Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Literatura Brasileira: do Realista à Literatura Contemporânea 2021 Profª Mara Gonzalez Bezerra GABARITO DAS AUTOATIVIDADES 2 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA UNIDADE 1 TÓPICO 1 1 Excerto: O Realismo aparece em português, vindo da França e Inglaterra, em registro literário, com Eça de Queirós, na conferência “O Realismo como nova expressão da arte”, de 1871, quinze anos depois de Jules- Champfleury ter utilizado o qualificativo “realista” para a pintura de Gustave Courbet, no artigo “Le Réalisme”, de 1857, na França. O escritor português defende o intuito moral, de justiça e de verdade da nova escola, que, para ele, não se restringe a um simples modo de expor, minudente, trivial, fotográfico. Ou seja, não é apenas uma técnica, mas também uma posição. No Brasil, um esboço de Realismo enquanto método já surge com o primeiro romance publicado, O filho do pescador (1843), de Teixeira e Souza: perscruta-se que a primeira grande modificação por que passa o Realismo no Brasil esteja na maneira como ele se integra às necessidades ideológicas do país, vindo do exterior (MENDES, 2015, p. 62). FONTE: MENDES, F. M. Linguagem da violência e realismo literário à brasileira. In: Realismo e violência na literatura contemporânea: os contos de Famílias terrivelmente felizes, de Marçal Aquino [on-line]. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2015, p. 37-93. Disponível em: <https://bit.ly/2Y0y1bm>. Acesso em: 20 fev. 2021. Considerando que o Realismo europeu exerceu uma influência no Brasil, avalie as afirmações a seguir: I- O posicionamento de Eça de Queirós contribuiu para afirmar o Realismo em Portugal. II- Considerando o texto, o Realismo, no Brasil se adapta à realidade social brasileira da época. III- O Realismo envolveu a integração de conteúdos artísticos e culturais em outras áreas. IV- O realismo estava comprometido com uma crítica consciente sobre a sociedade. 3 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA Assinale a alternativa CORRETA: a) (X) As sentenças I, II, III e IV estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) Somente a sentença I está correta. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 2 Ao ensinar literatura na escola é importante incluir a literatura de todos os estilos e escolas porque é possível estabelecer diálogos com outras áreas de cultura, tais como a pintura, o cinema, a música e a fotografia. O objetivo é contribuir com a formação crítica do aluno e ampliar a visão de mundo que ele adquire nos anos escolares. De acordo com o dito, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) O texto literário para ser discutido em sala de aula deve estar escrito de acordo com as regras gramaticais para que o aluno aprenda a falar bem. b) ( ) O texto literário selecionado deve ter sempre notas de rodapé para facilitar a leitura do aluno e assim ele irá claramente o que o autor desejou falar. c) (X) O texto literário permite uma leitura de mundo e por isso é importante que o aluno tenha oportunidade de pensar a respeito da leitura realizada. d) ( ) O estudo prévio da arte poética é a única forma para que o aluno consiga entender uma obra literária. 3 Texto 1 Nos textos comuns, não literários, o autor seleciona e combina as pa- lavras geralmente pela sua significação. Na elaboração do texto li- terário, ocorre outra operação, tão importante quanto a primeira: a seleção e a combinação de palavras se fazem muitas vezes por paren- tesco sonoro. Por isso se diz que o discurso literário é um discurso específico, em que a seleção e a combinação das palavras se fazem não apenas pela significação, mas também por outros critérios, um dos quais, o sonoro. Como resultado, o texto literário adquire certo grau de tensão ou ambiguidade, produzindo mais de um sentido. Daí a plurissignificação do texto literário. 4 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA FONTE: GOLDSTEIN, N. Versos, sons, ritmos. 5. ed. São Paulo: Ática, 1988, p. 5. Texto 2 Os símbolos, as metáforas e outras figuras estilísticas, as inversões, os paralelismos e as repetições constituem outros tantos meios de o escritor transformar a linguagem usual em linguagem literária. FONTE: AGUIAR E SILVA, V. M. Teoria da literatura. 3. ed. Coimbra: Almedina, 1979, p.58 (com adaptações). Tomando como referência os textos, analise as sentenças a seguir: I- A plurissignificação de um texto literário é construída pela combinação de elementos que vão além da significação das palavras que o compõem. II- A construção do texto literário envolve um processo de seleção e combinação de palavras baseados, necessariamente, no uso de metáforas. III- A ambiguidade do texto literário resulta de um processo de seleção e combinação de palavras. IV- O texto literário se diferencia do não literário por não depender de significação, mas, sim, de outros recursos no processo de seleção e combinação das palavras. FONTE: ENADE 2011 – Questão 17, p. 13. Disponível em: <https://bit.ly/2VctPni>. Acesso em: 23 jun. 2021. Assinale a alternativa CORRETA: ( ) As sentenças I e II estão corretas. (X) As sentenças I e III estão corretas. ( ) As sentenças II e IV estão corretas. ( ) As sentenças I, III e IV estão corretas. 4 O romance de Flaubert marcou o início do realismo europeu. O novo estilo se destacou pela objetividade literária e por isso se contrapôs ao Romantismo. Em Madame Bovary, o enredo mostra uma crítica ácida à hipocrisia das relações sociais e privadas diri- gidas principalmente à burguesia e tornou seu autor, persona non 5 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA grata, nos meios sociais franceses. Leia o excerto e entenda como Flaubert conduziu temas polêmicos na obra: “Emma mordia os lábios descorados e, rolando entre os dedos um dos raminhos do polipeiro que ela quebrara, fixou sobre Charles o ponto ardente das pupilas, como duas flechas de fogo prestes a disparar. Tudo nele agora a irritava, o rosto, o vestuário, o que ele não dizia, toda a sua pessoa, a sua própria existência. [...] A recordação do amante vinha-lhe ao espírito com atracções vertigi- nosas: entregava-lhe a alma, impelida para a sua imagem por um novo entusiasmo, e Charles parecia-lhe tão separado da sua vida, tão definitivamente ausente, tão impossível e aniquilado, como se fosse morrer e estivesse agonizando na sua frente. [...] Charles voltou-se para a mulher, dizendo: – dá-me um beijo, minha querida! - Deixa-me – disse ela, rubra de cólera. - Que tens tu? Mas o que é que tens? – repetia ele, estupefato. - Acalma-te! Sossega!… Sabes bem que te amo!… Anda cá! -Basta! – gritou ela com uma expressão terrível. E fugiu da sala, atirando a porta com tanta força que o barômetro saltou da pare- de e se fez em pedaços no chão. [...] Quando Rodolphe, à noite, chegou ao jardim, encontrou a amante à sua espera ao fundo da escada, sobre o primeiro degrau. Abraçaram-se e todo o seu ressentimento se desfez como a neve ao calor daquele beijo” (FLAUBERT, 2000, p. 191). FONTE: FLAUBERT, G. Madame Bovary. São Paulo: Martins Fontes, 2000. Disponível em: <https://bit.ly/37dVg2P>. Acesso em: 25 abril 2021. Depois da leitura e com base em seus estudos, explique por que o romance de Flaubert foi considerado realista: Resposta esperada: O Realismo foi uma escola literária que procurou plasmar nas obras as cenas objetivas do cotidiano tanto as públicas como as privadas. Realiza descrições com detalhes dos espaços em que as ações trans- correm. Não há idealismo nas obras por isso se contrapõe ao roman- tismo. A obra mostra temas tabus para a burguesia, tais como falar de relações matrimoniais, o amor idealizado, o adultério e o suicídio por isso a obra foi considerado uma ofensa para a sociedade e a religião. 6 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA 5 Texto Émile Zola (1840-1902), escritor francês, marcou o século XIX com sua proposta de uma nova formade realização literária: o naturalismo. Ao produzir romances com temáticas que abordavam a profundidade das relações humanas, tornou-se um cânone literário (GOMES, 2012, p. 165). FONTE: GOMES, M. dos S. Émile Zola: Traduções de L’Assommoir e Germinal no Brasil Belas Infiéis, v. 1, n. 2, p. 165-171, 2012. Disponível em: <https://bit.ly/2Sx6uLU>. Acesso em: 26 maio 2021. Excerto – leia um excerto de Germinal (1885) de Èmile Zola “O homem partira de Marchiennes lá pelas duas horas. Caminhava a passos largos, tiritando sob o algodão puído de sua jaqueta e da calça de veludo. Um pequeno embrulho, feito com um lenço de quadrados, incomodava-o bastante; ora o mantinha apertado debaixo de um braço, ora de outro, para poder assim enfiar no fundo dos bolsos as mãos entorpecidas que o açoite do vento leste fazia sangrar. Uma única ideia lhe ocupava o cérebro vazio de operário sem trabalho e sem teto, a esperança de que o frio se tornasse menos agudo com o romper do dia. Havia uma hora que ele caminhava assim, quando percebeu à esquerda, a dois quilômetros de Montsou, uns clarões vermelhos, três braseiros queimando ao ar livre, e como suspensos. A princípio hesitou, tomado de receio; mas logo após não pôde resistir à necessidade dolorosa de aquecer por um instante as mãos. [...] Só então o homem se deu conta de que aquilo era uma mina e a vergonha tomou conta dele. Para que tentar? Não haveria trabalho... Em vez de se dirigir para o edifício, decidiu escalar o terreno onde ardiam os três fogos de hulha em tachos de ferro fundido que serviam para alumiar e aquecer os homens no trabalho. Os operários encarregados do desaterro certamente tinham trabalhado até tarde, ainda estavam retirando o entulho. Agora ouvia os carregadores empurrando os vagonetes sobre os trilhos montados nos cavaletes, divisava sombras que se moviam descarregando os carros ao lado das fogueiras. FONTE: ZOLA, É. Germinal. Tradução de Francisco Bittencourt. São Paulo: Martins Claret, 2006. Disponível em: https://bit.ly/3fTWEf1. Acesso em: 2 jul. 2021. 7 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA TÓPICO 2 1 Uma obra geralmente tem uma dedicatória para alguém que foi importante para o autor, porém, Machado de Assis ao publicar a obra Memórias Póstumas de Brás Cubas em 1881, inova ao colocar o personagem Brás dedicando a obra a um verme. Leia o excerto à luz das características realistas: Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver, dedico com saudosa lembrança estas memórias póstumas (MACHADO DE ASSIS, 2018, s. p.). FONTE: ASSIS, M. de. 1839-1908. Memórias póstumas de Brás Cubas / Machado de Assis. – Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2018. – (Série prazer de ler; n. 13 e-book) Versão EPUB. Disponível em: <https://bit.ly/2WwLKG0>. Acesso em: 21 jun. 2021. Após a leitura atenta do excerto, analise as afirmativas a seguir: Depois da leitura e com base em seus estudos a respeito do Naturalismo europeu, explique por que o romance de Zola foi considerado naturalista: Resposta esperada: O romance é considerado pertencente ao naturalismo porque narra de forma objetiva o enredo. A história, sobre operários e as relações de trabalho nessa época, contada desde a perspectiva do personagem mostra a busca de satisfazer necessidades básicas e a sobrevivência. Algo que caracteriza o romance naturalista é que o espaço é miserável, e mostra a condição social do personagem, como no fragmento, e a descrição objetiva do cotidiano mostra a diferença social de classes. O personagem e suas ações são descritas de forma real. 8 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA I- O fragmento apresenta a objetividade esperada para o estilo realista. II- O narrador efetua uma dedicatória própria do Romantismo. III- A dedicatória é uma ironia, uso de uma figura de linguagem. Assinale a alternativa CORRETA: (X) As afirmativas I e III estão corretas. ( ) As afirmativas II e III estão corretas. ( ) Somente a afirmativa III está correta. ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas. 2 A estética realista e naturalista no Brasil se desenvolveu a partir da influência do meio literário europeu, especialmente o francês, fortemente influenciado pelo Positivismo de Comte e os acontecimentos sociais e históricos do século XIX. Diante do exposto, analise as afirmativas a seguir: I- O escritor realista busca inspiração nos sentimentos e nas pessoas e escreve de forma intuitiva. II- A estética realista se destaca pelo amor romântico e a fantasia em relação ao meio urbano. III- Na estética realista/naturalista no Brasil, os escritores: Machado de Assis, Aluísio Azevedo representam o estilo literário. Assinale a alternativa CORRETA: ( ) As afirmativas I e III estão corretas. ( ) As afirmativas II e III estão corretas. (X) Somente a afirmativa III está correta. ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas. 3 (ENADE, 2008) Em casa, os amigos do jantar não se metiam a dissuadi-lo. Também não confirmavam nada, por vergonha uns dos outros; sorriam e desconversavam (...). Rubião via-os fardados; ordenava um reconhecimento, um ataque, e não era necessário 9 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA que eles saíssem a obedecer; o cérebro do anfitrião cumpria tudo. Quando Rubião deixava o campo de batalha para tornar à mesa, esta era outra. Já sem prataria, quase sem porcelanas nem cristais, ainda assim aparecia aos olhos de Rubião regiamente esplêndida. Pobres galinhas magras eram graduadas em faisões, assados de má morte traziam o sabor das mais finas iguarias da Terra (...). Toda a mais casa, gasta, pelo tempo e pela incúria, tapetes desbotados, mobílias truncadas e descompostas, cortinas enxovalhadas, nada tinha o seu atual aspecto, mas outro, lustroso e magnífico. FONTE: ASSIS, M. de. Quincas Borba. São Paulo: W. M. Jackson Editores, 1955, p. 317-9 (fragmento). A uns, a ironia no tratamento da cor local e de tudo que seja ime- diato pareceu uma desconsideração. Faltaria a Machado o amor de nossas coisas. Outros saudaram nele o nosso primeiro escritor com preocupações universais. Uma contra, outra a favor, as duas convic- ções registram a posição diminuída que acompanha a notação local no romance de Machado, e concluem daí para a pouca importância dela. Uma terceira corrente vê Machado sob o signo da dialética do local e do universal. Em Quincas Borba, o leitor a todo o momento encontra, lado a lado e bem distintos, o local e o universal. A Ma- chado não interessava a sua síntese, mas a sua disparidade, a qual lhe parecia característica. FONTE: Adaptado de SCHWARZ, R. Que horas são? São Paulo: Companhia das Letras, 1987, p. 167-70. De acordo com o texto de Roberto Schwarz, acerca da recepção crítica da obra de Machado de Assis, assinale a alternativa CORRETA que interpreta o trecho de Quincas Borba, referente ao delírio do protagonista Rubião: FONTE: Questão 18. ENADE 2008. p. 9. Disponível em: <https://bit.ly/3yk1g66>. Acesso em: 7 jul. 2021. 10 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA a) (X) O aspecto “lustroso e magnífico” que Rubião dava às “corti- nas enxovalhadas” acentua a disparidade crítica da obra ma- chadiana, que, pela tensão entre local e universal, descortina a vida nacional. b) ( ) A divisão da crítica quanto à recepção da obra de Machado de Assis é um falso problema, pois, como se vê em Quincas Borba, o pitoresco e o exotismo românticos continuam presentes no texto machadiano. c) ( ) Rubião, incapaz de enxergar a realidade como ela de fato era, confirma, com seu delírio, a tendência crítica que vê, na obra de Machado de Assis, uma atitude de desconsideração para com a realidade nacional. d) ( ) A identificação de Rubião com o imperador francês correspon- de à da obra de Machado de Assis com os modelos literários universais, o que reafirma a recepção crítica que saudava a uni- versalidade da obra do escritor. e) ( ) A ironiamachadiana presente na obra Quincas Borba, eviden- ciada na imagem de as “galinhas magras” se transformarem em “faisões”, confirma as opiniões críticas que concebem a obra de Machado como negação do aspecto nacional e valori- zação do universal. 4 Ao analisar um texto literário, encontramos elementos narrativos comuns nos diversos gêneros literários, tais como: narrador, enredo, personagens, tempo e espaço. Excerto - Conto O Espelho, de Machado de Assis. Quatro ou cinco cavalheiros debatiam, uma noite, várias questões de alta transcendência, sem que a disparidade dos votos trouxesse a menor alteração aos espíritos. A casa ficava no morro de Santa Teresa, a sala era pequena, alumiada a velas, cuja luz fundia-se misteriosamente com o luar que vinha de fora. Entre a cidade, com as suas agitações e aventuras, e o céu, em que as estrelas pestanejavam, através de uma atmosfera límpida e sossegada, estavam os nossos quatro ou cinco investigadores de coisas metafísicas, resolvendo amigavelmente os mais árduos problemas do universo. Por que quatro ou cinco? Rigorosamente eram quatro os que falavam; mas, além deles, havia na sala um quinto personagem, calado, pensando, 11 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA cochilando, cuja espórtula no debate não passava de um ou outro resmungo de aprovação. Esse homem tinha a mesma idade dos companheiros, entre quarenta e cinquenta anos, era provinciano, capitalista, inteligente, não sem instrução, e, ao que parece, astuto e cáustico. Não discutia nunca; e defendia-se da abstenção com um paradoxo, dizendo que a discussão é a forma polida do instinto batalhador, que jaz no homem, como uma herança bestial; e acrescentava que os serafins e os querubins não controvertiam nada, e, aliás, eram a perfeição espiritual e eterna. Como desse esta mesma resposta naquela noite, contestou-lha um dos presentes, e desafiou-o a demonstrar o que dizia, se era capaz. Jacobina (assim se chamava ele) refletiu um instante, e respondeu: - Pensando bem, talvez o senhor tenha razão. Vai senão quando, no meio da noite, sucedeu que este casmurro usou da palavra, e não dois ou três minutos, mas trinta ou quarenta. A conversa, em seus meandros, veio a cair na natureza da alma, ponto que dividiu radicalmente os quatro amigos. Cada cabeça, cada sentença; não só o acordo, mas a mesma discussão tornou-se difícil, senão impossível, pela multiplicidade das questões que se deduziram do tronco principal e um pouco, talvez, pela inconsistência dos pareceres. Um dos argumentadores pediu ao Jacobina alguma opinião, - uma conjetura, ao menos. Nem conjetura, nem opinião, redarguiu ele; uma ou outra pode dar lugar a dissentimento, e, como sabem, eu não discuto. Mas, se querem ouvir-me calados, posso contar-lhes um caso de minha vida, em que ressalta a mais clara demonstração acerca da matéria de que se trata. Em primeiro lugar, não há uma só alma, há duas... - Duas? - Nada menos de duas almas. Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para entro... Espantem-se à vontade, podem ficar de boca aberta, dar de ombros, tudo; não admito réplica. Se me replicarem, acabo o charuto e vou dormir (ASSIS, 1994, s. p.). FONTE: ASSIS, M. de. O Espelho. In: Obra Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar 1994. v. II. Disponível em: <https://bit.ly/3fnfr3i>. Acesso em: 25 maio 2021. A partir da leitura do excerto, explique como aparece o narrador, os personagens e identifique com exemplos do excerto. 12 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA Resposta esperada: O narrador, tanto pode ser em primeira, terceira pessoa, ser onisciente o que sabe tudo ou apenas sabe parte da história. No conto quando o narrador é Jacobina está em primeira pessoa. O outro narrador é onisciente e descreve a reunião e o que acontece entre os homens na reunião. Os personagens – os que fazem parte da história. O protagonista – o herói da trama. Neste caso é Jacobina o protagonista. Os interlocutores no fragmento não têm o nome mencionado. Há a indicação de ser a noite e em uma casa em Santa Teresa, bairro do Rio de Janeiro. 5 Excerto – O Ateneu (1888) de Raul Pompeia. Foi à noite, pouco antes da ceia. Estávamos a um canto mal iluminado do pátio, quase sós. O biltre reconheceu-me e arreganhou uma inexprimível interjeição de mofa. Não esperei por mais. Estampei- lhe uma bofetada. Meio segundo depois, rolávamos na poeira, engalfinhados como feras. Uma luta rápida. Avisaram-nos que vinha o Silvino. Barbalho evadiu-se. Eu verifiquei que tinha o peito da blusa coberto de sangue que me corria do nariz. Uma hora mais tarde, na cama de ferro do salão azul, compenetrado da tristeza de hospital dos dormitórios, fundos na sombra do gás mortiço, trincando a colcha branca, eu meditava o retrospecto do meu dia. Era assim o colégio. Que fazer da matalotagem dos meus planos? Onde meter a máquina dos meus ideais naquele mundo de brutalidade, que me intimidava com os obscuros detalhes e as perspectivas informes, escapando à investigação da minha inexperiência? Qual o meu destino, naquela sociedade que o Rebelo descrevera horrorizado, com as meias frases de mistério, suscitando temores indefinidos, recomendando energia, como se coleguismo fosse hostilidade? De que modo alinhar a norma generosa e sobranceira de proceder com a obsessão pertinaz do Barbalho? Inutilmente buscara reconhecer no rosto dos rapazes o nobre aspecto da solenidade dos prêmios, dando- me ideia da legião dos soldados do trabalho, que fraternizavam no empenho comum, unidos pelo coração e pela vantagem do coletivo esforço. Individualizados na debandada do receio, com as observações ainda mais da crítica do Rebelo, bem diverso sentimento inspiravam- 13 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA me. A reação do contraste induzia-me a um conceito de repugnância que o hábito havia de esmorecer, que me tirava lágrimas àquela noite. Ao mesmo tempo oprimia-me o pressentimento da solidão moral, fazendo adivinhar que as preocupações mínimas e as concomitantes surpresas inconfessáveis dariam pouco para as efusões de alívio, a que corresponde o conselho, a consolação. Nada de protetor, dissera Rebelo. Era o ermo. E, na solidão, conspiradas, as adversidades de toda a espécie, falsidade traiçoeira dos afetos, perseguição da malevolência, espionagem da vigilância; por cima de tudo, céu de trovões sobre os desalentos, a fúria tonante de Júpiter diretor, o tremendo Aristarco dos momentos graves (POMPEIA, 1996, s.p.). FONTE: POMPEIA, R. O Ateneu. 16. ed., São Paulo: Ática, 1996. Disponível em: <https://bit.ly/3AZSTOe>. Acesso em: 25 maio 2021. A partir da leitura do excerto e com base em seus estudos literários, disserte a respeito das características do Naturalismo e Realismo encontradas na obra de Pompeia. Resposta esperada: O Ateneu, romance de Raul Pompéia, se caracteriza por criar quadros reais do internato e da vivência do menino interno e das relações sociais que permeiam o ambiente. Embora tenha sido publicada como obra realista e naturalista, também é considerada pertencente ao Impressionismo, de onde toma emprestado o conceito, porque a narrativa é construída de forma a causar impressões no leitor. O espaço é descrito de forma real, por isso pertence ao realismo, mas se trata de um romance natural por causa do perfil psicológico, que beira a bestialidade humana, como no exemplo de Aristarco, o diretor do colégio interno e que é cruel, assim como as angústias e descobertas de Sergio, o menino protagonista. 14 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA TÓPICO 3 1 Excerto [...] O movimento realista, cujo marco inaugural foi a publicação de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, em 1881, atingiu seu auge, e o naturalismo, estilo procedente do realismo, ga- nhou adeptos. Na poesia, simbolistas e parnasianos encantaram os leitores com seu apego à sonoridadee à forma. Essa foi uma época na qual o número de leitores só aumentou na capital federal, o grande centro literário-cultural do país. De acordo com um censo feito em 1890, a população do Rio de Janeiro era de 522 mil habitantes, dos quais 57,9% dos homens e 43,8% das mulheres eram alfabetizados, totalizando 270 mil pessoas capazes de ler e escrever. No Brasil como um todo, a taxa de alfabetização caía para apenas 20%. Em 1906, mais de 400 mil cariocas eram leitores. Enquanto o número de leitores crescia, o mercado editorial também mudava. A virada para os 1900 marcou a modernização da imprensa e das casas de livros em nosso país, que passaram a ter novas máquinas para imprimir livros e pe- riódicos. Ocorreu a transição da fase artesanal para a industrial. E as mudanças não pararam por aí. Com o advento da fotografia, imagens começaram a ilustrar os textos. Foi um momento novo e de moderni- zação para as letras brasileiras (VERRUMO, 2017, 128). FONTE: VERRUMO, M. História bizarra da literatura brasileira / Marcel Verrumo. – 1. ed. – São Paulo: Planeta, 2017. Após a leitura atenta do excerto, analise as afirmativas a seguir: I- As obras de Machado de Assis só seriam publicadas a partir de 1900. II- A literatura brasileira cresceu significativamente no início do século XX e isso é demonstrado pelas estatísticas de registros datados pelo censo realizado de 1890. III- A obra Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, retrata um personagem romântico e disposto a atos de heroísmo. IV- A modernização industrial gráfica impulsionou também o mercado livreiro e dos periódicos. V- Com a virada do século XIX para o XX o crescimento de leitores foi significativo o que expandiu o mercado para obras literárias. 15 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA Assinale a alternativa CORRETA: (X) As afirmativas IV e V estão corretas. ( ) As afirmativas II, IV e V estão corretas. ( ) Somente a afirmativa III está correta. ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas. 2 Leia o texto a seguir para entender melhor a diferença entre o Parnasianismo e o Realismo: Excerto [...] Correlacionar Parnasianismo e Realismo (COUTINHO, 1986; CANDIDO; CASTELO, 1964; BOSI, 1994) também é um segundo hábito desafortunado da crítica, após depreciar sua poesia, argumentando que a análise descricionista e objetivante seria um tônus do estilo parnasiano. O Parnasianismo não exclui a carga emotiva, na verdade é da poesia parnasiana que o Realismo se ausenta, uma vez que este observa a realidade, enquanto aquele é de caráter ideológico. Isto está explícito, ao abordar leituras greco-romanas, latinas e clássicas, em que o Parnasianismo pregava o caráter de imaginação poética na recriação dos temas antigos e não como no Realismo, em que a estética era pregada ao real (WOLSKI, 2017, p. 123 - 124). FONTE: WOLSKI, T. Parnasianismo e Simbolismo: um olhar crítico. Miguilim – Revista Eletrônica do Netlli, Crato, v. 6, n. 1, p. 121-133, jan.-abr. 2017. Após a leitura atenta do excerto, analise as afirmativas a seguir: I– As obras parnasianas têm como característica os temas da Antiguidade greco-romana. II– A poesia parnasiana despreza a imaginação e a criatividade na escrita. III– O Parnasianismo desenvolveu uma estética que busca a perfeição dos versos. Assinale a alternativa CORRETA: (X) As afirmativas I e III estão corretas. ( ) As afirmativas II e III estão corretas. 16 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA ( ) Somente a afirmativa II está correta. ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas. 3 (ENADE, 2008) Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas uma infinidade de portas e janelas alinhadas [...]. Sentia-se naquela fermentação sanguínea, naque- la gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham o pé na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante sensação de respirar sobre a terra. Da porta da venda que dava para o cortiço iam e vinham como formigas, fazendo compras. Aluísio Azevedo. O cortiço. São Paulo: Ática, 1989, p. 28-9. Aliás, o cortiço andava no ar, excitado pela festa, alvoroçado pelo jan- tar, que eles apressavam para se dirigirem a Montsou. Grupos de crianças corriam, homens em mangas de camisa arrastavam chinelos com o gingar dos dias de repouso. As janelas e as por- tas escancaradas por causa do tempo quente deixavam ver a cor- renteza das salas, transbordando em gesticulações e em gritos o formigueiro das famílias. ZOLA, É. Germinal. São Paulo: Nova Cultural, 1996, p. 136. Aluísio Azevedo certamente se inspirou em L’Assommoir (A Taberna), de Émile Zola, para escrever O Cortiço (1890), e por muitos aspectos seu texto é um texto segundo, que tomou de empréstimo não apenas a ideia de descrever a vida do trabalhador pobre no quadro de um cortiço, mas um bom número de pormenores, mais ou menos importantes. Mas, ao mesmo tempo, Aluísio quis reproduzir e interpretar a realidade que o cercava e sob esse aspecto elaborou um texto primeiro. Texto primeiro na medida em que filtra o meio; texto segundo na medida em que vê o meio com lentes de empréstimo. Se pudermos marcar alguns aspectos dessa interação, talvez possamos esclarecer como, em um país subdesenvolvido, a elaboração de um mundo ficcional coerente sofre de maneira acentuada o impacto dos textos feitos nos países centrais e, ao mesmo tempo, a solicitação imperiosa da realidade natural e social imediata. FONTE: Adaptado de CANDIDO, A. De cortiço a cortiço. In: O discurso e a cidade. 17 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA São Paulo / Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2004, p.106-7/128-9. Assinale a alternativa CORRETA em que a relação intertextual entre O Cortiço e Germinal é interpretada pelos parâmetros críticos apresentados no texto de Antonio Candido acerca da relação entre a obra de Aluísio Azevedo e a de Émile Zola: a) ( ) O texto de Aluísio Azevedo é um texto primeiro em relação ao de Zola porque foi escrito anteriormente e influenciou a produção naturalista do escritor francês. b) ( ) A relação de proximidade entre o texto de Azevedo e o de Zola evidencia que o diálogo entre os textos desassocia-os da realidade social em que foram produzidos. c) (X) O texto de Aluísio Azevedo, por suas condições de produção, está submetido ao modelo naturalista europeu, ao mesmo tempo em que atende a demandas da realidade nacional. d) ( ) O Cortiço é um texto segundo em relação ao texto de Zola porque é, sobretudo, a duplicação do modelo literário francês e da realidade social das classes operárias europeias. e) ( ) A presença de elementos do naturalismo francês em O Cortiço é indicativo da troca cultural que ocorre no espaço do intertexto, independentemente das realidades locais de produção. 4 Olavo Bilac foi um dos escritores do Parnasianismo, e Bosi (2017) fala que as características principais que orientaram a escrita poética desta escola são: “o gosto da descrição nítida (a mimese pela mimese), concepções tradicionalistas sobre metro, ritmo e rima e, no fundo, o ideal de impessoalidade que partilhavam com os realistas do tempo” (BOSI, 2017, p. 196). A seguir, leia o poema de Bilac e procure observar os pressupostos parnasianos. Soneto - Rio Abaixo Treme o rio, a rolar, de vaga em vaga... Quase noite. Ao sabor do curso lento Da água, que as margens em redor alaga, Seguimos. Curva os bambuais o vento. 18 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA Vivo, há pouco, de púrpura, sangrento, Desmaia agora o Ocaso. A noite apaga A derradeira luz do firmamento... Rola o rio, a tremer, de vaga em vaga. Um silêncio tristíssimo por tudo Se espalha. Mas a lua lentamente Surge na fímbria do horizonte mudo: E o seu reflexo pálido, embebido Como um gládio de prata na corrente, Rasga o seio do rio adormecido (BILAC, 1978, p. 72). Sobre Rio Abaixo, disserte a respeito do tema e da escrita do poema. Expliquepor que é caracterizado como parnasiano. Resposta esperada: O poema é um soneto, uma forma muito usada pelos parnasianos porque concentra em dois quartetos e dois tercetos: a rima, a métrica e a estrutura fixa. O tema do poema de Bilac apresenta uma descrição rica e com detalhes do pôr do sol e da noite, a natureza é descrita de forma objetivo. O uso indireto confere o tom impessoal ao poema. As escolhas lexicais como púrpura, fímbria, e gládio são exemplos do gosto poético parnasiano de usar palavras eruditas, e a rima é rica e preciosa como neste exemplo: porque rima uma combinação de palavras. 5 O Simbolismo brasileiro estendeu-se até 1922 quando se realizou a Semana de Arte Moderna, e representado por Cruz e Sousa a partir da publicação em 1893 de Missal e Broqueis. Conforme Bosi, (2017, p. 299) Cruz e Souza seguiu “a vertente que tendia a transfigurar a condição humana e dar-lhe horizontes transcendentais capazes de redimir-lhe os duros contrastes”. São os versos que gritam de angústia e por isso são sombrios e pessimistas, características do Simbolismo e presente no poema Acrobata da Dor. A seguir leia o soneto e observe o simbolismo nos versos. 19 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA Soneto Acrobata da dor Gargalha, ri, num riso de tormenta, como um palhaço, que desengonçado, nervoso, ri, num riso absurdo, inflado de uma ironia e de uma dor violenta. Da gargalhada atroz, sanguinolenta, agita os guizos, e convulsionado salta, gavroche, salta clown, varado pelo estertor dessa agonia lenta … Pedem-se bis e um bis não se despreza! Vamos! retesa os músculos, retesa nessas macabras piruetas d’aço. . . E embora caias sobre o chão, fremente, afogado em teu sangue estuoso e quente, ri! Coração, tristíssimo palhaço (CRUZ E SOUZA, 1893, p. 105 - 106). Sobre o poema Acrobata da dor e a escrita simbolista de Cruz e Souza, disserte sobre duas características da função poética e disserte sobre o tema do poema: Resposta esperada: O poema é um soneto, com a rima, a métrica e a estrutura fixa. O tom é pessimista e sombrio. O poeta utiliza estrangeirismos para as escolhas lexicais, o que mostra uma transgressão e subjetividade do considerado como clássico pela crítica literária. O poema aos poucos desvenda para o leitor o sentimento e entre o título e o último verso, destaca-se o paradoxo “ri! Coração, tristíssimo palhaço”, por isso é confirmado que o personagem do poema sofre, mas apesar de tudo continua em frente e cumpre com suas tarefas, mesmo às custas de imensa dor e sofrimento, assim como O verbo, no imperativo, insiste que o personagem deve rir sem pensar na angústia e dor sentida. 20 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA UNIDADE 2 TÓPICO 1 1 Estudamos a importância do Manifesto escrito por André Breton e como se tornou um marco de referência para entender o movimento surrealista, uma das ramificações do vanguardismo europeu e que no Brasil também teve uma adesão significativa. A respeito do Surrealismo, avalie as afirmações a seguir e a relação proposta entre elas: I- O surrealismo era um movimento que, grosso modo, valorizava o sonho e tudo o que revertia a lógica e fora de controle da razão. PORQUE II- Breton escreve um Manifesto, em 1924, no qual emite sua opinião e explica o que é o surrealismo. A respeito destas afirmações, assinale a alternativa CORRETA: a) (X) As duas afirmações são verdadeiras, e a segunda não justifica a primeira. b) ( ) As duas afirmações são verdadeiras, e a segunda justifica a primeira. c) ( ) A primeira afirmação é verdadeira, e a segunda é falsa. d) ( ) A primeira afirmação é falsa, e a segunda é verdadeira. 2 O desenvolvimento da literatura brasileira no século XX é muito importante para os estudos literários. Ocorreram muitas mudanças na arte, no chamado modernismo brasileiro. Por isso, investigar a contribuição que as vanguardas europeias trouxeram para as nossas letras é descobrir inovações preponderantes para o nosso aprendizado literário, é um enriquecimento para a nossa pesquisa sobre o modernismo. O Futurismo, o Expressionismo, 21 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA o Dadaísmo, o Cubismo e o Surrealismo foram vanguardas revolucionárias que inovaram a literatura não somente na Europa, mas contribuíram para uma inovação na obra de arte brasileira (SANTOS; SOUZA, 2007, p. 790). FONTE: SANTOS, P. C. G. dos; SOUZA, A. de O. As vanguardas europeias e o modernismo brasileiro e as correspondências entre Mário de Andrade e Manuel Bandeira. In: CELLI – COLÓQUIO DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS E LITERÁRIOS. 3, 2007, Maringá. Anais... Maringá, 2009, p. 789-798. Sobre os movimentos que fizeram parte da vanguarda europeia, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) As vanguardas significaram uma nova forma de “fazer arte”. ( ) O vanguardismo teve repercussão no Brasil e abriu caminho para o Modernismo. ( ) O Surrealismo exerceu uma influência nas artes brasileiras. ( ) Cubismo e Dadaísmo são sinônimos e apresentam as mesmas características. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) F – V – V – V. b) ( ) F – V – V – F. c) (X) V – V – V – F. d) ( ) V – V – V – F. 3 Os movimentos vanguardistas tinham em comum a busca da ruptura com a tradição conservadora, a literatura canônica. Procuravam ir contra o senso comum e construir uma arte inovadora, por isso, houve uma intensa produção e experimentos artísticos que se tornaram a base para outros movimentos literários que ainda iriam acontecer. Considerando as estéticas que fizeram parte das vanguardas, analise as afirmativas a seguir: I- Os estilos considerados vanguardistas surgiram no início do século XX e da Europa se espalham para o mundo. 22 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA II- O ideal parnasiano era a meta das vanguardas, porque era prioritário manter os versos dentro de uma hegemonia poética. III- As vanguardas europeias influenciaram as artes no Brasil, e decorrente disso surgiu o Modernismo. IV- A vanguarda tinha como objetivo manter os padrões estéticos do simbolismo e do naturalismo tropical. Assinale a alternativa CORRETA: (X) As afirmativas I e III estão corretas. ( ) As afirmativas II e IV estão corretas. ( ) As afirmativas I, II, III e IV estão corretas. ( ) As afirmativas I e III estão corretas. 4 Excerto – Manifesto surrealista de André Breton Tamanha é a crença na vida, no que a vida tem de mais precário, bem entendido, a vida real, que afinal esta crença se perde. O homem, esse sonhador definitivo, cada dia mais desgostoso com seu destino, a custo repara nos objetos de seu uso habitual, e que lhe vieram por sua displicência, ou quase sempre por seu esforço, pois ele aceitou trabalhar, ou pelo menos, não lhe repugnou tomar sua decisão (o que ele chama decisão!). Bem modesto é agora o seu quinhão: sabe as mulheres que possuiu, as ridículas aventuras em que se meteu; sua riqueza ou sua pobreza para ele não valem nada, quanto a isso, continua recém-nascido, e quanto à aprovação de sua consciência moral, admito que lhe é indiferente. Se conservar alguma lucidez, não poderá senão recordar-se de sua infância, que lhe parecerá repleta de encantos, por mais massacrada que tenha sido com o desvelo dos ensinantes. Aí, a ausência de qualquer rigorismo conhecido lhe dá a perspectiva de levar diversas vidas ao mesmo tempo; ele se agarra a essa ilusão; só quer conhecer a facilidade momentânea, extrema, de todas as coisas. Todas as manhãs, crianças saem de casa sem inquietação. Está tudo perto, as piores condições materiais são excelentes. Os bosques são claros ou escuros, nunca se vai dormir (BRETON, 1924, p. 1). FONTE: BRETON, A. Manifesto surrealista. 1924. Disponível em: <https://bit.ly/3BY0uxH>. Acesso em: 20 fev. 2021. 23 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA Depois da leitura e com base emseus estudos, cite e explique duas características do Surrealismo: Resposta esperada: Sobre o Surrealismo – • Movimento estético que procurou o automatismo, seja verbal, escrito ou de qualquer outra forma para expressar o funcionamento real do pensamento; • Abandono do controle exercido pela razão na escrita; • Nenhuma preocupação em ferir ou transgredir elementos da estética ou moral. • Acredita na realidade superior de certas formas de associações como a onipotência do sonho e o, desempenho desinteressado do pensamento. • Tende a demolir definitivamente todos os outros mecanismos psíquicos, por isso considera que a divagação, a fantasia e o devaneio, sob o uso de entorpecentes ou não, são essenciais e prioritários no processo criador. 5 As vanguardas europeias no Brasil tiveram ampla acolhida e influenciaram artistas e escritores. A maior influência veio da França, por parte de diversos movimentos estéticos e que tinham em seu bojo a quebra das estruturas fixas de escrita poética e da prosa, da sintaxe, a transgressão de dogmas e crenças trazendo experimentos de produção de artes sob diversas perspectivas. Diante do exposto e com base em suas leituras, disserte a respeito dos movimentos vanguardistas e a recepção no Brasil. Resposta esperada: A estética vanguardista migrou da Europa e criou raízes brasileiras porque foi recebida por alguns pintores e escritores, como Anita Malfatti, os irmãos Andrade, entre outros. No Brasil, as novas estéticas como o surrealismo, por exemplo, desenvolveram obras de arte e literatura com temas que procuravam valorizar elementos brasileiros, mas ainda mantinham um forte vínculo europeu, porém cada vez mais os artistas procuravam uma independência cultural. 24 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA TÓPICO 2 1 Os sertões, publicado em 1902, recebe em fluxo contínuo críticas literárias e contribuições de pesquisas interdisciplinares. Leia o excerto a seguir: Surpreendeu tanto pelo cuidado estilístico e literário, com uma escrita altamente expressiva e imagética, quanto pela amplitude dos assuntos tratados. Além de relatar a guerra, o engenheiro-escritor mostrava ambições de historiador e de cientista, abordando o clima e a vegetação do semiárido, a raça, o homem e os costumes do sertão, a formação de Canudos e a biografia do Conselheiro. Discutia ainda a fundação da República por meio de um golpe militar e os problemas que tal origem trouxera ao novo regime. Criticava, de forma aguda, quer o militarismo dos primeiros governos, quer o liberalismo artificial de uma Constituição que as elites civis violentavam por meio de fraudes e manipulações eleitorais (VENTURA, 1996, p. 284). FONTE: VENTURA, R. Euclides da Cunha e a República. In: Oswaldo Galotti e Walnice Nogueira Galvão (Orgs.). Estudos Avançados 10 (26), 1996. Disponível em: <https://bit.ly/3rHOZGb>. Acesso em: 7 mar. 2021. Sobre Os Sertões, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Euclides escreveu para mostrar a versão dos fatos que ele considerava correta. ( ) A narrativa euclidiana é ambientada em fatos históricos. ( ) A obra procura mostrar a vida como era nas cidades cariocas. ( ) Outros temas, além da vida sertaneja, são mostrados como a flora. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) F – V – V – V. b) ( ) F – V – V – F. c) (X) V – V – F – V. d) ( ) V – V – V – F. 25 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA 2 (Questão 27 ENADE 2008) A literariedade, conceito que remete à especificidade da linguagem literária, vem sendo discutida por teóricos e críticos, tal como se verifica nos textos a seguir. Texto 1 A literariedade, como toda definição de literatura, compromete-se, na realidade, com uma preferência extraliterária. Uma avaliação (um valor, uma norma) está inevitavelmente incluída em toda definição de literatura e, consequentemente, em todo estudo literário. Os for- malistas russos preferiam, evidentemente, os textos aos quais melhor se adequava sua noção de literariedade, pois essa noção resultava de um raciocínio indutivo: eles estavam ligados à vanguarda da poesia futurista. Uma definição de literatura é sempre uma preferência (um preconceito) erigida em universal. Antoine Compagnon. O demônio da teoria: literatura e senso comum. Trad. Cleonice P. Barros e Consuelo F. Santiago. Belo Horizonte: UFMG, 2003, p. 44. Texto 2 Literariedade: termo do formalismo russo (1915-1930), que significa observar em uma obra literária o que ela tem de especificamente literário: estruturas narrativas, rítmicas, estilísticas, sonoras etc. Foi a tentativa de especificar o ser da literatura, propondo um procedimento próprio diante do material literário. Os formalistas trabalharam, portanto, um novo conceito de história literária, e foram, digamos assim, a base para o comportamento estruturalista surgido na França. Samira Chalub. A metalinguagem. 4. ed. São Paulo: Ática, 1998, p. 84 (com adaptações). FONTE: ENADE 2008 – Caderno de letras. Banca: INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira). Disponível em: https://bit.ly/3upXaqu>. Acesso em: 10 fev. 2021. A partir da interpretação dos textos, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Para os dois autores, a literariedade revela o ser da literatura, algo que a diferencia da linguagem cotidiana. b) ( ) Os dois autores afirmam que o conceito de literariedade é histórico, marcado pelo momento em que foi formulado. 26 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA c) (X) Compagnon questiona a concepção dos formalistas russos de que há especificidade universal na linguagem literária. d) ( ) Chalub, em seu texto, discute o conceito de literariedade, seu alcance e seus possíveis limites. e) ( ) Infere-se dos dois fragmentos que literariedade é um conceito que está acima de escolhas subjetivas, culturais ou sociais. 3 A leitura de O Triste de Fim de Policarpo Quaresma (1911) é um reflexo de como Lima Barreto olhava e analisava para a sociedade brasileira da virada do século XX, e contava em suas obras a realidade social do país, o sentimento de patriotismo diante da hipocrisia e da ganância era frustrante, além dos preconceitos, assim, nas páginas da obra é possível ler as críticas sociais da época e isso era uma característica comum aos escritores do pré- modernismo. Sobre a obra Policarpo Quaresma, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Em Policarpo, como personagem, encontramos a decepção com os preconceitos da sociedade brasileira. ( ) Policarpo estava de acordo com os valores estrangeiros como ideal de vida. ( ) A realidade da pobreza e da riqueza em questões básicas de saúde são localizadas na obra. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) F – V – V. b) ( ) V – V – V. c) (X) V – F – V. d) ( ) F – F – F. 4 Depois da recepção vanguardistas no Brasil e com a adesão de intelectuais da época, gerou-se um período conhecido como pré- modernismo literário. O grupo de escritores cresceu no biênio 1920-21, e se afirmou publicamente pela arte nova. A sociedade brasileira, como um todo, experimentava novas perspectivas sociais e históricas e a expansão modernista europeia chegava e influenciava artistas e escritores. 27 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA Com base em seus estudos, explique as duas primeiras décadas do século XX e o seu impacto na literatura brasileira: Resposta esperada: O pré-modernismo não é considerada uma escola literária, mas foi denominada como um período de transição literária entre 1900 e 1922 e antecedeu o Modernismo. Período que compreendeu a Belle Epóque que nada mais era que a imitação dos modos europeus por parte de uma elite brasileira. A sociedade vivenciava a revolução industrial e o desejo da modernidade, tornava a sociedade dependente culturalmente. O Brasil vivenciavauma época marcada pelo racismo, a literatura valorizou a cultura africana. A literatura deu voz ao sertanejo e inseriu os elementos regionais. A literatura valorizou e contou histórias com personagens brasileiros. 5 A respeito do escritor Monteiro Lobato, sabemos da importância do escritor para a literatura brasileira como é destacado por Bosi: “O papel que Lobato exerceu na cultura nacional transcende de muito a sua inclusão entre os contistas regionalistas, ele foi, antes de tudo, um intelectual participante que empunhou a bandeira do progresso social e mental de nossa gente. E esse pendor para a militância foi-se acentuando no decorrer da sua produção literária, de tal sorte que às primeiras obras narrativas (Urupês, Cidades Mortas, Negrinha) logo se seguiram livros de ficção científica à Orwell e à Huxley, de polêmica econômica e social, que desembocariam, por fim, na originalíssima fusão de fantasia e pedagogia que representa a sua literatura juvenil. Moralista e doutrinador aguerrido, de acentuadas tendências para uma concepção racionalista e pragmática do homem, Lobato assumiu posição ambivalente dentro do Pré-Modernismo. Na medida em que a cultura do imediato pós-guerra refletia o aprofundamento de um filão nacionalista, o criador do Jeca mantinha bravamente a vanguarda; com efeito, depois de Euclides e de Lima Barreto, ninguém melhor do que ele soube apontar as mazelas físicas, sociais e mentais do Brasil oligárquico e da I República, que se arrastava por trás de uma fachada acadêmica e parnasiana. Nessa perspectiva, Lobato encarnou o divulgador agressivo da Ciência, do progressismo, do "mundo moderno", tendo sido um demolidor de tabus, à maneira dos 28 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA socialistas fabianos, com um superavit de verve e de sarcasmo. Entretanto... essa mesma nota moralista e didática afastava-o do Modernismo de 22, ou ao menos das correntes irracionalistas que lhe permeavam a estética. Lobato sentiria a vida toda, em nome do bom senso e da razão (como se fora um velho acadêmico), total repulsa pelos "ismos" que definiram as grandes aventuras e as grandes conquistas da arte novecentista: futurismo, cubismo, expressionismo, surrealismo, abstracionismo” (BOSI, 2017, p. 377). Depois da leitura e com base em seus estudos, disserte brevemente sobre o tema: Monteiro Lobato e a literatura brasileira: Resposta esperada: Monteiro Lobato colocou em evidência o homem do campo, assim como publicou os mitos e as lendas em narrativas que marcaram gerações de leitores. A literatura infanto-juvenil teve em Monteiro Lobato um escritor que inseriu os elementos nacionais e contou histórias com personagens brasileiros. A literatura adulta de Monteiro Lobato não é tão estudada quanto a infantil. A obra do escritor foi traduzida para diversas línguas. Fez oposição ferrenha às vanguardas e criou desafetos como Anita Malfatti e Oswald de Andrade. TÓPICO 3 1 Excerto – A vanguarda tropical de Mário de Andrade. [...] O modernismo que floresceu em terras paulistanas na década de 1920 foi uma reação às artes ditas "acadêmicas" – literatura, pintura, música, escultura e arquitetura praticadas no Brasil, que tinham por referência os padrões eruditos elaborados por academias da Europa. O movimento se rebelava contra a cópia subserviente de modelos estrangeiros e pregava a pesquisa de novas linguagens, autônomas em relação aos cânones do Velho Continente. O movimento capitaneado por Mário e Oswald de Andrade operou uma inversão de perspectiva sobre a nação brasileira: de país atrasado e imitador – em relação às nações do Velho Continente, como França, Alemanha e Inglaterra – 29 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA passou-se a considerar o Brasil uma civilização vanguardista, única no mundo ocidental, que em muitos aspetos estaria mesmo à frente das potências europeias. Ironicamente, entretanto, o modernismo paulista não excluía em absoluto critérios estéticos provindos de além-mar. Ao contrário, eram libelos vanguardistas europeus que chegavam a São Paulo para informar seu programa (NATAL, 2016, p. 1). FONTE: NATAL, C. M. A vanguarda tropical de Mário de Andrade. An. mus. paul., São Paulo, v. 24, n. 2, p. 161-186, Aug. 2016. Disponível em:<https://bit.ly/3yqfiDq>. Acesso em: 7 mar. 2021. Sobre o exposto no texto, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Os irmãos Andrade inscreveram o Brasil nas vanguardas. ( ) Os intelectuais brasileiros buscavam uma independência cultural ao usar elementos autóctones ( ) O Modernismo brasileiro era caracterizado por uma linguagem clássica greco-romana e procurava imitar o cânone europeu. ( ) O Modernismo foi um movimento capixaba de autoria de Machado de Assis. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) F – V – V – V. b) ( ) F – V – V – F. c) (X) V – V – F – F. d) ( ) V – V – V – F. 2 O vanguardismo brasileiro trouxe inovações na forma de escrever obras de ficção. Mario de Andrade foi um autor inovador na forma de escrever obras de literatura. Primeiro tinha sido influenciado pelo vanguardismo europeu, e isso se refletiu na escrita de muitas de suas obras, onde se encontra mistos de ficção e realidade sempre permeados pela sátira e a ironia, uma marca de seu trabalho ficcional. Sobre o exposto, avalie as afirmações a seguir e a relação proposta entre elas. 30 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA I- A publicação de Paulicéia desvairada, em 1922, de Mário de Andrade, foi considerada um marco literário no Brasil. PORQUE II- O texto trazia inovações no que se refere à escrita de um poema. Buscava o popular, a liberdade de regras gramaticais e conceitos academicistas. A respeito destas afirmações, é CORRETO afirmar que: a) ( ) As duas afirmações são verdadeiras, e a segunda não justifica a primeira. b) (X) As duas afirmações são verdadeiras, e a segunda justifica a primeira. c) ( ) A primeira afirmação é verdadeira, e a segunda é falsa. d) ( ) A primeira afirmação é falsa, e a segunda é verdadeira. 3 (ENADE, 2008) Antes de compreender o que significam as inovações tecnológicas, temos de refletir sobre o que são velhas e novas tecnologias. O atributo do velho ou do novo não está no produto, no artefato em si mesmo, ou na cronologia das invenções, mas depende da significação do humano, do uso que fazemos dele. FONTE: CORREA, J. Novas tecnologias da informação e da comunicação; novas estratégias de ensino/aprendizagem. In: COSCARELLI, C. V. (Org.). Novas tecnologias, novos textos, novas formas de pensar. Belo Horizonte: Autêntica, 2003, p. 44 (com adaptações). Relacionando as ideias do fragmento de texto anterior à formação e à ação do professor em sala de aula, conclui-se que: FONTE: Caderno Enade – Letras. Inep, 2008. Disponível em: <https://bit.ly/3yk1g66> Acesso em: 15 fev. 2021. a) ( ) A chegada das inovações tecnológicas à escola torna obsoletos os saberes acumulados pelo professor. b) (X) As inovações tecnológicas no campo do ensino-aprendizagem não garantem inovações pedagógicas. 31 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA c) ( ) A inclusão digital é assegurada quando as escolas são equipadas com computadores e acesso à Internet. d) ( ) Os novos modos de ler e escrever no computador devem ser transpostos para a modalidade escrita da língua no espaço escolar. e) ( ) O acervo impresso das bibliotecas escolares deve ser substituído por acervos digitais, de maior circulação e funcionalidade. 4 Texto Paralelamente às obras e nascendo com o desejo de explicá-las e jus- tificá-las, os modernistas fundavam revistas e lançavam manifestos que iam delimitando os subgrupos, de início apenas estéticos, mas logo portadores de matizes ideológicos mais ou menos precisos. Em maio de 1922, expressão imediata da Semana, aparece Klaxon, men- sário de arte moderna, e que durou novenúmeros, precisamente até dezembro do mesmo ano, com páginas dedicadas a Graça Aranha. A revista, publicada em São Paulo, foi o primeiro esforço concreto do grupo para sistematizar os novos ideais estéticos ainda confusamente misturados nas noites bulhentas do Teatro Municipal. Mas, como já disse páginas atrás, permaneciam baralhadas duas linhas igualmente vanguardeiras: a futurista, ou, lato sensu, a linha de experimentação de uma linguagem moderna, aderente à civilização da técnica e da velocidade; e a primitivista, centrada na liberação e na projeção das forças inconscientes, logo ainda visceralmente romântica, na medida em que surrealismo e expressionismo são neoromantismos radicais do século XX (BOSI, 2017, p. 382-383). Depois da leitura e com base em seus estudos, cite e explique por que as Revistas foi o gênero preferido como meio de divulgação do pensamento e obras modernistas. Resposta esperada: As revistas eram uma publicação periódica, algumas também ilustradas, e no caso da literatura apresentavam um tema literário, artístico. O Modernismo usou os gêneros textuais jornal e a revista como meio impresso para propagar de forma rápida, barata e acessível à população a distribuição de manifestos, os textos de opinião e as propostas dos diversos grupos artísticos que procuravam apresentar suas ideias e artes no Brasil. 32 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA 5 Texto No início dos anos 1920, a então jovem capital mineira, Belo Horizonte, contava com um grupo animado de rapazes, universitários em torno dos seus 20 anos, que partilhavam o interesse pela literatura. A roda era composta por Carlos Drummond de Andrade, Emilio Moura, Milton Campos, Abgar Renault, Francisco Martins de Almeida, Alberto Campos, João Alphonsus e Pedro Nava – para ficar nos nomes mais famosos –, alguns dos quais seguiram amigos pela vida afora. Para retomar a gênese desse cenáculo, dois espaços são fundamentais: a redação do jornal Diário de Minas (Belo Horizonte, 1899-1931) e o ambiente cultural que fervilhava na Rua da Bahia, especialmente a Confeitaria do Estrela, local onde se encontravam diariamente para beber e discutir literatura, dando origem ao nome do grupo. Nesta conjuntura que combinava efervescência de ideias e compartilhamento de um espaço comum, ocorreu também um dos episódios fundadores que propiciou o encontro, com largas consequências para o movimento, dos rapazes mineiros com os modernistas da Semana de 1922: a chegada dos paulistas à cidade de Belo Horizonte. Composta por Mário de Andrade, Oswald de Andrade e seu filho, Tarsila do Amaral, Olívia Guedes Penteado, Godofredo Teles e o poeta franco-suíço Blaise Cendrars, a viagem tinha por objetivo mostrar o Brasil ao visitante estrangeiro e neste roteiro estavam incluídas as cidades históricas de Minas Gerais. Este evento não só marcou um novo tempo para os jovens intelectuais mineiros, como alterou os rumos do próprio movimento modernista que, inspirados pela redescoberta da tradição brasileira durante a viagem pelo país, resultou na corrente Pau-Brasil, marco de um novo entendimento sobre o movimento (FRANCISCO, 2019, p. 05). FONTE: FRANCISCO, L. Modernismos em revistas: as pluralidades do modernismo mineiro com os periódicos a revista (Belo Horizonte, 1925-1926) e verde (cataguases, 1927-1928;1929). In: ANPUH Brasil. Recife, 2019. Disponível em: <https://bit.ly/3C0PXlD>. Acesso em: 29 maio 2021. Depois da leitura e com base em seus estudos, disserte a respeito das características do Manifesto Pau-Brasil: 33 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA Resposta Esperada: • Publicado em 1924 no jornal “O Correio da Manhã” de autoria de Oswald de Andrade. • O texto busca uma arte genuína e independente de padrões europeus. • Apresenta discussão sobre ter uma consciência nacional. • O Manifesto Pau-Brasil trouxe um novo tipo de linguagem mais natural. • O Manifesto e inspirou a poesia modernista. • Tinha no primitivismo a fonte e recursos para a inovação literária brasileira. • Fez parte de um movimento nacionalista com base em raízes folclóricas e regionais brasileiras. • O Manifesto Pau-Brasil tinha uma conexão com os da Poesia Pau-Brasil. UNIDADE 3 TÓPICO 1 1 Leia o texto a seguir: “A literatura do Brasil faz parte das literaturas do Ocidente da Euro- pa. No tempo da nossa independência, proclamada em 1822, formou- -se uma teoria nacionalista que parecia incomodada por este dado evidente e procurou minimizá-lo, acentuando o que haveria de ori- ginal, de diferente, a ponto de rejeitar o parentesco, como se quisesse descobrir um estado ideal de começo absoluto. Trata-se de atitude compreensível como afirmação política, exprimindo a ânsia por vezes patética de identidade por parte de uma nação recente, que descon- fiava do próprio ser e aspirava ao reconhecimento dos outros. Com o passar do tempo foi ficando cada vez mais visível que a nossa é uma literatura modificada pelas condições do Novo Mundo, mas fazendo parte orgânica do conjunto das literaturas ocidentais” (CANDIDO, 1999, p. 9). 34 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA FONTE: CANDIDO, A. Iniciação à literatura brasileira: resumo para principiantes/ Antonio Candido. 3. ed.– São Paulo: Humanitas/ FFLCH/USP, 1999. Sobre o texto, analise as sentenças a seguir: I- Candido identifica a teoria nacionalista com a busca de uma literatura brasileira, de cunho nacional e que procurava naquele momento da independência se tornar também independente. II- A construção da literatura brasileira evoca apenas o legado dos povos originários e por isso não se identifica em nada com a literatura ocidental. III- A afirmação literária brasileira teve início com a aproximação e a combinação de literaturas hispano-americanas. IV- O texto literário brasileiro refletiu em seus princípios uma postura de negar o estrangeiro e buscar cada vez mais elementos autóctones refletindo uma afirmação política. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) (X) As sentenças I e IV estão corretas. c) ( ) As sentenças II e IV estão corretas. d) ( ) As sentenças I, III e IV estão corretas. 2 (Adaptado de ENADE, 2008) 35 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA Texto 1 A vida na fazenda se tornara difícil. Sinhá Vitória benzia-se tremendo, manejava o rosário, mexia os beiços rezando rezas desesperadas [...] Pouco a pouco os bichos se finavam, devorados pelo carrapato. E Fabiano resistia, pedindo a Deus um milagre. Mas quando a fazenda se despovoou, viu que tudo estava perdido, combinou a viagem com a mulher, matou o bezerro morrinhento que possuíam, salgou a carne, largou-se com a família, sem se despedir do amo. FONTE: RAMOS, G. Vidas secas. 106. ed. São Paulo: Record, 1985, p. 117. Texto 2 Veio a seca, maior, até o brejo ameaçava de se estorricar. Experimentaram pedir a Nhinhinha: que quisesse a chuva. — “Mas, não pode, ué...” [...]. Daí a duas manhãs quis: queria o arco-íris. Choveu. E logo aparecia o arco-da-velha, sobressaído em verde com vermelho — era mais um vivo cor-de-rosa. Nhinhinha se alegrou, fora do sério, à tarde do dia com a refrescação. Fez o que nunca lhe vira, pular e correr por casa e quintal. — “Adivinhou passarinho verde?” FONTE: ROSA, J. G. Primeiras estórias. In: Ficção completa. Vol. II. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994, p. 403. FONTE: Adaptado de ENADE. Questão 35. p. 14. 2008. Disponível em: <https://bit.ly/3yk1g66>. Acesso em: 20 jun. 2021. Levando em conta a inter-relação entre a literatura e outros sistemas culturais, analise as sentenças a seguir: I- O espaço representado por Guimarães Rosa reproduz o cenário de seca construído por Graciliano Ramos. II- A religiosidade de Guimarães Rosa e Graciliano Ramos está representada nas crenças populares, nas rezas dos personagens bem como na esperança de intervenção divina. III- A resistência de Fabiano a ficar nafazenda, “pedindo a Deus um milagre”, é quebrada pela realidade dura da seca, evidenciada pelo despovoamento da fazenda. 36 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA IV- As adversidades vividas pelos personagens revelam as condições de pobreza dos grupos sociais representados, mas são superadas mediante intervenção divina. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As afirmativas I e III estão corretas. b) ( ) As afirmativas I e II estão corretas. c) (X) Somente a afirmativa III está correta. d) ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas. 3 Leia o texto a seguir e realize o solicitado: Texto Pensar o ensino da literatura e suas modalidades práticas supõe que se defina a finalidade desse ensino. É a formação de um sujeito leitor livre, responsável e crítico — capaz de construir o sentido de modo autônomo e de argumentar sua recepção — que é prevista aqui. É também, obviamente, a formação de uma personalidade sensível e inteligente, aberta aos outros e ao mundo que esse ensino da literatura vislumbra. Essa formação resulta da sinergia de três componentes, que são a atividade do aluno sujeito leitor no âmbito da classe constituída em “comunidade interpretativa” (FISCH, 2007), a literatura ensinada — textos e obras — e a ação do professor, cujas escolhas didáticas e pedagógicas se revestem de uma importância maior (ROUXEL, 2013, p. 20). FONTE: ROUXEL, A. Aspectos metodológicos do ensino da literatura. Trad.: Neide Luzia de Rezende. In: Leitura de literatura na escola / Maria Amélia Dalvi, Neide Luzia de Rezende, Rita Jover-Faleiros, Orgs. São Paulo, SP: Parábola, 2013. Tomando como referência o texto, analise as sentenças a seguir: I- O ensino de um texto literário procura construir um sujeito crítico. II- Ao levar o texto literário para as aulas da educação básica procura- se envolver o aluno com as leituras. III- A escolha de uma obra é um processo de seleção realizado em sua maior parte pelo professor. 37 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA IV- Selecionar obras literárias para uma aula requer objetivos pedagógicos e didáticos, mas de fato qualquer uma serve para uso. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e IV estão corretas. b) (X) As sentenças I, II e III estão corretas. c) ( ) As sentenças II e IV estão corretas. d) ( ) As sentenças I, III e IV estão corretas. 4 A metáfora é uma figura muito utilizada na literatura, a respeito dela, analise os excertos e reflita como a metáfora foi apresentada na obra Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa. Leia os excertos a seguir: Excerto 1 [...] metáforas, por assim dizer, não costumam andar sozinhas – elas formam redes coerentes, tendo como elos fundamentais um certo tipo de metáfora que funciona como matriz ou nascedouro das demais: as metáforas conceituais, e que essas redes, formadas por metáforas conceituais, ramificações e seus desdobramentos inferenciais, são capazes de tornar coerentes nossas experiências” (GURGEL, 2014, p. 381). Excerto 2 Um dos momentos mais impressionantes da obra é aquele em que Riobaldo se investe de coragem e assume a liderança do bando, desbancando Zé Bebelo. No desfecho dessa ação, Riobaldo, já na condição de chefe da jagunçagem, resolve se isolar e sobe em “um itambé de pedra muito lisa” (GUIMARÃES ROSA, 2001, p.455). De lá, ele observa de cima os seus novos subordinados, os quais “nem careciam de ter nomes – por um querer meu, para viver e para morrer, era que valiam. Tinham me dado em mão o brinquedo do mundo” (GUIMARÃES ROSA, 2001, p.456) (GURGEL, 2014, p. 389). 38 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA Excerto 3 [...] O que dizer da seguinte metáfora com a qual Riobaldo procura expressar seus sentimentos por Diadorim: “Amor é assim – o rato que sai dum buraquinho: é um ratazão, é um tigre leão” (GURGEL, 2014, p. 398). FONTE: GURGEL, D. Metáforas conceituais no Grande Sertão: Veredas. In: Eutomia, Recife, 14 (1): 378-402, dez. 2014. Após a leitura e com base em seus estudos, explique com suas próprias palavras o que é uma metáfora e cite uma a partir dos excertos 2 e 3: Resposta esperada: Metáfora: Quando se relacionam duas palavras, términos, onde um deles é o real e outro é o imaginário e apresentam semelhança, ex. asas de pássaro e assas de avião. Exemplos - Excerto 2 – “o brinquedo do mundo”. - Excerto 3 – ‘’ratazão”; “tigre leão”. 5 Leia o texto a seguir e realize o solicitado: Excerto 1 – Conto: a Terceira Margem de Guimarães Rosa [...] Nosso pai não voltou. Ele não tinha ido a nenhuma parte. Só executava a invenção de se permanecer naqueles espaços do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais. A estranheza dessa verdade deu para estarrecer de todo a gente. Aquilo que não havia, acontecia. Os parentes, vizinhos e conhecidos nossos, se reuniram, tomaram juntamente conselho. Nossa mãe, vergonhosa, se portou com muita cordura; por isso, todos pensaram de nosso pai a razão em que não queriam falar: doideira. Só uns achavam o entanto de poder também ser pagamento de promessa; ou que, nosso pai, quem sabe, por escrúpulo de estar com alguma feia doença, que seja, a lepra, se desertava para outra sina de existir, perto e longe de sua família dele. As vozes das notícias se dando pelas certas pessoas — passadores, moradores das beiras, até do afastado da outra banda — descrevendo que nosso pai nunca se surgia a tomar terra, em ponto nem canto, de dia nem de noite, da forma como cursava 39 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA no rio, solto solitariamente. Então, pois, nossa mãe e os aparentados nossos, assentaram: que o mantimento que tivesse ocultado na canoa, se gastava; e, ele, ou desembarcava e viajava s'embora, para jamais, o que ao menos se condizia mais correto, ou se arrependia, por uma vez, para casa. [...] Excerto 2 Esse conto - A terceira margem do rio (in: Para gostar de ler, vol. 10 - contos, 1992, p. 73-79) - narra a história de um homem que manda fazer uma canoa. Um dia ele parte na canoa, rio adentro, e lá permanece, indo e vindo, sem nunca voltar. Até que acaba sendo considerado morto. O conto sugere que a atitude desse homem, ao se abandonar no rio, tenha acontecido talvez pela “doideira” ou “... por escrúpulo de estar com alguma feia doença, que seja, a lepra...” Também conta a angustiosa espera do filho pelo pai e as situações que vão acontecendo enquanto o tempo passa, como o casamento da filha daquele homem e o nascimento do neto. Isto, é claro, se constitui em arte, na utilização das palavras, na transmissão das idéias, - que fazem o leitor imaginar objetos, roupas, expressões, aspectos, situações e o significado de determinadas palavras -, e no fazer pensar, um item de fundamental relevância nesta forma de narrativa, uma vez que, por ser curta, deve contar muito em pouco espaço (HERNANDEZ, 2006, p. 75). FONTE: HERNANDEZ, D. P. O que os médicos contam? Rev. Para. Med., Belém, v. 20, n. 2, p. 75-77, jun. 2006. Disponível em: <https://bit.ly/3uiWqVH>. Acesso em: 2 jun. 2021. Após a leitura dos excertos e com base em seus estudos, disserte com elementos críticos a respeito da sua percepção sobre a trama do conto: Resposta esperada: • a valorização de termos regionais; • a forma como as palavras são empregadas; • a sutileza ao indicar, as possíveis afecções do personagem; • o cenário e que obriga o leitor a pensar, a imaginar, enquanto lê, que final a história terá. 40 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA TÓPICO 2 1 Leia o seguinte fragmento da obra Perto do Coração Selvagem, primeiro romance publicado de Clarice Lispector em 1944. A obra foi aclamada e bem-vinda pela crítica literária e por intelectuais do porte de Antonio Candido, entre outros. Excerto: O PAI... A MÁQUINA DO PAPAI batia tac-tac... tac-tac-tac... O relógio cordou em tin-dlen sem poeira. O silêncio arrastou-se zzzzzz. O guarda- roupa dizia o quê?roupa-roupa-roupa. Não, não. Entre o relógio, a máquina e o silêncio havia uma orelha à escuta, grande, cor-de-rosa e morta. Os três sons estavam ligados pela luz do dia e pelo ranger das folhinhas da árvore que se esfregavam umas nas outras radiantes. Encostando a testa na vidraça brilhante e fria olhava para o quintal do vizinho, para o grande mundo das galinhas que-não-sabiam-que-iam-morrer. E podia sentir como se estivesse bem próxima de seu nariz a terra quente, socada, tão cheirosa e seca, onde bem sabia, bem sabia uma ou outra minhoca se espreguiçava antes de ser comida pela galinha que as pessoas iam comer (LISPECTOR, 1980, p. 4). FONTE: LISPECTOR, C. Perto do Coração selvagem. 9. ed. Selvagem. Editora Nova Fronteira, 1980. De acordo com seus estudos sobre a autora e leituras, analise as sentenças a seguir: I- No fragmento encontramos uma onomatopeia, recurso para imitar ou substituir um som, em uma referência a relógio. II- A autora estabeleceu uma relação entre seres animados e inanimados na progressão do texto. III- O texto é uma ficção, mas ao mesmo tempo transmite um mundo conhecido pelo leitor, mas recriado conforme a fantasia da escritora. IV- O texto apresenta uma narrativa que utiliza a variedade culta da língua portuguesa. 41 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA Assinale a alternativa CORRETA: ( ) Somente a sentença I está correta. ( ) Somente a sentença II está correta. ( ) Somente a sentença IV está correta. (X) As sentenças I, II, III e IV estão corretas. 2 Leia o fragmento do poema: Dante: um corpo que cai [...] o que mais se perde nas traduções funcionárias “extensivas não intensivas” (como diz o haroldo) de dante: a concretude das imagens a diretidade da linguagem na commedia os versos se acomodam docemente aos números do metro e às leis da terza rima e vão construindo palmo a palmo uma catedral perfeita sem andaimes à vista [...] (CAMPOS, 2020, p. 16). FONTE: CAMPOS, A. de. O anticrítico. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2020. Após a leitura atenta do excerto, analise as afirmativas a seguir: I - A falta de pontuação era uma característica da poesia concreta. II - O poema faz uma alusão a Dante Alighieri, e seu poema A Divina Comédia, nisso vemos o princípio da intertextualidade III - O poema de Haroldo foi escrito com uma métrica perfeita para manter o padrão dos versos clássicos. 42 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As afirmativas I e III estão corretas. b) (X) As afirmativas I e II estão corretas. c) ( ) Somente a afirmativa III está correta. d) ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas. 3 ENADE 2011. Questão 16, p. 13. Considere a obra Miguilim, de Guimarães Rosa, da qual se extraiu o seguinte fragmento: Tio Terêz deu a Miguilim a cabacinha formosa, entrelaçada em cipós. Todos eram bons para ele, todos do Mutum. O doutor chegou: — “Miguilim, você está aprontado? Está animoso?” Miguilim abraçava todos, um por um, dizia adeus até aos cachorros, ao Papaco-o-paco, ao gato Sossõe, que lambia as mãozinhas se asseando. Beijou a mão da mãe do Grivo. — “Dá lembrança ao seu Aristeu... Dá lembrança ao seu Deográcias...” Estava abraçado com Mãe. Podiam sair. FONTE: ROSA, J. G. Manuelzão e Miguilim: duas novelas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1964, p. 103 (com adaptações). Tomando como referência o texto, analise as sentenças a seguir: I- O outro reino, em que se esconde, ou se procura o Menino, é requintado, interiorista, respira mistério, levita na intemporalidade, mora ou pervaga numa estranha mansão [...]. II- Trata-se do deslocamento espacial ou o rito de passagem — ‘o atravessar o bosque’—, que se dá no meio do percurso entre duas aldeias. III- O Menino é uma criança qualquer a brincar com o seu macaquinho e é uma espécie de criança mítica, através de quem tudo se ordena, tudo se corresponde, tudo se completa. FONTE: Adaptado de ENADE 2011. Questão 16. INEP. p. 13. Disponível em: <https://bit.ly/3mefWPx>. Acesso em: 1 jun. 2021. 43 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) (X) Somente a sentença III está correta. c) ( ) As sentenças I, II e IV estão corretas. d) ( ) As sentenças III e IV estão corretas. 4 Leia o texto a seguir e realize o solicitado. Excerto Os saberes sobre os textos — conhecimento dos gêneros, poética dos textos, funcionamento dos discursos etc. — são descobertos e adquiridos no âmbito da leitura. O estudo de uma obra integral, por exemplo, permite descobrir, identificar e compreender os fenômenos sobre os quais serão estabelecidos conceitos e noções que, ao longo do tempo, se transformarão em ferramentas de leitura. A leitura da obra fornece a ocasião de reinvestimentos capazes de automatizar e de afinar as investigações nos textos. Esses saberes podem ainda ser verificados em atividades de escrita literária em que o aluno se situa na posição de autor animado por uma intenção artística (ROUXEL, 2013, p. 21). ROUXEL, A. Aspectos metodológicos do ensino da literatura. Trad.: Neide Luzia de Rezende. In: Leitura de literatura na escola / Maria Amélia Dalvi, Neide Luzia de Rezende, Rita Jover-Faleiros, Orgs. - São Paulo, SP: Parábola, 2013. Depois da leitura e com base em seus estudos, explique por que a leitura de obras literárias é importante nas aulas de língua portuguesa na escola. Resposta Esperada – individual. • Permite saber mais sobre o contexto da obra como um todo. • Oferece subsídios para adquirir mais vocabulário. • Aumenta a concentração leitora. • Permite uma aprendizagem linguística. • Desenvolve a imaginação. • Sente mais as emoções que uma obra proporciona. • Desenvolve empatia. 44 LIT. BRASILEIRA: DO REALISTA À LITERATURA CONTEMPORÂNEA 5 Leia o excerto a seguir: Excerto – Conto Antes que Armando voltasse do trabalho a casa deveria estar arrumada e ela própria já no vestido marrom para que pudesse atender o marido enquanto ele se vestia, e então sairiam com calma, de braço dado como antigamente. Há quanto tempo não faziam isso? Mas agora que ela estava de novo “bem”, tomariam o ônibus, ela olhando como uma esposa pela janela, o braço no dele, e depois jantariam com Carlota e João, recostados na cadeira com intimidade. Há quanto tempo não via Armando enfim se recostar com intimidade e conversar com um homem? A paz de um homem era, esquecido de sua mulher, conversar com outro homem sobre o que saía nos jornais. Enquanto isso ela falaria com Carlota sobre coisas de mulheres, submissa à bondade autoritária e prática de Carlota, recebendo enfim de novo a desatenção e o vago desprezo da amiga, a sua rudeza natural, e não mais aquele carinho perplexo e cheio de curiosidade – e vendo enfim Armando esquecido da própria mulher. E ela mesma, enfim, voltando à insignificância com reconhecimento. Como um gato que passou a noite fora e, como se nada tivesse acontecido, encontrasse sem uma palavra um pires de leite esperando. As pessoas felizmente ajudavam a fazê-la sentir que agora estava “bem”. Sem a fitarem, ajudavam-na ativamente a esquecer, fingindo elas próprias o esquecimento como se tivessem lido a mesma bula do mesmo vidro de remédio. Ou tinham esquecido realmente, quem sabe. Há quanto tempo não via Armando enfim se recostar com abandono, esquecido dela? E ela mesma? Interrompendo a arrumação da penteadeira, Laura olhou-se ao espelho: e ela mesma, há quanto tempo? Seu rosto tinha uma graça doméstica, os cabelos eram presos com grampos atrás das orelhas grandes e pálidas. Os olhos marrons, os cabelos marrons, a pele morena e suave, tudo dava a seu rosto já não muito moço um ar modesto de mulher. Por acaso alguém veria, naquela mínima ponta de surpresa que havia no fundo de seus olhos, alguém veria nesse mínimo ponto ofendido a falta dos filhos que ela nunca tivera? (LISPECTOR, 1977, p. 35-36). FONTE: LISPECTOR,
Compartilhar