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Suemi Hamada Morais Silva Fernanda Borges de Andrade Dantas Glaucia Eli da Silva Glaucia Signorelli de Queiroz Gonçalves Iolanda Rodrigues Nunes Maria Cecília Daher Mônica Corrêa Avelar Puertas Zafra Vânia Maria de Oliveira Vieira Criança e desenvolvimento, volume 1 Gestão educacional Catalogação elaborada pelo Setor de Referência da Biblioteca Central Uniube C867 Criança e desenvolvimento, volume 1 ; Gestão educacional / Suemi Hamada Morais Silva ... [et al.]. – Uberaba : Universidade de Uberaba, 2017. 316 p. : il. Programa de Educação a Distância – Universidade de Uberaba. Inclui bibliografia. ISBN 1. Crianças – Desenvolvimento. 2. Psicologia infantil. I. Silva, Suemi Hamada Morais. II. Universidade de Uberaba. Programa de Educação a Distância. CDD 305.231 © 2017 by Universidade de Uberaba Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Universidade de Uberaba. Universidade de Uberaba Reitor Marcelo Palmério Pró-Reitor de Educação a Distância Fernando César Marra e Silva Coordenação de Graduação a Distância Sílvia Denise dos Santos Bisinotto Editoração e Arte Produção de Materiais Didáticos-Uniube Projeto da capa Agência Experimental Portfólio Edição Universidade de Uberaba Av. Nenê Sabino, 1801 – Bairro Universitário Sobre as autoras Fernanda Borges de Andrade Dantas Mestra pela Universidade de Uberaba, na linha de pesquisa de Formação e Prática Docentes, Especialista em Didática e Metodologia do Ensino, graduada em Pedagogia pela Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras (1983) e Administração Escolar de 1º e 2º Graus pela Faculdade de Educação “Anto- nio Augusto Reis Neves” (1991). Professora dos Fundamentos da Supervisão Escolar e Estágio Curricular Supervisionado, no Curso de Pedagogia, de Didá- tica, no curso de Educação Física, e de Estrutura e Funcionamento do Ensino, nos cursos de Educação Física, Artes Visuais e Ciências Biológicas. Principais temas: ensino, educação, escola cidadã, formação continuada e autonomia do professor. Glaucia Eli da Silva Pós -graduada em Psicopedagogia Institucional. Graduada em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ituverava. Professora das discipli- nas de Docência Universitária e Metodologia do Trabalho Científico do Curso de Pós -Graduação em Gestão de Agronegócio da Universidade de Uberaba. Coordenadora do Curso de Pós -Graduação em Psicopedagogia: Atendimento Educacional Especializado da Universiade de Uberaba. Glaucia Signorelli de Queiroz Gonçalves Mestra em Educação – Formação de Professores pela Uniube – Universidade de Uberaba (2003). Especialista em Psicopedagogia pelo Instituto Superior de Ensino e Pesquisa de Ituiutaba (1996) e Alfabetização pela UFU – Universidade IV UNIUBE Federal de Uberlândia (1999), graduação em Pedagogia pelo Instituto Superior de Ensino e Pesquisa de Ituiutaba (1983), habilitada em Orientação Educacional pelo Instituto Superior de Ensino e Pesquisa de Ituiutaba (1986), em Supervisão Escolar pelo Instituto Superior de Ensino e Pesquisa de Ituiutaba (1986). Iolanda Rodrigues Nunes Mestra em Fundamentos da Educação pela Universidade Federal de São Carlos, com ênfase em Gestão Escolar. Mestra em Ciências e Valores Huma- nos e Graduada em Letras e Pedagogia. Gestora do curso de licenciatura em Letras nas modalidades presencial e a distância, professora nos cursos de licenciaturas e Pedagogia e nos cursos de Especialização de Formação de Educadores l, Educação a Distância e Formação do Educador. Maria Cecília Daher Graduada em Psicologia pela Universidade de Uberaba. Atuou na Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Trabalho da Prefeitura Municipal de Sacramento de 1999 a 2008. Atuou como professora convidada do Curso de Pedagogia a distância da Universidade de Uberaba, em 2008. Mônica Corrêa Avelar Puertas Zafra Graduada em Pedagogia pela Universidade de Uberaba. Especialista em Psi- copedagogia Institucional pela Universidade Federal de Uberlândia; em Meto- dologia do Ensino Superior e em Supervisão Pedagógica pela Faculdade do Noroeste de Minas. Suemi Hamada Morais Silva Graduada em Psicologia pela Universidade de Uberaba. Especialista em Psico- logia Educacional/Escolar; em Pedagogia Clínica -Unaerp; em Ciências e Valores Humanos pela Uniube. Professora da Universidade de Uberaba do Curso de Psicologia, do Curso de Medicina e do Curso de Pedagogia. UNIUBE V Vânia Maria de Oliveira Vieira Doutora em Psicologia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Mestra em Educação e Formação de Educadores pela Uni- versidade de Uberaba. Graduada em Pedagogia, Licenciatura Plena pela Fa- culdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ituverava, e em Psicologia pela Universidade de Uberaba. Sumário Apresentação ................................................................................................. XI Parte I Criança e desenvolvimento, volume 1...................................................1 Capítulo 1 O desenvolvimento infantil em seus diferentes aspectos ...............3 1.1 A criança e sua relação com o mundo ..........................................................................4 1.2 O desenvolvimento humano .........................................................................................9 1.3 A hereditariedade.........................................................................................................12 1.4 Meio .............................................................................................................................15 1.5 Maturação e aprendizagem .........................................................................................18 1.6 As fases do desenvolvimento infantil sob a visão de alguns teóricos .........................23 1.7 O crescimento .............................................................................................................26 1.7.1 As direções do desenvolvimento físico -motor ....................................................27 1.7.2 As diferentes velocidades do desenvolvimento .................................................28 1.8 O desenvolvimento global da criança: a escola e o professor ....................................31 1.8.1 O desenvolvimento global da criança ..............................................................35 1.9 Conclusão....................................................................................................................39 Capítulo 2 Teoria psicossexual de Freud e a educação .................................45 2.1 Iniciando nossa conversa ............................................................................................46 2.2 Mas quem foi Freud?...................................................................................................48 2.3 Teoria psicossexual de Sigmund Freud – Fases do desenvolvimento ........................56 2.4 Em que a psicanálise contribui com a educação? ......................................................68 2.5 Conclusão....................................................................................................................70 Capítulo 3 Visões comportamentalistas da aprendizagem ............................73 3.1 Comportamento: o objeto de estudo da teoria comportamentalista da aprendizagem .........................................................................................................74 3.2 A pesquisa de Watson .................................................................................................78 3.3 As contribuições de Pavlov – o condicionamento clássico .........................................803.4 A teoria de Skinner – o comportamento operante .......................................................84 3.5 A teoria comportamentalista e suas implicações para a educação .............................90 3.6 Conclusão..................................................................................................................101 VIII UNIUBE Capítulo 4 Contribuições da teoria humanista de Carl Rogers para a educação .........................................................................107 4.1 Apresentando a abordagem humanista.....................................................................108 4.2 Características da abordagem humanista .................................................................114 4.3 Abordagem humanista de Carl Ranson Rogers ........................................................120 4.4 Dos conceitos da psicoterapia para a aprendizagem ...............................................124 4.5 Princípios da psicoterapia centrada no cliente para os princípios da aprendizagem centrada no aluno ........................................................126 4.6 Conclusão..................................................................................................................136 Parte II Gestão educacional ..........................................................................143 Capítulo 5 A gestão educacional em uma perspectiva histórica e suas implicações na identidade do educador -gestor atual ..................145 5.1 A gestão democrática e seus desafios através dos tempos .....................................147 5.2 Teorias da administração ...........................................................................................159 5.3 Um breve panorama histórico da educação em diferentes tempos e espaços .........164 5.4 Direção estratégica da escola ...................................................................................180 Capítulo 6 O educador -gestor: a teoria refletida em sua prática ..................201 6.1 Conceitos fundamentais ............................................................................................203 6.1.1 Escola x empresa .............................................................................................206 6.2 Processos e procedimentos ......................................................................................214 6.3 Características necessárias a um gestor ou a uma gestora educacional .................220 6.4 Planejamento institucional .........................................................................................221 6.5 Avaliação institucional ...............................................................................................232 6.6 Como fazer uma reunião ...........................................................................................237 6.6.1 Como preparar uma reunião ............................................................................237 6.6.2 Objetivos de uma reunião .................................................................................238 Capítulo 7 Aspectos conceituais da organização escolar ............................243 7.1 Conceituando organização administração, gestão e participação ...........................248 7.1.1 As organizações em foco: compreendendo o papel das organizações ...........250 7.1.2 A organização escolar: constituição da cultura organizacional ........................253 7.2 Concepções sociocríticas de gestão escolar e seus desdobramentos .....................264 7.3 Um novo paradigma: a participação na gestão da escola .......................................271 7.3.1 Como o gestor deve proceder para tornar sua gestão um processo participativo e, portanto, democrático? .......................................276 7.3.2 Construindo uma proposta para a gestão participativa ...................................279 7.3.3 A escola e a construção de sua autonomia ......................................................283 7.3.4 Os órgãos colegiados e a gestão escolar ........................................................286 7.3.5 O grêmio estudantil ..........................................................................................291 7.3.6 Associação de Pais e Mestres ..........................................................................295 7.3.7 As instituições coparticipantes da gestão da escolar .......................................296 7.4 Conclusão..................................................................................................................300 Apresentação Vamos iniciar a Parte I deste livro com a Unidade Temática “Criança e desen- volvimento”, com o capítulo “O Desenvolvimento infantil em seus diferentes aspectos”. Nesse capítulo, você compreenderá como se processa o desenvolvi- mento global da criança, bem como essa criança contribui ativamente com sua própria evolução. Você estudará também como se dá, na criança, a passagem de estados menos desenvolvidos de conhecimento para os mais desenvolvidos e o papel do educador nesse processo, a fim de contribuir efetivamente para o desenvolvimento infantil. No capítulo “Teoria psicossexual de Freud e a educação”, apresentaremos a primeira teoria sobre a estrutura do aparelho psíquico. Por meio dessa teoria, Freud procurou compreender a estrutura e o funcionamento da personalidade, por meio do estudo dos três sistemas ou instâncias psíquicas: o consciente, o pré -consciente e o inconsciente. Em seguida, estudaremos a segunda teoria sobre a estrutura do aparelho psíquico, também denominada psicanálise, na qual Freud propõe como método clínico três técnicas: associação livre, análise ou interpretação dos sonhos e análise dos atos falhos. Veremos também como burlamos a realidade diante de situações desprazerosas ou que nos causam constrangimentos, “deformando a realidade”, utilizando, para tanto, os meca- nismos de defesa. E, por fim, veremos quais as contribuições da psicanálise para a educação. No capítulo “Visões comportamentalistas da aprendizagem”, elucidaremos as ideias centrais da abordagem comportamentalista ou behaviorista e suas implica- ções no campo da educação. Serão destacados aqui o pensamento de Watson, Pavlov e Skinner, com ênfase em conceitos como: condicionamento, estímulo, reforço positivo e negativo, punição, ensino programado e outros. X UNIUBE Finalizando essa parte, o capítulo “Contribuições da Teoria Humanista de Carl Rogers para a educação” vem tratar das reflexões sobre como a teoria huma- nista de Carl Rogers será abordada. Vamos associar os pressupostos teóricos da teoria humanista à prática pedagógica e identificar as contribuições da teoria rogeriana para o processo de ensino e aprendizagem. Fecharemos esse estudo com a análise da importância da visão humanista para a construção das relações interpessoais nos ambientes de aprendizagem. Na Parte II deste livro, iniciamos o estudo da Unidade Temática “Gestão edu- cacional”, com o capítulo “A gestão educacional em uma perspectiva histórica e suas implicações na identidade do educador-gestor atual”. No primeiro mo- mento, vamos identificar e caracterizar historicamente as principais teorias da administração geral e seus reflexos na administração escolar. Em seguida, será feita uma análise da função administrativa na unidade escolar. Nesse mesmo capítulo, você deverá distinguir a escola como núcleo da gestão democrática e suas funções na contemporaneidade com suas tensões, contradições e em- bates ideológicos. E, ainda, encontrará uma discussão sobre o entendimento crítico das funções do educador-gestor em prol das relações pedagógicas em detrimento às burocráticas. O dia a dia de um gestor ou de uma gestora dentro da escola envolve várias atividades, mas, no capítulo “O educador -gestor: a teoria refletida em sua prá- tica”, trataremos, com mais ênfase, do planejamento e da avaliação institucional. Você estudará a prática do(a) gestor(a) dentro da escola de educação básica ecomo a concepção teórica influencia em sua prática. Ao final deste livro, no capítulo “Aspectos conceituais da organização escolar”, discutiremos os aspectos conceituais de organização, gestão e participação edu- cacional, de forma a contribuir para a sua reflexão sobre a gestão educacional contemporânea, campo de atuação dos pedagogos. Parte I Criança e desenvolvimento, volume 1 Newton Gonçalves Garcia / Renata de Oliveira Introdução Iniciamos, aqui, parte fundamental da sua formação como professor de língua inglesa: a fonética. Porém, além de se dedicar ao estudo dessa importante faceta da língua, você deve se preparar para ensiná-la ao seu grupo de alunos. Você que já iniciou ou inicia agora seus estudos da língua inglesa certamente já teve dificuldades com a pronúncia desse idioma. Isso é algo esperado de ocorrer já que se trata de um idioma com origens na língua anglo-saxã, portanto, com características distintas de nosso idioma de origem latina. Apesar desse aspecto, por meio do estudo da fonética, é possível con- seguir uma pronúncia inteligível aos falantes nativos e não nativos do idioma, como frisa Underhill (200?, p.92) em: The aim of pronunciation teaching can no longer be to get stu- dents to sound [...] like native speakers, or more like the teacher […]. The primary aim must be to help learners to communicate successfully when they listen or speak in English, often with other non-native speakers. O objetivo do ensino da pronúncia não pode ser mais fazer com que os alunos soem como falantes nativos ou como seu professor. O obje- tivo primário deve ser ajudar os aprendizes a se comunicar com Fonética: a sonoridade da língua inglesa Capítulo 1 O desenvolvimento infantil em seus diferentes aspectos Capítulo 1 Glaucia Eli Silva / Maria Cecília Daher Introdução A partir deste momento, você começará uma trajetória em seus estudos que lhe permitirá compreender como se processa o desenvolvimento global da criança e como essa criança contribui ativamente com sua própria evolução. Você estudará como se dá a passagem de estados menos desenvolvidos de conhecimento para os mais desenvolvidos e o papel do educador nesse processo. Com isso, estes estudos estarão contribuindo para que você, aluno do curso de Pedagogia, possa construir conhecimentos que sejam capazes de contribuir com a construção do seu perfil profissional, no sentido de promover o desenvolvimento infantil e favorecê -lo em todas as ocasiões que se apresentem. Além disso, é importante ressaltar que se espera do pedagogo egresso do curso de Pedagogia da Uniube que seja capaz de agir como mediador dos conhecimentos a serem construídos pela criança, pelo adolescente, pelo jovem e/ou por eles apropriados. Dessa forma é imprescindível que se conheça de fato a criança, que se saiba promover a articulação entre a proposta contida nos Referenciais Curriculares para a educação infantil e para o Ensino Fundamental, com a realidade vivenciada por cada aluno em seus diferentes momentos de desenvolvimento, já que a criança, e por sua vez o aluno, é o nosso objeto de trabalho enquanto pedagogos. 4 UNIUBE Objetivos Após o estudo deste capítulo, esperamos que você seja capaz de: • associar cada fase de desenvolvimento ao processo evolutivo; • descrever as diferentes fases do desenvolvimento humano, es- pecialmente as fases da vida infantil; • distinguir o significado dos termos “maturação”, “crescimento” e “desenvolvimento”; • identificar o papel do educador no desenvolvimento global da criança. Esquema Para que você possa construir os conhecimentos propostos acima, os conteúdos serão apresentados de acordo com a seguinte orga- nização: 1.1 A criança e sua relação com o mundo 1.2 O desenvolvimento humano 1.3 A hereditariedade 1.4 Meio 1.5 Maturação e aprendizagem 1.6 As fases do desenvolvimento infantil sob a visão de alguns teóricos 1.7 O crescimento 1.8 O desenvolvimento global da criança: a escola e o professor 1.9 Conclusão 1.1 A criança e sua relação com o mundo Iniciando a nossa conversa, vamos refletir um pouco: o que um brinquedo re- presenta para uma criança? UNIUBE 5 Pode significar muitas coisas. É importante saber que a criança, ao brincar, estabelece uma relação entre os objetos do mundo que a cerca e o seu uni- verso subjetivo. Com isso, transforma um papel em brinquedo, atribui diferentes sentidos e significados a esses objetos. Isso nos instiga à reflexão em torno de algumas ideias importantes sobre o universo infantil e suas diferentes formas de ver e compreender o mundo ao seu redor. parada para reflexão O sentido que uma criança atribui às ações, às brincadeiras pode ser bem diferente daquele que você atribui a essas mesmas ações ou brincadeiras? Uma criança, mesmo estando na mesma faixa etária de outra, pode dar sentidos e significados diferentes ao mundo que a cerca e isso pode estar relacionado com o seu desenvolvimento, que não pode ser confundido com o seu crescimento. Nesse sentido, importa -nos enfatizar que o crescimento diz respeito ao lado biológico, genético, hereditário do ser humano e que nesse aspecto pouco podemos interferir como educadores. Entretanto, o desenvolvimento envolve várias situações que são resultantes de aprendizagens constituídas por meio de experiências ou estimulações do meio, e, nesse caso, há um campo de pos- sibilidades considerável para a atuação pedagógica. Sendo assim, a partir desta etapa, você começará a fazer uma viagem por di- ferentes abordagens teóricas em busca da compreensão do desenvolvimento infantil. Nesse percurso, verá que o caminho é longo e complexo, afinal estamos em busca do conhecimento sobre os diferentes aspectos que constituem o de- senvolvimento do ser humano. E quando se trata do ser humano, é impossível não se considerar a sua complexidade como bem dizem Coutinho e Moreira (2006, p. 34): A complexidade do homem enquanto objeto de estudo é evi- dente: simultaneamente é um ser biológico e não biológico; possui um cérebro que é um órgão morfológico e um espírito ou uma consciência que é psíquica; possui um pensamento 6 UNIUBE que é racional, empírico e técnico e ao mesmo tempo simbó- lico, mítico e mágico; possui um código genético que estabe- lece possibilidades e limitações, mas interage efetivamente com uma enorme diversidade de meios físico -geográficos e socioculturais. Como se pode perceber, o desafio é grande e ao mesmo tempo convidativo. Compreender a complexidade da natureza humana é exatamente o que nos dá possibilidade de desvendá -la. Sendo assim, é possível afirmar que o estudo do desenvolvimento infantil contri- bui muito para que os educadores possam conhecer a criança, suas conquistas psicológicas e sociais como fatores fundamentais para trabalhar com ela. Ajuda -nos ainda a entender que, para se desenvolver, a criança precisa de es- paço que a ajude a processar as suas mudanças internas e externas. Um espaço relativo ao tempo que dê conta de interiorizar todas as mudanças de natureza psicológica, fisiológica e afetiva que acontecem no universo infantil. Mas também que há a necessidade de inserir nesse espaço de tempo a compreensão sobre a realidade objetiva na qual ela está inserida. Ou seja, quando a criança nasce, ela é totalmente dependente do outro e, com o tempo, as vivências, as suas relações com o meio e as diferentes experiências que vivencia, ela vai conquis- tando sua independência. Vai se transformando por fora e por dentro. Para isso, é importante buscar a reflexão em torno dos aspectos que exercem influência no desenvolvimento humano, tais como: o aspecto ambiental e bioló- gico, o interacional, o psicossocial, o sociocultural e psicossexual. Conhecer esses aspectos e a sua importância para o processo de aprendizagem exige -nos mergulhar nos conhecimentos sobre a psicologia do desenvolvimento; saber um pouco sobre as fases em que se processa esse desenvolvimento; refletir sobre os termos maturação, crescimentoe desenvolvimento; conhecer as diferentes teorias que trataram desse assunto e seus posicionamentos a respeito; e, por fim, entender o papel do educador no desenvolvimento global da criança. UNIUBE 7 parada para reflexão Para compreender melhor tudo isso é importante que você saiba um pouco sobre a origem da psicologia do desenvolvimento, ou psicologia evolutiva, e de que maneira ela contribui para a compreensão do desenvolvimento humano. A esta altura você já deve estar se perguntando por que você, um(a) aluno(a) de graduação em pedagogia, precisa estudar psicologia? Pois bem, se você acha que é importante compreender o desenvolvimento humano e que a psicologia tem contribuições relevantes nesse sentido, acertou!!! Saiba que essa ciência é responsável pelo estudo de todas as transformações psicológicas que acontecem com o ser humano. Vejamos a seguir o que Handam (1988, p. 15) nos diz sobre isso: A psicologia do desenvolvimento estuda o processo de trans- formações psicológicas que acontecem no indivíduo da con- cepção à morte. Estas transformações se manifestam em mudanças no comportamento, na cognição, na afetividade, na personalidade e nas relações interpessoais. O conjunto destas transformações caracteriza diferentes níveis de comportamento e da atividade mental do indivíduo, pois, em cada etapa do seu desenvolvimento, o indivíduo estabelece diferentes padrões de comportamento e de atividade mental. Viu como é fundamental você conhecer essa ciência? Afinal, você professor, precisa conhecer a criança e saber como se processa o de- senvolvimento de sua atividade mental para contribuir com a sua aprendizagem. Na verdade, o homem sempre procurou entender o mundo e a si mesmo. Dessa forma, a psicologia tem sua origem nos conhecimentos filosóficos e caminhou desde o princípio dos tempos junto com outras ciências – inclusive 8 UNIUBE a pedagogia – para buscar essas respostas. Foi a partir do século XX que ela se constituiu como ciência independente. Sendo assim, as diferentes concepções filosóficas que serviram de base para a psicologia acabaram por dar origem às diferentes teorias psicológicas do de- senvolvimento e da aprendizagem. É bom lembrar que os estudos sobre o desenvolvimento psicológico da criança são recentes. Ao voltarmos nossa atenção para a trajetória histórica sobre a criança, veremos que até bem próximo ao século XX a criança era considerada um adulto em miniatura. Importa -nos saber que a partir do século XX a criança começou a ser vista como criança, com suas características próprias. A partir de então, a psicologia do Desenvolvimento passou a preocupar -se em compreender o seu processo de desenvolvimento. Até o século XVII A criança era vista como adulto em miniatura. Aprendia os valores, o trabalho e os jogos dos adultos. Participava da vida noturna dos adultos e era muitas vezes a atração. A criança passa a ser vista como diferente do adulto não apenas fisicamente. Ela passa a ser considerada como não preparada para a vida. Os adultos precisam assumir a criança e cuidar da sua educação moral e religiosa. Iniciaram-se os estudos científicos sobre o comportamento da criança em sua especificidade. A partir do século XVII até o século XX Figura 1: Evolução histórica do conceito de criança. UNIUBE 9 Inicialmente os estudos realizados focavam suas pesquisas no comportamento da criança e o resultado desses estudos era organizado em escalas que pos- sibilitavam sua compreensão. Daí a origem das fases do desenvolvimento humano. Dessa forma, essa ciência chamada psicologia do desenvolvimento vem dedi- cando-se, por meio de pesquisas, a contribuir para a compreensão do desen- volvimento psicológico humano em seus diferentes momentos, ou seja, da sua concepção até a velhice. Para isso ela considera, além de fatores internos, os fatores externos, como: os tempos históricos, as diferentes culturas e o contexto social que o indivíduo está inserido. Contribui, assim, para que possamos en- tender as diferentes possibilidades e limitações apresentadas pela criança em cada faixa etária, chamada por ela de fases ou estágios do desenvolvimento. 1.2 O desenvolvimento humano A partir daqui vamos tentar compreender o significado da expressão desenvol- vimento. Coutinho e Moreira (2006, p. 38) definem o desenvolvimento como “um conjunto de competências manifestas num determinado momento da vida do indivíduo”. Ou seja, as capacidades psicológicas ou mentais demonstradas pelo indivíduo para a realização de diferentes ações durante toda sua existência, caracterizam o seu desenvolvimento. É importante lembrar que esse desenvol- vimento se processa de forma contínua e ininterrupta. A espécie humana, com toda sua complexidade, passa por diferentes transfor- mações ao longo da existência, e essas transformações são divididas em fases, ou como alguns teóricos preferem nominar, por diferentes estágios, que por sua vez acenam para o processo de desenvolvimento psicológico do indivíduo. Essas transformações são determinadas por diferentes agentes, tanto biológicos quanto socioculturais. Isso significa dizer que as mudanças biológicas por si sós não conseguem dar significado ao processo de desenvolvimento psicológico do homem, é preciso considerar também suas características individuais e o meio 10 UNIUBE social em que ele está inserido, ou seja, todos os fatores que de certa forma afetam o indivíduo. Com isso é necessário compreender o desenvolvimento psicológico a partir das transformações de natureza biológica, comportamentais e das relações sociais estabelecidas pelo indivíduo. Para nos ajudar a entender melhor, vejamos. exemplificando! Na relação entre mãe e filho, no momento de amamentação, existe o ato de sugar, que é uma ação biológica própria do ser humano como resposta ao mundo assim que o bebê nasce e está ligada ao seu instinto de sobrevivência. Ou seja, é um ato reflexo que faz parte do impulso de vida do indivíduo. Por outro lado, o ato de amamentar é um ato de doação da mãe ao bebê desejando que ele viva. É um processo de apren- dizagem, de relação para a mãe e para o bebê. A mãe não o faz só por impulso, bem como o bebê também não mama só por uma questão de instinto. Acontece aí uma ação que ultrapassa um momento de maturação biológica representada pela condição aprendida pelo bebê de sugar e pela mãe de amamentar, cria -se um vínculo materno dando origem ao primeiro ato social do ser. Assim como no exemplo, acontecem situações que possibilitam o desenvolvi- mento humano em outros momentos de sua existência, como na adolescência, quando o jovem se junta a um determinado grupo com o qual se identifica e cria o que chamamos atualmente de “sua galera” ou “sua turma”. Isso acontece também na fase adulta e na velhice. Na verdade o que se estabe- lece é uma relação social de pertencimento que contribui para o desenvolvimento psicológico do indivíduo na sua busca por constituir -se como ser individual. É preciso lembrar de fatores influenciadores, como o momento histórico e a cultura em que cada um desses indivíduos está inserido, que são importantes mediadores no processo de desenvolvimento humano. UNIUBE 11 Para elucidar melhor essa questão, vejamos a seguir alguns posicionamentos históricos sobre o processo de desenvolvimento e aprendizagem. Aristóteles (384-322 a.C.). Acreditava que o ser humano nascia com uma predeterminação para o desenvolvimento. Era uma ideia inatista, que concebia o desenvolvimento da inteligência, da capacidade de aprendizagem e de outros comportamentos como algo que já estava determinado no indivíduo ao nascer. Com base nessa concepção foi possível conviver por muitos anos com a ideia de que algumas pessoas eram inferiores e outras superiores, que algumas pessoas possuíam “um dom“ para aprender e outras não. Inclu- sive a capacidade de gerenciar e adquirir autonomia sobre sua condição humana era algo que já nasciacom o indivíduo ou não. Nessa lógica entendia -se que o negro, por exemplo, era alguém que havia nascido com uma determinação para ser inferior ao branco, por isso, era natural que ele se tornasse um escravo a serviço do homem branco que possuía condições de determinar melhor o que ele poderia saber e/ou fazer. Também tem fundamento nessa perspectiva a ideia, que prevaleceu por muito tempo em nossas escolas, de que alguns alunos tinham o dom para aprender e outros, não. Com base nisso, a escola pouco podia contribuir e muitos alunos foram considerados inaptos para frequentá -la, abandonando os estudos e se- guindo o caminho do trabalho, muitas vezes na zona rural. A partir da interferência do judaísmo e do cristianismo, ou seja, em outro mo- mento histórico da humanidade, surgiram as primeiras ideias de que os homens eram todos iguais. Aristóteles Filósofo grego. Aristóteles nasceu em 384 a.C. e morreu em 322 a.C. Seus pensamentos filosóficos e suas ideias sobre a humanidade têm influências significativas na educação e no pensamento ocidental contemporâneo. Aristóteles é considerado o criador do pensamento lógico. Disponível em: <http:// www.suapesquisa. com/biografias/john_ locke.htm>. Acesso em: 2 nov. 2009. 12 UNIUBE John Locke (1632-1704). Foi um filósofo empirista. Apre- sentou a “teoria da tabula rasa”, que consistia na ideia de que os homens nascem como uma página em branco e que a partir das experiências vivenciadas vão se consti- tuindo as suas aprendizagens, os seus conhecimentos. A partir desse ponto, surgiram importantes discussões que possibilitaram a reflexão sobre o desenvolvimento hu- mano. De um lado, existiam aqueles que acreditavam que o comportamento, indicador do desenvolvimento psicoló- gico do indivíduo, era inato, predeterminado. E, de outro, aqueles estudiosos que acreditavam que fatores sociais e de aprendizagens educacionais eram determinantes na construção do desenvolvimento do homem. Foi a partir daí que surgiu uma terceira ideia, a de que era possível por meio de uma dialética entre diferentes aspectos, de forma interativa, a concepção de uma nova abordagem em torno do desenvolvimento do indivíduo. Com isso passou- -se a considerar a importância dos aspectos hereditários, maturacionais e ambientais como fatores que possibilitam a interação do indivíduo com os objetos e, com isso, explicar o seu comportamento. A preocupação em mostrar como interagem o meio ambiente e os fatores liga- dos à hereditariedade, já vem desde o século XX, tomando força no início do século XXI. Vejamos agora a influência de cada um desses aspectos para o desenvolvimento do ser humano. 1.3 A hereditariedade Antes de iniciarmos nossos estudos sobre esse assunto, vamos refletir um pouco: John Locke Foi um importante filósofo inglês. É considerado um dos líderes da doutrina filosófica conhecida como empirismo e um dos ideólogos do liberalismo e do iluminismo. Nasceu em 29 de agosto de 1632 na cidade inglesa de Wrington. Locke faleceu em 28 de outubro de 1704, no condado de Essex (Inglaterra). Disponível em: <http:// www.suapesquisa. com/biografias/john_ locke.htm>. Acesso em: 2 nov. 2009. UNIUBE 13 parada para reflexão 1 – O que você acha da expressão popular “filho de peixe, peixinho é”? 2 – Será que a inteligência é algo que se transmite de pai para filho? 3 – Você acredita que a personalidade de um indivíduo possa ser herdada de seus pais? Registre a resposta em seu Trabalho de Construção da Aprendizagem – TCA. Após pesquisar e responder às questões propostas, você perceberá que o melhor caminho para saber mais sobre as ideias apresentadas e a sua relação com os fatores hereditários é buscar compreender não apenas o conceito de hereditariedade, mas a relação entre esse aspecto e o processo de desen- volvimento e aprendizagem do ser humano. Todas as espécies de seres vivos têm características que as diferem umas das outras, mas também têm características individuais que distinguem um ser vivo de outro dentro de uma mesma espécie, e que são passadas de uma geração a outra. Essas características são chamadas de genéticas e representam o conjunto de qualidades que já nascem com a criança. Por exemplo, a cor dos olhos, a cor da pele, a altura. Esses são aspectos que cada indivíduo recebe como herança genética de seus pais e que chamamos de fatores hereditários. Porém, existem outros fatores que precisam ser considerados, como nossas ca- racterísticas que não são biológicas, nossos valores, nossa inteligência, nossas emoções e atitudes que são diferentes dos nossos pais e antepassados. Para entendermos melhor, vamos pensar nos conhecimentos básicos que temos sobre a biologia. 14 UNIUBE Se o organismo humano inicia seu desenvolvimento no ato da fecundação cabe -nos assim começar desse ponto. Após a fecundação do óvulo pelo esper- matozoide, surge um novo ser que começa a se desenvolver. Nesse processo destacamos a importância dos cromossomos, portadores dos genes, por serem os responsáveis pela transmissão da hereditariedade. Os genes carregam o código genético humano, chamado de genótipo. É aí que entram as características da espécie, ou seja, aquelas que determinam que o homem se movimenta sobre duas pernas, tem um cérebro, dois olhos e que vive por um determinado período de tempo. Além daquelas características individu- ais que citamos acima que dizem respeito à cor de olhos, da pele, lembra -se? Mas, além dessas características, existem aquelas comportamentais apresen- tadas por cada indivíduo e que são determinadas pelo fenótipo. Nesse sentido, o fenótipo do homem é o responsável por transmitir a influência sócio -histórica, além das influências do meio ambiente. O resultado dessa influência é na ver- dade o centro da discussão em torno da afirmativa de que as características psicológicas podem ser transmitidas hereditariamente. Coutinho e Moreira (2006, p. 41) nos afirmam que: Ao que parece, de acordo com as vá- rias pesquisas realizadas, não são as características psicológicas em si que são herdadas, mas um conjunto de pro- gramações para o seu desenvolvimento ou sua construção. Diante disso, é importante destacarmos que muito ainda se precisa avançar nos estudos sobre o genoma humano para que possamos chegar ao final dessa polêmica. Mas a verdade é que todos os estudiosos até então admi- tem que, em parte, existam traços psicológicos passíveis de serem transmitidos. Porém, afirmam que eles não podem ser analisados de forma isolada de outro aspecto, ou seja, das influências do meio. Genoma humano O genoma humano é formado pelo conjunto de todas as sequências de DNA que nos caracterizam do ponto de vista biológico. O término do sequenciamento do genoma humano levou à identificação de cerca de 25.000 genes. Disponível em: <http://genoma. ib.usp.br/pesquisas/ oquepesquisamos. php>. Acesso em: 2 nov. 2009. UNIUBE 15 1.4 Meio Para começarmos as reflexões acerca do meio, vamos recordar alguns conceitos: Para os teóricos racionalistas, o ser humano se desen- volve em um processo de atualização de estruturas pré- -formadas, onde o indivíduo é ativo, e o meio passivo, ou seja, essas estruturas é que vão definir a organização e reorganização das percepções do indivíduo acerca do meio. De acordo com a teoria empirista, o meio é o maior res- ponsável pelo desenvolvimento, minimizando, assim, a participação da hereditariedade como coadjuvante nesse processo. Com o passar do tempo, e acompanhando historica- mente o desenvolvimento humano, os teóricos percebe- ram que tanto as estruturas hereditárias e pré -formadas do indivíduo quanto a influência do meio em seu de- senvolvimento não poderiam ser tratadas como menos importantes em todo o processo. A partir daí surgiram as teorias interacionistas. Na verdade, não se trata de dar maior relevância ao meio em detrimento dos fatores hereditários, mas é necessário reconhecer que as estimulaçõesambientais são essenciais ao processo de desenvolvimento, tendo em vista que somente as questões hereditárias não são capazes de responder aos questionamentos em torno do desenvolvimento de cada indivíduo. É importante ressaltar que como meio se deve entender todas as na- turezas de estímulos com os quais a criança interage e não somente o meio ambiente. Racionalista ou Inatista Defende a ideia de que os indivíduos, ao nascerem, trazem consigo a pré -formação do conhecimento, ou seja, o conhecimento é algo inato. Nessa abordagem a maturação é fundamental. O sujeito é ativo e o meio passivo, pois é o sujeito quem determina a reorganização do meio. Empirista Abordagem que defende a ideia de que os homens eram iguais ao nascer e se diferenciavam a partir das estimulações do meio e dos processos educacionais. Teorias interacionistas Representadas por teóricos que explicam o conhecimento a partir da interação tanto dos sujeitos quanto dos objetos, resultando na organização e formação de novas estruturas de conhecimento. 16 UNIUBE As teorias interacionistas do desenvolvimento propõem a ideia de interação entre o sujeito e o meio. O conhecimento é adquirido através de um processo de construção contínuo onde o indivíduo está sempre em relação com o meio, ou seja, com as diferentes estimulações. Sujeito e ambiente (no sentido de objeto) interagem proporcionando, assim, uma ação recíproca. Portanto, toda nova construção depende da relação estabelecida entre o sujeito e o meio em que se encontra em cada situação de aprendizagem. Nesse sentido, vamos considerar que desde a concepção do indivíduo existe a influência de diferentes estímulos do meio, a começar do meio intracelular que exerce importante influência sobre as células que irão compor o embrião. Se- gundo Coutinho e Moreira (2006, p. 41), “o meio intercelular atuará, assim, sobre a forma de estimulação de pressão, de provisão de oxigênio e de eletricidade sobre as células que comporão o organismo futuro”, resultando na formação dos diferentes órgãos. Além do meio intracelular existem os meios físico -geográfico e sócio -histórico, sobre os quais já nos referimos anteriormente. No que diz respeito ao meio físico -geográfico, lembramos as pesquisas rea- lizadas com gêmeos idênticos criados em ambientes separados. O resultado dessas pesquisas indica que os diferentes meios geográficos em que os gêmeos idênticos foram criados provoca um distanciamento entre as características que comumente são muito próximas entre gêmeos dessa natureza criados no mesmo ambiente. Assim, estendemos nossos olhares sobre os estudos de Coll, Marchesi e Pala- cios (2004, p. 43), que nos apresentam três diferentes tipos de manifestações oriundas da relação hereditariedade/meio, que consideramos importantes para nossas reflexões. Relações passivas: os pais transmitem ao bebê certas caracte- rísticas (por exemplo, tendência a inibição), e parte, através de possíveis influências genéticas, mas em parte também através da forma como se organizam com ele etc. (relações escassas e muito dominantes, por exemplo). UNIUBE 17 Relações evocativas ou reativas: determinadas características de uma criança que podem ter certo componente hereditário (hiperatividade, por exemplo) tornam maior a probabilidade de que ela seja estimulada mais em uma direção do que em outra (certo tipo de atividade, de brincadeiras etc.). Relações ativas ou de seleção de contextos: em função e nos- sas disposições com algum componente genético, buscamos ainda mais alguns contextos do que outros damos mais prefe- rência a algumas atividades do que a outras etc. (uma criança inibida preferirá companheiros de brincadeira bem diferentes dos das crianças hiperativas, por exemplo). Sobre as diferentes relações apresentadas acima há de se considerar a fase evolutiva em que está o indivíduo, pois esse momento é um fator que influenciará diretamente sobre o tipo de relação a ser estabelecida por ele. Por exemplo, uma criança de três anos tende a imitar com maior facilidade o comportamento tímido ou extrovertido dos pais; a desejar seguir a profissão da mãe ou do pai; já um adolescente tende a demonstrar que sabe fazer suas próprias escolhas. Dessa forma, pode -se entender que quanto mais jovem for a criança mais sus- cetível estará às influências da convivência com os comportamentos e hábitos de seus familiares. Diante do que vimos até aqui sobre a polêmica hereditariedade/meio é importante recorrer a Coutinho e Moreira (2006, p. 45) para enfatizar que: Não existem, no indivíduo, propriedades biologicamente her- dadas que determinam, por si só, o seu comportamento ou suas aptidões psíquicas. Isso porque nenhum traço de conduta existe a priori no cérebro. O que existe é uma aptidão da es- pécie para formação de várias aptidões resultantes da relação indivíduo -meio. Dessa forma devemos considerar que as autoras chamam de “aptidão da es- pécie” os aspectos ontogênicos, responsáveis pelas características da espécie humana que cada ser traz consigo, relativos ao meio sócio -histórico. Resulta-se assim na conclusão de que realmente não existem características biológicas herdadas de pais para filhos, que isoladamente, possam ser res- 18 UNIUBE ponsáveis pelo comportamento do indivíduo. Na verdade trata -se da soma dos fatores hereditários à cultura em que o indivíduo está inserido, numa relação com o meio, que impulsionam o desenvolvimento das estruturas psicológicas do ser humano em cada fase. 1.5 Maturação e aprendizagem Podemos afirmar que os aspetos maturação e aprendizagem agem em recipro- cidade. Por essa razão faremos a abordagem em torno desses dois aspectos de forma mais dialética, buscando estabelecer relação entre ambos para facilitar o entendimento (ver Figura 2). Nesse sentido é importante refletir inicialmente sobre uma das questões cen- trais da psicologia evolutiva que é a idade. Mas não a idade cronológica, ou seja, nos referiremos às diferentes fases ou períodos que essa ciência consi- dera para a compreensão do desenvolvimento do indivíduo. Não é por acaso que essa organização acontece, pois ao classificar os períodos de desenvol- vimento em: de zero a dois anos, de dois a seis anos, de seis a doze anos, da adolescência até a maturidade, da maturidade até a velhice, existe uma sequência de mudanças psicológicas, neurológicas e físicas mais ou menos previsíveis para cada fase. Por que será que isso acontece? Pois é, parte dessa resposta está na maturação. Vejamos a seguir o que nos dizem Coll, Marchesi e Palacios (2004, p. 14): Figura 2: Relação maturação e aprendizagem. MATURAÇÃO APRENDIZAGEM UNIUBE 19 Quando nascemos, nosso cérebro, nosso sistema nervoso e nossos músculos têm certo nível de desenvolvimento, mas se encontram em um estado evolutivo muito incipiente, pois uma das características típicas dos seres humanos é nascer com um alto grau de imaturidade que, de maneira muito lenta e gradual, levará à maturidade. Ou seja, a espécie humana ao nascer ainda não possui maturidade neurológica, psicológica e física que permita sua autonomia como acontece com outras es- pécies. Daí a razão pela qual uma criança é tão dependente do adulto, precisa sempre de alguém que cuide dela. O mesmo não acontece com os animais, como com os cães, por exemplo. No processo maturacional, cada indivíduo tem sua especificidade, de acordo com suas características genéticas, levando em conta o meio em que está inserido como mobilizador desse processo. Essa especificidade é o que chamamos de padrão de diferenciação quanto à maturação do indivíduo. É o que possibilita as mudanças muitas vezes ordena- das, sequenciais e às vezes previsíveis do desenvolvimento, por isso afirmamos que essa mudança acontece de acordo com suas características genéticas. Já a consideração do meio como mobilizador desse processo diz respeito à aprendizagem do sujeito, ou seja, as relações estabelecidascom os diferentes estímulos do meio fazem com que cada pessoa se aproprie de um conjunto de conhecimentos que, somados às mudanças genéticas previstas para a espécie em cada fase de desenvolvimento, resultam na aprendizagem. Podemos dizer, então, que cada indivíduo se difere do outro em seu processo maturacional, o que caracteriza qualitativamente o processo de desenvolvimento do ser humano. Para exemplificar apresentamos a seguinte situação: Duas crianças, ambas com 5 ou 6 meses de idade; uma consegue se manter sen- tada, enquanto que a outra ainda não possui essa capacidade desenvolvida. 20 UNIUBE agora é a sua vez Como podemos encaixar essa situação dentro do conceito de maturação? Registre a resposta em seu Trabalho de Construção da Aprendizagem – TCA. Para contribuir com sua resposta, podemos afirmar que provavelmente, além das diferenças hereditárias inerentes a cada indivíduo, as duas crianças foram estimuladas pelo meio de forma diferenciada, cada uma inserida no seu próprio ambiente familiar e social. Assim como acontece com os bebês, também podemos observar casos assim em todas as fases do desenvolvimento humano. Cada indivíduo, nas diferentes fases, tem características no processo maturacional herdadas de seus antepassados e que são desenvolvidas de acordo com o meio sociocultural no qual está inserido. Mas como estamos tratando da compreensão do processo de desenvolvimento humano a partir de certa complexidade, não podemos deixar de mencionar que entre as diferentes abordagens que tratam do comportamento humano não existe um consenso sobre a relação maturação e aprendizagem. Apresentamos a seguir uma organização dessas diferentes posições, de acordo com Coutinho e Moreira (2006, p. 46): Maturação como alicerce indispensável e pré -requisito para a aprendizagem. A maturação nessa perspectiva seria determi- nada pelo código genético. Maturação preparando e tornando possível a aprendizagem, que, por sua vez, estimula e empurra para frente o processo maturacional. A maturação nessa perspectiva seria também influenciada pelos fatores ambientais. Como podemos analisar, na primeira concepção há uma crença de que o fator maturacional é fundamental para que a aprendizagem aconteça. Nesse sentido, encontramos ainda educadores que não abrem mão dessa verdade e que con- UNIUBE 21 tinuam afirmando que é inútil tentar alfabetizar uma criança que não esteja com suas estruturas físicas e mentais devidamente “maduras” para assimilar esse conhecimento. E que os problemas de aprendizagem são, em muito, resultado desse processo considerado antes do tempo maturacional da criança. Por outro lado, na segunda concepção é possível perceber que existe uma preocu- pação com o fator maturacional, mas não de forma isolada e restrita. Considera -se também que as aprendizagens que acontecem a partir de bases maturacionais impulsionam essa maturação e ampliam as possibilidades para a conquista de outras aprendizagens. Podendo assim, a maturação ser impulsionada por esti- mulações do meio e da cultura aos quais o indivíduo está vinculado. Dessa forma, não há que se falar em opção entre uma e outra concepção, mas sim de buscar contextualizar esses conhecimentos a cada realidade. A maturação é, sim, um fator muito importante a ser considerado enquanto determinante de certas capacidades fundamentais, atreladas às fases do com- portamento que criam condições para o estabelecimento de possibilidades de ação e interação com o meio. Por exemplo, não podemos ignorar que a organização do ensino obrigatório a partir de seis anos leva em consideração que é nessa fase que as crianças encontram -se em condições maturativas que possibilitam as aprendizagens previstas para essa faixa etária. Outra coisa que não podemos desconsiderar é que o fato de existir uma possibi- lidade maturacional de desenvolvimento prevista para aquela idade não significa que ela ocorrerá de forma igual para todas as crianças, mesmo estando estas inseridas no mesmo ambiente. Vejamos a seguir o que Coll, Marchesi e Palacios (2004, p. 41) nos dizem sobre isso: [...] o que o calendário maturativo faz em relação aos conteúdos psicológicos é colocar -nos sobre “plataformas de lançamento” tipicamente humanas, sem predeterminar qual será a trajetória a 22 UNIUBE partir daí, nem quais serão os conteúdos que preencherão essa trajetória. Isso acontece, por exemplo, com a capacidade para o vínculo emocional e com certo calendário maturativo que regula os inícios desta capacidade; com a capacidade para ser inteligentes e com certo calendário maturativo para o acesso da inteligência prática à do tipo simbólico; com a capacidade para aprender a falar e com certo calendário que determina a sequência de aquisição da linguagem. Naturalmente, as relações emocionais concretas desen- volvidas por uma criança com aqueles que a rodeiam, a inteligência concreta de cada um ou suas capacidades linguísticas pessoais não estão no código genético nem no calendário maturativo, mas nas relações concretas de cada sujeito com seu entorno. importante! Dessa forma podemos concluir que a maturação refere -se ao desenvolvimento do sistema neurológico, às conquistas quanto ao aperfeiçoamento das células que determinam as coordenações mais complexas da atividade mental. E que tudo isso obedece a um calendário ligado ao tempo cronológico do indivíduo, mas não necessariamente determina que cada conquista por ele realizada esteja prede- terminada. Há ainda um contexto externo a ser considerado. A forma como o indivíduo se desenvolve, sua evolução maturacional, acompa- nhada do desenvolvimento emocional e social caracteriza o seu desenvolvimento psicossocial e é fundamental para se definir a qualidade da aprendizagem que se estabelecerá ao longo da sua vida. Contudo é necessário que compreendamos cada ser humano na sua totalidade, nas características inerentes a sua espécie, na sua cultura, no momento histórico em que se encontra, nos traços genéticos que traz consigo e ainda nas relações que ele estabelece com tudo que o envolve. Em suma, podemos afirmar que o desenvolvimento psicológico de um indivíduo está repleto de influências que resultam dos diferentes aspectos que o envolvem. Veja a seguir uma demonstração sintética dessas múltiplas influências que inci- dem sobre o desenvolvimento humano, com base nos estudos de Coll, Marchesi e Palacios. UNIUBE 23 Figura 3: O desenvolvimento psicológico como resultado de múltiplas influências. 1.6 As fases do desenvolvimento infantil sob a visão de alguns teóricos Como dissemos anteriormente, as pesquisas e estudos em torno do desenvol- vimento psicológico do homem não são de agora. Há um consenso no que diz respeito à divisão desse desenvolvimento em fases para facilitar a sua compre- ensão, entendendo que essas fases compreendem certos períodos da existência humana e não exatamente a idade cronológica do sujeito. Faremos agora uma apresentação das variadas formas do pensar e de organizar o desenvolvimento infantil em diferentes tempos históricos. Com base nos estudos de Coutinho e Moreira (2006, p. 46 -47), os estudos mais remotos que temos sobre isso são os de Sólon (594 a.C.), conforme apresen- tamos a seguir: Sólon Governador de Atenas, nascido nessa cidade, histórico como legislador e como fundador da democracia e considerado um dos sete sábios da Grécia. Viveu entre 650 e 570 a.C. DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO grupo social Traços e característica do indivíduoCaracterísticas da cultura 24 UNIUBE Já Freud (1856 -1939) descreveu o desenvolvimento psi- cossexual do indivíduo em fases, como mostra a Figura 5. Na década de 1960 tivemos a importante contribuição do americano A. Gesell (1890 -1961), que a partir de obser- vações do comportamento evolutivo criou a classificação mostrada na Figura 6. A partir de pesquisas sobre as estruturas cognitivas, Piaget (1896 -1980) apresentou seus estudos na formados estágios apresentados na Figura 7. Gesell Pesquisador norte- -americano que viveu entre 1880 e 1961. Principal expoente das teorias do desenvolvimento que dão maior ênfase ao papel da maturação, defendia a prioridade dos fatores maturacionais sobre os fatores de aprendizagem. É considerado o primeiro psicólogo escolar norte -americano. 1o período – do nascimento até a queda da 1a dentição. 2o período – do final do 1o período até a puberdade. 3o período – do período anterior até o aparecimento de barba. 4o período – do período anterior até o término do crescimento dos membros. 5o período – do período anterior até o amadurecimento sexual. 6o período – fase em que o espírito se volta para as coisas da vida prática. 7o período – o homem se torna contemplativo, esperando a morte. Figura 4: Períodos de desenvolvimento, de acordo com Sólon. Figura 5: Fases do desenvolvimento, de acordo com Freud. 1a fase – Oral – 1 a 1 e ½ ano 2a fase – Anal – 1 a 3 anos 3a fase – Fálica – 3 a 7 anos 4a fase – Latência – 7 a 12 anos 5a fase – Genital – a partir de 12 anos UNIUBE 25 Figura 6: Fases do desenvolvimento, de acordo com Gesell. Após analisar os estudos acima é possível concluir que, embora haja um con- senso entre as diversas abordagens no sentido de compreenderem o desen- volvimento psicológico do indivíduo em fases, existem diferentes formas de exposição delas. Figura 7: Os estágios do desenvolvimento, de acordo com Piaget. . 1o Embrião (0 a 8 semanas) 2o Feto (8 a 10 semanas) 3o Infância (do nascimento aos 2 anos) 6o Adolescência (12 a 20/24 anos) 5o Meninice (de 5 a 12 anos) 4o Idade pré-escolar (de 2 a 5 anos) 7o Adulto 3o estágio a partir de 12 anos inteligência operatório-formal 1o estágio 0 a 2 anos inteligência sensório-motora 2o estágio 2 a 11 anos inteligência operatório- -concreta 26 UNIUBE Além disso, é necessário compreender que o desenvolvimento do indivíduo acontece de forma global. Ou seja, quando se afirma que o desenvolvimento psicológico acontece por fases, não se pretende dizer com isso que ele se dá de maneira estanque, isolada e igual para todas as pessoas. A divisão em fases, considerando os diferentes aspectos do indivíduo, tais como o aspecto motor, social, psicossexual, emocional e intelectual nos ajuda a entender o todo. Sendo assim, é importante nos posicionarmos sobre outra questão fundamental para a compreensão dessas fases, que é o crescimento. Ou seja, se as diferentes fases de desenvolvimento estão de certa forma relacionadas à idade cronológica do indivíduo, há que se pensar sobre esse aspecto. 1.7 O crescimento Em relação ao crescimento devemos nos lembrar que o ser humano em sua complexidade não apenas se desenvolve psicológica e neurologicamente sobre influências do meio e de outros fatores externos, mas também acompanha certo calendário maturativo, que de certa forma determina o seu crescimento físico, conforme nos referimos anteriormente. Dessa forma, o crescimento físico do indivíduo segue uma ordem cronológica com a previsão de certas atitudes mais ou menos predeterminadas pelos fatores biológicos. Coll, Marchesi e Palacios (2004, p. 55) nos dizem que: Desde o próprio momento da concepção, e como ocorre com o de qualquer outro ser vivo, o organismo humano tem uma “lógica biológica”, uma organização e um calendário maturativo. Já que, por outro lado, nosso organismo biológico é a infraes- trutura em que se assentam nossos processos psíquicos, a psicologia evolutiva não pode prescindir da consideração do desenvolvimento físico, pois tal desenvolvimento abre, cons- tantemente, possibilidades evolutivas e impõe limitações à mudança possível em cada momento. Sendo assim, vamos tentar acompanhar esse crescimento contínuo e sequencial e as transformações possíveis de se perceber no desenvolvimento do indivíduo a partir de alguns fatores biológicos e maturacionais. UNIUBE 27 Você já dever ter observado que desde o momento da geração o bebê possui um tamanho de cabeça muito desproporcional ao seu corpo. Vejamos a Figura 8 a seguir. 1.7.1 As direções do desenvolvimento físico -motor O desenvolvimento físico -motor segue duas direções: O desenvolvimento céfalo- -caudal e o desenvolvimento próximo-distal. O desenvolvimento céfalo -caudal representa a sequência no crescimento dos membros do indivíduo que acontece primeiramente nos órgãos próximos ao cérebro e posteriormente se estende por todo o corpo, até que se atinja um grau de proporcionalidade no tamanho com relação ao restante do corpo. O mesmo se dá com relação aos movimentos motores da criança, ou seja, com quatro semanas de vida o bebê é capaz de movimentar os olhos para, só depois, conseguir movimentar toda a cabeça. Figura 8: O bebê no útero. Fonte: Acervo EAD – Uniube. 28 UNIUBE Antes que a criança consiga movimentar o tronco e sentar -se sozinha ela já é capaz de pegar pequenos objetos e segurar com as mãos. O momento de marcha que permite que ela fique de pé e ande só é possível após 52 semanas de vida. Já o surgimento do movimento de dentro para fora, podemos chamar de de- senvolvimento próximo -distal. Significa, assim, que os órgãos centrais do corpo amadurecem primeiro. Esse momento é possível de se observar com crianças de três anos, por exemplo, quando realizam atividades de desenho. Enquanto ela desenha, possivelmente movimentará não somente os dedos e as mãos como se espera, mas fará também um esforço com o tronco e ombros. Não resta dúvida de que o crescimento físico não acontece ao acaso e que ao contrário é altamente organizado. Nesse sentido o desenvolvimento dos movimen- tos da criança acontece ainda das atividades gerais para as específicas. Por essa razão a criança em seus primeiros meses de vida costuma responder aos estímu- los com todo o corpo. À medida que acontece a maturação de sua organização nervosa ela se torna capaz de responder de forma específica às estimulações. 1.7.2 As diferentes velocidades do desenvolvimento Importa -nos dizer ainda que além de apresentar uma continuidade no crescimento não existem saltos que permitam que uma criança possa passar de uma fase a outra repentinamente. Todo esse processo de crescimento é permeado por uma série sucessiva de reestruturações físicas, psicológicas e neurológicas que obe- decem a um calendário maturativo. É lógico que precisamos considerar os fatores externos como as estimulações do meio, a alimentação saudável e ainda a cultura em que está inserido esse sujeito. Por isso a puberdade e a velhice, por exemplo, não acontecem de repente, elas vêm antecedidas de um processo. Destacamos ainda que há uma aceleração maior dos níveis de crescimento quanto mais próxima a criança está do princípio desse processo. O que significa dizer que a criança cresce mais rápido quando está em desenvolvimento na vida uterina e nos primeiros anos do que nos demais que se seguem. Sobre esse assunto Coutinho e Moreira (2006, p. 2) nos explicam que: UNIUBE 29 Logo após o nascimento até aproximadamente os dois anos de idade, vemos que a cabeça cresce muito, depois seu ritmo diminui. O tronco cresce significativamente até o primeiro ano de vida; as pernas e braços, por volta dos dois anos, iniciam um crescimento acelerado, conservando essa aceleração até a adolescência. Em se tratando de características comportamentais, a mesma descontinuidade se faz presente. Na Figura 9 observe como acontece o crescimento do indivíduo em diferentes momentos, ou seja, desde o feto até a fase adulta. 2 meses fetal 5 meses fetal Recém-nascido 2 anos 6 anos 12 anos 25 anos Figura 9: Saúde da criança – acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil. Fonte: Brasil, Ministério da Saúde (2002). sintetizando... Bem, a partir daqui é necessário voltarmos ao que afirmamos anteriormente, ou seja, existe uma concordância entre os diferentes estudiosos sobre a compreensãodo desenvolvimento do indivíduo em forma de fases. Ainda concordam que há uma influência do meio, dos fatores hereditários e maturacionais sobre o desenvolvimento e as aprendizagens da criança. Porém, a grande dificuldade consiste na explicação de cada um sobre a influência desses aspectos para o desenvolvimento e a aprendizagem do indivíduo. Nesse sentido, lembramos que ao dizer que existem diferentes formas de abordar o processo de desenvolvimento e aprendizagem do indivíduo não significa que 30 UNIUBE umas estejam certas e outras erradas. Apenas indicam que existem referenciais teóricos diferentes que fazem uma análise a partir de sua concepção. Como pedagogos, é importante que tenhamos clareza de que as diferentes fases do desenvolvimento existem como elemento facilitador da compreensão sobre a forma de aprendizagem da criança. Não há que se falar em estágios ou fases como estereótipos que sejam determinantes de diferentes aprendizagens. Ou seja, essa divisão não acontece de maneira estanque e fechada, pois a criança se desenvolve globalmente, em seu todo: no seu aspecto físico, psicológico, cognitivo, psicossocial e psicossexual; e para isso vivencia uma série de mu- danças internas e externas. Importa ainda a clareza sobre os conceitos de crescimento, maturação e desenvolvimento. ponto ‑chave Quando falamos em crescimento, estamos nos referindo ao aumento do tamanho cor- poral da criança, da sua altura e peso, que pode ser aferido em centímetros e volume. Ao falar em maturação estamos tratando do seu processo de crescimento no sentido neurológico, do desenvolvimento das células que determinam o aperfeiçoamento do sistema nervoso que se responsabiliza pelas coordenações mentais mais complexas. Já o desenvolvimento diz respeito à transformação complexa do indivíduo, ela inclui o crescimento, a maturação, os aspectos psíquicos, sociais e as diferentes aprendizagens construídas durante toda a vida do indivíduo. Ou seja, ela é contínua, progressiva e ininterrupta. Devemos considerar ainda que dentro do que compreen- demos sobre o desenvolvimento ainda devemos considerar o aspecto psicossocial. É a partir dele que a criança interage com o outro social com o qual convive e com o meio, tornando -se um ser ativo e transformador. O professor, enquanto elemento mediador das aprendizagens, deve ter conhe- cimento e estar atento a todos estes aspectos para contribuir significativamente com o desenvolvimento e a aprendizagem do aluno. UNIUBE 31 Além de ter conhecimento sobre a criança, existem ainda outros saberes que permeiam a prática docente e que são muito importantes. Nesse sentido, vere- mos a seguir um pouco sobre a escola, o professor e o desenvolvimento global da criança. 1.8 O desenvolvimento global da criança: a escola e o professor Como foi dito no início, conhecer a criança é um dos caminhos mais importantes para contribuir com o seu desenvolvimento enquanto educador. Mas não basta conhecê -la, é preciso conhecer também o ambiente educativo do qual ela é o centro, ou seja, a escola. agora é a sua vez Para que serve a escola? Que sentido ela tem para a criança em suas diferentes etapas do desenvolvimento? Pois é, esse espaço pode ter sentidos e significados diferentes. Pensemos sobre esses sentidos e significados a partir da realidade de cada um de vocês. Você se lembra de como era a sua primeira escola? E a professora? Você se lembra dela? É importante que você volte ao seu passado responda a essas questões. Comente com seus colegas de turma e tente perceber se há diferenças consideráveis nas respostas apresentadas por eles e por você. Registre as respostas em seu Trabalho de Construção da Aprendizagem – TCA. 32 UNIUBE Com certeza você irá perceber que tanto você como cada um de seus colegas leva consigo mais do que gostaria de levar sobre a sua primeira professora. Sobre a organização da sua sala de aula na infância. É natural que isso aconteça, pois é na escola que a criança vivencia grande parte dos momentos mais significativos do seu desenvolvimento, que ela começa a construir a sua identidade. Nesse complexo ambiente é que a criança vai se revelando para o professor e exi- gindo que ele tenha o conhecimento necessário para intervir no momento certo, com o conteúdo e a metodologia adequados ao seu momento de desenvolvimento. Cada passo dado nesse espaço é igualmente constituidor de aprendizagens, desde a organização do espaço da sala de aula, do planejamento da aula à avaliação da aprendizagem, há uma intenção educativa e uma aprendizagem se desenvolvendo. trocando ideias! E o professor? Quem é esse sujeito? Converse com seus colegas e com seu(sua) preceptor(a) sobre isso. Troque ideias! Com certeza ao trocar ideias com seus colegas e seu(sua) preceptor(a) vocês chegam a várias conclusões. Porém, antes de emitir um conceito que possa definir quem realmente é esse sujeito ao qual chamamos de professor, é bom refletir sobre as diferentes concepções pelas quais já passamos sobre esse polêmico assunto. Nesse sentido, é importante voltarmos um pouco no passado, na história da profissão de professor. Você deve ter notícias de que o professor, em um deter- minado período, era muito mais respeitado. Na verdade, no início da profissão de professor, atribuía -se a ele a função de transmitir o conhecimento socialmente construído e com isso acreditava -se que UNIUBE 33 ele contribuía para a manutenção e o desenvolvimento da sociedade. A partir dessa realidade, ele era, de fato, detentor de um espaço tão respeitado quanto o destinado aos médicos, por exemplo. Por outro lado, a função da escola sempre foi meio compreendida como uma extensão da casa, e o professor como alguém que substituía a família, prin- cipalmente a mãe. Sendo assim, durante muito tempo o curso destinado à formação de professores era o curso normal, de curta duração, como se fosse complemento ao primeiro grau e a maioria dos professores das séries iniciais eram mulheres. Nas entrelinhas, entendia -se que pouco se precisava acrescentar aos seus conhecimentos elementares, pois as mulheres já possuíam uma “vocação ma- ternal” que era suficiente para o exercício da profissão. Com isso, até por volta da década de 1960, o maior desejo dos pais era de que suas filhas fizessem o curso normal e se tornassem professoras. Com isso, elas teriam um diploma, poderiam se casar e ter uma profissão que pudesse ser conciliada com os afazeres domésticos. Resumindo, fazer o curso para professora era uma boa maneira de esperar um casamento. Com o passar do tempo, esse quadro foi se modificando e a forma de encarar a profissão de professor também sofreu muitas alterações. Em que pese as di- ferentes concepções em torno do papel do professor nos diferentes momentos históricos, é importante considerar que o respeito profissional e o reconhecimento social do professor passam por um momento de crise. Para superar essa fase é inevitável reconhecer a importância do processo de formação que de fato contribua para a ressignificação do fazer pedagógico. Hoje, não resta dúvida de que o papel do professor é um dos pontos mais im- portantes do processo escolar. Onde não se consegue estimular o professor na busca pela sua formação aprofundada e constante dificilmente teremos um ambiente estimulador ao desenvolvimento e à aprendizagem do aluno. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, em seu art. 62, regulamentou essa realidade dizendo que: 34 UNIUBE Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação bá- sica far -se -á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modali- dade Normal. Com isso, voltamos à nossa reflexão para a importância de trabalhar não só a graduação como condição inicialdo ofício de professor, conforme preconiza a LDB, mas, além disso, promover uma formação continuada que seja capaz de partir da sua realidade concreta, do chão da sala de aula, e de encontrar novos sentidos ao exercício docente e às diferentes formas de fazer a sua prática pedagógica. Na Revista Criança n. 39, 2005, p. 5, a professora Miranda nos apresenta a seguinte indagação: “Como um professor que não se torna leitor pode ser capaz de fazer com que a criança produza a sua palavra, tenha gosto pela leitura e vontade de escrever?”. O despertar do professor para o gosto pela leitura, pela arte, pelas diferentes ex- pressões da cultura são caminhos fundamentais para sua constituição enquanto sujeito que está a serviço do ato educativo. Sua intenção pedagógica por si só não basta, é preciso alimentar o seu interesse pela pesquisa, pelas novas tecnologias e consequentemente pelas novas formas de ensinar e de aprender. O nosso aluno parece ser o mesmo de todos os tempos, ou seja, a criança. A escola parece ser a mesma de todos os tempos. O que mudou na verdade é o contexto sociocultural da criança e da escola fazendo com que o professor precise saber cada vez mais sobre os conceitos fundamentais dessa nova so- ciedade e sobre própria natureza da criança para poder contribuir efetivamente com o seu desenvolvimento. É necessário compreender as necessidades da criança e intervir a partir do seu universo. Com isso, mais uma vez surge a necessidade de que o professor conheça a criança, saiba entender o que ela é e o que ela consegue fazer; e a partir daí realizar suas intervenções pedagógicas. UNIUBE 35 pesquisando na web Se você se interessar por esse assunto e quiser saber mais, acesse <http://portal. mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/rev_crian_39.pdf> e confira o texto “Criança e educação: uma trajetória cultural e institucional”, da professora Fátima Camargo. No site recomendado acima você poderá completar seus estudos e conhecer um pouco mais sobre o universo da criança e a relação estreita que deverá ser estabelecida entre o professor e ela, com vistas ao seu desenvolvimento. 1.8.1 O desenvolvimento global da criança Como já vimos anteriormente, a criança, ao nascer, ao contrário de outras espé- cies, é completamente dependente do adulto para sobreviver. Sua dependência vai além da dependência física que exige cuidados, alimentação e proteção. Ela precisa sentir no outro, no caso a mãe ou a pessoa mais próxima a ela, que sua existência é importante para que possa desenvolver -se de forma saudável. O que se tem atualmente é a chegada dessa criança cada vez mais cedo às escolas. E você, pedagogo, precisa estar cada vez mais atento àquilo que se entende por necessidades da criança a partir da sua realidade. Nesse sentido, vejamos o que os Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil nos dizem: Muitas vezes vista apenas como um ser que ainda não é adulto, ou é um adulto em miniatura, a criança é um ser hu- mano único, completo e, ao mesmo tempo, em crescimento e em desenvolvimento. É um ser humano completo porque tem características necessárias para ser considerado como tal: constituição física, formas de agir, pensar e sentir. É um ser em crescimento porque seu corpo está continuamente aumentando em peso e altura. É um ser em desenvolvimento porque essas características estão em permanente transfor- mação. As mudanças que vão acontecendo são qualitativas e quantitativas – o recém -nascido é diferente do bebê que 36 UNIUBE engatinha, que é diferente daquele que já anda, já fala, já ti- rou as fraldas. O crescimento e o desenvolvimento da criança pequena ocorrem tanto no plano físico quanto no psicológico, pois um depende do outro. O comentário acima clareia em muito de qual criança estamos falando, de como ela cresce e se desenvolve e como devemos nos posicionar sobre a prática pedagógica que contribua realmente com o seu desenvolvimento. E é para ela que estabelece um trabalho pautado no cuidar e no educar com qualidade. Dessa forma, reconhece que, apesar de ser totalmente dependente do adulto, a criança é um ser único, individual, cidadão de direitos, produto e produtor de uma cultura, é um sujeito histórico que faz parte da natureza e precisa se de- senvolver como um todo. Lembramos ainda que, ao reconhecer a educação infantil como parte da educação básica, a LDB definiu qual deveria ser a sua finalidade: promover o “desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade”. Espera -se que sejam dispensados a ela cuidados no sentido de assegurar -lhe atenção em suas necessidades físicas e psicológicas, o auxílio nas atividades que ainda não consiga realizar sozinha e toda a atenção por parte do adulto em seus momentos peculiares de infância. A partir disso, é necessário pensar uma proposta pedagógica que contemple ações capazes de propiciar à criança condições de usufruir de suas possibilida- des de apropriação e produção de significados do mundo que a cerca, ou seja, de desenvolver -se. Esse mesmo referencial sugere que a criança seja apoiada em suas iniciativas próprias e a ela seja oportunizado: Brincar; movimentar -se em espaços amplos e ao ar livre; expressar sentimentos e pensamentos; desenvolver a imagi- nação, a curiosidade e a capacidade de expressão; ampliar UNIUBE 37 permanentemente conhecimentos a respeito do mundo da natureza e da cultura apoiadas por estratégias pedagógicas apropriadas; diversificar atividades, escolhas e companheiros de interação em creches, pré -escolas e centros de educação infantil. (BRASIL, 2006, p. 19) A partir do que está posto, encontramos as possibilidades de atuação pedagógica que sejam capazes de assegurar o desenvolvimento global da criança. É exa- tamente esse conhecimento que direciona e dá condição para que o professor possa intervir no desenvolvimento da criança e potencializá -lo com uma prática docente crítica, reflexiva, criativa e contextualizada. pesquisando na web Interessou -se pelo assunto? Então visite o site da Revista Nova Escola e assista ao vídeo “Ateliês de entrada”. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/educacao- -infantil/4 -a -6 -anos/atelies -entrada -431336.shtml>. Acesso em: 4 maio 2010. Após ver o vídeo sugerido, você perceberá que existe um contexto que está posto na legislação, mas que é necessário somar a ele um exercício diário no sentido de repensar as práticas exercidas no interior de nossas escolas. Construir uma proposta pedagógica para a educação infantil implica a opção por uma organização curricular que seja capaz de mediar a realidade vivenciada pelo aluno com as concepções e valores presentes na realidade social dela. Ou seja, representa considerar a criança e, a partir de suas necessidades, concre- tizar uma proposta direcionada a ela, dedicando -se realmente ao exercício de contribuir efetivamente para o seu desenvolvimento global. É necessário para isso ouvir os profissionais envolvidos e saber quais as con- cepções que eles possuem sobre a educação infantil. Assim, é possível evitar as contradições oriundas de influências sofridas por eles ao longo de sua ação docente ou mesmo de sua formação. Com isso, será mais fácil contar com o envolvimento de todos no processo. 38 UNIUBE ampliando o conhecimento Em visita ao Rio de Janeiro, o professor da Universidade de Sevilha, Espanha, Jesús Palacios, concedeu uma entrevista à professora Vera M. R. de Vasconcellos, da Re- vista Criança, falando sobre a importância da educação infantil e consequentemente do papel do professor para a sua garantia. Destacamos o trecho a seguir para ilustrar nossa conversa. Como o senhor nos definiria a educação infantil a partir do ponto de vista pedagógico? Como um processo educativo que atua em uma etapa transcen- dental no desenvolvimento psicológico e formativo. Como um contexto para
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