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Resenha Crítica do Texto de Moacir Gadotti

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Gadotti, Moacir. A escola e o professor: Paulo Freire e a paixão de ensinar. 1. ed. – São 
Paulo: Publisher Brasil, 2007. 
 
Moacir Gadotti, é professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo – 
USP e diretor do Instituto Paulo Freire sediado em São Paulo, o mesmo licenciou-se em 
Pedagogia e Filosofia, mestre em filosofia da educação pela Pontifícia Universidade Católica de 
São Paulo – PUC-SP, assim como é doutor formado pela Universidade de Genebra, na Suíça, e 
livre docente pela Universidade de Campinas – Unicamp. Publicou várias obras na área de 
educação, estando entre os maiores conhecedores das obras de Paulo Freire. O texto ora 
resenhado apresenta um estudo realizado por Moacir Gadotti sobre Paulo Freire no período em 
que o mesmo se encontrava em Genebra após ter sido exilado do Brasil devido a Ditadura 
Militar imposta como regime de governo brasileiro a partir do ano 1964, e após seu retorno do 
exílio. Apresenta também a paixão que Paulo Freire tinha pela vida, sua espontaneidade, alegria 
para com seu semelhante, especialmente os oprimidos e por ensinar baseando-se em uma relação 
entre a escola e o professor. O texto extraído do livro “A escola e o professor: Paulo Freire e a 
paixão de ensinar”, mais precisamente do capítulo dedicado a “Pedagogia da luta, pedagogia 
da esperança”, inicia com a explanação de que o autor escreveu na década de 1980 um livro 
analisando a vida e as obras de Paulo Freire, bem como que em 1996, com auxílio de outros 
autores, concluiu o livro “Paulo Freire: uma bibliografia”, sendo que, ainda no ano de 1996, 
entregou um exemplar da obra ao Paulo Freire, o qual ficou espantado por ter-se escrito tanto 
sobre ele. Assim, com advento dos dez anos da morte de Paulo Freire, Gadotti passa a refletir 
sobre seus ensinamentos e lições deixadas aos educadores, professores, animadores culturais e 
todos que possuem a tarefa de educar. Passa-se a narrar que Gadotti conheceu Paulo Freire em 
1974 na cidade de Genebra, porém, já conhecia as obras de Freire desde 1967, através de seu 
primeiro livro “Educação como prática da liberdade”. Com Paulo Freire Gadotti teve muitos 
encontros e trocou várias ideias sobre a situação do Brasil do período do golpe militar, e de 
como poderiam auxiliar refugiados políticos. Paulo Freire que fora orientador pedagógico de 
Gadotti por três anos participou da banca de seu doutorado na Universidade de Genebra, 
Gadotti notou que Paulo atendia a todos que lhe procurava com cortesia e paciência, bem 
como percebeu que o mesmo estava sempre sonhando, projetando, escrevendo e discutindo 
sobre algo, pois era muito otimista e acreditava nas pessoas e que o mundo é feito de 
possibilidades, sendo a educação um tesouro que aumenta ao ser repartido, haja visto só ser 
válido o conhecimento compartilhado. Contudo, em 1977, quando planejava voltar ao Brasil 
Gadotti informa a Paulo Freire que havia sido convidado para lecionar pela Universidade 
Estadual de Campinas (Unicamp), Paulo confidencia a Gadotti seu interesse em retornar ao 
Brasil, porém, tinha receio de sofrer perseguições políticas, mas voltaria caso conseguisse um 
contrato em uma universidade pública, pois assim sentiria mais segurança. Retornando ao 
Brasil, Gadotti fez contatos com a Universidade de São Paulo (USP) e Unicamp explanando o 
interesse de Paulo Freire o que fez com que o Diretor da Faculdade de Educação da Unicamp 
encaminhasse uma proposta para contratar Paulo Freire, proposta que fora aceita pelos órgãos 
internos da Unicamp, contudo, foi retardada pelo reitor da Faculdade, o que gerou 
manifestações públicas pela sua vinda. Destarte, Dom Paulo Evaristo Arns grão chanceler da 
PUC de São Paulo iniciou negociações para trazer Paulo Freire de volta ao Brasil, mas o 
governo brasileiro, daquela época, negava sua anistia, chegando ao ponto do negar passaporte 
para que o mesmo viesse participar em 1978 do Primeiro Seminário de Educação em Capinas. 
Contudo, foi possível sua participação na abertura do citado seminário, clandestinamente, por 
telefonema. Este foi o primeiro momento em que educadores se reuniam livremente após o 
golpe militar, assim como era a primeira vez que se ouvia a voz de Paulo Freire. Ele falou de 
sua alegria por se dirigir aos professores brasileiros após 14 anos no exílio, desejou 
afetividade, amor, carinho, confiança, esperança e falou da saudade do Brasil e de todos nós. 
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Porém, não podia retornar sem ter passaporte, todavia, lutava-se pela anistia no Brasil, 
chegando-se ao ponto de o governo militar ceder, o que fez com que Paulo Freire e sua esposa 
pudessem retornar ao Brasil, mas seus compromissos, tais como o Seminário na Universidade 
Michigan e o Mandado de Segurança que seu advogado havia impetrado para liberação de 
seus passaportes, bem como as despesas com as passagens os impediam de voltar, ele previu 
que retornaria ao Brasil em setembro de 1979. Devido a sua grande generosidade e respeito 
para com as pessoas Paulo Freire não se importava que suas obras fossem reproduzidas sem 
ser consultado, um grande exemplo é o livro “Educación y cambio” publicado por educadores 
populares na Argentina que faziam uso desses ensinamentos para desenvolver práticas 
político-pedagógicas referentes a mudanças, o livro era composto por artigos escritos por 
Paulo Freire no Chile. Paulo era positivo e esperançoso, e escrevia com carinho mesmo 
tratando da indignação, também escrevia para quem gostava, ou seja, aos oprimidos, e por 
isso não se incomodava em ver suas produções pirateadas. Um exemplo foi a reprodução 
artesanal feita por um sindicato de trabalhadores na Espanha da obra “Pedagogia do 
oprimido”, vendida por um euro nesse país Europeu. Aprendia-se muito com Freire, inclusive 
a ter paciência e a esperar que a verdade apareça mesmo tendo que percorrer uma longa 
jornada. Ele evitava responder às críticas e limitava-se a explicar suas posições evitando as 
polêmicas, contudo, não deixava de dar respostas aos questionamentos. Ao escrever o livro 
“Pedagogia: diálogo e conflito” em parceria com Moacir Gadotti e Sérgio Guimarães ele 
respondia a várias críticas que recebera nos primeiros anos do retorno ao Brasil. Mas, ele não 
ficava indiferente às críticas mesmo que fossem pessoais, porém achava destrutivas as críticas 
advindas de rumores anônimos por achar que os rumores são covardes e mais destrutivos. 
Contudo, ensina no livro “Pedagogia da autonomia” que devemos aprender a escutar, até 
porque não é falando que os homens serão os portadores da verdade absoluta a ser 
transmitida, mas ao se escutar é que se aprende a falar com outros homens. Gadotti ao lhe 
apresentar uma teoria sobre o ódio a Paulo Freire, ele riu dessa teoria. Outrossim, em 1996 ao 
participar do Congresso Internacional em Vitória do Espírito Santo, explanou que se 
considerava um “menino conectivo”, pois possuía essa característica epistemológica, haja 
visto que ele conseguia entrelaçar categorias da história, da política, de economia, de classe, 
gênero, etnia, dos pobres e não pobres. Entretanto, Jason Ferreira Mafra, o qual era 
coordenador da Universas Paulo Freire (Unifreire), fez sua defesa da tese em doutorado com o 
título “A conectividade radical como princípio e prática da educação em Paulo Freire”. 
Assim, por se considerar um ser conectivo ele propôs uma pedagogia aos pobres e aos não 
pobres, bem como queria ver as diferentes classes se engajando para transformar o mundo, até 
porque toda pedagogia traz implicitamente ou explicitamente propostas políticas, pois os 
homens são seres políticos por natureza. Um bom parâmetro é o “método Paulo Freire” de 
ensinar, o qual ancora-se na antropologia, pois não se fazia sentido separar esse método de 
uma visão de mundo. Os escritos de Freire apontam para as virtudes como exigências, 
principalmente as necessárias à prática educativa transformadora, exemplificando que essas 
virtudesdenotam a tolerância e a coerência, sendo a coerência transformada em esperança, 
porém, há que se notar que Freire tratava a coerência como parte da solidariedade. Quando 
Ana Maria Araújo Freire organizou o livro intitulado “Pedagogia da tolerância” composto por 
vários escritos de Paulo Freire, nele nota-se com fervor a “tolerância autêntica” legitimada 
pela convivência humana com os diferentes, ou seja, diferentes, mas não inferiores. Assim, há 
que se respeitar os diferentes e seus sonhos, ideias, opções, gostos, e aprender com eles. 
Diante disso destacava-se que a tolerância e solidariedade são multifacetadas, versando a 
solidariedade em condição para a espécie humana sobreviver, inerente a sua natureza. Mas 
Freire possuía como virtude conquistada a simplicidade, pois achava que é difícil ser simples. 
Ele fazia um comparativo entre o intelectual de direita e o de esquerda, considerava o de 
direita arrogante por natureza e o de esquerda arrogante por deformação, e acreditava que a 
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arrogância não é sinal de competência e nem a competência é motivo para ser arrogante. Por 
isso reconhecia a competência das pessoas arrogantes, lamentava por eles não terem 
simplicidade, todavia, isso não diminui o seu saber, mas os tornam pessoas melhores, mais 
gente. Portanto, o legado deixado por Freire é o da luta e da esperança, pertencente a quem 
dele precisa, seja uma pessoa ou instituição. Em seu livro “Pedagogia da esperança”, Paulo 
Freire traz a relação existente entre a luta e a esperança, a importância de uma educação para 
a esperança e uma pedagogia da esperança, ele cita que é ingênuo pensar que a esperança 
sozinha é capaz de mudar o mundo, mas, é a partir da esperança que é possível lutar, 
utilizando-se da verdade com ética, por um mundo melhor, ou seja, faz-se necessário que a 
esperança para se concretizar ancore-se de forma prática e antológica na Pedagogia da 
esperança. Outrossim, ressaltava que um embate para ter início é preciso que se tenha 
esperança, pois sem ela o que se tem é desesperança ou desespero. Para tanto, é importante 
que se tenha uma pedagogia da esperança para que a mesma possa ganhar respaldo em uma 
concepção de educação da esperança, a qual possui suprema importância na existência do ser 
individual ou social, compondo um processo de luta que é inseparável da esperança, os quais 
são inerentes da teoria do conhecimento e da concepção de educação freireana. Nesta seara, 
Paulo Freira apresentava o conhecimento como construção social, sendo que seus objetivos 
eram de poder utilizar a educação para melhorar o mundo e assim neutralizar os efeitos da 
opressão, pois luta e esperança, somados a educação e conhecimento compreendem uma 
tarefa humanizadora e de emancipação social. Ele acreditava não ocorrer a transmissão do 
conhecimento, pois o processo de ensinar e de aprender são processos de produção do saber e 
do conhecimento. Estima-se que o livro pedagogia da esperança é um reencontro com a 
pedagogia do oprimido, pois Freire retoma alguns pontos e responde às críticas recebidas, 
dentre elas a de ser “machista”. No entanto, Paulo Freire ao falar o termo “homem”, entrevia 
que necessariamente a mulher já estava incluída nele. Diante disso, ele agradeceu às mulheres 
que o fez perceber que a linguagem também acarreta ideologias. Mas é preciso fazer distinção 
da teoria, do método e da práxis de Paulo Freire. Baseado nesses enfoques serão apresentadas 
algumas considerações sobre sua obra, em especial para o professor da educação básica, 
considerações que foram feitas por estudiosos do pensamento de Freire, e que interpretaram 
que suas obras trazem: legado de luta e esperança; teoria do conhecimento que revela quatro 
instituições: 1. Gnosiologia do ato educativo; 2. Educação dialógica; 3. Ciência aberta às 
necessidades populares; e, 4. Planejamento comunitário e participativo. Paulo Freire construiu 
seu método de ensino, de aprendizagem e de pesquisa a partir das necessidades populares, 
resultando em quatro momentos: 1. Curiosidade em ler o mundo; 2. Compartilhar o mundo 
lido; 3. Educação como produção e reconstrução do saber; e, 4. Educação como prática da 
liberdade. Para Freire a liberdade é a capacidade de autodeterminação, agir espontaneamente, 
com uma direção consciente. Sua práxis expandiu-se para além do América Latina, enquanto 
que suas reflexões se aprofundaram para a educação como prática da liberdade. As 
abordagens de Freire foram além dos campos do conhecimento chegando a medicina, a 
terapeutas, a cientistas sociais, filósofos, antropólogos, etc., e neles criaram-se raízes que 
fortaleceram teorias e práticas educacionais, pois seu pensamento é considerado um exemplo 
de transdisciplinaridade. Destarte, Moacir Gadotti foi muito feliz ao escrever sobre Paulo 
Freire, intitulado o patrono da educação brasileira, pois o mesmo foi um ativista a favor da 
boa educação e em defesa dos oprimidos. Foi contemporâneo de uma época em que seu 
método de educar não pode ser empregado no Brasil devido a sua fase mais negra da história, 
o seja, o regime militar. Porém, mesmo exilado ele não perdeu sua esperança nem a alegria de 
poder voltar ao Brasil para compartilhar seus ideais educacionais com os educadores 
brasileiros, ideais de que deveremos ter um mundo melhor através da felicidade, esperança, 
virtude, e sobretudo, pela educação. O texto resenhado é indicado para estudiosos das teorias 
de Paulo Freire e a todos os profissionais que trabalham na seara da educação.

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