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1 APOSTILA 2016 LÍNGUA PORTUGUESA LITERATURA E GRAMÁTICA ELABORADA E DESENVOLVIDA PELA PROFESSORA AUREA MARIN LITERATURA E GRAMÁTICA – 3º ANO – ENSINO MÉDIO TÉCNICO - 2016 2 ÍNDICE LITERATURA Pré-modernismo 3 Modernismo 12 Modernismo brasileiro 13 Fases modernismo no Brasil 15 Modernismo português 17 Modernismo no Brasil 23 Segunda fase 29 Terceira fase 46 Tendências contemporâneas em Portugal 55 Pós modernismo 60 Prosa brasileira após virada do século 62 GRAMÁTICA Sintaxe 69 Predicado 73 Adjunto adnominal 79 Adjunto adverbial 80 Período composto 82 Orações coordenadas 83 Oração subordinadas 85 Concordância nominal 92 Concordância verbal 98 LITERATURA E GRAMÁTICA – 3º ANO – ENSINO MÉDIO TÉCNICO - 2016 3 PRÉ – MODERNISMO Contexto Histórico: Nos primeiros anos da República, o Brasil foi governado por presidentes militares – era chamada República da espada (1889 a 1894). A ela seguiu-se um período caracterizado por presidentes ligados às oligarquias rurais (a chamada “nobreza fundiária”) constituídas por cafeicultores de São Paulo e pecuaristas de Minas Gerais – a República do café-com-leite. (1894 a 1930). Os antigos escravos eram marginalizados e os imigrantes europeus que chegavam para trabalhar nas lavouras ou nas indústrias recém-criadas eram submetidos a condições de trabalho aviltantes. O Nordeste vivia a estagnação econômica e bandos de cangaceiros assaltavam propriedades. As secas levavam à morte milhares de sertanejos e outros tantos eram facilmente arregimentados na formação de seitas místicas, lideradas por beatos ou conselheiros, tornando-se fanáticos, pela desesperança e pela crença numa solução divina para males que, na verdade, tinham origem econômica. Este período, compreendido entre 1900 e 1922 caracteriza-se pela convivência de várias correntes e estilos, com predominância ainda do Parnasianismo. Ao lado do mundo “cor-de-rosa” das elites, estava a miséria do povo, e pouquíssimos foram os escritores que voltaram os olhos de modo crítico para a realidade brasileira. Os literatos “oficiais”, parnasianos, estavam, na verdade, preocupados com o prestígio social que a literatura lhes pudesse dar. Freqüentavam cafés, saraus, apreciavam palavras eruditas, os modismos europeus e o tom retórico, produzindo uma literatura que se convencionou chamar sorriso da sociedade. O Pré-Modernismo, que não é propriamente uma escola literária, designa genericamente esse período, no qual poucos escritores procuraram interpretar a realidade brasileira, revelar suas tensões e os problemas sociopolíticos da época. Algumas datas podem servir de balizamento para esse período: 1902 – publicação de Canaã, de Graça Aranha, e de Os sertões, de Euclides da Cunha; 1922 – realização da Semana de Arte Moderna, No Teatro Municipal de São Paulo, nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro. Principais autores: Lima Barreto – A característica mais marcante de sua literatura é a denúncia dos problemas sociais de sua época. Vítima de tantos preconceitos foi inevitável que traços biográficos do autor se incorporassem nas obras, especialmente em Recordações do escrivão Isaías Caminha, uma pesada caricatura em que o escritor esmiúça os bastidores da imprensa da época. Em Triste fim de Policarpo Quaresma, inventa o patriota ingênuo que luta até o fim da vida para restabelecer as tradições brasileiras mais legítimas. A intenção de denunciar levou o escritor a empregar uma linguagem clara e simples, sem os adornos que eram moda na época. Dessa opção resultaram as pesadas críticas que recebeu: de ser desleixado, de não saber gramática. Via-se descuido e erro onde existia quase sempre o desprezo intencional pelos ornamentos, onde predominava o esforço de se fazer entender pelo homem comum, que ele incorporou como personagem. LITERATURA E GRAMÁTICA – 3º ANO – ENSINO MÉDIO TÉCNICO - 2016 4 Suas principais obras são: Recordações do escrivão Isaías Caminha, Triste Fim de Policarpo Quaresma, Numa e ninfa, Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá, Os bruzundangas, Clara dos Anjos. Euclides da Cunha – Foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo, incumbido de fazer a cobertura da Guerra de Canudos. Dessa cobertura jornalística resultou uma obra-prima: Os sertões, publicado em 1902, e marco inicial de nosso Pré-Modernismo. Contudo, o autor peca pelo estilo retórico-discursivo, muitas vezes barroco e pomposo, mas que de modo algum retira o alto nível e a importância da obra, no qual se percebe a formação positivista e a ótica determinista do escritor. Monteiro Lobato – É o maior escritor da literatura infanto-juvenil brasileira. Com ele ocorre uma verdadeira revolução no gênero, até então marcada por textos de preocupações moralistas, patrióticas e ufanistas, que ao invés de divertirem as crianças, procuravam doutrina- las. Ao rejeitar os modelos tradicionais, levou as crianças a se divertirem com reflexão, modernidade e assimilação de valores universais. Sua produção infanto-juvenil constitui a parte mais importante de sua obra. Embora Monteiro Lobato fosse um homem que acreditava no progresso, cometeu o equívoco momentâneo de criticar os modernistas de 22, que buscavam uma arte de reforma. Augusto dos Anjos – Caracteriza-se pela crueza dos temas, que giram em torno da morte e da doença, focalizando hospitais, necrotérios, hospícios, cadáveres e micróbios, pelo exotismo de linguagem, carregada de vocábulos científicos, e por agudo pessimismo diante da vida. À visão do mundo harmonioso das elites da época, da literatura “sorriso da sociedade”, Augusto dos Anjos contrapôs um outro, de decomposição, angústia e sofrimento, em que se percebe a inquietação filosófica do poeta sobre o enigma do Universo e da própria vida. Suas obras foram póstumas: Poesia: Eu, Eu e outras poesias. EXERCÍCIOS 1) Que classes eram o sustentáculo do poder civil nas primeiras décadas da República? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 2) Qual era a situação da classe trabalhadora nas primeiras décadas da República? __________________________________________________________ __________________________________________________________ LITERATURA E GRAMÁTICA – 3º ANO – ENSINO MÉDIO TÉCNICO - 2016 5 __________________________________________________________ __________________________________________________________ 3) O que se entende por Pré-Modernismo? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 4) O que se pode criticar em muitos escritores brasileiros do período compreendido entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 5) Que autores se destacam no Pré-Modernismo brasileiro? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________6) A que autor pré-modernista se refere cada um dos comentários a seguir? a) “Os dramas humildes, as tragédias da classe média encontraram nele um grande, fiel e enternecido intérprete. Mas soube retratar, com agudeza e sarcasmo, os meios políticos e as redações dos jornais, mostrando aspectos curiosos e dolorosos” (Fernando Góis); b) “Vislumbrando na matéria orgânica uma vocação fatal para o sofrimento, o poeta concebia o espetáculo da vida como um permanente encaminhar-se para a dissolução.” (José Paulo Paes); c) “Nesses capítulos informados pela mais exaustiva erudição científica (geológica, orográfica, climatológica, hidrográfica, botânica, zoológica, antropológica, etnográfica, folclórica, sociológica e, mesmo, psiquiátrica), tanta multiplicidade de fatos e de interpretações destina-se a iluminar, com a luz crua e violenta da evidência, o meio asperamente conflituoso em que sofre o jagunço nordestino.” (Alfredo Bosi); d) “A contradição moderno-antimodernista leva-o a uma crítica injusta e violenta à pintura de Anita Malfatti, fato cultural mais importante antes da Semana de Arte Moderna.” (PUC – SP); e) NDA. LITERATURA E GRAMÁTICA – 3º ANO – ENSINO MÉDIO TÉCNICO - 2016 6 TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA (fragmento) Triste Fim de Policarpo Quaresma conta a história de um nacionalista ingênuo, Policarpo Quaresma, que acredita em um Brasil forte, rico e soberano, e quer salvá-lo dos políticos corruptos. Entretanto, esse exaltado patriotismo só provoca risos e acaba por custar-lhe o internato num hospício. Tendo apoiado o Marechal Floriano, volta-se contra o seu governo por considerá-lo incompetente e desumano. Ao presenciar a escolha de antiflorianistas para fuzilamento, escreve, indignado, uma carta ao presidente. No dia seguinte é preso e fuzilado. Desde dezoito anos que tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe importavam os rios? Eram grandes? Pois que fossem... Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o nome dos heróis do Brasil? Em nada... O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das suas coisas de tupi, do folklore, das suas tentativas agrícolas... Restava disso tudo em sua alma uma satisfação? Nenhuma!Nenhuma! O tupi encontrou a incredulidade geral, o riso, a zombaria, o escárnio; e levou-o à loucura. Uma decepção. E a agricultura? Nada. As terras não eram férteis ela não era fácil como diziam os livros. Outra decepção. E, quando o seu patriotismo se fizera combatente, o que achara? Decepções. Onde estava a doçura de nossa gente? Pois ele não a viu combater como feras? Pois não a via matar prisioneiros, inúmeros? Outra decepção. A sua vida era uma decepção, uma série, melhor, um encadeamento de decepções. A pátria que quisera ter era um mito, era um fantasma criado Poe ele no silêncio do seu gabinete. Nem a física, nem a moral, nem a intelectual, nem a política que julgava existir, havia. A que existia de fato, era a do Tenente Antonino, a do doutor Campos, a do homem do Itamarati. E, bem pensando, mesmo na sua pureza, o que vinha a ser Pátria? Não teria levado toda a sua vida orientado por uma ilusão, por uma idéia a menos, sem base, sem apoio, por Deus ou uma Deusa cujo império se desaparecia. Vocabulário: Folclore – estudo e conhecimento das tradições de um povo, expressas nas suas lendas, crenças, canções e costumes. Mofa – zombaria. Feraz – fértil. Itamaraty – nome do palácio que, no Rio de Janeiro, serviu de sede do Ministério das Relações Exteriores. Nortear – orientar, guiar. Esvair – dissipar, desaparecer. INTERPRETAÇÃO DO TEXTO 1) Justifique com elementos do texto a afirmação de que o Major Quaresma tinha um forte sentimento nacionalista? __________________________________________________________ __________________________________________________________ LITERATURA E GRAMÁTICA – 3º ANO – ENSINO MÉDIO TÉCNICO - 2016 7 __________________________________________________________ __________________________________________________________ 2) Segundo Pero Vaz de Caminha, “(A terra) em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo...”Que comentário faz Quaresma a esse respeito? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 3) É comum a crença de que o povo brasileiro possui um espírito pacífico, generoso e cordial. O que pensa Policarpo Quaresma a respeito disso? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 4) Que ilusão teria guiado Quaresma até o fim da sua vida? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ OS SERTÕES Os sertões é um ensaio sociológico e histórico em torno da guerra de Canudos. Fatores geográficos, raciais e históricos determinam as ações dos jagunços rebeldes – A terra - , o autor analisa o condicionamento geográfico, com o clima exercendo um papel preponderante na formação do meio e do homem, produto desse meio. Na segunda parte – O homem -, temos a análise da miscigenação e seus efeitos. Na última parte – A luta - , a descrição do conflito resultante. Contudo, o autor peca pelo estilo retórico-discursivo, muitas vezes barroco e pomposo, mas que de modo algum retira o alto nível e a importância de Os sertões, no qual se percebe a formação positiva e a ótica determinista do escritor. LITERATURA E GRAMÁTICA – 3º ANO – ENSINO MÉDIO TÉCNICO - 2016 8 O HOMEM De repente, uma variante trágica. Aproxima-se a seca. O sertanejo adivinha-a e prefixa-a graças ao ritmo singular com que se desencadeia o flagelo. Entretanto não foge logo, abandonando a terra a pouco e pouco invadida pelo limbo cadente que irradia do Ceará. Buckle, em página notável, assinala a anomalia de se não afeiçoar nunca, o homem, às calamidades naturais que o rodeiam. Nenhum povo tem mas pavor aos terremotos que o peruano; e no Peru as crianças ao nascerem têm o berço embalado pelas vibrações da terra. Mas o nosso sertanejo faz exceção à regra. A seca não o apavora. É um complemento à sua vida tormetosa, emoldurando-a em cenários tremendos. Enfrenta-a, estóico. Apesar das dolorosas tradições que conhece através de um sem número de terríveis episódios, alimenta a todo o transe esperanças de uma resistência impossível. (Euclides da Cunha) INTERPRETAÇÃO DO TEXTO 1) Como Euclides da Cunha caracteriza o homem sertanejo? _____________________________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 2) Em que homem sertanejo difere do peruano? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 3) Por que Buckle caracteriza como uma “anomalia” o fato de o homem não se afeiçoar nunca às calamidades naturais que o rodeiam? __________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________ LITERATURA E GRAMÁTICA – 3º ANO – ENSINO MÉDIO TÉCNICO - 2016 9 4) Destaque do texto uma passagem que demonstra ser o flagelo da seca algo repetitivo e bastante conhecido pelo sertanejo. __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ JECA TATU Pobre Jeca Tatu! Como és bonito no romance e feio na realidade! Jeca mercador, Jeca lavrador, Jeca filósofo... Quando comparece às feiras, todo mundo logo adivinha o que ele traz: sempre coisas que a natureza derrama pelo mato e ao homem só custa o gesto de espichar a mão e colher (...) Nada mais. Seu grande cuidado é espremer todas as conseqüências da lei do menor esforço – e nisto vai longe. Começa na morada. Sua casa de sapé e lama faz sorrir aos bichos que moram em toca e gargalhar ao joão-de-barro. Pura biboca de bosquímano. Mobília, nenhuma. A cama é uma espipada esteira de peri posta sobre o chão batido. Às vezes se dá ao luxo de um banquinho de três pernas – para os hóspedes. Três pernas permitem equilibrar; inútil, portanto, meter a quarta, o que ainda o obrigaria a nivelar o chão. Para que assentos, se a natureza os dotou de sólidos, rachados calcanhares sobre os quais se sentam? Nenhum talher. Não é a munheca um talher completo – colher, garfo e faca a um tempo? Seus remotos avós não gozaram maiores comodidades. Seus netos não meterão quarta perna ao banco. Para quê? Vive-se bem sem isso. Se pelotas de barro caem, abrindo seteiras na parede, Jeca não se move a repô-las. Ficam pelo resto da vida os buracos abertos, a entremostrarem nesgas de céu. Quando a palha do teto, apodrecida, greta em fendas por onde pinga a chuva, Jeca, em vez de remendar a tortura, limita-se, cada vez que chove, a aparar numa gamelinha a água gotejante... Remendo... Para quê? se uma casa dura dez anos e faltam “apenas” nove para que ele abandone aquela? Esta filosofia economiza reparos. (Monteiro Lobato – Urupês) Vocabulário: Biboca – casa humilde, com cobertura de palha. Bosquímano – indivíduo dos bosquímanos, povo sul-africano. Espipar – esticar, estender. Peri – espécie de junco do qual se fazem esteiras; piripiri. Munheca – mão. Remoto – antigo, distante. Seteira – fresta. Nesga – pequena espaço. Gretar – rasgar. Gamela – vasilha de madeira ou barro. INTERPRETAÇÃO DO TEXTO LITERATURA E GRAMÁTICA – 3º ANO – ENSINO MÉDIO TÉCNICO - 2016 10 1) O que podemos concluir ao compararmos a personagem de Monteiro Lobato com o índio Peri, de José de Alencar, e os bravos e orgulhosos caboclos dos romances regionalistas do mesmo período? _____________________________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 2) Em Jeca Tatu, Monteiro Lobato investe contra a idealização do caboclo, apontando algumas das suas características negativas. Qual delas é a mais criticada no texto? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 3) “Jeca mercador, Jeca lavrador, Jeca filósofo...” Este parágrafo refere-se ao Jeca de Monteiro Lobato ou aos caboclos dos romances românticos? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 4) Você crê que Monteiro Lobato queria chamar a atenção para uma realidade que deveria ser invertida ou pretendeu apenas ridicularizar o caboclo? Por quê? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 5) “Pobre Jeca Tatu! Como és bonito no romance e feio na realidade!” Em Urupês (1918), Monteiro Lobato cria a figura do Jeca Tatu, o caipira atrasado e indolente. Mais tarde, Lobato se conscientizaria de que o tipo era uma conseqüência de problemas socioeconômicos e da ausência de reformas que dessem ao homem do campo condições de desenvolvimento. Segundo você, que reformas e ações governamentais podem contribuir para a melhoria das condições de vida do homem do campo? LITERATURA E GRAMÁTICA – 3º ANO – ENSINO MÉDIO TÉCNICO - 2016 11 __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ PSICOLOGIA DE UM VENCIDO Eu, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilância, Sofro, desde a epigênese da infância, A influência má dos signos do zodíaco. Profundissimamente hipocondríaco, Este ambiente me causa repugnância... Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia Que se escapa da boca de um cardíaco. Já o verme – este operário das ruínas Que o sangue podre das carnificinas Come e à vida em geral declara guerra, Anda a espreitar meus olhos para roê-los, E há de deixar-me apenas os cabelos, Na frialdade inorgânica da terra! (Augusto dos Anjos) Vocabulário: Rutilância – brilho Epigênese – teoria da formação dos seres por gerações graduais. Hipocondríaco – que tem mania de doença; triste, melancólico. INTERPRETAÇÃO DO TEXTO 1) Um dos elementos da renovação poética de Augusto dos Anjos é a desvinculação da palavra do seu compromisso com o belo, dessacralizando-a e incluindo vocábulos até então apoéticos. Que exemplos podemos retirar do texto para exemplificar essa afirmação? __________________________________________________________ __________________________________________________________ LITERATURA E GRAMÁTICA – 3º ANO – ENSINO MÉDIO TÉCNICO - 2016 12 __________________________________________________________ __________________________________________________________ 2) A incorporação de termos científicos na poesia de Augusto dos Anjos revela que tipo de influência? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 3) Por influência simbolista – sobretudo de Baudelaire e sua poesia da decomposição -, a imagem da decadência é comum na poesia de augusto dos Anjos. No poema, essa imagem se realiza no plano físico ou espiritual? Qual o seu agente? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 4) A angústia diante da vida, a imagem da decomposição da carne e a linguagem exótica – alguns dos elementos caracterizadores da poesia de Augusto dos Anjos – estão presentes nesse poema. Exemplifique cada um deles com elementos do poema. ____________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ MODERNISMO Contexto histórico: O início do século XX foi marcado por um extraordinário desenvolvimento científico e tecnológico, dos quais são exemplos o telégrafo, a eletricidade, o telefone, o cinema, o automóvel e o avião; a teoria da relatividade, de Einstein, e a teoria psicanalítica, de Freud. Vivia-se a euforia da chamada belle époque, com a valorização do conforto e do “bem viver”. Entretanto, desde o final do século XIX, os países europeus passam por constantes sobressaltos, resultantes da instabilidade e competições políticas, o que acelerava a corrida armamentista. Em 1914, começa a Primeira Guerra Mundial, de proporções até então desconhecidas pela humanidade, que passa a descrer nos sistemas políticos, sociais e filosóficos e questionar os valores de seu tempo. LITERATURA E GRAMÁTICA – 3º ANO – ENSINO MÉDIO TÉCNICO - 2016 13 Dessa descrença e desses questionamentos surgem vários movimentos de vanguarda na Europa que se caracteriza principalmente pela proposta de ruptura radical com o passado e pelo intuito de chocar a opinião pública. Esses movimentos influenciaram o Modernismo brasileiro, entre eles: Futurismo – Propunha a destruição do passado, a exaltação da vida moderna, o culto da máquina e da velocidade, pregando uma arte voltada para o futuro, agressiva, e violenta, enaltecendo a guerra, o militarismo e o patriotismo. Preconizava também a destruição da sintaxe, com os substantivos dispostos ao acaso, a eliminação da pontuação e a abolição do adjetivo, do advérbio e das conjunções. Foi lançado pelo poeta italiano Marinetti. Cubismo - Na pintura decompunha os objetos da realidade cotidiana em diferentes planos geométricos para sugerir a sua estrutura global, como se fossem vistos de diferentes ângulos. Na poesia, valorizava o subjetivismo, a ilogicidade, a frase nominal, o tempo presente e o humor. Na pintura um dos exemplos é Picasso. Dadaísmo – Reflete a atmosfera pessimista da Primeira Guerra Mundial. Pregava a destruição de todos os valores culturais da sociedade que fazia a guerra, instalando o absurdo, o ilógico e o incoerente. Buscava-se assim uma antiarte, irracional e anárquica. Daí o automatismo psíquico, as livres associações, a invenção de palavras, a exaltação da total liberdade de criação, o sarcasmo, a irreverência e a aproximação com o mundo dos loucos e das crianças. Surrealismo – Lançado na França, valorizava o passado, buscava a emancipação total do homem fora da lógica, da razão, da família, da pátria, da moral e da religião. Influenciados pela teoria psicanalítica de Freud, os surrealistas conferiam importância ao sonho e à exploração do inconsciente, praticando o automatismo psíquico e a expressão libertada da censura e sem o controle da razão. EXERCÍCIOS 1) O que refletiam os movimentos da vanguarda européia? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 2) Identifique o movimento de vanguarda a que se refere cada um dos fragmentos de manifesto: a) O princípio: “ama teu próximo” é uma hipocrisia. “Conhece-te” é uma utopia, porém mais aceitável porque contém a maldade. Nada de piedade. Após a carnificina, resta-nos a esperança de uma humanidade purificada; LITERATURA E GRAMÁTICA – 3º ANO – ENSINO MÉDIO TÉCNICO - 2016 14 b) Os poetas e os artistas determinam e concertam a imagem de sua época e docilmente o futuro se amolda ao seu gosto; c) (Os loucos)... são pessoas de uma honestidade escrupulosa e cuja inocência só é comparável à minha (...) os processos lógicos, de nossos dias, só se aplicam à resolução de problemas de interesse secundário; d) Escrevo depressa, sem um assunto preconcebido, suficientemente depressa para não parar e não ter a tentação de reler. A primeira frase virá sozinha, tanto é verdade que a cada segundo existe uma frase estranha ao nosso pensamento consciente que só deseja exteriorzar-se; e) NDA. MODERNISMO BRASILEIRO No Brasil, os governos das oligarquias iam se sucedendo, Minas e São Paulo repartiam o poder, desfavorecendo as camadas empobrecidas da população, os operários e os trabalhadores rurais. À época da Semana de Arte Moderna, o quadro brasileiro era de crises sucessivas, que acabam por gerar a Revolução de 1930, quando Getúlio Vargas assume o poder. Nascido sob as influências das vanguardas européias, o Modernismo brasileiro, em suma primeira fase (1922 – 1930), começou pelo combate às características estéticas tradicionais e conservadoras (Parnasianismo), ansioso pela liberdade de linguagem e afirmação dos novos valores estéticos que pretendia. Semana de Arte Moderna: O modernismo brasileiro não começou em 1922. Desde 1912, com o retorno de Oswald de Andrade da Europa, onde teve contato com as vanguardas, vários acontecimentos delinearam as mudanças que estavam surgindo nas artes brasileiras. Porém o mês de fevereiro de 1922 foi o marco histórico do Modernismo brasileiro. Nos dias 13, 15 e 17, o Teatro Municipal de São Paulo, torna-se centro de uma verdadeira “amostra” das ideias modernistas. São lidos manifestos e poemas; expõem-se quadros e esculturas; músicas são executadas. Tudo diante de um público que reagiu com vaias e apupos. Estava “oficialmente” inaugurado o período de combate dos primeiros modernistas, que investiam, sobretudo, contra os sólidos valores parnasianos. As correntes modernistas: Depois da união inicial em torno da Semana, os modernistas, dividiram-se em grupos e movimentos que refletiam orientações estéticas e ideológicas diversas: Movimento Pau-Brasil – Tinha como objetivo a revalorização dos elementos primitivos da nossa cultura, através da crítica ao falso nacionalismo e da valorização de obras que LITERATURA E GRAMÁTICA – 3º ANO – ENSINO MÉDIO TÉCNICO - 2016 15 redescobrissem o Brasil, seus costumes, sua cultura, seus habitantes e suas paisagens. Dele participaram, principalmente: Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Raul Bopp, Alcântara Machado e Tarsila do Amaral (pintora). Movimento Verde- Amarelo – Liderado por Plínio Salgado, Cassiano Ricardo e Menotti del Picchia, e tendo uma postura nacionalista, repudiava tudo o que fosse cultura importada e tentava mostrar um Brasil grandioso. Entretanto, acabou por revelar uma visão reacionária, sobretudo através de Plínio Salgado, que viria a ser o principal líder do Integralismo, movimento político brasileiro de extrema direita baseado nos moldes fascistas. Movimento antropofágico – Radicalização do Movimento Pau-Brasil, foi lançado em 1928, e opunha-se ao conservadorismo do movimento Verde-Amarelo. Seus participantes eram os mesmos do Movimento Pau-Brasil. Movimento espiritualista – Procurou conciliar o passado com o futuro e manteve-se preso às influências simbolistas. A universalidade dos temas, o mistério, as questões existenciais e o espiritualismo caracterizam, de maneira geral, a produção poética desta corrente que assimilou as renovações da linguagem modernista. Tasso da Silveira, Augusto Frederico Schimidt, Murilo Araújo, Adelino Magalhães, Murilo Mendes e Cecília Meireles são os principais poetas que se aglutinaram em torno dessas ideias. Fases do modernismo brasileiro: Costuma-se dividir o Modernismo brasileiro em três fases: Entretanto, este é um recurso apenas didático. Poetas de uma determinada fase continuaram produzindo, alguns passando por tendências diferentes, mudando e aprimorando sua linguageme temas. Primeira fase (1922 – 1930) ou fase heróica: de combate e destruição, quando ocorre a libertação e renovação da linguagem e são afirmados os valores estéticos do movimento. Segunda fase (1930 – 1945) ou fase construtiva: de estabilização das conquistas, de preocupação social e de tendência introspectiva. Terceira fase (1945 em diante) ou fase de reflexão: de ponderação sobre a linguagem (metalinguagem), com o retorno a alguns modelos estilísticos tradicionais, ao que se soma uma temática universalista. A partir de 1950, surgem novas tendências em poesia, como o Concretismo, O Neoconcretismo, a Poesia-práxis e o Poema-processo. Os Sapos Enfunando os papos, Saem da penumbra, Aos pulos, os sapos. A luz os deslumbra. LITERATURA E GRAMÁTICA – 3º ANO – ENSINO MÉDIO TÉCNICO - 2016 16 Em ronco que aterra, Berra o sapo-boi: -"Meu pai foi à guerra!" — "Não foi!" — "Foi!" — "Não foi!". O sapo-tanoeiro, Parnasiano aguado, Diz: — "Meu cancioneiro É bem martelado. Vede como primo Em comer os hiatos! Que arte! E nunca rimo Os termos cognatos. O meu verso é bom Frumento sem joio. Faço rimas com Consoantes de apoio. Vai por cinquenta anos Que lhes dei a norma: Reduzi sem danos A formas 1 a forma. Clame a saparia Em críticas céticas: Não há mais poesia, Mas há artes poéticas..." Urra o sapo-boi: — "Meu pai foi rei" — "Foi!" — "Não foi"—"Foi!"—"Não foi!" Brada em um assomo O sapo-tanoeiro: — "A grande arte é como Lavor de joalheiro Ou bem de estatuário. Tudo quanto é belo, Tudo quanto é vário, Canta no martelo." Outros, sapos-pipas (Um mal em si cabe), Falam pelas tripas: - "Sei!" — "Não sabe!" — "Sabe!". Longe dessa grita, Lá onde mais densa A noite infinita VOCABULÁRIO enfunar: Inchar; envaidecer. trigo;joio = Erva daninha. O sentido, no poema, é de retoricamente perfeito" aguado: Desagradável, monótono. cético: Que duvida de tudo; descrente. assomo: Irritação, enfurecimento. martelado: Trabalhado; ritmado. lavor: Trabalho. primar: Ser primoroso, hábil. estatuário: Escultor. cognato: Vocábulo que tem raiz comum com outro(s). perau: Declive, barranco. frumento sem joio: frumento = O melhor transido: Esmorecido, abatido. LITERATURA E GRAMÁTICA – 3º ANO – ENSINO MÉDIO TÉCNICO - 2016 17 Verte a sombra imensa; Lá, fugido ao mundo, Sem glória, sem fé, No perau profundo E solitário, é Que soluças tu, Transido de frio, Sapo-cururu Da beira do rio... BANDEIRA, Manuel."Os sapos" In: Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1983. p. 158. INTERPRETAÇÃO DO TEXTO 1) Que recurso sonoro o poeta utiliza na primeira estrofe para imitar a marcha saltitante dos sapos? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 2) Em meio à algazarra dos medíocres, quem simboliza a solidão do artista superior? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 3) Em que versos o poeta resume a sua denúncia do equívoco parnasiano de que a boa métrica e a rima constituiriam a excelência da forma e da poesia? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 4) Qual dos sapos caracteriza a vaidade excessiva de alguns parnasianos? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ LITERATURA E GRAMÁTICA – 3º ANO – ENSINO MÉDIO TÉCNICO - 2016 18 5) Sabendo-se que os três primeiros sapos simbolizam os poetas parnasianos, quem estaria sendo simbolizado pelo sapo-cururu? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ MODERNISMO PORTUGUÊS Contexto histórico: Com a queda da monarquia em 1910, Portugal viveu um breve período democrático até 1926, quando o país passou a ser governado por uma Junta Militar. Neste cenário, surgiu Antônio de Oliveira Salazar, que, inicialmente ministro das Finanças, é nomeado primeiro- ministro em 1932, dando início a um novo período ditatorial desumano e cruel, durante o qual a sua temida PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado, uma espécie de Gestapo nazista em Portugal) perseguiu e assassinou milhares de opositores ao regime. Na década de 1960, Portugal organizou campanhas militares para enfrentar rebeliões em Angola, na Guiné e em Moçambique, fatos que marcaram profundamente a sociedade portuguesa e influenciaram a poesia do período. Em 1968, em virtude de um derrame cerebral, Salazar foi substituído por Marcelo Caetano, que governou até ser deposto, em 1974, por um movimento militar que passou à história com o nome de Movimento de 25 de abril (ou Revolução dos Cravos). Com o fim das guerras coloniais e com a independência da Guiné-Bissau, Moçambique, Cabo Verde, Angola e são Tomé e Príncipe, entre 1974 e 1975, o regresso de tropas e colonos agravou os problemas de desemprego e crescimento urbano. Os anos que se seguiram foram de instabilidade, quadro que começou a mudar em 1976, quando os socialistas conseguiram a maioria dos votos e Mário Soares foi indicado primeiro-ministro. Em 1986, Portugal entrou para a Comunidade Econômica Européia, o que contribuiu para a melhoria da sua economia, chegando ao final do século XX com altos índices de crescimento econômico e uma expressiva melhoria nas condições de vida de seu povo. Correntes do Modernismo português da primeira metade do século XX: O Modernismo português teve várias correntes e grupos, os quais se situam, didaticamente, entre 1915 e 1950. Orfismo - 1915 : A publicação da revista Orfeu, em 1915, que reunia um grupo de escritores e artistas plásticos, é o marco inicial do modernismo em Portugal. Em seus dois únicos números estavam as figuras mais representativas do Modernismo português: Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e Almada Negreiros. LITERATURA E GRAMÁTICA – 3º ANO – ENSINO MÉDIO TÉCNICO - 2016 19 Esses escritores repudiavam o idealismo romântico da burguesia, a qual pretendiam escandalizar, e procuravam imprimir ao ambiente literário português o tom europeu, com a proposta de romper com o passado e de exprimir na arte o dinamismo da vida moderna, assimilando as propostas vanguardistas do início do século, entre elas o Futurismo. No mesmo momento, destacam-se Aquilino Ribeiro e Florbela Espanca, embora não tenham ligações com os poetas de Orfeu. Presencismo – 1927 : Em 1927, surge a revista Presença, que teve 54 números até 1947. Coincidindo com o início do fim da democracia em Portugal, os presencistas aspiravam a uma literatura desvinculada de qualquer posição de caráter político e religioso. Embora marcados por um conservadorismo político-ideológico, os presencistas combatiam o academicismo e difundiam a estética modernista, esforçando-se para tornar conhecida a obra de Fernando Pessoa. Desse grupo saíram algumas tentativas de renovação do romance português, como, por exemplo, Jogoda cabra-cega, de José Régio. Destacaram-se na poesia, na prosa e na crítica literária: Adolfo Casais Monteiro, Alberto Serpa, Antônio Boto, Carlos Queirós, João Gaspar Simões, Miguel Torga, Vitorino Nesmésio e outros. Neo-Realismo – 1930: Ao longo da década de 30 processou-se a revalorização do realismo, encontrando em Ferreira de castro um precursor do qual seria chamado de Neo-Realismo, com o romance A selva (1930). Em 1939, Alves Redol publicou Gaibéus, marco definitivo dessa tendência e que teve larga aceitação. Fruto da insatisfação com a ditadura salazarista, os neo-realistas voltavam-se para as questões sociais do país, objetivando conscientizar os leitores e denunciar a corrosão da estrutura política, econômica e social de Portugal. Entre 1941 e 1944, os poetas neo-realistas publicaram 10 volumes do Novo Cancioneiro, coletânea onde se encontram os poetas mais representativos do período: Carlos de Oliveira, José Gomes Ferreira, Mário Dionísio, e outros. Na prosa, além dos precursores, conquistaram notoriedade: Augusto Abelaira, Carlos de Oliveira, Fernando Namora, José Cardoso Pires, José Gomes Ferreira, Manuel da Fonseca, Urbano Tavares Rodrigues, Vergílio Ferreira (no começo de sua carreira), entre outros. O Surrealismo tardio: a geração de 50: O Surrealismo chega tardiamente em Portugal, por volta de 1947, agrupando alguns poetas liderados por Mário Cesariny. Numa oposição clara ao facismo salazarista, esses poetas utilizavam o humor, a exploração de imagens do inconsciente e automatismo psíquico. Entre eles, destacaram-se: Antônio Maria Lisboa e Alexandre O’Neill. Principais autores: LITERATURA E GRAMÁTICA – 3º ANO – ENSINO MÉDIO TÉCNICO - 2016 20 Fernando Pessoa ,o criador de poetas ,o multiplicador de eus- Usava vários heterônimos, assinando as suas obras de acordo com a personalidade de cada um deles. O poeta insistia no fato de que não se tratava de pseudônimos, já que eram individualidades distintas do autor. Sua capacidade de deixar-se possuir por outros seres,que como ele são poetas ,e de assim criar os outros eus, os heterônimos,tem sido tema de inumeráveis estudos,debates e controvérsias. Álvaro de Campos, um dos heterônimos do poeta,afirma que ‘`fingir`` é conhecer- se”enquanto Pessoa,num de seus poemas mais conhecidos,diz que:”O poeta é um fingidor- Finge tão completamente\Que chega a fingir que é dor.A dor que deveras sente’. Esse paradoxos apontam para a modernidade do poeta,em seu reconhecimento da perda da identidade do ser humano,da fragmentação do eu,cindindo num mundo que destruiu as certezas inquestionáveis e quebrou o mito da personalidade como algo inteiro,igual a si mesmo. Nesse sentido,o ‘fingimento’ pessoano,isto é,o processo de despersonalização que faz o poeta’inventar-se’através de outras criaturas- as quais,no entanto dentro de si-pode ser entendido como busca de recriação poética de uma unidade perdida,de algo que seja absoluto,que transcenda todas as verdades parciais ,relativas,fragmentadas. Assumindo a sua diversidade,a sua pluralidade,a sua multiplicidade de elementos,quase sempre conflitantes.Pessoa procura a unidade,a integridade da pessoa humana Os heterônimos,portanto,não são máscaras literárias ,não se confundem com pseudônimos.Pessoa não inventou personagens-poetas,mas criou obras de poetas, e,em função delas,as biografias de Álvaro de Campos,Ricardo Reis e Alberto Caeiro, seus principais heterônimos. Fernando Pessoa ortônimo:o poeta-filósofo,que conjuga lucidez e vivência: Nasceu em 1888,em Lisboa,vindo a falecer na mesma cidade,em 1935,com apenas 47 anos;órfão de pai ainda criança passou a infância e a adolescência em Durban,na África do Sul,onde obteve educação inglesa,tornando-se um poeta bilíngue, Em 1905,prestes a ingressar na Universidade do Cabo,precisou voltar para Lisboa.Lá chegou a iniciar o curso de Letras,abandonando-o para instalar uma tipografia.que fracassou.Trabalhou obscuramente como correspondente estrangeiro-redator de cartas comerciais em inglês e francês –atividade modesta,que acabou por sustentá-lo a maior parte da vida. Embora tenha participado das publicações do Modernismo português,seu único livro publicado em vida foi:’Mensagem”,obra com a qual participou de um concurso de poesia do Secretariado da Propaganda Nacional,em Lisboa,em 1934,pouco antes de morrer. , O prêmio de segunda categoria que lhe deram,nessa última experiência literária,mostra o quanto não foi reconhecido em vida,embora tenha dedicado toda ela à arte e a poesia.É considerado um dos maiores poetas europeus. Além de Mensagem,escreveu Poemas completos de Alberto Caeiro,Odes de Ricardo Reis,Poesias de Álvaro de Campos,Poemas dramáticos,Poesias coligidas ,Quadras ao gosto popular,Novas poesias inéditas.Em prosa suas obras são:Páginas de Doutrina Estética,A nova poesia portuguesa,Análise da vida mental portuguesa,Apologia do paganismo e Páginas íntimas e autointerpretação. Poeta filosófico,sutil e complexo,Fernando Pessoa escreve em redondilhas rimadas,fundamentalmente procurando reunir o”sentir’ e o ‘pensar’(‘O que em mim sente está pensando’). A inquietação,a necessidade de compreender todas as coisas,a busca constante de consciência,que inclui saber ser ela uma impossibilidade,constituem alguma das características fundamentais de sua vida. LITERATURA E GRAMÁTICA – 3º ANO – ENSINO MÉDIO TÉCNICO - 2016 21 Fernando Pessoa é o poeta que conjuga lucidez e vidência,que se coloca entre o pendor para a paixão,o sonho,a entrega mágico-poeta aos mistérios e a postura de constante indagação crítica. Assim,fragmentou-se,multiplicou-se,reinventou-se,convivendo em profundidade com todas as grandes contradições do nosso tempo e recriando-as poeticamente,numa das monumentais obras-primas do século XX. Mar portuguez Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portygal! Por te cruzarmos,quantas mães choraram, Quantos filhos em vão resaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso,ó mar! Fernando Pessoa.Op.cit.pág.82. Alberto Caeiro,o poeta-pastor – É o poeta ingênuo. Criado no campo, apega-se à simplicidade natural da vida, à franqueza e à alegria. Procura ver as coisas como elas são, sem subjetivismo e metafísica. O mundo é para ele o que aí está, não havendo nada a desvendar, já que não existiria nenhum outro sentido oculto por trás das aparências. Álvaro de Campos ,o poeta das sensações do homem moderno– É o poeta moderno. Tem a visão do homem urbano, agressivo e agitado, que exalta o progresso, mas carrega também a angústia da sua época. Na linha do Futurismo, celebra a máquina, a velocidade e a simultaneidade das sensações. È o mais emotivo de todos. Questiona as ilusões e fantasias humanas. Ricardo Reis,o poeta neoclássico – É o poeta neoclássico. Seu estilo é trabalhado, cuidadoso no vocabulário e na sintaxe de influência latina. Assim como os clássicos, é pagão e, como Caeiro, prega o amor à natureza e à vida rústica. Sofre por se saber efêmero, mortal. Fernando Pessoa “ele mesmo” – É o poeta múltiplo. Sua poesia ora é mística, ora é nacionalista, ora é de uma profunda reflexão psicológica e metafísica, como o poema “autopsicografia”. Avesso ao sentimentalismo, expressa suas emoções equilibradas pela inteligência e pelo intelecto. Parte de sua poesia mantém laços com o Simbolismo. Místico e esotérico, revela paixão pelo mistério. O apego à solidão, o tédio, a saudade e o questionamento do eu são outras características de Fernando Pessoa “ele mesmo”. AUTOPSICOGRAFIA O poeta é um fingidor. Finge tão completamente LITERATURA E GRAMÁTICA – 3º ANO – ENSINO MÉDIO TÉCNICO - 2016 22 Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. E os que leem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles têm. E assim nas calhas de roda Gira, aentreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama o coração. (Fernando Pessoa) INTERPRETAÇÃO DO TEXTO 1) Dê o significado dos radicais que entram na composição do título do poema. O que ele nos sugere, relacionado que está ao caráter metalinguístico do texto? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 2) Literatura é ficção, palavra originária do latim fictione que significa simulação, fantasia. O texto literário cria uma nova realidade, baseada não só no mundo real, mas também na imaginação e criação do artista. Em que verso o eu-lírico retoma esse conceito? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 3) Identifique no poema os versos que fazem referência à dor verdadeira, à dor escrita e à dor lida. __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 4) A partir da sua imaginação, o poeta constrói um texto que acaba por preencher os momentos de lazer dos leitores. Retire da última estrofe os substantivos que correspondem a esta ideia. LITERATURA E GRAMÁTICA – 3º ANO – ENSINO MÉDIO TÉCNICO - 2016 23 __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ EXERCÍCIOS 1) Que revista inaugura didaticamente o Modernismo português? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 2) Identifique nos textos seguintes os principais heterônimos de Fernando Pessoa: a) Amo-vos a todos, a tudo, como uma fera Amo-vos carnivorosamente, Pervertidamente e enroscando a minha vista Em vós, ò coisas grandes, banais, úteis, inúteis, Ò coisas todas modernas, Ò minhas contemporâneas, forma atual e próxima Do sistema do Universo! Nova Revelação metálica e dinâmica de Deus! b) O meu olhar azul como o céu É calmo como a água ao sol. É assim, azul e calmo, Porque não interroga nem se espanta... c) Vem sentar-se comigo, Lídia, à beira do rio. Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas. (Enlacemos as mãos) 3) Que autor é considerado o precursor do Neo-Realismo português? Com que obra? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ LITERATURA E GRAMÁTICA – 3º ANO – ENSINO MÉDIO TÉCNICO - 2016 24 4) Que autor e que obra marcam definitivamente o início do Neo-Realismo português? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ MODERNISMO NO BRASIL PRIMEIRA FASE (1922 – 1930): A primeira fase do Modernismo, marcada pelo signo da transformação, ficou conhecida como a fase “heróica” ou de destruição, pela postura de rompimento com o passado, vista por muitos como anárquica e destruidora. Dentre as principais características literárias observadas nos textos dessa geração, destacam-se: Negação do passado, caráter destrutivo; Eleição do moderno como um valor em si mesmo; Valorização do cotidiano; Nacionalismo; Redescoberta da realidade brasileira; Desejo de liberdade no uso das estruturas da língua; Predominância da poesia sobre a prosa. Principais autores: Mário de Andrade – Estreou com um livro de influências parnasianas e simbolistas. Mas Paulicéia desvairada(1922) seria o primeiro livro do Modernismo Brasileiro. As obras ficcionistas desse autor podem ser divididas em duas vertentes: a primeira trata do universo familiar da burguesia paulistana e da gente do povo – Amar, verbo intransitivo e a série de contos que publicou. A segunda origina-se do aproveitamento de lendas indígenas, mitos, anedotas populares e elementos do folclore nacional, com os quais compôs sua obra prima, Macunaíma. O herói apresenta traços bem definidos, como a preguiça, o deboche, a irreverência, a malandragem, a sensualidade, o individualismo e o sentimentalismo. Entretanto, o caráter do herói muda de um episódio para outro, o que justifica qualifica-lo de “herói sem nenhum caráter”. Obras: LITERATURA E GRAMÁTICA – 3º ANO – ENSINO MÉDIO TÉCNICO - 2016 25 Poesia – Há uma gota de sangue em cada poema, Paulicéia desvairada, Losango cáqui, Clã do jabuti, Remate de males, Lira paulistana; Ficção – Amar, verbo intransitivo, Macunaíma, Os contos de Belazarte, Contos novos; Ensaio – A escrava que não é Isaura, Aspectos da literatura brasileira, O empalhador de passarinhos. MACUNAÍMA (fragmento) Macunaíma parte do interior da selva amazônica rumo a são Paulo para reaver o amuleto que ganhara de sua mulher, que subira aos céus desgostosa com a morte do filho. Macunaíma, junto com seus irmãos Jiguê e Maanape, participa de várias façanhas até recuperar o amuleto que estava em poder de Venceslau Pietro Pietra (o gigante Piaimã). Contudo, perde-o novamente, enganado pela Uiara (divindade dos rios e dos lagos). Desiludido e sozinho depois da morte dos irmãos, resolve subir aos céus e deixar-se transformar na constelação de Ursa Maior. O trecho seguinte narra as transformações de Macunaíma e seus irmãos, ao se banharem nas águas de uma cova avistada na rocha, quando seguiam para São Paulo pelo rio Araguaia. Então Macunaíma enxergou numa lapa bem no meio do rio uma cova cheia d’água. E a cova era que-nem a marca dum pé-gigante. Abicaram. O herói depois de muitos gritos por causa do frio da água entrou na cova e se lavou inteirnho. Mas a água era encantada porque aquele buraco na lapa era a marca do pezão do Sumé, do tempo em que andava pregando o evangelho de Jesus pra indiada brasileira. Quando o herói saiu do banho estava branco louro e de olhos azuizinhos, água lavara o pretume dele. E ninguém não seria capaz mais de indicar nele um filho da tribo retinta dos Tapanhumas. Nem bem Jiguê percebeu o milagre, se atirou na marca do pezão do Sumé. Porém a água já estava muito suja da negrura do herói e por mais que Jiguê esfregasse feito maluco atirando água para todos os lados só conseguiu ficar com a cor do bronze novo. (...) - Olhe, mano Jiguê, branco você ficou não, porém pretume foi-se e antes fanhoso que sem nariz. Maanape então é que foi se lavar, mas Jiguê esborrifara toda a água encantada pra fora da cova. Tinha só um bocado lá no fundo e Maanape conseguiu molhar só a palma dos pés e das mãos. Por isso ficou negro bem o filho da tribo dos Tapanhumas. Só que as palmas das mãos e dos pés dele são vermelhas por terem se limpado na água santa. (Mário de Andrade) Vocabulário: Lapa – grande pedra ou laje que forma um abrigo. LITERATURA E GRAMÁTICA – 3º ANO– ENSINO MÉDIO TÉCNICO - 2016 26 Abicar – encalhar propositamente com a proa. Sumé – São Tomé. Segundo a lenda, há no Brasil várias marcas dos pés de São Tomé em sua peregrinação apostólica, antes do descobrimento. INTERPRETAÇÃO DO TEXTO 1) Alegoria é a exposição de um pensamento sob forma figurada. O texto lido é uma representação alegórica de quê? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 2) Que reação de Macunaíma não condiz com o que se espera de um herói, prenunciando o anti-heroi? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 3) Os modernistas da 1ª fase procuravam romper com a linguagem formal e incorporar a fala coloquial (uso do vocabulário e sintaxe bem próximos da linguagem cotidiana). Muitas vezes utilizavam registros populares da língua ou não utilizavam pontuação, contrariando a gramática normativa. Indique no texto passagens que exemplificam essa afirmação. __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 5) Mário de Andrade valoriza a lógica e a razão nesse texto? Por quê? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ Oswald de Andrade – Buscou uma poesia que expressasse o genuinamento brasileiro e percorresse, desde os tempos coloniais, a vida rural e urbana do país, que procurou ver com olhar ingênuo da criança e o da pureza primitiva do índio. Reaproveitando textos dos primeiros LITERATURA E GRAMÁTICA – 3º ANO – ENSINO MÉDIO TÉCNICO - 2016 27 viajantes (sobretudo de Caminha), escreveu poemas breves, em versos livres e brancos, com linguagem coloquial, humor e paródia, recusando a estrutura discursiva do verso tradicional. Obras: Poesia – Pau-brasil, Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade; Romance – Trilogia do exílio: I Os condenados, II A estrela do absinto, III A escada vermelha, Memórias sentimentais de João Miramar, Serafim Ponte Grande, Marco zero I: A revolução melancólica, Marco zero II: Chão; Teatro – O homem e o cavalo, O rei da vela, A morta, O rei Floquinhos (infantil) MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE JOÃO MIRAMAR (fragmento) É considerada a primeira grande realização da prosa modernista. Rompendo com esquemas tradicionais da narrativa, a obra é construída a partir de fragmentos justapostos, de blocos que rompem com a seqüência discursiva e de capítulos relâmpagos, assemelhando-se à justaposição cinematográficas, o que impossibilita uma leitura linear da história e deixa a cargo do leitor a recomposição da narrativa. A paródia, a técnica cubista (aproximação de elementos distanciados, como a pintura de um olho sobre a perna, por exemplo), a frase sincopada, as elipses que devem ser preenchidas pelo leitor, a linguagem infantil e poética, e outras inovações fazem das Memórias uma obra revolucionária para sua época. O recurso metonímico, dentro da técnica cubista, é levado ao extremo, como nesta passagem em que empresta a uma porta as mangas de camisa e as barbas de quem foi abri-la: Um cão ladrou à porta barbuda em mangas de camisa e uma lanterna bicor mostrou os iluminados na entrada da parede. 3. Gare do infinito Papai estava doente na cama e vinha um carro e um homem e o carro ficava esperando no jardim. Levaram-me para uma casa velha que fazia doces e nos mudamos para a sala do quintal onde tinha uma figueira na janela. No desabar do jantar noturno a voz toda preta de mamãe ia me buscar para a reza do Anjo que carregou meu pai. 8. Fraque do ateu Saí de D. Matilde porque marmanjo não podia continuar na classe com meninas. Matricularam-se na escola-modelo das tiras de quadros nas paredes alvas escadarias em um cheiro de limpeza. LITERATURA E GRAMÁTICA – 3º ANO – ENSINO MÉDIO TÉCNICO - 2016 28 Professora magrinha e recreio alegre começou a aula da tarde um bigode de arame espetado no grande professor Seu Carvalho. No silêncio tique-taque da sala de jantar informei mamãe que não havia Deus porque Deus era a natureza. Nunca mais vi o Seu Carvalho que foi para o Inferno. (Oswald de Andrade) INTERPRETAÇÃO DO TEXTO 1) Que fases da vida de João Miramar estão representadas nos capítulos transcritos? _____________________________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 2) Que parágrafo do capítulo 3 melhor caracteriza a linguagem infantil? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 3) Destaque do capítulo 3 a metonímia que registra a força do luto materno na memória do narrador. __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 4) Por que Seu Carvalho perdeu o emprego de professor? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ LITERATURA E GRAMÁTICA – 3º ANO – ENSINO MÉDIO TÉCNICO - 2016 29 Manuel Bandeira – Não participou diretamente da Semana de 22, mas seu poema “Os sapos” lida por Ronald de Carvalho, provocou reações radicais na segunda noite do acontecimento. Mário de Andrade chamava-o de “O São João Batista do Modernismo”. O caráter geral de sua poesia é marcado ainda pelo tom confidencial, pelo desejo insatisfeito, pela amargura e por referências autobiográficas relacionadas com a sua doença (a tuberculose), com os lugares onde morou (sobretudo o bairro da Lapa, no Rio de Janeiro) e com a família. Ainda que se note em várias passagens da sua obra a herança do Romantismo, Bandeira soube evitar o sentimentalismo piegas, edificando uma obra depurada e de grande valor estético. Obras: Poesia – A cinza das horas, Carnaval, Ritmo dissoluto, Libertinagem, Estrela da manhã, Lira dos cinquent’anos, Belo, belo, Estrela da vida inteira; Prosa – Crônicas da província do Brasil, Guia de Ouro Preto, Itinerário de Pasárgada, Andorinha, andorinha. Alcântara Machado – Importante contista da primeira fase do Modernismo, retratou a vida e as gentes de São Paulo, com predileção pelo imigrante italiano. Nos bairros populares, suas personagens vivem as cenas do cotidiano: a partida de futebol, as brigas de rua, as festas, etc. Diminuindo a distância entre a língua falada e a escrita, incorporou a linguagem popular, os italianismos e uma sintaxe simples, o que resultou numa prosa leve e num estilo moderno.Obras: Contos e novelas – Pathé-Baby; Brás, Bexiga e Barra Funda; Laranja da China; Mana Maria; Novelas paulistanas. EXERCÍCIOS 1) O que pretendia a 1ª fase do Modernismo? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 2) Qual autor da 1ª fase que escrevia sobre a cidade de São Paulo? LITERATURA E GRAMÁTICA – 3º ANO – ENSINO MÉDIO TÉCNICO - 2016 30 __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 3) Qual autor da 1ª fase em que suas obras são marcadas pela amargura e autobiografia? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 4) A figura do imigrante italiano e do homem do povo e a incorporação da linguagem popular encontram-se nos livros de que autor paulistano? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ SEGUNDA FASE (1930 – 1945) Contexto histórico: Em 1930, têm início os quinze anos da ditadura de Getúlio Vargas. Com o objetivo de obter apoio junto às massas, Getúlio toma uma série de medidas: o país é dotado de uma legislação trabalhista e previdenciária, decreta-se o salário mínimo e adotam-se providências para a criação de um partido trabalhista. Em 1945, é decretada a anistia para os presos políticos e são convocadas eleições para dezembro. Porém, as suspeitas de um novo golpe getulista, naquele ano, provocam o descontentamento dos militares, que, num movimento liderado pelo general Góis Monteiro, depõe o ditador. A literatura da 2ª fase: POESIA: A geração de 30, despreocupada com as questões imediatas de 22 (o nacionalismo, o folclore, a destruição dos esquemas do passado, etc), voltava-se para as questões universais do homem e para os problemas da sociedade capitalista. É o que se dá, por exemplo, na poesia de Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes e Jorge de Lima. Em Vinícius de Moraes e Cecília Meireles, a temática universalizante também estará presente, embora suplantada por uma poesia personalista. LITERATURA E GRAMÁTICA – 3º ANO – ENSINO MÉDIO TÉCNICO - 2016 31 Por outro lado, alguns dos mais importantes poetas de 30, entre eles Murilo Mendes, Jorge de Lima e Cecília Meireles, icorporarariam a religiosidade e o misticismo em seus poemas. Finalmente é preciso observar que a geração de 30 não processou uma mudança repentina e tampouco limita-se àquele período. Os poetas de 22, agora mais amadurecidos, continuariam em plena atividade, paralelamente aos de 30, e alguns destes também continuariam produzindo e se renovando até o final do século XX. Principais autores: Carlos Drummond de Andrade – Seu nome está associado ao que se fez de melhor na poesia brasileira até hoje. Pela grandiosidade e pela qualidade, sua obra não permite qualquer tipo de esquematização. Por isso, segue abaixo alguns aspectos da poesia de Drummond: a) O cotidiano – De acontecimentos banais, corriqueiros, gestos ou paisagens simples, o eu-lírico extrai poesia. b) O aspecto gauche – a palavra gauche, de origem francesa, corresponde a “esquerdo” em nosso idioma. Em sentido figurado, o termo pode significar “acanhado”, “inepto”. Qualifica o ser às avessas, o “torto”, aquele que está à margem da realidade circundante e que com ela não consegue se comunicar. É assim que o poeta se vê: como gauche. c) A preocupação social e política – Muitos poemas denunciam a opressão que marcou o período da Segunda Grande Guerra e a ascensão do nazi-fascismo. d) Reminiscências – O passado ressurge muitas vezes na poesia de Drummond e sempre como antítese para a realidade presente. A terra natal – Itabira – transforma-se então no símbolo da atmosfera cultural e afetiva vivida pelo poeta. Nos primeiros livros, a ironia predominava na observação desse passado; mais tarde, o que vale são as impressões gravadas na memória. Na reinterpretação desse passado, o tom predominante é de afeto, não mais de ironia. e) O amor – Nos primeiros livros, o tema merece tratamento irônico. Mais tarde, o poeta procura captar a essência desse sentimento e só encontra como Camões e outros – as contradições, que se revelam no antagonismo entre o definitivo e o passageiro, o prazer e a dor. f) Metalinguagem: a poesia torna-se assunto do poema – A reflexão sobre o ato de escrever faz parte das preocupações do poeta e ajuda o leitor a entender seu conceito de poesia. Obras: Poesia - Algumas poesias; Brejo das almas; Sentimento do mundo; Poesias; A rosa do povo; A vida passada a limpo; Menino antigo; Discurso de primavera e algumas sombras; Corpo; O amor natural, entre outros; Prosa – Confissões de Minas; Contos de aprendiz; Passeio na ilha, Fala, amendoeira; Boca de luar; entre outros. POEMA DE SETE FACES Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida. As casas espiam os homens que correm atrás das mulheres. A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos. LITERATURA E GRAMÁTICA – 3º ANO – ENSINO MÉDIO TÉCNICO - 2014 32 INTERPRETAÇÃO DO TEXTO 1) Que relação se pode estabelecer entre o título do poema e o número de estrofes? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 2) Que elemento comum identifica o poeta e o anjo? __________________________________________________________ __________________________________________________________ Vocabulário guache: fr. [gôshi] Deslocado, desajustado, à esquerda dos acontecimentos. LITERATURA E GRAMÁTICA – 3º ANO – ENSINO MÉDIO TÉCNICO - 2014 33 __________________________________________________________ __________________________________________________________ 3) Há uma aparente desconexão entre as várias estrofes, como se o poeta registrasse flashes da realidade. Identifique cada uma das estrofes, a partir da idéia básica de cada uma delas, que assinalamos a seguir: a) flash do adulto sério, reservado – ___________________________ b) nascimento do poeta – ___________________________ c) percepção de um mundo inquieto, que poderia ser mais belo – ________________________________ d) desajustamento entre a realidade interior e a exterior, aliado à percepção da sexualidade - _________________________________________ 4) Em que verso o poeta utiliza uma passagem bíblica? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 5) Em que estrofe o poeta descobre-se impotente diante do mundo? Transcreva o verso que evidencia essa sensação. __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ Murilo Mendes – Faz parte de um grupo de intelectuais que, na década de 30, encontraram no cristianismo a respostapara a crise política e ideológica que o mundo atravessava. Embora seja um escritor pouco lido ainda hoje, a obra de Murilo Mendes apresenta uma superior qualidade literária. A seguir, apontam-se alguns aspectos de sua poesia: a) Humor e ironia como instrumento crítico – Esse é o tom dos poemas que herdam algumas características da primeira fae do Modernismo. b) O cristianismo – Nesse cristianismo ressaltam dois aspectos: 1- a ênfase sobre a finitude do homem; 2 – o heroísmo de Cristo, considerado mais como homem que como Deus. Obras: Poesia – Poemas; História do Brasil; Tempo e eternidade; A poesia em pânico; O visionário; As metamorfoses; Mundi enigma, entre outros; LITERATURA E GRAMÁTICA – 3º ANO – ENSINO MÉDIO TÉCNICO - 2014 34 Prosa – O discípulo de Emaús; A idade do serrote; Trasistor; antologia. Jorge de Lima – Como Murilo Mendes, faz parte do grupo de intelectuais que encontraram no cristianismo a resposta para a crise política e ideológica que o mundo atravessava. A temática de suas principais obras poéticas pode ser assim resumida: a) XIV alexandrinos apresentam versos ainda ligados ao Parnasianismo; b) Novos poemas têm o negro e o folclore como assuntos principais; c) Tempo e eternidade, obra em que contribuiu com 45 poemas, aponta na religião a solução para a realidade injusta, conturbada e excessivamente materialista; d) Invenção de Orfeu é um longo poema que procura interpretar simbolicamente a ligação entre o homem e o universo; Vinícius de Moraes – Em primeiro momento, sua obra pode ser dividida em duas fases: místico-religiosa e encontro com o mundo material e cotidiano. O poeta expressa, com intensa angústia, a constante oposição entre a matéria e espírito, do qual resulta a sensação do pecado. A existência terrena configura-se para ele como o caos, o abismo. Poeta lírico por excelência, em sua segunda fase, alia temas modernos à mais apurada forma clássica de composição, o soneto, deixando-nos algumas obras-primas. Obras: Poesia – O caminho para a distância; Forma e exegese; Ariana, a mulher; Novos poemas; Cinco elegias; Poemas, sonetos e baladas; Pátria minha; Livro de sonetos; Novos poemas II; Crônica – Para viver um grande amor; Para uma menina com uma flor; Teatro – Orfeu da Conceição, em versos; Procura-se uma rosa; Cordélia e o peregrino, em versos. Cecília Meireles – São duas as características de suas obras: a musicalidade e a preocupação com a fugacidade do tempo e a precariedade das coisas e dos seres. Da consciência dessa fragilidade de tudo, decorre o tom melancólico de muitos de seus poemas. Não se filiou radicalmente a nenhuma das tendências modernistas. Sua poesia lírica enraíza na tradição luso-brasileira. Em boa parte de sua obra a realidade exterior transportada para o poema reduz-se quase exclusivamente a elementos móveis, etéreos, instáveis, efêmeros. Esses elementos são metáforas para a falta de duração de tudo Um dos pontos altos de sua obra poética é o Romanceiro da Inconfidência, que lhe custou pesquisas históricas e no qual, empregando o melhor de sua técnica, revela o seu amor à pátria e sua admiração pelos mártires da Inconfidência Mineira. LITERATURA E GRAMÁTICA – 3º ANO – ENSINO MÉDIO TÉCNICO - 2014 35 Obras: Poesia – Espectros; Nunca mais... e Poema dos poemas; Baladas para El rei; Viagem; Vaga música; Mar absoluto; Retrato natural; romance de Santa Cecília, entre outros. EXERCÍCIOS 1) Como é caracterizado a 2ª fase do Modernismo? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 2) Os poetas da geração de 30 estavam preocupados com o quê? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 3) Quais são os poetas que em seus poemas incorporaram a religiosidade? _____________________________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 4) Quais as principais características da poesia de Carlos Drummond de Andrade? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 5) Qual dos poetas da 2ª escrevia através de sonetos? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ LITERATURA E GRAMÁTICA – 3º ANO – ENSINO MÉDIO TÉCNICO - 2014 36 SONETO DO MAIOR AMOR Maior amor nem mais estranho existe Que o meu, que não sossega a coisa amada E quando a sente alegre, fica triste E se vê descontente, dá risada. E que só fica em paz se lhe resiste O amado coração, e que se agrada Mais da eterna aventura em que persiste Que de uma vida mal-aventurada Louco amor meu, que quando toca, fere E quando fere vibra, mas prefere Ferir a fenecer – e vive a esmo Fiel à sua lei de cada instante Desassombrado, doido, delirante Numa paixão de tudo e de si mesmo. (Vinícius de Morais) Vocabulário: Mal-aventurado – infeliz, desventurado; Fenecer – acabar, morrer; A esmo – ao acaso, sem rumo; Desassombrado – corajoso; exposto; franco. INTERPRETAÇÃO DO TEXTO 1) O que o eu-lírico leva em consideração para definir o seu amor como um amor “estranho”? Exemplifique. __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ LITERATURA E GRAMÁTICA – 3º ANO – ENSINO MÉDIO TÉCNICO - 2014 37 2) Que estrofe contém a idéia de que a graça do amor é a conquista e de que é melhor arriscar- se no amor do que levar uma vida sem graça? Justifique destacando es expressões que opõem uma possibilidade a outra. __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 3) O poema lírico deve ser rico em musicalidade. Que recurso sonoro se destaca na 3ª estrofe deste soneto? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ 4) Identifique o verso em que o eu-lírico declara amar, além da pessoa amada, o próprio sentimento de amar. __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ PROSA: Nos anos 30, a ficção dá novo salto qualitativo com o aparecimento de escritores de grande importância, que se distribuem basicamente em três vertentes: a) prosa regionalista – As raízes do regionalismo já se encontravam no século anterior, com O
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