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DEFINIÇÃO Importância da Genética Forense e seus campos de atuação. Princípios de herança e variabilidade. Perfil genético. Identificação individual. Vínculo genético. PROPÓSITO Determinar aspectos gerais da Genética Forense e da Biologia Molecular, tão necessários à formação do profissional das ciências biomédicas que pretende desenvolver-se nesses campos. OBJETIVOS MÓDULO 1 Reconhecer a importância, as características e os campos de atuação da Genética Forense MÓDULO 2 Descrever os fundamentos da Biologia Molecular aplicados à Genética Forense MÓDULO 3 Identificar os procedimentos de coleta, preparação de amostras e extração de DNA (ácido desoxirribonucleico) INTRODUÇÃO A Genética é a ciência que estuda o fluxo da expressão gênica e os mecanismos de hereditariedade. Ela é diferente das outras ciências porque afeta diretamente a vida dos indivíduos comuns, tendo um impacto óbvio sobre a saúde humana. Conforme veremos, estes campos da ciência apresentaram profundo impacto na sociedade nas últimas décadas. Nos últimos cem anos, as impressões digitais serviram para relacionar criminosos e cenas de crime, auxiliando na resolução de muitos casos. Contudo, os recentes progressos da ciência têm trazido modificações ainda mais profundas nas relações sociais e, por consequência, nos operadores da lei. javascript:void(0) javascript:void(0) Fonte: Rost9 / Shutterstock HEREDITARIEDADE Transmissão de características dos genitores para a prole ao longo das gerações. IMPRESSÃO DIGITAL Impressão digital, fingerprint em inglês, são tecnicamente conhecidas por datilograma ou dermatóglifo. Trata-se do desenho formado pelas papilas (elevações da pele), presentes nas polpas dos dedos das mãos, deixado sobre uma superfície lisa.] Exames periciais cada vez mais exatos e complexos têm solucionado muitos processos, outrora resolvidos pelos juízes, que se baseavam em suposições, indícios e presunções. Neste contexto, de modo notável, verificou-se que, a partir da década de 1980, as técnicas de Biologia Molecular passaram a ser empregadas para identificar indivíduos e investigar vínculo genético através das análises de DNA. MÓDULO 1 Reconhecer a importância, as características e os campos de atuação da Genética Forense Fonte: Victor Moussa / Shutterstock IDENTIFICAÇÃO HUMANA POR DNA: APLICAÇÕES E LIMITES A Genética Forense é a área da Genética que objetiva estabelecer vínculo genético a partir de análises da molécula de DNA para apoiar e auxiliar à Justiça em casos de paternidade/maternidade simples ou complexa, ou em casos criminais, sob investigação policial ou do Ministério Público. Trata-se de uma área de investigação científica que pode ser empregada, por exemplo, em análises de manchas de sangue encontradas nos locais dos crimes, de sêmen deixado nas vítimas ou nos locais de crimes de natureza sexual, de pelos ou cabelos suspeitos de pertencerem a criminosos e na pesquisa de vínculo genético e identificação genética individual (identificação de um corpo ou de seus fragmentos). AO SAIR DOS LABORATÓRIOS E CIRCULAR PELOS JORNAIS, PROGRAMAS DE AUDITÓRIO, FILMES E SÉRIES DE TV, SALAS DE AULA, CORTES E OS LARES BRASILEIROS, AS ANÁLISES FORENSES DE DNA IMPACTAM A SOCIEDADE DE UMA FORMA SEM PRECEDENTES NAS CIÊNCIAS INVESTIGATIVAS. A SUA IMAGEM "PODEROSA" CONFERE CARÁTER DE LEGITIMIDADE, CIENTIFICIDADE E INOVAÇÃO, QUE AFETA A PERCEPÇÃO MENTAL DE MAGISTRADOS E POPULARES QUE NÃO POSSUEM SÓLIDA FORMAÇÃO CIENTÍFICA. Fonte: 128-B / Wikepédia (A) Fonte: isak55 / Shutterstock (B) Figura 1: Comparação alegórica entre um código de barras (a) e uma imagem obtida a partir de bandas (alelos) de DNA (b) O processo de recombinação gênica proporciona alto grau de variabilidade entre os organismos vivos. Cada ser humano possui um perfil genético exclusivo, com a exceção dos gêmeos monozigóticos, que compartilham do mesmo conjunto de genes. Como a molécula de DNA (ácido desoxirribonucleico) possui regiões específicas com considerável variabilidade genética, pode-se comparar o DNA a um código de barras capaz de identificar e comparar indivíduos, determinando, inclusive, a existência ou não de vínculo genético entre estes. Esta imagem alegórica pode ser observada na figura 1. AS TIPAGENS ATRAVÉS DA ANÁLISE DE DNA SÃO UM IMPORTANTE INSTRUMENTO PARA A DISTRIBUIÇÃO DE JUSTIÇA, PODENDO TORNÁ- LA MAIS ÁGIL DEVIDO À ECONOMIA DE TEMPO E RECURSOS. COM O CRESCENTE EMPREGO DA “PROVA DO DNA” NOS TRIBUNAIS BRASILEIROS, GANHA IMPORTÂNCIA UMA QUESTÃO FUNDAMENTAL: AS ANÁLISES LABORATORIAIS E A INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS DOS EXAMES DE DNA SÃO INFALÍVEIS? Na década de 1990, essa pergunta foi amplamente discutida. Veremos ao longo deste tema se podemos considerar desta forma. Observe que se duas amostras possuem o mesmo perfil para um grupo de marcadores genéticos em especial não significa, obrigatoriamente, que elas possuam a mesma origem. Quando a tipagem genética de duas amostras é igual, torna-se necessário expressar numericamente a significância deste evento. ATENÇÃO O número de marcadores empregados, a presença de subestruturas na população e mistura de amostras podem interferir nos resultados. A expressão estatística dos resultados deve ainda basear-se na presença ou não de misturas de material biológico, como é frequentemente encontrado em casos de abuso sexual. Assista ao vídeo sobre a validação científica dos métodos de análise. Fonte: Connect world / Shutterstock VALIDAÇÃO CIENTÍFICA DOS MÉTODOS DE ANÁLISE Uma questão fundamental concernente ao uso do DNA como evidência está na validação científica dos métodos de análise. Em outras palavras, é preciso ter garantias científicas de que os testes podem inequivocamente identificar inclusões e exclusões para cada marcador genético utilizado. Inicialmente, a credibilidade dos testes deve partir da natureza das amostras biológicas utilizadas. Com frequência, as amostras são encontradas em superfícies não estéreis, podendo sofrer danos após contato com a luz solar, microrganismos e solventes. Existem procedimentos que podem minimizar a ação destes fatores de degradação do DNA. Entretanto, muitos cuidados devem ser tomados para evitar equívocos na interpretação. INCLUSÕES Ocorrem quando alguém passa a ser suspeito de um crime ou entra para o rol de candidatos à paternidade/maternidade a partir da análise de seu DNA. javascript:void(0) javascript:void(0) EXCLUSÕES Ocorrem quando um suspeito, um condenado de um crime ou, ainda, um suposto pai ou mãe é descartado da acusação ou da paternidade por incompatibilidade de DNA. EXEMPLO A amplificação pela PCR (reação em cadeia da polimerase), que é largamente empregada nas tipagens genéticas, pode produzir falhas e artefatos quando a qualidade do material biológico está comprometida. Amostras parcialmente degradadas podem proporcionar, por exemplo, a amplificação preferencial de alelos e o surgimento das bandas fantasmas (stutter bands, figura 2). Fonte: West, a Thomson business / bioforensics.com Figura 2: Representação de bandas fantasmas ou stutter bands em identificação no locus FGA. No primeiro caso, tem-se a amplificação de um alelo em detrimento do outro. Isto pode gerar a falsa impressão de se tratar de um indivíduo homozigoto ao invés de heterozigoto para o locus em estudo. Já as bandas fantasmas ocorrem em virtude de falhas no processo que geram bandas com uma unidade de repetição a menos que a do alelo original. Deste modo, pode-se equivocadamente interpretar o resultado como um falso heterozigoto ou identificar um alelo erroneamente. ATUALMENTE, EXISTEM TECNOLOGIAS COMO OS LEITORES POR FLUORESCÊNCIA, QUE SÃO CAPAZES DE DIRIMIR DÚVIDAS E EVITAR ERROS DESTA NATUREZA. CONTUDO, ESTES EQUIPAMENTOS SÃO CAROS E POUCOS TÉCNICOS NO BRASIL ESTÃO CAPACITADOS A OPERÁ-LOS. Fonte: Sergey Nivens / Shutterstock REPRODUTIBILIDADE DOS TESTES Outro fator importante é a reprodutibilidade dos testes. Em ciência,é preciso que os resultados sejam passíveis de reprodução para que sejam aceitos como verdade científica. No campo forense, não é incomum a necessidade de repetição das tipagens. Isto pode encarecer o processo, mas não deve ser motivo para descartá-lo, principalmente quando o que está sob suspeita é o teste em si. Fonte: Departamento de Defesa dos Estados Unidos da América Laboratório de Análise Bacteriológica. Para as análises de DNA, diversos quesitos podem ser postulados para a interpretação dos dados, incluindo-se neste ponto: A escolha e o uso apropriado das técnicas. As frequências populacionais empregadas para os cálculos e o tipo de análise estatística empregada. Os controles de qualidade adotados. A documentação dos procedimentos. A qualidade dos equipamentos e reagentes utilizados. A capacitação técnica dos profissionais envolvidos. TODAS AS ETAPAS EMPREENDIDAS PARA A TIPAGEM DO DNA, DESDE A COLETA ATÉ A INTERPRETAÇÃO DO SIGNIFICADO ESTATÍSTICO DOS DADOS OBTIDOS, SERÃO CONSUBSTANCIADAS EM UMA PEÇA PERICIAL ESCRITA QUE SERVIRÁ AOS INTERESSES DE SEUS LEITORES. EM INSTÂNCIA FINAL, O LAUDO PODERÁ AINDA SERVIR COMO ELEMENTO DE CONVICÇÃO PARA JUÍZES, PROMOTORES E ADVOGADOS NAS AÇÕES PENAIS (PARADELA; FIGUEIREDO; SMARRA, 2006). ATENÇÃO Fique atento! O processo de recombinação gênica proporciona alto grau de variabilidade genética entre os organismos vivos. Fonte: Puwadol Jaturawutthichai / Shutterstock A LINHA DO TEMPO DA GENÉTICA FORENSE E CAMPOS DE ATUAÇÃO Se pararmos para pensar que o tamanho e a forma do pé são características geneticamente herdadas, a Genética Forense surge na pré-história, quando os humanoides utilizavam as características dos rastros de pegadas para identificar indivíduos da mesma espécie, assim como predadores e presas em potencial. Aliás, uma curiosidade, quantas pessoas na população calçam 36? Tenha em mente que a frequência dos marcadores ou características em uma população é importante. Fonte: Wirestock Images / Shutterstock O principal objetivo da Genética Forense é identificar/individualizar pessoas a partir do vínculo genético, em que se usa sempre amostras referências para confronto (comparação). Em tempo, você verá que todo o processo de interpretação é comparativo e, para tanto, necessita de referências. Fonte: franz12 / Shutterstock 700 D.C. As impressões digitais são conhecidas há séculos. Existem fontes históricas que identificam em 700 d.C. a utilização das cristas dermatóglifas (impressões digitais) para determinar identidade, porém com pouca sistematização ou critérios. 1823 Purkinje, em 1823, fez uma primeira publicação que sugeria um sistema de classificação em nove tipos de impressões digitais. No entanto, ele não considerou a individualidade dos tipos para cada indivíduo. Fonte: Purkinje / Wikipédia Fonte: Anônimo / dlpng.com 1877 No ano de 1877, Taylor, microscopista, sugeriu que as impressões digitais da palma da mão e dos dedos poderiam ser utilizadas para identificação criminal, porém a ideia foi inicialmente recusada. 1891 Em 1891, Vucetich, na Argentina, introduziu este tipo de análise para identificar assassinos. Fonte: Francis Galton / Wikipédia Fonte: Anônimo / dlpng.com 1892 Em 1892, o antropologista Francis Galton, publicou o livro Fingerprint, que detalhava a natureza das impressões digitais, seu uso para identificação humana e a possibilidade de seu uso na solução de casos criminais. ESTA FERRAMENTA É UTILIZADA AINDA NOS DIAS DE HOJE COMO PRINCIPAL CRITÉRIO DE IDENTIFICAÇÃO/INDIVIDUALIZAÇÃO DE PESSOAS. FERRAMENTA TÃO FANTÁSTICA QUE CONSEGUE INDIVIDUALIZAR GÊMEOS MONOZIGÓTICOS. A IMPRESSÃO DIGITAL É FORMADA AINDA NA VIDA INTRAUTERINA (POR VOLTA DE 16 SEMANAS) E TERMINA SEU AMADURECIMENTO DURANTE A INFÂNCIA. Podemos encontrar o uso da ferramenta, em vários segmentos da sociedade: carteira de identidade, ponto biométrico, título de eleitor etc. Embora a ferramenta tenha grande impacto na identificação, ela não estabelece vínculo genético. As cristas dermatóglifas são herdadas de maneira multifatorial (poligenes + interação com o meio ambiente). Isto posto, para a genética forense, seu uso é inapropriado em função de seu mecanismo de herança. Fonte: ktsdesign / Shutterstock SAIBA MAIS A análise do sangue pode também ser usada, com certas limitações, na área forense. O fisiologista Leonard Landois, em 1875, descreveu a ocorrência de diferentes tipos sanguíneos (sistema AB0) nos humanos, porém, em 1901, Uhlenhuth desenvolveu testes de precipitação específicos para cada grupo sanguíneo. Todos esses marcadores de superfície de hemácias foram perdendo seu valor investigativo à medida que outros marcadores foram sendo descobertos. Embora seja possível estabelecer vínculo genético (são herdados a partir de um único gene - monogênica) acabam perdendo o poder de inclusão de indivíduos em função do aumento da densidade demográfica e da miscigenação. EXEMPLO 1: Por exemplo, em uma cena de crime sexual em que o doador da amostra de sêmen seja do grupo A, e uma sala com 100 pessoas apresente 50 homens, sendo 20 do grupo A, o poder que o marcador exercerá é de exclusão, ou seja, 30 homens serão liberados e 20 serão investigados com mais detalhes. Esse procedimento visa otimizar custos, tempo e trabalho. Fonte: FrameStockFootages / Shutterstock Fonte: Monkey Business Images / Shutterstock EXEMPLO 2: Ainda sobre marcadores de superfície de hemácias, eles poderão apresentar poder de inclusão quando suas amostras de referência forem analisadas em um número reduzido. Por exemplo: em uma troca de bebês em uma maternidade, onde se teria dois bebês e dois casais para comparar. Outros marcadores foram utilizados, como os do sistema HLA classe II – Antígeno Leucocitário Humano (HLA), conjunto de genes que codifica proteínas de superfície que reconhecem e apresentam antígenos próprios ou externos para o sistema imune adaptativo - usados nos transplantes para identificar compatibilidade entre receptor e doador. Estes foram utilizados no início dos anos 1980. São geneticamente interessantes, pois, o locus é altamente polimórfico (existem muitos alelos para o mesmo locus) e herdados de maneira monogênica. O grande inconveniente é que o locus em questão é restrito ao cromossoma 6. Em função do aumento da densidade demográfica, assim como movimentos migratórios (para a miscigenação), os marcadores HLA foram perdendo o poder de inclusão. Muitos casos foram resolvidos na esfera familiar (paternidade), mas, na esfera criminal (identificação), começaram a gerar resultados inconclusivos nos casos (abaixo de 95% de probabilidade). Fonte: Jarun Ontakrai / Shutterstock No início dos anos 1980, Arlene Wyman e Ray White descreveram sequencias polimórficas no DNA para diagnóstico molecular de doenças. A partir dessa descrição, Alec Jeffreys, em 1984, desenvolve o primeiro teste para identificação humana por DNA. A técnica se baseava no confronto de polimorfismo a partir do uso de enzima de restrição, denominada RFLP (Polimorfismo no comprimento dos fragmentos de restrição), e na busca destes fragmentos a partir do uso de sondas multilocus, que reconhecem essas regiões polimórficas no genoma. O PRIMEIRO CRIME DESVENDADO USANDO ESSA FERRAMENTA OCORREU NOS EUA, EM QUE TOMME LEE ANDREWS FOI CONDENADO POR UM CRIME COM BASE NAS EVIDÊNCIAS DE DNA, QUANDO SUA VÍTIMA FORNECEU, EM UM HOSPITAL, UMA AMOSTRA DE RASPADO VAGINAL CONTENDO O SÊMEN DO SUPOSTO ESTUPRADOR. A partir deste caso, a ferramenta começou a ser utilizada em casos similares na perícia criminal, além de ser a principal ferramenta em direito de família nos casos de paternidade/maternidade simples (suposto pai – mãe – filho) até os casos mais complexos de vínculo post-mortem. ATENÇÃO Fique atento! O teste que identifica a origem biológica do sangue baseia-se na reação antígeno-anticorpo. Desde então, considera-se o DNA o principalmétodo de identificação genética humana, tornando os demais sistemas científicos obsoletos e ultrapassados. Ele também assumiu um valor diferenciado em relação às demais provas convencionais como testemunhas, depoimentos e documentos, entre outros. Fonte: Dean Drobot / Shutterstock PRINCÍPIOS DA HERANÇA E VARIAÇÕES Após o fenômeno da fecundação, ocorre a formação dos pró-núcleos masculino e feminino (cada um com 23 moléculas de DNA) e mistura deles. Esse processo permite que ocorra a formação do material genético (46 moléculas de DNA) do zigoto. VALE RESSALTAR QUE O ZIGOTO APRESENTA UM CONJUNTO DIPLOIDE DE 23 PARES DE MOLÉCULAS DE DNA, EM QUE METADE ADVINDO DO PAI BIOLÓGICO E A OUTRA METADE ADVINDA DA MÃE BIOLÓGICA, A PARTIR DAS SUCESSIVAS MITOSES QUE SOFRE, IRÁ FORMAR TODAS AS CÉLULAS DO CORPO HUMANO COM O DNA IGUAL DO PONTO DE VISTA ESTRUTURAL (SEQUÊNCIA DE NUCLEOTÍDEOS/ BASES NITROGENADAS). ISSO PERMITE QUE TODAS AS CÉLULAS DO CORPO POSSAM SER USADAS PARA FINS DE INVESTIGAÇÃO DE VÍNCULO GENÉTICO. Dentro deste contexto, é importante não levar em consideração o processo de diferenciação genética das células que também podem apresentar importância forense em situações particulares, como, por exemplo, na diferenciação de gêmeos monozigóticos pelo nível de metilação/ acetilação em determinados loci. Fonte: SvetlanaFedoseyeva / Shutterstock Em 1953, no laboratório Cavendish, na Inglaterra, Francis Crick e James Watson concluíram que a molécula do DNA (Figura 3) possui uma estrutura em dupla hélice, uma descoberta que daria novos rumos à ciência. Fonte: Jezper / Shutterstock Figura 3: Molécula de DNA em dupla hélice. A representação a qual chegaram Crick e Watson é a de uma longa molécula, constituída por duas fitas enroladas em torno de seu próprio eixo, como se fosse uma escada do tipo caracol. A união entre as fitas é feita por ligações de hidrogênio, que são fracas, isto é, que se rompem com alguma facilidade, ficando as bases nitrogenadas com o papel de degraus de uma escada circular. A unidade estrutural do DNA é representada pelos desoxirribonucleotídeos, que, por sua vez, são formados por um açúcar, a desoxirribose, por um grupo fosfato e por uma base nitrogenada. As bases nitrogenadas encontradas na molécula de DNA podem ser classificadas em purinas, como a adenina (A) e a guanina (G), e em pirimidinas, como a timina (T) e a citosina (C). PARTINDO DESSES PRINCÍPIOS BÁSICOS, USAREMOS A OBRIGATORIEDADE DA TRANSMISSÃO DE SEQUÊNCIAS ESPECÍFICAS DO DNA QUE PODEM SER CONFRONTADAS (COMPARADAS) E, CONSEQUENTEMENTE, OS INDIVÍDUOS ANALISADOS, PODEM SER INCLUÍDOS OU NÃO DO VÍNCULO GENÉTICO. Fonte: fizkes / Shutterstock PERFIL GENÉTICO, IDENTIFICAÇÃO INDIVIDUAL E VÍNCULO GENÉTICO Os seres humanos possuem inúmeras células, onde cada uma carrega todas as informações da hereditariedade em seus 23 pares de cromossomos/cromátides (exceto hemácias adultas, que são anucleadas, e os gametas, que são haploides). De cada par, uma cromátide é herdada do pai e a outra, da mãe. Durante o processo de fecundação, as 23 cromátides paternas se unem às 23 maternas, formando células diploides. Genes encontrados em um mesmo cromossomo são ditos ligados e tendem a ser herdados em conjunto. Entretanto, eles podem se desligar pelo processo de crossing-over, onde ocorre a quebra de dois cromossomos homólogos em locais correspondentes e a recombinação entre eles, processo que torna o DNA único para cada indivíduo, exceto em caso de gêmeos idênticos. Fonte: Andrea Piacquadio / Pexels Todo o nosso genoma segundo sua função, pode ser de dois tipos: CODIFICANTE O codificante, formado pelos fragmentos que contêm a sequência primária dos aminoácidos das proteínas. NÃO CODIFICANTE O não codificante, que corresponde a regiões sem capacidade codificadora. Variações nas regiões codificantes do genoma podem alterar a estrutura de proteínas, podendo ou não ter efeito deletério para o organismo. Entretanto, variações que ocorrem em regiões não codificantes não possuem efeito deletério na maioria dos casos, e, portanto, não sofrem pressão seletiva, o que torna estas regiões absolutamente úteis na genética forense. NOS TESTES DE DETERMINAÇÃO DE IDENTIDADE GENÉTICA PELO DNA, SÃO ESTUDADAS REGIÕES GENÔMICAS EM QUE HÁ VARIAÇÃO ENTRE PESSOAS NORMAIS. ESSAS REGIÕES SÃO CHAMADAS DE POLIMORFISMOS DE DNA OU MARCADORES DE DNA, OU AINDA, DNA SATÉLITE, DEVIDO À TENDÊNCIA DE FORMAR BANDAS DE SATÉLITES EM CENTRIFUGAÇÃO DE GRADIENTE. DOIS TIPOS DE POLIMORFISMOS SÃO UTILIZADOS PARA IDENTIFICAÇÃO HUMANA: POLIMORFISMO DE SEQUÊNCIA POLIMORFISMO DE TAMANHO POLIMORFISMO DE SEQUÊNCIA número de repetições de uma sequência. POLIMORFISMO DE TAMANHO variação na ordenação das bases nitrogenadas contidas no interior da molécula de DNA. Dentro deste último grupo, destacam-se os fragmentos formados por um número variável de repetições in tandem (VNTR - Variable Number of Tandem Repeats), também chamadas de DNA minissatélite, as regiões de DNA satélite e as regiões de DNA microssatélite. Estas possuem uma grande variabilidade genética interindividual, e deste modo, apresentam uma grande diversidade entre as pessoas. VARIABLE NUMBER OF TANDEM REPEATS Os marcadores VNTR são analisados através da técnica RFLP (restriction fragment lenght polymorphism), a qual é baseada em mutações que alteram sequências no DNA de um indivíduo, de modo que enzimas de restrição podem perder a capacidade de clivar aquele DNA em posições ainda susceptíveis à clivagem nas moléculas de DNA de outros indivíduos. As sequências VNTR são regiões de DNA minissatélite que possuem um tamanho moderado de repetições, normalmente não transcritas, e localizadas nas regiões do telômero ou próximos a elas. Assim que foram descritos, tiveram aplicação imediata na área forense e no auxílio ao mapeamento do genoma humano. As regiões de DNA satélite englobam um conjunto de repetições muito extenso, com sequências repetidas que variam de simples a moderada complexidade. Estas sequências de repetições ocorrem em blocos de 100 kilobases a megabases nas regiões centroméricas. O conjunto de marcadores polimórficos encontrados em uma pessoa será particular (salvo em gêmeos monozigóticos), gerando um “código de barras genético”. javascript:void(0) VOCÊ SABIA Atualmente, a ciência forense se utiliza de diversas técnicas de análise de DNA desenvolvidas ao longo dos anos. A aplicação de todas elas, porém, depende de uma coleta eficiente do material genético. A eficiência da coleta de amostras é uma das etapas mais importantes em uma investigação que envolve genética forense. Amostras físicas e biológicas que não são coletadas, documentadas e preservadas de modo apropriado não permitem obter bons resultados ou não possuem valor científico em investigações criminais. Fluidos biológicos normalmente contêm células, podendo ser usados como fonte de DNA. As amostras mais comuns são: sangue, suor, pelos, saliva, urina, sêmen, ossos, unhas, pele, fezes, entre outros. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. OS MARCADORES DE SUPERFÍCIE DE HEMÁCIAS DO SISTEMA AB0, EM CASOS FORENSES, NÃO PODEM SER UTILIZADOS PARA FINS DE VÍNCULO GENÉTICO, APESAR DE SEREM HERDADOS MONOGENICAMENTE. ISSO PORQUE: A) Apresentam poder de inclusão. B) Apresentam poder de exclusão. C) São herdados de maneira multifatorial. D) Apresentam muitos genes. 2. AS CÉLULAS DIPLOIDES HUMANAS QUE NÃO ESTÃO EM DIVISÃO POSSUEM, DE ACORDO COM O PADRÃO NORMAL: A) 23 cromossomos. B) 23 pares de cromossomos. C) 46 pares de cromossomos. D) 92 cromossomos. GABARITO 1. Os marcadores de superfície de hemácias do sistema AB0, em casos forenses, não podem ser utilizados para fins de vínculo genético, apesar de serem herdados monogenicamente. Isso porque: A alternativa "B " está correta. Em função de apresentarem quatro alelos para os fenótipos, por conta do aumento da densidade populacional, ocorre a repetição dos fenótipos ao longo da população,de maneira que mais de uma pessoa poderia ser incluída como doadora da amostra referência. Apenas terão poder de exclusão, ou seja, quem não se encaixa naquele fenótipo, fica livre de investigação mais pormenorizada. 2. As células diploides humanas que não estão em divisão possuem, de acordo com o padrão normal: A alternativa "B " está correta. Uma célula diploide possui 23 pares de cromossomos. MÓDULO 2 Descrever os fundamentos da Biologia Molecular aplicados à Genética Forense. Fonte: Billion Photos / Shutterstock INTRODUÇÃO: BIOLOGIA MOLECULAR A Biologia Molecular envolve a análise e estudo da organização química da célula. As moléculas compreendem o menor componente químico capaz de realizar todas as atividades estruturais ou catalíticas de uma substância. Um ou mais átomos constituem cada molécula. Muitas moléculas compreendem os vários componentes celulares e subcelulares de um organismo. As moléculas formam não apenas a estrutura física do organismo, mas também comunicam informações entre os vários compartimentos da célula. Essa comunicação pode ocorrer com a transferência de informações do DNA para o RNA e, finalmente, para a proteína ou ao nível da regulação sutil dos processos homeostáticos internos da célula. Essa comunicação depende ainda da interação de várias moléculas para garantir a fidelidade da mensagem ou regulação celular. ESPERAMOS QUE ESTE MÓDULO MOTIVE TODOS A DESENVOLVER HABILIDADES DE BIOLOGIA MOLECULAR E A APROFUNDAR SEUS ESTUDOS. Fonte: HQuality / Shutterstock OS EVENTOS ENVOLVIDOS NO FLUXO DA EXPRESSÃO GÊNICA REPLICAÇÃO A replicação do DNA é a base da hereditariedade. Através dela, o fluxo da expressão gênica é perpetuado ao longo das gerações celulares, ou seja, se uma célula produz a proteína “A” (fictícia), a partir de sua divisão, todas as células que descendem desta célula produzirão a proteína “A”, mantendo a perpetuação deste fluxo. Via de regra, a partir da replicação, a mesma sequência de nucleotídeos se manterá constante. Durante o processo, a enzima helicase reconhece sítios específicos ricos em adenina e timina (sítios de replicação) ao longo da molécula de DNA e rompe as “ligações de hidrogênio”, expondo as fitas simples de DNA, para que a duplicação de ambas aconteça no sentido 5’-3’ pela enzima “DNA polimerase”. Vale ressaltar que a DNA polimerase fará a fita complementar a partir de um molde que chamamos de primer (sequência curta de ribonucleotídeos que servirá de molde), adicionado às extremidades 3’. O controle de qualidade da replicação, que evita o surgimento de mutações, é mantido pelos mecanismos de reparo de DNA. Quando ocorrem mutações, o processo de identificação por DNA fica prejudicado em função de erros no confronto ou comparação dos polimorfismos. Esse processo é circunstancial e acontece na fase S da intérfase, quando uma célula se prepara para uma divisão celular. Outro fato sobre a replicação do DNA é que ela é semiconservativa, ou seja, cada molécula originada apresenta uma fita original e uma fita nova. javascript:void(0) TRANSCRIÇÃO Este processo diz respeito ao fluxo da expressão gênica propriamente dito. Um segmento da molécula de DNA – gene – será convertido em uma molécula de RNA para fins de produção de proteínas. Vale ressaltar que o código genético é montado, pela natureza, a partir da ordem de nucleotídeos contidos no RNA mensageiro (RNAm). O processo de conversão do gene em RNA é catalisado pelas enzimas RNA polimerase (são 3 tipos, uma para cada tipo de RNA – no caso do RNAm, a RNA polimerase II). Você se lembra da anatomia de um gene? Vamos relembrar: cada gene apresenta três partes básicas: Um sítio promotor, que promove a transcrição a partir de sua ligação com a RNA polimerase. Os éxons, são sequências de nucleotídeos que apresentarão correlação com o código genético. Os íntrons, sequências de nucleotídeos que não, apresentam correlação com o código genético, mas que, para um geneticista forense, serão de máxima valia, pois as sequências polimórficas para o estudo do vínculo genético se encontram nos íntrons. Logo após a confecção de moléculas de RNA (ainda dentro do núcleo), este sofre um fenômeno chamado processamento, em que o RNA transcrito primário amadurece e passa a se chamar RNA mensageiro (RNAm). Neste processamento, além do RNA ganhar elementos que aumentam sua meia-vida no citoplasma, os íntrons são retirados e os éxons são ligados entre si, fazendo uma sequência única que apresenta correlação com o código genético, pois vão codificar aminoácidos na tradução. A partir do processamento, o RNAm vai para o citoplasma para participar da tradução, junto ao ribossomo. É importante salientar que, para o geneticista forense, fazer análise de vínculo genético com RNAm se torna impossível, visto que estes não apresentam mais íntrons, que contêm as sequências polimórficas que utilizaremos para as análises. TRADUÇÃO O processo de tradução gênica é, na verdade, a síntese de proteínas propriamente dita. Neste processo, que apresenta três fases: início, alongamento e término, os códons do RNAm serão javascript:void(0) lidos pelo sítio A da subunidade menor do ribossomo (início). A partir dessa leitura, vem um RNA transportador (RNAt), trazendo um aminoácido pertinente ao códon lido, e, a cada códon lido, um RNAt traz o aminoácido que é passado ao sítio P (alongamento) e, desta forma, o polipeptídeo é construído (Figura 4). null Fonte: Designua / Shutterstock Figura 4: Esquema da síntese proteica. O dogma central da biologia molecular é uma explicação do fluxo de informação genética dentro de um sistema biológico, frequentemente declarado como "o DNA produz RNA e o RNA produz proteínas", embora esse não seja o seu exato significado original. MECANISMOS DE REPARO DE DNA Durante a síntese de DNA podem ocorrer modificações químicas, também chamadas de lesões ou incorporações de nucleotídeos errados, que precisam ser reparados prontamente para que não provoquem mutações. Os mecanismos de reparo do DNA são diferentes processos de que a célula dispõe para substituir nucleotídeos errados de uma das cadeias da dupla hélice por nucleotídeos certos, a partir da cadeia correta, que os define. Estes mecanismos de reparo do DNA só são possíveis por causa da estrutura do DNA em dupla hélice. Em genomas de cadeia simples de ácido nucleico, como ocorre em alguns vírus, o reparo não é possível.] MECANISMOS DE REPARO DE DNA O RNAm contém uma sequência de códons. Cada códon é formado por uma sequência de três nucleotídeos que codificam o aminoácido que entrará na cadeia polipeptídica para formar a proteína. ATENÇÃO As enzimas usadas pela célula nestas etapas, como a DNA polimerase, seja extraída naturalmente ou sintética, são geralmente usadas no laboratório como ferramentas moleculares. VÍDEO COM AVALIAÇÃO Assista ao vídeo sobre os fundamentos da Biologia Molecular aplicados à genética forense VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. AS ETAPAS QUE ESTÃO ENVOLVIDAS NO DOGMA CENTRAL DA BIOLOGIA MOLECULAR, FLUXO DA EXPRESSÃO GÊNICA, SÃO: A) Transcrição, PCR e RFLP. B) Replicação, DNA polimerase. C) Replicação, transcrição e tradução. D) Tradução e transcrição. 2. A ENZIMA CAPAZ DE COPIAR A MOLÉCULA DO DNA, NA REPLICAÇÃO, É: A) DNA replicase. B) DNA polimerase. C) Enzima de restrição. D) Helicase. GABARITO 1. As etapas que estão envolvidas no dogma central da Biologia Molecular, fluxo da expressão gênica, são: A alternativa "C " está correta. O fluxo da informação gênica passa pelas seguintes etapas: replicação (duplicação do DNA), transcrição (síntese do RNA) e tradução (síntese proteica). 2. A enzima capaz de copiar a molécula do DNA, na replicação, é: A alternativa "B " está correta. O novo DNA é feito por enzimas denominadas DNA polimerases, que necessitam de um molde e um primer (iniciador) e sintetizam DNA na direção 5' para 3'. MÓDULO 3 Identificar os procedimentos de coleta, preparaçãode amostras e extração de DNA (ácido desoxirribonucleico). Fonte: Fer Gregory / Shutterstock INTRODUÇÃO: EVIDÊNCIAS Para que tenham valia científica e aceitação em corte, as evidências físicas devem ser coletadas, documentadas e preservadas de modo apropriado. É IMPORTANTE RESSALTAR QUE O USO DE LUVAS E INSTRUMENTOS LIVRES DE CONTAMINANTES É OBRIGATÓRIO. Para a correta identificação de criminosos a partir da análise de DNA e a manutenção da cadeia de custódia, o perito precisa atender a critérios e parâmetros rígidos para todas as etapas do processo. Todos os processos devem ser documentados em texto, vídeo ou imagens. É comum encontrar um número altíssimo de amostras biológicas em locais onde ocorreram crimes violentos e, por vezes, é possível obter centenas de evidências biológicas em um único ambiente. O cuidado neste tipo de cena é determinante para o sucesso investigativo. Ao longo de investigações criminais, os principais materiais submetidos à análise de DNA incluem: Sangue e manchas de sangue; Sêmen e manchas de sêmen; Fios de cabelo (com raiz); Tecidos, ossos e órgãos, além de outras fontes como urina, saliva e fezes, que também podem ser analisadas. Fonte: ColiN00B / pixabay Tenha em mente que as informações obtidas a partir de evidências biológicas podem ligar pessoas entre si e estas a objetos e locais (PARADELA et al., 2006). Um ponto que o perito deve considerar diz respeito às possibilidades de transferência de células envolvendo diferentes pessoas, objetos e ambientes. A transferência de evidências biológicas pode ser direta ou secundária, também chamada de indireta (LEE et al. , 1991). INDIRETA Neste segundo caso, o material biológico é carreado por um meio intermediário, não havendo contato direto entre a fonte do material biológico e a superfície de depósito. javascript:void(0) É MUITO IMPORTANTE QUE OS PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS NA INVESTIGAÇÃO SEJAM CUIDADOSOS PARA NÃO DEPOSITAREM SUAS PRÓPRIAS CÉLULAS EM LOCAIS E OBJETOS ASSOCIADOS AO CRIME E NÃO TRANSFERIREM CÉLULAS PRESENTES NOS MATERIAIS ANALISADOS DE UM PONTO PARA O OUTRO. ATENÇÃO FIQUE ATENTO! As evidências localizadas em cenas de crime sempre devem ser fotografadas antes de serem tocadas ou movidas. A localização relativa no ambiente e as condições do material devem ser documentadas através de fotos, filmagem ou via esquemas e relatórios detalhados. Fonte: angellodeco / Shutterstock COLETA DE AMOSTRAS SANGUE E SÊMEN O material biológico na forma líquida geralmente é coletado por absorção (LEE et al., 1991). Sangue e sêmen ainda líquidos podem ser removidos com o auxílio de uma seringa descartável ou uma pipeta automática, sempre estéreis, e transferidos para um tubo de laboratório também estéril. Quando já coaguladas, as amostras sanguíneas devem ser transferidas ao tubo com uma espátula livre de agentes contaminantes. Quando se trata de coletas de sangue de pessoas, o procedimento deve ser executado por pessoal médico qualificado. Esse tipo de amostra deve ser refrigerada, mas não congelada, e dirigida ao laboratório visando a sua análise tão logo quanto possível. Nota 1: Caso exista uma necessidade que justifique a demora para a transferência das amostras ao laboratório, é possível transferir o material para hastes flexíveis com pontas revestidas de algodão estéril e permitir que o material seque sem a ação direta da luz solar. Nota 2: Manchas secas de sangue ou sêmen depositadas em peças de vestuário, lençóis e outros objetos que podem ser removidos para o laboratório devem ser isoladas e transportadas na forma em que estiverem. TECIDOS, FIOS DE CABELO, ÓRGÃOS E OSSOS Descrever o seu estado e fotografar é o padrão para qualquer tipo de amostra, inclusive tecidos, fios de cabelo, órgãos e ossos. Esse tipo de material pode ser coletado com o auxílio de instrumentos, como bisturis e pinças, sempre estéreis. Nota: Cada item deve ser acondicionado separadamente, selado e identificado. Para os fios de cabelo, deve-se utilizar as amostras contendo raiz. SALIVA, URINA E OUTROS FLUIDOS CORPORAIS Amostras de urina ou saliva na forma líquida devem ser transferidas para garrafas plásticas ou de vidro estéreis com o uso de seringa ou pipeta. Se as amostras estiverem na forma de manchas, pode-se proceder conforme descrito para manchas de sangue e sêmen. Nota: Preferencialmente, o material deve ser isolado de fontes de luz e armazenado em refrigerador. ATENÇÃO FIQUE ATENTO! A padronização permite a comparação entre testes feitos em diferentes laboratórios e garante que padrões foram seguidos, aumentando a credibilidade dos resultados alcançados. VÍDEO COM AVALIAÇÃO Assista ao vídeo com um estudo de caso de genética forense . PARA REFLEXÃO ALGUNS PONTOS A SEREM OBSERVADOS COMO DEVE SER O TRATAMENTO NO RECEBIMENTO DAS AMOSTRAS PELO LABORATÓRIO? Qualquer evidência biológica deve ser submetida ao laboratório forense o mais rápido possível Na chegada das amostras, o laboratório forense deve: para evitar a degradação, mistura e contaminação; Os itens devem ser acondicionados separadamente, identificados e lacrados; O estado em que amostras biológicas são encontradas deve ser relatado. Verificar e registrar a presença e o estado do empacotamento, dos selos e etiquetas; Os dados sobre a evidência devem ser verificados. Caso se realize algum teste preliminar no material, este procedimento deve ser registrado. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. COMO PREMISSA PRINCIPAL QUE ALGUNS PROCEDIMENTOS PARA PRESERVAR EVIDÊNCIAS FÍSICAS COLETADAS, TEMOS: A) Uso de botas apropriadas e instrumentos livres de contaminantes. B) Luvas e instrumentos livres de contaminantes. C) Luvas e canetas esferográficas livres de contaminantes D) Uso de botas apropriadas e câmera digital. 2. PARA A TRANSFERÊNCIA E REMOÇÃO DE MATERIAL BIOLÓGICO NA FORMA LÍQUIDA (SANGUE E SÊMEN), DEVEM SER USADOS: A) Papel de filtro ou pipeta automática. B) Seringa descartável ou papel de filtro. C) Seringa descartável ou pipeta automática. D) Papel de filtro ou swab. GABARITO 1. Como premissa principal que alguns procedimentos para preservar evidências físicas coletadas, temos: A alternativa "B " está correta. É fundamental o uso de luvas e instrumentos livres de contaminantes para que não haja qualquer tipo de contaminação dos materiais e procedimentos que venham a interferir nos resultados gerados. 2. Para a transferência e remoção de material biológico na forma líquida (sangue e sêmen), devem ser usados: A alternativa "C " está correta. Para a transferência e remoção de material biológico na forma líquida (sangue e sêmen), é preciso usar seringa descartável ou pipeta automática estéreis, pois são as ferramentas mais adequadas. CONCLUSÃO Fonte: FOTOKITA / Shutterstock CONSIDERAÇÕES FINAIS: “NÃO HÁ CRIME PERFEITO!” A frase acima, tão badalada, representa uma verdade que ficou ainda mais evidente com o emprego investigativo da Genética. Neste tema, nos situamos no cenário e na história da genética forense, além de introduzir conceitos e vocabulário básicos. Espero que tenha tido uma boa jornada até aqui. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS FIGUEIREDO, A., PARADELA, E. Pode a prova de DNA induzir um veredito? In: Revista NetLegis – Fiscolegis. Publicado em: 26 jul. 2006. LEE. H.C. GAENSSLEN, R.E., BIGBEE, P.D., KEARNEY, J.J. Guidelines for the Collection and preservation of DNA evidence. In: J. Forensic Ident. 41(5):341-345, 1991. Consultado em meio eletrônico: 06 jul. 2020. PARADELA, E., FIGUEIREDO, A., SMARRA, A. A identificação humana por DNA: aplicações e limites. In: Âmbito Jurídico. Publicado em: 30 jun. 2006. SMARRA, A., PARADELA, E., FIGUEIREDO, A. A Genética Forense no Brasil. In: Scientific American. Consultado em meio eletrônico: 06 jul. 2020. EXPLORE+ Pesquise o texto: Possible Issues with DNA Evidence. Consulte a página do InternationalSociety for Forensic Genetics (ISFG). CONTEUDISTA Andre Luís dos Santos Figueiredo CURRÍCULO LATTES javascript:void(0); DEFINIÇÃO Caracterização do genoma, sua compactação, organização dos genes, cromatinas, plasticidade celular e heranças genéticas. Apresentação dos conceitos de marcador genético e polimorfismo genético e sua aplicação forense. PROPÓSITO Apresentar alguns conceitos básicos de genética, que dão suporte ao conhecimento das regiões polimórficas do genoma consideradas como marcadores para individualização ou estabelecimento de vínculo genético, bem como técnicas para explorar estes polimorfismos. OBJETIVOS MÓDULO 1 Reconhecer a organização do genoma humano MÓDULO 2 Descrever o polimorfismo genético MÓDULO 3 Descrever os métodos de análise molecular aplicados à genética forense MÓDULO 4 Identificar os marcadores genéticos complementares INTRODUÇÃO No genoma humano, as sequências de DNA são 99,9% idênticas. Porém, encontramos sequências de nucleotídeos, denominados marcadores genéticos, que caracterizam de forma única cada indivíduo. Vários marcadores são passados dos pais para os filhos, permitindo, assim, que sejam usados para estabelecer vínculo genético. Além disso, apresentam estabilidade em diferentes ambientes. A descoberta dos marcadores genéticos a partir dos estudos do genoma humano permitiu grande avanço na aplicação do DNA em genética forense. Neste tema, vamos apresentar e discutir os principais marcadores genéticos usados na rotina de genética forense e as técnicas associadas. MÓDULO 1 Reconhecer a organização do genoma humano COMPACTAÇÃO DO GENOMA – METILAÇÃO / ACETILAÇÃO DAS HISTONAS Após a fecundação, o zigoto passa, na primeira semana, por mitoses sucessivas (clivagem). Isso faz com que surjam várias células com o mesmo potencial de diferenciação e proliferação. Durante esse processo, fatores ambientais tais como: estresse, nutrição, toxinas, patógenos, dentre outros, podem interferir no processo de diferenciação celular a partir da regulação de genes. A partir da clivagem do zigoto, quando ele atinge a fase de mórula, ocorre um desequilíbrio hídrico que permite a entrada de água em seu interior, fazendo com que os blastômeros sejam achatados e empurrados para a periferia. MÓRULA Uma estrutura com 64 células iguais onde cada célula é chamada de blastômero. Este fenômeno permitirá que os genes dos blastômeros passem a ser expressos (funcionar) levando a uma individualidade dessas células, que passam a regular genes próprios. Este fato determina o começo da diferenciação celular modulada pela compactação do DNA. Até os genes do embrião serem ligados, os blastômeros sobrevivem em função dos RNAs mensageiros contidos no citoplasma dos ovócitos que foram fecundados. A partir do momento em que as células da mórula começam a se diferenciar para dar origem primeiramente ao embrioblasto (dará origem ao embrião) e ao trofoblasto (dará origem à placenta), serão chamados de blastocisto - formará os folhetos embrionários (ectoderma, mesoderma, endoderma) para dar origem ao embrião. Todas essas modificações morfofuncionais pelas quais passa a mórula, a compactação do DNA durante os estádios iniciais do desenvolvimento embrionário, serão as grandes responsáveis por iniciar e manter a memória celular para a diferenciação celular, levando o zigoto a se converter em embrião. ATENÇÃO A compactação do DNA é uma grande característica de genomas eucarióticos e se deve à interação do DNA com o octâmero de histonas que formará o nucleossoma. Esse por sua vez, dependendo do nível de metilação, influenciará no estado físico do material genético: cromossoma (no máximo de condensação – nucleossomas muito próximos) ou cromatina (descondensados – nucleossomas afastados). Para entendermos esta dinâmica, podemos fazer uma analogia com água na forma líquida e gelo: Ambas formadas por moléculas de H2O, entretanto, no gelo, as moléculas estarão muito próximas, enquanto na forma líquida essa distância será padrão. Fonte: Adaptado de Wikimedia Detalhe da estrutura do cromossomo. Esta compactação leva a uma regulação epigenética a partir do que chamamos de “Código de Histonas”. Neste código, ocorrem modificações nas histonas, que são proteínas estruturais que interagem com o DNA (se enrolam), sempre formando um conjunto de 8 (octâmero) – 2 H2A, 2 H2B, 2 H3, 2 H4 - e mais a H1. Para que ocorra o Código de Histonas, dois processos são fundamentais: a metilação e a acetilação. METILAÇÃO A metilação é a adição de um radical metil (CH³) às histonas. Isso faz com que a região do genoma que esteja hipermetilada esteja desligada, ou seja, os genes contidos na área hipermetilada não sejam ativados para fins de expressão gênica. A metilação é catalisada pelas enzimas Metiltransferase de Histonas, que adiciona o radical metil aos resíduos de lisina e arginina das histonas H3 e H4. O aumento dos radicais metil inativa a transcrição (desliga genes). ACETILAÇÃO Inversamente proporcional à metilação, tem-se a acetilação, ou seja, a adição de radicais Acetil (COCH³) nos resíduos de lisina e arginina das histonas H3 e H4. Este processo ativa transcrição (liga os genes). Tudo é catalisado pelas enzimas Acetiltransferase de Histonas (HAT). Logo, quanto mais metilado/menos acelilado, o gene está desligado; quanto mais acetilado/menos metilado, o gene está ligado. ATENÇÃO Quanto maior o nível de metilação, menor a interação com fatores de iniciação da transcrição (impede que o complexo de iniciação se ligue ao TATABOX para exposição do sítio promotor e iniciação da transcrição). TATABOX javascript:void(0) Região rica em Adenina e Timina, e fica a -25pb antes do sítio promotor. Esta região é fundamental para iniciar a transcrição, pois, a partir de sua ativação, o sítio promotor fica exposto e pode interagir com a RNA polimerase fazendo fitas de RNA. Como foi dito anteriormente, essa relação interferirá na compactação do DNA, Código da Histona e disposição da cromatina. O Código das Histonas é estabelecido ainda no início do período embrionário e vai comandar e determinar a diferenciação celular, permitindo que as diferentes células do corpo de um indivíduo sejam morfofuncionalmente diferentes, apesar de apresentarem o mesmo DNA. EUCROMATINA/ HETEROCROMATINA A partir do Código das Histonas, ocorrem modificações de natureza conformacional no material genético contido no núcleo das células que acabaram de ser geradas a partir das mitoses advindas do zigoto. Estas células ficarão estacionadas em G1 (1ª fase da intérfase do ciclo celular) até que ocorram estímulos para que ela evolua no ciclo, e se divida. Nessas células, o material genético encontra-se na forma de cromatina (material genético descondensado), de maneira a ser utilizado para fins de expressão gênica. Ocorre que, durante a formação do Código das Histonas, algumas áreas da cromatina ficarão diferentes de outras, dando origem à formação da heterocromatina e eucromatina. Fonte: Wikipedia Organização da cromatina. HETEROCROMATINA A heterocromatina é a parte da cromatina menos descondensada, em comparação ao restante da cromatina (o nível de metilação das histonas é maior que o nível de acetilação), de maneira que genes contidos na área de heterocromatina estão desligados. Do ponto de vista estrutural, haverá uma maior aproximação dos nucleossomas (octâmero de histonas que interage com o DNA) e isso impede que os reativos da transcrição ativem e transcreva os genes. EUCROMATINA A eucromatina é a parte da cromatina mais descondensada que a anterior (o nível de acetilação é maior que o nível de metilação), que faz com que os genes contidos nesta área sejam ligados, ou seja, o complexo de iniciação da transcrição poderá iniciar a transcrição. ATENÇÃO Existe um controle genético prévio que permite que as relações entre áreas de eucromatina e heterocromatina se mantenham em todas as gerações celulares. Isso posto, estemecanismo explica por que um neurônio e um fibroblasto de uma mesma pessoa, embora apresentem o mesmo DNA, manifestam áreas de eucromatina e heterocromatina diferentes. Isso permitirá que, embora o neurônio apresente o gene do colágeno, este não se expressará em função de estar contido em uma área de heterocromatina. Da mesma maneira que observamos no fibroblasto da mesma pessoa, com relação à adrenalina: apesar de apresentar o gene da adrenalina, o fibroblasto não expressa, em função deste gene estar contido em uma área de heterocromatina. Já o gene do colágeno apresenta- se dentro de uma área de eucromatina e, por isso, pode ser expresso. Outro aspecto importante da heterocromatina é o fenômeno de compensação de doses que ocorre em um dos cromossomas X das mulheres. Por volta da 13ª semana de gestação, ocorre uma inativação parcial de um dos cromossomas X das mulheres com objetivo de equiparar as concentrações das proteínas dos genes do cromossoma X entre mulheres e homens, já que os homens apresentam um cromossoma X e as mulheres apresentam dois. Dessa maneira, um dos X da mulher fica inoperante parcialmente. Essa inativação parcial é mantida a parir da formação de heterocromatina em toda área cromossomial, a partir da hipermetilação das histonas. A heterocromatinização é feita de maneira aleatória para cada célula, ou seja, há célula em que o X paterno inativa, há célula em que o X materno inativa, porém, se na primeira célula foi o X paterno, todas as células que forem originadas desta terão o X paterno inativado parcialmente. Essa heterocromatina facultativa é comum no núcleo de células em interfase de mulheres citogeneticamente normais, e são chamadas de “Corpúsculo de Barr”. O princípio da diferenciação celular é justificado pela formação das áreas de eucromatina e heterocromatina, que em função de um controle genético ainda não elucidado completamente, se manterão constantes ao longo das gerações celulares. Isso porque, todos os fibroblastos, por exemplo, que surgirem a partir de um primeiro, terão as mesmas áreas de heterocromatina e eucromatina da célula original e, por isso, produzirão colágenos e não adrenalina. Fonte: ustas7777777/Shutterstock ORGANIZAÇÃO DOS GENES O gene é a unidade funcional do metabolismo. Ele controla as atividades da célula a partir da síntese de proteínas, tanto enzimáticas, sinalizadoras, quanto as estruturais. Sob o ponto de vista bioquímico, é uma sequência de nucleotídeos, na molécula de DNA, responsável pela codificação de uma proteína, embora existam genes que não produzam proteínas, como é o caso do gene para RNA ribossomal e RNA transportador, assim como os pseudogenes. Sob uma ótica Mendeliana, o gene é um segmento cromossomial responsável por uma característica visualizável. PSEUDOGENES Genes que perderam a funcionalidade ao longo do processo de evolução das espécies. MENDELIANA O biólogo e botânico Gregor Mendel (1822-1884) é o criador das Leis de Mendel, que tratam da transmissão dos caracteres hereditários. Um gene é composto por nucleotídeos unidos entre si por ligações fosfodiéster, que são estabelecidas entre a hidroxila do carbono 3 da desoxirribose, com fosfato do carbono 5 do nucleotídeo seguinte. Os genes apresentam uma extremidade 3’ (da hidroxila livre) e uma extremidade 5’ (do fosfato livre). Essas extremidades têm importância em função das enzimas do fluxo da expressão gênica reconhecerem a Hidroxila livre, pois, durante a transcrição de um gene, apenas a fita senso (3’-5’) será convertida em RNA mensageiro, sendo a outra fita mera figurante no processo. Do ponto de vista genético, o radical mais importante seria a base nitrogenada: Adenina (A), Guanina (G), Citosina (C) e Timina (T), pois é em função da ordem delas que se permite a javascript:void(0) javascript:void(0) individualidade genética. A diferença básica entre os indivíduos é, em primeira instância, a ordem das bases nitrogenadas. Estruturalmente simplificado, um gene apresenta 3 partes distintas: SÍTIO PROMOTOR ÉXON ÍNTRON SÍTIO PROMOTOR Promove a transcrição a partir da ligação com a RNA polimerase, que faz a fita complementar de RNA. ÉXON É uma sequência de nucleotídeos que apresenta correlação com o código genético e, portanto, será convertido em códon. ÍNTRON É uma sequência de nucleotídeos que não apresenta correlação com o código genético e que serão retirados no RNA transcrito primário, no processamento, permitindo que este se converta em RNA mensageiro (apresenta só éxon). ATENÇÃO Embora os íntrons, em princípio, não apresentem função direta à síntese de proteínas, serão, para o geneticista forense, de suma importância, visto que as sequências polimórficas comparadas para vínculo genético estão contidas neles. Fonte: Wikimedia Estrutura de um gene, evidenciando éxons e íntrons, região de união dos éxons (splicing) no RNAm, mostrando as etapas de transcrição e tradução. Do ponto de vista funcional, os genes vão apresentar sequências de nucleotídeos que, muitas vezes, não estão contidas em sua estrutura, porém fazem parte de sua funcionalidade. Podemos citar a região denominada TATABOX, como vimos acima. Fonte: Wikimedia Elementos estruturais do TATABOX, com a sequência de consenso TATAWAWA (esta mesma sequência de estrutura e função similares em diferentes organismos), onde W tanto pode ser A ou T. A ORGANIZAÇÃO DO GENOMA HUMANO Veja, a seguir, um vídeo sobre a organização do genoma humano, sequenciados a partir do Projeto Genoma Humano, que levará aos polimorfismos genéticos de interesse forense. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. NO FLUXO DA EXPRESSÃO GÊNICA, A METILAÇÃO TEM COMO FINALIDADE: A) Acelerar B) Ativar C) Inativar D) Retardar 2. OS GENES APRESENTAM 3 PARTES DISTINTAS, NA ORIENTAÇÃO 3’-5’, QUE SÃO: A) Sítio promotor-Éxon-Íntron. B) Éxon-Íntron-Sítio promotor. C) Sítio repressor-Éxon-Íntron. D) Íntron-Éxon-Sítio repressor. GABARITO 1. No Fluxo da expressão gênica, a metilação tem como finalidade: A alternativa "C " está correta. Visto que a metilação das histonas permite a condensação de trechos do DNA, o que faz com que o complexo de iniciação não ative o TATABOX, o qual inativa os genes contidos. 2. Os genes apresentam 3 partes distintas, na orientação 3’-5’, que são: A alternativa "A " está correta. Na orientação da fita senso (3’-5’), o gene possui o Sítio promotor-Éxon-Íntron, que participam do processo de transcrição. MÓDULO 2 Descrever o polimorfismo genético TIPOS DE HERANÇA GENÉTICA Nem tudo que é genético é hereditário, mas tudo que é hereditário é genético! ATENÇÃO Partindo dessa premissa, um fenômeno genético (aquele que tem implicações no fluxo da expressão gênica) passa a ser hereditário, a partir do momento que se observa a repetição daquela característica ao longo das gerações em uma família. Tal princípio foi usado pelos operadores da lei no século XIX e início do XX para estabelecer vínculo genético, pois observavam traços fisionômicos em comum em indivíduos envolvidos em uma ação de paternidade. Ao longo da história da genética forense, muitos casos foram elucidados a partir do confronto de traços fisionômicos entre o filho e o suposto pai: o juiz chamava um expert que fazia o confronto, de maneira que incluía ou excluía o vínculo genético dos envolvidos. Essa ferramenta deu origem aos primeiros marcadores genéticos para uso da genética forense. SAIBA MAIS A partir dos estudos de Gregor Mendel com as ervilhas, em que foi proposto mecanismo aos quais as características obedeciam ao serem transmitidas aos descendentes e, em consequência, foi possível prever a repetição dessas características, utilizando essas informações para a consulta genética. O trabalho de Mendel deu origem à herança monogênica ou mendeliana. Alguns conceitos são importantes para a compreensão do módulo: GENE Segmento cromossomial responsável por uma característica visualizável. ALELO Forma alternativa deum gene em um locus. Cada alelo é recebido de um dos genitores na fecundação. LOCUS/ LOCI Local/locais onde o gene é inserido no cromossoma. HOMOZIGOTO Quando os alelos são iguais (ex. AA, aa). HETEROZIGOTO Quando os alelos são diferentes (ex. Aa). DOMINANTE Quando o alelo manifesta a característica em homozigose ou heterozigose (ex. AA ou Aa). RECESSIVO Quando o alelo manifesta a característica apenas em homozigose (ex. aa). CODOMINÂNCIA Quando os 2 alelos manifestam suas características na mesma proporção (ex. IA IB no grupo sanguíneo AB). GENÓTIPO Conjunto de alelos para uma característica. FENÓTIPO É a manifestação morfológica do genótipo e que pode sofrer influência do meio ambiente. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal FORMAS BÁSICAS DE TRANSMISSÃO DAS CARACTERÍSTICAS Existem três formas básicas de transmissão de características: MONOGÊNICA OU MENDELIANA Herdada a partir de um único gene em um único locus. Pode ser bialélica (envolve 2 alelos. Ex. A e a), ou polialélica (envolvendo vários alelos, como no caso dos marcadores VNTR e STR). Podem ser: Autossômicas - quando o gene/marcador passado está contido entre os cromossomas do par 1 ao 22 – autossoma, ligado ao cromossomo X; ou Holândrica - quando o gene/marcador está contido no cromossomo Y. Com relação à manifestação do fenótipo, pode ser: Dominante - basta um alelo, independente do 2º para manifestar a característica; Recessivo - deve ter os 2 alelos iguais para a característica se manifestar; e Codominante - quando os 2 alelos se manifestam igualmente. Determinam caráter qualitativo. POLIGÊNICA E/OU MULTIFATORIAL A herança Poligênica e/ou Multifatorial será transmitida a partir da alternância de vários genes em vários loci diferentes, e a combinação dos genes/alelos determinará o fenótipo, com participação do meio ambiente, por exemplo: altura ou peso; ou sem a participação do meio ambiente, por exemplo: cor do olho. Determina caráter quantitativo. MITOCONDRIAL OU EXTRA NUCLEAR A herança Mitocondrial ou Extra Nuclear é aquela que surge a partir do DNA contido nas mitocôndrias que vieram da mãe, visto que, em princípio, as mitocôndrias que temos em nossas células são provenientes das que estavam no citoplasma do ovócito na hora da fecundação. As mitocôndrias paternas ficam na base da cauda do espermatozoide, e que degeneram junto com ela, já que só entra, para fins de fecundação, a cabeça. Fonte: Wikimedia Esquema mostrando a fertilização do óvulo pelo espermatozoide. Após a fusão das membranas, a cabeça do espermatozoide penetra o óvulo e se separa da cauda. Dessa forma, as mitocôndrias do embrião serão provenientes da mãe. A mitocôndria, de acordo com as teorias de origem da vida na terra, foi uma bactéria não patogênica que infectou uma célula eucariótica e a partir daí, estabeleceu uma relação interespecífica de simbiose. Fonte: PopTika/Shutterstock CONCEITO DE MARCADORES GENÉTICOS, ALELO, GENÓTIPO, IMPRESSÕES DIGITAIS DE DNA O genoma humano possui 3.300 Mb (megabases) e cerca de 50.000 genes, excluindo o DNA mitocondrial. A partir do início do século XXI, com o sequenciamento do genoma pelo projeto genoma, muito evoluiu o diagnóstico genético (incluindo a genética forense), pois muitas sequências de nucleotídeos novas puderam ser utilizadas, tanto para fins diagnósticos, quanto para fins prognósticos pela genética médica. 3.300 MB (MEGABASES) Apenas 0,1% apresentam uma variação na sequência (polimorfismo) que possibilita a diferenciação entre indivíduos. As sequências de nucleotídeos novas que permitiram elucidar fenótipos com precisão chamamos de marcadores genéticos. Muitos desses marcadores são herdados e assim, usados para estabelecer vínculo genético, pois são polimórficos, herdados de maneira monogênica polialélica e apresentam estabilidade em diferentes ambientes. javascript:void(0) Fonte: fizkes/Shutterstock MARCADOR GENÉTICO É uma característica identificável no genoma capaz de distinguir entre dois ou mais indivíduos ou organismos. Ele deve ser capaz de diferenciar os progenitores e ser reproduzido com precisão na progênie. São características desejáveis de um marcador genético: alto nível de polimorfismo e estabilidade. Outro aspecto dos marcadores genéticos moleculares é que não necessariamente são importantes na codificação de proteínas, mas sua presença individualiza fenótipos. Esses marcadores, em laboratório, são chamados de alelos (embora não necessariamente sejam genes), pois se apresentam sempre em número de dois. ATENÇÃO Outro ponto relevante é que os marcadores são encontrados ao longo do genoma, de maneira que, após análise de vários marcadores, poderemos individualizar pessoas, já que o conjunto desses marcadores (a partir de uma tipagem por DNA) gera o que chamamos de “impressões digitais” ou “perfil por DNA”, fazendo uma analogia às cristas dermatóglifas (Impressões digitais) que são pessoais e particulares. MARCADORES GENÉTICOS POLIMÓRFICOS E APLICAÇÕES FORENSES CNP (POLIMORFISMO POR NÚMERO DE CÓPIAS), VNTR, STR, INDELS São admitidos como marcadores genéticos polimórficos, aqueles que apresentam alelos com frequência superior a 1% na população em geral. Todos os polimorfismos surgem a partir de mutações durante a replicação de DNA, que podem ser espontâneas ou provocadas por mutágenos. Cerca de 95% do genoma apresentam sequências polimórficas que são suscetíveis à mutagênese, gerando mais variação e, em consequência, mais polimórficas. O genoma é composto por mais de 10 bilhões de nucleotídeos que se agregam de várias maneiras, gerando vários tipos de polimorfismos, onde alguns são de interesse forense. De mais relevância forense, temos: MUTÁGENOS Agentes de natureza química, física ou biológica que induza à mutação. CNP (POLIMORFISMO POR NÚMERO DE CÓPIAS) Equivale a uma parte considerável do genoma humano duplicada ou deletada em porções bastante largas, variando entre 200 pb até 1 Mb. As cópias extras ou faltantes do genoma nos CNPs podem ser detectadas por hibridação com sondas de oligonucleotídeos de DNA. Podem ser detectados usando métodos baseados em microarranjos, mas estes têm uma resolução relativamente baixa quando comparados com abordagens baseadas em javascript:void(0) sequenciamento. Devem ser utilizados concomitantemente aos marcadores STR. São muito utilizados para estudos de frequência populacional. VNTR (NÚMERO VARIÁVEL DE REPETIÇÕES IN TANDEM) São sequências constituídas por unidades de repetição de 9 a 100 pares de bases que podem se repetir até 35 vezes em um mesmo locus. Estão contidas nos íntrons gênicos. Foram as primeiras sequências apresentadas por Alec Jeffreys e aplicadas para fins forenses. Por serem sequencias maiores, são analisadas pela técnica de RFLP (polimorfismo no comprimento dos fragmentos de restrição), que utiliza enzimas de restrição. VNTR são sequências mais aplicadas a casos de paternidade simples (suposto pai-filho-mãe), e realizadas a partir de sangue periférico, gerando DNA íntegro. São tão polimórficos que a análise de seis loci já permite com exatidão elucidar o vínculo genético. Fonte: Wikimedia Diagrama de teste de paternidade por DNA. Resultados da “impressão digital genética” de amostras obtidas da mãe (M), filho (F) e dos supostos pais (1, 2, 3). As bandas de DNA de diferentes tamanhos na amostra do filho poderiam ser uma combinação das amostras da mãe e do pai. STR (SEQUÊNCIAS CURTAS IN TANDEM) São sequências extremamente polimórficas e distribuídas ao longo de todo o genoma, por estarem contidas nos íntrons gênicos. Apresentam unidades de repetição compostas por 3 a 7 pb (pares de bases). Por apresentarem tamanho menor que 350 pb, sua análise é feita a partir da técnica da PCR (Reação em Cadeia da Polimerase). Essas características permitem que os marcadores STR sejam os mais apropriados para a análise forense, visto que é possível a análise de quantidadesínfimas de amostras biológicas, inclusive degradadas. São analisadas um mínimo de 16 regiões STR, para um poder de inclusão incontestável. Tal análise é permitida a partir do uso de sistemas MULTIPLEX, onde vários Primers orientam a amplificação simultânea de todas as regiões analisadas. INDELS Os polimorfismos do tipo INDELS apresentam variações de comprimento geradas por inserções ou deleções de um ou mais nucleotídeos dentro de uma região do DNA. Esses marcadores vêm demostrando grande relevância como ferramenta forense por apresentarem características funcionais dos SNPs (polimorfismo de único nucleotídeo), como, por exemplo, apresentar fragmentos curtos com baixas taxas de mutação, além de apresentarem facilidade na genotipagem, assim como os STR, em uma única reação de PCR, e sendo detectados por eletroforese. Quando usados, faz-se concomitante com o uso de genotipagem de STR. POLIMORFISMOS GENÉTICOS Assista ao vídeo sobre polimorfismo genético e critérios estatísticos, principal ferramenta usada pelo geneticista forense. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. NA HERANÇA AUTOSSÔMICA, OS GENES EM QUESTÃO ESTÃO CONTIDOS NOS CROMOSSOMAS: A) X B) Y C) Par 23 D) Par 1 ao 22 2. UM MARCADOR GENÉTICO É DITO POLIMÓRFICO QUANDO: A) Sua frequência for menor do que 1%. B) Sua frequência for maior do que 20%. C) Sua frequência for maior do que 1%. D) Sua frequência for maior do que 50%. GABARITO 1. Na herança autossômica, os genes em questão estão contidos nos cromossomas: A alternativa "D " está correta. Na herança autossômica, os genes estarão contidos nos cromossomas do par 1 ao 22, pois estes são os autossomas, visto que não participam diretamente da diferenciação sexual do embrião. 2. Um marcador genético é dito polimórfico quando: A alternativa "C " está correta. Um marcador genético é dito polimórfico quando sua frequência na população for maior do que 1%, ou seja quando, em um grupo de 100 pessoas, mais de uma apresente aquele marcador. MÓDULO 3 Descrever os métodos de análise molecular aplicados à genética forense HIBRIDIZAÇÃO DE DNA (RFLP) Desde a década de 1980, quando Alec Jeffreys realizou os primeiros usos de marcadores genéticos para estabelecer vínculo genético e contribuiu com suas pesquisas para a área criminal, muitos foram os avanços observados no setor técnico. A seguir vamos apresentar as principais técnicas de rotina em genética forense. javascript:void(0) ALEC JEFFREYS Alec Jeffreys (1950) é um pesquisador e professor britânico, considerado o fundador da área que ficou internacionalmente conhecida como DNA Fingerprint. Hibridização de DNA (RFLP) – Restriction Fragment Lenght Polymorphism São amplamente usados em genética forense. Trata-se da diferença nas sequências de DNA homólogas que podem ser detectadas pela presença de fragmentos de diferentes comprimentos. Para esta análise, é realizado o processo de digestão das amostras do DNA em questão com endonucleases de restrição específicas. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal O RFLP, como marcador molecular, é específico para uma única combinação de clone/enzima de restrição. A maioria dos marcadores de RFLP é codominante (ambos os alelos na amostra heterozigótica serão detectados) e altamente específicos do local. Uma sonda de RFLP é uma sequência de DNA marcada que hibridiza com um ou mais fragmentos da amostra de DNA digerida após serem separados por eletroforese em gel, revelando assim um padrão de mancha único característico para um genótipo específico em um local específico. Os clones de DNA ou cDNA genômico de cópia curta ou única, ou baixa cópia são tipicamente usados como sondas de RFLP. ATENÇÃO A técnica básica para a detecção de RFLPs envolve a fragmentação de uma amostra de DNA com a aplicação de uma enzima de restrição, que pode clivar seletivamente uma molécula de DNA sempre que uma sequência curta e específica for reconhecida em um processo conhecido como resumo da restrição. Fonte: taraki/Shutterstock Os fragmentos de DNA produzidos pela digestão são então separados por comprimento através de um processo conhecido como eletroforese em gel de agarose e transferidos para uma membrana através do procedimento de Southern blot. A hibridação da membrana com uma sonda de DNA marcada determina o comprimento dos fragmentos que são complementares à sonda. Diz-se que um polimorfismo de comprimento de fragmento de restrição ocorre quando o comprimento de um fragmento detectado varia entre indivíduos, indicando homologias de sequência não idênticas. Cada comprimento de fragmento é considerado um alelo, se ele realmente contém uma região de codificação ou não, e pode ser usado em análises genéticas subsequentes. Notas (A) As sondas RFLP são frequentemente usadas no mapeamento do genoma e na análise de variações (genotipagem, análise forense, testes de paternidade, diagnóstico de doença hereditária etc.). (B) RFLP é uma técnica que explora variações nas sequências de DNA homólogas, conhecidas como polimorfismos, para distinguir indivíduos, populações ou espécies, ou para identificar a localização dos genes em uma sequência. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal PCR E SUAS VARIAÇÕES A técnica de PCR – Reação em Cadeia da Polimerase – é amplamente usada na genética forense e em outros campos do diagnóstico e pesquisa. A PCR é um método usualmente empregado para gerar rapidamente de milhões a bilhões de cópias de uma amostra específica de DNA, permitindo que os cientistas que colham uma amostra muito pequena de DNA e a amplifiquem em uma quantidade suficientemente grande para estudar em detalhes. VOCÊ SABIA A PCR foi inventada em 1984 pelo bioquímico americano Kary Mullis na Cetus Corporation. É fundamental para muitos dos testes genéticos, incluindo análise de amostras antigas de DNA e identificação de agentes infecciosos. Usando PCR, cópias de quantidades muito pequenas de sequências de DNA são amplificadas exponencialmente em uma série de ciclos de mudanças de temperatura. A PCR agora é uma técnica comum e, muitas vezes, indispensável usada em pesquisas de laboratório médico e laboratório clínico para uma ampla variedade de aplicações, incluindo pesquisa biomédica e forense criminal. A maioria dos métodos de PCR depende de ciclos térmicos. A ciclagem térmica expõe os reagentes a ciclos repetidos de aquecimento e resfriamento para permitir diferentes reações dependentes da temperatura - especificamente, fusão do DNA e replicação de DNA acionada por enzimas. A PCR emprega dois reagentes principais: Iniciadores - que são fragmentos curtos de DNA de cadeia simples conhecidos como oligonucleotídeos que são uma sequência complementar à região de DNA alvo Uma polimerase de DNA. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal DESNATURAÇÃO ANELAMENTO OU HIBRIDAÇÃO DOS PRIMERS EXTENSÃO OU POLIMERIZAÇÃO DESNATURAÇÃO Na primeira etapa da PCR, denominada desnaturação, as duas cadeias da dupla hélice do DNA são separadas fisicamente em alta temperatura em um processo chamado desnaturação do ácido nucleico. ANELAMENTO OU HIBRIDAÇÃO DOS PRIMERS No segundo passo, chamado anelamento ou hibridação dos primers (iniciadores), a temperatura é reduzida e os iniciadores se ligam às sequências complementares de DNA. As duas fitas de DNA tornam-se modelos para a DNA polimerase montar enzimaticamente uma nova fita de DNA a partir de nucleotídeos livres, os blocos de construção do DNA. EXTENSÃO OU POLIMERIZAÇÃO À medida que a PCR progride, o próprio DNA gerado é usado como modelo para replicação, pondo em movimento uma reação em cadeia, na qual o modelo original de DNA é amplificado exponencialmente (extensão ou polimerização). Quase todas as aplicações de PCR empregam uma polimerase de DNA estável ao calor, como a polimerase Taq, uma enzima originalmente isolada da bactéria termofílica Thermus aquaticus.Se a polimerase utilizada fosse suscetível ao calor, ela desnaturaria sob as altas temperaturas da etapa de desnaturação. Antes do uso da polimerase Taq, a polimerase de DNA precisava ser adicionada manualmente a cada ciclo, o que era um processo tedioso e caro. ATENÇÃO A maioria dos laboratórios forenses emprega a técnica de PCR na avaliação de marcadores STR. PCR EM TEMPO REAL É uma variação do tema da PCR que combina a amplificação normal do DNA pela PCR com a detecção simultânea do produto de amplificação, geralmente, em um único tubo de reação. Na PCR, a quantidade de DNA de fita dupla aumenta a cada ciclo. Após múltiplos ciclos de PCR, há um grande aumento na quantidade de DNA. Na PCR em tempo real, também chamada de PCR quantitativa, ou qPCR, um agente que se liga ao DNA de fita dupla é adicionado à reação de PCR. À medida que o DNA de fita dupla é produzido, o agente se liga ao DNA recém-sintetizado e produz um sinal que permite que a reação seja monitorada em tempo real. Embora o objetivo da PCR seja a amplificação do DNA, o objetivo da PCR em tempo real é a análise de uma amostra ou reação de DNA. PCR FLUORESCENTE EM TEMPO REAL É uma combinação de amplificação por PCR e detecção de fluorescência. Na sua forma mais simples, a PCR fluorescente em tempo real envolve o uso de um corante orgânico que é fluorescente apenas quando ligado a um duplex de DNA. Quando esse corante é adicionado no início de uma reação de PCR, ocorre um aumento na fluorescência à medida que o número de duplexes de DNA aumenta, e isso é indicativo de PCR bem-sucedido. SYBR Green é um exemplo de molécula que se liga ao DNA de fita dupla e se torna fluorescente na ligação (o complexo dsDNA-corante é fluorescente). ELETROFORESE CAPILAR E ELETROFEROGRAMA DE DNA A eletroforese capilar (CE) é a principal metodologia usada para separar e detectar alelos STR em laboratórios forenses de DNA em todo o mundo. Para obter uma tipagem STR confiável, três condições devem ser atendidas: Primeiro, é necessária resolução espacial para separar os alelos STR que diferem em tamanho por um único nucleotídeo. Segundo, é necessária uma resolução espectral para separar as cores dos corantes fluorescentes umas das outras, para que os produtos de PCR dos locais marcados com diferentes corantes possam ser resolvidos. Terceiro, a precisão do dimensionamento do DNA para execução é consistente o suficiente para que as amostras sejam relacionadas a escadas alélicas executadas para fins de calibração. Fonte: Wikimedia Gel de eletroforese de DNA. O diagrama mostra o processo em que uma corrente elétrica é aplicada às amostras de DNA criando fragmentos que podem ser usados para comparação entre amostras de DNA 1) extração do DNA; 2) isolamento e amplificação do DNA; 3) adição do DNA às placas de gel; 4) Corrente elétrica aplicada ao gel; 5) As bandas de DNA são separadas por tamanho; 6) As bandas de DNA são coradas. Os elementos primários de um instrumento de CE básico incluem um capilar de vidro estreito, dois frascos-tampão e dois eletrodos conectados a uma fonte de alimentação de alta tensão. Os sistemas CE também contêm uma fonte de excitação a laser, um detector de fluorescência, a bandeja de amostras e um computador para controlar a injeção e detecção de amostras. SEQUENCIAMENTO DE DNA O início do século XXI testemunhou uma revolução em nosso conhecimento das sequências de DNA de vários organismos; o exemplo mais notável é o sequenciamento do genoma humano. A análise do DNA genômico nos permitirá aprender muito sobre a evolução, a relação entre diferentes organismos, os mecanismos pelos quais os genes são controlados, a suscetibilidade a doenças e as linguagens ocultas na sequência do DNA. ATENÇÃO O sequenciamento de um genoma inteiro ainda não é uma técnica de rotina e outros métodos de análise genética são usados para analisar rápida e efetivamente amostras de DNA. Esses métodos e tecnologias como a impressão digital do DNA também transformaram a ciência forense. Métodos estabelecidos de sequenciamento de DNA, análises genéticas e forenses dependem do uso de oligonucleotídeos marcados e/ou desoxi ou didesoxinucleosídeo trifosfatos e requerem uma etapa de polimerização do DNA. Pode ser a reação em cadeia da polimerase (análise genética na análise STR), uma única extensão de nucleotídeo (minisequenciamento na análise SNP) ou uma combinação de polimerização e terminação da cadeia de DNA. Tudo isso foi possível devido aos métodos desenvolvidos por Fred Sanger em Cambridge, há algumas décadas. Sanger desenvolveu um novo método de sequenciamento de DNA (o método didesoxi), pelo qual recebeu seu segundo Prêmio Nobel, em 1980. SAIBA MAIS Next-generation sequencing (NGS) - O Projeto Genoma Humano alcançou o sequenciamento completo dos 3 pares de bases de bilhão do genoma humano, como resultado de um enorme esforço colaborativo entre 1990 e 2003. O Projeto Genoma Humano contou com o sequenciamento Sanger (embora com alta otimização e automatização). Agora, é possível sequenciar um genoma humano inteiro em questão de dias, graças a uma nova geração de tecnologias de sequenciamento, conhecidas coletivamente como sequenciamento de DNA da próxima geração. PRINCIPAIS MÉTODOS DE ANÁLISE MOLECULAR Veja agora o vídeo sobre as principais ferramentas moleculares para identificação humana: AmpFLP (PCR) e RFLP (Enzima de Restricção). VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. SÃO ETAPAS DA PCR - REAÇÃO EM CADEIA DA POLIMERASE: A) Desnaturação – Anelamento ou hibridização - Extensão ou polimerização. B) Renaturação – DNA polimerase – hibridização. C) Separação das fitas do DNA – Anelamento – Repetição. D) DNA polimerase – ligação – conclusão. 2. O SEQUENCIAMENTO DE DNA É O PROCESSO DE DETERMINAÇÃO DA SEQUÊNCIA DE NUCLEOTÍDEOS (AS, TS, CS, E GS) EM UM PEDAÇO DE DNA. EM RELAÇÃO AO NGS – NEXT GENERATION SEQUENCING – É CORRETO AFIRMAR QUE: A) Técnica para sequenciar partes pequenas do genoma. B) São novas abordagens feitas em grande escala que aumentam a velocidade e diminuem os custos do sequenciamento. C) Técnica de sequenciamento semiautomatizado. D) Sequenciamento de sequências codificantes do DNA. GABARITO 1. São etapas da PCR - Reação em Cadeia da Polimerase: A alternativa "A " está correta. A PCR padrão é realizada em 3 etapas, a saber: 1 – DESNATURAÇÃO (O DNA genômico contendo a sequência a ser amplificada é desnaturado por aquecimento a 89°C ou mais, por cerca de 30-60 segundos. A dupla fita é aberta (desnaturada), tornando-se uma fita única; 2 – ANELAMENTO OU HIBRIDIZAÇÃO (depois da separação das fitas, um par de iniciadores ou primers (uma fita de DNA específica para o gene que se quer estudar) complementam a fita oposta da sequência de DNA a ser amplificada. Ou seja, um deles é complementar à sequência em uma fita da dupla hélice de DNA e o outro é complementar à sequência na outra fita. O molde é determinado pela posição dos iniciadores que se anelam à fita. Essa etapa ocorre muitas vezes a uma temperatura de 60°C; 3 – EXTENSÃO OU POLIMERIZAÇÃO (com o molde já identificado, a enzima DNA-polimerase adiciona as bases complementares, formando uma nova fita e então tem-se novamente a duplicação da fita de DNA. Esse processo acontece a uma temperatura de 72°C - observe que a enzima escolhida afeta a temperatura da etapa). 2. O sequenciamento de DNA é o processo de determinação da sequência de nucleotídeos (As, Ts, Cs, e Gs) em um pedaço de DNA. Em relação ao NGS – Next Generation Sequencing – é correto afirmar que: A alternativa "B " está correta. A NGS refere-se a método de sequenciamento rápido e de grandes porções de DNA, tendo permitido avanços significativos na genética médica e forense. MÓDULO 4 Identificar os marcadores genéticos complementares LINHAGEM PATERNA Quando falamos em marcadores genéticos complementares, estamos nos referindo aos marcadores presentes nos cromossomos sexuais, X e Y. Desta
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