando-o um médico, advogado, artista, comerciante e mesmo pedidor de
esmola ou ladrão- independentemente de seus talentos, tendências, habilidades,
vocação e raça de seus ancestrais.” (ALENCAR, 2007, p. 43). Com essa frase, ele
afirmou que o ambiente é o único determinante do comportamento humano,
independentemente dos fatores hereditários.
Por fim, o também psicólogo estadunidense, Burrhus Skinner (1904/1990)
propôs, em 1945, o termo Behaviorismo radical (que nega tudo o que escapa ao
mundo físico). Um dos focos de interesse de Skinner foi o controle do comportamento
humano. Para melhor compreender o comportamento, desenvolveu a “Caixa de
Skinner”, aparelho usado em laboratório no qual é mantido um sujeito experimental,
geralmente um rato. De acordo com os estímulos ambientais, o pesquisador irá
moldar o comportamento do sujeito experimental, seja para manter ou modificá-lo.
Para tanto, são usados estímulos sonoros (ruídos), visuais (luzes) e olfativos (odores)
(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008), conforme ilustração abaixo:
Figura 5: Representação da Caixa de Skinner
Fonte: Disponível em https://bit.ly/39odDTJ. Acesso em: 20 jun. 2021.
Diferentemente do que é compreendido por muitas pessoas que conhecem
pouco a Comportamental, essa abordagem não acredita na passividade dos
sujeitos, nem na postura ativa exclusivamente: eles são determinados pelo meio, da
mesma forma como são determinantes nesse meio (CARRARA, 2004).
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Abordagem Comportamental e a educação
Uma das principais orientações do Behaviorismo para a educação é a
definição clara de quais comportamentos se espera do estudante, ou seja, que a
professora dê instruções adequadas e compreensíveis (CARRARA, 2004). Para tanto,
a professora deve colocar em seu plano de aula quais os comportamentos
específicos esperados não apenas dele, mas também da turma para a qual leciona
(PEREIRA, MARINOTTI, LUNA, 2004).
A professora deve evitar que o estudante cometa erros desnecessários (pois
isso pode fazer com ele se sinta frustrado, o que pode levar à desmotivação na
aprendizagem), deve também reforçar sempre o comportamento desejado do
aluno, evitando a punição (CARRARA, 2004).
De acordo com Pereira, Marinotti e Luna (2004), as consequências aversivas,
como castigos, podem ter como efeitos: a fuga ou a esquiva (como o aluno que falta
a aula com medo da punição da professora), a produção de reações emocionais
negativas (como o estudante que fica agressivo diante do castigo estipulado pela
educadora) e, apesar de retrair o comportamento punido, não há aprendizagem,
ou seja, o aluno pode parar de atrapalhar a aula, por exemplo, para que a professora
não o coloque de castigo, mas ele não aprendeu que não deve perturbar a aula,
quais os motivos e consequências desse seu comportamento.
É benéfico para o processo de aprendizagem quando a professora inicia uma
atividade auxiliando o aluno o máximo possível e estabelecendo metas mais baixas
e, com o passar do tempo, a professora deve diminuir a sua ajuda e aumentar a
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exigência (CARRARA, 2004). Com o apoio do docente e as suas pequenas
conquistas, o estudante vai se sentir cada vez mais capaz e, consequentemente,
motivado para continuar a aprender.
É importante que a professora tenha em mente que o propósito da educação
é a aprendizagem do sujeito e que, para que essa finalidade seja alcançada, a
educadora deve considerar o estágio em que se encontra cada estudante e não
estabelecer um “padrão de aluno típico das camadas médias” (PEREIRA, MARINOTTI,
LUNA, 2004, p. 15).
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FIXANDO O CONTEÚDO
1. (IBFC - MGS – Pedagogia/ Adaptada) O desenvolvimento humano se dá como um
processo de apropriação da experiência histórico-social pelo/a homem/mulher e
essa visão é resultado da evolução de várias teorias, entre elas, a teoria inatista
que considera importante somente os fatores genéticos e biológicos, ou seja,
aquilo que é hereditário, inato. Por isso, o nome inatismo, que compreende
características e dons que se traz quando nasce. Nesse sentido, assinale a
alternativa correta a seguir:
a) Para os inatistas, as pessoas desenvolvem suas características básicas de acordo
com o ensino na sala de aula.
b) Para os inatistas, cada ser humano já traz consigo características básicas, definidas
desde o nascimento.
c) Para os inatistas, as características inatas ao ser humanos não podem ser
desenvolvidas fora da escola.
d) Para os inatistas, as características básicas não fazem parte do ser humano.
e) Para os inatistas, as características básicas do ser humano são resultado da
interação entre ambiente e fatores hereditários.
2. (Site preparatório para concursos/Adaptada) A Psicologia possui diferentes
concepções acerca do desenvolvimento humano. A concepção inatista e a
concepção ambientalista apontam para diferentes influências no
desenvolvimento de habilidades cognitivas. Considerando essas teorias, analise as
afirmativas abaixo e marque a resposta correta.
a) O inatismo e o ambientalismo explicam que o desenvolvimento de habilidades é
determinado pela hereditariedade.
b) A teoria inatista explica que o desenvolvimento de habilidades é hereditário.
c) O inatismo e o ambientalismo explicam que o desenvolvimento de habilidades é
determinado pelo meio.
d) A teoria ambientalista explica que o desenvolvimento de habilidades é hereditário.
e) O inatismo e o ambientalismo explicam que o desenvolvimento de habilidades é
determinado pela interação entre o meio e a hereditariedade.
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3. (VUNESP- Pedagogo) Sobre as características da concepção ambientalista do
desenvolvimento humano, assinale a alternativa correta.
a) O ser humano é concebido como um ser extremamente plástico, que desenvolve
suas características em função das condições presentes no meio em que se
encontra.
b) A experiência sensorial é fonte de conhecimento, pois o desenvolvimento humano
está relacionado com as capacidades inatas.
c) A maturação biológica é tão importante quanto o papel do ambiente no
desenvolvimento do ser humano e de suas capacidades.
d) A concepção ambientalista defende que o desenvolvimento humano está
relacionado com o ambiente em consonância com os fatores inatos.
e) A aprendizagem é considerada exclusivamente como resultado dos fatores
biológicos que modificam o comportamento humano.
4. (Vunesp/Adaptada) Com relação às principais características da concepção
inatista do desenvolvimento humano é correto afirmar que:
a) O ambiente interfere no processo de desenvolvimento espontâneo do ser
humano. Assim, a educação e, portanto, a escola, possuem papéis fundamentais
no processo de desenvolvimento, ou seja, na personalidade, nos valores, nos
hábitos e crenças, na conduta social, nas

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