Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Pontes e Estruturas Especiais “Desde que o homem habita este mundo, as pontes são a expressão de sua vontade de superar os obstáculos que encontra no caminho para atingir o seu objetivo. As pontes são testemunho do progresso, poder e decadência; nos falam da cultura dos povos e de sua mentalidade. Desde a obra modesta, somente funcional, até o monumento de formas aperfeiçoadas – mais ou menos carregada artisticamente – encontramos tal multiplicidade de expressões.” H. Wittfoht 1. Conceitos básicos 1.1. Definições Ponte é uma construção destinada a estabelecer a continuidade de uma via de qualquer natureza. Nos casos mais comuns, e que serão tratados neste texto, a via é uma rodovia, uma ferrovia, ou uma passagem para pedestres. O obstáculo a ser transposto pode ser de natureza diversa, e em função dessa natureza são associadas às seguintes denominações: Ponte (propriamente dita) - quando o obstáculo é constituído de curso de água ou outra superfície líquida como, por exemplo, um lago ou braço de mar (Figuras 1 e 2); Viaduto - quando o obstáculo é um vale ou uma via (Figuras 3 e 4) Figura 01 – Esquema ilustrativo de ponte Figura 02 – Ponte Presidente Costa e Silva (Rio – Niterói) 2 Figura 03 – Esquema ilustrativo de viaduto Figura 04 – Viaduto Santa Tereza 1.2. Particularidades das pontes Ao se comparar as pontes com os edifícios, pode-se estabelecer certas particularidades das pontes em relação aos edifícios. Estas, podem ser agrupadas da seguinte forma: a) Ações - devido ao caráter da carga de utilização das pontes, torna-se necessário considerar alguns aspectos que normalmente não são considerados nos edifícios. Nas pontes, em geral, deve-se considerar o efeito dinâmico das cargas, e devido ao fato das cargas serem móveis, torna-se necessário determinar a envoltória dos esforços solicitantes e a verificação da possibilidade de fadiga dos materiais. b) Processos construtivos - em razão da adversidade do local de implantação, que é comum na construção das pontes, existem processos de construção que, em geral, são específicos para a construção de pontes, ou que assumem importância fundamental no projeto. c) Composição estrutural - a composição estrutural utilizada nas pontes difere da empregada em edifícios, em razão da carga de utilização, dos vãos a serem vencidos, e do processo de construção. d) Análise estrutural - na análise estrutural existem simplificações e recomendações em função da composição estrutural, como por exemplo, o cálculo da estrutura em grelha considerando elementos indeformáveis na direção transversal. 1.3. Elementos constituintes das pontes As pontes em sua maioria, sob o ponto de vista funcional, podem ser divididas em três partes principais: infraestrutura, mesoestrutura e superestrutura. 3 A infraestrutura ou fundação é a parte da ponte por meio da qual são transmitidos ao terreno de implantação da obra, rocha ou solo, os esforços recebidos da mesoestrutura. Constituem a infraestrutura os blocos, as sapatas, as estacas e os tubulões etc., assim como as peças de ligação de seus diversos elementos entre si, e destes com a mesoestrutura como, por exemplo, os blocos de cabeça de estacas e vigas de enrijecimento desses blocos. A mesoestrutura, constituída pelos pilares, é o elemento que recebe os esforços da superestrutura e os transmite à infraestrutura, em conjunto com os esforços recebidos diretamente de outras forças solicitantes da ponte, tais como pressões do vento e da água em movimento. A superestrutura, composta geralmente de lajes e vigas principais e secundárias, é o elemento de suporte imediato do estrado, que constitui a parte útil da obra, sob o ponto de vista de sua finalidade. Figura 05 – Elementos constituintes das pontes Há obras complementares, elementos acessórios que não se enquadram na classificação anterior, mas que contribuem para integrar a ponte como um todo. Entre eles podem ser citados: a) Encontros: são elementos de transição entre a estrutura da ponte e o terrapleno, e têm a dupla função, de suporte da ponte, e de proteção do aterro contra a erosão. Devem ser, portanto dimensionados para resistir às reações verticais e horizontais da superestrutura, e também ao empuxo do aterro. São muito utilizados quando há o perigo de destruição da saia do aterro em virtude da erosão provocada pelas cheias. 4 Figura 06 – Ponte com encontros nas extremidades Os encontros têm um paramento frontal e alas laterais longitudinais, inclinadas ou transversais. As alas laterais podem ser isoladas do paramento frontal, ou ligadas a ele formando uma estrutura monolítica. Figura 07 – Encontros com alas laterais monolíticas com a parede frontal. b) Placas de transição ou laje de transição: tem por função acompanhar o assentamento do terreno quando este for muito recalcável. A declividade da placa não pode ultrapassar a 1:200. Uma extremidade da placa apoia-se num console curto linear ao longo da transversina extrema ou cortina e a outra extremidade apoia-se no terrapleno. 5 Figura 08 – Cortina extrema, alas e placas de transição para o caso de pontes com extremidades em balanço. Com relação à seção longitudinal, mostrada na fig. 09, tem-se as seguintes denominações: Comprimento da ponte (também denominado de vão total) - distância, medida horizontalmente segundo o eixo longitudinal, entre as seções extremas da ponte; Vão (também denominado de vão teórico e de tramo) - distância, medida horizontalmente, entre os eixos de dois suportes consecutivos; Vão livre - distância entre as faces de dois suportes consecutivos; Altura de construção - distância entre o ponto mais baixo e o mais alto da superestrutura; Altura livre - distância entre o ponto mais baixo da superestrutura e o ponto mais alto do obstáculo. 6 Figura 09 – Denominações dos elementos relativos à seção longitudinal. 1.4. Classificação das pontes As pontes podem ser classificadas segundo vários critérios: Material da superestrutura; Comprimento; Natureza do tráfego; Desenvolvimento planimétrico; Desenvolvimento altimétrico; Sistema estrutural da superestrutura; Processo de execução. 1.4.1. Material da superestrutura As pontes se classificam segundo o material da superestrutura em: Pontes de madeira; Pontes de alvenaria Pontes de concreto simples; Pontes de concreto armado; Pontes de concreto protendido; Pontes de aço; Pontes mistas (concreto e aço). 1.4.2. Comprimento Segundo o seu comprimento, as pontes podem ser classificadas em: Galerias (bueiros) - de 2 a 3 metros; Pontilhões - de 3 a l0 metros; Pontes - acima de l0 metros. Esta classificação tem importância apenas para apresentar as denominações que as pontes recebem em função do seu comprimento ou porte, embora não exista consenso - e nem grande importância - sobre as faixas de valores aqui indicadas. Existe ainda uma divisão, para as pontes de concreto, também de contornos não muito definidos, que é: Pontes de pequenos vãos – até 30 metros; Pontes de médios vãos – de 30 a 60 a 80 metros; 7 Pontes de grandes vãos – acima de 60 a 80 metros. 1.4.3. Natureza do tráfego Segundo a natureza do tráfego, as pontes podem ser classificadas em: Pontes rodoviárias; Pontes ferroviárias; Passarelas (pontes para pedestres); Pontes aeroviárias; Pontes navegáveis; Pontes mistas. Estas denominações são associadas ao tipo de tráfego principal. As pontes mistas são aquelas destinadas a mais de um tipo de tráfego, por exemplo, ponte rodoferroviária que serve para estabelecer a continuidade de uma rodovia e de uma ferrovia. Figura 10 – Ponte rodoviária – Ponte Storseisundet – Rodovia Atlântica (Noruega) Figura 11 – Ponte ferroviária – Estrada de Ferro Vitória/Minas (Minas Gerais) 8 Figura 12 – Passarelaspara pedestres – Shangai (China) Figura 13 – Ponte aeroviária – Schkeuditz (Alemanha) Figura 14 – Ponte rodoferroviária – Ponte sobre Rio Tocantins – Marabá (Pará) 9 Um exemplo de ponte navegável é o canal-ponte sobre o Rio Elba que une a rede de canais da ex-Alemanha Oriental com a da Alemanha Ocidental, como parte do projeto de reunificação de ambas desde a caída do muro de Berlim. Figura 15 – Ponte – canal sobre o Rio Elba (Alemanha) Com seus 918 m de comprimento, a ponte-canal é tida como um primor da engenharia, tendo consumido 68.000 m3 de concreto e 24.000 toneladas de aço. Comporta 132 mil toneladas de água em sua calha de 34 m de largura e 4,25 m de profundidade e deve resistir até mesmo a terremotos. Antes desta magnífica obra, os navios precisavam dar uma volta de 12 km pelo rio, atravessando eclusas antiquadas, o que significava perda de horas de viagens. Dependendo do nível d’água no Elba, os navios mais carregados precisavam se descarregar parte da mercadoria em Magdeburg para poder prosseguir. Atualmente, embarcações com até 1.350 toneladas de carga poderão navegar sem interrupção das bacias do Weser e Ruhr, no oeste, até Berlim e vice-versa. Demorou 5 anos para ser concluído. A obra, que tem tráfego durante todo o ano de barcos motorizados e manuais, de cargas e passageiros, consiste de uma ponte principal de 228 m de comprimento, construída em três seções de 57,1 m, 106,2 m e 57,1 m respectivamente e de um enorme canal de aproximação de 690 m dividido em 16 seções. Você Sabia? 10 Figura 16 – Ponte – canal sobre o Rio Elba (Alemanha) 1.4.4. Desenvolvimento planimétrico Segundo o desenvolvimento em planta do traçado, as pontes podem ser classificadas em: Pontes Retas: esconsas e ortogonais Pontes Curvas Figura 17 – Planimetria das pontes e viadutos 11 As pontes retas, como o próprio nome diz, são aquelas que apresentam eixo reto. Em função do ângulo que o eixo da ponte forma com a linha de apoio da superestrutura, estas pontes podem ser divididas em ortogonais (quando este ângulo é de 90°), e esconsas (quando este ângulo é diferente de 90°). As pontes curvas são aquelas que apresentam o eixo, em planta, curvo. Figura 18 – Ponte esconsa (Ponte Governador Orestes Quércia – São Paulo) 1.4.5. Desenvolvimento altimétrico As pontes se classificam segundo o seu desenvolvimento altimétrico em: Retas: horizontal e em rampas; Curvas: tabuleiro convexo e tabuleiro côncavo Figura 19 – Altimetria das pontes e viadutos 12 Figura 20 – Ponte em rampa e com tabuleiro convexo (Ponte Eshima Ohashi – Japão) 1.4.6. Sistema estrutural da superestrutura Ponte em laje É um sistema estrutural destituído de qualquer vigamento, geralmente adotada para pequenos vãos (no máximo 15 m). Vantagens: Pequena altura de construção; Grande resistência à torção; Grande resistência ao fissuramento; Simplicidade e rapidez de construção; Boa solução para obras esconsas. Figura 21 – Seção transversal de pontes em lajes Figura 22 – Ponte em laje 13 Pontes em vigas As pontes em viga se caracterizam por apresentarem vinculações que não transmitem momentos fletores da superestrutura para a infraestrutura. Este tipo estrutural é o mais empregado atualmente no Brasil. Vinculações típicas: a) Vigas simplesmente apoiadas sem balanços Neste caso pode-se ter um tramo único ou uma sucessão de tramos, conforme ilustra a Fig. 23. Figura 23 – Esquemas estáticos de pontes em vigas simplesmente apoiadas sem balanços. A sucessão de tramos simplesmente apoiados é usualmente empregada nas pontes em que se utiliza o processo construtivo com vigas pré-moldadas. As vigas simplesmente apoiadas sem balanços se constituem num tipo estrutural. Relativamente pobre, pois imposto um determinado vão, existem poucas possibilidades de melhorar a distribuição dos esforços. Em razão disto, os vãos empregados com este tipo estrutural, dificilmente ultrapassam a casa dos 50 metros. No caso da sucessão de tramos é usual, atualmente, executar-se a laje do tabuleiro contínua em três a quatro tramos, para diminuir o número de juntas na pista, conforme ilustra a Fig. 23. Cabe destacar que neste caso haverá reflexos benéficos também na distribuição de esforços nos apoios devidos às ações horizontais, como por exemplo, na ação da frenagem. 14 Figura 24 – Exemplo de ponte simplesmente apoiada com tramo único apoiada em encontro baixo. Figura 25 – Vigas simplesmente apoiada com tabuleiro contínuo. Pré-dimensionamento Para efeito de pré-dimensionamento pode-se, em princípio, adotar as seguintes relações entre altura do vigamento e o vão. protendidoconcreto L h matévãosarmadoconcreto L h 15 1 20 1 25 10 1 15 1 Figura 26 – Ponte em vigas pré-moldadas (grelha) – Ponte Transamazônica (Pará) 15 b) Vigas simplesmente apoiadas com balanços Este tipo estrutural possibilita uma melhor distribuição de esforços solicitantes, conforme ilustrado na Fig. 27, pois ao introduzir momentos negativos nos apoios haverá uma diminuição dos momentos positivos no meio do vão. Além dessa vantagem, o tipo estrutural em questão possibilita, de uma forma natural, a eliminação do encontro, que é uma estrutura relativamente cara. Este aspecto pode ser observado na ponte mostrada na Fig. 28. Por outro lado, este tipo estrutural apresenta uma desvantagem relacionada à manutenção, que é a dificuldade de impedir a fuga de material nas extremidades da ponte junto ao aterro. Em conseqüência desta desvantagem, o emprego deste sistema estrutural tem sido limitado ultimamente. O comprimento do balanço deve ser fixado de forma a se ter uma boa distribuição de esforços, atendendo, no entanto às condições topográficas. Como valor inicial, em fase de pré-dimensionamento, pode-se adotar para o comprimento do balanço um valor igual à cerca de 15% a 20% do comprimento da ponte. Devem ser evitados balanços muito grandes para não introduzir vibrações excessivas nas suas extremidades, e também para que não haja prejuízos em relação à já comentada contenção do solo nas extremidades da ponte. Figura 27 – Distribuição de momentos fletores em vigas simplesmente apoiadas com balanços. 16 Figura 28 – Exemplo de ponte em viga simplesmente apoiada com balanços. Fonte: MARTINELLI (1971). Pré-dimensionamento Para efeito de pré-dimensionamento podemos adotar: 2 129 2 1 L h L a L h c) Vigas contínuas Quando o comprimento da ponte pode ser subdividido em vãos parciais, o esquema de vigas contínuas, ilustrado na Fig. 29, aparece como solução natural. Figura 29 – Esquema estático de ponte em viga contínua. Se não houver restrições de ordem urbanística, topográfica ou construtiva, deve- se fazer os vãos extremos cerca de 20% menores que os vãos internos de forma que 17 os máximos momentos fletores sejam aproximadamente iguais, resultando assim uma melhor distribuição das solicitações. Em concreto protendido, tem-se empregado também a alternância de vãos longos com vãos curtos, na proporção de 1: 0,3 a 1: 0,1. Neste caso procura-se o maior confinamento dos efeitos da carga móvel nos tramos longos, com a maior rigidez promovida pelos apoios pouco espaçados dos tramos curtos. A distribuição de momentos fletores pode também ser melhorada através da adoção de momentos de inércia das seções variáveis ao longo dos vãos. O aumento do momento de inércia das seções junto aos apoios implicará no aumento do momento fletor negativo dessas seções, e na diminuição do momento fletor positivo das seções do meio dos vãos, o que possibilitará a redução da altura das seções nestas posições; essa redução da altura das seções no meio dos vãos poderá por seu turno, facilitar o atendimento dos gabaritos relativos à transposição do obstáculo. Figura30 – Distribuição de momentos fletores em viga biengastada. Fonte: MARTINELLI (1971). A variação do momento de inércia pode ser obtida com a variação da altura da viga, e também com o emprego de laje inferior junto aos apoios. Outro aspecto relevante das pontes de vigas contínuas é o fato de não se ter juntas no tabuleiro. No entanto, quando o comprimento da ponte é muito grande, os efeitos de variação de temperatura se tornam importantes, e neste caso é conveniente introduzir juntas. Em princípio, como indicação inicial, pode ser adotado espaçamento de 100 m entre as juntas, no caso de se empregarem aparelhos de apoio comuns. No caso de aparelhos de apoio especiais à base de teflon, o espaçamento entre as juntas pode ser aumentado chegando até cerca de 400 m, como por exemplo, é o caso da ponte Rio-Niterói. Em princípio, as pontes de vigas contínuas devem ser evitadas em situações nas quais estão previstos deslocamentos de apoio significativos, pois recalques diferenciais irão introduzir esforços adicionais neste tipo de estrutura. d) Pontes com estrado celular A superestrutura é formada por duas lajes, uma superior e outra inferior, interligadas por vigas longitudinais e transversais. Vantagem: grande rigidez à torção. 18 Figura 31 – Seção transversal de um estrado celular Figura 32 – Ponte em viga caixão (estrado celular) e) Vigas Gerber A viga Gerber, cujo esquema estático está apresentado na Fig. 33 pode ser entendida como derivada da viga contínua, na qual são colocadas articulações de tal forma a tornar o esquema isostático, e como conseqüência disto, não receberá esforços adicionais devidos aos recalques diferenciais dos apoios. Figura 33 – Esquema estático de ponte em viga Gerber. Se as articulações forem dispostas nos pontos de momento nulo do diagrama de momentos fletores provocados pela carga permanente, tem-se, o comportamento da viga Gerber, em relação às cargas permanentes, igual ao das vigas contínuas. Assim, para pontes de grandes vãos, em que o peso próprio representa uma grande parcela da totalidade das cargas, as vigas Gerber teriam um comportamento próximo ao das vigas contínuas, sem sofrer a influência danosa dos recalques diferenciais. As pontes de vigas Gerber, normalmente, apresentam três ou cinco tramos, com a posição das articulações mostrada na Fig. 34. 19 Figura 34 – Posição das articulações nas pontes de viga Gerber. Fonte: MARTINELLI (1971). Vale ressaltar que, quando os vãos são desiguais, as articulações colocadas nos tramos maiores, resultam em uma melhor distribuição dos momentos fletores devidos à carga móvel. Este fato pode ser observado na Fig. 35, onde são mostradas as envoltórias dos momentos fletores da carga móvel em vigas de três tramos. As vigas Gerber podem também ser entendidas como uma sucessão de tramos simplesmente apoiados com balanços e de tramos suspensos. Vistas desta maneira, as pontes de vigas Gerber possibilitam alternativas construtivas bastante interessantes. Na Fig. 36 está ilustrado um esquema de viga Gerber em que os tramos laterais podem ser moldados no local, ou mesmo pré-moldados e o tramo central é pré-moldado. Cabe destacar ainda que se de um lado as juntas (dentes Gerber) acarretam as vantagens já mencionadas, de outro lado, elas representam trechos em que devem ser tomados cuidados redobrados tanto no detalhamento da armadura como na execução, em razão da grande redução da seção resistente ao esforço cortante que será transmitido pela articulação. Figura 35 – Envoltória de momentos fletores em viga Gerber de três tramos. Figura 36 – Ilustração de possibilidade construtiva de ponte em viga Gerber. 20 Ponte em pórtico Os pórticos são formados pela ligação das vigas com os pilares ou com as paredes dos encontros, caracterizando a continuidade entre esses elementos em substituição às articulações, promovendo a transmissão dos momentos fletores da superestrutura para a infraestrutura. Neste tipo estrutural, parte da flexão da viga é transmitida para os pilares, possibilitando a redução dos momentos fletores na superestrutura à custa da flexão da infraestrutura. A Fig. 37 ilustra a comparação da distribuição dos momentos fletores nos esquemas de ponte em viga e de ponte em pórtico, para uma carga uniformemente distribuída na superestrutura. Figura 37 – Ilustração do comportamento de ponte em pórtico. Vinculações típicas: No caso de pontes de pequenos vãos, os esquemas estáticos empregados são os apresentados na Fig. 38. Os pórticos fechados, também chamados de quadros, podem ser empregados com uma célula, duas células, ou mais, e são utilizados para vãos bastante pequenos. Os esquemas biapoiado e biengastado são indicados para vãos um pouco maiores que os atingidos pelos quadros. A característica comum destes casos é o emprego exclusivo de seção transversal de laje (ponte de laje). No caso de vãos maiores, os esquemas estáticos empregados são apresentados na Fig. 39. Salienta-se que estes tipos estruturais são de uso pouco comum no país. 21 Figura 38 – Esquemas estáticos de pórticos para pontes de pequenos vãos. Figura 39 – Esquemas estáticos de pórticos para pontes de vão maiores. Figura 40 – Ponte em pórtico – Ponte de São João (Portugal) 22 Pontes em arcos O arco é um tipo estrutural que tem um comportamento estrutural interessante, pois apresenta a possibilidade de ter os esforços de flexão reduzidos em função da sua forma. No caso de arcos de concreto, essa possibilidade de redução da flexão resultando na predominância da compressão, é adequada ao material. Atualmente o emprego das pontes em arco é bem menor que no passado, principalmente devido ao avanço da tecnologia do concreto protendido, que ampliou os vãos franqueados às pontes em viga, e que até então eram exclusivos dos arcos. Via de regra, os arcos são indicados para vales profundos, com tabuleiro superior, quando se pode resistir aos empuxos do arco com uma fundação não muito onerosa (solo de boa qualidade ou rocha); em terrenos planos a pontes em arco normalmente tem o tabuleiro inferior, o qual pode ser incorporado ao sistema estrutural promovendo o seu funcionamento como tirante para aliviar os empuxos do arco. Em contrapartida ao bom comportamento estrutural do arco, tem-se o alto custo da construção das fôrmas e do cimbramento, o que tem justificado a redução do emprego deste sistema estrutural. No entanto, a partir da década de 90 observou-se uma retomada ao sistema estrutural com a utilização de construção em balanço, com concreto pré-moldado, na forma de aduelas, ou concreto moldado no local, para grandes vãos, principalmente. Vinculações típicas: Figura 41 – Esquemas estáticos de pontes em arco. Fonte: LEONHARDT (1979). Vantagens da utilização da estrutura em arco: Ultrapassagem de grandes vãos: as pontes em arco em concreto armado já ultrapassaram vãos de até 425 m (ponte Wanxian, na China, construída em 1997). O principal fator limitante para a construção de pontes em arco com vãos maiores é a resistência das fundações aos esforços horizontais. Quanto maior o vão, maiores serão os esforços que as fundações deverão absorver; Comprovada eficiência estrutural: o concreto é um componente importante que suporta de forma eficaz os esforços predominantes de compressão nas extremidades do arco; Economia no material de construção; 23 Desvantagens da utilização da estrutura em arco: Elevado custo: tanto em relação à concepção do projeto estrutural, quanto para construção; Problemas construtivos na execução dos arcos: método construtivo adotado exige técnicas mais sofisticadas de execução e, consequentemente, mão-de- obra mais especializada. Classificação: As estruturas em arco podem ser projetadas com tabuleiro superior, sustentados por montantes, ou com tabuleiro inferior, sustentado por tirantes oupendurais. Existe ainda o sistema misto com o arco intermediário, sustentado lateralmente por montantes e, no centro, por pendurais. a) Pontes em arco superior (tabuleiro inferior) As pontes em arco superior são mais empregadas em terrenos planos. Os arcos são projetados de forma isolada, porém, entre eles deve haver um sistema de contraventamento para evitar as inclinações laterais e garantir a estabilidade do conjunto. Os empuxos são transmitidos do tabuleiro para o arco através dos tirantes ou pendurais que trabalham significativamente às tensões de tração. Figura 42 – Arco com tabuleiro inferior. Figura 43 – Ponte em arco superior – Ponte dos Arcos (Paraná) b) Pontes em arco intermediário Neste sistema, os arcos são engastados em blocos de fundação de grande rigidez e os empuxos do tabuleiro são absorvidos pelos tirantes que trabalham à tração 24 e pelos montantes que trabalham à compressão, geralmente situados próximos às regiões de acesso. Quando o sistema é de arco metálico em treliça, pode-se alcançar o vão crítico de 2.000m. Observa-se que, tanto neste sistema como no sistema de arco inferior, ocorrem grandes esforços horizontais na base do arco, o que torna imprescindível a existência de um excelente terreno de fundação. Observa-se também que a construção da obra, em se tratando de concreto armado, deve-se obedecer a um plano de concretagem bem definido a fim de que possam ser reduzidos os efeitos parasitais de retração e deformação lenta do concreto. Figura 44 – Arco com tabuleiro intermediário. Figura 45 – Ponte em arco intermediário – Ponte Ernesto Dornelles (Serra Gaúcha). c) Pontes em arco inferior Em se tratando de materiais maciços, este é o sistema estrutural mais antigo do mundo, pois, constituiu, no passado, a única solução para vencer grandes vãos, principalmente em vales profundos e em regiões montanhosas. A princípio, eram utilizados os arcos de tímpano cheio em alvenaria de pedra. Modernamente, os tímpanos são vazados e os empuxos são absorvidos através dos montantes que trabalham à compressão. Figura 46 – Arco com tabuleiro superior. 25 Figura 47 – Ponte em arco inferior – Ponte Wanxian (China) 1. As pontes com arco inferior e intermediário apresentam grandes esforços horizontais na base do arco. Este fator exige um excelente terreno de fundação. Caso a ponte seja construída em concreto armado, deve-se prever um bom plano de concretagem a fim de evitar os efeitos de retração e deformação lenta do material. 2. As pontes em arco com tabuleiro inferior são mais indicadas para pequenos vãos e para grandes vãos utiliza-se ponte em arco com tabuleiro superior. As pontes em arco com tabuleiro intermediário são menos utilizadas uma vez que a interseção do arco com o tabuleiro representa problemas construtivos. A ponte em arcos metálicos e estais no Lago Sul, em Brasília: novo cartão-postal da engenharia de estruturas. Importante!! Você Sabia? 26 Resumo Obra: Ponte sobre o Lago Sul Execução: Via Dragados Localização: Lago Paranoá, ligação viária entre o Setor de Clubes e o Setor Habitacional Individual Sul, Brasília Construção: entre 2000 e 2002 Comprimento: 1,2 mil m Raio de curvatura: 3,15 mil m Largura do tabuleiro: 24 m Altura do tabuleiro: 18 m acima do nível d'água Arcos: três vãos de 240 m sustentados por quatro apoios principais submersos Estrutura metálica: 12,6 mil t Aço CA 50: 4 mil t Volume de concreto: 38,9 mil m3 Camisa metálica para fundação e apoios provisórios: 8,2 mil Quando Alexandre Chan venceu o Concurso Nacional de Estudos Preliminares de Arquitetura da Terceira Ponte sobre o Lago Paranoá, em Brasília, não imaginava o trabalho que iria dar à construtora responsável. Tirar do papel três arcos estaiados metálicos de quase 40 m de altura, que vencem vãos de 240 m cada, não é como construir um viaduto. A ponte possui três faixas de rolamento em cada sentido, além de ciclovia e passeio lateral, em um total de 24 m de largura e 1,2 mil m de extensão. No edital de convocação, o custo estimado era de R$ 96 milhões, muito abaixo dos R$ 160 milhões gastos. A construtora Via Dragados, de Brasília, junto com a Usiminas Mecânica encararam o desafio de construir em dois anos uma obra que envolveu engenharia em terra e embaixo d'água. É formada por uma estrutura mista de concreto e aço sustentada por arcos metálicos e estais sobre pilares de concreto e fundações subaquáticas. A execução das fundações demandou mais tempo e dinheiro do que se previa e foi o verdadeiro desafio tecnológico da obra. A ponte serve de ligação para o Setor de Clubes com o Setor de Habitações Individuais Sul (SHIS) e as cidades de Paranoá e São Sebastião. O concurso foi promovido pela Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal, Terracap, e elegeu vencedor o projeto do arquiteto Alexandre Chan em parceria com o projetista estrutural Mario Jaime dos Reis Vilaverde dentre 87 equipes concorrentes. A construtora Via Dragados foi responsável pela execução das fundações, pilares e nascentes em concreto, e a Usiminas Mecânica, empresa do grupo Usiminas, pela execução de todas as estruturas metálicas, como tabuleiros e arcos. Figura 48 – Para monitorar a montagem dos arcos, foram utilizados extensômetros, prismas e pinos de recalque. 27 Estaleiro de obras O canteiro de obras teve que se transformar em verdadeiro complexo fabril. As instalações foram montadas em quatro meses e tudo se produziu lá dentro, desde fôrmas de madeira até guindaste de 150 t. As instalações compreendiam locais para fabricação de camisas metálicas, apoio náutico para a fabricação de flutuantes, pontes de embarque e passarelas de serviço sobre o lago e área para a fabricação dos tabuleiros e arcos metálicos com geradores e duas subestações. Além da fabricação de ferramentas leves, a obra empregou equipamentos pesados de apoio como guindastes treliçados e tipo grua, bombas para lançamento de concreto, rebocador e barcos a motor. Para facilitar o fornecimento de mão-de-obra e material outro canteiro foi montado na segunda margem da ponte com alojamentos, refeitórios e central de apoio. Arcos metálicos Os arcos metálicos foram feitos em módulos de 10 m em uma central no canteiro e levados ao local do içamento por flutuantes e rebocadores. Para possibilitar a montagem dos arcos foram executadas três torres de sustentação e um gabarito metálico sob o tabuleiro, para cimbramento dos módulos enquanto não estivessem travados. Os módulos foram içados com o auxílio de um guindaste de 300 t e solidarizados por solda. O travamento da estrutura se deu após a colocação do último módulo, à noite, quando o vão restante era o maior possível. Com o calor do dia seguinte as peças metálicas se expandiram e travaram toda a estrutura e os apoios provisórios puderam ser desmontados. Figura 49 – Montagem dos arcos metálicos. Pavimentos O tabuleiro metálico é pavimentado com material asfáltico de alta aderência, antiderrapante e de pouca espessura. O revestimento contém polímeros metálicos e foi aplicado fundido a 220° C em camadas de 10 mm. Antes da aplicação, a superfície metálica foi examinada para permitir a calibração do extrusor aplicador ligado a um caminhão usina. O filme asfáltico foi recoberto por um agregado mineral, bauxita sinterizada, compactado por um rolo de 300 kg. Uma máquina varredeira foi utilizada para remover o excesso de agregado e reutilizá-lo na compactação com rolo leve. Finalmente, um rolo de pneu com carga superior a 12 t conferiu o acabamento final. A parte superior dos tabuleiros dos acessos é formada por pré-moldados de concreto e recebeu revestimento de micro concreto asfáltico. 28 Figura 50 – Aplicação do revestimento do tabuleiro da ponte. Tabuleiro Os três tabuleiros dos vãos centrais foram produzidos em canteiros nas duas margens do lago. As peças chegaram pré-fabricadas.Antes da montagem, foram executados os pilares de ambos os acessos com roletes, para facilitar o deslizamento. Os acessos são compostos por dois tabuleiros de 52 m, seis com vãos de 45 m e dois de 58 m em estrutura mista de concreto de alto desempenho de 50 MPa e aço. Para poder lançar os tabuleiros metálicos foram montados três apoios provisórios sob cada vão da ponte. Para a execução dos apoios foram cravadas estacas verticais e inclinadas, que receberam blocos de concreto e torres metálicas. Cada apoio possuía uma capacidade de carga de mil t. Os tabuleiros foram lançados sobre os pilares e apoios com dez macacos hidráulicos de 200 t, pelo método de viga empurrada. Figura 51 – Montagem do tabuleiro. Fundações As estacas verticais e inclinadas nos vãos centrais foram executadas por cravação de camisas metálicas, perfuração e concretagem, e tubulões a ar comprimido nos acessos. Os blocos de fundação foram feitos a partir de uma fôrma de concreto executada acima do nível da água e depois rebaixada com o auxílio de macacos hidráulicos. Figura 52 – Execução das fundações da ponte. 29 Estais O sistema de estais tem a função de transferir as cargas de carregamento dos tabuleiros aos arcos. Cada arco é provido de 16 estais que sustentam um tabuleiro de 240 m. Cada cabo recebeu de 31 a 41 cordoalhas colocadas uma a uma. Cada cordoalha possui sete fios de aço galvanizados imersos em cera e revestidos com polietileno de alta densidade (PEAD). As bainhas dos estais também são de PEAD resistente a raios ultravioleta. Os estais são presos à parte interna central dos arcos metálicos e às laterais dos tabuleiros metálicos por ancoragens que permitem o ajustamento da tensão por toda a vida útil da estrutura. Figura 53 – Sistema de estaiamento dos arcos. Pilares e nascentes dos arcos Para a execução dos pilares inclinados em 45°, com até 18 m de altura, e as nascentes dos arcos, foi necessária a cravação de estacas provisórias para sustentar o cimbramento das fôrmas. Foram necessárias 330 t de treliças e 20 mil m3 de escoramento tubular. Os pilares e nascentes receberam concreto de 40 MPa de alto desempenho com sílica ativa e aditivo superplastificante. Os pilares dos acessos verticais receberam aparelhos de apoio de neoprene; os pilares inclinados, aparelhos de apoio metálicos. Figura 54 – Pilares e nascentes dos arcos. Texto original de Simone Sayegh (Adaptado de: http://piniweb.pini.com.br) Pontes Estaiadas Nas pontes estaiadas de concreto, normalmente, apenas o tabuleiro é de concreto; pontes com tirantes de concreto são de uso muito restrito. Este esquema estrutural, que pode ser considerado igual ao de uma viga atirantada em vários pontos, é empregado para vãos muito grandes. Trata-se de um tipo estrutural que vem se tornando cada vez mais utilizado no exterior, porém a sua utilização no Brasil, até o presente momento, ainda é bastante reduzida. Uma das principais características que tem favorecido o emprego crescente das pontes estaiadas é a sua execução. Este fato pode ser verificado na Fig. 55 onde é feita uma comparação com uma ponte pênsil. Como pode ser visto nesta figura, a ponte pênsil precisa ser cimbrada ao longo do vão para não solicitar o cabo durante a 30 montagem ou, no caso mais comum, o cabo precisa ser ancorado em grandes blocos para suportar as forças de tração que são produzidas à medida que o tabuleiro vai sendo pendurado. Já na ponte estaiada, à medida que vai sendo executado o tabuleiro, as forças horizontais vão sendo auto equilibradas. Figura 55 – Comparação entre ponte pênsil e ponte estaiada. Este tipo estrutural pode apresentar grandes variações. Cabe destacar que este sistema estrutural tem sido utilizado, com tabuleiro moldado no local ou com tabuleiro feito de aduelas pré-moldadas, como uma forma apropriada para construção em balanços sucessivos. Com este sistema estrutural pode-se vencer vãos bastante grandes. Figura 56 – Sistemas de disposição dos estais: Leque (esquema superior); Semi-leque; e Harpa (esquema inferior). Os sistemas de estaiamento se diferem na disposição dos cabos ao longo do pilone. O sistema em leque é caracterizado por concentrar os estais no topo do pilone e, deste ponto único, partir com esses elementos até atingir o ponto desejado de ligação com o tabuleiro. Este sistema apresenta algumas dificuldades para o detalhamento da região de concentração dos estais no pilone, uma vez que as ancoragens exigem um espaço físico mínimo para instalação dos estais. Muitas vezes, a quantidade de estais é grande e as dimensões da torre são reduzidas para comportar todas as ancoragens. 31 O sistema em harpa se notabiliza por apresentar uma distribuição dos estais ao longo de todo o comprimento da torre, fazendo com que os estais tenham a mesma inclinação e conferindo simetria ao sistema. O sistema semi-leque ou semi-harpa é o mais utilizado no Brasil e consiste na distribuição dos estais ao longo do trecho superior do pilone. O sistema apresenta algumas vantagens técnicas em relação aos outros dois. Em relação ao sistema em harpa, este sistema permite explorar maiores inclinações dos estais em relação ao tabuleiro, deixando estes elementos estruturalmente mais eficientes e, portanto, mais econômicos. Já em relação ao sistema de leque, a maior vantagem está na facilidade de acomodação das ancoragens e uma maior facilidade executiva para o pilone. Figura 57 – Ponte estaiada – Ponte sobre Rio Paranaíba (Divisa MG/MS) Ponte estaiada sobre o Rio Paranaíba A ponte estaiada sobre o rio Paranaíba, com 660 m de extensão, situa-se na divisa dos municípios de Carneirinho (MG) e Porto Alencastro (MS) integrando a BR- 497, que liga o Estado do Mato Grosso do Sul com as cidades mineiras de Iturama, Campina Verde e Uberlândia, atingindo a BR-365 e a BR-050 em direção ao Norte (Montes Claros, MG, e Brasília) e também a partir de Iturama e Frutal (MG-255), em direção a BR-262, Uberaba, Belo Horizonte e Vitória (veja mapa). No Estado do Mato Grosso do Sul, interliga-se com a BR-158 em direção a Paranaíba, Raimundo e Cassilândia. Você Sabia? 32 Figura 58 – Localização da ponte sobre o Rio Paranaíba Em 1994 foi iniciado o detalhamento executivo das fases construtivas por meio de contrato da Noronha Engenharia com o DER-MG (Departamento de Estradas de Rodagem) em convênio com o DNER. A dinamarquesa Cowi Consulting Engineers and Planners atuou como verificadora/certificadora do detalhamento executivo. Os mais recentes avanços tecnológicos em pontes estaiadas foram introduzidos no projeto da ponte sobre o rio Paranaíba: Viga contínua, com um comprimento de 636 m, com altura de 1,50 m constante em todo o comprimento, totalmente suspensa nos estais, com apoio indeslocável no encontro Mato Grosso do Sul e deslocável no encontro Minas Gerais. Seção transversal aberta com 16 m de largura, com vigas principais laterais ligadas por transversinas e laje de concreto. As transversinas possuem altura variável de 1,50 a 1,62 m no meio do vão e a laje possui espessura constante de 24 cm em toda a extensão, exceto em uma faixa de 146 cm junto a cada torre, onde é variável de 24 a 28 cm. As transversinas estão espaçadas a cada 5 m formando painéis de laje com armação principal no sentido longitudinal da ponte, favorecendo dessa forma aos altos esforços de compressão longitudinal do tabuleiro. Torres de concreto em forma de delta possuem estrutura em concreto para ancoragem dos estais nas extremidades. Não há apoio vertical da superestrutura na torre, havendo apenas apoios transversais para absorver as forças devido ao vento. Sistema de cabos múltiplos em forma de leque pouco espaçados (10 m entre ancoragens), reduzindo significativamente a altura da viga. Utilização dos cabos de retaguarda (back stay cables) com a finalidade de assegurar a verticalidade da torre. Estais compostos de cordoalhas com diâmetro de 15,7 mm - RB 177 galvanizadas a quente, envoltas em cera de petróleo e polietileno de alta densidade (PEAD), podendo ser totalmente substituídas em caso de acidente, devido ao seu sistema de ancoragem. Os estais são compostos de 17 a 52 cordoalhas envolvidas por um tubo externo de proteção em PEAD com espirais. 33 Ancoragens reguláveis e fixas permitem a protensão individual das cordoalhas com um macaco monocordoalha e regulagem total do estai com o ajuste das porcas em roscas externas às ancoragens. Para a fundação das torres principais foram adotados tubulões de concreto com diâmetro de 2 m com revestimento perdido, consistindo de camisa metálica de 12,5 mm de espessura, engastados na rocha, perfurados por perfuratriz tipo Wirth de 1,80 m de diâmetro. Encontros integrais, isto é, engastados à superestrutura. No encontro móvel do lado mineiro, a estrutura do encontro desliza sobre os apoios móveis. Método construtivo da superestrutura em balanços sucessivos a partir das torres principais, utilizando treliça metálica móvel, concretagem in situ de elementos da viga principal no trecho das ancoragens, fixação desses elementos na treliça, protensão parcial dos estais e concretagem do restante das vigas, transversinas e lajes. Figura 59 – Seção transversal da ponte Figura 60 – Ancoragem dos estais nas torres Figura 61 – Ponte sobre o Rio Paranaíba – Divisa MG/MS 34 Pontes Pênseis ou Suspensas As pontes pênseis são um sistema estrutural onde o tabuleiro contínuo é sustentado por vários cabos metálicos atirantados ligados a dois cabos maiores principais, denominados cabos portantes parabólicos, que, por sua vez, se interligam às torres de sustentação. A transferência das cargas mais importantes às torres e às ancoragens em forma de pendurais é feita simplesmente por tração. O vigamento metálico do tabuleiro pode ser uma treliça ou em caixão celular e deve possuir elevada rigidez à torção. Os cabos portantes parabólicos ancoram-se profundamente no encontro ou maciço de concreto e não possuem praticamente nenhuma rigidez à flexão, o que leva o conjunto a ter um comportamento de instabilidade aerodinâmica, principalmente perto de aeroportos. Figura 62 – Esquema de uma ponte Pênsil: 1 – viga metálica; 2 – cabo portante; 3 – pendurais de suspensão no cabo portante; 4 – torres de apoio do cabo portante Figura 63 – Esquema de esforços atuantes na estrutura de uma ponte pênsil Compressão A força de compressão é exercida para baixo sobre a plataforma da ponte suspensa, mas como é uma plataforma suspensa, os cabos transferem a compressão para as torres, que dissipam essa força diretamente sobre o solo em que estão fixadas. Tração Os cabos de sustentação, indo de um ancoradouro ao outro, suportam as forças de tração. Os cabos são literalmente esticados para suportar o peso da ponte e de seu tráfego. Os ancoradouros também estão sob tração, mas já que eles, assim como as torres, estão presos com firmeza no solo, a tração que eles sentem acaba sendo dissipada. O sistema estrutural em ponte pênsil, quando fica sujeito a cargas exageradas de vento, apresenta movimentos vibratórios e oscilatórios do tabuleiro que torna o tráfego desconfortável ou até mesmo perigoso. Dessa forma, exige-se que o tabuleiro seja projetado com grande rigidez à torção para que todos esses efeitos aerodinâmicos sejam minimizados. 35 O grande colapso devido à instabilidade aerodinâmica ocorreu, em 1940, na ponte Tacoma Narrow, nos EUA. Figura 64 – Ponte pênsil – Ponte Tacoma Narrows atual – Washington (EUA) Diferença entre ponte suspensa e ponte estaiada: Ponte Suspensa Suportado pela estrutura; Resistir apenas à flexão e torção causados por carregamentos e forças aerodinâmicas; Construção não começa até que os cabos estejam completos e todas as partes da estrutura estejam conectadas. Ponte Estaiada Em compressão, sendo puxado em direção às torres; Construção realizada em fases a partir de cada torre. Figura 65 – Diferença entre ponte suspensa e ponte estaiada 36 Desastre da Ponte de Tacoma Narrows O mais famoso exemplo de instabilidade aerodinâmica numa ponte suspensa com 1.600 m é o da ponte de Tacoma Narrows, em Washington, Estados Unidos, que veio a tombar no dia 07/11/1940, alguns meses depois de ser inaugurada. As vibrações eram sempre transversais ao tabuleiro entre os pilares e provocados por ventos em torno de 7 Km/h. Surpreendentemente, após um vento de aproximadamente 70 Km/h, surgem constantes oscilações, onde um afrouxamento da ligação do cabo de suspensão norte ao tabuleiro faz a ponte entrar num modo de vibração torcional. A oscilação rapidamente atinge os 35° e os pilares atingem deflexões de cerca de 3,6 m no topo, cerca de 12 vezes os parâmetros de dimensionamento. Figura 66 – Esquema da atuação do vento e da oscilação da ponte Tacoma. Os ventos que atingiam a ponte causavam uma oscilação na pista, devido à força vertical que era exercida sobre os cabos e pilastras de sustentação da ponte. Figura 67 – Oscilação do tabuleiro da ponte. Você Sabia? 37 Essa situação não se alterou muito durante cerca de uma hora, até que às 11H00 se desprende um primeiro pedaço de pavimento e às 11H10 a ponte entra em colapso, caindo no rio. Técnicos afirmaram na época, que os grandes defeitos da ponte foram a sua enorme falta de rigidez transversal e torsional e da frente aerodinâmica do perfil. Figura 68 – Ponte Tacoma Narrows após a ruína. O lado positivo deste acidente - sem danos pessoais - foi a tomada de consciência para o problema da aerodinâmica das grandes estruturas e a obrigatoriedade, desde então, em fazer ensaios em túnel de vento com modelos de pontes pênsil em projecto. Por fim refira-se que, 10 anos depois, a ponte foi reconstruída, sobre os mesmos apoios mas com a estrutura convencional. Essa ponte, sobre a estrada 16, hoje opera normalmente. Figura 69 – Atual ponte Tacoma Narrows (após reconstrução). 1.4.7. Processos construtivos Os processos de execução a serem apresentados referem-se às pontes de concreto. Assim, tendo em vista o processo de execução, as pontes são aqui classificadas em: 38 Construção com concreto moldado no local, com cimbramento fixo; Construção com elementos pré-moldados; Construção com balanços sucessivos; Construção com deslocamentos progressivos. a) Construção com concreto moldado no local, com cimbramento fixo. Este processo é o mais antigo e, provavelmente o mais utilizado na construção de obras de arte especiais em que os viadutos em concreto armado ou concreto protendido seguem o sistema tradicional de construção, sendo a concretagem das vigas executadas sobre a fôrma que fica apoiada no escoramento em contato com o terreno. Após atingir a resistência necessária do concreto, a viga pode ser protendida, e após a protensão do vão, o escoramento e as fôrmas podem ser retirados. Este tipo de sistema construtivo necessita de escoramento para sua execução e isto significa que no local da construção do viaduto deve ter espaço e condições para montagem do escoramento. Portanto, este processo não é recomendado para os seguintes casos: Altura de escoramento elevada (pilar com altura maior que 15 metros); Leitos de água profundos e largos, sem regimes bem definidos e com correnteza forte (velocidade da água acima de 3 metros por segundo); Obras de grande comprimento (acima de 400 metros); Diferente dos processos citados anteriormente, a execução é mais lenta e, portando, não é recomendada para cronogramas apertados. Os escoramentos hoje em dia são, em sua maioria, executados com elementos metálicos. Firmas especializadas se incumbem do projeto do projeto, cálculo, fornecimento e desmontagem. Outras razões para o aumento no uso do escoramentometálico são: Pequena mão-de-obra de montagem e desmontagem; Grande capacidade portante, permitindo a execução de vãos grandes, torres elevadas etc.; Possibilidade de repetidas utilizações mediante padronização dos elementos; O preço da madeira subiu mais que o dos outros materiais tornando-a menos competitiva; O escoramento fica apoiado no terreno e as deformações devem ser compensadas através de contra flechas. Segundo F. Leonhardt em seu livro Princípios Básicos da Construção de Pontes de Concreto, alguns cuidados devem ser tomados: Evitar compressão nas juntas através de uma camada de argamassa; A retirada do escoramento deve ser realizada de tal modo a não produzir solicitações prejudiciais à estrutura da ponte; Tratamento das juntas através do jateio de água para evitar patologias futuras nestes locais; Cuidados durante a concretagem com relação aos possíveis recalques e deformações; Após a desmontagem do escoramento, realizar a desforma do centro para os apoios de cada vão; 39 Figura 70 – Escoramento fixo com elementos metálicos. b) Construção com elementos pré-moldados A construção com o emprego de elementos pré-moldados, na sua forma mais comum, consiste no lançamento de vigas pré-moldadas por meio de dispositivo adequado, seguido da aplicação de parcela adicional de concreto moldado no local, em fôrmas que se apoiam nas vigas pré-moldadas, eliminando - ou reduzindo drasticamente - o cimbramento. Estas vigas geralmente são pré-moldadas e protendidas em um pátio de pré- fabricação localizado próximo ao local da obra e após a protensão são transportadas ao local de aplicação através carretas extensivas e colocadas sobre os pilares através do lançamento com guindastes ou lançamento com treliças. Características do processo: Recomendado para vãos entre 25 e 45 metros; Rápida execução da obra, pois, a superestrutura e mesoestrutura podem ser executadas simultaneamente, sendo vantajoso para cronogramas físicos ajustados; Altura de escoramento elevada; Recomendado em casos de viadutos sobre vias movimentadas em que não é possível ser feito o escoramento das vigas; Recomendado quando se trata de grandes comprimentos de obra com número elevado de vigas pré-moldadas; Necessário o local para instalação do canteiro de fabricação; Elevado número de juntas de dilatação transversais que geram uma descontinuidade dos tabuleiros tornando um local propício para aparecimento de patologias e geram desconforto para os motoristas; Propício em leitos de água profundos e sem regimes bem definidos. Tipos Lançamento com auxílio de treliças Um dos equipamentos mais conhecidos no mercado para executar o lançamento de vigas com auxílio de treliça é a treliça lançadeira. Este é um equipamento auto- 40 motor para o lançamento de vigas pré-moldadas até sua posição definitiva sobre os pilares. Este processo é possível para vãos de até 45 metros e vigas com até 120 toneladas. Em casos de trechos curvos e rampas máximas de até 5% este processo também é possível de ser executado. Figura 71 – Esquema das etapas construtivas com treliça lançadeira. Figura 72 – Lançamento de viga pré-moldada com treliça lançadeira. 41 Lançamento com guindaste Para o lançamento com guindaste é necessário que se tenha espaço suficiente no local da obra para seu posicionamento, além da resistência no terreno para sustentar o guindaste. Este processo é aplicável para peso de vigas até 300 toneladas, quando não existem impedimentos de redes elétricas e de iluminação que podem dificultar a movimentação do guindaste. Além disto, o greide da obra deve ser compatível com o comprimento e altura da lança do guindaste. Figura 73 – Lançamento de viga pré-moldada com guindaste. c) Construção com balanços sucessivos A construção das pontes em balanços sucessivos é feita a partir dos lados dos pilares, em segmentos; a fôrma para a moldagem de cada segmento é sustentada pelo segmento anterior, sendo, portanto necessário que o concreto desse segmento anterior esteja com a resistência adequada. Também, neste caso, elimina-se - ou reduz-se drasticamente - o cimbramento. Existe também a alternativa de se fazer estes segmentos pré-moldados. Características do processo: Ausência de cimbramento; O comprimento das aduelas varia entre 2 e 7 metros dependendo da capacidade do escoramento e o ideal é que o comprimento delas seja constante para facilitar a execução da fôrma; Este tipo de processo é bastante comum quando não é possível que a obra de arte tenha muitos pilares e tenha que vencer grandes vãos (entre 60 e 240 metros) tanto para pontes retas ou curvas; Indicado em casos de pilares muito altos (maiores que 20 metros) em que o escoramento direto passa a ser dificultado, como por exemplo, em casos de vales e rios profundos e largos; Além da profundidade dos leitos d´água, outro fator que influência é a correnteza. Se esta for muito forte, o escoramento passa a ser inviabilizado e o balanço sucessivo recomendado mesmo o pilar sendo curto. 42 Este método também é indicado em casos de viadutos ou pontes com curvatura bastante acentuada (raios menores que 200 metros) em que a execução do método de vigas pré-moldadas ou moldadas no local fica inviável; Em se tratando de obras em meio urbano, em que o viaduto cruza uma via muito movimentada e em que não é possível fazer o escoramento direto, também é indicado este tipo de método; Como não há juntas de dilatação, aumenta o conforto para o motorista. Figura 74 – Sequência Construtiva dos Balanços Sucessivos. Figura 75 – Balanços Sucessivos. d) Construção com deslocamentos progressivos A construção com deslocamentos progressivos consiste na execução da ponte em segmentos, em local apropriado junto à cabeceira da ponte; à medida que o concreto de cada segmento vai adquirindo a resistência adequada, a ponte é progressivamente deslocada para o local definitivo, também eliminando - ou reduzindo drasticamente - o cimbramento. 43 O método de deslocamentos progressivos tem como principal característica a eliminação do cimbramento, já que o processo consiste na pré-fabricação das aduelas às margens da intervenção, atrás de um dos encontros da ponte ou viaduto, de preferência o de cota mais baixa, para que o empurramento seja feito em aclive e não em declive, de modo a evitar equipamentos de frenagem. Cada aduela é concretada e protendida diretamente contra a anterior. Após a cura, o conjunto todo é empurrado para frente através de macacos hidráulicos com a distância de uma aduela com o auxílio de sistemas treliçados que suportam a estrutura até atingir o pilar seguinte. Esta treliça metálica alcança o apoio antes da estrutura e isto faz com que o balanço seja reduzido e consequentemente o momento fletor negativo da durante a fase de construção. Figura 76 – Esquema ilustrativo de construção de pontes com deslocamentos progressivos. Características do processo: Ausência total de escoramento; O canteiro de trabalho é fixo e pode ser coberto, sendo protegido das intempéries; Execução da obra com rapidez; Indicado para pontes retas ou com curvatura uniforme; Não há juntas; Há alternância de solicitações em cada seção durante a fase de empurramento da superestrutura; A proa que avança em balanço é dotada de bico metálico resistente e leve, destinado a reduzir o momento fletor do mesmo; O equipamento hidráulico para o lançamento localiza-se no encontro a partir do qual a ponte é lançada; Os apoios da superestrutura são inicialmente deslizantes; É ideal que a altura da seção seja entre L/12 e L/15. Caso a altura da seção seja menor do que L/17 pode-se tornar necessário o emprego de pilares provisórios entre os pilares definitivos da ponte. O objetivo é reduzir o tamanho dos vãos durante o lançamento.44 Os elementos que constituem a superestrutura da ponte são concretados, protendidos, desmoldados e então deslocados sobre apoios deslizantes por meio de macacos hidráulicos; Adequado para pontes com no mínimo 150 metros de extensão e contendo no mínimo 3 vãos; Os vãos extremos devem ter comprimentos não maiores do que 75 a 80% do comprimento dos vãos intermediários, que por sua vez devem ser iguais entre si (vão – tipo); Adequado para vãos de 30 a 50 metros. Para vãos acima de 50 metros são recomendados pilares provisórios de altura máxima de 40 metros que, por não serem projetados para resistirem às forças horizontais devem ser estaiados ou atirantados para trás. Os segmentos têm de 15 a 25 m de comprimento e são executados em um prazo aproximado de um por semana. Cuidados a serem tomados: Evitar esforços adicionais causados por falta de nivelamento e falta de precisão das fôrmas; Verificação das fases construtivas devido à influência do método construtivo no cálculo. Cuidados com as interferências que podem impedir o movimento das fôrmas. Figura 77 – Construção de pontes com deslocamentos progressivos. 2. Elementos para elaboração do projeto 2.1. Introdução O projeto de uma ponte inicia-se, naturalmente, pelo conhecimento de sua finalidade, da qual decorrem os elementos geométricos definidores do estrado, como, por exemplo, a seção transversal e o carregamento a partir do qual será realizado o dimensionamento da estrutura. Além dessas informações, a execução do projeto de uma ponte exige, ainda, levantamentos topográficos, hidrológicos e geotécnicos. Outras informações acessórias, tais como processo construtivo, capacidade técnica das empresas responsáveis pela execução e aspectos econômicos podem influir na escolha do tipo de obra, contudo não serão abordados neste texto. 45 O objetivo deste capítulo é apresentar alguns dos elementos indispensáveis para a elaboração de um projeto de ponte e que devem estar disponíveis antes do início do projeto definitivo da estrutura. 2.2. Elementos geométricos Os elementos geométricos aos quais o projeto de uma ponte deve atender derivam das características da via e de seu próprio estrado. Os elementos geométricos das vias dependem de condições técnicas especificadas pelos órgãos públicos responsáveis pela construção e manutenção dessas vias. No caso das rodovias federais, o DNIT estabelece as condições técnicas para o projeto geométrico das estradas e das pontes enquanto que no estado as rodovias estão sob a responsabilidade do Departamento de Estradas de Rodagem do estado. Segundo o DNIT, as estradas federais são divididas em: Classe I Classe II Classe III Classe IV As velocidades diretrizes, utilizadas para a determinação das características do projeto de uma estrada, são definidas em função da classe da rodovia e do relevo da região (Tabela 1) Tabela 1 – Velocidades diretrizes (Km/h) em rodovias federais (Brasil, 1996) Região Classe I Classe II Classe III Classe IV Plana 100 80 70 60 Ondulada 80 70 50 40 Montanhosa 60 50 40 30 O desenvolvimento planimétrico e altimétrico de uma ponte é, na maior parte dos casos, definido pelo projeto da estrada. Isso é verdade principalmente quando os cursos de água a serem transpostos são pequenos. No caso de grandes rios, o projeto da estrada deve ser elaborado já levando em consideração a melhor localização da ponte. Dessa forma, deve-se procurar cruzar o eixo dos cursos de águas segundo um ângulo reto com o eixo da rodovia. Além disso, deve-se procurar cruzar na seção mais estreita do rio de forma a minimizar o comprimento da ponte. Para as rodovias federais, os raios mínimos de curvatura horizontal são fixados com a finalidade de limitar a força centrífuga que atuará no veículo viajando com a velocidade diretriz (Tabela 2). Tabela 2 – Raios mínimos de curvatura horizontal (m) em rodovias federais (e = 6%) Região Classe I Classe II Classe III Classe IV Plana 415 230 185 135 Ondulada 250 185 135 55 Montanhosa 135 90 55 25 As rampas máximas admissíveis, até a altitude de 1000 metros acima do nível do mar, são mostradas na Tabela 3. Esses valores poderão ser acrescidos de 1% para extensões até 900 metros em regiões planas, 300 metros em regiões onduladas e 150 metros em regiões montanhosas, e deverão ser reduzidas de 0,5% para altitudes superiores a 1000 metros. 46 No caso corrente de estradas com pista simples e duas faixas de tráfego, as normas do DNIT adotam as seguintes larguras da faixa de rolamento em regiões planas (Brasil, 1996): Classes I e II: 3,6 m Classe III: 3,5 m Classe IV: 3,0 m Nas estradas com duas pistas independentes, com duas faixas de tráfego cada uma, a largura da faixa de rolamento utilizada em região plana é de 3,6 m. Os acostamentos têm largura mínima variável conforme a classe da estrada e a região atravessada. Nas estradas de classe I, em região plana, adotam-se acostamentos de 3,0 m de largura, o que resulta em 13,2 m de largura total do terrapleno, com a soma de 3+7,2+3. Tabela 3 – Rampas máximas (%) em rodovias federais (Brasil, 1996) Região Classe I Classe II Classe III Classe IV Plana 3 3 3 4 Ondulada 4,5 5 5 6 Montanhosa 6 7 7 6 2.3. Elementos Geométricos das Pontes Largura das pontes rodoviárias As pontes rodoviárias podem ser divididas, quanto à localização, em urbanas e rurais. As pontes urbanas possuem faixas de rolamento com largura igual à da via e passeios com largura igual a das calçadas. As pontes rurais são constituídas com finalidade de escoar o tráfego nas rodovias e possuem faixas de rolamento e acostamentos. Durante muitos anos, as pontes rodoviárias federais de classe I foram construídas com pista de 8,20 m e guarda-rodas laterais de 0,90 m de largura, perfazendo a largura total de 10 m. Havia, portanto, um estrangulamento da plataforma da estrada que provocava uma obstrução psicológica nos motoristas que causava acidentes. Nos últimos anos, o DNIT passou a adotar para a largura das pontes rurais a largura total da estrada (pista + acostamento) e guarda-rodas mais eficientes. Figura 78 – Exemplo de seções transversais de pontes rodoviárias federais 47 Gabarito das pontes Denomina-se gabarito o conjunto de espaços livres que deve apresentar o projeto de uma ponte de modo a permitir o escoamento do fluxo. A largura das pontes indicadas nas figuras acima é um exemplo de gabarito das pistas de pontes de modo a permitir o fluxo de veículos sobre elas. As pontes localizadas sobre rodovias devem respeitar espaços livres necessários para o tráfego de caminhões sob elas. As pontes construídas sobre vias navegáveis também devem atender aos gabaritos de navegação dessas vias. Por exemplo, em vias navegáveis a chatas e rebocadores, é comum prever-se a altura livre de 3,5 m a 5,0 m acima do nível máximo a que pode atingir o curso d’água. A largura deve atender a, pelo menos, duas vezes a largura máxima das embarcações mais um metro. Figura 79 – Gabarito para pontes sobre rodovias federais classe I em região ondulada Nas pontes construídas sobre rios não navegáveis, adota-se, normalmente, uma altura livre acima do nível máximo d’água de acordo com as recomendações do órgão oficial responsável pela obra. 2.4. Elementos topográficos O levantamento topográfico, necessário ao estudo de implantação de uma ponte, deve constar dos seguintes elementos: Planta, em escala de 1:1.000 ou 1:2.000; perfil em escala horizontal de 1:1.000 ou 1:2.000 e escala vertical de 1:100 ou 1:200 do trecho da rodovia em que ocorrerá a implantação da obra em uma extensão tal que ultrapasse seus extremos prováveis em, pelo menos, 1.000 metros para cada lado; Planta do terreno no qual será implantada a ponte, em uma extensão tal que exceda de 50 metros, em cada extremidade, seu comprimento provável e largura de 30 m, desenhada na escalade 1:100 ou 1:200, com curvas de nível de metro em metro, contendo a posição do eixo locado e a indicação de sua esconsidade. Perfil ao longo do eixo locado na escala de 1:100 ou 1:200 e numa extensão tal que exceda de 50 metros, em cada extremidade, o comprimento provável da obra. 48 Quando se tratar de transposição de curso d’água, seção do rio segundo o eixo locado, na escala 1:100 ou 1:200, com as cotas de fundo do rio em pontos distanciados cerca de 5 metros. 2.5. Elementos hidrológicos Os elementos hidrológicos recomendados para um projeto conveniente de uma ponte são os seguintes: Cotas de máxima cheia e estiagem observadas com indicação das épocas, frequência e período dessas ocorrências. Dimensões e medidas físicas suficientes para a solução dos problemas de vazão do curso d’água sob a ponte e erosão do leito, quais sejam: a) Área em km2 da bacia hidrográfica a montante da obra até a cabeceira; b) Extensão do talvegue em km, desde o eixo da obra até a cabeceira; c) Altura média anual das chuvas, em milímetros; d) Declividade média do espelho d’água em um trecho próximo da obra, de extensão suficiente para caracterizá-la, bem como indicações concernentes à permeabilidade do solo, existência na bacia hidrográfica de vegetações e retenções evaporativas, aspecto das margens, rugosidade e depressões do leito no local da obra. Notícias acerca de mobilidade do leito do curso d’água e, acaso existente, com indicação da tendência ou do ciclo e amplitude da divagação; álveos secundários, periódicos ou abandonados, zonas de aluviões, bem como de avulsões e erosões, cíclicos ou constantes; notícias sobre a descarga sólida do curso d’água e sua natureza, no local da obra, e sobre material flutuante eventualmente transportado. Se a região for de baixada ou influenciada por marés, a indicação dos níveis máximo e mínimo das águas, velocidades máximas de fluxo e de refluxo, na superfície, na seção em estudo. Informações sobre obras de arte existentes na bacia, com indicações de comprimento, vazão, tipo de fundação, etc. Notícia sobre serviços de regularização, dragagem, retificações ou proteção das margens. De posse dessas informações, procede-se ao cálculo da cota de máxima cheia que definirá a altura livre e a cota da face superior do tabuleiro da ponte. Nesse momento, o projetista pode se defrontar com duas situações. Numa primeira situação ela já possui a cota da face superior do tabuleiro definida pelo projetista da estrada. Normalmente essa cota situa-se, aproximadamente, a 40 cm acima da cota de terraplanagem, contudo deve ser verificada para cada projeto com o projetista da estrada. Neste caso, após a definição da cota de máxima cheia calculada e após adicionado o valor da altura livre, o projetista da ponte obtém a altura disponível para a construção. Num procedimento inverso, ele pode definir a altura de construção (definida em função do sistema estrutural da superestrutura) e em seguida verificar se a altura livre disponível é superior ao valor mínimo requerido pelo gabarito da ponte. Numa segunda situação, o projetista da ponte calcula a cota de máxima cheia e, após adicionada as alturas livre e de construção, obtêm a cota superior do tabuleiro, a qual é, então, repassada para o projetista da estrada. Essa situação é, sem dúvida, a mais cômoda para o projetista da ponte. A cota de máxima cheia calculada pode ser obtida por diversos métodos da engenharia hidráulica. Quando a ponte for construída sobre rios com grandes vazões, deve-se tomar o cuidado de evitar o refluxo a montante da ponte devido ao estrangulamento da seção de escoamento pela construção do aterro da estrada. Em 49 alguns casos, esse refluxo pode atingir grandes distâncias e diminuir a altura livre sob a ponte. Figura 80 – Refluxo a montante da ponte em razão do estrangulamento da seção de escoamento do rio. No caso de pequenos rios, ou seja, aqueles que possuem pequenas vazões é possível calcular a cota de máxima cheia pela conhecida fórmula de Manning empregada em canais abertos. Para tanto, é admitido a existência de um canal regular com seção transversal igual à seção de escoamento sob a ponte e, por um processo de tentativas, é calculada a área necessária para escoar a vazão máxima de projeto do curso d’água. A fórmula de Manning é expressa por: 2/13/21 IR n V H V = velocidade média de escoamento (m/s); n = rugosidade do canal; RH = P A = raio hidráulico; A = área da seção de escoamento (m2); P = perímetro molhado (m); I = declividade média do leito; A vazão de escoamento é dada por: Q = VA (m3/s). 2.6. Elementos Geotécnicos Os elementos geotécnicos necessários à elaboração do projeto de uma ponte são: Relatório de prospecção de geologia aplicada no local de provável implantação da obra, considerando seu esboço estrutural, e realçando peculiaridades geológicas porventura existentes. 50 Relatório de sondagem de reconhecimento do subsolo compreendendo os seguintes elementos: a) Planta de locação das sondagens, referida ao eixo da via; b) Descrição do equipamento empregado: peso, altura, etc.; c) Perfis em separado de todas as sondagens, nos quais se indiquem a natureza e a espessura das diversas camadas atravessadas, suas profundidades em relação a uma referência de nível, índices de resistência à penetração e nível d’água, inicial e vinte e quatro horas após a conclusão da sondagem. A referência de nível da sondagem deve relacionar a cota da boca do furo à referência de nível da obra; As sondagens de reconhecimento do subsolo devem ser realizadas em toda a extensão provável da futura obra de arte, ao longo de duas linhas paralelas ao eixo locado da via, uma de cada lado, e distante deste, aproximadamente, três metros. Elas devem ser em número suficiente para permitir uma definição precisa quanto à natureza e distribuição das camadas constituintes do subsolo, e nunca em número inferior a quatro. Devem ainda atingir uma profundidade que permita a garantia de não haver, abaixo dela, camadas de menor resistência. Conforme importância da obra, certo número de sondagens, ou mesmo sua totalidade, deverá atingir a rocha, que deverá ser investigada por meio de sondagens rotativas em uma espessura de, pelo menos, três metros. 2.7. Elementos acessórios 2.7.1. Existência de elementos agressivos Informações de caráter tecnológico especial podem ser de grande interesse para o projeto ou a construção de uma ponte, quando constatada sua ocorrência: Agressividade da água, referida ao pH ou ao teor de substância agressivas aos materiais de construção (água do mar ou acentuadamente salobra, águas sulfatadas ou sulfídricas); Materiais de ação destrutiva sobre o concreto; Gases tóxicos de terrenos pantanosos, possíveis em cavas de fundação. A existência, no leito do rio, de moluscos capazes de perfurar as madeiras de escoramento poderá ser razão determinante da escolha do método construtivo a ser adotado no projeto. Nas regiões marinhas, a biologia das águas pode influir nos métodos construtivos adotados, limitando, por exemplo, o tempo de permanência de armaduras dentro d’água antes de uma concretagem por processo submerso. 51 Figura 81 – Relatório de sondagem do terreno 2.7.2. Informações de interesse construtivo ou econômico Algumas informações acerca do processo construtivo que podem influenciar no projeto de uma ponte: Condições de acesso ao local da obra; Procedência dos materiais de construção, custo e confiabilidade do transporte; 52 Épocas favoráveis para a execução de serviços, considerando os períodos chuvosos e o regime do rio; Possível interferência de serviços de terraplenagem ou desmonte de rocha nas proximidades da obra; Condições de obtenção de água potável. 2.8. Elementos normativos A associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) é a entidade oficial encarregadade elaborar e editar os regulamentos técnicos adotados no Brasil. As principais normas que devem ser consultadas quando da elaboração de pontes rodoviárias em concreto armado são: NBR 7187 – Projeto de pontes de concreto armado e de concreto protendido (ABNT, 2003); NBR 7188 – Carga móvel em ponte rodoviária e passarela de pedestre (ABNT, 2013); NBR 6118 – Projeto de estruturas de concreto armado e protendido (ABNT, 2014). Algumas indicações para projeto de ponte sobre rios Como citado anteriormente, a localização de pontes sobre pequenos rios é definida pelo projetista de estrada quando da elaboração do traçado da via. Contudo, quando a via cruza médios ou grandes rios, a posição da ponte pode determinar o traçado da via. Neste caso, algumas recomendações sobre como escolher a melhor posição para a ponte podem ser úteis (Troitsky, 1994): Transpor o canal principal ou o vale no ponto mais estreito possível e não muito distante do traçado original da via; O canal principal ou o vale deve ser transposto, de preferência, perpendicularmente à direção de escoamento, o que permite que se obtenha o menor comprimento possível para a ponte. No caso de ela ser esconsa, os pilares em contato com o fluxo d’água devem ter sua menor dimensão perpendicular a esse fluxo, de forma a evitar ou diminuir a erosão localizada na base do pilar. Deve-se também evitar eixos localizados no meio do rio onde a velocidade de escoamento d’água é maior; Figura 82 – Erosão localizada na base de um pilar em contato com a água Deve-se evitar transpor um rio logo após a região onde deságua um afluente de modo a evitar a deposição de sedimentos sob a ponte. Também deve-se evitar transpor a montante desta região, uma vez que nesse caso haveria a necessidade de duas pontes, o que acarretaria em aumento do custo da obra. A melhor posição para transposição do rio é um pouco a jusante da região onde deságua seu afluente; 53 Figura 83 – Transposição de rio com afluente Deve-se evitar transpor em regiões onde possa haver, ao longo da vida útil da ponte, mudanças na seção transversal do rio. Essas mudanças normalmente ocorrem em função das características geológicas da região. Um exemplo são rios em regiões sedimentares onde, em razão da acumulação de detritos no seu leito, ocorre uma alteração na seção de escoamento; Quando do cruzamento de rios de pequena vazão, é recomendável evitar curvas para transposição desses rios. Em alguns casos pode ser realizada uma alteração no curso natural do rio com a construção de um canal devidamente dimensionado. Essa solução, entretanto, deve ser evitada, sempre que possível, no sentido de mitigar possíveis impactos ambientais. Figura 84 – Correção do leito de rios de pequena vazão Com base nestas informações, o projetista elabora um projeto básico, de forma a definir o traçado da ponte, seção transversal, o perfil longitudinal, posicionamento dos apoios, encontros, etc. Merece especial atenção o caso de pontes sobre rios, devido às condições de escoamento de água, riscos de solapamento da fundação e erosão nas cabeceiras. Uma boa parte de problemas das pontes são conseqüência destes aspectos. Um dos aspectos importante do projeto das pontes é a escolha do vão ou dos vãos, quando houver liberdade para isso. Nas pontes, como em qualquer tipo de construção, deve-se procurar minimizar o custo, que é a soma dos custos da infraestrutura, dos aparelhos de apoio e da superestrutura. Diversos fatores influem no custo de uma ponte, alguns de ordem técnica e outros não, sendo, portanto, difícil estabelecer regras gerais para considerá-los. 54 Para uma ponte de determinado comprimento, um dos fatores mais importantes que influem no custo são os vãos. Quanto maior é o vão, maior é o custo da superestrutura e menor a soma dos custos da infraestrutura e dos aparelhos de apoio, e vice-versa, quanto menor é o vão, menor é o custo da superestrutura e maior a soma dos custos da infraestrutura e dos aparelhos de apoio, conforme mostra o diagrama da Fig. 85, para uma situação genérica. Numa primeira aproximação, o vão indicado é aquele em que o custo da superestrutura resulta aproximadamente igual ao custo da infraestrutura. Figura 85 – Ilustração da composição dos custos em função do vão. O projeto das pontes deve incluir também: a) dispositivos de proteção (defensas, guarda-corpos, etc.), b) dispositivos de transição (laje de transição, encontros, alas, cortinas, etc.), c) juntas de dilatação (quando for o caso) d) drenagem (elementos de captação, drenagem internas, pingadeiras, etc.) e) pavimentação e f) plano de manutenção e programa de inspeção. 3. Solicitações das pontes 3.1. Tipos de solicitações 3.1.1. Solicitações provocadas pelo peso da estrutura (carga permanente) As estruturas das pontes, como quaisquer outras, têm que suportar, além das cargas externas, o seu peso próprio. A importância relativa do peso próprio, no total de solicitações, depende do material empregado e do vão livre da ponte. Nas pontes metálicas de pequeno vão (por exemplo, 10 m), o peso próprio da estrutura tem pequena importância. Nas pontes de concreto de grande vão (por exemplo, 200 m), a carga de peso próprio é predominante. 3.1.2. Solicitações provocadas pelas cargas úteis As pontes ou viadutos são feitos com a finalidade de permitir aos veículos a transposição de obstáculos (rios, vales, estradas, etc.). Os pesos dos veículos são denominados cargas úteis. O movimento dos veículos e as irregularidades das pistas produzem acréscimos nos pesos atuantes. Esses acréscimos são denominados efeitos de impacto vertical. 55 Os veículos fazem atuar nas pontes esforços longitudinais, devidos à frenagem e aceleração. Nas obras em curva, o deslocamento dos veículos produz esforços horizontais transversais, devidos à força centrífuga. 3.1.3. Solicitações produzidas pelos elementos naturais Os elementos naturais em contato com a ponte (ar, água, terra) exercem pressões sobre a estrutura, originando solicitações que devem ser levadas em conta no dimensionamento da obra. Em pontes com pilares de grande altura (por exemplo, 50 m a 100 m), as solicitações provocadas pelo vento têm grande importância no dimensionamento dos pilares. Em pontes com pilares em rios sujeitos a grandes enchentes, a pressão da água gera solicitações consideráveis nos pilares, frequentemente agravadas pelo impacto de troncos de árvores trazidos por enxurradas. Os empuxos de terra são produzidos pelos aterros de acesso à obra, dando origem a esforços horizontais absorvidos pelos encontros ou pilares da ponte. Os deslocamentos das fundações, provocados por deformação do terreno, podem produzir solicitações nas obras com estrutura estaticamente indeterminada. 3.1.4. Esforços produzidos por deformações internas As deformações internas dos materiais estruturais, produzidos por variações de temperatura, retração ou fluência do concreto, originam solicitações parasitárias por vezes importantes, cuja consideração é exigida na análise de estabilidade das obras. 3.2. Carga permanente 3.2.1. Constituição da carga permanente A carga permanente é constituída pelo peso próprio dos elementos portantes (estrutura) e de outros materiais colocados sobre a ponte (sobrecargas fixas), tais como: Pavimentação; Guarda-corpo; Guarda-rodas; Postes; Canalizações, etc.; Os empuxos de terra e a subpressão da água, quando agem continuadamente são também incorporados na categoria de carga permanente. 3.2.2. Pesos específicos dos materiais Para efeito do projeto, podem ser adotados os pesos específicos do quadro abaixo. Tabela 4 - Pesos específicos dos materiais de construção, em t/m3 Concreto armado 2,50 Concreto simples 2,20 Pavimento asfáltico 2,40 Aço 7,85 Brita compactada com rolo 1,90 Madeira 0,80 Alvenaria de pedra 2,70 Ferro fundido 7,80 56 3.2.3.
Compartilhar