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Psicologia do Desenvolvimento da Criança Professora Ms. Carolina dos Santos Jesuino da Natividade Reitor Prof. Ms. Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino Prof. Ms. Daniel de Lima Diretor Financeiro Prof. Eduardo Luiz Campano Santini Diretor Administrativo Prof. Ms. Renato Valença Correia Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Coord. de Ensino, Pesquisa e Extensão - CONPEX Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza Coordenação Adjunta de Ensino Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo Coordenação Adjunta de Pesquisa Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme Coordenação Adjunta de Extensão Prof. Esp. Heider Jeferson Gonçalves Coordenador NEAD - Núcleo de Educação à Distância Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal Web Designer Thiago Azenha Revisão Textual Beatriz Longen Rohling Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante Kauê Berto Projeto Gráfico, Design e Diagramação André Dudatt 2021 by Editora Edufatecie Copyright do Texto C 2021 Os autores Copyright C Edição 2021 Editora Edufatecie O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correçao e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permi- tidoo download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP N278p Natividade, Carolina dos Santos Jesuino da Psicologia do desenvolvimento da criança / Carolina dos Santos Jesuino da Natividade. Paranavaí: EduFatecie, 2021. 87 p. : il. Color. 1. Psicologia. 2. Psicologia do desenvolvimento. 3. Psicologia da aprendizagem. 4. Psicologia infantil I. Centro Universitário UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título. CDD : 23 ed. 155 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333 Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Cândido Bertier Fortes, 2178, Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rodovia BR - 376, KM 102, nº 1000 - Chácara Jaraguá , Paranavaí, PR (44) 3045-9898 www.unifatecie.edu.br/site As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site Shutterstock, Freepik e Pixabay. AUTORA Carolina dos Santos Jesuino da Natividade ● Formação Acadêmica. Psicóloga pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS ● Níveis de Titulação. Mestre em psicologia pela UFMS ● Instituições Frequentadas. Especialização em Terapia Cognitivo-Comportamen- tal pelo ITCC/MS; Especialista em Educação especial e inclusiva pela Fael. ● Link do Currículo na Plataforma Lattes. http://lattes.cnpq.br/9809627792228786 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL ● Na unidade I vamos conhecer o que é a psicologia do desenvolvimento, enten- der seus objetivos como descrição, previsão e intervenção no desenvolvimento. Discutiremos como aspectos culturais interferem no crescimento e desenvol- vimento da criança juntamente com os aspectos biológicos trazidos em seus genes. Também abordaremos as fases do desenvolvimento físico e da perso- nalidade, como descrito por Freud. Como cada interação única entre elementos tão complexos não pode ser reduzida para a sua compreensão, devemos estar atentos às riquezas e sutilezas presentes nesse tema. ● Já na unidade II você irá saber mais sobre a multiplicidade de pensamentos dentro da psicologia, que se constitui como ciência abrangendo grande variedade de mo- dos de encarar os fenômenos humanos. Essa ciência abarca muitas abordagens cujo entendimento sinalizam a grandiosidade do tema. A psicologia é chamada a ajudar na educação tanto com reflexões como em ações locais e pontuais dentro da sala de aula, mostrando sua imensa aplicabilidade. Nessa unidade tratare- mos também da diferenciação entre os aspectos biológicos do temperamento e a formação da personalidade a partir da interação social. Ainda no mérito da questão biológico e/ou cultural, os fatores que interferem na aprendizagem são discutidos, tais como a presença de um transtorno de aprendizagem interagindo com o ambiente escolar para a manifestação e modulação do problema. ● Na sequência, na unidade III discutiremos como aspectos emocionais interferem na aprendizagem e na obtenção de objetivos como maestria em instrumentos musicais e sucesso profissional. Falaremos sobre noções sobre a aprendizagem de comportamentos essenciais a uma espécie. Se se encaixam no conceito de pe- ríodo crítico para sua aquisição (momento indispensável e específico para adquirir um comportamento) ou se na espécie humana predominam os períodos sensíveis (havendo a possibilidade de obter habilidades e comportamentos em mais de um momento durante o desenvolvimento) para aprender a linguagem. ● Em nossa unidade IV, vamos finalizar o conteúdo dessa disciplina com uma explanação sobre quatro abordagens da psicologia e suas contribuições para a educação. Com a psicanálise há o enfoque para o autoconhecimento dos profissionais da educação, para que seus conteúdos inconscientes não inter- firam de modo negativo nas relações estabelecidas no ambiente educacional. Do behaviorismo compreenderemos as vantagens de observar como está o ambiente físico e social imediato antes do surgimento de um comportamento e quais as consequências a que este leva. Com o humanismo de Carl Rogers tomaremos consciência do quanto as relações podem promover autenticidade e saúde mental quando pautadas na empatia e aceitação. A gestalt também orienta a tecer relações que estimulem a iniciativa e originalidade. SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 4 Psicologia do Desenvolvimento UNIDADE II ................................................................................................... 21 Psicologia da Aprendizagem UNIDADE III .................................................................................................. 40 Psicologia da Educação e Psicologia do Desenvolvimento UNIDADE IV .................................................................................................. 61 As Teorias Psicológicas na Educação 4 Plano de Estudo: ● Conceitualização ● Aspectos Culturais do Desenvolvimento; ● Fases do Desenvolvimento Humano. Objetivos da Aprendizagem: ● Conceituar e contextualizar a ciência do desenvolvimento humano; ● Compreender os fatores que influenciam no ciclo vital; ● Estabelecer a importância dos aspectos culturais no desenvolvimento. UNIDADE I Psicologia do Desenvolvimento Professora Me. Carolina dos Santos Jesuino da Natividade 5UNIDADE I Psicologia do Desenvolvimento INTRODUÇÃO Por que certas características de personalidade se acentuam ao longo dos anos enquanto outras se amenizam? Ao entrar em contato com uma criança podemos imaginar como ela ficará quando se tornar um adolescente ou adulto. Podemos observar como sua família interage com ela, quais instituições frequenta e como agem as pessoas mais valo- rizadas pelo seu grupo social, como celebridades, políticos e autoridades. A instituição família existe dentro de uma cultura. É possível avaliar o impacto da cultura no desenvolvimento? Fala-se que sociedades orientais como a japonesa valorizam mais ações coletivas do que a sociedade estadunidense. Crianças brasileiras se compor- tam mais parecido umas com as outras do que se ao compará-las com uma criança indiana. Então, é coerente nos perguntarmos de que modo a cultura influencia no desenvolvimento infantil e como interage com fatores biológicos como características hereditárias. A pre- sença da cultura interfere na alimentação,ou seja, não há uma natureza determinada geneticamente como nos animais que nos restringe a um grupo de alimentos. A depender do grupo humano o qual fazemos parte podemos ter alimentação vegetariana, vegana ou comer carne. A cultura define quais alimentos são considerados mais adequados, pois pessoas carnívoras em diferentes países podem considerar viável ou não comer grilos e escorpiões. O que sabemos é que a cultura e a história de vida individual interagem com os aspectos biológicos, como o desenvolvimento físico (que tende a ser muito parecido em várias partes do mundo). O desenvolvimento humano costuma ser dividido em fases, seja ao considerar a evolução cognitiva e intelectual, física e psicológica. Nesta unidade iniciaremos o estudo da construção da personalidade com uma das primeiras teorias sistematizadas sobre o ser humano delineadas fora da alçada da filosofia, recorrendo à psicanálise de Sigmund Freud. Estudar o desenvolvimento humano é uma longa aventura cuja jornada fica mais agradável contando com grandes autores e pesquisadores. 6UNIDADE I Psicologia do Desenvolvimento 1. CONCEITUALIZAÇÃO O entendimento de que a criança é um ser em desenvolvimento e que apresenta peculiaridades em relação ao adulto é recente. Ao investigar a história da criança e da família no ocidente, Ariès (1981) nos mostra a enorme mudança social sobre a criança, em que a infância era reduzida a apenas no seu período mais frágil, enquanto bebe. Durante os primeiros meses de vida, o bebe era paparicado e tinha sua fragilidade reconhecida. Logo que conseguia alguma habilidade motora ele já era inserido no mundo adulto, partilhando seus momentos de trabalho e jogos. A socialização da criança não era planejada nem con- trolada, dava-se ao acaso dos acontecimentos que presenciava, bons ou ruins. A infância não desfrutava de nenhuma valorização social no ocidente até a Idade Média, em que Ariès (1981) demonstrou que dentro da família ela recebia poucos cuidados, sendo muitas vezes negligenciada e em caso de morte era algo rapidamente superado. A infância não era percebida como uma fase que requer cuidados especiais, pois se acreditava que a criança era como um adulto em miniatura, uma espécie de adulto mais baixo e mais fraco. Somente no século XX, com as observações sistemáticas de Piaget que a ciência obteve dados de que a criança é um ser que pensa e organiza as informações diferentemente do adulto. Obteve-se assim a certeza de que crianças e adolescentes não são adultos em miniatura, que tem peculiaridades e necessidades próprias que devem ser respeitadas.Veja a pintura de Flemish Renaissance Painting (1567) depicting The Fight Between Carnival and Lent abaixo, do mundo medieval, em que não havia um espaço e tratamento diferenciado para as crianças aprenderem e viverem. 7UNIDADE I Psicologia do Desenvolvimento FIGURA 1 - IDADE MÉDIA NO OCIDENTE, MUNDO SEM CONCEITO DE INFÂNCIA COMO NA ATUALIDADE Sabe-se que as pessoas são diferentes em características como gênero, altura, peso, saúde física, energia, temperamento, personalidade, inteligência e outras mais. O que leva a essas diferenças? O ambiente físico e social são mais importantes do que a genética? A psicologia do desenvolvimento, como subcampo da psicologia, investiga essas e outras questões e tem muito a contribuir no entendimento do ser humano, esse ser em constante desenvolvimento. O estudo do desenvolvimento humano é descrito por Papalia; Feldman (2014) como a investigação científica dos processos de mudança e estabilidade ao longo do ciclo vital.Os ciclos de vida são recortes feitos arbitrariamente, ou seja, não há um momento objetivamente definível em que acaba a infância. Na noção de ciclo de vida há o conceito de que o desenvolvimento humano se dá durante toda a vida e pode ser estudado cien- tificamente. Como disciplina científica, o campo do desenvolvimento humano visa fazer descrições, explicações, previsões e intervenções. Estudar o desenvolvimento humano envolve investigar o desenvolvimento físico (como crescimento do corpo e mudanças nas capacidades sensoriais, motoras e saúde), desenvolvimento cognitivo (habilidades mentais como atenção, memória, linguagem, pensamento), desenvolvimento psicossocial (mudan- ças na personalidade e relações sociais). A psicologia do desenvolvimento visa à compreensão da criança e adolescente a partir da descrição e exploração das mudanças psicológicas que apresentam no decorrer do tempo e como podem ser descritas e analisadas (RAPPAPORT, 1981). Sobre os objetos de estudo da psicologia do desenvolvimento, lemos na autora citada, os dois principais: 8UNIDADE I Psicologia do Desenvolvimento a. do processo normal de desenvolvimento numa determinada cultura. Isto é, conhecimento das capacidades, potencialidades, limitações, ansiedades, an- gústias mais ou menos típicas de cada faixa etária. b. dos possíveis desvios, desajustes e distúrbios que ocorrem durante o processo e podem resultar em problemas emocionais (neuroses, psicoses), sociais (delinquência, vícios, etc.), escolares (retenção, evasão, distúrbios de aprendizagem) ou profissio- nais.(RAPPAPORT, 1981a, p.4). O desenvolvimento humano investiga variáveis afetivas, cognitivas, sociais e biológicas em todo ciclo da vida, fazendo interface com diversas áreas como: a biologia, antropologia, sociologia, educação e medicina. (MOTA, 2005, p.106). Essa ciência vai mui- to além de descrever as mudanças que costumam ocorrer ao longo do tempo, pois como explica Mota (2005 p.106). Dizer que ao longo do tempo mudanças ocorrem na vida dos indivíduos não nos esclarece estas questões. O tempo é apenas uma escala, não é uma va- riável psicológica. Portanto, é preciso entender como as condições internas e externas ao indivíduo afetam e promovem essas mudanças. (MOTA, 2005, p. 106). O que sabemos sobre o ser humano é que está em constante mudança. De que modo se dão as principais mudanças ao longo do ciclo vital é alvo dos cientistas do desen- volvimento humano. De que modo a cultura influencia no desenvolvimento? A cultura inte- rage com outros fatores na construção do ser humano? Veremos agora como os aspectos sociais interagem com fatores biológicos e da história de vida de cada indivíduo. 9UNIDADE I Psicologia do Desenvolvimento 2. ASPECTOS CULTURAIS DO DESENVOLVIMENTO Falamos de cultura de modo específico, como ao afirmar que um colega possui cul- tura por ter muito conhecimento e falamos de cultura de modo amplo, como de influências do grupo social passadas por meio da linguagem que descrevem porque viver e de que modo. Papalia; Feldman (2014) conceituam cultura como o modo de vida global de uma sociedade ou de um grupo, que inclui costumes, tradições, crenças e produções materiais. Myers (2014) define cultura como comportamentos, ideias, atitudes e tradições duradouras compartilhados por um grande grupo de pessoas e transmitido por gerações, sendo a cul- tura marcada por suas normas. Book; Furtado; Teixeira (2018) caracterizam a cultura como um conjunto da produção de conhecimento humano que se desenvolve enquanto constrói suas próprias condições de vida. A perspectiva sociológica de Hofstede (1991) indica que cada grupo cultural possui seus símbolos (gestos que carregam significado específico para o grupo), heróis (aqueles que servem de modelo para os comportamentos) e rituais (atividades coletivas que reafirmam os valores) que são as características mais superficiais de uma cultura. Os valores a serem seguidos são os aspectos mais profundos. Discutir o impacto da cultura na infância é muito relevante, pois para Hofstede (1991) muitos padrões de pensar, agir e sentir são adquiridos na infância devido a ser um momento de fácil assimilação e aprendizagem. 10UNIDADE I Psicologia do Desenvolvimento Ao enfocar os aspectos culturais do desenvolvimento é comum surgir a pergunta se é o ambiente ou a genéticaque mais influencia no desenvolvimento humano. Historica- mente, houve intenso debate sobre os fatores hereditariedade versus ambiente sobre o ser humano. Hoje, contudo, não há mais uma visão dicotômica, do tipo ou um ou outro, mas o entendimento de que há combinação entre esses dois fatores. Os cientistas encontraram meios de medir de modo preciso em determinadas populações o papel desempenhado pelo ambiente e pela hereditariedade. Lembrando que hereditariedade são os traços ou características inatas herdadas dos pais. (PAPALIA ;FELDMAN, 2014). Após nos determos nos aspectos culturais do desenvolvimento é importante ter clara a influência recíproca da biologia com a história única de cada indivíduo e sua cultura. Coll; Marchesi; Palácios (2004).esclarecem a relação entre fatores hereditários e culturais ao falarem de influências normativas relacionadas com a história, influências não normativas e influências normativas relacionadas com a idade. Os autores explicam que as influências normativas relacionadas com a idade: [...] estão ligadas a fatores que afetam o desenvolvimento psicológico com um vínculo muito forte com a idade, permitindo que, ao conhecer a idade de uma pessoa, tenhamos condições de fazer previsões razoavelmente certas sobre alguns de seus processos evolutivos. Por exemplo, pelo fato de saber- mos que um bebe tem entre seis e nove meses podemos prever que ele está em plena formação dos sistemas de apego e de cautela diante de estranhos [...] (COLL; MARCHESI; PALÁCIOS, 2004, p 373). Coll; Marchesi; Palácios (2004) discutem que: Quando a lógica biológica da maturação ou do envelhecimento impõe sua lei, as diferenças vinculadas com o ambiente em que se vive podem ser muito menos notadas, como acontece com a maturação do cérebro que permite a criança aprender a caminhar sozinha em idades semelhantes entre crianças criadas em sociedades com práticas criação muito diferentes. (COLL; MAR- CHESI; PALÁCIOS, 2004, p. 374). As influências normativas relacionadas com a idade, como a maturação (conceito que será aprofundado na unidade 3), e sua relação com as influências não normativas é mais nítida em alguns momentos da vida (como no final do ciclo vital, quando alguns transtornos funcionais do cérebro terão um melhor ou pior desdobramento em decorrência do modo como o sujeito viveu, isto é, se fez uso de cigarro, atividades físicas e etc). É chamado de experiência idiossincrática aquela que só o indivíduo passou, como cair do berço aos dois anos ou ter medo de altura. No entendimento de desenvolvimento de Coll; Marchesi; Palácios (2004, p. 375) esse tipo de influência não normativa é: “[...] o que faz com que um fato seja não-normativo é, por um lado, a condição de afetar um ou mais indi- víduos, mas não a todos e, por outro lado, e que esse fato seja impossível de ser previsto em um momento determinado.”.. A figura 2 ajuda a compreender como os diferentes tipos de influências são predominantes ao longo da vida. 11UNIDADE I Psicologia do Desenvolvimento FIGURA 2 - INFLUÊNCIAS NORMATIVAS, ASSOCIADAS COM A IDADE E A HISTÓRIA E INFLUÊNCIAS NÃO NORMATIVAS Fonte. Coll; Marchesi; Palácios (2004, p. 373). Um outro fator são as influências normativas relacionadas com a história, que afe- tam todas as pessoas que vivem em uma certa época em um determinado grupo social. O conceito de geração está muito relacionado com esse tipo de influência. Como, por exemplo, a chamada geração X, que testemunhou a popularização da internet. Você conhece como são chamadas e caracterizadas as gerações mais recentes? O que gera a diversidade vista entre pessoas costuma ser a idade, que mantém comportamentos peculiares a cada faixa etária. Há diferenças de atitudes perante a vida e o trabalho que são explicadas pelas características por haver nascido em determinado período histórico. Na literatura há a classificação entre as gerações Y (nascidos de 1978 em diante), X (nascidos entre 1965 e 1977) e baby boomers (nascidos entre 1946 e 1964). Veja na figura 3 as características de cada geração ativa profissionalmente e analise se você se identifica! 12UNIDADE I Psicologia do Desenvolvimento FIGURA 3 - DESIGNAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DAS GERAÇÕES GERAÇÃO NASCIMENTO CARACTERÍSTICA Baby boomers entre 1946 a 1964 Ideal de fidelidade a empresa em que trabalha. Desejo de servir a uma única empresa por toda a vida profissional. Extre- ma valorização de hierarquia. X Entre 1965 a 1977 Mediana valorização de hierar- quia. Maior abertura para mu- danças na carreira. Y Entre 1978 em diante Valorização de relações mais horizontais, nenhum apego a hierarquia e a se manter toda vida profissional em uma em- presa. Fonte: a autora Por estarmos imersos em uma cultura, nem sempre reconhecemos o quanto do que fazemos é afetado por ela. O sociólogo Norbert Elias vem nos socorrer no entendimento quanto ao indivíduo ser passivo ou ativo na sua relação com a cultura. Elias (2011) faz uma metáfora sobre a cultura e o agir individual em que afirma que a cultura é como as regras de um jogo de cartas, mas que cada jogador sabe exatamente quais cartas têm, que são formações diferentes das mãos dos outros jogadores e que fará um lance único. Ou seja, apesar da cultura ser uma forte influência sobre o ser humano, sempre há alguma liberdade do homem escolher o que fará com as situações que recebeu, tal qual um jogador escolhe o que fazer com as cartas que têm. Os fatores culturais costumam estar relacionados com o nível socioeconômico da família na qual a criança está. Isso porque o nível socioeconômico em geral delimita quais aspectos de uma cultura teremos acesso. Um relato que ressalta essa determinação das experiências pelo nível econômico é a história de Sidarta Gautama, que se tornou Buda. O jovem príncipe vivia em seu palácio sem conhecer a pobreza, doença e velhice. Então, seu grande poder aquisitivo e de nobreza restringia sua experiência de vida a uma pequena parcela da cultura. Essa história pode ser assistida no filme “O pequeno buda” com o ator Keanu Reeves. Ao se estudar grupos minoritários, observa-se também que a cultura de um país, por exemplo, não é vivida de modo universal, havendo componentes que impactam mais alguns grupos do que outros. Como no caso do machismo afetar negativamente o gênero feminino e o racismo a pessoas negras. 13UNIDADE I Psicologia do Desenvolvimento De acordo com Papalia; Feldman (2014), o nível socioeconômico se baseia na renda familiar e nos níveis educacional e ocupacional. Os autores sustentam que tais níveis interferem no tipo de lar, vizinhança, nutrição, assistência médica e escolaridade, afetando, portanto, a saúde e desempenho cognitivo da criança. Ao falar em nível socioeconômico pensamos nas crianças economicamente desprivilegiadas. As pesquisas longitudinais trazem dados interessantes sobre como a pobreza pode afetar o desenvolvimento infan- til. Dados reunidos por Papalia; Feldman (2014) indicam que crianças pobres são mais propensas a problemas emocionais e/ou comportamentais e ter seu potencial cognitivo e desempenho escolar prejudicado. Contudo, ressaltam que apesar dos fatores de risco pode haver desenvolvimento positivo, como no caso do ex-presidente dos EUA Abraham Lincoln que cresceu na pobreza. Em famílias pobres, os aspectos positivos que protegem são a proximidade dos pais em atividades importantes e rotineiras como ir à igreja e fazer refeições juntos. Quem considera a riqueza como um fator de proteção por si mesma, precisa rever esse conceito. Em pesquisas de Luthar; Latendresse (2005) a riqueza nem sempre protegeu as crianças contra riscos. Isso ocorre devido a frequente pressão para alcançar sucesso e serem deixadas em casa sozinhas por pais muito ocupados. O desenvolvimento humano costuma ser dividido em fases. No tópico abaixo ve- remos brevemente algumas mudanças físicas ocorridas durante os diferentesperíodos da infância e as fases psicossexuais descritas por Freud para explicar a personalidade humana. 14UNIDADE I Psicologia do Desenvolvimento 3. FASES DO DESENVOLVIMENTO HUMANO A observação sistemática das mudanças e permanências desde o nascimento até o início da adolescência tem sido muito investigada pelos desenvolvimentistas. As mudanças geralmente são categorizadas e separadas em fases. Há fases de desenvolvimento emo- cional, como as de Erick Erikson (unidade 4) fases do desenvolvimento cognitivo descritas por Piaget (será visto na unidade 3) e o desenvolvimento físico, dividido e sistematizado por Papalia; Feldman (2014) como na figura 4. Figura 4 - Desenvolvimento físico da infância à adolescência. Faixa etária Desenvolvimento físico Período pré-natal Desde início da vida, dotação genética interage com influências ambientais, com grande vulne- rabilidade a elas. O crescimento é o mais acele- rado de todo o ciclo vital. Primeira infância (nascimento aos 3 anos) Ao nascer, o funcionamento dos sentidos e sis- temas corporais ocorre em graus variados. As habilidades motoras se desenvolvem rápido. Segunda infância (dos 3 aos 6 anos) Crescimento constante. Proporções corporais semelhantes as de adultos. Surge preferência pelo uso de uma das mãos. Aumento da força física e melhora de habilidades motoras físicas. Terceira infância (dos 6 aos 11 anos) Torna-se mais lento o ritmo do desenvolvimen- to. Aumento da força física e saúde. Fonte adaptado de Papalia; Feldman (2014). 15UNIDADE I Psicologia do Desenvolvimento Muitas mudanças típicas da primeira e segunda infância estão vinculadas à matu- ração do cérebro. Já na adolescência e vida adulta as diferenças individuais e experiência de vida passam a influenciar de modo mais predominante que a biologia. O entendimento do desenvolvimento da personalidade também foi dividido em fases pelo pai da psicanálise. A descoberta da sexualidade infantil ocorreu enquanto atuava na prática clínica investigando a causa e funcionamento das neuroses. Freud inova ao sugerir que a maioria dos pensamentos e desejos eram reprimidos, sendo retirados da consciência por conterem conflitos inconscientes de ordem sexual dos primeiros anos de vida. Embora o início dos conflitos psicossexuais tenham origem precoce, o desenvolvimento da sexua- lidade é longo e complexo, só se completando na idade adulta. No início da vida, o sujeito encontra o prazer distribuído pelo seu corpo, as excitações sexuais (de modo metafórico) estão localizadas em partes do corpo, localização que vai se alterando ao longo do tempo. As fases psicossexuais de Freud são elaboradas com base na sua teorização do local de erotização. (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2018). Devido a extensa obra psicanalítica de Sigmund Freud, que escreveu por muitas décadas, é conveniente começarmos a apresentação de sua visão de desenvolvimento infantil por autores que resumiram e condensaram suas explicações. Book; Furtado; Tei- xeira (2018) sistematizam as fases psicossexuais de Freud, afirmando que na fase oral, que se estende do nascimento até aproximadamente os dois anos, a zona de erotização é a boca. Em um primeiro momento a boca está ligada à sucção, ou seja, à alimentação, depois deixa de sua função nutritiva para se tornar autoerótica. É importante ressaltar que se trata de um simbolismo psíquico e fixação de energia libidinal. Na fase anal nessa fase a área do corpo erotizada passa a ser o ânus, ligada à função de defecação, Um prazer nessa fase, entre 2 anos e 4, é tanto a expulsão das fezes quanto sua retenção e da apropriação do controle esfincteriano. Na fase fálica o órgão sexual é a zona de erotização e surge o comportamento exploratório de masturbação. Há um declínio no complexo de Édipo, fundamental para a estruturação da personalidade. Posteriormente vem o período de latência, entre 5 a 6 anos, caracterizada pela diminuição das atividades sexuais, em nível de fantasia. A energia libidinal pode ser canalizada para a curiosidade sobre o mundo e formação de valores morais. Finalmente, a fase genital, que é atingida na puberdade. O objeto de desejo passa a ser o outro. Nessa etapa o menino deixa de querer ser o pai para querer ser um homem como o pai. O mesmo ocorre com a menina e a mãe. Por meio da identificação com a mãe ou o pai, a criança internaliza as normas sociais. 16UNIDADE I Psicologia do Desenvolvimento A passagem pelas fases psicossexuais descritas por Freud seriam um aspecto idios- sincrático na vida do sujeito e ao mesmo tempo interage com aspectos culturais e sociais como assinala a obra do sociólogo Norbert Elias. A relação entre constituição das instâncias psíquicas e as mudanças sociais é explicitada em Natividade; Costa (2020, p. 104) O pensamento eliasiano é invocado para esclarecer uma nova conforma- ção social, desde o século XX, em que novas regras proibitivas avançam para conter comportamentos de cunho sexual nos ambientes públicos. [...] Os custos para as organizações e seus membros obrigam que cada indivíduo precise desenvolver um superego mais opressor para aspectos de manifes- tações de sexualidade em ambientes públicos, [...] (NATIVIDADE; COSTA, 2020, p.104). Como defendido, os elementos psíquicos do desenvolvimento também sofrem influências sociais, históricas e culturais, mesmo que haja fases em que todos passam no correr do seu ciclo vital, elas não são rígidas nem ocorrem da mesma forma. O modo como cada criança vivencia cada momento do desenvolvimento psicossexual marcará a formação de sua personalidade, o que ocorre em um momento histórico específico. As regras da família e da sociedade são internalizadas e compõem parte da personalidade, demonstrando que a formação de cada indivíduo depende de aspectos facilmente identifi- cados, como os padrões comportamentais de seus pais e de valores culturais que são mais sutis na percepção de sua influência. O desenvolvimento humano é um fenômeno bastante complexo, no qual diferentes áreas do conhecimento como a sociologia, psicanálise e psicologia comentadas nesta unidade são requisitadas. A divisão de aspectos emocionais, físicos, cognitivos e psicológicos é arbitrária e usada para fins didáticos. 17UNIDADE I Psicologia do Desenvolvimento SAIBA MAIS Leontiev afirma em seu texto O homem e a cultura que as aptidões humanas não são transmitidas por hereditariedade biológica, mas são adquiridas na vida coletiva em que se inserem e as aprendem por um processo de apropriação da cultura. “[...] cada indi- víduo aprende a ser um homem. O que a natureza lhe dá quando nasce não lhe basta para viver em sociedade. É-lhe ainda preciso adquirir o que foi alcançado no decurso do desenvolvimento histórico da sociedade humana”.e além de adquirir a herança social da humanidade, os humanos continuam a produzir o mundo cultural e social onde estão. As crianças que nascem encontram sempre um mundo novo e deixarão sempre um mundo transformado. A sociedade estará sempre, como os humanos, em permanente modificação, e essas transformações se dão e se darão pela relação que existe entre indivíduo e coletividade/sociedade. Somos sócios no empreendimento de transformar o mundo e a nós mesmos. Fonte Bock, Teixeira; Furtado 2011, p. 69 REFLITA Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana. Carl Gustav Jung. 18UNIDADE I Psicologia do Desenvolvimento CONSIDERAÇÕES FINAIS Estudar o desenvolvimento infantil nos faz pensar sobre a nossa própria história, em quais fatores tiveram maior importância na construção do ser que estamos hoje. Sim, o ser que estamos sendo, pois a psicologia do desenvolvimento tem entendido que o ser humano está sempre evoluindo e mudando. Não existe uma versão final de nós mesmo ao chegar em determinada idade. As teorias que defendiam o fim das mudanças de desen- volvimento ao final da adolescência vemsendo reformuladas, pois as pesquisas realizadas ajudaram a ampliar a noção de desenvolvimento trazendo o conceito de ciclo vital, em que as mudanças físicas, cognitivas, emocionais e de personalidade são investigadas ao longo de toda a vida. Sem dúvidas a infância é um momento bastante intenso de evoluções físicas e comportamentais que exigem um olhar atento para vários aspectos da vida. Nesta unidade entendemos que investigar as características da infância é algo mui- to recente na história ocidental, pois havia pouca valorização na criança na nossa cultura, tratando-a como a um mini adulto. A partir da observação sistemática obteve-se a certeza de que a criança é um ser diferente do adulto, com um modo de pensar próprio e limitações físicas no que se refere à força física. Vimos também que a psicologia do desenvolvimento não visa mais priorizar cultura ou biologia como fator principal no desenvolvimento de per- sonalidade e padrões comportamentais, pois se reconhece a influência recíproca de ambas no ser humano. Há aspectos biológicos importantes que permitem sistematizar em fases as mudanças físicas e em habilidades pelas quais as crianças de qualquer nacionalidade passam. Há também aspectos culturais que afetam o crescimento, como em sociedades que priorizam a alimentação do adulto em momentos de restrição, interferindo no ritmo de crescimento infantil. Esta unidade visou aproximar você estudante desse rico conteúdo, no entanto, a jornada pelo conhecimento continua! 19UNIDADE I Psicologia do Desenvolvimento LEITURA COMPLEMENTAR Neurociência e educação: como o cérebro aprende O recém-nascido humano é extremamente imaturo quando comparado com o de outras espécies animais. Um potrinho neonato, por exemplo, já pode ficar em pé, o que só acontecerá com o bebê humano depois de vários meses de vida. Em compensação, nosso cérebro será capaz, ao final de sua maturação, de realizar uma série de funções que outras espécies não possuem. Se o bebe humano tivesse, ao nascer, as mesmas capacidades que têm, por exemplo, os bebês chimpanzés, o cérebro teria que ser tão grande que não caberia no canal do parto. Fizemos uma espécie de troca com a natureza; nossos cérebros são imaturos no nascimento e precisamos de muitos cuidados por um tempo prolongado, mas desenvolvemos um equipamento neural sem paralelo no mundo animal.A interação com o ambiente é importante porque é ela que confirmará ou induzirá a formação de conexões nervosas e, portanto, a aprendizagem ou o aparecimento de novos comportamentos que dela decorrem. Em sua imensa maioria, nossos comportamentos são aprendidos, e não programados pela natureza. Um patinho recém-eclodido não precisa que lhe ensinem a nadar. Ele apenas segue a pata mãe, e ao entrar no lago, já executa os movimentos necessários. Essas capacidades já vem “embutidas” no seu sistema nervoso. Não é o caso de nossa espécie, cujo cérebro, embora planejado para desenvolver certas capacidades, necessitará de um aprendizado mesmo para capacidades bem simples. Con- tudo, exatamente por isso a gama de comportamentos e a forma de sua expressão serão muito mais amplas. Muitas pesquisas têm mostrado que a estimulação ambiental é extremamente importante para o desenvolvimento do sistema nervoso. Animais criados em ambientes empobrecidos apresentam, mais tarde, um cérebro menos sofisticado, com menor quan- tidade de conexões sinápticas. Ele pode ser, por exemplo, menos pesado, com um córtex mais delgado. Certamente, haverá alterações comportamentais. 20UNIDADE I Psicologia do Desenvolvimento Isso tem levado a uma discussão sobre a vantagem da estimulação precoce das crianças, para que elas desenvolvam um sistema nervoso mais complexo. Embora a priva- ção sensorial e o ambiente empobrecido sejam prejudiciais, não está claro se é recomendá- vel ou vantajoso o “bombardeio” precoce com muitas informações ambientais. Ao longo de milhares de anos de evolução, nosso cérebro foi programado para desenvolver-se de uma forma que ocorre harmoniosamente em um ambiente que não fuja dos parâmetros usuais, e é pouco provável que uma estimulação artificialmente induzida venha a trazer alterações significativas. [...] Contudo, há capacidades que parecem depender de uma interação mais especí- fica com o ambiente, como a linguagem falada, por exemplo. Na verdade, essa já é uma capacidade já programada em nosso sistema nervoso. As crianças com um cérebro dentro dos padrões de normalidade irão aprender a falar e a compreender a linguagem de uma forma natural, sem necessidade de serem ensinadas. Contudo, que idioma vão dominar depende da sua interação social. Existem indicações de que, ao nascer, as crianças já são seletivas aos sons da língua materna. Portanto, alguma aprendizagem parece ocorrer ainda no período intrauterino. Fonte: COSENZA.; GUERRA (2011, p. 24-25) 21UNIDADE I Psicologia do Desenvolvimento MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Genética do comportamento Autor: Robert Plomin , John C. DeFries , Gerald E. McClearn , Peter McGuffin Editora: Artmed Sinopse: .Enfatiza o que se sabe sobre genética em psicologia e psiquiatria hoje e apresenta aos estudantes das ciências com- portamentais, biológicas e sociais a melhor introdução disponível sobre o tema. Trata de temas como natureza humana, criação e comportamento e a interação entre genes e comportamento em vários transtornos. FILME/VÍDEO Título: O garoto selvagem Ano: 1969 Sinopse: Cantão de São Sernin, França, 1798. Três caçadores acham uma criança selvagem, que possui 11 ou 12 anos. Ele é apelidado de Selvagem de Aveyron (Jean-Pierre Cargol), sendo que se alimenta de grãos e raízes, não anda como um bípede nem fala, lê ou escreve. O professor Jean Itard (François Truffaut) se interessa pelo menino, que é levado a Paris para determinar seu grau de inteligência e ver como se comporta a mentalidade de um menino que desde cedo foi privado da educação, por não conviver com ninguém da espécie. Itard começa a educá-lo. Todos pensam que ele vai fracassar, mas com amor e paciência aos poucos ob- tém resultados. Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=OSg4S4F5bio https://www.youtube.com/watch?v=MhhMYhXgALQ https://www.youtube.com/watch?v=OSg4S4F5bio https://www.youtube.com/watch?v=MhhMYhXgALQ 22 Plano de Estudo: ● A Ciência da Psicologia; ● A Psicologia e a Educação; ● A Psicologia e o Desenvolvimento Humano; ● Fatores que interferem no Processo de Aprendizagem. Objetivos da Aprendizagem: ● Conceituar e contextualizar a ciência psicológica; ● Compreender os fatores que interferem na aprendizagem; ● Estabelecer a importância da psicologia do desenvolvimento e aprendizagem. UNIDADE II Psicologia da Aprendizagem Professora Me. Carolina dos Santos Jesuino da Natividade 23UNIDADE I Psicologia do Desenvolvimento 23UNIDADE II Psicologia da Aprendizagem INTRODUÇÃO É possível fazer previsões sobre o comportamento de uma pessoa? E de um gru- po de pessoas? Essas perguntas são importantes porque a ciência tem como objetivo fazer previsões e intervenções sobre seu objeto de estudo. O comportamento humano sempre foi alvo de questionamentos e a filosofia era a principal forma de entendê-lo. Com o fortalecimento e difusão das ciências, o modo de agir do homem passou a ser sistema- ticamente observado. A história do desenvolvimento das ciências mostra que os cientistas já produziam técnicas e ferramentas para observar os astros desde o séc. XV com Nicolau Copérnico. Porém, o interesse em observar de modo sistemático a criança só ocorreu no século passado, com início com Jean Piaget. Conhecimentos que foram agregados a psicologia. Esta é considerada uma ciência nova. Se a aparência dos fenômenos celestes, pela observação simples, já conduziram à noção de que o planeta Terra era o centro do universo, será que falhas assim ocorrem ao considerar o comportamento humano? Será que nossos costumes e preferências afetamnosso modo de entender as pessoas ao nosso redor e nosso conceito de infância? O conhecimento científico pode oferecer ideias novas para velhos problemas. No nosso cotidiano, a convivência próxima com certas pessoas nos levam a fazer muitas previsões corretas sobre as reações de alguém, como ao já imaginar qual frase será dita ou que expressão verbal e tom de voz usará ao ficar irritada. Mesmo não sendo cientistas, a observação aleatória nos permite fazer previsões. A psicologia se aprimorou e tem sido chamada a auxiliar em vários contextos, como na educação. Surgiu a necessidade de entender melhor os processos de ensino e aprendizagem, o que propiciou o nascimento da psicologia da aprendizagem, cujos conhe- cimentos são muito solicitados na área da educação.Os conhecimentos da psicologia do desenvolvimento também são importantes para compreendermos a aprendizagem, o que explicita a necessária interdisciplinaridade na educação. 24UNIDADE I Psicologia do Desenvolvimento 24UNIDADE II Psicologia da Aprendizagem 1. A CIENCIA DA PSICOLOGIA A ciência é uma das formas de conhecimento sobre o mundo e sobre o ser humano construída e passada entre gerações. Na atualidade, há grande expectativa de que vários problemas sejam superados com sua ajuda, seja no campo das questões ligadas à natureza e meio ambiente seja no campo social. É típico da atuação científica o uso de linguagem rigorosa, métodos e técnicas específicas. A ciência se caracteriza por um processo cumula- tivo do conhecimento. Bock, furtado teixeira (2001, p. 19) definem a ciência como: A ciência compõe-se de um conjunto de conhecimentos sobre fatos ou as- pectos da realidade (objeto de estudo), expresso por meio de uma linguagem precisa e rigorosa. Esses conhecimentos devem ser obtidos de maneira pro- gramada, sistemática e controlada, para que se permita a verificação de sua validade. Assim, podemos apontar o objeto dos diversos ramos da ciência e saber exatamente como determinado conteúdo foi construído, possibilitan- do a reprodução da experiência. Dessa forma, o saber pode ser transmiti- do, verificado, utilizado e desenvolvido. [...] Essa característica da produção científica possibilita sua continuidade: um novo conhecimento é produzido sempre a partir de algo anteriormente desenvolvido. Negam-se, reafirmam- -se, descobrem-se novos aspectos, e assim a ciência avança. Nesse sentido, a ciência caracteriza-se como um processo. (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2001, p.19). Para fazer ciência se parte da ideia de que os fenômenos são determinados. No caso do estudo científico do comportamento humano, há visões filosóficas de que o com- portamento é determinado unicamente pela hereditariedade e ambiente, chama-se isso de determinismo (BAUM, 2006). Há posicionamentos contrários a esse entendimento filosófico, pois vai contra a noção de livre arbítrio muito familiar em sociedades cristãs. Skinner (2003) 25UNIDADE I Psicologia do Desenvolvimento 25UNIDADE II Psicologia da Aprendizagem relata que a filosofia preponderante da natureza humana considera impossível a previsão e o controle do comportamento humano. A noção de ciência que estuda o comportamento defendida por esse famoso pesquisador parte do pressuposto de que ele é ordenado (ou seja, certos acontecimentos estão relacionados com outros, como sentir a chuva e abrir uma sombrinha) e determinado (isto é, há condições específicas que influenciam fortemente em determinadas direções). Só pode haver estudo científico do comportamento humano porque ele não ocorre ao acaso. “Não se pode aplicar os métodos da ciência em assuntos ditados pelo capricho.”. (SKINNER, 2003, p. 7). O mesmo autor explica que a ciência é uma tentativa de encon- trar a ordem entre eventos, de mostrar que certos acontecimentos estão ordenadamente relacionados a outros. Para construir uma ciência que investiga de modo objetivo o agir do ser humano é preciso admitir que influências externas incidam sobre nossa vontade, o que gera estranheza e desagrado, como bem indica o controverso cientista: O ponto de vista alternativo insiste em reconhecer forças coercitivas na con- duta humana, que podemos preferir ignorar. Ameaça nossas aspirações, quer materiais, quer espirituais. Apesar do quanto possamos ganhar ao ad- mitir que o comportamento humano é objeto próprio de uma ciência, nenhu- ma pessoa que seja um produto da civilização ocidental pode assim pensar sem uma certa luta interior. Nós,simplesmente, não queremos essa ciência. (SKINNER, 2003, p.7). Lhe parece estranho cogitar que elementos externos influenciam suas escolhas sem que você tenha consciência deles? Embora Freud não tenha sido psicólogo, sua obra, a fundação da psicanálise, é muito fortemente relacionada com o conhecimento psicológico (como será melhor diferenciado na unidade 4). O próprio pai da psicanálise considerava o impacto de sua obra como a terceira grande ferida da humanidade, pois ela pressupõe que o ser humano não é tão racional e tão esclarecido sobre as causas que lhe movem. A explicação psicanalítica sobre nossas escolhas é que são predominantemente inconscien- tes, ou seja, haveria um determinismo inconsciente para nossos comportamentos. Se há um forte determinismo oriundo de conteúdos que não acessamos, inconscientes, há de fato livre arbítrio? Estudar o ser humano é lidar com perguntas profundas e questionar o que é aparentemente simples e óbvio. Você já pode ter assistido entrevistas com psicólogos sobre diversos assuntos, desde como resolver um problema específico ou questões bem gerais como o que fazer para viver bem. Mas, você sabe exatamente o que estuda a psicologia ? (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2001) defendem que o objeto de estudo é a subjetividade. 26UNIDADE I Psicologia do Desenvolvimento 26UNIDADE II Psicologia da Aprendizagem Descrevem que a subjetividade é: “[...] a síntese singular e individual que cada um de nós vai constituindo conforme vamos desenvolvendo e vivenciando as experiências da vida social e cultural[...]” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2011, p. 22). Conforme a exposi- ção de Bock; Teixeira; Furtado (2011, p. 7): O humano passa a ser pensado cada vez mais como indivíduo, como único. As experiências vividas são subjetivadas de forma individualizada. A noção de EU se fortalece. E a ciência que se propõe a cuidar, compreender e expli- car esse EU é a psicologia. A investigação sobre o que torna cada pessoa única se dá respeitando a individua- lidade, mas considerando os achados gerais que se aplicam a todos. É a característica da ciência observar cada fenômeno único a partir das leis gerais formuladas. A psicologia foi se configurando como uma ciência habilitada para pesquisar e dar respostas sobre o ser hu- mano em vários contextos, como nas indústrias, nas escolas, nos hospitais, nos sindicatos, na assistência social e na educação. Mas, afinal, o que estuda a psicologia? São vários os objetos de estudo da psicologia, algumas escolas psicológicas investigam o comportamen- to, outras a consciência, outras o inconsciente e ainda a subjetividade. Como tudo que se refere ao ser humano é complexo, não existe uma única forma de entender o ser humano, havendo muitos métodos e explicações usados na construção de conhecimentos sobre o humano. Feldman (2015) define de modo sucinto a psicologia como o estudo científico do comportamento e dos processos mentais. Já o trabalho dos psicólogos o autor afirma que visam descrever, prever e explicar o comportamento e os processos mentais humanos para melhorar a vida das pessoas e o mundo em que vivemos. Embora haja muita diversidade de definições sobre a psicologia, todos concordam que existe enorme necessidade dessa ciência e dessa profissão em muitas atividades humanas. A aplicação da psicologia, em vários campos de atuação, dá-se inicialmente de modo tímido e bem pontual e aos poucos passa a agir e refletir em um escopo mais amplo, como aoampliar seu foco da instituição escolar para a educação como um todo. A educação é tema de investigações e debates intensos e contínuos dentro da psi- cologia. Portanto, passaremos agora a enfocar a relação entre a psicologia e a educação. 27UNIDADE I Psicologia do Desenvolvimento 27UNIDADE II Psicologia da Aprendizagem 2. A PSICOLOGIA E A EDUCAÇÃO A psicologia emprega conhecimentos dos seus vários ramos para propiciar o de- senvolvimento intelectual, social e emocional do indivíduo. A psicologia tem como dever auxiliar na reflexão sobre o que é educação. Khouri (2014) descreve a educação como atividade que participa da totalidade da organização social, integrada no processo de rela- ções de produção. Ainda segundo esse autor, a psicologia aplicada à educação visa facilitar a autorrealização e promover a saúde mental. A educação é objeto de estudo da psicologia, sendo assim, criou-se um ramo dessa chamada de psicologia da educação/educacional. A psicóloga Souza (2021, p. 27) detalha que “No âmbito da Psicologia Educacional, a (o) aluna (o), seus aprendizados e outras questões que a (o) permeiam são analisados de maneira global, tecendo uma rede que leva em consideração suas relações dentro e fora da instituição”. A educação, nas palavras de Sacristan (2001, p.21): A educação contribuiu consideravelmente para fundamentar e para manter a ideia de progresso como processo de marcha ascendente na História; as- sim, ajudou a sustentar a esperança em alguns indivíduos, em uma socieda- de, em um mundo e em um porvir melhores. A fé na educação nutre-se da crença de que esta possa melhorar a qualidade de vida, a racionalidade, o desenvolvimento da sensibilidade, a compreensão entre os seres humanos, o decréscimo da agressividade, o desenvolvimento econômico, ou o domínio da fatalidade e da natureza hostil pelo progresso das ciências e da tecno- logia propagadas e incrementadas pela educação. Graças a ela, tornou-se possível acreditar na possibilidade de que o projeto ilustrado pudesse triunfar devido ao desenvolvimento da inteligência, ao exercício da racionalidade, à utilização do conhecimento científico e à geração de uma nova ordem social mais racional. 28UNIDADE I Psicologia do Desenvolvimento 28UNIDADE II Psicologia da Aprendizagem A psicologia e a educação se congregam em dois campos de produção de conheci- mento e atuação que se imbricam de modo indissociável; psicologia educacional/escolar. Andrada et al. (2019) diferencia a psicologia educacional como a área de conhecimento da psicologia que se dedica à construção de saberes fundamentado em concepções ontológicas, epistemológicas, metodológicas e éticas determinadas. Enquanto isso, a psicologia escolar se preocupa com conhecimentos e práticas que devem subsidiar a atuação dos profissionais, tendo como objeto a escola e as relações que nela se desen- volvem, com foco em práticas educativas. Ou seja, há mais de um ramo da psicologia a se dedicar à educação. FIGURA 1 - A APRENDIZAGEM SE FAZ COM A UNIÃO DE MUITOS SABERES A educação é a mola propulsora da sociedade. Pensá-la requer apoio de várias disciplinas, entre elas a psicologia educacional e escolar. Uma discussão muito atual que impacta na sociedade, e por tanto na educação, é a convivência entre os diferentes. Apren- de-se a reconhecer a pluralidade de culturas e a valorizar as diferenças. Na escola sempre se valorizou a homogeneização e a padronização, mas com o advento do enaltecimento de inovação e criatividade no mundo do trabalho, com o grande desemprego estrutural ameaçando e o empreendedorismo em alta, o modelo de educação tradicional precisou ser revisto. Enquanto homogeneidade leva ao mesmo, a diferença leva ao questionamento e criação. O desafio está em possibilitar a presença da diversidade, o que requer práticas educativas em que a diferença seja valorizada. Neste enorme desafio pelo qual passa a educação brasileira os conhecimentos e reflexões da psicologia como um todo, e da psico- logia da educação e escolar principalmente, podem auxiliar. Cabe lembrar que o protago- nismo de pensar a educação abarca todos os trabalhadores envolvidos com a educação. Passaremos a discussão sobre a psicologia e o desenvolvimento humano. 29UNIDADE I Psicologia do Desenvolvimento 29UNIDADE II Psicologia da Aprendizagem 3. A PSICOLOGIA E O DESENVOLVIMENTO HUMANO A psicologia é uma ciência que se relaciona com várias áreas do conhecimento e visa dar apoio a muitas intervenções em diversos campos e faixas etárias. Desde sua incorporação ao ramo das ciências, a infância foi seu foco, principalmente na compreensão e mensuração da inteligência. Stratton e Hayes (2009, p. 187) explicam que: A psicologia tem sido definida de várias maneiras, dependendo das tendências dos pesquisadores no momento em que a definição foi formulada. Ela tem sido diferentemente definida como o ‘estudo da mente’, ‘o estudo do comporta- mento’, ‘o estudo da experiência humana’ e ‘o estudo da vida mental’. É difícil elaborar uma definição que satisfaça a todos, embora possamos afirmar que ela compreende o estudo do comportamento e da explicação teórica. Sabemos que a psicologia não é algo simples de se conceituar pela sua multipli- cidade de métodos e objetos de estudo, contudo, a psicologia do desenvolvimento pode ser mais facilmente especificada, como explica Griggs (2009, p. 236): “A psicologia do desenvolvimento é o estudo científico do desenvolvimento biológico, cognitivo, social e da personalidade ao longo de todo o período da vida”. Bee e Boyd (2011, p. 38) ensinam que: “A psicologia do desenvolvimento usa o método científico para alcançar suas metas: descrever, explicar, prever e influenciar o desenvolvimento humano da concepção à morte.” O objetivo é dar explicações coerentes que possam ajudar a compreender e intervir no de- senvolvimento humano para que seja o mais saudável possível dentro de condições reais. Ao falar sobre desenvolvimento humano nos referimos às mudanças e desenvolvimento mental e orgânico que ocorrem de modo geralmente previsível em nossa espécie.A psicologia lança luz sobre a infância, partindo de metodologias que diminuam o impacto de concepções prévias (e 30UNIDADE I Psicologia do Desenvolvimento 30UNIDADE II Psicologia da Aprendizagem até preconceituosas) sobre o desenvolvimento quando o cientista investiga a evolução de aspectos físicos e mentais. Há muitos dados que comprovam que a criança não pensa como um adulto, pois suas estruturas neurológicas ainda são imaturas. Portanto, a criança não é um adulto em miniatura. O que demonstra a relevância de uma ciência que se dedique à infância. Um aspecto que ainda suscita muitas dúvidas sobre o desenvolvimento é quanto ao tempera- mento e personalidade. Papalia e Feldman (2014) explicam que o temperamento é de base biológica e determina como as pessoas reagem a situações como novidades e mudanças. Já a personalidade é a combinação coerente entre temperamento, emoções, pensamentos e comportamentos. Com a interação entre temperamento do bebê e dos cuidadores vai se constituindo a personalidade da criança. Veja abaixo uma categorização de temperamento. QUADRO 1 - PADRÕES INATOS DE TEMPERAMENTO CRIANÇA FÁCIL CRIANÇA DIFICIL CRIANÇA DE AQUECIMENTO LENTO Humor oscila entre brando e moderado, geralmente positivo. Expressa humores intensos e geralmente negativos, chora com frequência com muita intensidade. Apresenta reações razoavelmente intensas, tanto positivas quanto negativas. Responde bem a novidades e mudanças. Não responde bem a novidades e mudanças. Responde lentamente a novidades e mudanças. Desenvove rapidamente horários regulares para o sono e a alimentação. Dorme e se alimenta de maneira irregular. Dorme e se alimenta com mais regularidade que a criança difícil, mas com menos regularidade que a criança fácil. Passa a ingerir novos alimentos com facilidade. Demora a aceitar novos alimentos.A resposta inicial a novos estímulos é moderadamente negativa (primeiros contatos com pessoas, lugares ou situações desconhecidas). Sorri para estranhos. Desconfia de estranhos. Adapta-se facilmente a novas situações. Adapta-se lentamente a novas situações. Aceita a maior parte das frustrações sem muito estardalhaço. Reage furiosamente a frustrações. Adapta-se rapidamente a novas rotinas e regras de novas brincadeiras. Ajusta-se lentamente a novas rotinas. Aceita gradualmente novos estímulos, depois de repetidas exposições e sem pressão. Fonte: Papalia; Feldman (2014, p. 216). 31UNIDADE I Psicologia do Desenvolvimento 31UNIDADE II Psicologia da Aprendizagem Estudar o desenvolvimento humano é buscar conhecer e compreender as carac- terísticas comuns de cada faixa etária, como o modo de fazer julgamentos morais e capa- cidade maior ou menor de se colocar na perspectiva do outro. Com o estudo sistemático é possível reconhecer as individualidades e possibilidades de cada faixa etária (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2001). Sobre o desenvolvimento mental, podemos citar a teoria de Vygotsky, pesquisa- dor russo cuja obra foca nas relações históricas e sociais do ser humano. Vygotsky (1984) conceitua o desenvolvimento da mente como caracterizado pelo gradual surgimento de estruturas mentais superiores, em decorrência do contato com o ambiente social. Ao nascer o ser humano já teria as mesmas estruturas básicas também presentes em outras espécies de mamíferos, como atenção involuntária, certo grau de memória e motivação. Ao longo da interação do bebê com seu meio social as formas de organização da ativi- dade mental vão se aperfeiçoando até atingir um estado de equilíbrio superior quanto a inteligência, afetividade e relações sociais. Conhecer o desenvolvimento humano é fundamental para que se possa planejar o que ensinar e como fazer isso, porque para preparar as condições de ensino é preciso saber quem é o educando. Tanto o desenvolvimento quanto a educação são afetados pela interação de vários fatores. Abaixo nos deteremos no que influencia na aprendizagem. 32UNIDADE I Psicologia do Desenvolvimento 32UNIDADE II Psicologia da Aprendizagem 4. FATORES QUE INTERFEREM NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM Passamos muito tempo aprendendo coisas novas e somos conscientes do que sabemos fazer e o que não sabemos, como ao ter habilidade para dirigir um carro, mas não para pilotar um avião. Como já discutido na unidade 1, grande parte do que os seres humanos sabem fazer e de suas reações emocionais foi adquirido por meio da aprendi- zagem. Mas, afinal, o que é mesmo aprendizagem?Muitas são as definições de apren- dizagem, para discutir sobre os fatores que influenciam no processo de aprendizagem, vamos ver alguns conceitos. A aprendizagem corresponde às mudanças de comportamento relacionadas com as experiências. A aprendizagem para Souza e Teixeira Jr (2006) é qualquer mudança relativamente estável no repertório de um organismo que lhe permita emitir novos com- portamentos. Em Abbagnano (2007, p. 75) temos uma definição bem completa, pois é a: “Aquisição de uma técnica qualquer, simbólica, emotiva ou de comportamento, ou seja, mudança nas respostas de um organismo ao ambiente, que melhore tais respostas com vistas à conservação e ao desenvolvimento do próprio organismo”. Para Stratton; Hayes (2009, p. 15) aprendizagem é: “Uma mudança relativamente duradoura no conhecimento, no comportamento ou na compreensão que resulta da experiência. Comportamentos ina- tos, maturação e fadiga são excluídos”. 33UNIDADE I Psicologia do Desenvolvimento 33UNIDADE II Psicologia da Aprendizagem Aprender é fundamental para que cada indivíduo da nossa espécie sobreviva e a espécie se mantenha. Pode-se dividir basicamente em dois grandes fatores as influências sobre a aprendizagem: fatores intrapessoais e situacionais. Fatores intrapessoais são os fatores individuais resultado da interação entre genética, história individual e acesso a edu- cação formal (como escolas) e informal (como, por exemplo, museus) de qualidade. Ainda entre esses fatores podemos citar o nível de inteligência, nível de sociabilidade, padrões familiares sobre valorização da leitura e motivação para a área acadêmica, personalidade, crença de autoeficácia e presença ou ausência de distúrbios da aprendizagem. Quanto aos fatores situacionais há o aspecto social, como as condições físicas da escola, maior ou menor proximidade dos alunos com os funcionários. De modo amplo, esses fatores são os que não dependem da hereditariedade, mas sim das experiências sobre o desenvolvimento. FIGURA 2 - ACESSO A INTERNET DE QUALIDADE PERTENCE AOS FATORES SITUACIONAIS Para termos maior clareza da interação entre fatores intrapessoais e situacionais cabe lembrar do conceito de distúrbio de aprendizagem, de acordo com Smith e Strick (2012, p. 14): “[...] problemas neurológicos que afetam a capacidade do cérebro para en- tender, recordar ou comunicar informações”. Os distúrbios de aprendizagem podem ser classificados como pertencendo aos fatores intrapessoais, porque estão relacionados a falha na aquisição, processamento e/ou armazenamento da informação em áreas e cir- cuitos neuronais do Sistema Nervoso Central. Embora se trate de um aspecto biológico, a presença desse distúrbio não é um limitador de aprendizagem por si mesmo, pois interagem 34UNIDADE I Psicologia do Desenvolvimento 34UNIDADE II Psicologia da Aprendizagem com os aspectos ambientais, os chamados fatores situacionais, intensificando ou ameni- zando a manifestação do distúrbio. Se o ambiente escolar é apropriado para identificar e auxiliar pedagogicamente um aluno com distúrbio de aprendizagem, o aluno consegue obter bom rendimento. Já um ambiente escolar que oferece pouca assistência ao aluno e a sua família pode acentuar as dificuldades, diminuindo a motivação do aluno e afetando negativamente seu desempenho. O aspecto situacional desfavorável se manifesta com a Dificuldade Escolar, que é quando a criança não aprende, ou fica muito abaixo do seu potencial, em decorrência de um problema pedagógico relacionado à falta de adaptação ao método de ensino, à escola em si e a outros problemas de cunho acadêmico. Mesmo nos distúrbios graves, como a dislexia (que interfere na capacidade de leitura), com forte base biológica, é o ambiente no qual o aluno está inserido que modula a gravidade da manifes- tação do distúrbio, segundo Smith e Strick (2012). De acordo com as autoras, mesmo que as dificuldades de aprendizagem tenham como origem problemas fisiológicos, a extensão da gravidade com que o aluno é afetado depende do ambiente em que vive. A manifestação de um déficit leve ou incapacitante depende das condições em casa e da escola. Sendo possível entender plenamente as dificuldades de aprendizagem somente ao entendermos os ambientes doméstico e escolar. Tanto o ambiente doméstico como escolar podem ajudar na construção de crença de autoeficácia, pois, conforme acentuam Smith e Strick (2012), crianças que recebem incentivos de modo carinhoso tendem a apresentar atitudes positivas sobre si e sobre aprender. Observa-se nos alunos com dificuldades de aprendizagem, mas que recebem estímulo e apoio adequado em casa, que usam áreas em que são fortes para compensar as áreas em que são fracos. Em compensação, crianças que cresceram em ambiente pouco estimulante nos primeiros anos de vida podem se tornar jovens mais lentos na aquisição das habilidades cognitivas básicas, parecendo ter dislexia, por exemplo, quando não tem. Muitos desses parecem antecipar o fracasso e desistir antes de tentar. É sabido que crianças pobres estão mais expostas a riscos ambientais, como vizi- nhança perigosa, escola que não oferece segurança, maior risco de lesões e pais que não valorizam o estudo. Smith e Strick (2012) denunciam que se o sistema escolar não propicia oportunidadesapropriadas de aprendizagem, talvez os alunos nunca desenvolvam todas as suas habilidades. 35UNIDADE I Psicologia do Desenvolvimento 35UNIDADE II Psicologia da Aprendizagem SAIBA MAIS Profecia auto-realizada. Uma afirmação que se torna verdadeira em função de ter sido feita. O exemplo clássico da profecia auto-realizada em ação vem do trabalho elabora- do por Rosenthal, no qual foram dados a estudantes de graduação um grupo de ratos experimentais para treinamento em labirinto de corrida. Apesar de não haver diferença observável no comportamento entre os ratos no início do experimento, dizia-se aos estudantes que eles podiam esperar que alguns ratos iriam aprender muito rápido, en- quanto os outros seriam mais lentos. Os ratos tiveram um desempenho de acordo com aquelas afirmações, pois as mesmas haviam induzido as expectativas dos estudantes, o que afetou o modo como eles manipularam os animais durante o treinamento. Estudos realizados posteriormente por Rosenthal e seus colegas demonstraram o poder das ex- pectativas mantidas pelos professores em relação a seus alunos, bem como a profecia auto-realizada passou a ser considerada hoje como uma principal influência social que precisa controle na investigação psicológica. Fonte: Stratton e Hayes (2009, p. 184). REFLITA As cores da vida,são as que pintamos. José de Anchieta https://www.pensador.com/autor/jose_de_anchieta/ 36UNIDADE I Psicologia do Desenvolvimento 36UNIDADE II Psicologia da Aprendizagem CONSIDERAÇÕES FINAIS Compreender que toda ciência que estuda o ser humano é rica em complexidade é um pré-requisito para se iniciar na longa jornada de busca de conhecimento. Falar sobre o ser humano requer aceitar que não há verdades absolutas e universais, não ao utilizar-se do fazer científico. Em algumas descrições da psicologia se dá ênfase no comportamento, no consciente ou inconsciente. Tal aspecto reflete a complexidade humana. A psicologia é um vasto campo do saber com diversas interfaces e possibilidades de intervenção. Dentro da psicologia, dois principais ramos se dedicam à educação. A educação como um todo é debatida de modo mais teórico na psicologia da educação e a vida escolar de modo prático na psicologia escolar, contudo, ambas levam reflexões, sensibilizações e novas ideias no entendimento do belo processo de ensino-aprendizagem. Um dos elementos em pauta na educação é a diversidade. Se no início a psicologia entrou na educação para diagnosticar e favorecer a homogenização entre alunos, hoje ela ajuda a refletir e a lidar com a diversi- dade, algo tão presente na vida escolar e que quanto mais respeitada e valorizada, mais se promove a saúde mental e uma sociedade mais justa. Já os conhecimentos da psicologia do desenvolvimento ajudam a explicar, prever e influenciar, aspectos que auxiliam o educa- dor a compreender e a executar seu trabalho de modo mais consciente em seus impactos. Compreender o desenvolvimento requer ter noção clara do que é aprendizagem, visto que a aprendizagem interfere no desenvolvimento. Os educadores necessitam ter noção do quanto fatores biológicos e sociais interagem intensificando ou amenizando transtornos ou questões emocionais que interferem no processo de aprendizado. Quanto mais cons- ciência houver de que o ser humano está em constante transformação em decorrência das interações sociais que vive, mais a educação pode ser respeitosa e agregar valor individual e coletivamente. 37UNIDADE I Psicologia do Desenvolvimento 37UNIDADE II Psicologia da Aprendizagem LEITURA COMPLEMENTAR Fatores determinantes no tempo de tela de crianças na primeira infância Este estudo investigou os fatores determinantes para o tempo de tela de crianças de 24 a 42 meses, considerando ser este um período importante para o desenvolvimento infantil. Na pesquisa, 63,3% das crianças têm tempo de tela superior a 2 horas/dia, concor- dando com os relatórios da Commom Sense Media, Read Aloud Survey Report desenvolvi- dos nos Estado Unidos, que também encontraram valor superior a duas horas/dia de tempo de exposição de crianças. Estudos desenvolvidos em Cingapura também encontraram uma prevalência de mais de 2 horas/dia de exposição em crianças na primeira infância. Os resultados das pesquisas supracitadas e também os evidenciados do presente estudo contrariam a recomendação da AAP, que preconiza a exposição diária em até duas horas para crianças de 2 a 5 anos de idade, incluindo o uso de todas as mídias. No entanto, em um novo documento de orientações para pais e pediatra a recomendação da AAP se tornou mais conservadora, ou seja, o tempo de tela passou a ser de até 1 hora/dia para crianças de 2 a 5 anos de idade. Esta última recomendação também é preconizada pela Associação Brasileira de Pediatria, entretanto, a literatura aponta estudos que afirmam que os pais têm dificuldade de incorporar a recomendação de limitação de tempo de tela na rotina de seus filhos, uma vez que o tempo de tela dos adultos também é alto. No presente estudo, 94,5% das crianças estavam expostas às telas, principalmen- te à televisão (61%), seguida das mídias interativas portáteis, smartphone (41%) e tablet (22%). Constatou-se que poucas crianças nesta faixa de idade fazem uso de videogames (4% da amostra), mídia popular entre crianças maiores. Quanto à TV, a literatura associa a sua exposição intensa ao atraso da linguagem, à dificuldade de interação social, à forma- ção do estilo de vida sedentário e pouco estímulo à criatividade. Embora a televisão ainda continue a ser a mídia mais comum entre crianças, é relevante considerar a tendência e o papel cada vez mais marcante de mídias interativas móveis. Por ser considerada uma tecnologia recente, os estudos sobre as mídias interativas e seu impacto na saúde e o desenvolvimento infantil começam a emergir na literatura. Embora ainda controverso, os estudos indicam que o uso parcimonioso destas mídias, diferente da televisão por permitir o toque de tela e interação da criança com seu conteúdo, pode contribuir positivamente para o desenvolvimento cognitivo, linguístico e motor fino infantil. [...]. 38UNIDADE I Psicologia do Desenvolvimento 38UNIDADE II Psicologia da Aprendizagem A escolaridade paterna está associada a melhores oportunidades de estimulação no lar. Esta estimulação pode ser entendida, como por exemplo, por oferecer um ambiente que contenha recursos para aprendizagem, no qual as mídias interativas também estejam presentes. Sugere-se ainda que os pais que tenham maior escolaridade façam mais o uso de mídia em sua rotina, o que pode influenciar diretamente no tempo de tela da criança. A escolaridade materna tem sido apontada como uma importante preditora para o crescimento, a saúde e o desenvolvimento infantil. É possível que as mães com maior escolaridade materna disponibilizem maiores recursos para o desenvolvimento infantil, utili- zando a mídia interativa como recurso para promoção do aprendizado. Vectore et al. fazem uma reflexão sobre a criança na contemporaneidade e afirmam que a vida em sociedades altamente competitivas intensificou a preocupação e o desejo da mãe moderna na busca de super qualificação dos filhos, com atividades diversificadas e exposição precoce ao mundo do adulto altamente tecnológico, visando um futuro distante de sucesso na fase adulta, mas construído desde os primeiros anos de vida. Os recursos que promovem processos proximais apresentaram associação positi- va com o maior tempo de tela. Quanto mais disponibilidade de brinquedos e materiais que aprendizagem em casa, maior a possibilidade de haver recursos tecnológicos como mídias interativas, computadores e televisão e, portanto, maior tempo de exposição às telas. [...] Quanto à linguagem, há associação entre o uso da TV a atrasos na linguagem em crianças. Entretanto, o presente estudo investigou o tempo de tela, incluindo as mídias interativas. Reichet al., em uma revisão de pesquisas em aprendizagem de crianças a partir de telas afirmam que, ebooks bem projetados propiciam às crianças aprendizagem igualmente bem, e às vezes mais do que dos livros impressos. Porém, os autores ressaltam que ebooks aprimorados com sons, animações e jogos podem distrair as crianças e reduzir a aprendizagem. Há evidências na literatura de que aplicativos educacionais contribuem para o au- mento lexical em crianças e pode ensinar habilidades de leitura e alfabetização. Consoante com este entendimento, em seu estudo sobre interatividade, toque de tela e aprendizagem da criança, Russo-Johnson et al. associaram positivamente o uso de tablet na aprendiza- gem de palavras com provável transferência de aprendizagem ao objeto real, corroborando com Huber et al., que identificaram em sua pesquisa com crianças de 4 a 6 anos de idade, a capacidade de aprender e transferir aprendizagem de um dispositivo de toque de tela, aplicando esse conhecimento em suas interações. 39UNIDADE I Psicologia do Desenvolvimento 39UNIDADE II Psicologia da Aprendizagem No entanto, a literatura enfatiza a importância de se levar em consideração alguns fatores para o uso das mídias interativas por crianças na primeira infância: a restrição do tempo e seu conteúdo; atividades interativas versus atividades passivas; uso para diversão ou aprendizado em contraposição ao uso para “deixar a criança quieta” e principalmente, a importância da presença do adulto como mediador. A presença de um adulto compartilhan- do com a criança a experiência de leitura para interpretar, dialogar e discutir propicia uma melhor interpretação e estimula o desenvolvimento da linguagem, o que diferencia do fato da criança interagir por ela mesma com a mídia interativa. Fonte: NOBRE et al. (2021, p. 1130-1134). 40UNIDADE I Psicologia do Desenvolvimento 40UNIDADE II Psicologia da Aprendizagem MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Lutando contra as trevas: minha professora Anne Sullivan Macy Autor: Hellen Keller Editora: Fundo de cultura S. A. Sinopse: Hellen conta a sua história de lutas para estudar com a companhia e incentivo constante de sua professora Anne Sullivan, pessoa que sempre se esforçou para que Hellen atingisse seu potencial. A história de aluna e professora se confundem em uma trama em busca de inclusão. FILME/VÍDEO Título: Helen Keller - O milagre de Anne Sullivan Ano: 2000 Sinopse: Baseado em uma história real que conta o desafio viven- ciado pela professora Anne Sullivan ao se dedicar a ensinar Helen Keller, uma menina cega e surda, muito superprotegida pelos pais. Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=OR7stkBVeJE 41 Plano de Estudo: ● Aspectos Psicológicos da Educação; ● Relações entre Desenvolvimento Humano e Aprendizagem; ● Aprendizagem e Maturidade. Objetivos da Aprendizagem: ● Conceituar e contextualizar aspectos emocionais na aprendizagem; ● Compreender os estágios do desenvolvimento; ● Estabelecer a importância da relação entre desenvolvimento e aprendizagem. UNIDADE III Psicologia da Educação e Psicologia do Desenvolvimento Professora Me. Carolina dos Santos Jesuino da Natividade 42UNIDADE III Psicologia da Educação e Psicologia do Desenvolvimento INTRODUÇÃO A educação formal demanda muitos conhecimentos de áreas diversas para poder ter um olhar amplo sobre o processo ensino-aprendizagem. A psicologia da educação e a do desenvolvimento se complementam e influenciam-se reciprocamente, gerando novos co- nhecimentos e possibilidades de intervenção baseada no que se sabe sobre como crianças se desenvolvem e que aprendizagens são mais fáceis e mais difíceis em cada momento. Quando os educadores reconhecem singularidades do desenvolvimento das crianças que acompanham fica mais simples compreender se os comportamentos e aprendizagens são os que se espera em dada fase ou se estão aquém ou além. É necessário reconhecer o impacto das emoções no processo de aprendizagem para que ela não limite o potencial do aluno nem interfira negativamente na relação entre alunos e entre aluno e professor. Visa-se discutir se há momentos muito favoráveis para certos tipos de aprendizagem e se a pessoa não aprender nesse período é possível desenvolver habilidades bem específicas como a linguagem. A plasticidade na aprendizagem tem sido observada em situações extre- mas de baixa interação humana durante o desenvolvimento, levando a casos excepcionais de desenvolvimento com baixíssima aprendizagem no período em que frequentemente a criança tem uma explosão de assimilação de palavras novas. Mas a plasticidade é uma grande inspiração e motivação para que se ensine mesmo aqueles cuja história parece não ter favorecido. Pois pode-se aprender sempre! A relação entre desenvolvimento e apren- dizagem na infância é muito próxima e foi muito bem investigada por Piaget (1978), que formulou uma teoria sobre o desenvolvimento do conhecimento baseado em observações sistemáticas com crianças de várias idades. Amparado nesse conhecimento o educador pode compreender o modo de pensar em cada momento da infância e se preparar para suas especificidades. 43UNIDADE III Psicologia da Educação e Psicologia do Desenvolvimento 1. ASPECTOS PSICOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO Durante muito tempo na história, a própria família tinha como responsabilidade educar suas crianças para o trabalho. Com o processo de educação para a vida laboral cada vez mais distante da família, com sua formalização cabendo à instituição escola, observou-se a necessidade de vários saberes para se atingir os objetivos da educação. Quando as interações entre pessoas de valores e background (condições que antece- dem uma situação, base de conhecimentos anteriores) diferentes se tornam intensas e frequentes é natural surgirem questionamentos sobre como interagir de modo harmônico. Se inicialmente a escola apenas observava o lado acadêmico de seus integrantes, com as experiências dentro de seus muros se observou que o lado emocional é fundamental na aprendizagem e obtenção de objetivos a longo prazo. Atualmente, é muito mais comum reconhecer o impacto positivo e negativo do lado psicológico na educação. Félix (2007) ressalta o lado emocional como um aspecto que pode prejudicar a aprendizagem quando desvalorizado no ambiente escolar. O impacto dos problemas emo- cionais pode não ser claro pois: “A primeira dessas razões é que um número significativo de alunos com dificuldades de aprendizagem tem, ao mesmo tempo, dificuldades emocionais, sociais e de conduta” (p.113). O mesmo autor destaca que o National Joint Committee of Learning Disabilities (Comitê Nacional Conjunto sobre Dificuldades de Aprendizagem) incluiu as deficiências de habilidades sociais na definição de problemas específicos de aprendizagem. Algo que faz muito sentido pois há elementos sociais na inteligência, como- persistir em uma atividade que exige muito treino, como afirma Goleman (2001) ao descre- ver que os melhores músicos e atletas são aqueles que se dedicaram várias horas a mais 44UNIDADE III Psicologia da Educação e Psicologia do Desenvolvimento de treino por semana do que os demais em sua área, atingindo a excelência devido ao fator emocional que leva a persistência. A interação entre inteligência emocional e desempenho acadêmico é reafirmada em Félix (2007, p.113): De fato, não se pode entender o lugar que as pessoas ocupam na socieda- de sem levar em conta a ‘inteligência emocional’, entendida não como mera capacidade acadêmica, mas também como a capacidade de saber usar os recursos emocionais e sociais na vida real. Por muitos anos a educação formal apenas atentou para as capacidades acadê- micas e a inteligência lógico-matemática e linguística. O que é pouco eficiente. Os dados obtidos com a observação sistemática de pessoas que utilizaram bem suas capacidades acadêmicas demonstra o quanto o emocional é um fator diferenciador que pode modular o quanto se expressará os
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