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TRAQUEOSTOMIA A traqueostomia é o procedimento cirúrgico que consiste na abertura da parede anterior da traqueia, comunicando-a com o meio externo por meio de uma cânula, possibilitando a permeabilidade da via aérea. Tem como objetivo primário servir como alternativa artificial e segura para a passagem do ar quando existe alguma obstrução nas vias aéreas naturais do paciente. Conceitos fundamentais Desmame: processo de transição da ventilação artificial para a espontânea nos pacientes que permanecem em ventilação mecânica invasiva por tempo superior a 24h. Decanulação: retirada da via aérea artificial em pacientes traqueostomizados. Sucesso e fracasso na interrupção da VM: depende da resposta ao TRE. Sucesso e fracasso no desmame: sucesso do desmame a manutenção da ventilação espontânea durante pelo menos 48h após a interrupção da ventilação artificial. Considera-se fracasso ou falência do desmame, se o retorno à ventilação artificial for necessário neste período. Ventilação mecânica prolongada: necessidade de VM por mais de 6h por dia por tempo superior a três semanas, apesar de programas de reabilitação, correção de distúrbios funcionais e utilização de novas técnicas de ventilação. Vantagens sob o tubo traqueal Alimentação Aspiração e mobilização de secreções Redução da incidência de pneumonias Facilitação do desmame ventilatório Retorno precoce da fala Redução do espaço morto (em 10-50%) e da resistência ao fluxo aéreo Indicações Intubação prolongada – UTI (extubação improvável entre 10 a 14 dias de intubação orotraqueal) Aspiração crônica, proteger via aérea (como AVC) Câncer de laringe Paralisia bilateral de prega vocal (pós-tireoidectomia) Debilidade na musculatura respiratória Cricotomia (deve ser convertida em traqueostomia em até 48 a 72 horas) A cricotomia se baseia na ruptura por bisturi ou outros instrumentos cirúrgicos da membrana cricotireoidea, com seguinte colocação de uma cânula comunicando a luz da traqueia com o meio externo. Ela é uma opção quando a intubação não é bem sucedida e não há tempo de se fazer uma traqueostomia. Tipos Traqueóstomo com cuff (balão) sem endocânula (Portex) Opção inicial. A função do cuff é fixar o traqueóstomo, direcionar o fluxo de ar e proteger a via aérea. Mais comumente utilizada, por possuir conexão com Ambu® e com a ventilação mecânica, com apresentações com ou sem balonete. Entretanto, não contém cânula interna e pode possuir furos do balonete, rachaduras e maior propensão a infecções. Traqueóstomo metálico, sem cuff Traqueóstomo com cuff (balão) com endocânula (Schilley) Opção no fim da internação e no momento da alta. Separada em: cânula externa (A), cânula interna (B) e mandril (C). Possuem sistema de travamento da cânula interna, não possuem conexões para equipamento respiratório e são de maior durabilidade. Contraindicações: pacientes em tratamento radioterápico na região da cabeça e pescoço, exames de ressonância magnética, tomografia da cabeça e pescoço ou por determinação médica. Ideal para pacientes de alta que precisam do balão insuflado. Possui válvula de fonação própria, cânula interna e podem ter ou não conexão com a ventilação mecânica ou balonetes. • As cânulas de traqueostomia podem ser metálicas, plásticas ou siliconadas; com ou sem cânula interna; com ou sem balonete (cuff); e fenestradas ou não. As cânulas fenestradas possibilitam a passagem do ar por meio da cânula e das cordas vocais, permitindo a fala. • A cânula deve ter aproximadamente 75% do diâmetro da traqueia (como valores aproximados, podemos ter cânula plástica n° 7 para mulheres e n° 8 para homens). Cânulas com cuff Indicações: • Pacientes que precisam respirar com ajuda de aparelhos por um tempo prolongado (tempo maior que 10 a 14 dias); • Pacientes traqueostomizados que apresentam risco de broncoaspiração. Insuflados a uma média de 25-35 mmHg ou 20-30 cmH2O. A pressão deverá ser monitorada. Cânulas sem cuff Indicado em pacientes fora de ventilação mecânica que não precisam manter altas pressões pulmonares e que não apresentam distúrbio gastroesofágico. Principais complicações Obstrução por rolha de secreção Deslocamento da cânula traqueal (devido ao ato cirúrgico ou posicionamento do circuito do VM) Irritação traqueal, ulceração e necrose (causadas, geralmente, pela hiperinsuflação do balonete ou excessiva movimentação da cânula) Traqueomalácea Estenose traqueal Fistula traqueoesofágica Infecção da árvore traqueobrônquica Hemorragia Herniação do balonete (obstrução da cânula) Pneumotórax Enfisema cirúrgico Infecção local Técnica cirúrgica de Griggs Abertura dos planos anatômicos e secção da traqueia para sua abertura, a partir da qual será inserida a cânula. Dissecção do tecido cutâneo, músculo platisma e músculos pré-traqueais. Assim, encontra-se o istmo da tireoide (geralmente entre o primeiro e segundo anel traqueal). Após atravessar o istmo, é rompida a fáscia pré-traqueal, permitindo a visualização dos anéis traqueais. Pode-se fazer o estoma traqueal em formato de U invertido, T ou H. Em seguida, posiciona-se a cânula e é feita a sutura entre o flap traqueal e o tecido subcutâneo (ponto de Bjork), que facilita o acesso à traqueia em caso de decanulação acidental. Técnica cirúrgica percutânea Punção por agulha entre os anéis cartilaginosos da traqueia, que é usada como guia para se colocar uma cânula. Apesar de aparentar mais simples, menos invasiva e ter menos complicações que a técnica de Griggs, a técnica percutânea tem mais contraindicações, como obesidade mórbida, bócio tireoidiano, incapacidade de hiperextensão cervical e traqueostomia prévia. As mesmas estruturas são atravessadas pela agulha e em seguida é posicionada a cânula. Inicia-se com a palpação da cartilagem cricoide para localizar o segundo e o terceiro anel traqueal. Entre essas estruturas, perfura-se a membrana, coloca-se um dilatador e em sequência um fio guia para posicionar a cânula. Técnica Cirúrgica de Griggs Técnica Cirúrgica Percutânea Cuidados pós-operatórios Monitorização contínua Radiografia para avaliação de distância da cânula em relação à carina Décubito elevado (35 a 45º) Umidificação adequada (36-40 mg H2O/L) Aspirações da cânula por indicação clínica A primeira troca de tubo, assim como a retirada de fios inabsorvíveis, deve ser realizada a critério do médico assistente do paciente Troca de cânula: metálica a cada 30 dias e plástica a cada 14. A mesma cânula plástica só pode ser utilizada por até 90 dias, devendo então ser descartada. Já a cânula metálica não tem limite de tempo de uso, não precisando ser descartada mesmo após anos de uso, exceto se houver algum defeito no equipamento ou se o paciente não necessitar mais da cânula. Fatores que contraindicam decanulação Critérios para decanulação • Instabilidade hemodinâmica; • Sinais de esforço respiratório; • Ausência de EVA (exame endoscópico das vias aéreas); • Dependência de ventilação mecânica nos últimos três meses; • Dependência da traqueostomia para a toalete pulmonar. • Habilidade de tolerar o cuff desinsuflado por 24 horas; • Ausência de secreção, de sinais de desconforto respiratório e de broncoaspiração; • Tosse eficaz; • Vias aéreas superiores íntegras; • Capacidade de deglutição; • Fala com válvula de fonação ou oclusão da traqueostomia. Teste de Respiração Espontânea É realizado permitindo-se que o paciente ventile espontaneamente através do tubo endotraqueal, conectado a uma peça em forma de “T”, com uma fonte enriquecida de oxigênio, ou recebendo pressão positiva contínua em vias aéreas (CPAP) de 5 cm H2O, ou com ventilação com pressão de suporte (PSV) de até 7 cm H2O. Critérios de falha Critérios de extubação Processo de extubação• Causa de insuficiência respiratória resolvida ou controlada; • Nível de consciência adequado; • Suspensão diária de sedação; • Tolerância ao modo assistido da VM: oxigenação adequada (FiO2 =< 0,4; PaO2 >= 60; PEEP =< 5-8 cmH2O); • Boa perfusão clínica, estabilidade hemodinâmica (vasopressor =< 0,1 micrograma/kg/min), ausência de insuficiência cardíaca ou arritmias com repercussão hemodinâmica); • pH > 7,3; • Tosse eficaz; • Capacidade de respirar espontaneamente; • Eletrólitos normais. • TRE com monitorização contínua; • Tubo T: desconexo, oferta de O2 por 30-120 minutos e manter StO2 > 90% com FiO2 < 40%; • Modo PVS (suporte): reduzir a pressão inspiratória até 5-7 cm H2O. Para extubar: • Aspirar vias aéreas; • Retirar fixação do tubo; • Desinsuflar o cuff; • Cabeceira elevada; • Pausa dieta enteral; • Retirar na expiração do paciente.
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