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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/331439320 Pedagogia Socioeducativa, adolescência e conflitualidade Chapter · March 2019 CITATIONS 0 READS 420 2 authors: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: Universidade Federal de São Paulo View project A integridade física e social de adolescentes View project Silvia Piedade de Moraes Universidade Guarulhos 46 PUBLICATIONS 61 CITATIONS SEE PROFILE José Roberto da Silva Brêtas Universidade Federal de São Paulo 68 PUBLICATIONS 414 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Silvia Piedade de Moraes on 01 March 2019. 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A responsabilidade pelo conteúdo dos textos desta obra é dos respectivos autores e autoras, não significando a concordância dos or- ganizadores e da instituição com as ideias publicadas. © TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, especialmente por sistemas gráficos, microfílmicos, fotográficos, reprográfi- cos, fonográficos, videográficos. Vedada a memorização e/ou a recuperação total ou parcial, bem como a inclusão de qualquer parte desta obra em qualquer sistema de processamento de dados. Essas proibições aplicam-se também às características gráficas da obra e à sua editora- ção. A violação dos direitos é punível como crime (art.184 e parágrafos do Código Penal), com pena de prisão e multa, busca e apreensão e indenizações diversas (art. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, Lei dos Direitos Autorais). Rumos da Educação 3 CONSELHO EDITORIAL Ivanio Dickmann - Editor Chefe - Brasil Aline Mendonça dos Santos - Brasil Fausto Franco Martinez - Espanha Jorge Alejandro Santos - Argentina Miguel Escobar Guerrero - México Carla Luciane Blum Vestena - Brasil Ivo Dickmann - Brasil José Eustáquio Romão - Brasil Enise Barth Teixeira – Brasil FICHA CATALOGRÁFICA _______________________________________________________ R867 Rumos da educação 8 / Ivanio Dickmann (organi- zador). 1.ed. – São Paulo: Dialogar, 2018. ISBN 978-85-93711-63-3 1. Educação – Aspectos políticos. 2. Educação - Fi- nalidades e objetivos. 3. Pedagogia. I. Dickmann, Ivanio. II. Título. CDD 370.1 _______________________________________________________ Ficha catalográfica elaborada por Karina Ramos – CRB 14/1056 EDITORA DIÁLOGO FREIRIANO dialogar.contato@gmail.com www.dialogofreiriano.com.br Rumos da Educação 4 Ivanio Dickmann [organizador] Rumos da Educação Volume VIII Diálogo Freiriano São Paulo – SP 2018 Rumos da Educação 5 ÍNDICE Rumos coletivos para a educação Ivanio Dickmann...................................................................07 Alfabetização 100% Vanclei Ferreira Duarte ....................................................... 09 Currículo, diferenças e identidades: tendências da escola quilombola Mauricio Teixeira dos Reis .................................................. 33 Serviço social na educação: a inserção do assistente social na unidade escolar Ângela Pereira Gregório, Fernando Antônio C. C. do Ama- ral, Márcia Carla V. Bispo, Rejane Lima de Queiroz ......... 51 A educação humanista com um olhar sobre o próprio homem Sebastiana Nunes da Costa, Luiz Alberico Barbosa Falcão .............................................................................................. 65 Educação, currículo e tecnologias: desafios da ação docente universitária Raquel Karpinski, Shirlei Alexandra Fetter ....................... 77 A formação continuada como uma política educacio- nal para a melhoria do IDEB no município de Santa Rita – MA Shirleidy de Sousa Freire, Angélica Maria Frazão de Souza ............................................................................................ 101 Todos juntos por uma educação inclusiva Cristiane de King e Campos, Silvana Alves Queiroz ........ 119 Rumos da Educação 6 Pedagogia socioeducativa, adolescência e conflituali- dade Profa. Dra. SilviaPiedade de Moraes, Prof. Dr. José Roberto da Silva Brêtas ................................................................... 143 Questões de gênero, sexualidade e sexismo na pers- pectiva da educação inclusiva Stefannia Domingues Pires B Suguita, Ellen Cristine Vian Bulima ................................................................................ 163 A importância da leitura na educação básica Tânia Maria Figueiredo Barreto Freitas ......................... 193 Gêneros e sexualidades na escola em tempos de con- servadorismo censor policialesco Tássio Acosta ...................................................................... 211 Educar na era digital: direcionamentos acerca das tecnologias digitais de informação e comunicação Beatriz Haas Delamuta, Thaís Andressa Lopes de Oliveira, Natany Dayani de Souza Assai, Juliana Costa Rolim Gal- vão....................................................................................... 229 A sala de aula como lugar legítimo para contrapor o afropessimismo na educação brasileira. Valnei dos Santos Souza .................................................... 247 Educação sexual de adolescentes: dos parâmetros curriculares nacionais à prática docente Vicente Gregório de Sousa Filho ....................................... 283 Temática ambiental e o processo educativo: diálogos necessários Victor Hugo de Oliveira Henrique ..................................... 307 Rumos da Educação 7 RUMOS COLETIVOS PARA A EDUCAÇÃO Cada vez que me proponho a organizar uma coletâ- nea de artigos de educadores e educadoras me sinto aminado com os resultados da chamada que fazemos aqui na editora Diálogo Freiriano. Nunca faltam pessoas inscritas para par- ticipar desta empreitada. Isso, na minha percepção, demons- tra que há um desejo permanente destes educadores e edu- cadoras de compartilhar. E quando me refiro a compartilhar, quero dizer uma partilha verdadeira, onde noto em cada artigo um compro- misso com o tema elaborado. É uma oportunidade que não passa despercebida pelos escritores e escritoras: registrar suas práxis pedagógicas e torná-las conhecidas, para que ou- tros educadores e educadoras possam utilizá-las e melhorar ainda mais suas intervenções. Vejam que quando publicamos, não estamos fazendo isso só para o nosso avanço profissional, estamos criando uma possibilidade de dialogar com o mundo. Sim, com o mundo, porque um livro é um canal permanente de dissemi- nação da informação... ele é perene... e “trabalha” pra nós mesmo quando nem estamos mais pensando em nossos escri- tos. Alguém vai estar lendo nosso texto e se conectando co- nosco. É mágico, não é mesmo? Acredito que é esta capacidade de nos conectar que faz de cada artigo desta obra um elemento que aumenta muito nossa autoridade enquanto pensadores e pensadoras da educação no Brasil. Pois nossas ideias não valem muita coisa “dentro” da nossa cabeça. Elas só ganham sentido e são colocadas à prova no diálogo com outras pessoas. É no diálogo que nos afirmamos e nos re-afirmamos, ou seja, confirmamos ou não nossas convicções. E, desta forma, conseguimos avan- çar mais. Precisamos dos outros para avançarmos e simulta- neamente avançamos juntos. Rumos da Educação 8 Espero que esta coletânea “Rumos da Educação” possa levar quem escreveu mais longe. Tanto no seu trabalho de escrita quando se auto-reflete, quanto no seu trabalho de leitura dos demais artigos, quando se põe na postura de aprendiz dos seus colegas de livro. Novos rumos surgirão à nossa frente a cada artigo lido. Novas formas de viver e vi- venciar a educação serão disponibilizadas por nossos compa- nheiros e companheiras de escrita. Sigamos por estas novas trilhas confiantes que nos levarão a uma nova e transforma- dora forma de educar. E, por fim, mas não menos importante, gostaria de deixar registrada a minha gratidão pela oportunidade de fa- zer parte deste avanço coletivo pelos rumos da educação. Or- ganizar vossos textos nesta coletânea, eu confesso, é um tra- balho prazeroso. Adoro o que faço, amo meu ofício de editor. Acredito fielmente no poder do livro para transformar a vida das pessoas. Então fica aqui meu “muito obrigado” a cada um e cada uma. E a você, querido leitor, querida leitora, saboreie cada letra, cada palavra, cada frase, cada parágrafo com o coração aberto às novas aprendizagens. Nosso livro coletivo quer ser ferramenta na luta cotidiana de quem ousa educar. Que possamos seguir sempre juntos e juntas nos rumos da educação libertadora, fazendo do mundo um lugar melhor, e sempre conectados pela caminhada, nunca sozinhos e sozi- nha. Como disse o poeta: “quem sabe faz a hora, não es- pera acontecer”. Façamos deste tempo nossa hora, façamos desta oportunidade nosso momento na história, pois “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. E, finalmente, ilumi- nados por esta mística canção, nos coloquemos de novo em nossos espaços pedagógicos sabendo que não somos mais os mesmos, as mesmas, somos agora muito mais, porque leva- mos conosco um pouco de cada um e de cada uma que escre- veu conosco. Um grande abraço e boa leitura! Ivanio Dickmann – organizador. Rumos da Educação 9 ALFABETIZAÇÃO 100% Vanclei Ferreira Duarte1 Introdução Esta pesquisa tem como tema Alfabetização 100%. A escolha deste tema se deu devido as últimas experiências que venho vivenciando como professora alfabetizadora. Ainda não tinha despertado em mim a necessidade de estudar para entender como uma criança aprende a ler e a escrever ao longo de treze anos como educadora e estar inserida neste contexto que me faz pensar, como cada aluno aprende, surgi- ram muitos questionamentos que me levaram a construir este trabalho acadêmico. Assim as tentativas de aprofundamento desta pro- blemática levou-me a necessidade de um estudo teórico que explicasse como se dar esse processo na vida de um indivi- duo. O método utilizado é de natureza exploratória e apli- cada, envolveu um levantamento bibliográfico sobre o tema em pesquisa e foi realizada a partir da minha experiência com os alunos do terceiro ano do ciclo de alfabetização da es- cola Iolanda Nepomuceno Silva. Os principais autores que fundamentam a pesquisa são: Grossi (2013), Pain (1985), e Tuboiti (2012). Desta forma, o presente estudo estar organizado em três capítulos no qual o primeiro, O encontro com a visão de Grossi apresenta a aula entrevista como um diagnóstico que serve de caminho para favorecer a aprendizagem de todos. O segundo, Relato de um dia de aula utilizando a proposta di- dática pós- construtivista expõe-se um dia de aula vivenci- ando a formação dos grupos por meio de eleição. E por ultimo 1 Licenciada em Letras - Língua Inglesa pela Faculdade Integrada de Ariquemes. Licenciada em Pedagogia pela Faculdade de Teologia de Hokemãh FATEH. Pós-graduada em Psicopedagogia e professora a 15 anos em uma escola pública no estado do Maranhão. Rumos da Educação 10 o capitulo Analisando a partir de uma aula entrevista, faz se uma análise de escritas baseando-se nas didáticas do nível silábico e didática do nível alfabético. Este trabalho teve como objetivo geral, mostrar que através de uma pratica didática bem definida e estruturada o professor é capaz de alcançar a todos os alunos. Influenci- ada por Grossi (2010a, 2010b, 2011, 2013) é em seu referen- cial que me apoio para pensar sobre o processo de aquisição da leitura e da escrita dos alunos, pois ao participar de uma formação conduzida por ela aprendi uma proposta didática em que é possível alfabetizar 100% uma turma de aluno e a ver a escola como um espaço que tem que estar preparado para receber todos os estudantes, independente das diversi- dades existentes, pois é o lugar de aprendizagemonde o in- divíduo aprende com os outros e com o Outro que nos habita. O Encontro com a Visão de Grossi Para que possamos alcançar as metas que queremos temos que descontruir ideias cristalizadas, pois só assim po- deremos avançar. Em consonância com o acima exposto, meu foco concentra-se na proposta didática pós-construtivista que para mim é algo novo e revolucionário, mas com bastante efi- cácia, pois produziu uma diferença incrível na minha sala de aula. Nesse sentido, destaco a aula-entrevista por ter me per- mitido obter informações importantes, sobre questões objeti- vas e subjetivas do meu aluno, que me ajudaram a melhorar minha prática em sala de aula, com foco no processo de aprendizagem de cada aluno. Segundo Grossi (2013), a aula- entrevista é um tête-à-tête de cada professor com cada um de seus alunos, que acontece mais de uma vez por ano, é algo novo e diferente. Para a autora, A aula entrevista é um instrumento revolucionário que acende uma luz no fim do túnel de tantas não aprendi- zagens que nos atiram na cara todas as pesquisas sobre os resultados escolares no mundo. GROSSI (2013, p. 10). Rumos da Educação 11 Destas entrevistas, advêm as informações que são re- levantes para a seleção das ferramentas e estratégias para levar adiante a intervenção do professor ao considerar o nível em que cada aluno se encontra, a saber, nível é o estágio em que a criança se encontra durante a aquisição da língua es- crita e da leitura: os estágios (PS1 e PS2) pré-silábicos 1 e pré-silábicos 2, em que a criança ainda estabelece uma rela- ção necessária entre as diferentes formas de sua compreen- são, acreditando que se escreve com desenhos; o estagio (S) silábico quando as incoerências como as hipóteses do estagio anterior são percebidas, surgindo assim uma nova teoria – a de que cada silaba necessita ter uma letra; e finalmente, o estagio (A) alfabético, onde a hipótese anterior é novamente reformulada, surgindo agora como uma hipótese coerente de uma correspondência relativa entre fonema e letra. Segundo Grossi (2013; 2010), a aula entrevista contribui para que o professor identifique o que os alunos realmente sabem e qual seu processo de aprendizagem. Não se deve esquecer que o registro da aula-entre- vista se presta ainda a documentar uma situação inicial e poderá ser utilizada para verificação do progresso da criança ao longo do trabalho. Pain (1995), também realiza entrevista com o fim de reconstruir a história de vida do paciente. Ela sugere que a entrevista ocorra depois de conhecê-la e que ocorra por meio de jogos e de provas psicométricas. Ainda segundo essa autora é durante o jogo que a cri- ança ativa funções simbólicas sobre objetos. Inicialmente a linguagem faz referência ao objeto ausente. Depois, a verba- lização amplia o jogo da fantasia, ou seja, é a possibilidade que a criança tem de utilizar um objeto como símbolo de ou- tra coisa. É nesta fase que a criança evolui para as aprendi- zagens do jogo de regras, permitindo-os a participar de jogos coletivos. A prática dos jogos, como instrumento de trabalho na educação, não seria a solução dos problemas de aprendiza- gem, mas em conjunto com outras atividades certamente tra- zem inúmeras contribuições para solução de muitos deles, Rumos da Educação 12 pois além de ser uma atividade que passa a mensagem de que numa disputa entre “adversários” sempre haverá um que ganha e outro que perde permite também que os alunos aprendam a ganhar, perder, esperar sua vez e dividir. Experiências vividas por mim demonstraram alguns efeitos dos jogos na provocação de habilidades básicas essen- ciais ao aprendizado como, por exemplo, a memorização glo- bal de palavras, leitura e escrita. Além disso, quando essa prática é dirigida com intuito pedagógico, favorece também o processo escolar, pois permite estimular o raciocínio, disci- plina, responsabilidade de trabalho em equipe, ajuda no con- vívio social e auxilia no desenvolvimento do pensamento pos- sibilitando momentos de trocas e aprendizagens fazendo com que o aluno entenda-o como uma atividade que possui regras em que define um grupo perdedor e outro vencedor. Por isso, durante o jogo o professor deve provocar pensamento na perspectiva de contribuir para que o outro pense e não receba pronto e o espírito de trabalho em conjunto para que os gru- pos atinjam seus objetivos comuns. Na obra de Courtney (1980, p.46) encontra-se uma distinção de jogo, de maneira bastante sintética: No jogo pessoal todo indivíduo integra-se no movimento e caracterização; há uma tendência para o ruído e esforço físico, e a criança está atuando no sentido real - desen- volvendo-se no que se refere a correr e jogos de bola, luta e dança natação e representação. No jogo projetado, a mente é mais usada que o corpo e a criança projetam uma situação dramática imaginária, exterior aos obje- tos, com grande concentração; é uma tendência que con- cerne a quietude e a mobilidade - desenvolvendo-se para a arte a execução da música, ler e escrever, observação e paciência. O aprendizado não vem do que somos ou escutamos mais da ação, do fazer, e das experiências vividas. Assim como jogos, as dramáticas vivenciadas pelos alunos no seu dia-a-dia são grandes aliadas pedagógicas do professor, pois eles aprendem muito com elas porque mexem com sentimen- Rumos da Educação 13 tos e afetos. São dá professora Maria da Graça, em “Violên- cia e as aprendizagens” (GEEMPA 2006, p.29), as palavras que aqui transcrevo: "Percebi que precisamos autorizar que a vida real invada nossa sala de aula". Acrescento à fala da professora a afirmação: Para que se aprenda o que é ensinado na escola é preciso que as atividades didáticas se liguem ao que vem sendo aprendido fora dela, com força simbólica dos significados dessas aprendizagens. Para realizar tal tarefa, é impe- rativo que a escola se associe as dramáticas que estão mobilizando os grupos sociais aos quais pertencem os alunos. (GROSSI, 2006, p.32-33). Desse modo, com base nas contribuições do pós-cons- trutivismo podemos pensar a função educativa da aula en- trevista, do jogo, e também das dramáticas e dos grupos áu- licos, em suas possibilidades de mediar oportunidades de aprendizagens por meio de elementos simbólicos, oferecidos pela troca social no seio das escolas. Segundo Grossi (2005, p. 71) “Numa sala de aula, a organização dos alunos em pe- quenos grupos é uma forma de operacionar a interação entre eles, a qual é fundamental numa situação de ensino apren- dizagem”. Uma das principais características do pós-construti- vismo, é a organização da sala de aula em grupos denomina- dos de grupos áulicos. Esta nova disposição nas salas tem por fundamentação a formação dos grupos por meio de eleição de coordenadores de grupos. Faz-se necessária esta nova orga- nização, pelo fato de que somos seres sociais e precisamos dos outros para aprender e ao oportunizar aos educandos tal or- ganização propiciamos um ambiente rico em trocas de expe- riências entre pares tão importantes numa sala de aula. Dramáticas: é o que dão significação a cada momento de nossas vidas. A significação é o tempero da culinária exis- tencial. Sem elas, o alimento não tem sabor de atração… urge vincular, inteligente e criativamente, logica e dramática, numa proposta didática bem embasada teoricamente, que Rumos da Educação 14 não só ampliem mais garanta as chances de ensinar a todos. (GROSSI, 2009 p.6-7) Durante o ano de 2015 foi desenvolvida esta prática, sustentada na proposta didática pós-construtivista, na escola na qual trabalho sob uma perspectiva de alfabetizarmos 100% todas as turmas que estavam participando do projeto Alfabetiza Maranhão no qual o governo do estado junto ao GEEMPA (Grupo de Estudo Metodologia de Pesquisa e Ação) convocaramprofessores das redes públicas municipais a par- ticiparem, com o objetivo de diminuir o índice de crianças analfabetas em todo o estado do maranhão. A experiência agora apresentada demonstra a eficácia e a importância desta nova maneira de estar em aula. Antes de iniciar o relato da experiência, gostaria de contextualizar os principais personagens dessa historia - os alunos. A turma é composta por 24 crianças que cursam o terceiro ano do Ensino Fundamental. Algumas dessas crian- ças são filhos de pais analfabetos. A maioria mora próximo à escola, apenas três alunos residem em uma comunidade in- dígena e necessitam de transporte escolar. Todas estão na mesma faixa etária entre oito e nove anos de idade, as ativi- dades foram realizadas na Escola Pública Municipal Iolanda Nepomuceno Silva, localizada no bairro Centro, na cidade de Jenipapo dos Vieiras, Maranhão. Relato de um dia de aula usando a proposta didática pós-construtivista. Inicialmente organizei a turma em um grande cír- culo, estabelecemos conversação sobre o que cada uma das crianças gostaria de ser quando crescessem e todas partici- param demonstrando bastante entusiasmo. Com as crianças ainda em circulo fiz a entrega dos crachás, antes lhes expli- quei que teriam que adivinhar os nomes de acordo com as pistas que iria dar. Para Marta falei: “abre a boca duas vezes e tem cinco letras”, fiz isto para cada crachá de acordo com o nome dos alunos. Rumos da Educação 15 Ao entregar o crachá desta forma, o professor mexe com as hipóteses dos alunos que se encontram em todos os níveis psicogenéticos. Levando em consideração esses está- gios, o trabalho com os nomes dos alunos, pode ser utilizado em muitas atividades didáticas. Portanto, Entre as palavras isoladas fora de texto há um conjunto privilegiado a ser trabalhado em aula, a saber, os nomes das pessoas da classe: os alunos e a professora. Eles são indiscutivelmente palavras que podem ser fecundas di- daticamente, sobretudo se o instrumento na sala de aula, dos alunos entre si e com a professora for bem rico, e se a dramática associada individualmente ao nome de cada criança não estiver muito comprometida por problemas familiares. (GROSSI, 1990, p.182). Em respeito a privacidade/identidade de todos os alu- nos, os nomes usados neste Página 15trabalho será fictício. Essa aula trata da eleição de líderes e constituição dos grupos áulicos. Um dos momentos é o rito de passagem, uma atividade em que o aluno coloca seu nome em um degrau de uma escada correspondente ao nível que se encontra na escrita de quatro palavras e uma frase. Esta é uma ação que se faz necessária nas salas pós-construtivistas por permitir que cada aluno se perceba aprendendo e perceba o processo do outro também, no sentido da corresponsabilidade com as aprendizagens de uns com os outros. Após a entrega dos cra- chás, fizemos o rito de passagem onde cada aluno colocou seu nome no degrau correspondente ao seu nível e todos celebra- ram esse momento. Em seguida, houve a eleição para a escolha dos líde- res dos grupos áulicos nas quais todos votaram observando os seguintes critérios: Com quem quero aprender, voto que corresponde a três pontos, com quem quero trocar, voto equi- valente a dois pontos e a quem quero ensinar voto correspon- dente a um ponto. Posteriormente, fizemos a apuração obser- vando a quantidade de votos que cada aluno recebeu fazendo as anotações no quadro de apuração que segue modelo em anexo. Rumos da Educação 16 Para darmos início a formação dos grupos, partiu do primeiro líder eleito o convite a um colega para compor o seu grupo, tendo este a opção de aceitar ou não o convite. E após todos os líderes terem feito sua primeira escolha, foi a vez do último, ou seja, do líder menos votado junto ao colega convi- dado discutirem quem seria o terceiro convidado a ser com- ponente do grupo repetindo o mesmo com os outros nesta mesma ordem decrescente. Uma das crianças foi rejeitada pelos grupos e neste momento tive que intervi pedindo para que explicassem os motivos da rejeição e quais eram as condições para aceitá-la. Por último, os alunos que não estavam em nenhum grupo ti- veram a oportunidade de escolher para qual dos grupos gos- tariam de ir, antes, porém os trios tiveram que convencê-los a querer compô-los e para isto tiveram que fazer uma propa- ganda onde dois grupos optaram por imitar um animal, ou- tros dois achara melhor cantar uma música e os demais reci- taram poesias. Após todos estarem devidamente em seus grupos e terem escolhido em qual lugar gostariam de ficar na sala so- licitei que escolhessem um nome para os pequenos grupos que acabaram de ser formados e os nomes escolhidos foram: Grupo cores, Grupo fazenda, Grupo Deus, Grupo Anjos, Grupo amizade e Grupo unido. Sobre tal organização destaco que: Essa nova disposição dos grupos na sala de aula desloca e resinifica o lugar do professor. A escolha do nome para o grupo, além de permitir interlocução com o outro, é uma atividade importante, pois retrata de forma simbó- lica o grupo construindo e se constituindo. (ROCHA, 2005, p.27 apud TUBOITI) Ao finalizar a constituição dos grupos áulicos é im- portante que seja desenvolvida uma atividade em que não haja sentido de perda ou ganho, pois neste momento é impor- tante estabelecer uma situação onde haja a construção de to- dos. Como atividade aglutinadora, entreguei aos grupos áu- licos um envelope que continha letras em pedaços para que juntos montassem o nome que acabaram de escolher para Rumos da Educação 17 sua equipe. Finalizamos esta atividade fixando na parede ao lado de cada grupo seus respectivos nomes. Portanto, se- gundo Grossi,(1990, p. 125) “Propicia-se assim, um intercam- bio rico entre pré-silábicos, silábicos e alfabéticos, os quais usando suas hipóteses propõem escritas ainda não convenci- onais”. A merenda é para o pós-construtivismo uma ativi- dade didática e como todas as outras desenvolvidas é cheia de simbolismo e por meio dela podemos transmitir muito do que pensamos por isto este momento da aula tem que ser tra- balhado de forma que os alunos aprendam com ele e não como um fator isolado como geralmente acontecem nas esco- las que não conhecem a proposta pós-construtivista. Tuboiti complementa. Refletir sobre a merenda pedagógica nos permite dizer que o ato de se alimentar em comunhão abre espaço para a representação e criatividade, no sentido de que é pos- sível aprender a comer, a degustar, com prazer, uma re- feição ou um lanche como celebração de ocasiões especi- ais, até porque numa sala de aula tudo deve ser apaixo- nante. No decorrer de nossas vidas, muitas vezes ficamos limitados a comer aquilo que é do nosso cotidiano, que aprendemos no âmbito da família. Com essa atividade instaurada na sala de aula, abre-se a oportunidade de inserir o aluno em outros contextos, uma vez que eles provam novos sabores, sensibiliza-se às novas cores e aos novos arranjos ao servirem e ao serem servidos. (Tuboiti, 2012, p. 112,113). Antes de a merenda ser servida expliquei aos grupos que teriam que oferecer uns aos outros os lanches, assim o que era só de um se tornou um todo para todos e desta forma criou-se vínculos entre ambos os grupos. Após a merenda, foi entregue aos grupos o baralho numérico, para jogarem o jogo da batalha e junto com o jogo foi entregue também uma ficha de didática que serve de complemento indispensável ao jogo na qual tiverem que marcar a quantidade de pontos que cada um obteve nas três rodadas do jogo. Rumos da Educação 18 Para toda criança, confrontar suas ideias com as dos colegas e oferecer e receber informações é essencial. É essa troca que leva ao avanço na aprendizagem por isto foi esco- lhida a mesma ficha de didática para todos, retirada do livro uma nova maneirade estar em aula (GEEMPA, 2007, p.27), intitulada como Alfabeto dos sentimentos com objetivo de que pudessem se ajudar na escrita de algumas palavras. A produção textual é uma prática presente nas salas de alfabetização diariamente por ser uma atividade que per- mita ao educando avançar pelo sentido histórico que letras e palavras isoladas não têm, ou seja, pela motivação real que damos a ela. Para este momento solicitei que escrevessem “como se sentiram ao ser ou não votado” ou “como se senti- ram por ter sido ou não convidado pelos colegas para compor os grupos”, momento em que me fiz escriba de alguns alunos que se encontravam no nível Ps1 e Ps2, pois os mesmo de- monstraram resistência a essa atividade dizendo que não sa- biam escrever. A verdade é que ambos ainda não estavam acostumados ou não foram motivados ao longo de muitos anos na escola a escrever o que gostariam e da forma como gostariam. Dando continuidade a esta atividade foi feita a leitura em voz alta dos textos e a exposições do mesmo na sala de aula. A lição de casa também é uma atividade bastante sig- nificativa, pois permite ao educando consolidar o que foi aprendido na sala de aula em um contexto bastante diferente do grupo que antes estava inserido. De acordo com Grossi. A lição de casa, se adequada, pode prolongar a aula. Cada aluno vai trabalhar no contexto da casa, diferente do da sala de aula. Via de regra vai trabalhar sozinho, o que alias é desejável. Não pensamos que seja necessário contar com familiares da criança para que ela faça seus deveres. Os pais podem se associar a professora na aven- tura que é a alfabetização, na qualidade de pais e não de pedagogos auxiliares. Podemos mostrar-lhes o quanto eles participam por dentro do processo de apropriação da leitura e da escrita de modo muito especial, ou seja, na posição de pais de cada criança. (GROSSI, 1990, p. 134). Rumos da Educação 19 Para finalizamos essa aula, como lição de casa, foi en- tregue uma ficha didática por nível como tarefa de casa onde os alunos que se encontravam nos níveis PS1 e PS2 recebe- ram uma ficha didática na qual teriam que fazer um desenho de acordo com a nova organização da sala de aula. Os alunos nos níveis silábicos e alfabéticos, respectivamente receberam uma ficha didática retirada do livro Uma nova maneira de estar em aula (GEEMPA, 2007, pg. 48 e 49, 50). Para desenvolver as atividades supracitadas é essen- cial que o professor conheça o quanto os alunos já sabem e a aula entrevista é a primeira ação do professor, portanto é im- prescindível que o docente a realize antes da organização da sala de aula, pois esta não pode ser aleatória. É importante que os grupos áulicos apresentem níveis de leitura e de es- crita diferentes, mas próximos entre si, para que haja uma verdadeira troca de informações e assim avance no sistema de aquisição da leitura e da escrita. Segundo Grossi (2010, p. 37), Toda aprendizagem é um fato social que ocorre com uma especial gama de interlocutores. Além de muitos outros aspectos que podem caracterizar as interações no apren- der, aquele que diz respeito ao grau de proximidade com objetivo de conhecimento buscado por determinado grupo de pessoas tem uma relevância particular. O pri- meiro ponto a considerar quanto as condições de intera- ções entre alunos é a garantia de um núcleo comum de conhecimentos entre eles. Avaliando escritas obtidas através de aulas entrevista No sentido de fazer uma avaliação correta das escri- tas dos nossos alunos, trago uma proposta apresentada por Grossi (1990) e trabalhada na formação Alfabetiza Mara- nhão no ano de 2015 pela sua equipe de professoras onde tive o prazer de ser aluna da professora Nair Cristina da Silva Tuboiti. Esta proposta se encontra nos livros: Didática do ní- vel silábico (1990) e Didática do nível alfabético (1990). Nos Livros com foco na analise de escritas de alunos, são discu- tido o pensamento dos alunos em cada nível psicogenético Rumos da Educação 20 além de trazerem vários modelos de fichas didáticas para cada momento de aprendizagem. Essa experiência me possibilitou perceber como as elaborações científicas construídas pelo Grupo de Estudo Me- todologia de Pesquisa e Ação (Geempa) contribuíram para a alfabetização dos alunos e que ao fundamentar-se em práti- cas que priorizam o ser em seu cotidiano, valorizando seus conhecimentos e suas experiências, o professor tem maior condição de favorecer a aprendizagem de todos. Desse modo, o processo de apropriação da leitura e da escrita tem maior possibilidade de acontecer, pelo prazer que o aprendizado proporciona, sustentado naquilo que tem sentido e signifi- cado para o sujeito que aprende. Além disso, permite que a criança através da socialização dessas experiências aprenda com o outro, aquele que sabe mais, menos e igual, afinal aprende-se com os diferentes saberes, aspectos fundamen- tais para o desenvolvimento das relações humanas. É importante salientar que, nos momentos em que os alunos entravam em contato com a experiência dos outros, com os jogos e com as escadas e se percebiam aprendendo, demonstravam interesse maior para as atividades propostas. Isso significa dizer que o trabalho pedagógico de ligação com as aprendizagens que acontecem fora da escola, com os jogos, com fichas didáticas e com os grupos áulicos foram funda- mentais ao aprendizado dos alfabetizando, reforçando a pro- posta de que o ensino da leitura e da escrita não pode ser vivenciado fora desse contexto, nem pode se dar sem a pre- sença cultura escrita que acontece por meio das fichas didá- ticas e de todas as situações que favoreçam essa competência. Por ter vivenciado as conquistas dos meus alunos, por meio dessa perspectiva de trabalho, aqui representada neste relato, sinto-me realizada como professora, pois per- cebo em meus alunos o prazer em estar na escola e de desco- brirem que ela é o espaço em que se pode aprender com pra- zer. Sobre este aspecto vale frisar que “O jogo, como ação di- dática que, ao longo da historia está intrinsecamente relaci- Rumos da Educação 21 onada com o cotidiano da humanidade, possibilita ir ao en- contro do desejo do aluno e capturá-lo para o universo das aprendizagens” Tuboiti (2012, p. 66). Em certa ocasião foram realizadas entrevistas com professoras que participavam das formações do GEEMPA e estavam trabalhando com esta metodologia com seus alunos, e o resultado disso fortaleceu ainda mais a hipótese de que alfabetizar cem por cento utilizando a proposta do pós-cons- trutivismo é possível, agora baseada não somente nas mi- nhas próprias observações e vivencias, mas também nos re- latos das professoras. Puderam-se ouvir também umas recor- rentes falas vindas dos pais dos alunos afirmando uma visí- vel melhora no desempenho escolar de seus filhos após a in- serção da prática pós-construtivista na rotina escolar. Em razão dessas observações, após o termino do ano letivo, muitos desses pais ao matricularem as crianças, pedi- ram para que as mesmas permanecessem com a mesma pro- fessora. Segue abaixo a fala da mãe de uma das crianças. É bom quando o professor trabalha não só pelo salário mais se esforça pelos alunos, eu admiro a professora por- que os alunos presta mesmo atenção quando ela tá fa- lando. A Maria Luiza aprendeu muitas coisas novas que ela não sabia e se desenvolveu bastante na leitura e na escrita e a maneira que a professora trabalha chama muita atenção dos alunos porque cada dia ela apresen- tava coisas novas que sempre a Maria falava lá em casa. (Simone Soares Gomes Nepomuceno, 23-12-2015). Pôde-se complementar este trabalho com o registro de umas escritas obtidas através das aulas entrevistas que foram realizadas durante o ano letivo com uma das alunas. Nestas pôde-se verificar como a aluna pensava a escritano momento da primeira aula e como ela pensa ao final do perí- odo letivo. A aula entrevista é composta por doze tarefas, mas quero destacar aqui para serem analisadas as tarefas refe- rentes à escrita das quatro palavras e uma frase e a aula que serve como constatação da alfabetização. Rumos da Educação 22 Diante da primeira aula entrevista realizada dia 13/05/2015, com a aluna Amanda Cristina Barros Santos, pode se perceber que a mesma se encontra no nível silábico por apresentar uma hipótese quantitativa entre a segmenta- ção oral e os sinais gráficos. A mesma utiliza letras conven- cionais, mas escreve apenas uma para cada vez que abre a boca. Sobre este nível Grossi afirma “O que define o nível si- lábico é a segmentação quantitativa das palavras em tantos sinais gráficos quantas são as vezes que se abre a boca para pronuncia-las” (GROSSI 1990, p. 30). Segue abaixo a escrita da aluna, ao lado das palavras e abaixo da frase é a escrita ortográfica feita por mim para que o leitor compreenda: Embora a aluna tenha escrito três letras para a pa- lavra “irmão” e “avião”, a mesma se encontra silábica, pois ao escrevê-las contando nos dedos disse: ir-mã-u repetindo o mesmo com a palavra avião. Rumos da Educação 23 Na aula entrevista abaixo, Amanda coloca espaço en- tre partes da frase, pois este é um comportamento evidente dos alunos que se encontram alfabético, mas ainda não con- segue escrever ortograficamente correto. Ouve a palavra e escreve duas letras para cada sílaba da palavra. Como por exemplo, “daora” (olho), “cicoci” (hospital), “bicolu” (bici- cleta), “noe” (mãe). Mesmo acrescentando mais uma letra para a palavra olho e escrevendo letras a menos para a pala- vra bicicleta, a aluna se encontra alfabética, pois sabe que tem que escrever duas letras para cada vez que abre a boca e por não saber quais consoantes utilizar recorre às letras de seu nome. De acordo com Grossi (1990) “No nível alfabético o aluno está centrado na escrita das silabas. Sua grande des- coberta é que cada silaba oral não corresponde a uma só le- tra. Aliás, ele pensa em sua ignorância inteligente que cada silaba oral correspondem duas letras”. Ainda segundo Grossi (1990, p. 45), É importantíssimo salientar que ter compreendido a for- mação alfabética das sílabas não tem vinculação ex- pressa com o reconhecimento do valor convencional do som das letras escritas. Um aluno pode estar alfabético conhecendo pequeno ou grande número de letras. Por isso, continuar trabalhando este reconhecimento pode ser necessário ainda para alunos alfabéticos. Rumos da Educação 24 Diante a terceira aula entrevista que segue abaixo podemos perceber que a aluna, embora escreva a palavra “casa” com escrita de quem está alfabetizada, Amanda ainda se encontra alfabética por ainda conservar o pensamento de que se escrevem duas letras para cada vez que se abre a boca e fazer uma leitura silabada perdendo a palavra como um todo, diferente do aluno alfabetizado que identifica e associa no mínimo 18 sons a uma ou mais letras da língua portu- guesa escrita além de conseguir fazer uma leitura e uma es- crita de um texto simples. Nesta fase a educanda, faz agora reconhecimento de varias letras e fica evidente em sua es- crita que a mesma pensa melhor a escrita das palavras e das frases, mas por ainda não escrever e ler um texto simples ainda não se encontra alfabetizada. Rumos da Educação 25 Veremos abaixo a aplicação da aula entrevista Tom e Jerry (GEEMPA, 2013, p. 89 a 92), que serve como constata- ção da alfabetização. A mesma é composta por três tarefas. Sendo que a primeira é a leitura feita pela professora do texto Tom e Jerry que foi escrita por um aluno que tinha acabado de ser alfabetizado e a escolha da escrita se deram pelo fato de o texto conter uma linguagem próxima a de alunos da mesma idade. Em seguida distribui-se papel e lápis de cores varia- das para que os alunos representem a história por meio de desenhos. Para este segundo momento da aula, é importante que a professora não solicite diretamente que os alunos fa- çam um desenho sobre a história que acabaram de ouvir, mas Rumos da Educação 26 se a mesma tiver tido um significado para eles, ambos o fa- rão. O desenho servirá de apoio para a escrita do texto. A terceira etapa da aula deve ser feita entre profes- sora e aluna, pois este é o momento no qual a professora ava- liará se a aluna encontra-se alfabetizada. Esta etapa é com- posta por três tarefas: a primeira consiste em uma breve con- versa entre professora e aluna perguntando se a mesma gos- tou da história e como era essa história. A segunda é o mo- mento em que a aluna escreva a historia. E para finalizar solicita-se que a mesma leia um texto simples referente a his- toria. Se os alunos escrevê-la de modo que uma pessoa que seja alfabetizada consiga ler e os mesmos conseguir ler o texto que lhe foi apresentado, consideramos este aluno alfa- betizado. Amanda escreveu o texto com bastante concatenação, mas apresenta ainda em sua produção algumas palavras com escrita alfabética como, por exemplo, “perto” escreveu Rumos da Educação 27 “preto”, “disse” escreveu “dize” e “pede” escreveu “peti”, o que não impede que o outro compreenda seu texto. Mais tarde, ao solicitar que os alunos escrevessem uma carta para Esther, Amanda faz-me uma grata surpresa ao escrever um texto onde relata que gostaria que eu conti- nuasse sendo sua professora. Segue abaixo o texto escrito por ela onde podemos perceber claramente que Amanda estar de fato, alfabetizada, pois consegue fazer leituras de textos sim- ples de seu cotidiano e qualquer pessoa que saiba ler conse- gue ler suas escritas sem dificuldades. Considerações finais Este estudo buscou analisar as dificuldades de aprendizagens entre leitura e escrita que pudessem ser esta- belecidas com os alunos do terceiro ano do ensino fundamen- tal de uma escola publica municipal localizada na cidade de Rumos da Educação 28 Jenipapo dos Vieiras-MA. Os resultados das observações in- dicaram que a dificuldade de aprendizagem em escrita não esta relacionado a compreensão da leitura pois ambas são ca- pacidades distintas que o ser humano desenvolve em diferen- tes estágios durante a vida escolar. Por meio deste estudo, é possível perceber resultados expressivos e que determinam a autenticidade da pratica pós-construtivista trazendo à tona a eficácia da organização da sala de aula em grupos áulicos, da inserção das dramáti- cas no planejamento, da utilização de jogos como ação didá- tica, da utilização de fichas didáticas e da transformação da merenda em atividade pedagógica, processo de aprendiza- gens dos alunos, ações que vem sendo estudadas e melhora- das ao longo dos 40 anos do GEEMPA e com eficácia compro- vada nos tempos atuais. Todos, somos capazes de conseguir o que desejamos, pois a construção não é um ato pronto, mais um processo no qual cada descoberta, significa uma aprendizagem para as crianças. Sendo assim, fica claro que a didática é um fator imprescindível na analise quanto às dificuldades de aprendi- zagens, ou seja, o aprendizado depende de uma pratica didá- tica e pedagógica que considere o processo de cada aluno, re- signifique a ação em sala no sentido de que só aprendemos se formos provocados, incentivados de maneira correta e para isto, se faz necessário ser desenvolvidas atividades es- pecificas para cada momento. Portanto a aula entrevista tem finalidade de servir de caminho para garantir a aprendizagem de todos, uma vez que ela direciona o fazer didático e pedagógico no sentido de que o professor planeje ao considerar o processo de todos, ao considerar também aquilo que tem sentido e significado para uma turma, pensando nas dramáticas internas e externas. Além disso, esse instrumentooportuniza pensar o espaço da sala organizado em grupos áulicos que se constituem com o foco na aprendizagem e na expressão democrática do desejo da turma. A aula entrevista permite ainda que todas as ati- Rumos da Educação 29 vidades sejam elaboradas na perspectiva do espaço de pro- blemas, ou seja, com o objetivo de alcançar a hipótese de to- dos os alunos, e com a finalidade de acolher e romper com as hipóteses de pensamento de uma forma mais direcionada para os diferentes níveis. Estar inserida no GEEMPA tem permitido ampliar meus conhecimentos e, tem me dado suporte para promover a aprendizagem de todos por meio de um novo fazer que vem transformando a minha pratica. Podemos perceber que na medida em que se alcança a todos os alunos, fica claro o com- prometimento de ambos para as atividades propostas e junto a este comprometimento, vem também o reconhecimento dos pais e da comunidade. Finalizo ressaltando a importância e o reconheci- mento desta nova maneira de estar em aula, não só uma vez por ano mais no dia a dia na sala de toda e qualquer sala de aula, integrando o cotidiano da criança a um fazer diferenci- ado que o considere em suas diversidades. E essa possibili- dade de ensino pode ser estendida para todos os alunos desde que as suas especificidades sejam consideradas, pois são fun- damentais para se pensar no processo educacional de todos, de forma a democratizar as aprendizagens, por este ser um direito constitucional que lhes é garantido. Referências COURTNEY, Richard .Jogo, teatro e pensamento: As ba- ses intelectuais do teatro na educação. São Paulo: Pers- pectiva/Secretaria de Estado da Cultura, (1980). GEEMPA. Aula-entrevista: caracterização do processo rumo à escrita e à leitura. 2.ed. Porto Alegre. GEEMPA, 2013. Rumos da Educação 30 GEEMPA. Violência e as aprendizagens: Violência e es- cola que ensine. Porto Alegre. GEEMPA, 2006. GROSSI, Esther Pillar. Didática da alfabetização. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. GROSSI, Esther Pillar. Caderno de atividades a partir do livro Dinomir, o gigante: livro do professor/historia ori- ginal de E. Plocki; tradução e adaptação Esther Pillar Grossi; desenhos reproduzidos por Rodrigo Cardoso. – Porto Alegre: GEEMPA, 2009 . GROSSI, Esther Pillar. Alfabetiza Maranhão, São Luís- MA, 2015. PAÍN Sara. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. Porto Alegre. Artmed; 1992. p.35-67. ROCHA, Ana Luiza Carvalho da. (Org.) A interação na sala: Grupos áulicos/organizado. Porto Alegre: GEEMPA, 2005. TUBOITI, Nair Cristina da Silva. Grupos áulicos: da or- ganização do cotidiano da sala de aula ao direito à aprendizagem. Dissertação de mestrado. Brasília: UCB, 2012. Rumos da Educação 31 ANEXOS Modelo de escada retirada do livro Grupos Áulicos – Intera- ção Social na Sala de Aula. (GEEMPA, p. 104) Rumos da Educação 32 Exemplo de gráfico final de rotação de uma turma ge- empiana, retirada do livro Grupos Áulicos – A integração so- cial na sala de aula. (GEEMPA, p. 111) Modelo de cédula de votação retirada do retirada do livro Grupos Áulicos – A integração social na sala de aula. (GEEMPA, p. 107) Rumos da Educação 33 CURRÍCULO, DIFERENÇAS E IDENTIDADES: TENDÊNCIAS DA ESCOLA QUILOMBOLA Mauricio Teixeira dos Reis Introdução Apesar da grande contribuição dos povos e comuni- dades tradicionais na formação da sociedade brasileira, no povoamento, na conformação da cultura, da língua, da culi- nária, dos costumes, remontando ao tempo da chegada dos primeiros colonizadores, no litoral nordestino, no início do sé- culo XV. As raízes mais remotas da história são uma marca essencial sobre a humanidade, mas é importante que se con- sidere o sujeito – socialmente construído, único, respondente, incompleto, inconcluso e datado – que conduz o texto deste artigo. Para fundamentar, estamos fazendo uso da noção de identidade. Neste contexto, acreditamos que os conhecimentos afros inclusos na cultura nacional e a visão de mundo afri- cano-brasileira devem compor o currículo escolar não apenas como conteúdo a serem ensinados, mas como parte da peda- gogia escolar como um todo. Deste modo, é importante traba- lhar com diversas peculiaridades que permeiam a vida qui- lombola e dialogar com as especificidades do quilombo, sem perder de vista que existe uma unidade em alguns elemen- tos, mas ao mesmo tempo uma diversidade de formas de ver e viver o mundo, próprios de cada povo e cultura. Mestrando em Educação pela Faculdade Anne Sullivan University. Especialista em Gestão e Supervisão Escolar com Habilitação em Docência do Ensino Superior pela ISEPRO. Bachare- lando em Administração pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI) e Graduado em Pedago- gia pela FAIBRA. E-mail: mauricioteixeira_@hotmail.com Rumos da Educação 34 Nesse sentido, a busca da escola quilombola converge ao encontro dos objetivos, das finalidades e das práticas pe- dagógicas que baseiam na lei nº 10. 639, do ano de 2003. As- sim, menciona-se, ainda, que os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) têm lembrado que a pluralidade cultural e a orientação sexual são temas transversais da concepção de currículo no processo ensino e aprendizagem. Assim, a autonomia didático-pedagógica é resguar- dada e explicitada na diversidade de modelos e de aborda- gens epistemológicas e metodológicas, abordando a necessi- dade de se trabalhar com a diversidade cultural existente na sociedade brasileira, primando pela valorização e respeito ao outro. Simetricamente e de modo complementar, na educa- ção escolar quilombola, é possível reconhecer o processo de construção da política nacional para tal modalidade de edu- cação, representada pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola (BRASIL, 2012). Em consonância com esses marcos reguladores, as di- versas colaborações que gravitaram em torno da institucio- nalização da educação, Munanga, (2014, p. 44) salienta que, “ensinar a história do negro e dos povos indígenas na escola brasileira é romper com a visão eurocêntrica que exclui ou- tras raízes culturais formadoras do Brasil como povo e na- ção”. Nesse sentido, o conhecimento deve ser construído pelo educando em conjunto com o educador, baseando na troca de saberes, analisando como a cultura dessas popula- ções pode contribuir para a Educação Quilombola. Vygotsky (2001) destaca que, deve haver a criação de situação de aprendizagem que permita ao educando desenvolver as ca- pacidades cognitivas, afetiva e psicomotora relativa ao tra- balho intelectual, sempre articulando, mas não reduzido, ao mundo do trabalho e das relações sociais. Rumos da Educação 35 Conceito de educação escolar quilombola O conceito de educação escolar quilombola encontra- se em construção, mas, pode-se afirmar que seus objetivos remetem a valores culturais, sociais, históricos e econômicos dessas comunidades. A expressão Educação Quilombola sur- giu nos anos 1980, com o debate sobre a questão quilombola que entrou no cenário político nacional e reconhecido oficial- mente com o art. 68 do Ato das disposições constitucionais transitórias da constituição federal de 1988. Mas, apenas em 2003 foi reafirmada pela Lei Federal n° 10.639/ 2003, a qual altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), lei n° 9394/96, tornando obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana no currículo escolar da educação básica. De acordo com o art. 26 da LDB (2013), Os currículos da educação infantil, do ensino fundamen- tal e do ensino médio devem ter base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversifi-cada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos (BRASIL, 2013, p.19). Diante desse quadro, é evidenciada a inclusão de no- vos conteúdos, intrínsecos de relações étnico-raciais nos pro- cedimentos de ensino com objetivos tácitos e explícitos na educação, oferecida nas escolas para a elaboração de um pro- jeto pedagógico. Apesar da redação dada pela Lei n° 12.796, de 2013, mencionar a obrigatoriedade do ensino da história e cultura africana e afro-brasileira nas escolas do país abre um prece- dente importante para que o aprendizado quilombola, bem como os modos de fazer e viver dos quilombos contemporâ- neos, sejam considerados saberes essenciais para a formação de uma nova estrutura de educação no Brasil, fundamental para que o país se reconheça como afrodescendente em sua formação humana e cultural. Rumos da Educação 36 A partir da Conferência Nacional de Educação (CO- NAE), ocorrida em Brasília no ano de 2001, a educação qui- lombola é considerada uma modalidade de ensino por meio da Resolução CNE n° 4/2010 que instituem as Diretrizes Curriculares Gerais para a Educação Básica. Nessa resolu- ção definiu: Art. 41 – a Educação Escolar Quilombola é desenvolvida em unidades educacionais inscritas em suas terras e cul- tura, requerendo pedagogia própria em respeito à espe- cificidade étnico-cultural de cada comunidade e forma- ção específica de seu quadro docente, observados os prin- cípios constitucionais, a base nacional comum e os prin- cípios que orientam a Educação Básica brasileira. (Bra- sil, 2010) Essa resolução regulamentou a educação quilombola como modalidade específica. Parte desses aspectos pode ser identificados como recomendações à utilização de pedagogias próprias na construção de conhecimentos (SANTANA et al, 2017). No que tange as conquistas do movimento quilom- bola, em âmbito da Educação Escolar Quilombola ainda são pouco apreciáveis, “uma vez que as diretrizes específicas são recentes, além da pouca efetividade ao implementar tal polí- tica de forma abrangente (MOREIRA & BRITO, 2017, p. 127)”. Nesse sentido, Santana et al (2017) afirma que a edu- cação escolar quilombola ganha mais importância “a partir de 2012, pois há publicações das Diretrizes Curriculares Na- cionais para a Educação Quilombola, importante marco que vem para assegurar uma educação diferenciada e específica para essas comunidades”. Candau (2014) considera imprescindível que repen- semos as metodologias, currículos, documentos oficiais e até mesmo a prática pedagógica para que possam compreender as diferenças culturais como riqueza e vantagem pedagógica, que abarca os conhecimentos coletivos sociais, e diálogo entre Rumos da Educação 37 diversos sujeitos socioculturais, assim como processos de en- sino-aprendizagem orientados nas diretrizes. Entretanto, é sabido que a escola apresenta dificul- dades em lidar com a diferença, sobretudo quando a cultura não se expressa apenas no diferente, no inusitado, mas nas formas e maneiras que cada povo tem de se relacionar com o mundo a sua volta (MOREIRA; CANDAU, 2003). A edificação de conhecimentos ocorre em grande parte instigada pelos hábitos culturais, nos quais os indiví- duos encontram-se envolvidos, sendo que não existe um mé- todo acabado para se educar, pois cada tipo de educação deve buscar atender aos interesses de grupos de indivíduos, repro- duzindo os laços afetivos e colaborativos construídos ao longo da vida do sujeito e de seu grupo sendo, portanto, influenci- ada pela sociedade. A este respeito podemos nos apoiar nos pensamentos de Moura (2007), ao aborda que a prática pedagógica implica em desenvolver novos desafios na escola, propiciando a valo- rização das identidades. Uma vez que envolve a articulação entre identidade, poder e cultura, tão essencial na constru- ção curricular e de modo particular na organização do currí- culo para as escolas quilombolas. Sob o ponto de vista da Educação Escolar Quilom- bola, bem como outras modalidades de ensino, visam um cur- rículo que procuram reconhecer os condicionantes sócio-polí- tico-culturais presente nas teorias e práticas educacionais, desvelando fatores ligados à classe, raça, etnia e gênero. Nesse sentido, é viável destacar que o currículo é inseparável da cultura. Contribuído com esta análise Munanga (2016), afirma que ensinar a história do negro e dos povos indígenas na escola brasileira é romper com a visão supremacistas eu- rocêntrica que exclui outras raízes culturais com base em suas vivências e crenças. É nesse contexto de educação que a estrutura e orga- nização do ensino adotarão para adequarem-se os modos de fazer e viver dos quilombos contemporâneos (SANTANA et al., 2017). Sob a perspectiva educativa, a cultura quilombola Rumos da Educação 38 é pontencializadora e visa à promoção da diversidade etni- corracial na rede de ensino, bem como a estruturação e o acompanhamento da educação (LARCHERT & OLIVEIRA, 2013, p.08). Nesse sentido, torna-se relevante garantir a elabora- ção e criação de conteúdos escolares, acerca das subjetivida- des e diversidades antropossociais do quilombo, por exemplo, desenvolver estudos que coloque o negros como constituintes da formação identitária, social e cultural do Brasil. A construção histórica de um conceito O “marco inicial é a publicação do livro The Curricu- lum de Jonhn Franklin Bobbit". Essa obra tem como fato ins- pirador na teoria da administração científica desenvolvido por Frederick Taylor, com o objetivo de melhorar o desempe- nho possível no exercício das tarefas (SILVA, (2007) citado por FEITOSA (2014, p. 76). Nesta direção, Campos & Silva (2014, p. 29), aponta "o modelo institucional dessa concepção de currículo é a fá- brica". No que diz respeito à historiografia do currículo e da educação em várias nações. Campos & Silva (2014, p. 30) in- forma que "foram muitas as interpretações dadas ao conceito de currículo através dos tempos em razão das transformações sociais, culturais e tecnológicas subjacentes às concepções de mundo, de homem e de educação, formulado no transcurso da história". Historicamente, o currículo tem sido concebido de vá- rias formas, atendendo o interesse da realidade social. Se- gundo Moreira (2011), a história do currículo no Brasil é de- corrência da transmissão das teorias curriculares america- nas. Neste direcionamento, o currículo é visto como uma prá- tica hibrida, mecanismo de fundamentação da atividade edu- cativa mais eficiente, Nesse campo, podem-se destacar as contribuições de Moreira (2011) considerando que o currículo é um território de disputas e poder, ativamente, em meio a tensões que se Rumos da Educação 39 produz e reproduz a cultura. Neste sentido, Lopes & Macedo, (2011, p. 92), destaca que “o currículo faz parte da própria luta pela produção do significado, pela legitimação” (LOPES; MACEDO, 2011, p. 92). Conceber o currículo é necessário que trazermos para o centro da discursão as “narrativas hegemônicas de identi- dade que constitui o currículo oficial, tendo a educação como um espaço de luta contra a educação dominante e, portanto, como lugar de reelaboração identitária e de valorização do legado cultural (SANTANA et al., 2017, p. 149)”. Seguindo a ótica do Conselho Nacional de Educação (CNE), em defesa, especialmente as culturas dos afro-brasi- leiros, expressam a sustentação da educação quilombola como um mecanismo curricular para uma pedagogia própria. No entanto, a inserção da Educação Escolar Quilombola como modalidade de ensino na Educação Básica, deliberada na Conferência Nacional de Educação de 2010 (CONAE, 2010), é um ganho político para a população negra e quilom- bola. No que se refere à educação escolar quilombola, as Di- retrizes Curriculares Gerais, descreveque é: Desenvolvida em unidades educacionais inscritas em suas terras e cultura, requerendo pedagogia própria em respeito à especificidade étnico-cultural de cada comuni- dade e formação específica de seu quadro docente, obser- vados os princípios constitucionais, a base nacional co- mum e os princípios que orientam a Educação Básica brasileira. Na estruturação e no funcionamento das es- colas quilombolas deve ser reconhecida e valorizada sua diversidade cultural (BRASIL, 2011, p.21). A partir da reflexão sobre esse texto, é vital ponderar a construção das propostas pedagógicas para o ensino étnico- cultural, não só para as escolas quilombolas, mas também para as escolas que recebem alunos de comunidades quilom- bolas. Nessa perspectiva, segundo as Diretrizes Curricula- res Nacionais, a Educação Quilombola, praticada em nossa sala de aula, não pode se desvincular dos modos próprios de Rumos da Educação 40 pensar o mundo experienciado pelo homem/mulher quilom- bola em suas práticas sociais. (CNE/CEB 16/2012). A esse respeito, Silva (2006) expõe um ponto de vista bastante contundente, ao caracterizar o currículo como um local da construção e desconstrução da nossa identidade, por- tanto, está diretamente ligado à formação humana e não deve desconsiderar os contextos culturais e políticos em que ele se constitui e se regula. Já para Mello (2015) o currículo escolar precisa ser constituído do conhecimento reconstruído pelo aluno, a par- tir de suas próprias referências culturais. Nesse sentido a es- cola é, portanto, espaço de possibilidades desenvolvidas por dinâmicas culturais que nela se institucionalizam. Assim, consideramos que, as teorias do currículo sir- vam de referência às teorias pedagógicas, orientadas pela tradicionalidade. Nesse sentido, Oliveira (2010, p. 04), sali- enta que: “[...] articular as experiências e os saberes dos alu- nos com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, cientifico e tecnológico da sociedade por meio de práticas planejadas e permanentes avaliadas que es- truturam o cotidiano das instituições”. Para familiarizar, destacamos que é papel da escola organizar-se de forma de- mocrática e com equidade de representação nos espaços deli- berativos. De modo geral, a ideia de currículo liga-se umbilical- mente ao processo de construção indenitária dos educandos. Cabe aqui destacar a posição de Macedo (2009, p. 25), ao re- ferir-se o currículo como “o principal artefato de concepção e atualização das formações e seus interesses socioeducacio- nais”. Compreendemos, contudo, que o currículo é também fruto do diálogo social e histórico. É nesse contexto que os PCN (2013) e a própria Lei n. 10.639/03 permitiram aos pro- fessores e à escola, de forma geral, inserir nos conteúdos tra- balhados a interlocução com a questão das relações étnico- raciais e aproximando os das experiências de vida dos edu- candos. Rumos da Educação 41 Em síntese, o mundo só pode ser conhecido por meio do diálogo de sujeitos que se inter-relacionam nos discursos, neste sentido, o espaço escolar é então, na nossa ótica, o lugar da reafirmação do vivido, onde as diferenças culturais são produzidas mediante a dinâmica do lugar ou nos “entre - lu- gares” (BHABHA, 2013). No mesmo sentido, Goodson (1997, p. 17), afirma que “o currículo escolar é um artefato social, idealizado para rea- lizar objetivos humanos específicos”. No entanto, é conveni- ente e imprescindível enfatizarmos a importância do currí- culo, entendendo o como um processo dinâmico, flexível e so- cial. Segundo Sacristan (2013, p. 10), é impossível imagi- nar um currículo sem compreender a educação na diversi- dade de contextos sociais e culturais. Contudo, o currículo deverá ir mais além: ao direito à educação, conhecimento, va- lores e cultura dos discentes que frequentam as unidades es- colares. Ainda segundo o autor, “a escola sem conteúdos cul- turais é uma ficção, uma proposta vazia, irreal e irresponsá- vel [...]. O conteúdo cultural é a condição lógica do ensino e o currículo é a estrutura dessa cultura”. A Educação Escolar Quilombola deverá seguir a con- cepção de currículo presente nas Diretrizes Curriculares Na- cionais Gerais para a Educação Básica. Tais orientações de- verão nortear escolas de todo o país, ou seja, não apenas as modalidades de ensino, como a Educação Escolar Quilom- bola, e sim por toda a educação básica. Portanto, é uma forma da escola dar sentido ao seu saber fazer enquanto instituição de ensino. Porém, é considerável realçar que para que tais esco- las meditem seus currículos à luz da experiência quilombola, é crucial que explorem suas histórias, seus conhecimentos, sua percepção de mundo, sua maneira de educar e de asse- gurar sua resistência cultural. É importante destacar que a pesquisa de campo revelara que há uma grande preocupação para que a currículo escolar valorize temas da cultura local. Rumos da Educação 42 Em se tratando de educação quilombola como parte da Educação Básica, é relevante que as escolas, que não se enquadram no território quilombola, sejam também adequa- das a atender as demandas de todos os seus alunos, conside- rando a diversidade, os contextos sociais, culturais e etnicor- raciais. No entanto, é precípuo afirmar que o currículo é co- locado como um conjunto de texto-base que deve servir de apoio para as escolas. Seguindo essa linha de pensamento Carvalho (2011) nos conclui que o cotidiano escolar e o currí- culo como coletivo constrói condições para que os sujeitos pos- sam acompanhar movimentos que vão transformando a cul- tura da escola, fortalecendo a criação coletiva e individual. Por sua vez, alguns desafios levam a pensar a res- peito de um currículo a sociedade atual, diante de questões como o racismo. De acordo com a Resolução nº 8/2012 do CNE, que sintetiza toda a conquista legal na elaboração do conceito de educação escolar quilombola, no contexto da rea- lidade atual dos povos quilombolas no Brasil, e fixa diretrizes para o funcionamento das escolas quilombolas, bem como ou- tras providências, é possível destacar os princípios e pressu- postos que norteiam o novo ideário político-pedagógico da es- cola. Contudo, nas escolas das comunidades quilombolas, as experiências pedagógicas fornecem o terreno para a elabo- ração de estratégias de subjetivação, em vários níveis de atu- ação da vida, que não pode ser fruto unicamente da interação professor aluno, mas da integração professor-aluno, aluno- família, aluno-lugar onde vive, lugar onde vive-escola, es- cola-trabalho, trabalho-aluno, aluno-comunidade, comuni- dade-escola, escola-sociedade, escola-mundo. Em uma leitura pós-estruturalista de currículo, no que tange à cultura como sistema de significação, no contexto das escolas quilombolas, ele pode ser interpretado como um contínuo jogo de forças que valorizem no currículo as diferen- ças culturais. Sobre isso, Bhabha (2013, p.21) diz que “os em- Rumos da Educação 43 bates de fronteira acerca da diferença cultural têm tanta pos- sibilidade de serem consensuais quanto conflituosos, podem confundir nossas definições de tradições e modernidades”. Ainda de acordo com a autora, podemos visualizar no currí- culo a dimensão pedagógica da produção narrativa e tradici- onal, que se torna parte da necessidade, e não da nostalgia de viver. Já para Macedo (2011), o currículo traz consigo um espaço-tempo de fronteiras entre saberes, mas também: Como campo transeunte e conectivo, é uma prática social que envolve, ela mesma, a negociação de posições ambi- valentes de controle e resistência. O cultural não pode, na perspectiva que defendo, ser visto como fonte de con- flito entre diversas culturas, mas como práticas discri- minatórias em que a diferença é produzida. Isso significa tentar descrever o currículo comorepertório partilhado de significado, mas como lugar de enunciação (MA- CEDO, 2011, p.105). Dessa forma, pensar a construção do currículo nas escolas quilombolas como um artefato híbrido, remete à ideia de Gomes (2012), a qual enfatiza que os movimentos sociais, historicamente discriminados, têm como intenção política atingir de forma positiva toda a sociedade e não somente os grupos sociais por eles representados. Assim, o currículo es- colar deverá conter estratégias e conteúdo para que atinja o objetivo da mediação do aprendizado escolar e a preserva- ção/revitalização cultural. De acordo com Paré, Oliveira e Velloso (2008), Faz-se mister a conclusão efetiva da questão racial nos currículos escolares, reconhecendo a identidade étnica dos alunos negros e a valorização de suas potencialida- des, a partir da ancestralidade africana. A escola é um espaço privilegiado de construção de conhecimento e a sociedade brasileira possui uma dívida com relação à re- construção da identidade e auto-estima da população afrodescendente (PARÉ; OLIVEIRA;VELLOSO, 2008, p. 02). Rumos da Educação 44 Neste sentido, para familiarizar, destacamos que é papel da escola organizar-se de forma democrática e com equidade um currículo, pois ele viabiliza o processo de ensino aprendizagem, a partir das necessidades concretas, dito isto, o currículo é uma construção social e a escola passa a produ- zir, além de conhecimento, pessoas e cidadão quilombolas. A esquematização da educação quilombola está pau- tada nas Diretrizes Curriculares Nacionais, para a Educação Escolar Quilombola (DCNEEQ), que por meio da Resolução nº 8 de novembro de 2012, Título VII, capítulo I, Artigos 34, 35, 36, 37 e 38 explica como deve ser o currículo da Educação Básica na Educação Escolar Quilombola, o documento traz algumas determinações como: Art. 34 o currículo da Educação Escolar Quilombola diz respeito aos modos de organização dos tempos e espaços escolares de suas atividades pedagógicas, das interações do ambiente educacional com a sociedade, das relações de poder presentes no fazer educativo e nas formas de conceber e construir conhecimentos escolares, consti- tuindo parte importante dos processos sociopolíticos e culturais de construção de identidades. §1º Os currículos da Educação Básica na Edu- cação Escolar Quilombola devem ser construídos a partir dos valores e interesses das comunidades quilombolas em relação aos seus projetos de sociedade e de escola, de- finidos nos projetos políticos-pedagógicos. § 2º O currículo deve considerar, na sua orga- nização e prática, os contextos socioculturais, regionais e territoriais das comunidades quilombolas e, seus proje- tos de Educação Escolar Quilombola. (RESOLUÇÃO Nº 8 de 11/2012, p.13). Assim, o currículo precisa ser construído conside- rando suas histórias, cultura e saberes da comunidade qui- lombola, garantindo a educação de qualidade pautada no res- peito à diversidade e relações étnico-raciais. Lembramos que essas Diretrizes sozinhas não modificarão a realidade educa- cional nas escolas de comunidades tradicionais, porém, ter um documento norteador que sustente pedagogicamente es- tas especificidades é um passo significativo na diminuição Rumos da Educação 45 das discrepâncias escolares vivencias pelos povos quilombo- las. Para atender a tais finalidades no âmbito da educa- ção escolar, a Carta Constitucional, no Artigo 210, já reco- nhece a necessidade de que sejam “fixados conteúdos míni- mos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar for- mação básica comum e respeito aos valores culturais e artís- ticos, nacionais e regionais” (BRASIL, 1988). Atualmente um dos marcos legais sobre o tratamento das politicas educacionais para afrodescendente é a flexibili- zação do currículo dada pela Medida Provisória n° 746 de 2016. Seguindo a este direcionamento, a Portaria n° 1.570 de 21/12/2017, define a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) reconhecendo que “as escolas devem construir seus currículos e suas propostas pedagógicas, considerando as ca- racterísticas culturais locais, as necessidades de formação e as demandas e aspirações dos estudantes” (BRASIL, 2017, p. 47). O foco central da BNCC, está nas competências ge- rais da educação básica, portanto, a proposta multicultural de ensino é uma tendência a ser aplicada e dai buscar avan- ços, sendo tal característica bem propicia para o estilo do sé- culo em que vivemos. Considerações finais Em matéria de currículo voltado para uma educação articulada entre o saber local e a educação formal, atualmente encontra-se amparada por diferentes atos regulatorios. Diante dessa visão, iniciaremos a explanação sobre nossas observações dialogando sobre as relações dialéticas que permeiam os currículos. A análise empírica permitirá verificar quais os fato- res citados pela literatura que influenciam a implementação da Lei 10.639/03 e suas diretrizes, bem como da história e cultura locais. Em meios a tantos desafios, as Diretrizes Cur- riculares Nacionais têm aberto caminhos e nos feito pensar Rumos da Educação 46 em relação à educação escolar quilombola, dando maior visi- bilidade às comunidades e criando um espaço institucional de diálogo entre os projetos políticos pedagógicos das escolas com os alunos, pais e lideranças locais. A educação de qualquer instituição é permeada pelas orientações/diretrizes curricular não só os de caráter quilombola, como também os de caráter secular, ou seja, aqueles desvinculados da escola, como os costumes locais, entre outros. O primeiro passo dessa pesquisa foi mostrar como se deu a construção que converge ao encontro dos objetivos, das finalidades e das práticas pedagógicas, representada pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola. Essa análise nos mostrou que foram criados re- gimes de identidades, a partir de suas realidades étnicas, ge- ográficas e políticas. Esses regimes se refletem na formação da identidade e na atual organização. Assim, enfocamos, também, a política de educação formal voltada aos povos qui- lombolas. Um elemento que destacamos na análise das trajetó- rias dos quilombolas é a presença de textos legais em âmbito nacional, referentes à educação escolar, precedidos por polí- ticas semelhantes no âmbito de alguns estados e municípios, com a estruturação da educação quilombola e a aplicação da Lei 10.639/03. O contexto do currículo tem uma tendência de se repensar de como é a cultura local e a organização de seus conteúdos. Com base nos documentos analisados, podemos ter conhecimento significativo sobre a realidade geral das es- colas quilombolas. Referências BOURDIEU, Pierre. Efeitos de lugar. In BORDIEU, Pierre el al. A miséria do mundo. Tradução de Mateus S. Soares et al. 3ª edição. Petrópolis: Vozes, 1999. p. 159 - 166. Rumos da Educação 47 BHABHA, Homi K. O local da cultura. Belo Horizonte: edi- tora UFMG, 1998, 2013. BRASIL. Presidência da República Casa Civil. Subchefia par assuntos jurídicos. Lei 10.639 de 09 de janeiro de 2003. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que esta- belece as diretrizes e bases da educação nacional, para in- cluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências. Disponível em:<http://www.pla- nalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2003/d4887.htm>. Acesso em 16 de mai.de 2016. ______. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa: Educação Matemática do Campo / Minis- tério da Educação, Secretaria de Educação Básica, Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. – Brasília: MEC, SEB, 2014. 64 p. Disponível em: http://pacto.mec.gov.br/images/pdf/ca- dernosmat/PNAIC_MAT_Campo-pg001-064.pdf.
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