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1 FACULDADE ÚNICA DE IPATINGA 2 Roberta Andrade e Barros Doutora em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2021). Mestre em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (2013). Especialista em Psicoterapia de Família e de Casal pela PUC-MG (2010). Graduada em Psicologia pela PUC-MG (2008). Atua como professora universitária desde 2009 em instituições públicas e privas e leciona em diversos cursos de graduação e especialização. PRÁTICA PEDAGÓGICA INTERDISCIPLINAR: PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E DA APRENDIZAGEM 1ª edição Ipatinga – MG 2021 3 FACULDADE ÚNICA EDITORIAL Diretor Geral: Valdir Henrique Valério Diretor Executivo: William José Ferreira Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Cristiane Lelis dos Santos Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Gilvânia Barcelos Dias Teixeira Revisão Gramatical e Ortográfica: Izabel Cristina da Costa Revisão/Diagramação/Estruturação: Bárbara Carla Amorim O. Silva Bruna Luiza Mendes Leite Carla Jordânia G. de Souza Guilherme Prado Salles Rubens Henrique L. de Oliveira Design: Brayan Lazarino Santos Élen Cristina Teixeira Oliveira Maria Luiza Filgueiras Taisser Gustavo de Soares Duarte © 2021, Faculdade Única. Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autorização escrita do Editor. Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920. NEaD – Núcleo de Educação a Distância FACULDADE ÚNICA Rua Salermo, 299 Anexo 03 – Bairro Bethânia – CEP: 35164-779 – Ipatinga/MG Tel (31) 2109 -2300 – 0800 724 2300 www.faculdadeunica.com.br 4 Menu de Ícones Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones ao lado dos textos.Eles são para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um com uma função específica, mostradas a seguir: São sugestões de links para vídeos, documentos científicos (artigos, monografias, dissertações e teses), sites ou links das Bibliotecas Virtuais (Minha Biblioteca e Biblioteca Pearson) relacionados com o conteúdo abordado. Trata-se dos conceitos, definições ou afirmações importantes nas quais você deve ter um maior grau de atenção! São exercícios de fixação do conteúdo abordado em cada unidade do livro. São para o esclarecimento do significado de determinados termos/palavras mostradas ao longo do livro. Este espaço é destinado para a reflexão sobre questões citadas em cada unidade, associando-o a suas ações, seja no ambiente profissional ou em seu cotidiano. 5 SUMÁRIOUNIDADE 01 UNIDADE 02 UNIDADE 03 UNIDADE 04 UNIDADE 05 UNIDADE 06 6 CONFIRA NO LIVRO A primeira unidade contextualiza a Psicologia e, mais especificamente, a Psicologia da Educação, para tanto, apresenta duas grandes psicólogas da Educação brasileira: Helena Antipoff e Maria Helena Souza Patto. Esse segundo capítulo traz os pontos mais relevantes sobre o desenvolvimento humano e o seu estudo, quais as suas dimensões, os seus domínios, qual a sua relação com a educação. A Unidade III apresenta o inatismo, ambientalismo e a Psicologia Comportamental, quais as suas concepções sobre o desenvolvimento e suas ideias para a educação. No quarto capítulo serão expostas as teorias de Piaget, Vigotski e Wallon, três dos mais reconhecidos pensadores sobre o desenvolvimento e o aprendizado humano. Essa unidade abordará a teoria das inteligências múltiplas: o que é inteligência? É possível falar em uma inteligência? Além disso, trará contribuições dessa teoria para a educação. Nesse último capítulo serão propostas discussões relevantes para o cotidiano escolar: a relação família e escola, o bullying, a indisciplina e violência na escola e o absenteísmo estudantil. 7 A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO: INTERAÇÃO ENTRE A PSICOLOGIA E A EDUCAÇÃO 1.1 BREVE HISTÓRICO E CONTEXTUALIZAÇÃO DA PSICOLOGIA Essa unidade tratará sobre a contextualização e breve histórico da Psicologia bem como sua relação com a Educação. Para compreender a interação entre essas duas ciências, faz se necessário, inicialmente, entender o que é a Psicologia. No dicionário online Aulete, “psique” é explicada como alma, mente, espírito. Já “logia” é o discurso, tratado. Assim sendo, a Psicologia pode ser compreendida como o estudo da mente. Atualmente, com a preocupação em manter o seu compromisso com a cientificidade, a Psicologia é entendida como o estudo da subjetividade. Mas, afinal, o que é a subjetividade? A definição do conceito da subjetividade é bastante complexa. Para Bock, Furtado e Teixeira (2008) podemos compreendê-la como o modo de ser, de sentir e de se comportar de cada um. É importante entender que cada pessoa tem uma subjetividade que é determinada pelo contexto social em que se está inserida, da mesma forma que o sujeito vai também determinar esse contexto: é uma via de mão dupla, o meio determina o sujeito e é por ele determinado. Ao longo da vida, de acordo com as experiências que tem, com as pessoas com as quais convive, o indivíduo pode mudar. De acordo com Bock, Furtado e Teixeira (2008), antes de ser conhecida como uma ciência e uma profissão, os assuntos hoje discutidos na Psicologia faziam parte do cotidiano das pessoas, do senso comum, eram as ideias psicológicas. A partir do século XIX, surge a Psicologia científica. Nessa época, o padrão de cientificidade reconhecido era o das ciências exatas, por isso, em um primeiro momento, a Psicologia tentou se adequar a esse modelo: empenhou-se para mensurar os comportamentos e as características dos seres humanos, além disso, preocupou-se em se manter neutra e distante do seu objeto de estudo, a subjetividade humana. (BOCK, FURTADO E TEIXEIRA, 2008). Ainda segundo os referidos autores, com o passar do tempo, a Psicologia UNIDADE 01 8 compreendeu que não poderia ser igualada às ciências exatas, pois seu objeto de estudo não é como uma máquina. Diante disso, aceitou as suas especificidades e buscou criar os seus padrões de cientificidade, juntamente às outras ciências humanas, como a Antropologia e a Sociologia, por exemplo. No Brasil, antes de ter um curso próprio, a Psicologia foi ensinada como disciplina em graduações de Direito, Medicina e Educação, no século XIX (CRPSP, 2011). Como pode ser constatado, desde o início da sua história, a Psicologia traz importantes contribuições para diferentes áreas do conhecimento, conforme será discutido, especificamente sobre a Educação, ao longo deste livro. A Psicologia é uma ciência e uma profissão, nesse sentido, outras profissões, como os docentes, podem utilizar os conhecimentos psicológicos. Além disso, as profissionais de Psicologia podem atuar em variadas áreas, utilizando diferentes teorias. O campo ou área de atuação pode ser compreendido como o “lugar” em que a psicóloga pode atuar. Para as profissionais da educação, é comum que trabalhem com psicólogas escolares/educacionais, clínicas, especialistas em psicopedagogia, em psicomotricidade ou avaliação psicológica. Por exemplo, uma professora pode ser convidada pela psicóloga para conceder entrevista sobre um determinado estudante ou a psicóloga pode auxiliar no acompanhamento escolar quando um aluno estiver com alguma dificuldade de aprendizagem ou precisar passar por uma avaliação psicológica ou ainda necessitar realizar algum tipo de acompanhamento psicológico. Atualmente, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) reconhece 13 campos de atuação para as profissionais dessa área: Psicologia Escolar/Educacional; Psicologia Organizacional e do Trabalho; Psicologia de Trânsito; Psicologia Jurídica; Psicologia do Esporte; Psicologia Clínica; Psicologia Hospitalar; Psicopedagogia; Psicomotricidade; Psicologia Social; Neuropsicologia; Psicologia em Saúde e Avaliação Psicológica. Para atuar em cada uma dessas áreas, a psicóloga deve escolher uma abordagem ou teoria, que é como a lente usada para compreender o mundo, os sujeitos e suas interações. Existem diversasabordagens, as mais conhecidas, que são denominadas de “as grandes forças da Psicologia”, são: a Psicanálise, a Psicologia Comportamental, o Humanismo e a Gestalt, que serão brevemente apresentadas a 9 seguir. A Psicanálise, foi criada por Sigmund Freud (1856-1939). Essa abordagem trouxe relevantes contribuições sobre a estruturação do aparelho psíquico e tem como principal descoberta o sistema inconsciente. Além disso, colabora para a prática profissional de psicólogas e profissionais que atuam na saúde mental. De acordo com Ferreira (2001, p. 110), ao realizar uma pesquisa bibliográfica sobre a relação entre Educação e Psicanálise, foi possível constatar que “o ponto de maior controvérsia entre os autores que se ocupam do tema reside no debate sobre o possível e o impossível de ter na Psicanálise uma ciência aplicável à educação [...]”. A Psicologia Comportamental, que será mais bem discutida na unidade 3 deste livro, foi criada por John Watson (1878-1958) e depois desenvolvida por Burrhus Frederic Skinner (1904-1990). Trouxe grandes contribuições para a Psicologia organizacional e clínica, além dos campos da Propaganda e Educação, especialmente no que se refere à aprendizagem (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 2008). A Psicologia Humanista foi desenvolvida por Carl Rogers (1902-1987), dentre outros pensadores. Para Rogers, deve-se ter uma consideração positiva das pessoas, para que cada uma possa de fato ser quem se é, sem que os obstáculos sociais, por exemplo, o temor de mostrar-se, impeça a aceitação da sua própria experiência e a autorrealização. Algumas contribuições de Rogers para a educação são a necessidade de a professora estimular o estudante a sair da posição de heteronomia para alcançar a autonomia, bem como a importância da aceitação do outro- tanto o educador como o aluno- e do estímulo à criatividade no processo educativo (ALMEIDA, 2012). E, por fim, a Psicologia da Gestalt, que foi criada por três pensadores alemães: Max Whertheimer (1880-1943), Kurt Koffka (1886-1941) e Wolfgang Köhler (1887-1967). Essa abordagem é conhecida como Psicologia da Forma e tem como um dos principais focos o estudo da percepção, ou seja, um determinado estímulo, fará com que cada pessoa tenha uma percepção e, em seguida, ela dará uma resposta. 10 Nesse sentido, quanto mais claro for o estímulo, mais fácil ele será compreendido. No caso da educação escolar, por exemplo, isso significa que o professor deve expor o conteúdo de forma mais organizada e compreensível possível para que o estudante tenha uma boa percepção e dê a resposta adequada. Depois de realizada essa contextualização da Psicologia de uma forma geral, no item a seguir serão discutidas questões específicas da Psicologia da Educação, de que trata esse campo do conhecimento e sua construção no Brasil. 1.2 O QUE É A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO Inicialmente, faz-se importante compreender a complexidade do termo educação. É muito comum que as pessoas pensem que a educação é especificamente o processo que ocorre em uma escola, mas a educação não está restrita ao ambiente escolar, ela pode ocorrer no contexto familiar, de uma igreja, de uma Organização Não Governamental, por exemplo. Pelo dicionário online Aulete, a educação é explicada como “Processo formal de transmissão de conhecimentos em escolas, cursos, universidades”, como “Formação e desenvolvimento da capacidade física, moral e intelectual do ser humano.”. O presente livro irá abordar especificamente sobre a educação escolar, por se tratar de um material de formação para futuros professores. De acordo com Larocca (2007, p. 59) para além de uma preparação ou treinamento, a educação deve ser compreendida como uma “atividade intencional, histórica, social e culturalmente situada”. Ainda para essa autora, “a educação não se restringe a transmissão dos saberes formalizados, científicos ou técnicos, mas exige algo maior, pois requer a transformação substantiva” das pessoas que dela fazem parte (LAROCCA, 2007, p. 59). Em relação à Psicologia da Educação, de acordo com Coll (2004), essa deve ser compreendida como uma “disciplina ponte” que tem como objeto de estudo compreender os processos de mudanças oriundos do desenvolvimento, da 11 aprendizagem e da socialização que são decorrentes da educação. Esse autor ressalta que as atividades educacionais não estão restritas ao ambiente escolar e ocorrem entre pessoas de diferentes características concretas, por exemplo, a idade, pode-se considerar também o pertencimento social, o gênero, a raça como aspectos relevantes de serem considerados nos processos educacionais. Ou seja, o aprender de um menino de dez anos, branco, pertencente à camada média, que estuda em uma escola particular será diferente de uma mulher adulta, negra, transexual, que foi expulsa da escola pública que frequentava quando era adolescente, por exemplo. É imprescindível considerar que não se trata de pensar que a Psicologia esteja a serviço da Educação, ou o contrário. É importante compreender que Psicologia e Educação (Pedagogia, Licenciaturas, Didática) se complementam, trazem questionamentos, reflexões e contribuições para entender um fenômeno tão complexo como a educação. Assim sendo, a Psicologia da Educação é um campo de conhecimento multidisciplinar, que integra diferentes disciplinas, sem hierarquias entre esses campos de saber (COLL, 2004). Apesar de abranger diversas abordagens, ainda segundo Coll (2004) são orientações da Psicologia da Educação de uma forma geral: Relações entre desenvolvimento, aprendizagem, cultura e educação: conceber que o desenvolvimento e a aprendizagem ocorrem inseridos em uma dada cultura, principalmente por meio da educação, seja no âmbito familiar ou escolar, dentre outros. Enfoques e modelos contextuais e culturais dos processos psicológicos: considerar como o contexto e a cultura, por exemplo, frequentar uma escola pública de periferia de uma grande cidade do sudeste brasileiro, determina a forma como a aprendizagem vai ocorrer, além dos processos de atenção, comportamentos conscientes. Unidade do ensino e aprendizagem: compreender a indissociabilidade dos processos de ensino e aprendizagem, a forma como o professor ensina, determina a maneira como o estudante vai aprender. Interesse por diferentes tipos de práticas educacionais: abarcar a educação como um processo complexo, que ocorre em diferentes contextos, formais, por exemplo, a escola, e informais, como as relações familiares. E, mesmo no ambiente escolar, considerar as diferentes práticas possíveis de serem 12 utilizadas, como as metodologias ativas, a gamificação, dentre outras. Dentre as várias contribuições da Psicologia para a Educação, podem-se destacar os estudos e as reflexões acerca do: Desenvolvimento humano: conhecer como as pessoas se desenvolvem, quais capacidades são adquiridas em quais etapas da vida. Processo de ensino-aprendizagem: compreender como as pessoas aprendem, por exemplo, quais as diferenças na forma de aprendizagem de crianças de sete anos e de uma pessoa idosa? Como ensinar uma criança e um adulto a ler? Diferentes contextos educacionais: as formas como os conteúdos são apresentados em uma escola formal é diferente das maneiras como as aprendizagens são abordadas no ambiente familiar. Quando, durante o lanche da família, uma mãe solicita ao filho que divida o bolo em partes iguais para os irmãos, é diferente de quando a professora, na prova, coloca uma questão de “quanto é 1 dividido por 4?”. Importância da relação entre professor e estudante para o processo de ensino e aprendizagem: Pesquisas, como a de Veras e Ferreira (2010), apontam que a relação estabelecida entre educadoras e alunos, mesmo no ensino superior, é determinante para “uma experiência de aprendizagem favorável” (p. 219). Especificidades da profissão docente: como a formação, o adoecimento, a superação de desafios e a criação de diferentes estratégias para aaprendizagem. Um exemplo disso são as pesquisas que buscam conhecer como os professores se adaptaram, adaptaram os conteúdos, os métodos e as aulas durante o ensino remoto decorrente da COVID-19. No próximo item, último dessa unidade, serão discutidas questões pertinentes à Psicologia da Educação que vem sendo desenvolvida no Brasil. 1.3 A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL A Psicologia da Educação que vem sendo construída no Brasil tem trazido contribuições importantes acerca do contexto escolar. Por exemplo, em 2015, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) publicou uma pesquisa sobre preconceito e 13 violência na escola, em que apresenta o resultado de um levantamento documental, pesquisa bibliográfica e de campo, sendo essa última realizada por meio de oficinas que ocorreram nas cinco regiões do país (CFP, 2015). Ao estudar sobre a escola, é imprescindível considerar o seu cotidiano, repleto de desafios - como preconceito e violência- e de desigualdades- não apenas entre instituições públicas e privadas, mas, também, se forem comparadas as escolas particulares entre si e as públicas entre si. Essas desigualdades de acesso e de qualidade da educação vêm sendo constantemente denunciadas pela Psicologia, tanto pelo CFP como pela Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPPE). É muito importante que o conhecimento das teorias da Psicologia da Educação seja aliado ao conhecimento do contexto em que essa educação ocorre, bem como dos estudantes que dela fazem parte. Não é possível promover o processo de ensino e aprendizagem descontextualizado, há de se considerar as condições da escola e das pessoas (equipe pedagógica, pessoal de apoio, estudantes), principalmente, as condições materiais. Foram escolhidas duas personalidades que trouxeram muitas contribuições para a Psicologia da Educação brasileira, duas mulheres, uma pioneira e outra contemporânea desse campo do saber: Helena Antipoff e Maria Helena Souza Patto. Helena Antipoff 14 Figura 1: Fotografia de Antipoff Fonte: Fundação Helena Antipoff (2020) Nasceu em 1892, na Rússia e formou-se psicóloga, na Suíça. Em 1929, foi convidada pelo governo de Minas Gerais para participar da Reforma Educacional Francisco Campos Mário Casassanta. (CAMPOS, 2000). Suas pesquisas e práticas objetivaram conhecer e atuar sobre o desenvolvimento das crianças, especialmente aquelas com alguma deficiência, bem como contribuir para a formação de professores mais capacitados. Antipoff demostrava interesse e preocupação com a democratização da educação e com a exclusão social. Já na década de 1930, denunciou a situação das crianças que permaneciam nas ruas da capital mineira, comparando esse contexto à realidade vivenciada pelas crianças europeias, durante a Primeira Grande Guerra Mundial. (CAMPOS, 2003). Entre seus vários projetos, destacam-se dois: a Sociedade Pestalozzi e a Fazenda do Rosário. Antipoff foi uma das organizadoras da Sociedade Pestalozzi, instituída em 1932, que buscou promover a assistência às crianças excepcionais, além de formar professores que as educavam. (CAMPOS, 2003). Ainda de acordo com Campos (2003), a Fazenda do Rosário, instalada em 1940, em Ibirité/Minas Gerais, foi uma extensão da Sociedade Pestalozzi e teve como objetivo a (re) educação de crianças abandonadas ou “excepcionais”. Na década seguinte, participou do movimento de criação da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE). Antipoff faleceu, em 1974, no Brasil. 15 Como contribuições de Antipoff que influenciam a educação brasileira até os dias atuais, sobressaem-se: A inteligência não é resultado apenas da predisposição genética e da idade da criança, mas também é influenciada por fatores do ambiente, ou seja, ela propôs uma “análise psicossocial da cognição.” (CAMPOS, 2010, p. 26). Tanto a inteligência quanto a personalidade do aluno são produzidas em sua relação com o meio em que está inserido, social e cultural. (CAMPOS, 2010). A necessidade de que os educadores conheçam os estudantes. (CAMPOS, 2010). A relevância concedida à formação continuada dos professores. A importância de que as pesquisas sobre os processos psicológicos que ocorrem durante o ensino-aprendizagem sejam testadas no cotidiano escolar. (CAMPOS, 2010). A defesa de que a educação pode auxiliar no processo de adaptação das crianças consideradas “excepcionais”, principalmente as escolas que tenham contato com a natureza. Outro ponto é a necessidade de respeito, carinho e garantia da dignidade desses estudantes. (ANTIPOFF, 1944) E, para finalizar esse tópico sobre Helena Antipoff, segue o trecho de um de seus textos: A arte de ensinar, ou melhor, a arte de educar é a mais delicada no mundo. Não basta, como em outras artes, vestir de forma a ideia, escolhendo à vontade a matéria-prima. Aqui o artista não tem escolha: recebe quantos meninos nasceram no município. A grande arte consistirá em adaptar a sua ideia ao feitio particular do educando, e no universo psicológico da criança fazer ressoar o seu próprio universo. Explícita ou implicitamente, deve haver entre os dois, entendimentos. Senão, na melhor das hipóteses, os feitos educativos serão transitórios, não passando de um verniz muito superficial; na pior, criará rebeldia e revoltas. 16 Maria Helena Souza Patto Figura 2: Fotografia Patto Fonte: Disponível em https://bit.ly/39oJhjW. Acesso em: 20 jun. 2021. Autora de uma das principais obras brasileira de Psicologia Educacional “A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia”, publicado pela primeira vez em 1990, Patto, ao realizar uma pesquisa em um escola municipal de São Paulo, mostra as dificuldades da escolarização das camadas populares: o preconceito social, racial e linguístico, as acusações sofridas pelas famílias que eram consideradas culpadas pelo insucesso dos filhos na escola e os obstáculos enfrentados pelas professoras. Ao longo do livro, Patto apresenta quatro histórias de (re) provação escolar, que foram acompanhadas durante a realização de sua pesquisa. A primeira delas, a de Ângela, filha mais velha de migrantes pernambucanos, desde nova vivenciou a sobrecarga do trabalho doméstico. Repetente no 1º ano do ensino fundamental, ela foi apresentada pela equipe pedagógica como imatura, com deficiência mental e paranoica, já seus pais, foram retratados como desinteressados no desenvolvimento 17 e na escolarização da filha. De acordo com a coordenação escolar, ela, assim como todos os outros “repetentes” não possuíam “condições pessoais de aprendizagem de um mínimo que justifique sua promoção.” (PATTO, 2008, p. 358). Para a mãe de Ângela, a filha “não tem amor na escola” (PATTO, 2008, p. 360), ela relatou que a professora disse que “não entra nada na cabeça dela” (PATTO, 2008, p.360). Ao analisar a relação da criança com a escola, Patto afirma: “Ângela defrontou-se com o preconceito, a discriminação, o estigma e um ensino de má qualidade, o que inegavelmente a leva a evitar a escola e a aprendizagem escolar e a dar a impressão de que ‘não tem amor na escola.” (PATTO, 2008, p. 362) Com seu livro, Patto demonstrou uma situação que ainda hoje é vivenciada: o fracasso escolar é explicado por problemas genéticos, algo que a criança já nasce ou por problemas econômicos e familiares, a família não tem boas condições sociais e/ou não valoriza a escola. Era a vivência prática daquilo que foi postulado pela teoria da carência cultural: as dificuldades escolares dos estudantes das camadas populares são reflexos da sua privação cultural, ou seja, o meio em que essas crianças vivem não é adequado nem estimulante o suficiente para que elas aprendam. Em todas essas justificativas descritas anteriormente, a escola se isenta da sua responsabilidade no processo de ensino-aprendizagem, o estudante não aprende por motivos externos à instituição escolar e, com isso, ela não pode melhorar a educação que oferece. 18 FIXANDO O CONTEÚDO 1. (ENADE/Adaptada)A Psicologia se reconhece e é socialmente identificada como um campo multifacetado e dividido em várias áreas de atuação. Tais áreas configuram temáticas, problemas, conhecimentos, tecnologias, modos de pensar e de atuar sobre as demandas oriundas de diferentes segmentos e contextos sociais. Bastos, A. V. B. et al. As mudanças no exercício profissional da psicologia no Brasil: o que se alterou nas últimas décadas e o que vislumbramos a partir de agora? In: Bastos, A. V. B., & Gondim, S. M. G. (Orgs.) (2010). O trabalho do psicólogo no Brasil: um exame à luz das categorias da psicologia organizacional e do trabalho. Porto Alegre: Artmed.) Considerando esse contexto, avalie as afirmações a seguir e a relação proposta entre elas. I. O estudo da Psicologia é exclusivo para as psicólogas. PORQUE II. Apenas as psicólogas conseguem compreender a complexidade dos fenômenos psicológicos. A respeito dessas afirmativas, assinale a opção correta. a) As afirmações I e II são verdadeiras, e a II é uma justificativa da I. b) As proposições I e II são verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I. c) A afirmação I é verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d) A proposição I falsa, e a II é verdadeira. e) As afirmações I e II são falsas. 2. (ENADE/Adaptada) As teorias em Psicologia constituíram-se de diversas raízes filosóficas e epistemológicas, que deram origem a sistemas complexos de conceitos, histórica e culturalmente determinados. Tais sistemas conceituais, por sua vez, possibilitaram a emergência de abordagens, escolas, teorias e práticas diferenciadas de Psicologia. Essa situação configura um campo de dispersão da Psicologia, que se formou com a utilização de diversas perspectivas epistemológicas, metodológicas e conceituais. A manifestação desse processo ocorreu por meio da produção de diferentes teorias e sistemas que marcaram a 19 primeira metade do século XX. BARRETO, C. L. B. T.; MORATO, H. T. R A dispersão do pensamento psicológico. Boletim de Psicologia, São Paulo, v. 58, n. 129, dez. 2008. Considerando os fundamentos epistemológicos da Psicologia, é correto apenas o que se afirma em a) Existem poucas abordagens na Psicologia. b) Existe uma abordagem psicológica: a Psicanálise. c) Existem três abordagens na Psicologia, reconhecidas como “As três grandes forças”. d) Apesar de serem reconhecidas três principais abordagens, existem diversas outras. e) A abordagem psicológica mais famosa é a sistêmica. 3. Em 06 de agosto de 2020, foi publicado o seguinte comunicado: Celebramos hoje os 91 anos da chegada do/a educador/a e psicólogo/a russo/a _____________________ à Minas Gerais com o objetivo de ajudar na reforma do ensino e deixou um legado importantíssimo para educação brasileira. O relato acima refere-se a: a) Helena Antipoff. b) Maria Helena Souza Patto. c) Francisco Campos Mário Casassanta. d) Lev Vigotski. e) Alexei Leontiev. 4. (COMPERVE - 2018 – UFRN/ Adaptada) Desde o surgimento da psicologia escolar e educacional, o fenômeno denominado de fracasso escolar constituiu-se como objeto de estudo privilegiado dessa área. Nesse contexto, Maria Helena Souza Patto, pesquisadora com estudos consagrados na área, analisa que para compreender a gênese dessa problemática, é necessário considerar: a) A precariedade das condições sociais de crianças e adolescentes que, devido às privações sofridas, são incapazes de aprender. 20 b) A influência da teoria da carência cultural, que marcou o início das práticas psicológicas na educação no Brasil. c) O contexto familiar que desvaloriza os saberes escolares e desacredita na educação formal como meio de ascensão social. d) O aspecto hereditário, uma vez que todos os transtornos de aprendizagem têm causas genéticas e congênitas. e) O rendimento escolar é resultado direto das capacidades psicológicas naturais de cada um. 5. Analise a tirinha abaixo: O quadrinho acima trata sobre a discussão se já nascemos com o nosso destino traçado. Nesse sentido, é importante considerar a subjetividade, que é um conceito de estrema relevância para a Psicologia, e pode ser melhor compreendida como: a) A essência com a qual o sujeito nasce. b) Aquilo que a pessoa é. c) Algo totalmente individual. d) Algo exclusivamente interno, aquilo que ocorre dentro do sujeito. e) A forma como o sujeito é, de acordo com suas determinações sociais e materiais. 6. Por suas contribuições para a educação e sua sensibilidade, Carlos Drummond de Andrade escreveu um poema para homenagear Helena Antipoff, intitulado “A casa de Helena”. Essa psicóloga foi uma das responsáveis pela criação: a) Fazenda do Rosário, Sociedade Pestallozi, Associação de Pais e Amigos dos 21 Excepcionais (APAE). b) Fazenda do Rosário, apenas. c) Sociedade Pestallozi e Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), apenas. d) Fazenda do Rosário e Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), apenas. e) Sociedade Pestallozi, apenas. 7. De acordo com Coll (2004, p. 19) “A existência da psicologia da educação como uma área de conhecimento e de saberes teóricos e práticos claramente identificável, relacionado com outros ramos e outras especialidades da psicologia e das ciências da educação, mas ao mesmo tempo distintos delas, tem sua origem na crença racional e na convicção profunda de que a educação e o ensino podem melhorar sensivelmente com a utilização adequada de conhecimentos psicológicos.” É possível afirmar que uma das principais tendências atuais na concepção da Psicologia da educação é: a) Compreender a Psicologia como a disciplina “mestra” nos estudos da educação. b) Conceber a Psicologia da educação como uma disciplina ponte. c) Considerar a pedagogia como a disciplina “rainha” nas pesquisas educacionais. d) Defender que a Psicologia deve compreender a supremacia da didática no campo educacional. e) Defender que os conhecimentos sobre os fenômenos psicológicos são restritos às psicólogas, mesmo quando ocorridos no contexto educacional. 8. Leia o trecho abaixo, retirado da música “Estudo Errado”, escrita por Gabriel, O Pensador: “Encarem as crianças com mais seriedade Pois na escola é onde formamos nossa personalidade Vocês tratam a educação como um negócio onde a ganância a exploração e a indiferença são sócios Quem devia lucrar só é prejudicado Assim cês vão criar uma geração de revoltados 22 Tá tudo errado e eu já tou de saco cheio Agora me dá minha bola e deixa eu ir embora pro recreio...” O autor relata uma situação ocorrida no ambiente escolar. Diante das reflexões realizadas até o momento, a educação pode ser compreendida como: a) Processo de aprendizagem que ocorre exclusivamente na escola. b) Formação intelectual das crianças. c) Preparação moral de crianças e adolescentes. d) Construção do conhecimento que pode ocorrer em diversos ambientes. e) Criação que os pais dão aos filhos, exclusivamente. 23 24 INTRODUÇÃO ÀS DIFERENTES CONCEPÇÕES DE DESENVOLVIMENTO 2.1 DESENVOLVIMENTO HUMANO: INTRODUÇÃO Desenvolvimento humano pode ser progredir, regredir ou manter determinada característica/habilidade física, cognitiva ou psicossocial (PAPALIA, OLDS, FELDMAN, 2009). Assim sendo, nesta unidade serão trabalhadas questões acerca das mudanças e permanências das pessoas ao longo dos anos. No dicionário Aurélio, desenvolvimento está descrito como: 1) Fazer crescer, prosperar. 2) Gerar, produzir. 3) Crescer, aumentar, progredir. É importante atentar-se ao fato de que, por esse significado, o desenvolvimento é entendido sempre como crescimento, todavia, como será discutido a seguir, essa concepção não pode ser utilizada nas pesquisas sobre o desenvolvimento humano. De acordo com Papalia, Olds e Feldman (2009), o estudo do desenvolvimento humano é o conhecimento científico de como as pessoas se transformam, além daqueles atributos que continuam moderavelmente estáveis durante a vida do indivíduo. As pesquisas mais atuais em desenvolvimento humano concordam em trêspontos que são (quase) consenso: o desenvolvimento ocorre ao longo de todo o ciclo vital, desenvolver significa mudar e também manter e, por último, o desenvolvimento é resultado da interação entre os fatores ambientais e genéticos. Como esses pontos são muito importantes, elas serão discutidas detalhadamente. UNIDADE 02 25 1) Desenvolvimento ao longo do ciclo vital Isso significa afirmar que as pessoas se desenvolvem até o último dia de sua vida, mesmo se falecerem aos 100 anos ou mais. Durante o início dos estudos do desenvolvimento humano, acreditava-se que os sujeitos só se desenvolviam no começo da vida, principalmente durante a infância. Para se ter uma noção, segundo Papalia, Olds e Feldman (2009), a adolescência passou a ser estudada pela Psicologia no início do século XIX e a velhice apenas nas décadas de 1920/30. O estudo de cada uma das etapas do desenvolvimento trouxe efeitos para o cotidiano e a educação, em específico. Saber como ocorre o desenvolvimento cognitivo auxilia no planejamento das aulas, que deve ser diferente se os estudantes estão no ensino fundamental, médio ou na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Conceber o desenvolvimento como um processo que ocorre durante toda a vida do sujeito é considerar que: O passado influencia o presente e o futuro, ou seja, as experiências que a pessoa vivenciou vão intervir no seu futuro. Por exemplo, estudos de Alves et al (2005) apontam a relação entre a inatividade física na adolescência e o sedentarismo adulto. Isso não significa que necessariamente um adulto que não exerceu atividades físicas durante a adolescência será sedentário, mas há uma probabilidade de que ele o seja. O futuro também pode influenciar o presente. Se um adulto objetiva ser aprovado em um concurso público, por exemplo, ele pode criar estratégias para alcançar o seu objetivo, como estudar por quatro horas diariamente, reduzir o tempo que gasta nas redes sociais para se dedicar à preparação para a prova. É importante destacar que as teorias psicológicas têm ideias diferentes de quanto/como o passado, o presente e o futuro interferem um no outro, mas, de uma forma geral, acreditam nessa mútua influência. Por exemplo, a Psicanálise tem o foco nos eventos passados, especialmente a primeira infância. Já a abordagem de Vigotski, que será estudada na unidade 4 dessa obra, concede grande relevância ao que estar por vir, à potencialidade do aprendizado. 2) Desenvolver: transformar e manter 26 Esse é um ponto polêmico dentro das pesquisas sobre o desenvolvimento humano, algumas abordagens defendem que há certa estabilidade ao longo da vida, como algumas pesquisas que utilizam o Modelo dos traços, já outras partem do pressuposto de que desenvolver significa basicamente modificar (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2009). Alguns aspectos que se mantém razoavelmente estáveis ao longo do desenvolvimento de uma pessoa: tipo sanguíneo, pigmentação dos olhos. De acordo com Papalia, Olds e Feldman (2009), existem estudos que demonstram que alguns traços da personalidade e do comportamento humano têm certa constância. Já outras características, como a estatura, o peso e a capacidade cognitiva alteram-se ao longo do ciclo vital. Pesquisas recentes apontam que até mesmo o Ácido Desoxirribonucleico (DNA) pode-se alterar durante a vida da pessoa, diferentemente do que se achava há até pouco tempo (MARASCIULO, 2020). Dessa forma, constata-se que ao longo da vida, algumas características serão mantidas, outras irão se transformar. Apesar de não haver um consenso de quais são os aspectos estáveis e quais são os mais modificáveis. 3) Natureza e/ou contexto social Dentre os aspectos aqui abordados, provavelmente esse é o mais controverso: quanto do desenvolvimento humano é determinado pela natureza e quanto é resultado da influência do contexto social do qual o sujeito faz parte? As abordagens iniciais do estudo do desenvolvimento humano, como o inatismo, que será estudado na próxima unidade, defendiam que esse é resultado exclusivo da hereditariedade: as pessoas se desenvolveriam de acordo com os seus aspectos biológicos, independentemente do meio em que estão inseridas. Assim sendo, desde o nascimento, já existiria a essência, a semente de como esse sujeito iria se desenvolver (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2009). Um acontecimento importante para compreender a relação entre a discussão sobre a afirmação de que as pessoas são resultado unicamente dos aspectos biológicos foi o aparecimento do menino Victor, em 1800, no sul da França. 27 Figura 3: Ilustração Victor de Aveyron Fonte: Disponível em https://bit.ly/2XMJAmq. Acesso em: 15 jun. 2021. De acordo com Pereira e Galuch (2012) essa é uma história verídica, que serviu como inspiração para o filme “Garoto selvagem”, na qual um menino foi encontrado sozinho em um bosque: ele vivia como um animal, não sabia se comunicar, andar, nem se comportar como um ser humano. Victor foi levado a diversas instituições e, em determinado momento, ficou aos cuidados do famoso médico Philipe Pinel, que acreditava que o garoto tinha sido abandonado por sua família por ter demência, o que justificaria o fato de não andar, falar etc. Além disso, o especialista acreditava que ele não seria capaz de aprender essas habilidades. Outro médico responsável pelo tratamento de Victor foi Jean Marc Gaspard Itard que, diferentemente de seu professor Pinel, acreditava na possibilidade de educar o menino, pois defendia que o desenvolvimento poderia ser potencializado por meio do contato social (PEREIRA; GALUCH, 2012). Apesar de algumas limitações, com a educação dada por Itard, Victor teve progressos em seu desenvolvimento, aprendeu a ler, escrever e a obedecer a regras (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2009). Se, por um lado, Pinel defendia o desenvolvimento como resultado exclusivo de fatores biológicos, por outro, Itard acreditava no poder do meio como importante aspecto no seu desenrolar. Nos dias de hoje, compreendemos que Pinel acreditava nas ideias inatistas, já Itard, inseria-se em uma concepção interacionista do 28 desenvolvimento, conforme será estudado nas duas próximas unidades. Atualmente, a maior parte das pesquisas defende uma relação entre as dimensões biológicas e sociais como determinantes do desenvolvimento humano. Teóricos como Piaget, Vigotski e Wallon, que serão estudados na Unidade IV, defendem a importância de fatores biológicos e sociais para o desenvolvimento humano. Os estudos sobre o desenvolvimento humano são interdisciplinares, ou seja, diversos campos do saber trazem contribuições e se beneficiam das suas descobertas, como a educação, a medicina, a terapia ocupacional, o serviço social. Além disso, há uma interação entre as ciências que sobre ele se debruçam. Por exemplo, uma pesquisa que objetiva compreender o impacto da pandemia COVID- 19 no desenvolvimento adolescente pode contar com a presença de educadoras, psicólogas, médicos, nutricionistas, terapeutas ocupacionais, sociólogos, dentre outros especialistas. O objetivo dessa investigação científica seria conhecer o seu objeto – o impacto da pandemia COVID-19 no desenvolvimento adolescente- através de diferentes saberes, com a colaboração de várias ciências e, consequentemente, auxiliando-as em suas práticas profissionais. De acordo com Papalia, Olds e Feldman (2009), os estudos sobre o desenvolvimento humano objetivam: Descrever: quando ocorrem determinados comportamentos, por exemplo: qual a idade geralmente as crianças conseguem controlar os esfíncteres. Explicar: como ocorrem determinados comportamentos, por exemplo: o que é necessário para que as crianças controlem seus esfíncteres. Prever: comportamentos posteriores, por exemplo, se a criança já consegue identificar quando está com vontade de urinar, provavelmente ela irá conseguir controlar os esfíncteres. Modificar: comportamentos considerados inadequados, por exemplo, se a criança tem nove anos e ainda não conseguecontrolar os esfíncteres, ela deve ser avaliada por uma especialista e passar por um tratamento para que consiga fazê-lo, pois os estudos sobre o desenvolvimento infantil mostraram que nessa idade a criança já deve ser capaz de controlar os esfíncteres. É possível relacionar os quatro grandes objetivos do estudo do desenvolvimento ao processo educativo. Em uma escola infantil, se todas as crianças 29 do Maternal 3 conseguem se comunicar, quando uma criança não o faz, a coordenação pode solicitar que a família a leve para uma avaliação. Considere que ela foi avaliada por um fonoaudiólogo e foi constatado algum problema de audição (explicação). O fato de a criança ter dificuldades para se comunicação pode prejudicar o seu desenvolvimento cognitivo e afetivo (possibilidade de prever), o que sugere que ela seja avaliada e, se necessário faça acompanhamento com o profissional indicado (para modificar). Domínios do desenvolvimento O desenvolvimento humano pode ser dividido em três dimensões: física, cognitiva e psicossocial. É importante destacar que esses domínios estão interligados e um interfere no outro (PAPALIA, OLDS, FELDMAN, 2009). Exemplos de desenvolvimento: Físico: aumento da estatura, amadurecimento dos órgãos sexuais, o branqueamento dos cabelos. Cognitivo: aumento e diminuição da concentração, compreensão de conceitos abstratos, capacidade de planejamento. Psicossocial: desenvolvimento da capacidade de cooperar com outras pessoas, do sentimento de solidariedade, e da sabedoria. Para ilustrar a afirmação de que cada uma dessas dimensões interfere na outra, considere uma adolescente que teve a menarca (primeira menstruação), com isso, ela se interessou em estudar sobre a reprodução humana e, ao mesmo tempo, sua família a orientou sobre a possibilidade de gravidez na adolescência. Em se tratando do ambiente escolar, pode-se ilustrar com a situação de um estudante, de estatura baixa, que quer chamar a atenção das meninas de sua sala. Por ser baixo, ele percebeu que teria dificuldades em entrar para o time de basquete, assim sendo, ele resolveu estudar bastante, para se sobressair durante as aulas e ser o foco da atenção das colegas. Por sua complexidade, a escola influencia e é influenciado pelas três dimensões do desenvolvimento humano. Por exemplo, as aulas de Educação Física, contribuem no aumento da força física. As aulas de História, possibilitam o conhecimento de outros momentos históricos e a convivência com colegas, pode auxiliar no desenvolvimento do sentimento de solidariedade. Uma criança obesa que 30 é sempre deixada no banco reserva na hora do jogo de vôlei, como consequência, poderá ficar isolada e não terá mais interesse em ir para a escola. Já a estudante que tem facilidade com cálculos, será solicitada a explicar a matéria para os colegas, isso fará com que ela se sinta motivada a estudar cada vez mais, além de valorizada por sua capacidade cognitiva. As mudanças no desenvolvimento humano podem ser divididas em qualitativas e quantitativas. Como os próprios termos indicam, as qualitativas referem- se à qualidade e as quantitativas, à quantidade (BEE; BOYD, 2011). Para que possa ficar mais compreensível, pense em uma criança pré verbal, ou seja, que ainda não fala, mas que emite alguns sons, como os balbucios. Quando ela passa a ter a capacidade de usar a linguagem verbal, por exemplo, fala “mama” (para expressar mamãe) ou “quê” (para demonstrar o verbo querer), ocorreu o desenvolvimento qualitativo, de pré verbal a criança passou a ser verbal (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2009). Já quando a família registra o número de palavras que essa criança fala, ela acompanha o seu desenvolvimento verbal quantitativo. Outro exemplo seria uma criança que entrou na escola pela primeira vez e tinha apenas três amigos, vizinhos do prédio em que mora. No final do ano letivo, ele fez 20 amigos, nesse caso, observa-se uma mudança quantitativa. Ao se comparar a amizade entre crianças menores, que apenas brincam juntas e adolescentes, que têm grupos para estudar, grupos para ir para balada, grupos para praticar esporte, constata-se mudanças qualitativas (BEE; BOYD, 2011). Influências no desenvolvimento humano Conforme explicitado anteriormente, a tendência atual dos estudos sobre o desenvolvimento humano é concebê-lo como multicausal, não apenas como puramente biológico ou exclusivamente social. 31 Dentre os fatores determinantes do desenvolvimento humano, destacam-se: hereditariedade, família, condições socioeconômicas, cultura, raça-etnia e contexto histórico. Abaixo serão apresentadas pesquisas que comprovam a influência de cada um desses aspectos do desenvolvimento humano: Hereditariedade: Segundo Marques-Lopes et al. (2004), há a estimativa de que a obesidade tenha entre 40% a 70% de caráter hereditário. Em um país gordofóbico, no qual comumente alunos obesos sofrem preconceito na escola, é importante que os professores e toda a comunidade escolar saibam que muitas vezes a obesidade é resultado de fatores que não são de responsabilidade do aluno e/ou sua família. Família: Para Silva et al. (2008) a família apresenta fatores de risco e de proteção que impactam o desenvolvimento infantil. Um exemplo dado pelas referidas autoras é quanto à escolarização: nas famílias que se envolvem mais na educação escolar de seus filhos, bem como naquelas cujos pais têm maior escolarização, a tendência é que os estudantes obtenham maior sucesso escolar. Condições socioeconômicas: A situação socioeconômica é um importante determinante para a saúde do idoso (CONFORTIN et al., 2017): ter uma casa segura, alimentação apropriada para a idade, acesso a medicamentos e acompanhamento médicos de qualidade fazem com que a pessoa consiga se desenvolver de maneira adequada e saudável. Essa situação pode inclusive favorecer a sua capacidade/vontade de voltar a estudar. Cultura: O comportamento alimentar é um dos principais determinantes do desenvolvimento infantil. De acordo com Rossi, Moreira e Rauen (2008), a cultura exerce forte influência na alimentação das crianças: disponibilidade e acesso a determinados alimentos, bem como a estrutura das refeições podem ser apontados como fatores culturais que interferem na alimentação. Com essa informação, principalmente as professoras da educação infantil e do ensino fundamental saberão da sua responsabilidade sob o comportamento alimentar e poderão abordar questões sobre esse tema em suas aulas. Raça-cor: Em um estudo que objetivou conhecer a prevalência dos principais fatores de risco e proteção em escolares, segundo as diferenças de raça-cor, baseando-se na Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE/2012), Malta et al (2017) constataram que: 1) Adolescentes brancos: frequentam escolas 32 privadas, suas mães são mais escolarizadas, experimentam mais bebida alcoólica. 2) Estudantes pretos, pardos e indígenas: consomem mais feijão e frutas. 3) Adolescentes indígenas: praticam mais atividades físicas e relataram ser mais vítima de violência física. 4) Estudantes amarelos e pretos: informaram sofrer mais bullying. Por meio dessa pesquisa, constata-se que o pertencimento racial e de cor é um importante determinante do desenvolvimento de várias maneiras, desde o tipo de escola frequentada e da alimentação, até às atividades físicas realizadas, ao tipo de violência sofrida. Contexto histórico: É importante que o sujeito seja concebido como um ser inserido em uma história, sendo determinado por ela e, ao mesmo tempo, determinando-a. Isso significa compreender a historicidade das pessoas. Nascer e viver em um determinado momento histórico tem as suas especificidades: durante a colonização dos portugueses, as guerras mundiais, a ditadura civil-militar ou a pandemia do Coronavírus 19. Nesse último caso, Costa et al. (2021) fizeram uma pesquisa para conhecer as consequências da pandemia do coronavírus para os adolescentes: mudanças nas formas de convivência;os lugares ocupados; as mídias; os riscos e as preocupações, todos esses aspectos acarretam consequências para o seu desenvolvimento. Destacam-se: a impossibilidade de separação dos pais e de convivência física com seus grupos de pares, o fechamento de serviços, como escola (COSTA et al., 2021). De acordo com Papalia, Olds e Feldman (2009), as influências no desenvolvimento humano podem ser normativas e não normativas. As normativas são aqueles eventos que ocorrem de maneira muito parecida entre as pessoas. Podem ser histórico-contextuais, como no caso da pandemia do coronavírus, ou etários, de acordo com a faixa etária, por exemplo, o período em que ocorre a menarca. Já as influências não normativas são aquelas situações inesperadas para aquele momento do desenvolvimento humano, como o casamento na infância, a viuvez no início da vida adulta. No contexto educacional, pode-se ilustrar como influência normativa a passagem da escola para o ensino superior, na juventude. Já um exemplo de evento não normativo é a interrupção dos estudos durante a alfabetização de uma criança que precisa trabalhar. 33 O desenvolvimento humano é dividido em períodos, de uma forma geral, no cotidiano, referimo-nos à infância, à adolescência, à juventude, à vida adulta e à velhice. No entanto, para o estudo do desenvolvimento, esses períodos são mais específicos, de forma a possibilitar o maior conhecimento sobre cada um deles, por exemplo, o que ocorre com a cognição de um bebê que acabou de nascer? Quais são as características físicas esperadas de uma senhora de 80 anos? Abaixo está reproduzida a proposta de Papalia, Olds, Feldman (2009) de divisão dos períodos do desenvolvimento humano de acordo com a faixa etária. É importante ressaltar que essa divisão, apesar de se basear no critério etário, leva em consideração também aspectos culturais. Por exemplo, para determinadas culturas, como as etnias indígenas Tembé e Kaxuyana, a adolescência não existe, da infância, passa-se para a vida adulta (TRAVASSOS, CECCARELLI, 2017), para outras, como a brasileira, considerando o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), a adolescência acaba aos 18 anos. Quadro 1: Faixa etária e período do desenvolvimento Faixa etária Período Da concepção ao nascimento Pré-natal Do nascimento aos três anos Primeira infância Dos três aos seis anos Segunda infância Dos seis aos 11 anos Terceira infância Dos 11 aos 20 anos Adolescência Dos 20 aos 40 anos Início da vida adulta Dos 40 aos 65 anos Vida adulta intermediária Dos 65 anos em diante Vida adulta tardia Fonte: Papalia, Olds, Feldman (2009, p. 12-13) 34 É imprescindível que futuros professores tenham conhecimento científico sobre o desenvolvimento humano considerando, inclusive, que o processo educativo pode ocorrer com estudantes em diferentes faixas etárias, desde a mais tenra idade, até os idosos, conforme explicitado anteriormente. O estudo sobre o desenvolvimento humano pode auxiliar os professores a saber como lidar com os estudantes, o que esperar de cada um deles, o que eles já devem saber, bem como o que podem aprender. Esse entendimento será indispensável no momento da construção das atividades pedagógicas. Por exemplo, para Jean Piaget, (como será estudo na unidade IV) é por volta dos 12 anos que os adolescentes conseguem ter uma compreensão dos conceitos abstratos, assim sendo, nesse período, as tarefas escolares devem explorar essa habilidade. Além do conteúdo pedagógico a ser desenvolvido, outro aspecto que o estudo do desenvolvimento pode contribuir para a prática da professora é como abordar tais conteúdos, qual a metodologia a ser utilizada? De acordo com Henri Wallon (que também será abordado na unidade 4), geralmente, por volta dos três anos, a criança passa por uma fase de oposição, em que quer vivenciar a sua independência. Os professores podem aproveitar esse momento e estimular que as crianças explorem o ambiente da escola, busquem aquilo que as interessa, por exemplo. Com essa unidade, foi possível constatar que o estudo do desenvolvimento descreve, em cada um dos períodos, o tipo de desenvolvimento esperado, por exemplo, para os professores de adolescentes, quais os tipos de desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial espera-se que ocorram, além disso, quais as influências desse desenvolvimento? Com essas informações, a educadora estará mais apta para escolher o conteúdo e o método mais adequados para planejar e executar as suas aulas. 35 A partir das próximas duas unidades, será abordado o estudo sobre as correntes epistemológicas do desenvolvimento humano, ou seja, como as diferentes abordagens/teorias acreditam que ocorre esse desenvolvimento, quais são as suas determinações, como cada uma acredita que ocorre o processo de ensino e aprendizagem. Serão abordados: o inatismo, o ambientalismo, a abordagem comportamental e as teorias interacionistas. 36 FIXANDO O CONTEÚDO 1. (Quadrix - 2018 - CFP - Especialista em Psicologia – Psicopedagogia/Adaptada) Toda prática educativa traz em si uma teoria do conhecimento. Itard, médico francês nascido em 1975, foi um dos primeiros a trabalhar com dificuldades de aprendizagem, propondo um tratamento para o menino Victor de Aveyron, que ficou conhecido como “menino selvagem”. Nessa ocasião, ainda não se acreditava, por forças do capitalismo, que pacientes com algum tipo de atraso pudessem aprender, sendo esse caso um marco na construção da visão atual em relação ao ser que não aprende. Considerando o contexto apresentado e o atual, assinale a alternativa correta. a) Atualmente não existem mais práticas que tendem a segregar alunos que aprendem de alunos que não aprendem. b) Os estudos do desenvolvimento humanos são exclusivos dos médicos, assim sendo, apenas eles podem opinar sobre o que está sendo solicitado na questão. c) Ao professor cabe lecionar sua disciplina, independentemente do desenvolvimento de seus alunos. d) O professor, sozinho, não tem base teórica para conhecer os seus alunos, pois ele não estuda sobre o desenvolvimento humano. e) É de extrema relevância ampliar as discussões em torno da temática do desenvolvimento humano e buscar a contextualização histórica, além de teorias e pesquisas científicas para fomentar novas posturas. 2. Uma professora de Ensino Fundamental é convidada a assumir uma turma de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Apesar de estar muito sobrecarregada, ela aceita a oferta, afinal, já possui todo o material das aulas preparado. Considerando os estudos sobre o desenvolvimento humano, marque a alternativa abaixo que melhor analisa o pensamento dessa professora: a) Ela está correta, afinal, independentemente da idade do estudante, o conteúdo 37 deve ser ministrado da mesma forma para todos. b) Ela está errada, pois deve considerar a etapa de vida dos alunos para planejar a aula. c) Ela está correta, uma vez que todas as turmas são iguais, independentemente não apenas do pertencimento etário, mas também sociocultural. d) Ela está errada, pois, independentemente de seus esforços, os idosos não têm capacidade de se desenvolverem. e) Os estudos do desenvolvimento não trazem contribuições para a educação escolar. 3. Diversas pesquisas têm buscado conhecer as consequências da pandemia para o desenvolvimento humano, desde os recém-nascidos, até os idosos. Compreendendo que o desenvolvimento humano sofre influências normativas e não normativas (Papalia, Olds e Feldman, 2009), complete a frase a seguir com a alternativa que melhor a completa: A pandemia do coronavírus é um evento ___________ do desenvolvimento humano, pois ____________________________. a) Normativo/ afetou todas as pessoas do mundo. b) Não normativo/ atingiu os sujeitos de maneira diferente. c) Normativo etário/ afetou as pessoas da mesma idade de forma idêntica. d) Não normativo/ atingiu todas as pessoas que viveram nesse contexto histórico. e) Normativo histórico/ afetou todas as pessoas que viveram nessecontexto histórico. 4. A escola é um dos principais contextos em que os estudantes se desenvolvem. Analise as afirmativas abaixo, que relacionam o desenvolvimento e a escolarização, e marque a alternativa correta: I. Na escola deve ser priorizado o desenvolvimento cognitivo, pois esse é o mais importante. II. O desenvolvimento psicossocial deve ocorrer exclusivamente no seio familiar. 38 III. Um desenvolvimento interfere no outro. a) Todas estão corretas. b) Todas estão erradas. c) I e II estão corretas e III está errada. d) I está errada e II e III estão corretas. e) I e II estão erradas e III está correta. 5. (IBADE- Psicóloga) De acordo com Papalia, Olds e Feldman (2006), o desenvolvimento humano é composto por três aspectos que estão interligados durante toda a vida, e cada um influencia os outros. São eles, respectivamente: a) Biológico, cognitivo e social. b) Físico, mental e psicológico. c) Biológico, cognitivo e psicossocial. d) Físico, cognitivo e psicossocial. e) Biológico, mental e psicológico. 6. Maria, uma aluna com dificuldades de interação com outros adolescentes, é convidada pela professora de Química para participar do grupo de estudos sobre balanceamento de equações. A mãe da estudante, no dia seguinte, se dirige à escola e reclama com a direção que a educadora quer que a filha estude mais, apesar de saber que seu problema é fazer amigos e não compreender a matéria. A genitora: a) Não conhece os estudos do desenvolvimento humano, pois não sabe que o desenvolvimento cognitivo pode influenciar o desenvolvimento psicossocial, assim, Maria, ao ajudar os colegas, pode fazer amigos. Ou seja, a estratégia da professora foi proposital, para ajudar Maria. b) Conhece os estudos do desenvolvimento humano e sabe que o desenvolvimento psicossocial é o mais relevante de todos, independentemente da situação e do contexto. c) Não conhece os estudos do desenvolvimento humano, pois não sabe que o desenvolvimento cognitivo é o mais importante de todos. Ou seja, Maria não tem problema sério. 39 d) Conhece os estudos do desenvolvimento humano e sabe que um tipo de desenvolvimento não interfere no outro. Ou seja, a escola deveria ter criado uma estratégia puramente psicossocial para auxiliar Maria em sua dificuldade para fazer amigos. e) Não conhece os estudos do desenvolvimento humano, pois não sabe que se a pessoa tem dificuldade em um tipo de desenvolvimento, necessariamente o terá em todos. Ou seja, se Maria tem problemas para fazer amigos (desenvolvimento psicossocial), ela terá dificuldades para compreender a matéria (desenvolvimento cognitivo). 7. Analise as asserções abaixo marque a alternativa correta: I. Os estudos do desenvolvimento humano são multidisciplinares. II. Podem ser beneficiados por diferentes campos do saber, assim como podem beneficiar diferentes práticas profissionais. a) Ambas as afirmativas são falsas. b) Ambas as afirmativas são verdadeiras e não há correlação entre elas. c) A afirmativa I é falsa e a II é verdadeira. d) A afirmativa I é verdadeira e a II é falsa. e) Ambas as afirmativas são verdadeiras e há relação entre elas. 8. Considerando os tipos de desenvolvimento humano, complete o quadro a seguir e marque a alternativa correta: Tipo de desenvolvimento Conceito Exemplo 1) Relacionado às habilidades mentais Capacidade de abstração Físico Relativo ao corpo 2) Psicossocial 3) Emoções a) 1) Cognitivo; 2) Peso; 3) Referente a si e aos outros. b) 1) Mental; 2) Beleza; 3) Relacionado à inteligência. c) 1) Cognitivo; 2) Inteligência emocional; 3) Referente a si e aos outros. d) 1) Interpessoal; 2) Hipotireoidismo; 3) Referente à capacidade de comunicação. 40 e) 1) Intrapessoal; 2) Peso; 3) Relacionado à inteligência. 41 CORRENTES EPISTEMOLÓGICAS: INATISMO, AMBIENTALISMO E A PSICOLOGIA COMPORTAMENTAL Nessa unidade, serão apresentadas três formas de conceber o desenvolvimento humano: o inatismo, o ambientalismo e a Psicologia Comportamental. No final de cada uma delas, são apresentadas suas ideias sobre o papel da educação no desenvolvimento. 3.1 INATISMO Inato é aquilo que nasce com o sujeito, independentemente da sua experiência e do contexto em que está inserido (DICIONÁRIO AULETE, 2021). Assim sendo, a corrente epistemológica do inatismo defende que a pessoa vai se desenvolver exclusivamente de acordo com os aspectos biológicos herdados, independentemente do meio em que está inserida (ALMEIDA, 2015). Dessa forma, os acontecimentos que ocorrem após o nascimento têm pouca importância para a definição da personalidade, dos valores, das condutas e da aprendizagem do sujeito (DAVIS; OLIVEIRA, 1994). Alguns ditados populares, como “quem herda, não furta”, “filho de peixe, peixinho é” e “pau que nasce torto, nunca se endireita”, são expressões muito comuns no cotidiano e partem dos pressupostos do inatismo: as pessoas são aquilo que herdam e não vão se modificar, independentemente das experiências que tiverem. De acordo com Davis e Oliveira (1994), o inatismo foi influenciado por ideias religiosas (cada pessoa é a imagem e semelhança de Deus e nasce com seu destino determinado), por concepções equivocadas da teoria evolucionista de Darwin (ao conceder ínfima importância aos fatores ambientais) e pelos primeiros estudos de embriologia (que erroneamente desconsideravam a influência do ambiente externo no desenvolvimento embrionário). Para o inatismo, a aprendizagem ocorrerá de acordo com o desenvolvimento de cada sujeito, que será determinado unicamente por sua herança genética. Dessa UNIDADE 03 42 forma, o papel da professora é passivo e restrito: a ele cabe esperar o momento em que o estudante está pronto para determinada aprendizagem, sua função é principalmente auxiliar o aluno a organizar a predisposição com a qual nasceu (ALMEIDA, 2015). Dessa forma, acredita-se que a professora interfere minimamente no desenvolvimento (DAVIS; OLIVEIRA, 1994). Para o inatismo, os estudantes provenientes de famílias com histórico de dificuldades de aprendizagem e/ou problemas no desenvolvimento irão, necessariamente, apresentar sérias limitações na sua escolarização (ALMEIDA, 2015) e nada poderá alterar esse destino que foi genética e previamente traçado, a professora pode tentar usar diferentes metodologias, conteúdos, mas não terá sucesso. Um dos grandes nomes a defender essas ideias foi Francis Galton (1822-1911), para ele, a inteligência era herdada. Em 1869, ele publicou o livro “A genialidade herdada” em que, por meio da história familiar, analisou homens muito inteligentes. Galton é reconhecido como um dos pais da eugenia, ciência que tinha como objetivo “aperfeiçoar” a espécie humana através do controle do cruzamento entre indivíduos pré-determinados (PATTO, 2008). Até hoje, as ideias de Galton impactam a sociedade de uma forma geral e, especificamente, a educação escolar. O pré-conceito de que as pessoas negras são menos inteligentes, de que os europeus são superiores, essas definições são estabelecidas sem se conhecer aquele determinado sujeito, apenas por ele pertencer a determinado grupo racial, espera-se que ele tenha certa capacidade (ou não), pois a herdou geneticamente. No Brasil, é possível pensar nas diferenças de padrões sociais construídos acerca das pessoas afrodescendentes e descendentes de europeus, por exemplo, conforme analisado no capítulo I dessa obra, no item sobre as pesquisas de Patto (2008). 3.2 AMBIENTALISMO 43 Oposta ao inatismo, o ambientalismo defende que o comportamento é resultado exclusivo da experiência que o indivíduo vivencia, independentemente da sua genética. Essa concepção foi baseada no empirismo (ALMEIDA, 2015). O fundador do empirismo foi o filósofo inglês John Locke (1632-1704). Ele rejeitava a concepção de que os sujeitos já nasciam com ideias, para ele, os seres humanos eram como uma lousa em branco, que era preenchida através das experiências que tinha ao longo da sua vida, por meio delas, os indivíduosconstruiriam o seu conhecimento. SCHULTZ; SCHULTZ, 2016). Para o ambientalismo, os sujeitos vão se desenvolver de acordo com o meio em que estão inseridos e as experiências que viverão nele, isso lhes concede uma capacidade de plasticidade muito grande (DAVIS; OLIVEIRA, 1994). De acordo com o dicionário Aulete, a plasticidade pode ser compreendida como a qualidade do que pode ser moldado, ao consideramos a plasticidade das pessoas, isso significa que elas irão mudar de acordo com o que vivenciarem (estímulos, condições ambientais, dentre outros aspectos). Diferentemente da teoria inatista, a ambientalista concede destaque à professora, pois é responsabilidade sua conduzir o processo de aprendizagem (seja no seu planejamento, sua execução e sua organização) (DAVIS; OLIVEIRA, 1994). Para Davis e Oliveira (1994), o principal questionamento do ambientalismo é a passividade do sujeito, ele será determinado pelo ambiente. Especificamente no contexto escolar, essas autoras criticam o diretismo exacerbado da professora, que não abre margem para a espontaneidade dos estudantes. Ainda de acordo com elas, o ambientalismo não valoriza, por exemplo, as aprendizagens advindas das situações de convívio entre as crianças, aquelas em que não há intervenção da professora (DAVIS; OLIVEIRA, 1994). 44 3.3 ABORDAGEM COMPORTAMENTAL E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO: DE WATSON A SKINNER Algumas estudiosas, como Davis e Oliveira (1994) e Alencar (2015), consideram que a abordagem Comportamental se encontra inserida na corrente Ambientalista, dada a relevância que esta concede ao ambiente como determinante para o comportamento humano. Todavia, como nessa obra apresentamos o Ambientalismo reducionista, que negligencia os fatores biológicos e genéticos, consideramos que a abordagem Comportamental não se insere nessa corrente epistemológica, pois, apesar da grande importância que confere ao ambiente, ela não nega a influência genética e ambiental. Além disso, dada a sua importância para a Psicologia e suas contribuições para a educação, optou-se por apresentá-la em um item separadamente. Conhecida como Psicologia Comportamental, Comportamentalismo, Psicologia Experimental, Análise Experimental do Comportamento ou Behaviorismo (do inglês behavior- comportamento), essa importante teoria tem como foco, como o próprio nome sugere, o comportamento humano (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 2008). De acordo com o dicionário Aulete (versão online) comportamento é a maneira de se comportar, de viver, de agir e reagir; o modo de agir, em geral, em relação aos fatores ambientais; o conjunto de reações e atitudes do indivíduo diante do meio social, em sua interação com as situações, a reação de algo em determinadas circunstâncias ou a forma pela qual um organismo, ou parte dele, funciona ou reage aos estímulos. Na Psicologia: “Comportamento é entendido como interação entre indivíduo e ambiente [...]. O ser humano começa a ser estudado a partir de sua interação com o ambiente, sendo tomado como produto e produtor dessa interação” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008, p. 59). De acordo com a abordagem Comportamental, as pessoas têm padrões de comportamento, por exemplo, ser tímido ou agitado, que são apresentados em diferentes contextos e com certa regularidade. Além do comportamento, um outro ponto muito discutido pela Comportamental é a aprendizagem que, nessa abordagem, pode ser compreendida como “qualquer mudança duradoura na maneira como os organismos respondem ao ambiente” (Goulart, Delage, Rico, Bríno, 2012, p. 21). Para entender de que forma ocorre a aprendizagem, faz-se necessário esclarecer alguns 45 conceitos, que serão discutidos a seguir. A Comportamental divide o comportamento em dois tipos: Respondente ou reflexo, que ocorre de maneira involuntária (GOULART, DELAGE, RICO, BRÍNO, 2012). Por exemplo, quando a professora fecha os olhos no momento em que a luz do aparelho data show reflete diretamente sobre o seu rosto, ou seja, o estímulo luz eliciou (provocou) a resposta fechar os olhos. Operante, que ocorre de maneira voluntária, é aprendido e vai ocorrer para que seja obtida alguma resposta almejada (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). Por exemplo, o aluno que tem o comportamento de estudar para conseguir uma boa nota. No exemplo acima tem-se um outro conceito essencial, o de reforçador, a nota foi o reforçador para que o aluno estudasse. O reforço altera a possibilidade de ocorrência de um determinado comportamento: os reforços positivos aumentam essa chance (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008) e os negativos retiram um estímulo considerado aversivo (JUNIOR; SOUZA; DIAS, 2005) Em sala de aula, pode-se considerar que todas as crianças querem ser o ajudante do dia e irão se comportar de maneira adequada para ocuparem tal cargo, assim sendo, querer ser ajudante do dia é um reforçador positivo, é a resposta que as crianças querem obter e irão se comportar para consegui-la. Já na situação de uma professora que começa a gritar sempre que os estudantes mantêm muitas conversas paralelas, trata-se de um reforçador negativo, os alunos irão deixar de conversar durante as aulas para que a educadora não grite (estímulo aversivo). Outros conceitos importantes para o entendimento da Comportamental no ambiente escolar são: Esquiva e fuga: a esquiva é a tentativa que algo indesejado não ocorra, já a fuga, como o próprio termo indica, é a tentativa de cessação de um estímulo aversivo quando ele já foi iniciado. (JUNIOR; SOUZA; DIAS, 2005; BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). Por exemplo, o aluno que não vai à escola (esquiva) ou sai durante a aula (fuga) para não ser vítima de bullying (estímulo aversivo). Punição: estratégia usada para reduzir a ocorrência de um dado comportamento (JUNIOR; SOUZA; DIAS, 2005), pode ocorrer através do uso de um estímulo considerado aversivo ou da retirada de um reforçador positivo. (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). Por exemplo, quando uma aluna que 46 costumava ser participativa deixa de participar da aula depois que considerou que a professora foi injusta na correção de sua avaliação, ela está punindo a educadora. Discriminação de estímulos: quando uma resposta é dada diante de um estímulo x, mas não no estímulo z (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). Por exemplo, quando a criança ouve o barulho da sirene escolar e entende que acabou o horário do recreio, ou seja, ela reconhece que o som do toque de saída da aula é diferente do término do recreio. Generalização de estímulos: ocorre quando as respostas dadas a diferentes estímulos são semelhantes, pois os estímulos são compreendidos como semelhantes (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). Para ilustrar, considere um estudante que se formou no ensino médio e, ao ingressar na faculdade, age da mesma maneira como o fazia na escola, como pedir permissão à professora para ir ao banheiro. Outra situação, é a criança que recém ingressou na escola e chama a professora de mãe. Para finalizar o tópico inicial da Comportamental, a seguir serão apresentados três importantes teóricos dessa abordagem: Pavlov, Watson e Skinner. Ivan Pavlov (1849/ 1936), cientista russo, que ao realizar um experimento com um cachorro, constatou o processo de condicionamento, que pode ser compreendido como uma alteração na forma que um ser vivo responde a um estímulo, sob influência do meio (JUNIOR; SOUZA; DIAS, 2005). Abaixo está descrita a experiência de Pavlov (CARRARA, 2004): 1) Antes do condicionamento: O cão via o alimento → ele salivava (o alimento é um estímulo incondicionado- que causa uma resposta reflexa, ou seja, o sujeito não consegue controlar, não é aprendida) O cão ouvia o som do sino → nada ocorria (o sino era um estímulo neutro) 2) Durante condicionamento: Pavlov tocava o som do sino ao mesmo tempo em que oferecia o alimento ao cão → o animal salivava (o estímulo neutro foi oferecido junto ao estímulo incondicionado, ocorreu o que os Behavioristas chamam depareamento de estímulos) 47 3) Depois do condicionamento: Ao ouvir o som do sino, mesmo sem a presença do alimento → o cachorro salivava (ocorreu o condicionamento) Esse é conhecido como condicionamento pavloviano, clássico ou respondente (pois é baseado nos reflexos) e é a maneira mais simples de aprendizagem (ALENCAR, 2007). Abaixo encontra-se um quadrinho que pode auxiliar na compreensão do experimento de Pavlov: Figura 4: Ilustração da experiência de Pavlov com cães Fonte: Disponível em https://bit.ly/3CAeHRg. Acesso em: 20 jun. 2021. O primeiro nome reconhecido como um psicólogo comportamental é John Watson (1878/1958), pesquisador estadunidense que defendeu que a Psicologia é o estudo do que é observável e mensurável, que seus objetivos são a predição e o controle do comportamento, o oposto do que era comum na época: a Psicologia como o estudo da consciência e o uso do método introspectivo (CARRARA, 2004) Ele estudou sobre o comportamento animal de uma forma geral e, em 1913, cunhou o termo “Behaviorismo”. 48 Em 1925, Watson deu uma polêmica declaração: “Dê-me uma dúzia de bebês sadios e bem constituídos e eu poderei tomar qualquer um deles ao acaso e treiná- los em qualquer especialidade que eu selecione”, continuou o pesquisador: “tornando-o um médico, advogado, artista, comerciante e mesmo pedidor de esmola ou ladrão- independentemente de seus talentos, tendências, habilidades, vocação e raça de seus ancestrais.” (ALENCAR, 2007, p. 43). Com essa frase, ele afirmou que o ambiente é o único determinante do comportamento humano, independentemente dos fatores hereditários. Por fim, o também psicólogo estadunidense, Burrhus Skinner (1904/1990) propôs, em 1945, o termo Behaviorismo radical (que nega tudo o que escapa ao mundo físico). Um dos focos de interesse de Skinner foi o controle do comportamento humano. Para melhor compreender o comportamento, desenvolveu a “Caixa de Skinner”, aparelho usado em laboratório no qual é mantido um sujeito experimental, geralmente um rato. De acordo com os estímulos ambientais, o pesquisador irá moldar o comportamento do sujeito experimental, seja para manter ou modificá-lo. Para tanto, são usados estímulos sonoros (ruídos), visuais (luzes) e olfativos (odores) (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008), conforme ilustração abaixo: Figura 5: Representação da Caixa de Skinner Fonte: Disponível em https://bit.ly/39odDTJ. Acesso em: 20 jun. 2021. Diferentemente do que é compreendido por muitas pessoas que conhecem pouco a Comportamental, essa abordagem não acredita na passividade dos sujeitos, nem na postura ativa exclusivamente: eles são determinados pelo meio, da mesma forma como são determinantes nesse meio (CARRARA, 2004). 49 Abordagem Comportamental e a educação Uma das principais orientações do Behaviorismo para a educação é a definição clara de quais comportamentos se espera do estudante, ou seja, que a professora dê instruções adequadas e compreensíveis (CARRARA, 2004). Para tanto, a professora deve colocar em seu plano de aula quais os comportamentos específicos esperados não apenas dele, mas também da turma para a qual leciona (PEREIRA, MARINOTTI, LUNA, 2004). A professora deve evitar que o estudante cometa erros desnecessários (pois isso pode fazer com ele se sinta frustrado, o que pode levar à desmotivação na aprendizagem), deve também reforçar sempre o comportamento desejado do aluno, evitando a punição (CARRARA, 2004). De acordo com Pereira, Marinotti e Luna (2004), as consequências aversivas, como castigos, podem ter como efeitos: a fuga ou a esquiva (como o aluno que falta a aula com medo da punição da professora), a produção de reações emocionais negativas (como o estudante que fica agressivo diante do castigo estipulado pela educadora) e, apesar de retrair o comportamento punido, não há aprendizagem, ou seja, o aluno pode parar de atrapalhar a aula, por exemplo, para que a professora não o coloque de castigo, mas ele não aprendeu que não deve perturbar a aula, quais os motivos e consequências desse seu comportamento. É benéfico para o processo de aprendizagem quando a professora inicia uma atividade auxiliando o aluno o máximo possível e estabelecendo metas mais baixas e, com o passar do tempo, a professora deve diminuir a sua ajuda e aumentar a 50 exigência (CARRARA, 2004). Com o apoio do docente e as suas pequenas conquistas, o estudante vai se sentir cada vez mais capaz e, consequentemente, motivado para continuar a aprender. É importante que a professora tenha em mente que o propósito da educação é a aprendizagem do sujeito e que, para que essa finalidade seja alcançada, a educadora deve considerar o estágio em que se encontra cada estudante e não estabelecer um “padrão de aluno típico das camadas médias” (PEREIRA, MARINOTTI, LUNA, 2004, p. 15). 51 FIXANDO O CONTEÚDO 1. (IBFC - MGS – Pedagogia/ Adaptada) O desenvolvimento humano se dá como um processo de apropriação da experiência histórico-social pelo/a homem/mulher e essa visão é resultado da evolução de várias teorias, entre elas, a teoria inatista que considera importante somente os fatores genéticos e biológicos, ou seja, aquilo que é hereditário, inato. Por isso, o nome inatismo, que compreende características e dons que se traz quando nasce. Nesse sentido, assinale a alternativa correta a seguir: a) Para os inatistas, as pessoas desenvolvem suas características básicas de acordo com o ensino na sala de aula. b) Para os inatistas, cada ser humano já traz consigo características básicas, definidas desde o nascimento. c) Para os inatistas, as características inatas ao ser humanos não podem ser desenvolvidas fora da escola. d) Para os inatistas, as características básicas não fazem parte do ser humano. e) Para os inatistas, as características básicas do ser humano são resultado da interação entre ambiente e fatores hereditários. 2. (Site preparatório para concursos/Adaptada) A Psicologia possui diferentes concepções acerca do desenvolvimento humano. A concepção inatista e a concepção ambientalista apontam para diferentes influências no desenvolvimento de habilidades cognitivas. Considerando essas teorias, analise as afirmativas abaixo e marque a resposta correta. a) O inatismo e o ambientalismo explicam que o desenvolvimento de habilidades é determinado pela hereditariedade. b) A teoria inatista explica que o desenvolvimento de habilidades é hereditário. c) O inatismo e o ambientalismo explicam que o desenvolvimento de habilidades é determinado pelo meio. d) A teoria ambientalista explica que o desenvolvimento de habilidades é hereditário. e) O inatismo e o ambientalismo explicam que o desenvolvimento de habilidades é determinado pela interação entre o meio e a hereditariedade. 52 3. (VUNESP- Pedagogo) Sobre as características da concepção ambientalista do desenvolvimento humano, assinale a alternativa correta. a) O ser humano é concebido como um ser extremamente plástico, que desenvolve suas características em função das condições presentes no meio em que se encontra. b) A experiência sensorial é fonte de conhecimento, pois o desenvolvimento humano está relacionado com as capacidades inatas. c) A maturação biológica é tão importante quanto o papel do ambiente no desenvolvimento do ser humano e de suas capacidades. d) A concepção ambientalista defende que o desenvolvimento humano está relacionado com o ambiente em consonância com os fatores inatos. e) A aprendizagem é considerada exclusivamente como resultado dos fatores biológicos que modificam o comportamento humano. 4. (Vunesp/Adaptada) Com relação às principais características da concepção inatista do desenvolvimento humano é correto afirmar que: a) O ambiente interfere no processo de desenvolvimento espontâneo do ser humano. Assim, a educação e, portanto, a escola, possuem papéis fundamentais no processo de desenvolvimento, ou seja, na personalidade, nos valores, nos hábitos e crenças, na conduta social, nas
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