Aula 7 Hermenêutica Contemporânea (Dilthey)

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Disciplina: Hermenêutica �losó�ca
Aula 7: Hermenêutica Contemporânea (Dilthey)
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Apresentação
O que representa a concepção de hermenêutica de Wilhelm Dilthey para o desenvolvimento de uma hermenêutica
contemporânea? Veremos nesta aula que para ele é necessário que se tenha um método para diferenciar as ciências
naturais das ciências humanas.
Para que isso aconteça, é importante que a hermenêutica sirva de modelo para as ciências humanas. Dando continuidade do
pensamento de Schleiermacher, a hermenêutica de Dilthey é a compreensão dos sinais que são dados ao nosso sentido.
Objetivos
Reconhecer que para Dilthey é necessário que se tenha um método que diferencie ciências naturais e ciências
humanas;
Relatar que para Dilthey a hermenêutica é modelo para todas as formas de compreensão da vida da mente e do
espírito;
Defender a in�uência de Schleiermacher nos estudos Dilthey.
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A contribuição de Dilthey
Dilthey pensa em uma metodologia com base empírica que aceita a natureza distinta das ciências humanas, já que a metodologia
positiva das ciências exatas naturais não servia.
Contudo, o idealismo das ciências humanas não tem base emíprica para tirar suas conclusões. As ciências humanas necessitam
de uma metodologia própria e única, que Dilthey chama de compreensão, que é o contrário de explicação.
A compreensão que Dilthey tem de hermenêutica segue o raciocínio de Schleiermacher, ou seja, segue um conjunto de regras
para interpretar obras escritas.
Mazotti (2010) a�rma que as relações entre hermenêutica e �loso�a chegaram ao ápice com Dilthey, pois além do estudo sobre
hermenêutica, no aspecto historiográ�co, ele deu a sustentação para o pensamento fenomenológico moderno:

Em um primeiro momento, Dilthey situa a hermenêutica como fundamento das ciências
do espírito (Geiteswissenschaften) em oposição às ciências naturais
(Naturwissenschaften). Segundo o filósofo, é imperativo distinguir as ciências passíveis
de um racionalismo demonstrativo, como a física e a sua possibilidade de comprovação
causal, daquelas ciências em que tal inteligência não é viável, dado que seu conteúdo é
fatalmente complexo e relativo, como a filosofia e a literatura.
MAZOTTI, 2010, p. 27
 Dilthey
Partindo dessa compreensão, a hermenêutica está a serviço do estudo das ciências
de espírito, porque realiza uma compreensão sobre as expressões da vida do
homem, ao passo que as ciências naturais não precisam de interpretação, somente
de explicação.
Distinção teórica para Dilthey
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Ciências do espírito  Interpretação
Ciências naturais  Explicação
Apesar de ter criado uma de�nição radical e que nem vigorou até os nossos dias, é importante ressaltar que Dilthey promoveu um
aprofundamento da re�exão hermenêutica, pois a colocou como base para as ciências do espírito.

Ciência em alemão significa um corpo de conhecimento sistematicamente ordenado e
justificado. Por isso, a hermenêutica, enquanto ciência, é o corpo de conhecimento
sistematicamente ordenado e justificado relacionado à arte de interpretar os registros
da existência humana onde a vida da mente e do espírito encontra sua expressão
completa e exaustiva. A hermenêutica justifica a validade universal na interpretação
histórica.
SCHMIDT, 2014, p.52.
Dilthey se refere à hermenêutica como um modelo para todas as formas de compreensão da
vida da mente e do espírito.
Desenvolvimento da hermenêutica
Como estudioso da hermenêutica de Schleiermacher, Dilthey elenca quatro pontos importantes para o desenvolvimento da
hermenêutica:
01 A análise da compreensão fundamenta a interpretação.
02 O autor e o intérprete participam de uma natureza comum.
03 O intérprete pode reconstruir as ideias do autor.
04 É possível compreender o signi�cado inteiro de um texto a partir das palavras.
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Comentário
É muito importante entender que o projeto de Dilthey foi justi�car �loso�camente um método para as ciências humanas. Com
isso, ele não quis eliminar a característica explicativa das ciências naturais, mas mostrar a interdependência entre estes dois
modos de conhecimento. Contudo, ele não quis submeter às ciências humanas modelada pelo método das ciências naturais.
Escola histórica

(...) ele pode estabelecer como meta construir um novo fundamento epistemológico
sólido, entre a experiência histórica e a herança idealista da escola histórica. O sentido
de seu propósito é completar a crítica da razão pura kantiana com uma crítica da razão
histórica.
GADAMER, 2015, p. 297.
Devemos entender essa analogia no sentido literal, pois Dilthey quer que a razão histórica necessite de uma justi�cação como a
da razão pura.
Em seu livro A crítica da razão pura, Kant (2001) apresenta a existência de um domínio no qual os conceitos apriorísticos estavam
justi�cados, permitindo o conhecimento e destruindo a metafísica como ciência racional do mundo.
Saiba mais
Baixe no site domínio público Crítica da razão pura <//www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp> , de Imanuel
Kant.
Na ideia da escola histórica, a �loso�a especulativa da história signi�cava um dogmatismo como tinha sido a metafísica racional.
De maneira geral, para conhecer algo interior, é possível, por meio dos sinais que são alcançados de fora e do sentido,
compreender.
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https://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp
 Fonte: Shutterstock.
O processo de compreender
O processo de compreender ocorre em diversos graus. Em primeiro lugar, é determinado pelo interesse. Se o interesse é limitado,
então a compreensão também é. Já em outra situação buscamos, com algum esforço, penetrar no interior da outra pessoa por
meio da feição do rosto ou das palavras.
Vamos analisar dois exemplos que diferenciam essas maneiras de compreensão:
Matemática
Na matemática, você compreende uma regra e limita essa
compreensão. Por exemplo, 2 x 2 = 4 e essa compreensão
�ca limitada à matemática.
Arte
Já em relação a uma obra de arte, a compreensão não �ca
limitada a única forma de compreender. O autor, a história
de vida, o momento histórico, a intenção e as
características do autor são expressas e podem ser
compreendidas de maneiras diferentes.
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Atenção
Quando se trata de obras escritas, Dilthey apresenta a concepção de hermenêutica mais ligada à vida interior do homem. Em
consequência disso, a compreensão, junto com à análise da experiência interna, passa à possibilidade e aos limites universais das
ciências humanas.
Pontos sobre compreensão
Dilthey elenca seis pontos sobre compreensão (SCMIDT, 2014, p. 57-58):
01 Ela é o processo através do qual as objetivações empíricas da vida psíquica, quer dizer, as expressões faciais, aspalavras, ou mesmo um sistema legal, são usadas para conhecer conceitualmente essa vida psíquica.
02 Por mais diferentes que essas objetivações sejam, sua compreensão tem características comuns baseadas nascondições especí�cas deste modo de cognição.
03 A compreensão de textos guiada por regras é a exegese, ou interpretação.
04
A interpretação é uma técnica, e poucos a dominam. As práticas dos bons intérpretes são preservadas nas regras de
interpretação. A interpretação se desenvolve como as ciências naturais. Chamamos de hermenêutica a teoria das
regras para compreender objetivações da vida �xadas textualmente.
05 A compreensão é o procedimento fundamental das ciências humanas.
06 Por isso, a análise da compreensão é uma das principais tarefas para a fundamentação das ciências humanas.
Divisão imperfeita
Apesar de Dilthey tentar distinguir as ciências naturais das ciências humanas, ele entende que elas não podem ser divididas
logicamente em duas partes de esferas diferentes.
Asciências humanas utilizam fatos das ciências naturais, pois procuram descobrir algo que não é dado em sensações, mas
reconhece estar implícito nelas o mundo interno.
Com isso, o ser humano tem dois objetivos:
1
Construir e explicar a natureza de forma ordenada com regras
casuais a partir das impressões que recebemos.
2
Sair da natureza e voltar à própria vida, onde tem signi�cado,
valor e propósito.
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O caminho da compreensão é traçado no caminho de volta dos dados sensoriais que não é captado pelos sentidos.
É por meio destes dois caminhos que as ciências naturais se diferenciam das ciências
humanas. A área de atuação das ciências humanas é o mundo interno dos homens.
As ideias de Dilthey sobre a relação entre as ciências naturais e humanas, além do conceito de compreensão, são importantes
para apresentar o seu pensamento hermenêutico. Partindo do pressuposto que o homem é pensante, a compreensão não está
ligada a pensamentos isolados, mas envolve uma integração.
Manifestação da vida
A investigação hermenêutica é sempre manifestação da vida, fruto de uma vida psíquica que admite chegar a ela. Ele entende
que manifestações da vida são elementos externos passíveis de um conhecimento empírico que indicam aspectos espirituais e
mentais internos da vida humana.
As manifestações da vida são variadas. Podem ser:
1
Juízos objetivos sobre a peculiaridade do sujeito singular.
2
Ações que revelam intenção e até expressões da vivência,
onde o sujeito manifesta o que está sentindo.
Formas de compreensão
Em qualquer comunidade humana, as interpretações cotidianas das manifestações da vida são sempre realizadas de maneira
básica e não re�exiva sobre a vida.
Por isso, Dilthey indica duas formas de compreensão:
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São aquelas que se dão de imediato e que não tem re�exão. O processo de passar para as superiores, implica que as
elementares apresentem incertezas, contradições ou di�culdade de interpretação.
Compreensões elementares 
Questionam as diversas manifestações de vida, confrontam, reconstroem todo um complexo de vida para estabelecer
relações e extrair conclusões.
Formas superiores de compreensão 
Saiba mais
Para esclarecer mais a compreensão de Dilthey sobre hermenêutica como interpretação das manifestações de vida, leia o artigo
“As contribuições de Dilthey para uma fundamentação hermenêutica das ciências humanas
<//www.ufrrj.br/seminariopsi/2009/boletim2009-1/novaes.pdf> ”.
Crítica da razão histórica
Parece clara a preocupação de Dilthey de apresentar os fundamentos �losó�cos das ciências humanas, e com isso realizar uma
crítica da razão histórica.
Nas relações humanas, a experiência do conhecimento do homem ultrapassa os fenômenos da natureza, porque a vida humana é
mais complexa e é baseada em escolhas, valores, preferências e julgamentos.
Com isso, surge a necessidade de as ciências humanas constituírem o corpo de disciplinas para apreender o padrão estrutural da
experiência e ver o comportamento humano no interior. O pensamento cognitivo não é concebido de maneira isolada do resto da
vida psíquica.
O pano de fundo da re�exão de Dilthey é dar uma resposta entre o realismo e o idealismo, por meio de uma psicologia �losó�ca
que analisa os fatos da consciência.
A sociedade para ele é complexa e, para compreender o seu funcionamento, ela não deve ser estudada por uma ciência única,
mas com o auxílio das ciências positivas, cada uma focando de maneira diferente na sociedade.
Para entender a contribuição de Dilthey sobre a hermenêutica — e com isso
compreender não somente o texto, mas a sociedade e, por meio dela, a nós mesmos
—, podemos pegar como exemplo a história.
  A concepção de história no senso comum é narrar, contar ou relatar algo. Mas
Dilthey aponta a necessidade de compreender as forças sociais, a cultura e a
organização da sociedade para compreender a história e a sociedade.
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https://www.ufrrj.br/seminariopsi/2009/boletim2009-1/novaes.pdf
A interpretação deve ser dirigida para a compreensão do homem como ser histórico, tendo em mente os limites que o horizonte
lhe atribui.

O próprio círculo hermenêutico de Dilthey é histórico e assim deve ser tratado. O
sentido do todo somente pode ser aferido a partir do sentido das partes, cada qual
apresentando sua individualidade histórica. Sendo assim, cada experiência da vida pode
proporcionar um sentido ao todo, demonstrando que o sentido não se faz de modo
aritmético e calculista como se fosse uma soma de partes. Apenas um evento, em toda a
sua densidade de significados, é capaz de alterar o sentido do todo é expandir-se sobre
as partes.
MAZATTI, 2010, p. 29.
Podemos veri�car a importância que Dilthey dá à hermenêutica, pois a hermenêutica é arte da compreensão, e, como
compreensão, ele entende que não é algo isolado, experimentado empiricamente e de maneira lógica. A interpretação está
sempre ligada à vida humana.

Para ele o significado não é um conceito lógico, mas é entendido como expressão da
vida. A própria vida, essa temporalidade em constante fluxo, está voltada à
configuração de unidades de significado duradouras. A própria vida se autointerpreta.
Tem estrutura hermenêutica. É dessa forma que a vida constitui a verdadeira base das
ciências do espírito. No pensamento de Dilthey a hermenêutica não é uma herança
romântica, mas surge consequentemente a partir da fundamentação da filosofia na vida.
GADAMER, 2015, p.305.
A hermenêutica da vida está fundamentada na concepção histórica do mundo, e a
�loso�a permite unicamente a possibilidade de conceituar e expressar a verdade da
vida.
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Atividade
1. Seguindo o pensamento de Schleiermacher, a hermenêutica é um conjunto de regras para interpretar as obras escritas e Dilthey
a apresenta como um fundamento.
De qual ciência ele está falando:
a) Ciências do espírito
b) Ciências naturais
c) Ciências Políticas
d) Ciências Médicas
e) Ciências da Religião
2. Segundo o pensamento de Dilthey, é correto a�rmar que:
I. É necessário que se tenha um método para diferenciar as ciências naturais das ciências humanas;
II. A hermenêutica é modelo para a compreensão da vida da mente e do espírito;
III. A interpretação está sempre ligada à vida humana.
a) Todas são corretas
b) Somente I e II são corretas
c) Somente I e III são corretas
d) Somente II e III são corretas
e) Somente II é correta
3. Dilthey apresenta duas ideias de compreensão para interpretar o cotidiano por meio das manifestações da vida. Quais são elas?
a) Elementares e superiores
b) Históricas e filosóficas
c) Psicológicas e religiosas
d) Primárias e secundárias
e) Racionais e afetivas
NotasReferências
GADAMER, Hans-Georg. Verdade e Método I: Traços fundamentais de uma hermenêutica �losó�ca. Petrópolis: Vozes, 2015.
GRONDIN, Jean. Introdução à hermenêutica �losó�ca. Tradução de Benno Dischinger. São Leopoldo: Unisinos, 1999.
KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. 5. ed. Tradução: Manuela Pinto e Alexandre Morujão. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 2001
MAZOTTI, Marcelo. As escolas hermenêuticas e os métodos de interpretação da lei. Barueri: Manole, 2010.
SCHMIDT, Lawrence K. Hermenêutica. Petrópolis. Vozes, 2014.
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Próxima aula
Fenomenologia de Husserl;
Conceito de hermenêutica de Heidegger;
Virada hermenêutica de Gadamer.
Explore mais
Para saber mais sobre os assuntos estudados nesta aula, acesse os materiais abaixo:
“A hermenêutica de Wilheim Dilthey e a re�exão epistemológica nas ciências humanas contemporâneas”
<//www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-69922002000200003&script=sci_abstract&tlng=pt> ;
“O Surgimento da Hermenêutica (1900)” <https://numen.ufjf.emnuvens.com.br/numen/article/view/883/767> .
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https://numen.ufjf.emnuvens.com.br/numen/article/view/883/767