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Ensino Médio: sujeitos, políticas e práticas em discussão Conselho Editorial Técnico-Científico Mares Editores e Selos Editoriais: Renato Martins e Silva (Editor-chefe). http://lattes.cnpq.br/4416501555745392 Lia Beatriz Teixeira Torraca (Editora Adjunta). http://lattes.cnpq.br/3485252759389457 Ilma Maria Fernandes Soares (Editora Adjunta). http://lattes.cnpq.br/2687423661980745 Célia Souza da Costa http://lattes.cnpq.br/6191102948827404 Chimica Francisco http://lattes.cnpq.br/7943686245103765 Diego do Nascimento Rodrigues Flores http://lattes.cnpq.br/9624528552781231 Dileane Fagundes de Oliveira http://lattes.cnpq.br/5507504136581028 Erika Viviane Costa Vieira http://lattes.cnpq.br/3013583440099933 Joana Ribeiro dos Santos http://lattes.cnpq.br/0861182646887979 José Candido de Oliveira Martins http://www.degois.pt/visualizador/curriculum.jsp?key=5295361728152206 Liliam Teresa Martins Freitas http://lattes.cnpq.br/3656299812120776 Marcia Tereza Fonseca Almeida http://lattes.cnpq.br/4865156179328081 Ricardo Luiz de Bittencourt http://lattes.cnpq.br/2014915666381882 Vitor Cei http://lattes.cnpq.br/3944677310190316 http://lattes.cnpq.br/4416501555745392 http://lattes.cnpq.br/3485252759389457 http://lattes.cnpq.br/2687423661980745 http://lattes.cnpq.br/6191102948827404 http://lattes.cnpq.br/7943686245103765 http://lattes.cnpq.br/9624528552781231 http://lattes.cnpq.br/5507504136581028 http://lattes.cnpq.br/3013583440099933 https://wwws.cnpq.br/cvlattesweb/PKG_MENU.menu?f_cod=F53926B302D68D4EEFD8275CA7A47362 http://www.degois.pt/visualizador/curriculum.jsp?key=5295361728152206 http://lattes.cnpq.br/3656299812120776 http://lattes.cnpq.br/4865156179328081 http://lattes.cnpq.br/2014915666381882 http://lattes.cnpq.br/3944677310190316 Ensino Médio sujeitos, políticas e práticas em discussão 1ª Edição Lucas da Silva Martinez (Organizador) Rio de Janeiro Dictio Brasil 2017 Copyright © da editora, 2017. Capa Lucas da Silva Martinez Editoração Mares Editores Os textos são de inteira responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião da editora. Dados Internacionais de Catalogação (CIP). Ensino médio: sujeitos, políticas e práticas em discussão / Lucas da Silva Martinez (Organizador) – Rio de Janeiro: Dictio Brasil, 2017. 365 p. ISBN 978-85-92921-24-8 1. Educação 2. Educação Elementar. 3. Ensino Médio I. Título. CDD 372 CDU 37 2017 Todos os direitos desta edição reservados à Mares Editores e seus selos editoriais Dictio Brasil é um selo editorial de Mares Editores CNPJ 24.101.728/0001-78 Contato: mareseditores@gmail.com mailto:mareseditores@gmail.com Sumário Apresentação ................................................................................ 9 PRIMEIRA PARTE: Sujeitos e protagonismo ................................. 17 Juventude, Ensino Médio e Relações com o saber: elementos teórico-metodológicos ............................................................... 18 As ocupações nas escolas em 2015 e 2016 e o protagonismo da juventude .................................................................................... 48 SEGUNDA PARTE: História, organização e políticas ..................... 76 Problematizações acerca do Ensino Médio: em busca de uma educação integral ....................................................................... 77 A organização do Ensino Médio no Brasil: Algumas questões em discussão ................................................................................... 106 Ensino Médio nas escolas do campo: Autonomia e Resistência para o Campo ........................................................................... 136 Formação Integral, Interdisciplinaridade e Contextualização nas Políticas Curriculares para o Ensino Médio .............................. 157 Iniciação Científica e Pesquisa no Ensino Médio: concepções e práticas docentes ..................................................................... 188 As mudanças na educação brasileira em escolas de Ensino Médio no Rio Grande do Sul ................................................................ 214 Discutindo o (s) lugar (es) da avaliação no ensino de Sociologia e a Lei 11.684/2008 ..................................................................... 250 TERCEIRA PARTE: Propostas e práticas ...................................... 272 Ensino médio: ressignificação do ambiente escolar por meio de práticas restaurativas ............................................................... 273 CIL Paranoá como possibilidade de acesso ao ensino de línguas para os jovens do Ensino Médio do DF .................................... 297 Educação científica: importância e desafios do ensino de ciências em nível médio ......................................................................... 315 Prática de Estágio no Ensino Médio: A Química e a aprendizagem sob o olhar da/na docência ...................................................... 337 Sobre os autores ....................................................................... 356 - 9 - Apresentação O mundo não é. O mundo está sendo. Como subjetividade curiosa inteligente, interferidora na objetividade com que dialeticamente me relaciono, meu papel no mundo não é só o de quem constata o que ocorre, mas também o de quem intervém como sujeito de ocorrências. Não sou apenas objeto da história, mas seu sujeito igualmente. No mundo da história, da cultura, da política, constato não para me adaptar, mas para mudar [...] mudar é difícil, mas é possível (Paulo Freire, em Pedagogia da Autonomia). Com as palavras de Paulo Freire, inicio a apresentação de uma obra que, com a colaboração de vários autores, além de constar realidades, problematizar reformas, também indica caminhos de mudança. Difíceis, mas possíveis. Na realidade brasileira, o Ensino Médio surge e permanece como uma etapa a ser “esclarecida”. Vários autores com produção reconhecida destacam inúmeros desafios da referida etapa: investimento na formação de professores, devido à falta e a atuação em áreas não habilitadas; reconhecimento das culturas juvenis na escola; alteração na organização curricular; melhorias nos espaços físicos, construção de novos espaços como laboratórios, etc.; investimento em tecnologias digitais, entre outros. Diante desses desafios, nós pesquisadores mobilizamo-nos para ampliar conhecimentos na área, tentando entender o que é o - 10 - Ensino Médio, qual seu objetivo principal e como alcançar sucesso frente a esses desafios. Esse é um exercício rigoroso de diagnóstico, análise, investimento, formação. O contexto atual de reformas desta etapa também sugere um movimento de reflexão crítica sobre o presente e o futuro dos jovens estudantes. Em detrimento da prática de pesquisa e de uma concepção que valoriza a publicação científica como forma de socialização e mobilização de conhecimentos, o E-book “Ensino Médio: sujeitos políticas e práticas” buscou reunir textos que integrassem três eixos: sujeitos do processo educativo, políticas educacionais e práticas educativas. Dessa forma, os capítulos que compuseram este E-book podem ser considerados produção comprometida com os problemas atuais da prática educativa no Ensino Médio. Para a organização desse artigo, dividimos os artigos em três partes: Primeira parte – Sujeitos e protagonismo; Segunda parte – História, organização e políticas e; Terceira parte – Propostas e práticas. Desse modo, a primeira parte é composta de dois capítulos. De autoria do organizador da obra, o primeiro capítulo é intitulado “Juventude, Ensino Médio e Relações com o saber: elementos teórico- metodológicos”, e tem por objetivo discutir a conceituação de relação com o saber como elemento teórico-metodológicopara a docência e a pesquisa sobre os jovens no Ensino Médio. Através de diferentes referenciais o autor aponta que o caminho indicado é o diálogo, de forma a entender as relações estabelecidas pelos jovens com a escola, - 11 - com os professores e com o conhecimento escolar e permitir reflexões válidas sobre o ensino e a pesquisa, buscando entender a aprendizagem dos jovens e as possibilidades de êxito/fracasso escolar. O capítulo a seguir intitulado “As ocupações nas escolas em 2015 e 2016 e o protagonismo da juventude”, de autoria de João Paulo de Souza da Silva e Danielle Scheffelmeier Mei trata de refletir sobre os movimentos estudantes secundaristas, que aconteceram entre 2015 e 2016, considerando que estes preocuparam com a garantia de uma escola de qualidade e a promoção de espaços de diálogo na escola e com o poder público. Assim, os autores entendem que as ocupações constituíram-se como uma força de construção coletiva, vislumbrando possibilidade de mudanças sociais, no âmbito nacional quanto na realidade das escolas. A segunda parte possui sete capítulos. Sueli Salva, Daiele Zuquetto Rosa e Ethiana Sarachin Ramos no capítulo “Problematizações acerca do Ensino Médio: em busca de uma educação integral” apresentam alguns aspectos históricos referentes ao ensino médio no Brasil. O objetivo do estudo é fazer a relação entre a história e alguns processos vinculados ao currículo de ensino médio em implementação atualmente nas escolas brasileiras, tais como, a proposta de Currículo Integrado à Educação Profissional Técnica de Nível Médio. O capítulo intitulado “A organização do Ensino Médio no Brasil: Algumas questões em discussão”, de Angela Maria Corso, discute a - 12 - organização do Ensino Médio, a partir das últimas legislações, dando destaque ao PROEJA (Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica, na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos) e ao Ensino Médio Noturno. A partir de documentos e dados e oriundos do Estado do Paraná, a autora destaca a estratégia do estado, da organização curricular do Ensino Médio Noturno a partir de blocos, como uma possibilidade de enfrentamento à evasão e a reprovação, a partir do Programa Ensino Médio Inovador. Ivanio Folmer, Samella Taiane Minosso, Ana Margarida Ferreira Piani e Ane Carine Meurer, no capítulo intitulado “Ensino Médio nas escolas do campo: Autonomia e Resistência para o Campo” discutem a importância do Ensino Médio e Educação do Campo, como aliados no processo de reconhecimento de cultura dos educandos no espaço em que vivem, assim, como também discutir, ainda que previamente, a questão do próprio campo e a transformação do mesmo. Nessa esteira, discute-se também o Projeto Político-Pedagógico e a participação da comunidade no levantamento e/ou enfrentamento das problemáticas e objetivos a serem alcançados nessas escolas. No capítulo intitulado “Formação Integral, Interdisciplinaridade e Contextualização nas Políticas Curriculares para o Ensino Médio”, os autores Jéssica Erd Ribas, Guilherme dos Santos Pinto, Raquel Brum Sturza e Elisete Tomazetti buscam analisar algumas políticas curriculares produzidas a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, considerando três princípios básicos: - 13 - formação humana integral, interdisciplinaridade e contextualização. Dessa forma, os autores buscaram compreender o significado de tais princípios, assim como problematizar suas repercussões no âmbito do currículo escolar, em um contexto de desvalorização da profissão docente e de carências materiais da escola básica brasileira. De autoria de Sônia Maria Pereira de Lima e Isaura Beltrán Nuñez o capítulo “Iniciação Científica e Pesquisa no Ensino Médio: concepções e práticas docentes” busca discutir a iniciação científica no contexto das reformas curriculares propostas pelo Programa Ensino Médio Inovador, considerando professores de Química, Física, Biologia, Matemática (áreas de Ciências da Natureza e Matemática) e outros. Desse modo a partir da revisão de documentos que norteiam o referido programa e a pesquisa com os professores, os autores concluem que é preciso articular a formação docente à estudos relacionados à iniciação científica, de modo que os professores entendam como o conhecimento pode ser produzido em sala de aula. Em “As mudanças na educação brasileira em escolas de Ensino Médio no Rio Grande do Sul”, de autoria de Sônia Suzana Farias Weber e Kauana Martins Bonfada,. trata-se de um estudo referente às mudanças ocorridas em dois momentos do Processo de Reestruturação Curricular em Escolas Públicas de Ensino Médio do Estado do Rio Grande do Sul. O objetivo do trabalho é apresentar uma parte da organização das propostas de implementação e reestruturação curricular via orientações, bem como implicações no - 14 - processo de reorganização curricular e mudanças nas Escolas de Ensino Médio, do Rio Grande do Sul. A autora Letícia Ramos no capítulo intitulado “Discutindo o(s) lugar (es) da avaliação no ensino de Sociologia e a Lei 11.684/2008” aborda o ensino de Sociologia e a forma de avaliação da aprendizagem, que vem sendo disponibilizada para a produção do conhecimento em sala de aula no ensino médio, desde as reformas oriundas da organização curricular proposta para essa etapa de escolaridade a partir da Lei 11.684 de 02 de junho de 2008. O objetivo do estudo é compreender como o ensino de Sociologia vem situando a avaliação da aprendizagem. A terceira parte é composta por quatro capítulos. O capítulo “Ensino médio: ressignificação do ambiente escolar por meio de práticas restaurativas”, de autoria de Katury Rayane Rodrigues Ramos discute o contexto escolar, principalmente o papel da escola em tempos de conflitos e violências exacerbadas. Nesse contexto, um olhar diferenciado sobre as relações sociais estabelecidas entre os sujeitos escolares é importante, pois a busca de uma compreensão real dos conflitos, no que se refere às causas e seus desmembramentos contribui para a construção de um ambiente favorável e para a possibilidade de reverter quadros de violências. O objetivo é refletir sobre as relações de conflito e os hábitos escolares que estão presentes nas rotinas das escolas. - 15 - Alexandre Fernando da Silva e Carlos Alexandre Vieira no capítulo “Educação científica: importância e desafios do ensino de ciências em nível médio” discutem a educação científica no contexto da formação e preparação dos jovens para os desafios do mundo contemporâneo. Neste contexto, o ensino médio possui papel fundamental, como etapa final de escolarização básica e que deve consolidar e aprofundar os conhecimentos adquiridos em estágios anteriores. A partir do contexto atual do ensino de ciências em nível médio e da importância da ciência para o mundo moderno, o referido trabalho busca discutir a educação científica e sua importância na formação crítica e reflexiva dos jovens. No capítulo “Sim, nós podemos: CIL Paranoá como possibilidade de acesso ao ensino de línguas para os jovens do Ensino Médio do Distrito Federal”, os autores Eduardo Dias da Silva e Lucimar Pinheiro da Silva Sampaio problematizam o ensino de línguas, apresentando o engajamento político-organizacional e pedagógico do Centro Interescolar de Línguas 01 do Paranoá (CIL Paranoá), no Distrito Federal, como exemplo concreto na junção colaborativa entre os gestores públicos e a comunidade escolar (professores, alunos, equipe gestora e comunidade em geral) em desenvolver um ensino de línguas que possibilita à inserção dos alunos do ensino médio no mundo globalizado de forma crítica e autônoma. As autoras Fernanda Monteiro Rigue, Denise Santos da Cruz e Fabiana Bortoluzzi Angelo no capítulo “Prática de Estágio no Ensino - 16 - Médio: A Química e a aprendizagem sobo olhar da/na docência” apresentam reflexões acerca dos contextos e circunstâncias da escola pública de Educação Básica, através do viés do estudante em Formação Inicial. As impressões, sensações e desafios vivenciados no estágio são enfatizados por meio da análise de relatos construídos pelos estudantes da Educação Básica, de modo a destacar a prática realizada e também a relação entre os sujeitos envolvidos no ensinar e aprender no Ensino Médio. Desse modo, a obra aqui apresentada é um exercício crítico e curioso que, com a colaboração de vários autores, de vários estados do país, busca lançar luz sobre a etapa do Ensino Médio, considerando que o mesmo, como última etapa da Educação Básica é um campo complexo de concepções e disputas políticas. Espero que o E-book em questão possa ampliar conhecimentos na área e estimular outros novos pesquisadores a considerarem o Ensino Médio como campo de estudo. Lucas da Silva Martinez (Organizador) - 17 - PRIMEIRA PARTE: Sujeitos e protagonismo - 18 - Juventude, Ensino Médio e Relações com o saber: elementos teórico-metodológicos Lucas da Silva Martinez1 Discussões introdutórias sobre a temática: o que os dados nos revelam sobre os desafios do Ensino Médio? O Ensino Médio desponta, atualmente, como um dos maiores desafios de atendimento da Educação Básica. Como nos adverte Krawczyk (2011, p. 754): Quando se trata de refletir sobre o sistema educacional brasileiro, é consensual a percepção de que o ensino médio é o nível de ensino que provoca os debates mais controversos, seja pelos persistentes problemas do acesso e da permanência, seja pela qualidade da educação oferecida, ou, ainda, pela discussão sobre a sua identidade. No entanto, as preocupações com essa etapa não se dão apenas no presente. A definição histórica das funções do Ensino Médio e do seu público (jovens estudantes da elite ou de classes populares) foi marcada pela luta constante de poderes e interesses. A elite foi privilegiada em oposição à educação para as classes populares no que 1 Pedagogo. Mestrando em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria/RS. E-mail: lukasspedagogia@gmail.com mailto:lukasspedagogia@gmail.com - 19 - se refere ao acesso ao conhecimento. Enquanto uns tiveram possibilidades formativas com acesso ao Ensino Superior, sendo formados para ser dirigentes, grande parte da população do país teve acesso apenas à formação necessária para serem trabalhadores. A divisão entre trabalho manual e intelectual fica explícita nas propostas desenvolvidas ao longo da história (KUENZER, 2005). É difícil definir com precisão quais são os problemas do Ensino Médio. Na verdade, é aí que reside o potencial da pesquisa educativa: tentar delinear quais elementos são fundamentais para se entender o estado do Ensino Médio e como ele assim se configurou, constituir uma discussão que qualifique a realidade da etapa. Um dos pontos passíveis de discussão é o da identidade dessa etapa. Entretanto, de acordo com Krawczyk (2014) falam-se de diferentes problemas, mas a falta de identidade do Ensino Médio não pode ser tratada da mesma forma, pois o Ensino Médio nunca teve uma identidade definida. Entre a formação para o trabalho, a formação para o acesso à universidade e, uma tentativa de estabelecer uma identidade em si mesmo, gira o Ensino Médio buscando se definir. Considerando a complexidade do tema, esse texto vem em outra perspectiva, tentando abordar um aspecto central da instituição escolar, que é o da aprendizagem dos estudantes, o motor que os faz continuar estudando ou não. - 20 - De acordo com dados de 2013 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira dispostos no site Qedu2 a distorção idade-série no Ensino Médio (taxa média) é de 30%. Sendo assim, a cada 9 jovens estudantes do Ensino Médio, 3 reprovaram duas vezes ou mais. Estes índices não se constituem como fenômenos isolados. A aprendizagem dos jovens estudantes pode estar ligada a uma variedade de problemas ou dificuldades encontradas na escola, principalmente nesta etapa da Educação Básica. Entre estas, podemos destacar a formação de professores; relações frágeis entre os jovens estudantes, a gestão e os professores; estrutura escolar precária, com falta de recursos como laboratórios, etc.; a relação falha ou frágil estabelecida entre as tecnologias digitais e a docência, entre tantos outros aspectos. Destes destacados, chamo atenção à formação de professores e as condições de trabalho docente. Dados apresentados pelo Observatório do Plano Nacional de Educação, em sua meta 15, indicam que apenas 53, 8% dos professores do Ensino Médio atuam na área que possuem formação (OBSERVATÓRIO DO PNE, 2017). Sendo assim, quase metade dos professores atua em uma área na qual não tem formação, quando não existe falta de professores que demanda a 2 Disponível em: http://academia.qedu.org.br/censo-escolar/distorcao-idade-serie. Acesso em: 26 ago. 2017. http://academia.qedu.org.br/censo-escolar/distorcao-idade-serie - 21 - dispensa dos estudantes, falta de cumprimento de carga horária, entre outros desafios. Neste sentido, Krawczyk (2011, p. 756) aponta que buscamos muitas soluções para a evasão dos estudantes e esquecemo-nos de pensar “[...] estratégias de fixação dos professores, principalmente por meio da concentração de seu trabalho em uma só instituição e de remuneração diferenciada nas regiões de maior dificuldade de acesso”. Cabe também pensar que não se trata só da formação sobre os conteúdos, mas também, a formação para trabalhar com um público diferenciado, que é a juventude3. Com tantas dimensões a serem trabalhadas, a que mais se investiu nos últimos meses foi a questão curricular. O Governo atual 3 Para mais informações sobre a conceituação de juventude destaco as referências de Tomazetti et al., (2012), Salva et al., (2017), Martinez (2017), entre outras. Existem também diferentes grupos de pesquisa e observatórios que investem na temática como o Observatório do Ensino Médio (Universidade Federal do Paraná) e os Observatórios da Juventude (Universidade Federal de Minas Gerais e Universidade Federal Fluminense). Sobre a juventude, uma das grandes discussões é a do jovem atuar simultaneamente como jovem (com características próprias como as relações de gênero, étnico-raciais, geracionais, de classe social, idade, consumo cultural, entre outras,) e como estudante, o que alguns autores como Perrenoud (1995) destacam como o “ofício de aluno”. Em nenhum momento o jovem com sua cultura é negado durante este texto, no entanto, o fundo da discussão tentar recuperar e evidenciar a atividade escolar do jovem estudante, aquilo que muitos autores consideram como trabalho escolar (CHARLOT, 2013) e que diz respeito à postura de estudante que envolve uma relação escolar/científica de atenção, atividade, exercício e reflexão (MASSCHELEIN; SIMONS, 2015). Os jovens se envolvem em diferentes dinâmicas de amizade e socialização, entretanto, não podemos ignorar o papel da escola como lugar de conhecimento e de aprendizagem. O aprender e estudar, dessa forma, se tornam o centro da discussão da relação com o saber, precisando então o jovem se equilibrar enquanto jovem e estudante simultaneamente, com múltiplas características e ações. - 22 - do Brasil aprovou a Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017, que altera da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, entre outras leis, modificando a organização curricular do Ensino Médio, impondo a escolarização em tempo integral e alterando os componentes curriculares, entre eles a absolutização da matemáticae da língua portuguesa em detrimento das outras disciplinas. Cada vez o currículo do Ensino Médio perde em termos de generalidade, perde possibilidades diversas para o pensamento dos jovens e aos poucos vai se tornando um espaço de produção de índices nacionais e internacionais de avaliação. Essa atitude tomada pelo governo implica o a crença de que o “problema” esteja só no currículo, esquecendo todos os outros desafios já destacados. Embora as perspectivas futuras não se mostrem favoráveis, existem elementos importantes na dimensão escolar que precisam ser ressaltados: a relação das crianças e dos jovens com o conhecimento escolar e o valor deste na vida deles. Como nos lembram Masschelein e Simons (2015) o escolar (aquilo que torna a escola em “escola”) trata-se justamente do valor do conhecimento e da possibilidade de tempo livre de reflexão, sem apelos produtivos ou utilitários4. Cabe 4 Para Masschelein e Simons (2015) o escolar se trata da característica da escola, de ser um lugar de conhecimento, de prática, de exercício, e que implica negar os apelos produtivos do mercado ou utilitaristas advindos do capitalismo, retomando o sentido atribuído na antiguidade como educação e escola como tempo livre para pensar. Não tempo livre de relaxamento e de distração, mas discussão, atenção e reflexão que em outros momentos não seria possível fazer. Tempo livre para exercer o pensamento. - 23 - pensar: como os jovens estudam e percebem o conhecimento? Será que estudam porque gostam ou porque são empurrados pelos pais? Será que mesmo com a distância entre os conhecimentos e a vida cotidiana eles conseguem atribuir um sentido positivo ao conhecimento? Como eles se manifestam frente ao seu saber/aprender? Quais as aulas que eles mais gostam? Como eles se relacionam com os seus professores? Estas questões são fundamentais para entender as relações com o saber dos jovens estudantes no Ensino Médio ou em diferentes modalidades e etapas da Educação. Os índices de distorção idade-série revelam um “abismo” de reprovação, um espaço-tempo ofuscante entre os jovens e a escola, mas, em sua natureza estatística não são capazes de traduzir as aprendizagens dos jovens nesse espaço. De qualquer modo, pensar a relação com o saber é sempre fazer uma leitura “positiva” da realidade dos estudantes. É tentar apreender o que os jovens aprenderam invés de pensar no que eles não aprenderam. E, pensar o porquê de algumas aprendizagens não ter acontecido. Para Charlot (2000) a relação com o saber é a relação que o sujeito (criança, jovem ou adulto) estabelece com os saberes5/conhecimentos escolares, com o seu saber/aprender, e que 5 Por ordem de organização, quando me refiro à relação com saber trato das diferentes relações, conexões, nexos realizados entre os jovens estudantes e as diferentes aprendizagens possíveis. A discussão entre saber e conhecer, entre saber e conhecimento é longa, no entanto, considerando o uso corrente na literatura em educação, ao falar de saberes escolares, trato-os como conhecimentos escolares. A relação com o saber remete diretamente à relação com o aprender (CHARLOT, 2000) - 24 - é sempre uma relação única, que envolve mobilização, atividade intelectual e que é desencadeada ao mesmo tempo em que tem por objetivo o prazer de aprender. Neste sentido, encaminhando a discussão sobre a relação com o saber, o objetivo do trabalho é discutir a conceituação de relação com o saber como elemento teórico-metodológico para a docência e a pesquisa sobre os jovens no Ensino Médio. Ao passo que discutimos os elementos da teoria de Charlot (2000, 2013) apontamos reflexões que podem se refletir tanto na prática pedagógica como na pesquisa em educação. A origem da temática do “fracasso escolar” e desmistificações Para entender o “fracasso escolar” é preciso voltar na sociologia dos anos 70, principalmente a que se convencionou chamar de sociologia da reprodução (mais conhecida como sociologia da educação). Para Silva (1992, p.15), pode-se dizer que o grande tema da sociologia da educação é o “[...] dos mecanismos pelos quais a educação, ou mais concretamente, a escola, contribui para a produção e a reprodução de uma sociedade de classes”. O tema da reprodução é torna-se central, principalmente nas figuras de Althusser, Bowles e Gintis, Baudelot e Establet e, Bourdieu e Passeron. então este sentido sempre é possível de ser estabelecido e não é incorreta esta relação. - 25 - Para Althusser, Bowles e Gintis e Baudelot e Establet a escola tem um papel definido: preparar determinadas classes sociais para ocupar determinadas divisões sociais do trabalho. Althusser introduz o conceito de Aparelhos Ideológicos do Estado. Para este autor, o Estado dispõe de instituições como a escola e as igrejas as quais tem o papel de transmitir uma ideologia, valores e formas de agir a serem seguidos por cada uma das classes sociais. “A ideologia é constituída por aquelas crenças que nos levam a aceitar as estruturas sociais (capitalistas) existentes como boas e desejáveis” (SILVA, 1999, p. 31). A reprodução está aí garantida pela ideologia: para que mudar, ou transformar algo, se podemos fazer crer pelas práticas e pelo currículo que tudo está bem? Baudelot e Establet continuam a tese de Althusser argumentando que a reprodução se realiza no currículo, ou seja, currículos diferentes para diferentes classes sociais, com conhecimentos de status superior para as classes dominantes e de status inferior para as classes subordinadas. Bowles e Gintis, ao contrário das apostas curriculares que fizeram os outros autores, consideram que são as relações sociais que são fundamentais para a reprodução das classes sociais. A reprodução se faz no espelhamento das relações sociais de trabalho às relações educativas, por exemplo, ao enfatizar a aprendizagem [...] das atitudes necessárias para se qualificar um bom trabalhador capitalista. As relações sociais de - 26 - trabalho capitalista exigem certas atitudes por parte do trabalhador: obediência à ordens, pontualidade, assiduidade, confiabilidade, no caso do trabalhador subordinado; capacidade de comandar, de formular planos, de se conduzir de forma autônoma, no caso dos trabalhadores situados nos níveis mais altos da escola ocupacional (SILVA, 1999, p.33). Silva (1992) considera então o que os três grupos de autores têm em comum: uma visão de sociedade que enfatiza uma demanda (precisa de certo tipo de cidadão ou trabalhador) e que vê na escola a função de produzir e reproduzir esse sujeito, de forma mais produtiva e efetiva possível. A escola possui então uma função e, assim, entende- se que essa vertente sociológica tenha ficado conhecida como funcionalista. Além destes autores, Bourdieu e Passeron na obra “A Reprodução” apontam que a escola é a principal reprodutora da sociedade. Para Bourdieu e Passeron a escola não inculca valores ou modos de pensar que são dominantes. Ela [...] se limita, ao usar, um código de transmissão cultural no qual apenas as crianças e jovens da classe dominante já foram iniciados no ambiente da família, a permitir a continuação desses no jogo da cultura e a confirmar a exclusão dos filhos de pais das classes subordinadas (SILVA, 1992, p. 18). Silva (1992) argumenta que a exclusão ou o fracasso não é pela ação de uma imposição da parte de alguém para que outro não - 27 - continue e não progrida no caminho escolar. O fracasso escolar se dá “naturalmente” devido a alguns que não conseguem vencer nessa corrida meritocrática. Obviamente, este natural não é natural, mas diz respeito a um conjunto de conceitos a serem esclarecidos. O conceitoprincipal dessa análise é o habitus. Explicado por Silva (1999) trata-se da incorporação das estruturas sociais internalizadas e, diz respeito ao conjunto de disposições psíquicas que envolvem relação com a linguagem, com os gostos, com a arte, com maneiras de ver o mundo, dominantes ou dominadas. Se as crianças das classes populares não têm o habitus dominante, nesta lógica, não tem possibilidades de compreender a estrutura dominante evocada na cultura escolar. Essa análise, no entanto, com base em dados estatísticos de entrada e de saída mostra e determina a reprodução: não existem possibilidades de que uma criança da classe popular tenha um bom desempenho na escola e consiga melhorar sua condição social. O que Bourdieu não considerou e que Charlot (2000) e outros autores perceberam é que as crianças e jovens não são guiados apenas pela posição social dos pais, por um habitus de classe: elas desenvolvem algum tipo de posição dentro do espaço escolar. Ou, aquilo que Charlot (2013) nos lembra: nossas condições subjetivas, mesmo sem alguma explicação clara dentro da sociologia, nos impulsionam a fazer coisas que extrapolam nossas condições. - 28 - Talvez, uma das teorizações mais claras que permitem fugir do determinismo da sociologia da educação é a abordagem teórica de Bernard Lahire (2002). Para o autor, o principal elemento que foge à sociologia, quando ela se envolve em análises macrossociais e estatísticas é a dimensão do individual. Como entender porque crianças e jovens de classes sociais populares, com características homogêneas podem agir de formas tão diversas? Ou melhor, porque filhos dos mesmos pais, nascidos na mesma época atuam de formas tão diversas? O que Lahire (2002) chama atenção é que o conceito de habitus de Bourdieu, de alguma forma busca algum tipo de homogeneidade e é determinista, no entanto, uma análise individual, algo que ele chama de uma “sociologia psicológica” revela que os sujeitos são plurais, ou seja, produtos de diferentes socializações, no seio da família ou em outros espaços, e adquirem disposições, contraditórias ou não, que se tornam algum tipo de senso que orienta as ações práticas. Para o autor: Um autor plural é, portanto, o produto da experiência – amiúde precoce - de socialização em contextos sociais múltiplos e heterogêneos. No curso de sua trajetória, ou simultaneamente no curso de um mesmo período de tempo, participou de universos sociais variados, ocupando aí posições diferentes (LAHIRE, 2002, p.36). - 29 - Toda argumentação feita nesse texto sobre o “fracasso escolar” é nada mais que uma forma de fugir à simplificações e culpabilizações existentes, que buscam justificar o fracasso de crianças e jovens na escola. Moll (1996) já destacava três perspectivas que vinham ao encontro dessas justificações: a abordagem psicologista, que atribui a falta de aprendizagem às estruturas do indivíduo, apelando principalmente para questões neurológicas, déficits, etc.; a abordagem biologicista que direciona a falta da aprendizagem à falta de nutrição adequada e problemas médicos e; a abordagem culturalista, que encaminha para problemas de deficiência cultural, falta de herança cultural familiar, entre outras. Todas as abordagens carregam uma falsa ilusão: a ilusão de que a culpa é individual e que não existe nada a fazer. Além disso, indicam elementos que essa argumentação já abordou como a questão da pluralidade do sujeito e a possibilidade de rompimento com um habitus de classe, através de diferentes socializações, no qual uma criança de classe popular pode se desenvolver, enfrentando e superando as estatísticas. Lahire (1997) em uma de suas pesquisas aponta que, dentre 27 crianças em início de escolarização, embora todas fossem da classe popular, com famílias com características e condições similares, metade destas tinham bom desempenho na escola e mostravam a face do “improvável”. Esta é uma das grandes críticas que Lahire faria à sociologia desenvolvida em sua época: sempre quando sujeito tem um - 30 - desempenho maior que o esperado eles são colocados como exemplares únicos, peculiares, em que os métodos existentes não os permitem analisar e eles ficam no contigente. Neste sentido, Lahire se ocupa destes para mostrar que, em diferentes momentos, espaços e pequenas mudanças, inclusive na relação com os pais e demais familiares, as crianças e, consequentemente os jovens adquirem um estoque de disposições, e estas os diferenciam uma das outras. Quando dizemos que as crianças e jovens das classes populares não irão aprender e provavelmente repetirão à trajetória de seus pais, estamos ignorando dois potenciais: o das disposições adquiridas, e o da força subjetiva que eles podem acabar desenvolvendo. Charlot (2000) entende que o “fracasso escolar” tornou-se quase um sujeito, algo determinista: “ele não passa porque não aprende, tem fracasso escolar!”. O que Charlot argumenta é que esse “fracasso” se trata de uma situação de fracasso que, através de uma relação próxima e bem fundada com a escola, com o aprender e com os conhecimentos escolares pode ser superada. Pensar em termos de relação com saber implica um olhar atencioso sobre as crianças e jovens, buscando entender o que eles aprenderam e o que eles não aprenderam, buscando entender o porquê desses acontecimentos. Aí se desdobram elementos importantes para a docência e para a pesquisa. - 31 - Pensando as relações com o saber O que são as relações com o saber para Charlot (2000, 2013)? Para explicar, Charlot sugere alguns elementos, tais como: Mobilização, atividade intelectual, prazer, desejo e sentido. Para o autor, cada uma dessas ações, processos ou relações são fundamentais para entendermos sua teorização. É preciso conceituar cada uma e suas características para poder entender. Mas o que significa mobilização dentro dessa teoria? O que significa atividade intelectual do estudante? Como se obtém prazer na relação? E o sentido, o que lhe caracteriza? Ambos os conceitos articulam-se e aparecem antes ou depois, portanto não é possível organizá-los em uma ordem. Pode-se tentar organizar, considerando que toda relação está em movimento, e o próprio conceito de mobilização utilizado pelo autor indica movimento e ação. Começamos pela atividade. Charlot (2000) busca na sociologia e na antropologia os fundamentos para o estudo daquilo que designou como relação com o saber. Os autores e discussões feitas acima se constituem grande parte do referencial teórico utilizado pelo autor. Um dos principais referenciais de Charlot é o pensamento de Bourdieu, na qual Charlot baseou-se inicialmente e, para romper com o determinismo da relação entre escola e herança familiar, expandiu a ideia acrescentando a noção de atividade. A atividade do sujeito pode ser potencial e determinante para o rompimento com a correlação estatística entre classe social e fracasso escolar. Segundo o autor, - 32 - O ser humano ocupa uma posição no mundo, mas, a partir dessa posição, ele tem uma atividade sobre o mundo. A atividade do aluno na sala de aula e fora dela é tão importante quanto a sua categoria social ou sexual para se entender o que está acontecendo na escola (CHARLOT, 2013 p. 143). Para Charlot (2013), essa atividade, que é uma atividade intelectual e diferenciada de outras atividades é fundamental para aprender e, só aprende quem desenvolve uma atividade intelectual frente aos conhecimentos escolares e toma uma postura rigorosa frente ao seu saber/aprender. No entanto, Charlot (2013) ao apropriar-se do pensamento de Leontiev, explica que: só é atividade um conjunto de ações que possuem objetivo e motivo, coerentes entre si. Por que faço isso? É o motivo. Para que o faço? É o objetivo. Como atingir esse objetivo? Realizando ações, que requerem operações.Uma atividade tem uma eficácia e um sentido. Ela é eficaz quando as operações permitem chegar ao resultado visado. O sentido da atividade depende da relação entre objetivo e motivo. Quando ambos coincidem, é mesmo uma atividade; senão, é apenas uma ação (CHARLOT, 2013, p. 143-144). Essa coerência é importante para compreensão da atividade, principalmente no que confere ao sentido. Aprender requer uma atividade intelectual. Só se engaja em uma atividade quem lhe confere um - 33 - sentido. Quando esse sentido é afastado do resultado visado pela ação de estudar, o engajamento nesta é frágil. Ao contrário, quando motivo e objetivo coincidem, esta faz muito sentido e sente-se prazer ao desenvolvê-la e, ainda mais, ao atingir o objetivo. Atividade, sentido e prazer: esses são os termos da equação pedagógica a ser resolvida (CHARLOT, 2013, p. 146). A atividade carrega consigo a eficácia (se alcancei com o objetivo) e o sentido que atribuo a ela. Pode-se dizer que estudamos por diferentes motivos: passar de ano, ganhar um presente, porque gostamos ou nos sentimos desafiados; para aprender, entre outros. Na mesma linha, Perrenoud (1995) e Charlot (2013) realizam críticas ao utilitarismo no qual crianças e jovens se envolvem, estudando por diferentes motivos e não necessariamente para aprender. Benjamim (2007) o faz da mesma forma, evocando que os jovens e a universidade se venderam à burguesia, e se relacionam com o conhecimento na corrida do trabalho, do capital e do diploma, configurando a falta de objetivos, motivos e ações coerentes. Charlot advoga então que, os sujeitos agem com motivos e objetivos diversos e não conseguem construir uma relação sólida com o saber/aprender e com os conhecimentos. Disso decorre o sentido e/ou a falta dele. O sentido é complexo, e, algumas perguntas podem nos ajudar a pensar: “[...] qual o sentido de ir à escola? [...] qual é o sentido de estudar, ou de se recusar a estudar? Qual é o sentido de aprender e de compreender, quer na escola, quer fora da escola?” (CHARLOT, - 34 - 2013, p. 144-145). “Para ele [o estudante], qual sentido tem tal ou qual método pedagógico, tal ou qual relação com os docentes? O que ele considera uma aula interessante? São questões básicas” (CHARLOT; REIS, 2014, p.75). Perrenoud (1995) contribui com a discussão sobre o sentido da atividade escolar, ao afirmar que o sentido sempre é construído. Porém, é construído sob diferentes situações, como pela imposição/necessidade feita pelo professor. Pode ser construído com base na herança biológica ou genética. Pode ser construído e negociado entre professor e estudante, pois os professores têm o poder de combinar atividades, flexibilizar, dispor de estratégias, que podem favorecer que o estudante se mobilize. Perrenoud (1995) vai além do estudante: indica que o professor tem papel importante quando se trata de reconhecer as relações que os estudantes estabelecem, criando formas de privilegiar o diálogo. Cada estudante possui razões e juízos de valores que precisam ser respeitados e, didaticamente negociados. A questão do sentido da atividade escolar é de extrema importância para Perrenoud (1995), pois segundo o autor, só existe aprendizagem a partir da construção de sentido. Charlot (2013) indica que, como o sentido e construído ou atribuído pelo estudante, pode ser que esse sentido seja constituído em relação com algo, como - 35 - [...] uma palavra, um enunciado, um acontecimento que possam ser postos em relação com os outros em um sistema, ou em um conjunto; faz sentido para um indivíduo algo que lhe acontece e que tem relações com outras coisas de sua vida, coisas que ele já pensou, questões que ele já se propôs. É significante (ou, aceitando-se essa ampliação, tem sentido) o que produz inteligibilidade sobre algo, o que aclara algo no mundo. É significante (ou por ampliação novamente, tem sentido) o que é comunicável e pode ser entendido em uma troca com outros. Em suma, o sentido é produzido por estabelecimento de relação, dentro de um sistema, ou nas relações com o mundo ou com os outros (CHARLOT, 2000, p. 56). Em suma, quando um conteúdo no qual me relaciono traz à memória algo importante ou interessante, quando aquilo diz respeito a alguma disciplina pela qual me interesso, quando algo vai ao encontro das minhas expectativas, isso faz sentido pra mim! No entanto, nem tudo faz sentido, por isso, muitas vezes, como citado em Perrenoud (1995) o sentido também é forçado pela imposição, pela necessidade/obrigação de fazer, e, dessa forma, pode ser que “[...] o aluno age por um motivo não relacionado com o próprio saber” (CHARLOT, 2013, p. 145). Corre o risco de que este sentir/sentido não seja prazeroso, sendo que o prazer também é importante pra fortalecer a relação com o saber. Charlot (2013, p. 159) traz um exemplo claro sobre o sentido da atividade: “Uma vez, um adolescente francês me disse: ‘Na escola, - 36 - eu gosto de tudo, menos das aulas e dos professores’. É claro que, mesmo nesse caso a escola tem sentido para o aluno, mas esse sentido não está relacionado com o aprender”. O sentido é sempre atribuído pelo sujeito: nem sempre tem relação direta com o aprender, com os conhecimentos, mas como as relações que o sujeito estabelece são múltiplas, a escola pode tornar-se um lugar agradável, se excluirmos os momentos da aula. Salva et al., (2017) em sua pesquisa, ao entrevistar um estudante obtém a mesma resposta. Entre estudar, aprender, conhecer coisas novas, estar bem formado para o futuro seja ele qual for, e o valor do conhecimento escolar, existe algo a pensar: algo está errado nessa equação. Na teoria da relação com o saber o prazer é algo importante. Só se tem prazer naquilo que faz sentido, só fazemos uma atividade se ela faz sentido, e só tem sentido se tem prazer, se motivo e objetivo coincidem, e se aquilo que fazemos torna-se efetivamente atividade. Só fazemos uma atividade se nos mobilizamos. Charlot (2013) alerta: pensamos nos estudantes como sujeitos dispostos a aprender, porém, nem sempre é assim. O que me move e me impulsiona a estudar? O que me mobiliza? Charlot (2000, p. 55) entende que: “Mobilizar é por recursos em movimento. Mobilizar-se é reunir suas forças, para fazer uso de si próprio como recurso”. Charlot (2013, p. 159) distingue mobilização de motivação: “Não gosto muito dessa ideia de motivar os alunos, porque, muitas vezes, esse ato de motivar é o mesmo que enrolar os - 37 - alunos para que eles façam alguma coisa que não estão afim de fazer”. Assim, considera o autor: “A motivação é externa, ao passo que a mobilização é um fenômeno interno: motiva-se alguém de fora, enquanto mobiliza-se a si mesmo de dentro” (CHARLOT, 2013, p.160). Charlot (2000) entende que, a mobilização envolve diretamente duas ideias: a de recursos e a de móbil (razões para realizar o movimento). O autor entende que, ao discutir a mobilização é impossível não entrar na ideia de desejo. Todo o estudo que tomar a relação com o saber como noção central não poderá desvencilhar-se do alicerce psicanalítico; não que isso proíba outras abordagens, mas a partir da teorização da relação de objeto, do desejo e do desejo de saber, a seguir, da inserção social desses em relações (que ligam o psicológico ao social) é que será possível correr o risco de trabalhar e evoluir a noção; uma evolução que não esquecerá algo essencial; sob pena de fazer-lhe perder o seu sentido: não há sentido, senão o do desejo (BEILLEROT 19-- apud CHARLOT, 2000, p. 47). Charlot, ao considerar isso, afirma que é indiscutível o tema do desejo, porque o sujeito é sujeito de desejo, o sujeito é desejo, e sempre é desejo de algo, de um objeto, do Outro. Porém, argumenta: Inversamente, não posso concordar com uma abordagem que pretende fundamentar o desejona pulsão (em uma perspectiva biologizante que faz regredir de Lacan a Freud) e introduz o social apenas em um segundo, ou terceiro momento (CHARLOT, 2000, p. 47). - 38 - Embora Charlot (2000) não entre na discussão psicanalítica, ela tem um grande valor e pode nos ajudar a esclarecer várias dúvidas. Desse modo, para entender essa perspectiva psicanalítica na qual se ocupam Freud e Lacan me valho de Benetti (2006) ao falar do desejo, do Inconsciente e das relações possíveis entre psicanálise e educação. Prazer tem relação com espera, com anseio, com desejo. Talvez, só seja possível construir uma relação forte ou sólida com o saber, quando prazer e desejo se encontram, se o desejo de estudar, de aprender, de mover de lugar ou condição torna-se um imperativo a ser vivido. De qualquer modo, não são todos os estudantes que conseguem estabelecer a mesma relação. Para Benetti (2006), com base em Lacan e outros autores, os seres humanos estão sempre em busca de satisfação. O próprio Freud (2014) escreve que o destino do homem (por não estar definido em nenhum lugar) é o da felicidade, da satisfação e, do afastamento dos desprazeres da vida. Na teoria psicanalítica, os sujeitos buscam incansavelmente por um objeto absoluto, a Coisa, que lhe trará satisfação total e que não existe, por isso torna-se o motor da vida, que a faz continuar, sempre em busca dessa satisfação. A criança quando nasce e encontra- se com a mãe pensa encontrar isso, mas, é interditada pela cultura, no que se refere ao incesto e, a partir daí, buscará sempre uma forma de satisfação completa. - 39 - Pensar essa busca de satisfação nos permite pensar o contrário, o vazio que existe em cada um de nós e que nos mobiliza, ou, nas palavras de Salva, Ramos e Tomazetti (2017, p.76): “[...] como dialogar onde falta silêncio?”. Portanto, lembro-me de Melucci (2004, p.74) em um trecho de seu livro: NAN-IN, UM MESTRE JAPONÊS da era meiji, recebeu a visita de um professor universitário que queria informações sobre o zen. Nan-in serviu o chá. Encheu a taça do seu hóspede até a borda e depois continuou a derramar o líquido. O professor observou o chá transbordar até não conseguir mais se conter: “Está cheia”, disse, “não cabe mais chá!”. “Como esta taça”, disse Nan-in, “tu estás repleto das tuas opiniões e conjecturas. Como posso explicar-te o zen, se antes não esvazias tua taça?” (MELUCCI, 2004, p. 74). É o nosso vazio que nos faz ir atrás. Quando estamos cheios não vamos à busca, mas quando nos é aberto espaço então nos mobilizamos em busca da nossa satisfação. A taça de chá representa isso: a possibilidade que cada um tem de buscar aquilo que nos preenche, mas, para isso, precisamos nos esvaziar, precisamos da dúvida, da incerteza, precisamos colocar para fora, verbalizar, dialogar. Quem tem certeza de tudo não busca mais conhecimento. É a falta da certeza, o vazio que promove o movimento. A curiosidade e a desconfiança movem a ciência e, a curiosidade epistemológica, como nos lembra Freire (2016) é que pode promover com que estudantes sejam movidos por um desejo de estudar e aprender. - 40 - Considerando a questão do desejo e as discussões acima realizadas, nos questionamos: quando falamos que a mobilização do estudante depende do seu desejo, e que é ele que se mobiliza, como fazer com que ele se envolva nas atividades se não houver esse desejo? Charlot (2000) não nos dá nenhuma saída para pensar a questão do desejo. Inclusive, Nogueira (2013) ao refletir sobre as contribuições de Lahire para a educação, destaca que sua ampla noção de disposição e de constituição do sujeito através das socializações esbarra no mesmo problema: a sociologia se afasta da psicologia e da psicanálise para constituir-se, e, no entanto, lhe falta uma teoria da subjetividade, ou seja, esse terreno dos desejos que a teoria psicanalítica afirma não existir controle, envolvendo assim os desejos pulsionais. A teoria de Bourdieu sobre o habitus e as teorias que dela provêm não podem, completamente, lidar com a dinâmica entre interno e externo. Assim, sempre existe espaço de diálogo entre aquilo que é incorporado socialmente, ou seja, a orientação social do individual (NOGUEIRA, 2013) e aquilo que constitui a psique do sujeito. Mesmo Charlot não aceitando a perspectiva psicanalítica, ainda assim consideramos importante e do ponto de vista teórico, nos permite entender melhor as relações dos estudantes com o mundo exterior, inclusive dos seus posicionamentos frente aquilo que eles acreditam. Sabemos que o desejo é necessário, mas não existe uma formula para fazer com que o estudante tenha o desejo de estudar. - 41 - Neste sentido, ir à Psicanálise e perceber outras noções tornou-se uma possibilidade viável para entender melhor a questão do desejo. Cerletti (2004, p.28) fortalece esse pensar dizendo que: “[...] não é possível ensinar a ‘amar’ a sabedoria, como certamente, não é possível ensinar a apaixonar-se”. Neste sentido, quando falamos do desejo estamos falamos de algo irredutível e intransferível, pessoal, subjetivo. Nenhum professor tem ferramentas para fazer com quem alguém deseje algo, o estudante deseja ou não. Cabe ao professor estimular a atividade do estudante, o seu pensamento, convidando-o para pensar, ou, como nos orienta Pereira (2013), fazer circular a palavra, promover a verbalização, a expressão e o pensamento, como caminho para a libertação dos medos, esvaziamento e possibilidade de desejar algo diferente, como o conhecimento. Para Masschelein e Simons (2015) o interesse se dá pelo contato: a medida que as crianças e jovens são apresentados ao mundo escolar e os conhecimentos escolares, a imersão neles, a possibilidade de um novo mundo frente aos seus olhos é que lhes pode ser interessante e lhes provocar o desejo. Nesse sentido, considero que a relação com o saber que os jovens constroem e estabelecem na escola se dá através do engajamento em uma atividade intelectual, que produz prazer e é mobilizado por este, atribuindo sentido à relação e potencializando que aprenda. Assim, atividade intelectual, com motivos e objetivos coerentes, uma relação prazerosa e desejosa com o saber, que o - 42 - mobiliza a estudar e aprender mais, são os elementos que compõe a teorização de Charlot. O desafio é investigar como os jovens estudantes se relacionam com o saber, com a escola, com os professores, quais seus anseios, o que querem aprender e o que os professsores fazem com essas informações. Dessa forma, o texto não propõe uma solução, mas aponta um caminho: o diálogo, a circulação da palavra. Finalizando: o diálogo como caminho para compreender as relações com o saber O sentido de entender as relações com o saber, com os conhecimentos escolares, com a relação com os professores, com os colegas, com os familiares, com o espaço escolar e tantas outras está no diálogo. O diálogo (FREIRE, 1983) é uma necessidade existencial, e sempre envolve um espaço-tempo de falar e ouvir. Em nosso caso como professores e pesquisadores, ouvir se torna fundamental, do contrário falamos mais do que ouvimos. Lahire (2002) ao falar da pluralidade da constituição dos sujeitos está chamando atenção a outro fato: a pesquisa precisa prestar atenção ao individual, àquilo que foge as estatísticas, que não é o “normal”. Salva et al., (2017) constata que existem um conjunto de fatores que contribuem para o afastamento dos jovens estudantes do Ensino Médio e, consequentemente a situação de fracasso escolar, tais como: - 43 - [...] as relações professor-estudante, estudante- estudante; a falta de diálogo entre estudantes e professores; a metodologia e os recursos utilizados na escola que não correspondem à expectativa dos jovens estudantes; a precariedade da estrutura física da escola; o envolvimento com drogas; osproblemas familiares; as dificuldades dos professores de ensinar os/as jovens estudantes a fazer com que compreendam aspectos relativos ao objeto de conhecimento e ascendam a um processo mais complexo que implica construir uma relação com o mundo e pensar sobre ele; a falta de sentido dos saberes escolares para a vida dos/das jovens, ou talvez, nossa incapacidade de compreender os sentidos que os jovens constroem sobre os conhecimentos escolares e, por fim, a indiferença do corpo docente e dos gestores em relação aos primeiros movimentos de afastamento dos/as jovens, muitas vezes, mesmo sem intenção, contribuindo para o processo de afastamento (SALVA et al., 2017, p.12-13). Essas compreensões só foram possíveis quando os pesquisadores citados se colocaram em posição de diálogo, pois, dialogando é que se aprende a falar com os jovens. Em outro trabalho (MARTINEZ, 2017) já apontei elementos importantes na pesquisa em educação ao olhar para os jovens, principalmente constituindo espaços onde os jovens podem falar, podem dialogar, e ao passo que narram também se percebem como sujeitos, colocam-se em movimento identitário. De qualquer modo, não é só para pesquisa que é importante escutar os jovens. Escutar os jovens talvez nos possibilite pensar - 44 - pedagogias voltadas à juventude (MARTINEZ; SALVA, 2016), buscando entrelaçar os elementos típicos da escolarização (MASSCHELEIN; SIMONS, 2015) com as tecnologias digitais, a cultura juvenil, entre outros aspectos. As relações com o saber tornam-se uma lente importante para o trabalho pedagógico e a pesquisa, ao destacarem que aqueles jovens que ainda estão na escola, aprendem de formas diferenciadas, se relacionam entre si e com seus professores e, que de alguma maneira, demonstram o que estão dispostos ou não a aprender, falando sobre aquilo que vêem sentido e o que não lhes “diz nada”, estabelecem algum tipo de relação com os conhecimentos. Para finalizar este texto, até dar início a outro, é preciso indicar que a única forma de alcançar ou caminhar em direção a essa utopia educativa de ensinar e aprender, e romper com a reprovação, com a falta de aprendizagem, com o tédio, é se colocando no lugar daquele que ao ensinar aprende, e ao aprender ensina (FREIRE, 2016). É ouvindo o que os jovens têm a dizer. - 45 - Referências BENETTI, Cláudia Cisiane. Filosofia e ensino, singularidade e diferença: entre Lacan e Deleuze. Ijuí: Ed. Unijuí, 2006 (Coleção Filosofia e Ensino). BEJAMIN, Walter. 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O movimento estudantil se destaca e realiza importantes momentos de resistência e enfrentamento ao governo desde o período da Ditadura Civil-Militar, quando as reivindicações também se voltavam para as políticas educacionais adotadas na época, por parte do poder público. Naquele período histórico, os estudantes secundaristas se uniam aos universitários, criando certa unidade nas ações. Na década de 1990, os movimentos se intensificam com a participação nos 6 Doutorando em Educação PPGE-UFPR. Professor da rede pública de ensino de Curitiba e nos cursos de Pedagogia e Teologia das Faculdades São Braz, no mesmo munícipio. E-mail: jpaulodesouza@hotmail.com7 Jornalista e mestra em comunicação pela UFPR. E-mail: danielle.scheffelmeier@gmail.com 8 Uma prévia deste conteúdo foi apresentada no EDUCERE 2017 e, neste capítulo, os autores trazem informações mais completas e novos referenciais teóricos. mailto:jpaulodesouza@hotmail.com mailto:danielle.scheffelmeier@gmail.com - 49 - grêmios estudantis em diversas escolas do Brasil, que convocavam os estudantes a tomarem posicionamento em relação às decisões que estas tomavam. As ocupações acontecidas na segunda década do século XXI se caracterizam por um formato menos pautado em estruturas hierárquicas e com maior participação das bases, numa horizontalidade do movimento, organizado em “redes”, em contraposição à linearidade vertical historicamente presente no movimento estudantil. As escolas se transformaram em espaços de construção coletiva, com o estabelecimento de laços de amizade e é possível aferir que as perspectivas de mudança no mundo social estão vinculadas às ações coletivas em nome de um objetivo comum. O objetivo da ocupação: “Não fechem a minha escola”, foi maior que as desavenças interpessoais. Assim, os alunos enfrentaram os conflitos e saíram fortalecidos, de maneira que não deixassem o coletivo se “quebrar”. A escola ganhou novos arranjos e a sala de aula foi dilatada, incorporando outros espaços e recursos disponíveis. “Não fechem minha escola” O governo do Estado de São Paulo anunciou um plano de reorganização da rede pública no mês de setembro de 2015, causando a reação de estudantes, pais e professores afetados pelo plano. Eles começaram a exigir a suspensão do plano, com alegação de que não - 50 - houve diálogo e as justificativas pedagógicas eram frágeis. A reestruturação da rede estadual de ensino previa o fechamento de 93 escolas, além da imposição de apenas um dos ciclos para 754 escolas, o que afetaria 311 mil alunos e 74 mil professores. A ideia do governo do Estado era dividir a escola em ciclos, separando os alunos em diferentes unidades: Ensino Fundamental I, Ensino Fundamental II e Ensino Médio. Contrários às posturas do governo e da imprensa, surge uma movimentação surpreendente com o lema “Não fechem a minha escola”. O estudante brasileiro sempre esteve na vanguarda dos principais acontecimentos políticos e sociais do país. [...] se deve ao fato de sempre ter havido nos meios estudantis nacionais uma profunda insatisfação no que se refere à condução do destino político e social do Brasil (BENEVIDES, 2006, p. 74). Por sua vez, os meios de comunicação de massa tentaram construir uma imagem negativa da escola pública, apresentando-a como uma instituição sucateada, violenta, frequentada por alunos desinteressados e desmotivados, oriundos de famílias problemáticas. No entanto, a ação dos alunos produziu uma comoção social, pois o movimento “Não fechem a minha escola” se distanciava deste estereótipo. As escolas foram palcos de atividades culturais e de formação geridas e planejadas pelos alunos; uma demanda antiga dos estudantes, conquistada apenas durante a ocupação. A música foi um - 51 - combustível das manifestações; além de clássicos como “Roda Viva”, novos hinos foram criados: “Trono do Estudar”, “Ocupar e Resistir” e “Mãe, Pai”. Além disso, é preciso destacar a posição de liderança tomada pelas meninas, que participaram ativamente da organização das ocupações, do planejamento das ações coletivas realizadas nas ruas e também na divisão das tarefas, tendo em vista que os secundaristas atuaram na limpeza, manutenção, segurança e alimentação dentro das escolas ocupadas. Esse posicionamento pode ser percebido no documentário “Lute Como Uma Menina”9, que relata as ações nas ocupações paulistas, e está disponível no site Youtube. Tendo em vista os conteúdos e ações desenvolvidas pelos estudantes, é possível destacar o conceito de “mídia radical”, de John Downing (2002), ou seja, maneiras diferenciadas que os movimentos adotam para comunicar sua mensagem. As produções culturais, como as músicas citadas anteriormente, são maneira de os movimentos comunicarem sua mensagem para além da mídia de massa, dando visibilidade às suas demandas. “A mídia radical é baseada na cultura popular, que, segundo a definição do autor, é uma expressão autêntica das aspirações do público. Manifesta-se nas produções de música e 9 Documentário enaltece a luta das meninas nas ocupações em SP. Disponível em: https://catracalivre.com.br/geral/educacao-3/indicacao/documentario-enaltece- luta-das-meninas-nas-ocupacoes-em-sp. Acesso em 11 de set de 2017. https://catracalivre.com.br/geral/educacao-3/indicacao/documentario-enaltece-luta-das-meninas-nas-ocupacoes-em-sp https://catracalivre.com.br/geral/educacao-3/indicacao/documentario-enaltece-luta-das-meninas-nas-ocupacoes-em-sp - 52 - dança e tem um importante papel na oposição, sendo uma contradição às produções de massa” (MEI, 2013, p. 95). Downing classifica como mídia radical trabalhos de grafite em outdoors, volantes e cartazes, podendo chegar à produção autônoma de conteúdo informativo. Ele apresenta o conceito da "chama lenta", ou seja, conteúdos que visam um convite efetivo à mudança e que se distanciam das abordagens tradicionais da mídia para consumo rápido. No entanto, a efetiva tomada de consciência e mudança leva tempo, mas as produções “mais rápidas”, como as canções apresentadas, chamam a atenção do público para a causa, e seriam mais efetivas se este trabalho tivesse continuidade. Downing (2002) frisa que a mídia radical é o principal sustentáculo da comunicação democrática, permitindo a difusão de ideias dos movimentos sociais, pois não há dependência do mercado ou de anúncios. Sendo assim, A comunicação democrática traz também características de intenção, pois o emissor visa o envolvimento efetivo do receptor. Intenção é a atividade direcionada a um objetivo, envolvendo, portanto, a volição. Na comunicação, intenção é tentativa consciente do emissor de influenciar o receptor através de uma mensagem, sendo a resposta do receptor uma relação baseada na hipótese das intenções da parte do emissor (SANTAELLA, 2001, p. 20). - 53 - No contexto apresentado por Santaella, a comunicação “[...] é inevitável, irreversível e irrepetível" (SANTAELLA, 2001, p. 21). Nas diversas ocupações, observou-se a experiência de aulas mais dinâmicas (rompendo a barreira das quatro paredes das salas), debates e eventos culturais aos finais de semana, ideias que surgiram nas ocupações e podem se tornar um novo modelo de prática escolar. Com estas aulas mais dinâmicas, foi possível perceber que temáticas de gênero, que antes não eram abordadas nas escolas, passam a fazer parte do cotidiano dos estudantes. O debate sobre gênero na escola vem tomando mais corpo no país desde os seminários realizados para a construção do Plano Nacional de Educação, em 2014. Na ocasião, a Câmara dos Deputados e o Senado suprimiram o termo “gênero” da proposta, abolindo então temáticas que previam os itens identidade de gênero e orientação sexual nos currículos escolares. O documento original, por sua vez, previa que o debate fosse aprofundado nas escolas, dentro das disciplinas, a fim de garantir direitos como o acesso universal à educação e o combate ao preconceito, além de criar medidas inclusivas para a educação no país. Na escola, o currículo, as disciplinas, as normas regimentais, as formas de avaliação, os materiais didáticos, a linguagem, constituem-se em instâncias que refletem e produzem as desigualdades de gênero, de sexo, de raça, etc., e podem incentivar o preconceito, a discriminação, o sexismo (FURLANI, 2003, p. 69). - 54 - As ocupações dos estudantes se mostraram espaços efetivos para que estas temáticas permeassem a escola. Foram diasnos quais assuntos como a divisão igual de tarefas, o diálogo e a diversidade estavam na escola de maneira prática e efetiva, levando à reflexão sobre estas temáticas. Houve a participação de pais, mães e responsáveis nos movimentos dos estudantes, causando certo afloramento de consciência política dentro das escolas, para exigir do poder público a educação pública de qualidade. Como se percebe, a participação incita a mobilização dos indivíduos, essencial no desenvolvimento da cidadania, pois assim a o poder de ação dos cidadãos é ampliado. É possível utilizar a classificação de Ilse Scherer-Warren (1996) para as redes que, no caso dos estudantes secundaristas, podem ser verificadas nas diversas lutas espalhadas pelos Estados, que acabam por ter características parecidas, como os “aulões”, a produção de mídia radical e as reivindicações, que eram similares. Sendo assim, os estudantes tinham o "mesmo inimigo a combater", utilizando a definição de Manuel Castells (1998). As redes que se constroem possibilitam “[...] o intercâmbio de informações e esclarecimentos entre grupos, além da troca de experiências que pode ser proveitosa em um determinado local” (MEI, 2013, p. 96). Para que haja a multiplicação de informações, há "nós" ou elos (SCHERER-WARREN, 2006), ou seja, as lideranças, mediadores e organizadores que transmitem as informações. A comunicação é - 55 - determinante para a mobilização e para a união dos estudantes, nas trocas de ideias e na divulgação sobre o que acontecia dentro das escolas para além dos seus muros. É possível aferir que houve conscientização dos estudantes, que se sentem mais empoderados e perdem a posição “passiva” diante das medidas tomadas pelos governos. Nilda Stecanela (2010) aborda as realidades e manifestações culturais dos jovens para além do ambiente da escola regular. É no cotidiano, portanto, que o aprendizado também acontece. A autora analisa a maneira como os jovens “[...] fabricam sua própria vida, reinventando seus modos de ser jovem, a partir de sua situação juvenil e aprendendo em suas trajetórias não escolares a partir de suas experiências cotidianas” (STECANELA, 2010, p. 31). Eles tomam, portanto, uma posição política em relação à sua realidade: A extensão da atividade política, apesar de inúmeras vezes formal, e principalmente a perspicácia de certos olhares contemporâneos, fizeram emergir a compreensão, característica dos tempos atuais, de que as relações de poder permeiam e perpassam toda a sociabilidade (RUBIM, 2000, p. 21). Nessa perspectiva, é possível destacar que a intenção dos estudantes em trazer para debate suas reivindicações e, ao mesmo tempo, houve certa mobilização. Segundo a definição de Bernardo Toro (1996, p. 5) “[...] mobilizar é convocar vontades para atuar na - 56 - busca de um propósito comum, sob uma interpretação e um sentido também compartilhados”. A mobilização, por sua vez, parte da premissa da escolha do indivíduo em querer participar, e que esta escolha é feita a partir do aprendizado e da reflexão crítica da realidade. “Aprender é uma aventura criadora, algo, por isso mesmo, muito mais rico do que meramente repetir a lição dada. Aprender para nós é construir, reconstruir, constatar para mudar” (FREIRE, 2014, p. 68). Nessa perspectiva, a pessoa se vê como responsável e capaz de promover transformações com determinadas atitudes e ações. A formação de uma nova mentalidade na sociedade civil, que se perceba a si mesma como fonte criadora da ordem social, pressupõe compreender que os “males” da sociedade são o resultado da ordem social que nós mesmos criamos e que, por isso mesmo, podemos modificar (TORO, 1996, p. 8). Os estudantes, quando mais conscientes da sua posição e da sua importância na sociedade, agem como atores em sua realidade social. É interessante trazer as concepções de Juarez Dayrell sobre as juventudes, demonstrando que os jovens vivem realidades diferentes em cada localidade, devido às condições sociais e culturais. Segundo o autor, os jovens devem ser considerados como sujeitos, ou seja, “[...] um ser singular, que tem uma história, que interpreta o mundo e dá- lhe sentido, assim como dá sentido à posição que ocupa nele, às suas relações com os outros, à sua própria história e à sua singularidade” - 57 - (DAYRELL, 2003, p. 24). Utilizando conceitos de Bernard Charlot, o autor destaca que o ser humano está sempre em construção e em relação com a sociedade e o meio. No entanto, segundo Freire, a tomada de consciência pode acontecer de uma hora para a outra, todavia a consciência crítica, não, a qual “[...] somente se dá com um processo educativo de conscientização. Este passo exige um trabalho de promoção e critização” (FREIRE, 2007, p. 39). Jesús Martin-Barbero demonstra que as pessoas recebem diversas interferências ao longo de suas vidas do meio em que vivem, da mídia e da própria escola. Segundo o autor, as identidades sociais e os interesses pessoais dos indivíduos se formam também na família, no bairro ou nos locais onde as pessoas habitam ou mesmo interagem. Nesta mesma linha, o autor François Dubet coloca que a formação atual dos jovens é constituída de diferentes influências, sendo que eles recebem interferências da família, do ambiente escolar, e estes espaços são heterogêneos. Neste contexto, a escola perde espaço na monopolização da cultura, competindo com a cultura de massa e a circulação de informações. O estudante, ao receber interferência de outras fontes, se torna um pouco mais “autônomo” em relação à sua formação. Conforme o movimento dos estudantes provocou a conscientização dos adolescentes e jovens, também é preciso lembrar que os governos estaduais, em especial de São Paulo, passaram a endurecer as condutas de perseguição e retaliação a estudantes: - 58 - A polícia foi acusada de carregar listas com fotos e nomes de secundaristas e apoiadores do movimento. O caso mais simbólico provavelmente foi da escola Fernão Dias, na zona oeste de São Paulo. A ação daqueles estudantes acabou se tornando um marco na luta dos secundaristas, depois de a unidade permanecer uma semana sitiada pela Polícia Militar. A partir desse evento, as ocupações se espalharam em todo estado (MEI, SILVA, 2017). O auge do movimento se deu com a verificação de 213 ocupações em São Paulo, no dia 4 de dezembro de 2015. Ao mesmo tempo, crescia a violência policial contra as ocupações e a aprovação do governador Geraldo Alckmin (PSDB) caía para 28%. Diante deste cenário, o governo decidiu suspender a reorganização, buscando reconstituir a sua imagem, já desgastada com o ápice da crise hídrica. O governador foi a público suspender o projeto após 25 dias de mobilização, e em seguida, o então secretário estadual da Educação, Herman Voorwald, pediu demissão. É importante destacar que o plano de reestruturação da Secretaria de Educação Paulista foi oficialmente adiado, mas as ações continuaram por baixo dos panos. Em 2016, salas de aulas, períodos inteiros e escolas fecharam, e o governo justificou as mudanças alegando uma demanda menor de alunos. - 59 - Pelo Brasil: Desdobramentos das manifestações em outros Estados A adesão de muitos Estados e estudantes de diferentes contextos ampliou a pauta e confirmou a fragmentação e horizontalidade do movimento. Mesmo em São Paulo, as reivindicações, a forma das ocupações e os métodos de protesto mudavam de escola para escola. Ainda assim, o movimento dos estudantes paulistas repercutiu em ações em outras regiões do Brasil. No Rio de Janeiro, mais de 70 escolas foram ocupadas, com estudantes pedindo melhora na infraestrutura e mais verba para a educação. O Ceará teve dez escolas ocupadas em apoio à greve de professores da rede estadual. Contrários a um novo modelo de gestão proposto pelo governo
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