Buscar

Pre-modernismo-versao-so-com-trechos-de-obras

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 33 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 33 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 33 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Pré-modernismo
A Pátria. Pedro Bruno (1919)
A proclamação da República foi saudada, na última década do século XIX e nas duas primeiras do século XX, como a solução de todos os problemas nacionais.
Retratos do Brasil: revistas e caricaturas do início do século
1904 – Revista da semana
Janelas – Seguidores de Marechal Floriano Peixoto, que queriam derrubar Rodrigues Alves
Caretas – Olavo Bilac
 27 de novembro de 1915
Olavo Bilac montando um cavalo branco;
A revista Careta ironizava as campanhas nacionalistas de Olavo Bilac em 1915;
O poeta iniciou sua cruzada cívica defendendo o serviço militar obrigatório, além de proferir palestras em defesa da língua portuguesa e dos símbolos nacionais;
Bilac é o autor da letra do Hino à Bandeira Nacional
Benedito Bastos Barreto (1896-1947) - Belmonte
Belmonte ironizava as vanguardas europeias e seus seguidores no Brasil
Na charge, o pintor pede à modelo: "- Senhorita, não se mexa tanto, senão o retrato não sai parecido!“
14 de fevereiro de 1837 – quando foi publicada a primeira charge – sobre propina e corrupção; consolidam-se nas primeiras décadas do Século XX;
Intimamente ligada ao desenvolvimento da impressa no Brasil.
Em 1904, o Rio de Janeiro assistiu a uma rápida mas intensa revolta popular: usando como pretexto a luta contra a vacinação obrigatória idealizada por Oswaldo Cruz, a população protestava contra o alto custo de vida, o desemprego e os rumos da República. 
Em 1910, houve outra importante rebelião, dessa vez dos marinheiros, liderados por João Cândido, o "Almirante Negro", contra o castigo corporal - a Revolta da Chibata. 
Ao mesmo tempo, em São Paulo, as classes trabalhadoras, sob orientação anarquista, iniciavam os movimentos grevistas por melhores condições de trabalho.
Essas agitações eram sintomas da crise na "República do Café com Leite", que se tornaria mais evidente na década de 1920, servindo de cenário ideal para os questionamentos da Semana de Arte Moderna.
Há muito tempo nas águas da Guanabara
O dragão no mar reapareceu
Na figura de um bravo feiticeiro
A quem a história não esqueceu
Conhecido como Navegante Negro
Tinha a dignidade de um mestre-sala
E ao acenar pelo mar na alegria das regatas
Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas
Jovens polacas e por batalhões de mulatas
Rubras cascatas
Jorravam das costas dos santos entre cantos e chibatas
Inundando o coração do pessoal do porão
Que a exemplo do feiticeiro gritava, então
Glória aos piratas, às mulatas, às sereias
Trechos da música "Mestre-sala dos mares", de João Bosco e Aldir Blanc, em homenagem ao "Almirante Negro" - João Cândido - lider da Revolta da Chibata 
https://www.youtube.com/watch?v=lBOg8w9V-FA&ab_channel=GravadoraGale%C3%A3o (voz de Elis Regina)
A música busca manter viva na memória popular a ação dos marinheiros contra o racismo, os castigos físicos e as péssimas condições de trabalho na marinha brasileira.
1970 – composta e censurada
Glória à farofa, à cachaça, às baleias
Glória a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história
Não esquecemos jamais
La, la, la, la, la, la, la, la, la, la...
Salve o Navegante Negro
Que tem por monumento
As pedras pisadas do cais
Glória…
Euclides da Cunha: narrador da guerra do fim do mundo
Euclides da Cunha foi o pioneiro entre os pré-modernistas na aproximação entre a literatura e a história. Quando publicou a recriação literária da guerra de Canudos, em 1902, fazia somente cinco anos que o sangrento conflito tinha acabado.
Os sertões: "a Bíblia da nacionalidade brasileira”
O livro Os sertões é de difícil classificação. A obra apresenta características de texto literário porque capta, em suas descrições, a sinceridade da alma simples e leal do sertanejo, pronto a seguir um líder e a morrer combatendo a seu lado; de tratado científico, porque analisa as características do solo do sertão nordestino; de investigação sócio antropológica, já que se preocupa em caracterizar minuciosamente o sertanejo ou explicar a gênese de Antônio Conselheiro como um líder messiânico; e de matéria jornalística, pois registra em detalhes as lutas entre as tropas oficiais e os revoltosos.
A estrutura do livro
Embora essa mistura de estilos aponte para novas tendências literárias, o livro apresenta uma clara visão determinista, que o liga ao Naturalismo e à visão do ser humano como produto do meio em que vive. 
Euclides, porém, dá um tratamento regional ao determinismo, antecipando, em cerca três décadas, marcas da prosa de ficção da segunda geração modernista: o romance regionalista, que será desenvolvido por mestres como Graciliano Ramos, José Américo de Almeida e Rachel de Queiroz, entre outros.
Para criar todo o embasamento científico necessário ao estudo das condições que contribuíram para um conflito como o de Canudos, Euclides da Cunha dividiu sua obra em três partes.
A Terra (primeira parte): apresentação detalhada das características do sertão nordestino, com informações sobre o clima, a composição do solo, o relevo e a vegetação.
O Homem (segunda parte): retrato do sertanejo, em que o texto procura demonstrar o impacto do meio sobre as pessoas. O destaque fica para a apresentação de Antônio Conselheiro e sua transformação em líder messiânico. 
A Luta (terceira parte): narração dos embates entre as tropas oficiais e os seguidores de Conselheiro. O livro termina com a descrição da queda do Arraial de Canudos e a destruição de todas as casas erguidas no local.
Exercícios
Hippolyte Adolphe Taine foi um crítico e historiador francês, membro da Academia francesa. Foi um dos expoentes do Positivismo do século XIX, na França. O Método de Taine consistia em fazer história e compreender o homem à luz de três fatores determinantes: meio ambiente, raça e momento histórico
“narrador sincero” - A sinceridade do relato, o desenho correto dos eventos sem, todavia, fazer perder seu colorido e, por conseguinte, sua própria realidade.
Linguagem: o barroco cientifico
O uso da linguagem define o estilo de Euclides da Cunha de modo muito particular entre os pré-modernistas. 
O emprego constante de expressões que sugerem um conflito interior, que não pode ser solucionado, fez com que os críticos reconhecessem a marca barroca do seu texto.
Nessa passagem, uma metáfora resume a ideia central de toda a caracterização feita: embora a aparência sugira fraqueza e cansaço, o sertanejo é um "titã acobreado", que surpreende nas situações de emergência. 
A associação entre Hércules (herói da mitologia grega, homem de força de extraordinária, admirado) e Quasímodo (ser disforme, monstruoso, amedrontador) é um exemplo da busca por imagens que sintetizem o que é dito. 
Para elaborar essas imagens, o narrador usa frequentemente características contraditórias, destacando o conflito percebido no espaço inclemente do sertão, na vida sofrida dos sertanejos, na resistência dos conselheiristas. 
Por essa razão, muitos outros exemplos de paradoxos e antíteses povoam o texto de Os sertões: paraíso tenebroso, tumulto sem ruídos, sol escuro, construtores de ruinas, etc.
Também se destaca na construção da linguagem a busca da precisão científica e o desejo de garantir um realismo absoluto ao que é narrado. É a convivência de todas essas características que torna impossível definir Os sertões como um romance. O livro é isso e muito mais, o que explica a importância que tem, até hoje, no conjunto da literatura brasileira.
“O sertão virou mar”
Então o sertão virará praia e a praia virará sertão – Profecia de Antônio Conselheiro.
Documentário “sertão, sertões” – Sérgio Resende
Vale do Rio São Francisco – barragem de sobradinho – música – Sá Guarabyra
O homem chega e já desfaz a natureza
Tira gente, põe represa, diz que tudo vai mudar
O São Francisco, lá pra cima da Bahia
Diz que dia, menos dia, vai subir bem devagar
E passo a passo, vai cumprindo a profecia
Do beato que dizia que o sertão ia alagar
Exercícios -
Lima Barreto: a vida nos subúrbios cariocas
Lima Barreto será responsável por compor um retrato departes dos centros urbanos ignorados pela elite cultural do país: os subúrbios cariocas. 
Era lá que vivia a pequena classe média composta de funcionários públicos, professores, moças à espera de casamento e uma variedade de outras personagens que povoam a obra do autor. Dá assim voz a uma parcela da população que havia sido ignorada pelos principais escritores românticos e realistas.
Os romances, contos e crônicas de Lima Barreto compõem um painel em que se desenham de forma mais clara os verdadeiros mecanismos de relacionamento social típicos do Brasil no início do século XX.
Isaías Caminha e Clara dos Anjos: a denúncia do preconceito
No primeiro romance publicado por Lima Barreto, Recordações do escrivão Isaias Caminha, já se pode identificar a denúncia do preconceito como uma das suas preocupações literárias. 
Idealista e inteligente, Isaías acredita ser possível vencer na vida graças aos seus esforços e superar até mesmo o preconceito racial. Assim que chega ao Rio, vindo do interior, procura um influente deputado a quem havia sido recomendado por um amigo da família. Seu suposto protetor recusa-se a ajudá-lo e o jovem passa por uma série de dificuldades. 
Apesar de sua capacidade e dedicação, é somente um fato casual que lhe permitirá realizar o sonho de se tornar repórter: surpreende seu superior em uma noitada de orgias.
O personagem-título representa "a própria frustração do autor, que nele se encarna, tornando especialmente doídos os seus encontros com os preconceitos de cor e de classe” (Alfredo Bosi)
No romance Clara dos Anjos, o preconceito racial retorna, enfocando agora uma moça que é seduzida por um tipo suburbano, Cassi Jones. Após relatar a humilhação da jovem pela família do rapaz que a desonrou, o narrador conclui:
O aspecto mais comovente da cena, além da desilusão sofrida pela jovem, e a constatação da impossibilidade de vencer uma sociedade acostumada a determinar o valor de uma pessoa pela cor de sua pele
Policarpo Quaresma: um nacionalista quixotesco
O mais lido e conhecido romance de Lima Barreto é Triste fim de Policarpo Quaresma. 
O protagonista, Policarpo Quaresma, é um major que trabalha como subsecretário do Arsenal de Guerra. Sua cegueira, contudo, é a pátria. Estudioso das coisas do Brasil, tem uma biblioteca de clássicos sobre a fauna e a flora brasileira, conhece as obras completas dos grandes escritores nacionais, interessa-se pelas tradições e costumes do povo.
Esse patriotismo desmedido é ridicularizado por todos aqueles com quem convive, incapazes de perceber a pureza de seu idealismo.
Através de Policarpo, Lima Barreto tematiza o embate entre o real e o ideal. Em Policarpo, o patriotismo é um ideal. Ele assume ares de visionário, louco, por não pensar em si, por não se interessar por sua carreira ou tentar obter qualquer tipo de vantagem pessoal. 
Seu único objetivo é o engrandecimento do Brasil. O "triste fim" de Policarpo e a perda de todos os ideais, quando percebe que dedicou sua vida a uma causa inútil. 
A desilusão final de Policarpo é a desilusão de Lima Barreto, que morreu acreditando ser o dever dos escritores deixar de lado todas as velhas regras, toda a disciplina exterior dos gêneros e aproveitar de cada um deles o que puder e procurar, conforme a inspiração própria, para tentar reformar certas “usanças". 
Por esse motivo, o novo Brasil que surgia nos textos pré-modernistas, marcado por grandes desigualdades sociais, não era um país que motivasse o orgulho dos leitores. Mas era um país real.
Monteiro Lobato: a decadência
Monteiro Lobato começou a sua carreira literária por acaso. Tendo vivido no interior, pôde observar as dificuldades e os vícios característicos da vida rural. Suas observações dão origem a uma longa carta, enviada para o jornal O Estado de S. Paulo. 
A carta funciona como uma denúncia e chama a atenção das pessoas para um problema que, como tantos outros, era desconhecido por não fazer parte do Brasil "oficial", Essa carta levou o editor do jornal a insistir para que Lobato lhe enviasse mais artigos. Nascia, assim, uma carreira de longa colaboração jornalistica. 
A carta foi importante também por outra razão: é nela que o escritor cita pela primeira vez o nome da personagem a que ele ficará associado para sempre: Jeca Tatu. O caboclo apresentado como o parasita que incendeia a terra é, de certa forma, o "pai" literário do Jeca, que será apresentado em sua forma completa em outro texto, Urupês (1918). 
Nesse livro, Lobato traça um minucioso perfil do caboclo que vivia pelo interior de São Paulo, encostado nas fazendas de café, esgotando os recursos da terra para depois mudar-se e continuar com seus hábitos.
As cidades mortas do interior paulista
O aspecto literário mais importante da obra de Monteiro Lobato é a sua preocupação em denunciar alguns dos problemas que marcam a vida das pessoas do interior. O foco do autor é a região do Vale do Paraíba, que entrou em decadência após o deslocamento das culturas de café para o Oeste Paulista.
Nos contos de Cidades mortas (1919), Lobato caracteriza a desolação provocada nas pequenas cidades que, até pouco tempo antes prosperavam com o cultivo do café.
Augusto dos Anjos: poeta de muitas faces
"Tome, Dr., esta tesoura, e. corte/ Minha singularíssima pessoa que importa a mim que a bicharia roa/ Todo o meu coração, depois da morte?". Esses versos do poema "Budismo moderno", de Augusto dos Anjos, já sugerem o caráter enigmático e sombrio desse autor. 
A leitura de seus sonetos revela influência de diferentes estéticas do século XIX. Do Simbolismo, Augusto dos Anjos recupera o gosto pelas imagens fortes e a preocupação com a construção formal dos poemas. O uso de termos científicos marca a inspiração do Naturalismo. A preferência pelo soneto traz ecos do Parnasianismo. 
Embora tenha publicado seu único livro em um momento no qual a literatura brasileira manifestava tendências pré-modernistas, o poeta deve ser visto como um fenômeno isolado.
A marca da angústia e do pessimista
As divagações metafísicas e a expressão de uma angústia existencial são as características mais fortes da poesia de Augusto dos Anjos. E esse o sentimento que sobressai nos versos do seu mais conhecido soneto.
Versos Íntimos (Augusto dos Anjos)
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
A crença na quimera - fantasia, sonho, ilusão --- resume a causa para a desilusão humana. No poema, o eu lírico dirige-se aos leitores para afirmar a impossibilidade de uma vida feliz. Além da morte dos sonhos, as pessoas estão condenadas à mais irremediável solidão. Os gestos de solidariedade devem ser vistos como sinal da desilusão futura. E esse o contexto que explica o terrível conselho final: "Escarra nessa boca que te beija!"
Linguagem: ciência e símbolos
A linguagem característica dos poemas de Augusto dos Anjos surpreende os leitores. O poeta recorre à ciência para melhor definir suas preocupações com a origem da angústia moral que, a seu ver, atormenta a humanidade. 
Augusto dos Anjos adotou como modelo os estudos de Ernest Heckel, biólogo alemão que publicou uma obra relacionando teorias de natureza biológica a interpretações filosóficas sobre a alma e a existência humanas. Por isso, os versos do poeta apresentam termos como psicogênese, trama neuronial, sinergia, morfogênese, carbono e amoníaco
 PSICOLOGIA DE UM VENCIDO
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigénesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia,
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme — este operário de ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida, em geral, declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
Paraíba, 1909 . Publicado no livro Eu (1912). In: REIS, Zenir Campos. Augusto dos Anjos: poesia e prosa. São Paulo: Ática, 1977. p.64. (Ensaios, 32)
Obcecado com a ideia das forças da matéria, que pulsam em todos os seres e conduzem ao "nada" absoluto, o poeta usa o verme como símbolo desse processo de decomposição. A referência ao "sangue podre" assinala mais uma característica da poesia de Augusto dos Anjos: o uso de termos fortes e chocantes, muitas vezes associados às funções corporais (como o escarro de "Versos íntimos"). Por essa razão, muitos críticos da época destaca o "mau gosto" do vocabulário como um dos defeitos da poesia do autor.

Continue navegando