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Pré-Universitário/SEED Linguagens, Códigos e suas Tecnologias – Literatura 364 PRÉ – MODERNISMO O Pré-Modernismo foi um período de intensa movimentação literária que marcou a transição entre o Simbolismo e o Modernismo e foi caracterizado pelas produções desde início do século até a Semana de Arte, me 1922. Para muitos estudiosos, esse período não deve ser considerado uma escola literária, uma vez que inúmeras produções artísticas e literárias distintas; em outras palavras um sincretismo estético, com a presença de características neorrealista, neo-parnasiana e neo-simbolistas. Características brasileiras do Pré-Modernismo Ruptura com o academicismo Ruptura com o passado e a linguagem parnasiana. Linguagem coloquial e simples. Exposição da realidade social brasileira. Regionalismo e nacionalismo. Marginalidade das personagens: o sertanejo, o caipira, o mulato. Temas: históricos, políticos, econômicos e sociais. Representantes do Pré-Modernismo Nesse momento, os escritores assumem uma posição crítica em relação à sociedade e aos modelos anteriores. Por isso, muitos escritores pré-modernos rompem com a linguagem formal do Parnasianismo e, além disso, exploram temas históricos, visto que o Brasil passava por momentos como a República do Café-com-leite e inúmeras revoltas (Revolta da vacina, revolta da Chibata, Revolta Armada e a Revolta de Canudos). Os Pré-Modernista que se destacaram: Prosa Euclides da Cunha – escritor, poeta, ensaísta, jornalista, historiador, sociólogo, geógrafo e engenheiro brasileiro. Ocupou a cadeira 7 na Academia Brasileira de Letras de 1903 a 1906. Publicou “Os Sertões: campanha de Canudos” em 1902, obra regionalista, dividida em três partes: Resumo de Os sertões Terra é uma descrição detalhada feita pelo cientista Euclides da Cunha, mostrando todas as características do lugar, o clima, as secas, a terra, enfim. O Homem é uma descrição feita pelo sociólogo e antropólogo Euclides da Cunha, que mostra o habitante do lugar, sua relação com o meio, sua gênese etnológica, seu comportamento, crença e costume; mas depois se fixa na figura de Antônio Conselheiro, o líder de Canudos. Apresenta se caráter, seu passado e relatos de como era a vida e os costumes de Canudos, como relatados por visitantes e habitantes capturados. Estas duas partes são essencialmente descritivas, pois na verdade "armam o palco" e "introduzem os personagens" para a Canudos, relatada na terceira parte, A Luta é uma descrição feita pelo jornalista e ser humano Euclides da Cunha, relatando as quatro expedições a Canudos, criando o retrato real só possível pela testemunha ocular da fome, da peste, da miséria, da violência e da insanidade da guerra. No final, foi apenas um massacre violento onde estavam todos errados e o lado mais fraco resistiu até o fim com seus derradeiros defensores - um velho, dois adultos e uma criança. Graça Aranha - escritor e diplomata maranhense. Um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras e um dos organizadores da Semana de Arte Moderna de 1922. Sua obra que merece destaque é "Canaã" publicada em 1902 cuja obra aborda a migração alemã no estado do espírito Santo. Outras obras que merecem destaque: Malazarte (1914), A Estética da Vida (1921) e Espírito Moderno (1925). Resumo de Canaã Canaã conta a história de Milkau e Lentz, dois jovens imigrantes alemães que se estabelecem em Porto do Cachoeiro, ES. Amigos e antagônicos ao mesmo tempo, Milkau é a integração e a paz, admirando o Novo Mundo, Lentz é a conquista e a guerra, pensando no dia que a Alemanha invadirá e conquistará aquela terra. Ainda assim, ambos se unem e trabalham juntos na terra e prosperam. Mais tarde aparece Maria, filha de imigrantes pobres, que é abandonada ao léu quando morre seu protetor e lhe abandona o amante, que pensava ser seu futuro marido. Vagando, tomada como louca e prostituta, é rejeitada até na igreja antes de ser salva por Milkau, quem conheceu uma vez em uma festa e vai morar numa fazenda. Lá continua a ser maltratada até que um dia seu filho é morto por porcos e ela é acusada de infanticídio. Na cadeia Milkau passa a visitá-la enquanto ela é repudiada pela cidade inteira. Por fim a salva com uma fuga no meio da noite. A história em si é apenas pano de fundo para as discussões ideológicas entre Milkau e Lentz, somando-se a isto retratos da imigração alemã e da corrupta administração brasileira da época (notavelmente no capítulo VI). Monteiro Lobato - escritor, editor, ensaísta e tradutor brasileiro. Um dos mais influentes escritores do século XX, Monteiro Lobato ficou muito conhecido por suas obras infantis de caráter educativo como, por exemplo, a sério de livros do Sítio do Pica pau Amarelo. Em 1918 publica "Urupês" uma coletânea regionalista de contos e crônicas. Já em 1919 publica "Cidades Mortas" livro de contos que retrata a queda do Ciclo do Café. Resumo de Urupês Urupês é uma coletânea de contos e crônicas de Monteiro Lobato, considerada sua obra-prima e publicada originalmente em 1918. Inaugura na literatura brasileira um regionalismo crítico e mais realista do que o praticado anteriormente, durante o romantismo. A O c a ip ir a m a s c a n d o fu m o – A lm e id a J u n io r http://pt.wikipedia.org/wiki/Conto http://pt.wikipedia.org/wiki/Cr%C3%B4nica http://pt.wikipedia.org/wiki/Monteiro_Lobato http://pt.wikipedia.org/wiki/Obra-prima http://pt.wikipedia.org/wiki/1918 http://pt.wikipedia.org/wiki/Literatura_brasileira http://pt.wikipedia.org/wiki/Regionalismo http://pt.wikipedia.org/wiki/Romantismo Pré-Universitário/SEED Linguagens, Códigos e suas Tecnologias – Literatura 365 crônica que dá título ao livro traz uma visão depreciativa do caboclo brasileiro, chamado pelo autor de "fazedor de desertos", estereótipo contrário à visão romântica dos autores modernistas Afonso Henriques de Lima Barreto, conhecido como Lima Barreto, foi escritor e jornalista brasileiro. Autor de uma obra critica veiculado aos temas sociais, o escritor rompe com o nacionalista ufanista e faz críticas ao positivismo. Sua obra que merece destaque é o "Triste Fim de Policarpo Quaresma" - escrito numa linguagem coloquial, o autor faz crítica à sociedade urbana da época. Resumo do Triste fim de Policarpo Quaresma O protagonista é o major Policarpo Quaresma, subsecretário no Arsenal de Guerra, que ama incondicionalmente sua pátria – o Brasil. Esse amor à pátria (nacionalismo) faz com que ele estude violão, um instrumento marginalizado no fim do século XIX, a língua tupi-guarani, o folclore e os usos e costumes dos silvícolas. Desses interesses ele se interessa tanto pelos estudos do tupi que manda à Câmara um requerimento recomendando a língua indígena como idioma oficial do Brasil. Logo mais, escreve em tupi um ofício que provoca grande confusão e por tudo isso é considerado louco, assim, internado em um manicômio. Ao ser considerado melhor, é solto e compra um sítio – “Sossego” – onde residirá com sua irmã Adelaide e o criado Anastácio. Com o tempo seus ideais nacionalistas voltam e ele começa a plantar em suas terras, acreditando estar na agricultura a chance do país ser a primeira nação do mundo, e enfrenta ervas daninhas e formigas, do mesmo modo que as intrigas políticas. Com a Revolta Armada, Floriano Peixoto integra Quaresma como major ao batalhão Cruzeiro do Sul. Quase no fim da revolta é designado a carcereiro dos presos políticos na ilha das Enxadas. Em determinada noite, o Itamarati envia alguém para retirar vários presos e fuzilá-los. Esse fato deixou Quaresma revoltado, portanto escreve uma violenta carta ao marechal Floriano Peixoto. Então é preso como traidor e condenado à morte, sem julgamento. Apenas Ricardo Coraçãodos Outros, tenta salvar Policarpo, ficando ele à espera do destino. Poesia Augusto dos Anjos foi um importante poeta brasileiro, deixou sua marca na literatura pelas inovações temáticas e de estilo. Chegou a ficar conhecido como “Poeta da morte”, pela obsessão que nutria pelo tema. “Versos Íntimos” é um dos poemas mais conhecidos do escritor, que morreu muito jovem, com apenas 30 anos. O único livro publicado em vida foi “Eu”. Versos Íntimos Vês! Ninguém assistiu ao formidável Enterro de tua última quimera. Somente a Ingratidão – esta pantera – Foi tua companheira inseparável! Acostuma-te à lama que te espera! O Homem, que, nesta terra miserável, Mora entre feras, sente inevitável Necessidade de também ser fera. Toma um fósforo. Acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro, A mão que afaga é a mesma que apedreja. Se a alguém causa inda pena a tua chaga, Apedreja essa mão vil que te afaga, Escarra nessa boca que te beija! Augusto dos Anjos 01. (UFC) Na manhã do dia seis Canudos foi destruída Com bombardeios e incêndios Não ficou nada com vida Dizem que o Conselheiro Tinha morrido primeiro Na Belo Monte Querida FRANÇA, A.Q. de; RINARÈ, R. do. Antônio Conselheiro e a Guerra de Canudos. Fortaleza; Tupynanquim, 2002, p. 32. Em relação aos movimentos como o de Canudos, é correto afirmar que: A) foram movimentos que se limitaram às regiões Norte e Nordeste do Brasil, marcadas pela presença dos latifúndios. B) foram movimentos sem grande repercussão, visto que se situavam no campo e a maior parte dos trabalhadores do país encontrava-se nas cidades. C) no campo o domínio dos coronéis era absoluto, e esses movimentos sociais tiveram que se disfarçar como um movimento de conteúdo religioso, para evitar a repressão. D) foram movimentos nos quais se combinavam conteúdos religiosos e sociais, pois questionavam o poder das autoridades civis e religiosas. E) foram movimentos de conteúdo exclusivamente religioso, marcados pelo fanatismo, reprimidos por Pedro II e pelos republicanos que se esforçavam para construir um país civilizado. NOME – O que se convencionou chamar de Pré-Modernismo não foi propriamente uma escola literária. Não houve manifesto em jornais nem grupo de autores em torno de uma proposta una ou de um ideário. O nome, com o tempo, passou a designar a produção literária do Brasil nas duas primeiras décadas do século XX. PERÍODO ECLÉTICO – Depois do Realismo-Naturalismo- Parnasianismo, o Brasil viveu um período eclético. As diversas tendências literárias misturaram-se. Os movimentos não se sucederam, eles passaram a coexistir. TENDÊNCIAS – Duas tendências básicas podem ser notadas entre os autores da época: a) Conservadora – Percebida na produção poética de Olavo Bilac (e de todos os outros parnasianos) e de Cruz e Sousa, representante da estética simbolista. A poesia é elaborada dentro dos moldes de perfeição, obediente a normas e presa a temas alheios à realidade brasileira. b) Inovadora – Presente nas obras de Euclides da Cunha, Lima Barreto, Graça Aranha, Monteiro Lobato, Afonso Arinos. As várias realidades do Brasil são expostas, e o leitor começa a perceber que vive em um país de contrastes. A linguagem pomposa e artificial começa a perder terreno para uma expressão mais simples, fiel à fala cotidiana. Nesse aspecto, Lima Barreto é o legítimo representante das classes iletradas O triste fim de Policarpo Quaresma, de Paulo Thiago Ó abre alas, de Chiquinha Gonzaga LINK COM OUTRA DISCIPLINA: História – Política do café com leite. http://www.coladaweb.com/ http://www.coladaweb.com/ http://pensador.uol.com.br/autor/augusto_dos_anjos/ Pré-Universitário/SEED Linguagens, Códigos e suas Tecnologias – Literatura 366 02. (FUVEST-2011) A comunidade de Canudos, formada na década final do século XIX, contestava a distribuição de terras no sertão nordestino e buscava, com a formação do arraial, tirar parte da população sertaneja da situação de miséria e abandono em que se encontrava. À frente da comunidade havia um líder religioso conhecido como: A) monge José Maria B) João Maria C) João Campos D) Antônio Conselheiro E) Antônio Milagreiro. 03. (FUVEST-2011) Não é por acaso que as autoridades brasileiras recebem os aplausos unânimes das autoridades internacionais das grandes potências, pela energia implacável e eficaz de sua política saneadora [...]. O mesmo se dá com a repressão dos movimentos populares de Canudos e do Contestado, que, no contexto rural, [...] significam praticamente o mesmo que a Revolta da Vacina no contexto urbano. Nicolau Sevcenko. A Revolta da Vacina. De acordo com o texto, a Revolta da Vacina, o movimento de Canudos e o do Contestado foram vistos internacionalmente como: A) provocados pelo êxodo maciço de populações saídas do campo rumo às cidades logo após a abolição. B) retrógrados, pois dificultavam a modernização do país. C) decorrentes da política sanitarista de Oswaldo Cruz. D) indícios de que a escravidão e o Império chegavam ao fim para dar lugar ao trabalho livre e à República. E) conservadores, porque ameaçavam o capital norte-americano no Brasil. 04. (UFRS-2009) Leia o soneto a seguir. Psicologia de um vencido Eu, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilância, Sofro, desde a epigênesis da infância, A influência má dos signos do zodíaco. Profundissimamente hipocondríaco, Este ambiente me causa repugnância... Sobe -me à boca uma ânsia análoga à ânsia Que se escapa da boca de um cardíaco. Já o verme — este operário das ruínas Que o sangue podre das carnificinas Come, e à vida em geral declara guerra, Anda a espreitar meus olhos para roê-los, E há-de deixar-me apenas os cabelos, Na frialdade inorgânica da terra! Augusto dos Anjos, Eu, Rio de Janeiro, Livr. São José, 1965. A partir desse soneto, é correto afirmar: I. Ao se definir como filho do carbono e do amoníaco, o eu lírico desce ao limite inferior da materialidade biológica pois, pensando em termos de átomos (carbono) e moléculas (amoníaco), que são estudados pela Química, constata-se uma dimensão onde não existe qualquer resquício de alma ou de espírito. II. O amoníaco, no soneto, é uma metáfora de alma, pois, segundo o eu lírico, o homem é composto de corpo (carbono) e alma (amoníaco) e, no fim da vida, o corpo (orgânico) acaba, apodrece, enquanto a alma (inorgânica) mantém-se intacta. Faz parte da Escola Barroca III. O soneto principia descrevendo as origens da vida e termina descrevendo o destino final do ser humano; retrata o ciclo da vida e da morte, permeado de dor, de sofrimento e da presença constante e ameaçadora da morte inevitável. Está(ão) correta(s): A) apenas II. B) apenas III. C) apenas I e II. D) apenas I e III. E) apenas II e III. 05. (Mack-2004) Havia bem dez dias que o Major Quaresma não saía de casa. Estudava os índios. Não fica bem dizer “estudava”, porque já o fizera há tempos (...). Recordava (é melhor dizer assim), afirmava certas noções dos seus estudos anteriores, visto estar organizando um sistema de cerimônias e festas que se baseasse nos costumes dos nossos silvícolas e abrangesse todas as relações sociais. (...) A convicção que sempre tivera de ser o Brasil o primeiro país do mundo e o seu grande amor à pátria eram agora ativos e impeliram-no a grandes cometimentos. Lima Barreto No fragmento anterior, A) o protagonista, tecendo comentários livremente, apresenta ao leitor ações e intenções da personagem quixotesca. B) o narrador revela-se preocupado com a precisão ao relatar as ações do protagonista idealizador. C) o narrador manifesta suas dúvidas quanto aos fatos ocorridos, em virtude de seu desconhecimento do universo focalizado. D) o narrador-personagem, ao estabelecer paralelo entre o passado e o presentedo Major, manifesta sua decepção pela ingenuidade do sonhador. E) o narrador-personagem anuncia o fim trágico do protagonista e ironiza seu perfil fantasioso e idealista. 06. (FUVEST-2011) No romance Triste Fim de Policarpo Quaresma, o nacionalismo exaltado e delirante da personagem principal motiva seu engajamento em três diferentes projetos, que objetivam “reformar” o país. Esses projetos visam, sucessivamente, aos seguintes setores da vida nacional: A) escolar, agrícola e militar; B) linguístico, industrial e militar; C) cultural, agrícola e político; D) linguístico, político e militar; E) cultura, industrial e político. 07. (ENEM – 2002) “Narizinho correu os olhos pela assistência. Não podia haver nada mais curioso. Besourinhos de fraque e flores na lapela conversavam com baratinhas de mantilha e miosótis nos cabelos. Abelhas douradas, verdes e azuis, falavam mal das vespas de cintura fina – achando que era exagero usarem coletes tão apertados. Sardinhas aos centos criticavam os cuidados excessivos que as borboletas de toucados de gaze tinham com o pó das suas asas. Mamangavas de ferrões amarrados para não morderem. E canários cantando, e beija-flores beijando flores, e camarões camaronando, e caranguejos caranguejando, tudo que é pequenino e não morde, pequeninando e não mordendo.” LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo: Brasiliense, 1947. No último período do trecho, há uma série de verbos no gerúndio que contribuem para caracterizar o ambiente fantástico descrito. Expressões como “camaronando”, “caranguejando” e “pequeninando e não mordendo” criam, principalmente, efeitos de A) esvaziamento de sentido. B) monotonia do ambiente. C) estaticidade dos animais. D) interrupção dos movimentos. E) dinamicidade do cenário. Pré-Universitário/SEED Linguagens, Códigos e suas Tecnologias – Literatura 367 08. (ENEM – 2009) Negrinha Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados. Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da cozinha, sobre velha esteira e trapos imundos. Sempre escondida, que a patroa não gostava de crianças. Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na igreja e camarote de luxo reservado no céu. Entaladas as banhas no trono (uma cadeira de balanço na sala de jantar), ali bordava, recebia as amigas e o vigário, dando audiências, discutindo o tempo. Uma virtuosa senhora em suma – “dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da religião e da moral”, dizia o reverendo. Ótima, a dona Inácia. Mas não admitia choro de criança. Ai! Punha-lhe os nervos em carne viva. [...] A excelente dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças. Vinha da escravidão, fora senhora de escravos – e daquelas ferozes, amigas de ouvir cantar o bolo e estalar o bacalhau. Nunca se afizera ao regime novo – essa indecência de negro igual. LOBATO, M. Negrinha. In: MORICONE, I. Os cem melhores contos brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000 (fragmento). A) narrativa focaliza um momento histórico-social de valores contraditórios. Essa contradição infere-se, no contexto, pela B) falta de aproximação entre a menina e a senhora, preocupada com as amigas. C) receptividade da senhora para com os padres, mas deselegante para com as beatas. D) ironia do padre a respeito da senhora, que era perversa com as crianças. E) rejeição aos criados por parte da senhora, que preferia tratá-los com castigos. 09. (ENEM – 2010) Texto I Eu amo a rua. Esse sentimento de natureza toda intima não vos seria revelado por mim se não julgasse, e razoes não tivesse para julgar, que este amor assim absoluto e assim exagerado e partilhado por todos vos. Nós somos irmãos, nós sentimos parecidos e iguais; nas cidades, nas aldeias, nos povoados, não porque soframos, com a dor e os desprazeres, a lei e a polícia, mas porque nos une, nivela e agremia o amor da rua. E este mesmo o sentimento imperturbável e indissolúvel, o único que, como a própria vida, resiste as idades e as épocas. RIO. J. A rua. In: A alma encantadora das ruas. São Paulo: Companhia das Letras, 2008 (fragmento). Texto II A rua dava-lhe uma forca de fisionomia, mais consciência dela. Como se sentia estar no seu reino, na região em que era rainha e imperatriz. O olhar cobiçoso dos homens e o de inveja das mulheres acabavam o sentimento de sua personalidade, exaltavam-no ate. Dirigiu-se para a Rua do Catete com o seu passo miúdo e solido. [...] No caminho trocou cumprimento com as raparigas pobres de uma casa de cômodos da vizinhança. [...] E debaixo dos olhares maravilhados das pobres raparigas, ela continuou o seu caminho, arrepanhando a saia, satisfeita que nem uma duquesa atravessando os seus domínios. BARRETO, L. Um e outro. in: Clara dos Anjos. Rio de Janeiro: Editora Mérito (fragmento). A experiência urbana e um tema recorrente em crônicas, contos e romances do final do século XIX e início do XX, muitos dos quais elegem a rua para explorar essa experiência. Nos fragmentos I e II, a rua e vista, respectivamente, como lugar que A) desperta sensações contraditórias e desejo de reconhecimento. B) favorece o cultivo da intimidade e a exposição dos dotes físicos. C) possibilita vínculos pessoais duradouros e encontros casuais. D) propicia o sentido de comunidade e a exibição pessoal. E) promove o anonimato e a segregação social. 10. (ENEM – 2012) Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe importavam os rios? Eram grandes? Pois que fossem... Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o nome dos herois do Brasil? Em nada... O importante e que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das suas coisas de tupi, de folk-lore, das suas tentativas agrícolas.... Restava disso tudo em sua alma uma satisfação? Nenhuma! Nenhuma! O tupi encontrou a incredulidade geral, o riso, a mofa, o escárnio; e levou-o a loucura. Uma decepção. E a agricultura? Nada. As terras não eram ferazes e ela não era fácil como diziam os livros. Outra decepção. E, quando seu patriotismo se fizera combatente, o que achara? Decepções. Onde estava a doçura de nossa gente? Pois ele não a viu combater como feras? Pois não a via matar prisioneiros, inúmeros? Outra decepção. A sua vida era uma decepção, uma serie, melhor, um encadeamento de decepções. A pátria que quisera ter era um mito; um fantasma criado por ele no silencio de seu gabinete. BARRETO, L. Triste fim de Policarpo Quaresma. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 8 nov. 2011. O romance Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, foi publicado em 1911. No fragmento destacado, a reação do personagem aos desdobramentos de suas iniciativas patrióticas evidencia que A) a dedicação de Policarpo Quaresma ao conhecimento da natureza brasileira levou-o a estudar inutilidades, mas possibilitou-lhe uma visão mais ampla do país. B) a curiosidade em relação aos heróis da pátria levou-o ao ideal de prosperidade e democracia que o personagem encontra no contexto republicano. C) a construção de uma pátria a partir de elementos míticos, como a cordialidade do povo, a riqueza do solo e a pureza linguística, conduz a frustração ideológica. D) a propensão do brasileiro ao riso, ao escárnio, justifica a reação de decepção e desistência de Policarpo Quaresma, que prefere resguardar-se em seu gabinete. E) a certeza da fertilidade da terra e da produção agrícola incondicional faz parte de um projeto ideológico salvacionista, tal como foi difundido na época do autor. VANGUARDAS As vanguardas europeias foram manifestações artístico-literárias surgidas na Europa, nas duas primeirasdécadas do Século XX, e vieram provocar uma ruptura da arte moderna com a tradição cultural do século anterior. Contexto Histórico http://www.infoescola.com/europa/ http://www.infoescola.com/artes/conceito-de-arte-moderna/ Pré-Universitário/SEED Linguagens, Códigos e suas Tecnologias – Literatura 368 Com o advento da tecnologia, as consequências da Revolução Industrial, a Primeira Guerra Mundial e atmosfera política que resultou destes grandes acontecimentos, surgiu um sentimento nacionalista, um progresso espantoso das grandes potências mundiais, e uma disputa pelo poder. Várias correntes ideológicas foram criadas, como o nazismo, o fascismo e o comunismo, e também com a mesma terminação “ismo” surgiram os movimentos artísticos que chamamos de vanguardas. Todos pautavam-se no mesmo objetivo, que era: o questionamento a quebra dos padrões o protesto contra a arte conservadora a criação de novos padrões estéticos, que fossem mais coerentes com a realidade histórica e social do século que surgia. Vale ressaltar: Estas manifestações se destacaram por sua radicalidade, a qual proporcionou que influenciassem a arte em todo o mundo. No Brasil não poderia ser diferente, uma vez que este era o exato momento da história em que as manifestações artísticas estavam crescendo em nosso país, e que a maioria dos artistas se espelhava nas tendências europeias, fosse para imitá-las fosse para combater-lhes. Di Cavalcante – Carnaval As vanguardas europeias passaram também pela Literatura Brasileira deixando sua contribuição, especialmente ao somarem com a Semana de Arte Moderna e o movimento modernista, pois juntos vieram romper com a antiga estética que até então reinava em nosso país. As cinco correntes vanguardistas que mais influenciaram o fazer literário no Brasil foram: Cubismo Teve maior representatividade entre os anos de 1907 e 1914, mais especificamente na pintura. Seu propósito era decompor, fragmentar as formas geométricas. Investia na subjetividade de interpretação das obras, afirmando que um mesmo objeto poderia ser visto de vários ângulos. Picasso Na literatura, caracteriza-se pela representação de uma realidade fragmentada, que é retratada por palavras dispostas simultaneamente, com o objetivo de formar uma imagem. Os principais artistas que representaram esta vanguarda foram: Pintura: Pablo Picasso, Fernand Léger, André de Lothe, Juan Gris e Georges Braque. Literatura: Apollinaire e Cendras. Expressionismo Surgido em 1912, expressava a agitação e inquietação que buscava subverter a estética da época. Pela primeira vez apareceu na livraria de arte der Sturm, em Berlim, expressando, como o nome diz, a renovação cultural que já estava em curso na Alemanha e em toda a Europa. Sofrimento Como estou atrelado À carroça de carvão da minha dor! Repelente como uma aranha Rasteja sobre mim o tempo. Cai-me o cabelo, Para lá do qual ceifa O último segador. O sono ensombra-me os ossos. Morri no sonho já, Erva nascia do meu crânio De negra terra era minha cabeça Albert Ehrenstein. Lasar Segall Surrealismo Esta vanguarda surgiu após a Primeira Guerra, na França, mais precisamente em 1924. Trouxe para a arte concepções freudianas, relacionadas à psicanálise. Segundo esta vanguarda, a arte deve surgir do inconsciente sem que haja interferências da razão. Trabalha frequentemente com elementos como a fantasia, o devaneio e a loucura. Dadaísmo Surgiu em 1916, em plena Primeira Guerra Mundial, a partir do encontro de alguns artistas refugiados que buscaram produzir algo que chocasse a burguesia. É mais um reflexo das emoções causadas pela Guerra, tais como revolta, agressividade e indignação. Na literatura, se caracteriza pela agressividade verbal, pela desordem nas palavras, a incoerência, a quebra da lógica e do racionalismo, e pelo abandono das regras formais do fazer poético: rima, ritmo, etc. Receita de poema dadaísta Pegue um jornal. Pegue a tesoura. Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema. Recorte o artigo. http://www.infoescola.com/historia/revolucao-industrial/ http://www.infoescola.com/historia/revolucao-industrial/ http://www.infoescola.com/historia/primeira-guerra-mundial/ http://www.infoescola.com/historia/nazismo/ http://www.infoescola.com/historia/fascismo/ http://www.infoescola.com/politica/comunismo/ http://www.infoescola.com/movimentos-artisticos/ http://www.infoescola.com/movimentos-artisticos/ http://www.infoescola.com/artes/semana-de-arte-moderna/ http://www.infoescola.com/literatura/modernismo/ http://www.infoescola.com/artes/cubismo/ http://www.infoescola.com/literatura/expressionismo/ http://www.infoescola.com/artes/dadaismo/ http://www.infoescola.com/sociologia/burguesia/ Pré-Universitário/SEED Linguagens, Códigos e suas Tecnologias – Literatura 369 Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e meta-as num saco. Agite suavemente. Tire em seguida cada pedaço um após o outro. Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco. O poema se parecerá com você. E ei-lo um escritor infinitamente ORIGINAL e de uma sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido do público. TZARA, Tristan. In: TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda europeia e modernismo brasileiro. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 1986. p. 132. (Fragmento) Futurismo Surgiu através do Manifesto Futurista, criado pelo italiano Tommaso Matinetti em 19 09. Suas proposições eram negar o passado, o academicismo e trazer o interesse ideológico, a pesquisa, a experimentação, a técnica e a tecnologia para a arte. Marinneti pregava o desapego ao tradicionalismo, especialmente quanto à sintaxe da língua. A Dona Branca Clara Tome-se duas dúzias de beijocas Acrescente-se uma dose de manteiga do Desejo Adicione-se três gramas de polvilho de Ciúme Deite-se quatro colheres de açúcar da Melancolia Coloque-se dois ovos Agite-se com o braço da Fatalidade E dê de duas em duas horas marcadas No relógio de um ponteiro só! Oswald de Andrade 01. (UCDB/MS-2011) Itaoca é uma grande família com presunção de cidade, espremida entre as montantes, lá nos confins do judas, precisamente no ponto onde o demo perdeu as botas. Tão isolada vive do resto do mundo, que escapam à compreensão dos forasteiros muitas palavras e locuções de uso local, puros itaoquismos. Entre eles este, que seriamente impressionou um gramático em trânsito por ali: Maria, dá cá o pito! Usando em sentido pejorativo para expressar decepção ou pouco caso, e aplicado ao próprio gramático, mal descobriram que ele era apenas isso e não influência política, como supunham, descreve-se aqui o fato que lhe deu origem. E pede-se perdão aos gramáticos de má morte pelo crime de introduzir a anedota na tão sisuda quão circunspecta ciência de torturar crianças e ensandecer adultos. Monteiro Lobato. Cidades mortas. São Paulo, Brasileiense,1972 O narrador A) vê de forma irreverente a gramática e os gramáticos. B) revela o despreparo dos habitantes de Itaoca no uso do idioma. C) critica os habitantes de Itaoca pelo uso de regionalismo. D) apresenta Itaoca como uma pequena cidade que, por sua localização, atraem visitantes. E) submete-se às normas gramaticais, daí sentir-se constrangido por usar expressões coloquiais. 02. (UFBA-2014) No quadro O grande masturbador (1929), de Salvador Dali, uma figura feminina desnuda surge na parte posterior da cabeça, o que pode significar a fantasia erótica sugerida pelo título da obra. A boca da figura feminina se encontra próxima ao saco escrotal de uma figura masculina pintada na parte superior esquerda da tela, o que sugere a possibilidade de sexo oral.A pintura DALI, Salvador, O grande masturbador, 1927. Madri. A) surrealista, representa as atitudes conflituosas do pintor em relação ao ato sexual. B) ilustra a obsessão de Dali em pintar a nudez feminina em vários planos geométricos. C) surrealista, evidencia a orientação homoafetiva do autor, quando expõe a sugestão do sexo oral. D) foi pintada na fase cubista do pintor. Ela evidencia a fragmentação do ser humano diante das atrocidades da Segunda Guerra (1939 – 1945) E) apresenta um grande gafanhoto abaixo da cabeça, próximo à boca, inseto admirado pelo pintor. 03. (ENEM - 2010) A pós estudar na Europa, Anita Malfatti retornou ao Brasil com uma mostra que abalou a cultura nacional do início do século XX. Elogiada por seus mestres na Europa, Anita se considerava pronta para mostrar seu trabalho no Brasil, mas enfrentou as duras críticas de Monteiro Lobato. Com a intenção de criar uma arte que valorizasse a cultura brasileira, Anita Malfatti e outros artistas modernistas A) buscaram libertar a arte brasileira das normas acadêmicas europeias, valorizando as cores, a originalidade e os temas nacionais. B) defenderam a liberdade limitada de uso da cor, até então utilizada de forma irrestrita, afetando a criação artística nacional. C) representaram a ideia de que a arte deveria copiar fielmente a natureza, tendo como finalidade a pratica educativa. D) mantiveram de forma fiel a realidade nas figuras retratadas, defendendo uma liberdade artística ligada a tradição acadêmica. O Cubismo, de Pablo Picasso, rompeu com a ideia de perspectiva para colocar todas as partes do objeto no mesmo plano. “Picasso faz a quebra de um dos elementos da tradição, que é exatamente a perspectiva. Ele trabalha com formas geométricas e com a movimentação do observador, de forma que a perspectiva não fica perfeita, ela fica diferente”, diz Suassuna. Vanguardas, o filme http://oaluadorig.blogspot.com.br/ LINK COM OUTRA DISCIPLINA: História: Primeira guerra Mundial; História: República Velha: Cultura e Movimentos Sociais http://daliteratura.wordpress.com/2012/04/29/dadaismo-o-mais-radical-dos-movimentos-de-vanguarda/ Pré-Universitário/SEED Linguagens, Códigos e suas Tecnologias – Literatura 370 E) buscaram a liberdade na composição de suas figuras, respeitando limites de temas abordados. 04. (ENEM – 2010) O Modernismo brasileiro teve forte influência das vanguardas europeias. A partir da Semana de Arte Moderna, esses conceitos passaram a fazer parte da arte brasileira definitivamente. Tomando como referência o quadro O mamoeiro, identifica- se que, nas artes plásticas, A) imagem passa a valer mais que as formas vanguardistas. B) forma estética ganha linhas retas e valoriza o cotidiano. C) natureza passa a ser admirada como um espaço utópico. D) imagem privilegia uma ação moderna e industrializada. E) forma apresenta contornos e detalhes humanos 05. (ENEM – 2012) O quadro Les Demoiselles d’Avignon (1907), de Pablo Picasso, representa o rompimento com a estética clássica e a revolução da arte no início do século XX. Essa nova tendência se caracteriza pela A) pintura de modelos em planos irregulares. B) mulher como temática central da obra. C) cena representada por vários modelos. D) oposição entre tons claros e escuros. E) nudez explorada como objeto de arte. 06. (ENEM / 2011) PICASSO.P.Guernica.Óleo sobre tela, Espanha 1937 O pintor espanhol Pablo Picasso (1881-1973), um dos mais valorizados no mundo artístico, tanto em termos financeiros quanto histórico, criou a obra Guernica em protesto ao ataque aéreo à pequena cidade basca de mesmo nome. A obra, feita para integrar o Salão Internacional de Artes Plásticas de paris, percorreu toda a Europa, chegando nos EUA e instalando-se no MoMA de onde sairia em 19981. Essa obra cubista apresenta elementos plásticos identificados pelo A) painel ideológico, monocromático, que enfoca várias dimensões de um evento, renunciando à realidade, colocando-se em frontal ao expectador. B) horror da guerra de uma forma fotográfica, com o uso da perspectiva clássica, envolvendo o espectador nesse exemplo brutal de crueldade do ser humano. C) uso das formas geométricas no mesmo plano, sem emoções e expressões, despreocupado com o volume, a perspectiva e a sensação escultórica D) esfacelamento dos objetos abordados na mesma narrativa, minimizando a dor humana a serviço da objetividade, observada pelo uso de claro-escuro. E) uso de vários ícones que representam personagens fragmentados bidimensionalmente, de forma fotográfica livre de sentimentos. MODERNISMO de 22 Introdução No início do século XX desenvolveu-se na Europa um conjunto de correntes artísticas (dadaísmo, surrealismo, expressionismo, futurismo) que formaria a arte moderna. Artistas brasileiros, em suas idas ao exterior, voltavam com estas novas influências que, somadas ao desejo de instaurar uma arte moderna brasileira, longe da imitação de padrões europeus, com valorização do nacional, possibilitou o início do Modernismo no Brasil. Arte Moderna A Semana de Arte Moderna ocorreu no Teatro Municipal de São Paulo, em 1922, tendo como objetivo mostrar as novas tendências artísticas que já vigoravam na Europa. Esta nova forma de expressão não foi compreendida pela elite paulista, que era influenciada pelas formas estéticas europeias mais conservadoras. O idealizador deste evento artístico e cultural foi o pintor Di Cavalcanti No Brasil, o descontentamento com o estilo anterior foi bem mais explorado no campo da literatura, com maior ênfase na poesia. Entre os escritores modernistas destacam-se: Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Guilherme de Almeida e Manuel Bandeira. Na pintura, destacou-se Anita Malfatti, que realizou a primeira exposição modernista brasileira em 1917. Suas obras, influenciadas pelo cubismo, expressionismo e futurismo, escandalizaram a sociedade da época. Vale ressaltar Monteiro Lobato não poupou críticas à pintora, contudo, este episódio serviu como incentivo para a realização da Semana de Arte Moderna. http://www.suapesquisa.com/biografias/di_cavalcanti.htm http://www.suapesquisa.com/biografias/oswalddeandrade http://www.suapesquisa.com/biografias/manuelbandeira http://www.suapesquisa.com/biografias/anita_malfatti.htm http://www.suapesquisa.com/artesliteratura/cubismo http://www.suapesquisa.com/artesliteratura/futurismo.htm http://www.suapesquisa.com/biografias/monteirolobato/ Pré-Universitário/SEED Linguagens, Códigos e suas Tecnologias – Literatura 371 Como foi A Semana, realizada entre 11 e 18 de fevereiro de 1922, foi a explosão de ideias inovadoras que aboliam por completo a perfeição estética tão apreciada no século XIX. Os artistas brasileiros buscavam uma identidade própria e a liberdade de expressão; com este propósito, experimentavam diferentes caminhos sem definir nenhum padrão. Isto culminou com a incompreensão e coma completa insatisfação de todos que foram assistir a este novo movimento. Logo na abertura, Manuel Bandeira, ao recitar seu poema Os sapos, foi desaprovado pela plateia através de muitas vaias e gritos. Embora tenha sido alvo de muitas críticas, a Semana de Arte Moderna só foi adquirir sua real importância ao inserir suas ideias ao longo do tempo. O movimento modernista no Brasil contou com duas fases: a primeira foi de 1922 a 1930 e a segunda de 1930 a 1945. a primeira fase caracterizou-se pelas tentativas de solidificação do movimento renovador e pela divulgação de obras e ideias modernistas. Os escritores de maior destaque dessa fase defendiam estas propostas: Reconstrução da cultura brasileira sobre bases nacionais; Promoção de uma revisão crítica de nosso passado histórico e de nossas tradições culturais; Eliminação definitiva do nosso complexo de colonizados, apegados a valores estrangeiros. Portanto, todas elas estão relacionadas com a visão nacionalista, porém crítica, da realidade brasileira. Várias obras, grupos, movimentos, revistas e manifestos ganharam o cenário intelectual brasileiro, numa investigação profunda e por vezes radical de novos conteúdos e de novas formas de expressão. Entre os fatos mais importantes, destacam-se a publicação da revista Klaxon, lançada para dar continuidade ao processo de divulgação das ideias modernistas, e o lançamento de quatro movimentos culturais: o Pau-Brasil, o Verde-Amarelismo, a Antropofagia e a Anta. Movimento Pau-Brasil, O movimento exaltava a inovação na poesia, o primitivismo e a era presente, ao mesmo tempo em que repudiava a linguagem retórica na poesia. Convivem dialeticamente o primitivo e o moderno, o nacional e o cosmopolita, sendo ideologicamente a raiz do Movimento Antropofágico. Verde-Amarelismo e Grupo da Anta, foi um movimento cultural decorrentes da Semana de Arte moderna em 1922. Na literatura tem por característica textos patrióticos, ufanista e a idealização do país. Características formais, versos livres, sem rima, sem métrica, em estrofação e discurso não linear. Recusando todo e qualquer contágio com ideias europeias, este movimento é uma reação às intenções primitivas do Pau – Brasil. Movimento Antropofágico, foi um marco no Modernismo brasileiro, pois não somente mudou a forma do brasileiro de encarar o fluxo de elementos culturais do mundo, mas também colocou em evidência a produção própria, a característica brasileira na arte, ascendendo uma identidade tupiniquim no cenário artístico mundial. Todo novo movimento artístico é uma ruptura com os padrões utilizados pelo anterior, isto vale para todas as formas de expressões, sejam elas através da pintura, literatura, escultura, poesia, etc. Ocorre que nem sempre o novo é bem aceito, isto foi bastante evidente no caso do Modernismo, que, a princípio, chocou por fugir completamente da estética europeia tradicional que influenciava os artistas brasileiros. Tarsila do Amaral – Abapuru Curiosidades sobre a Semana de Arte Moderna: Durante a leitura do poema "Os Sapos", de Manuel Bandeira (leitura feita por Ronald de Carvalho), o público presente no Teatro Municipal fez coro e atrapalhou a leitura, mostrando desta forma a desaprovação. No dia 17 de fevereiro, Villa-Lobos fez uma apresentação musical. Entrou no palco calçando num pé um sapato e em outro um chinelo. O público vaiou, pois considerou a atitude futurista e desrespeitosa. Depois, foi esclarecido que Villa-Lobos entrou desta forma, pois estava com um calo no pé. Primeira fase Modernista É a fase mais radical justamente em consequência da necessidade de definições e do rompimento de todas as estruturas do passado. Caráter anárquico e forte sentido destruidor. Características Busca do moderno, original e polêmico Nacionalismo em suas múltiplas facetas Volta às origens e valorização do índio verdadeiramente brasileiro Língua brasileira” - falada pelo povo nas ruas Paródias - tentativa de repensar a história e a literatura brasileiras A postura nacionalista apresenta-se em duas vertentes: Nacionalismo crítico, consciente, de denúncia da realidade, identificado politicamente com as esquerdas. Nacionalismo ufanista, utópico, exagerado, identificado com as correntes de extrema direita. Principais autores desta fase: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Antônio de Alcântara Machado, Menotti del Picchia, Cassiano Ricardo, Guilherme de Almeida e Plínio Salgado http://pt.wikipedia.org/wiki/Movimento_Antropof%C3%A1gico http://pt.wikipedia.org/wiki/Movimento_Antropof%C3%A1gico http://www.suapesquisa.com/literatura Pré-Universitário/SEED Linguagens, Códigos e suas Tecnologias – Literatura 372 Manuel Bandeira É uma das figuras mais importantes da poesia brasileira e um dos iniciadores do Modernismo. Do penumbrismo pós-simbolista de A Cinza das Horas às experiências concretas da década de 60 de Composições e Ponteios, a poesia de Bandeira destaca-se pela consciência técnica com que manipulou o verso livre. Participa indiretamente da SAM, quando Ronald de Carvalho declama seu poema Sapos. Os Sapos Enfunando os papos, Saem da penumbra, Aos pulos, os sapos. A luz os deslumbra. Em ronco que aterra, Berra o sapo-boi: - "Meu pai foi à guerra!" - "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!". O sapo-tanoeiro, Parnasiano aguado, Diz: - "Meu cancioneiro É bem martelado M. Bandeira Sempre pensando que morreria cedo (tuberculoso), acabou vivendo muito e marcando a literatura brasileira. Morte e infância são as molas propulsoras de sua obra. Ironizava o desânimo provocado pela doença. Além de ser um poeta fabuloso, também foi ensaísta, cronista e tradutor. O próprio autor define sua poesia como a do "gosto humilde da tristeza". Mário de Andrade Um dos organizadores do Modernismo e da SAM, foi o que apresentou projeto mais consistente de renovação. Começou escrevendo críticas de arte e poesia (ainda parnasiana) com o pseudônimo de Mário Sobral. Rompeu com o Parnasianismo e o passado com Paulicéia Desvairada e a Semana, da qual participou ativamente. Injetou em tudo que fez um senso de problemático brasileirismo, daí sua investida no folclore. De jeito simples, sua coloquialidade desarticulou o espírito nacional de uma montanha de preconceitos arcaicos. Lutou sempre por uma literatura brasileira e com temas brasileiros. INSPIRAÇÃO São Paulo! comoção da minha vida... Os meus amores são flores feitas de original... Arlequinal!... Traje de losangos... Cinza e Ouro... Luz e bruma... Forno e inverno morno... Elegâncias sutis sem escândalos, sem ciúmes... Perfumes de Paria... Arys! Bofetadas líricas no Trianon... Algodoal! São Paulo! comoção de minha vida... Galicismo a berrar nos desertos da América! Mário de Andrade Oswald de Andrade Foi poeta, romancista, ensaísta e teatrólogo. Figura de muito destaque no Modernismo Brasileiro, ele trouxe de sua viagem à Europa o Futurismo. Foi um dos principais artistas da Semana de Arte Moderna e lançou o Movimento Pau-Brasil e a Antropofagia, corrente que pretendia devorar a cultura europeia e brasileira da época e criar uma verdadeira cultura brasileira. Fazendeiro de café, perdeu tudo e foi à falência em 1929 com o crash da Bolsa de Valores. Canto de regresso à pátria Minha terra tem palma Onde gorjeia o mar Os passarinhos daqui Não cantam como os de lá Minha terra tem mais rosas E quase que mais amores Minha terra tem mais ouro Minha terra tem mais terra Ouro terra amor e rosas Eu quero tudo de lá Não permita Deus que eu morra Sem que volte para lá Não permita Deus que eu morra Sem que volte pra São Paulo Sem que veja a Rua 15 E o progresso de São Paulo. Oswald de Andrade O poema O sapo ficou famoso ao ser declamado por Ronald de Carvalho, na noite de 18 de fevereiro de 1922. O poema, que faz parte da obra Carnaval, publicado em 1919 por Manuel Bandeira, satirizava violentamente o ritmo da poesia parnasiana e comparava os seus poetas de sapos coaxando. Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade Eternamente Pagu, de Norma Bengell LINK COM OUTRAS DISCIPLINAS: Arte Moderna Brasileira, Caderno de Arte; Oligarquias, caderno de Humanas História. 01. (ENEM – 2009) Canção do vento e da minha vida O vento varria as folhas, O vento varria os frutos, O vento varria as flores... E a minha vida ficava Cadavez mais cheia De frutos, de flores, de folhas. [...] O vento varria os sonhos E varria as amizades... O vento varria as mulheres... E a minha vida ficava Cada vez mais cheia De afetos e de mulheres. Pré-Universitário/SEED Linguagens, Códigos e suas Tecnologias – Literatura 373 O vento varria os meses E varria os teus sorrisos... O vento varria tudo! E a minha vida ficava Cada vez mais cheia De tudo. BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1967. Na estruturação do texto, destaca-se A) a construção de oposições semânticas. B) a apresentação de ideias de forma objetiva. C) o emprego recorrente de figuras de linguagem, como o eufemismo. D) a repetição de sons e de construções sintáticas semelhantes. E) a inversão da ordem sintática das palavras. 02. (ENEM- 2011) Estrada Esta estrada onde moro, entre duas voltas do caminho, Interessa mais que uma avenida urbana. Nas cidades todas as pessoas se parecem. Todo mundo é igual. Todo o mundo é toda a gente. Aqui, não: sente-se bem que cada um traz a sua alma. Cada criatura é única. Até os cães. Estes cães da roça parecem homens de negócios: Andam sempre preocupados. E quanta gente vem e vai! E tudo tem aquele caráter impressivo que faz meditar: Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por um bodezinho manhoso. Nem falta o murmúrio da água, para sugerir, pela voz dos símbolos, Que a vida passa! que a vida passa! E que a mocidade vai acabar. BANDEIRA, M. O ritmo dissoluto. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967. A lírica de Manuel Bandeira é pautada na apreensão de significados profundos a partir de elementos do cotidiano. No poema Estrada, o lirismo presente no contraste entre campo e cidade aponta para A) desejo do eu lírico de resgatar a movimentação dos centros urbanos, o que revela sua nostalgia com relação à cidade. B) a percepção do caráter efêmero da vida, possibilitada pela observação da aparente inércia da vida rural. C) a opção do eu lírico pelo espaço bucólico como possibilidade de meditação sobre a sua juventude. D) a visão negativa da passagem do tempo, visto que esta gera insegurança. E) a profunda sensação de medo gerada pela reflexão acerca da morte. 03. (ENEM/PPL - 2012) Sambinha Vêm duas costureirinhas pela rua das Palmeiras. Afobadas braços dados depressinha Bonitas, Senhor! que até dão vontade pros homens da rua. As costureirinhas vão explorando perigos... Vestido é de seda. Roupa-branca é de morim. Falando conversas fiadas As duas costureirinhas passam por mim. — Você vai? — Não vou não! Parece que a rua parou pra escutá-las. Nem trilhos sapecas Jogam mais bondes um pro outro. E o Sol da tardinha de abril Espia entre as pálpebras sapiro quentas de duas nuvens. As nuvens são vermelhas. A tardinha cor-de-rosa. Fiquei querendo bem aquelas duas costureirinhas... Fizeram-me peito batendo Tão bonitas, tão modernas, tão brasileiras! Isto é… Uma era ítalo-brasileira. Outra era áfrico-brasileira. Uma era branca. Outra era preta. ANDRADE, M. Os melhores poemas. São Paulo: Global, 1988. Os poetas do Modernismo, sobretudo em sua primeira fase, procuraram incorporar a oralidade ao fazer poético, como parte de seu projeto de configuração de uma identidade linguística e nacional. No poema de Mário de Andrade esse projeto revela-se, pois A) o poema capta uma cena do cotidiano — o caminhar de duas costureirinhas pela rua das Palmeiras — mas o andamento dos versos é truncado, o que faz com que o evento perca a naturalidade. B) a sensibilidade do eu poético parece captar o movimento dançante das costureirinhas — depressinha — que, em última instância, representam um Brasil de “todas as cores”. C) o excesso de liberdade usado pelo poeta ao desrespeitar regras gramaticais, como as de pontuação, prejudica a compreensão do poema. D) a sensibilidade do artista não escapa do viés machista que marcava a sociedade do início do século XX, machismo expresso em “que até dão vontade pros homens da rua”. E) o eu poético usa de ironia ao dizer da emoção de ver moças “tão modernas, tão brasileiras”, pois faz questão de afirmar as origens africana e italiana das mesmas. 04. (ENEM/PPL - 2012) Bem sei que, muitas vezes, O único remédio É adiar tudo. É adiar a sede, a fome, a viagem, A dívida, o divertimento, O pedido de emprego, ou a própria alegria. A esperança é também uma forma De contínuo adiamento. Sei que é preciso prestigiar a esperança, Numa sala de espera. Mas sei também que espera significa luta e não, apenas, Esperança sentada. Não abdicação diante da vida. A esperança Nunca é a forma burguesa, sentada e tranquila da espera. Nunca é figura de mulher Do quadro antigo. Sentada, dando milho aos pombos. RICARDO, C. Disponível em: www.revista.agulha.nom.br. Acesso em: 2 jan. 2012. O poema de Cassiano Ricardo insere-se no Modernismo brasileiro. O autor metaforiza a crença do sujeito lírico numa relação entre o homem e seu tempo marcada por A) um olhar de resignação perante as dificuldades materiais e psicológicas da vida. B) uma ideia de que a esperança do povo brasileiro está vinculada ao sofrimento e às privações. C) uma posição em que louva a esperança passiva para que ocorram mudanças sociais. Pré-Universitário/SEED Linguagens, Códigos e suas Tecnologias – Literatura 374 D) um estado de inércia e de melancolia motivado pelo tempo passado “numa sala de espera”. E) uma atitude de perseverança e coragem no contexto de estagnação histórica e social. 05. (ENEM/PPL - 2012) O bonde abre a viagem, No banco ninguém, Estou só, stou sem. Depois sobe um homem, No banco sentou, Companheiro vou. O bonde está cheio, De novo porém Não sou mais ninguém. ANDRADE, M. Poesias completas. Belo Horizonte: Itatiaia, 2005. Em um texto literário, é comum que os recursos poéticos e linguísticos participem do significado do texto, isto é, forma e conteúdo se relacionam significativamente. Com relação ao poema de Mário de Andrade, a correlação entre um recurso formal e um aspecto da significação do texto é A) a sucessão de orações coordenadas, que remete à sucessão de cenas e emoções sentidas pelo eu lírico ao longo da viagem. B) a elisão dos verbos, recurso estilístico constante no poema, que acentua o ritmo acelerado da modernidade. C) o emprego de versos curtos e irregulares em sua métrica, que reproduzem uma viagem de bonde, com suas paradas e retomadas de movimento. D) a sonoridade do poema, carregada de sons nasais, que representa a tristeza do eu lírico ao longo de toda a viagem. E) a ausência de rima nos versos, recurso muito utilizado pelos modernistas, que aproxima a linguagem do poema da linguagem cotidiana. 06. (ENEM – 2012) mim do asperamente dos homens das primeiras eras ... As primaveras de sarcasmo intermitentemente no meu coração arlequinal ... Intermitentemente ... Outras vezes e um doente, um frio na minha alma doente como um longo som redondo ... Cantabona! Cantabona! Dlorom ... Sou um tupi tangendo um alaude! ANDRADE, M. In: MANFIO, D. Z. (Org.) Poesias completas de Mario de Andrade. Belo Horizonte: Itatiais, 2005. Cara ao Modernismo, a questão da identidade nacional e recorrente na prosa e na poesia de Mario de Andrade. Em O trovador, esse aspecto e a A) abordado subliminarmente, por meio de expressões como “coração arlequinal” que, evocando o carnaval, remete a brasilidade. B) verificado já no título, que remete aos repentistas nordestinos, estudados por Mario de Andrade em suas viagens e pesquisas folclóricas. D) lamentado pelo eu lírico, tanto no uso de expressões como “Sentimentos em mim do asperamente” (v. 1), “frio” (v. 6), “alma doente” (v. 7), como pelo som triste do alaúde “Dlorom” (v. 9). D) problematizadona oposição tupi (selvagem) x alaúde (civilizado), apontando a síntese nacional que seria proposta no Manifesto Antropófago, de Oswaldo de Andrade. E) exaltado pelo eu lírico, que evoca os “sentimentos dos homens das primeiras eras” para mostrar o orgulho brasileiro por suas raízes indígenas. 07. (ENEM – 2014) Evocação do Recife A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros Vinha da boca do povo na língua errada do povo Língua certa do povo Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil Ao passo que nós O que fazemos É macaquear A sintaxe lusíada… LC - 2º dia | Caderno 6 - CINZA - Página 12 BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007. Segundo o poema de Manuel Bandeira, as variações linguísticas originárias das classes populares devem ser A) satirizadas, pois as várias formas de se falar o português no Brasil ferem a língua portuguesa autêntica. B) questionadas, pois o povo brasileiro esquece a sintaxe da língua portuguesa. C) subestimadas, pois o português “gostoso” de Portugal deve ser a referência de correção linguística. D) reconhecidas, pois a formação cultural brasileira é garantida por meio da fala do povo. E) reelaboradas, pois o povo “macaqueia” a língua portuguesa original. 08. (ENEM – 2014) Cena O canivete voou E o negro comprado na cadeia Estatelou de costas E bateu coa cabeça na pedra ANDRADE, O. Pau-brasil. São Paulo: Globo, 2001. O Modernismo representou uma ruptura com os padrões formais e temáticos até então vigentes na literatura brasileira. Seguindo esses aspectos, o que caracteriza o poema Cena como modernista é o(a) A) construção linguística por meio de neologismo. B) estabelecimento de um campo semântico inusitado. C) irônico. D) subversão de lugares-comuns tradicionais. E) uso da técnica de montagem de imagens justapostas. 09. (ENEM – 2014) Camelôs Abençoado seja o camelô dos brinquedos de tostão: O que vende balõezinhos de cor O macaquinho que trepa no coqueiro O cachorrinho que bate com o rabo Os homenzinhos que jogam boxe A perereca verde que de repente dá um pulo que engraçado E as canetinhas-tinteiro que jamais escreverão coisa alguma. Alegria das calçadas Uns falam pelos cotovelos: - “O cavaleiro chega em casa e diz: Meu filho, vai buscar um pedaço de banana para eu acender o charuto. Naturalmente o menino pensará: Papai está malu...” Outros, coitados, têm a língua atada. Todos porém sabem mexer nos cordéis como o tino ingênuo de demiurgos de inutilidades. E ensinam no tumulto das ruas os mitos heroicos da meninice... Pré-Universitário/SEED Linguagens, Códigos e suas Tecnologias – Literatura 375 E dão aos homens que passam preocupados ou tristes uma lição de infância. BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007. LC - 2º dia Uma das diretrizes do Modernismo foi a percepção de elementos do cotidiano como matéria de inspiração tendência e alcança expressividade porque A) realiza um inventário dos elementos lúdicos tradicionais da criança brasileira. B) dos centros urbanos. C) traduz em linguagem lírica o mosaico de elementos D) introduz a interlocução como mecanismo de construção de uma poética nova. E) constata a condição melancólica dos homens distantes da simplicidade infantil. 10. (ENEM – 2015) TEXTO I Versos de amor A um poeta erótico Oposto ideal ao meu ideal conservas. Diverso é, pois, o ponto outro de vista Consoante o qual, observo o amor, do egoísta Modo de ver, consoante o qual, o observas. Porque o amor, tal como eu o estou amando, É Espírito, é éter, é substancia fluida, É assim como o ar que a gente pega e cuida, Cuida, entretanto, não o estar pegando! É a transubstanciação de instintos rudes, Imponderabilíssima, e impalpável, Que anda acima da carne miserável Como anda a garça acima dos açudes! ANJOS, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996 (fragmento). TEXTO II Arte de amar Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma. A alma é que estraga o amor. Só em Deus ela pode encontrar satisfação. Não noutra alma. Só em Deus — ou fora do mundo. As almas são incomunicáveis. Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo. Porque os corpos se entendem, mas as almas não. BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993. Os Textos I e II apresentam diferentes pontos de vista sobre o tema amor. Apesar disso, ambas definem sentimento a partir da oposição entre A) satisfação e insatisfação. B) egoísmo e generosidade. C) felicidade e sofrimento. D) corpo e espírito. E) ideal e real. 11. (ENEM – 2016) O bonde abre a viagem, No banco ninguém, Estou só, stou sem. Depois sobe um homem, No banco sentou, Companheiro vou. O bonde está cheio, De novo porém Não sou mais ninguém. ANDRADE, M. Poesias completas. Belo Horizonte: Vila Rica, 1993. O desenvolvimento das grandes cidades e a consequente concentração populacional nos centros urbanos geraram mudanças importantes no comportamento dos indivíduos em sociedade. No poema de Mário de Andrade, publicado na década de 1940, a vida na metrópole aparece representada pela contraposição entre A) a solidão e a multidão. B) a carência e a satisfação. C) a mobilidade e a lentidão. D) a amizade e a indiferença. E) a mudança e a estagnação. 12. (ENEM – 2016) Descobrimento Abancado à escrivaninha em São Paulo Na minha casa da rua Lopes Chaves De sopetão senti um friúme por dentro. Fiquei trêmulo, muito comovido Com o livro palerma olhando pra mim. Não vê que me lembrei que lá no norte, meu Deus! Muito longe de mim, Na escuridão ativa da noite que caiu, Um homem pálido, magro de cabelos escorrendo nos olhos Depois de fazer uma pele com a borracha do dia, Faz pouco se deitou, está dormindo. Esse homem é brasileiro que nem eu... ANDRADE, M. Poesias completas. São Paulo: Edusp, 1987. O poema Descobrimento, de Mário de Andrade, marca a postura nacionalista manifestada pelos escritores modernistas. Recuperando o fato histórico do “descobrimento”, a construção poética problematiza a representação nacional a fim de A) resgatar o passado indígena brasileiro. B) criticar a colonização portuguesa no Brasil. C) defender a diversidade social e cultural brasileira. D) promover a integração das diferentes regiões do país. E) valorizar a Região Norte, pouco conhecida pelos brasileiros. 13. (ENEM – 2016) Poema tirado de uma notícia de jornal João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número. Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu Cantou Dançou Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado. BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira: poesias reunidas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980. No poema de Manuel Bandeira, há uma ressignificação de elementos da função referencial da linguagem pela A) atribuição de título ao texto com base em uma notícia veiculada em jornal. B) utilização de frases curtas, características de textos do gênero jornalístico. C) indicação de nomes de lugares como garantia da veracidade da cena narrada. D) enumeração de ações, com foco nos eventos acontecidos à personagem do texto. E) apresentação de elementos próprios da notícia, tais como quem, onde, quando e o quê. Pré-Universitário/SEED Linguagens, Códigos e suas Tecnologias – Literatura 376 A Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo no ano de 1922, foi um divisor de águas para a Literatura brasileira. Apresentou, entre outros representantes das diversas áreas da arte, alguns dos expoentes da Literatura modernista que romperiam drasticamente com o modelo literário vigente. Em sua segunda fase,entre os anos de 1930 a 1945, a poesia modernista alargou seus horizontes temáticos e consolidou-se graças às conquistas de seus precursores. A segunda geração foi marcada pelo Amadurecimento e pela ruptura com a fase polêmica de suas primeiras manifestações. A poesia continuou adotando o verso livre, mas resgatou também formas como o soneto ou o madrigal sem que isso fosse necessariamente um retorno às estéticas do passado, tão questionadas pelos poetas que ganharam projeção na Semana de Arte Moderna. Soneto de Fidelidade De tudo ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento. E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure. Vinicius de Morais A Rua dos Cataventos Da vez primeira em que me assassinaram, Perdi um jeito de sorrir que eu tinha. Depois, a cada vez que me mataram, Foram levando qualquer coisa minha. Hoje, dos meu cadáveres eu sou O mais desnudo, o que não tem mais nada. Arde um toco de Vela amarelada, Como único bem que me ficou. Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada! Pois dessa mão avaramente adunca Não haverão de arrancar a luz sagrada! Aves da noite! Asas do horror! Voejai! Que a luz trêmula e triste como um ai, A luz de um morto não se apaga nunca. Mário Quintana A poesia estava em sintonia com as diversas manifestações artísticas e com outras esferas culturais e, por esse motivo, é possível encontrar influências do Surrealismo e até mesmo da psicanálise, que dilataram o campo de experimentações poéticas. Podemos observar essa característica nos versos do poema “O Pastor Pianista”, de Murilo Mendes: O Pastor Pianista Soltaram os pianos na planície deserta Onde as sombras dos pássaros vêm beber. Eu sou o pastor pianista, Vejo ao longe com alegria meus pianos Recortarem os vultos monumentais Contra a lua. Acompanhado pelas rosas migradoras Apascento os pianos: gritam E transmitem o antigo clamor do homem Que reclamando a contemplação, Sonha e provoca a harmonia, Trabalha mesmo à força, E pelo vento nas folhagens, Pelos planetas, pelo andar das mulheres, Pelo amor e seus contrastes, Comunica-se com os deuses. Murilo Mendes Quanto à temática da poesia modernista da segunda fase, podemos observar a preocupação dos poetas não apenas com a abordagem do cotidiano, bastante denotada naquilo que alguns estudiosos chamaram de “momento poético”, mas também com problemas sociais e históricos. Drummond apropriou-se dessas características, que podem ser observadas no poema “Congresso Internacional do Medo”. Congresso Internacional do Medo Provisoriamente não cantaremos o amor, que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos. Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços, não cantaremos o ódio porque esse não existe, existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro, o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos, o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas, cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas, cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte, depois morreremos de medo e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas. Carlos Drummond de Andrade Outra característica presente nesse momento da poesia modernista foi a retomada de elementos simbolistas, sem que isso, novamente, representasse um amplo resgate da produção literária pré- modernista. Essa apropriação de elementos de outras vertentes da Pré-Universitário/SEED Linguagens, Códigos e suas Tecnologias – Literatura 377 Literatura aconteceu em virtude de um alargamento do campo temático, que contemplava aspectos sociais e inquietações religiosas. Depois do sol… Fez-se noite com tal mistério, Tão sem rumor, tão devagar, Que o crepúsculo é como um luar Iluminando um cemitério . . . Tudo imóvel . . . Serenidades Que tristeza, nos sonhos meus! E quanto choro e quanto adeus Neste mar de infelicidades! Oh! Paisagens minhas de antanho Velhas, velhas . . . Nem vivem mais — As nuvens passam desiguais, Com sonolência de rebanho Seres e coisas vão-se embora E, na auréola triste do luar, Anda a lua, tão devagar, Que parece Nossa Senhora Pelos silêncios a sonhar... Cecília Meireles Os poetas da segunda geração do modernismo deram continuidade às conquistas dos primeiros modernistas e criaram novas possibilidades temáticas, perpetuando a nova concepção de Literatura defendida por seus antecessores e levando adiante o projeto de liberdade de expressão que possibilitou até mesmo uma revisitação da Literatura clássica. Também chamada de “Fase de Consolidação”, a literatura brasileira estava vivendo uma fase de maturação, com a concretização e afirmação dos novos valores modernos. Além da prosa, a poesia foi um grande forco dos literatos. Temas nacionais, sociais e históricos foram os preferidos pelos escritores dessa fase. Poeta de sete faces, de Paulo Thiago LINK COM OUTROS DISCIPLINAS: História: A era Vargas 01. (PUC/CAMP-2016) SENTIMENTAL Ponho-me a escrever teu nome com letras de macarrão. No prato, a sopa esfria, cheia de escamas E debruçados na mesa todos contemplam esse romântico trabalho. Desgraçadamente falta uma letra, uma letra somente para acabar teu nome! - Está sonhando? Olhe que a sopa esfria! Eu estava sonhando... E há em todas as consciências um cartaz amarelo: Neste país é proibido sonhar. Carlos Drummond de Andrade Esse poema é caracteristicamente modernista, porque nele: A) uniformidade dos versos reforça a simplicidade dos sentimentos experimentados pelo poeta. B) tematiza-se o ato de sonhar, valorizando-se o modo de composição da linguagem surrealista. C) satiriza-se o estilo da poesia romântica, defendendo os padrões da poesia clássica. D) a linguagem coloquial dos versos livres apresenta com humor o lirismo encarnado na cena cotidiana. E) o dia a dia surge como novo palco das sensações poéticas, sem imprimir a alteração profunda na linguagem lírica. 02. (UFSCAR-2012) Reinvenção A vida só é possível reinventada. Anda o sol pelas campinas e passeia a mão dourada pelas águas, pelas folhas ... Ah! tudo bolhas que vêm de fundas piscinas de ilusionismo ... - mais nada. Mas a vida, a vida, a vida a vida só é possível reinventada. […] (Cecília Meireles) Podemos dizer que, nesse trecho de um poema de Cecília Meireles, encontramos traços de seu estilo A) sempre marcado pelo momento histórico. B) ligado ao vanguardismo da geração de 22. C) inspirado em temas genuinamente brasileiros. D) vinculado à estética simbolista. E) de caráter épico, com inspiração camoniana. 03. (UFSCAR-2011) Soneto de fidelidade De tudo, ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento. E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure. (Vinicius de Moraes) Nos dois primeiros quartetos do soneto de Vinicius de Moraes, delineia-se a ideia de que o poeta A) não acredita no amor como entrega total entre duas pessoas. B) acreditaque, mesmo amando muito uma pessoa, é possível apaixonar-se por outra e trocar de amor. C) entende que somente a morte é capaz de findar com o amor de duas pessoas. D) concebe o amor como um sentimento intenso a ser compartilhado, tanto na alegria quanto na tristeza. E) vê, na angústia causada pela ideia da morte, o impedimento para as pessoas se entregarem ao amor Pré-Universitário/SEED Linguagens, Códigos e suas Tecnologias – Literatura 378 04. (ENEM – 2010) Alguns anos vivi em Itabira. Principalmente nasci em Itabira. Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. Noventa por cento de ferro nas calçadas. Oitenta por cento de ferro nas almas. E esse alheamento do que na vida é porosidade e [comunicação. A vontade de amar, que me paralisa o trabalho, vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e [sem horizontes. E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, é doce herança itabirana. De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço: esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil, este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval; este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas; este orgulho, esta cabeça baixa... Tive ouro, tive gado, tive fazendas. Hoje sou funcionário público. Itabira é apenas uma fotografia na parede. Mas como dói! ANDRADE, C. D. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003 Carlos Drummond de Andrade é um dos expoentes do movimento modernista brasileiro. Com seus poemas, penetrou fundo na alma do Brasil e trabalhou poeticamente as inquietudes e os dilemas humanos. Sua poesia é feita de uma relação tensa entre o universal e o particular, como se percebe claramente na construção do poema Confidência do Itabirano. Tendo em vista os procedimentos de construção do texto literário e as concepções artísticas modernistas, conclui-se que o poema acima A) representa a fase heroica do modernismo, devido ao tom contestatório e à utilização de expressões e usos linguísticos típicos da oralidade. B) apresenta uma característica importante do gênero lírico, que é a apresentação objetiva de fatos e dados históricos. C) evidencia uma tensão histórica entre o “eu” e a sua comunidade, por intermédio de imagens que representam a forma como a sociedade e o mundo colaboram para a constituição do indivíduo. D) critica, por meio de um discurso irônico, a posição de inutilidade do poeta e da poesia em comparação com as prendas resgatadas de Itabira. E) apresenta influências românticas, uma vez que trata da individualidade, da saudade da infância e do amor pela terra natal, por meio de recursos retóricos pomposos. 05. (ENEM – 2012) Ai, palavras, ai, palavras, / que estranha potência a vossa! Todo o sentido da vida/ principia a vossa porta: o mel do amor cristaliza / seu perfume em vossa rosa; sois o sonho e sois a audácia, / calúnia, fúria, derrota... A liberdade das almas, / ai! com letras se elabora... E dos venenos humanos / sois a mais fina retorta: frágil, frágil, como o vidro / e mais que o aço poderosa! Reis, impérios, povos, tempos, / pelo vosso impulso rodam... MEIRELLES, C. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985 (fragmento). O fragmento destacado foi transcrito do Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles. Centralizada no episódio histórico da Inconfidência Mineira, a obra, no entanto, elabora uma reflexão mais ampla sobre a seguinte relação entre o homem e a linguagem: A) A força e a resistência humanas superam os danos provocados pelo poder corrosivo das palavras. B) As relações humanas, em suas múltiplas esferas, têm seu equilíbrio vinculado ao significado das palavras. C) O significado dos nomes não expressa de forma justa e completa a grandeza da luta do homem pela vida. D) Renovando o significado das palavras, o tempo permite às gerações perpetuar seus valores e suas crenças. E) Como produto da criatividade humana, a linguagem tem seu alcance limitado pelas intenções e gestos. 06. (ENEM – 2012) Verbo ser QUE VAI SER quando crescer? Vivem perguntando em redor. Que e ser? E ter um corpo, um jeito, um nome? Tenho os três. E sou? Tenho de mudar quando crescer? Usar outro nome, corpo e jeito? Ou a gente só principia a ser quando cresce? E terrível, ser? Doí? E bom? E triste? Ser: pronunciado tão depressa, e cabe tantas coisas? Repito: ser, ser, ser. Er. R. Que vou ser quando crescer? Sou obrigado a? Posso escolher? Não da para entender. Não vou ser. Não quero ser. Vou crescer assim mesmo. Sem ser. Esquecer. ANDRADE, C. D. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992. A inquietação existencial do autor com a autoimagem corporal e a sua corporeidade se desdobra em questões existenciais que tem origem A) no conflito do padrão corporal imposto contra as convicções de ser autêntico e singular. B) na aceitação das imposições da sociedade seguindo a influência de outros. C) na confiança no futuro, ofuscada pelas tradições e culturas familiares. D) no anseio de divulgar hábitos enraizados, negligenciados por seus antepassados. E) na certeza da exclusão, revelada pela indiferença de seus pares 07. (ENEM – 2013) Ola! Negro Os netos de teus mulatos e de teus cafuzos e a quarta e a quinta gerações de teu sangue sofredor tentarão apagar a tua cor! E as gerações dessas gerações quando apagarem a tua tatuagem execranda, não apagarão de suas almas, a tua alma, negro! Pai-João, Mãe-negra, Fulô, Zumbi, negro-fujão, negro cativo, negro rebelde negro cabinda, negro congo, negro íoruba, negro que foste para o algodão de USA para os canaviais do Brasil, para o tronco, para o colar de ferro, para a canga de todos os senhores do mundo; eu melhor compreenda agora os teus blues nesta hora triste da raça branca, negro! Olá, Negro! Olá. Negro! A raça que te enforca, enforca-se de tédio, negro! LIMA. J, Obras completas. Rio de Janeiro Aguilar, 1958 (fragmento). O conflito de gerações e de grupos étnicos reproduz, na visão do eu lírico, um contexto social assinalado por A) modernização dos modos de produção e consequente enriquecimento dos brancos. B) preservação da memória ancestral e resistência negra à apatia cultural dos brancos. C) superação dos costumes antigos por meio da incorporação de valores dos colonizados. D) nivelamento social de descendentes de escravos e de senhores pela condição de pobreza. Pré-Universitário/SEED Linguagens, Códigos e suas Tecnologias – Literatura 379 E) antagonismo entre grupos de trabalhadores e lacunas de hereditariedade. 08. (ENEM – 2014) Mãos dadas Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro. Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. Entre eles, considero a enorme realidade. O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas. Não serei o cantor de uma mulher, de uma história. Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela. Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida. O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente. ANDRADE, C. D. Sentimento do mundo. São Paulo: Cia. das Letras, 2012. Escrito em 1940, o poema Mãos dadas revela um eu lírico marcado pelo contexto de opressão política no Brasil e da Segunda Guerra Mundial. Em face dessa realidade, o eu lírico A) considera que em sua época o mais importante é a independência dos indivíduos. B) desvaloriza a importância dos planos pessoais na vida em sociedade. C) sociedade oprimida. D) escolhe a realidade social e seu alcance individual como matéria poética. E) critica o individualismo comum aos românticos e aos excêntricos 09. (ENEM – 2015) Carta ao Tom 74 Rua Nascimento Silva, cento e sete Você ensinando pra Elizete As canções de canção do amor demais Lembra que tempo feliz Ah, que saudade, Ipanema era só
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