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Victor P. Feitosa Cristian Higashi Alessandro D. Loguercio Alessandra Reis INTRODUÇÃO A adesão dos materiais restauradores ao esmalte e à dentina é considerada um passo essencial na odontologia estética adesiva atual: seja na ortodontia, com a colagem de bráquetes, na prótese, com as cimentações adesivas de peças cerâmicas, ou na dentística, em procedimentos restauradores diretos. A maioria das especialidades odontológicas atuais faz uso da adesão por meio de sistemas adesivos, no seu dia a dia.1 Já é possível, atualmente, executar procedimentos adesivos com longevidade aceitável se o operador dominar a técnica de aplicação do sistema adesivo e do material restaurador. Atualmente, chegou-se a um ponto no qual muitos dos erros técnicos e de composição se tornaram conhecidos e foram ajustados. Por exemplo, alguns dos adesivos autocondicio- nantes de passo único mais recentes não possuem desempenho clínico tão ruim quanto os primeiros adesivos autocondicionantes lançados no mercado. O progresso que ocorreu com eles nos últimos cinco anos é notório,2 e algumas marcas comerciais atingiram um desempenho semelhante a materiais já consagrados pela literatura.3 Há trinta anos não se imaginava que hoje se teria um adesivo de passo único, capaz de aderir-se aos dois tipos de substratos dentais e ainda produzir retenção adequada para as restaurações de resina composta. Isso evidencia que, num intervalo curto de tempo, muitos avanços científicos ocorreram. Mas as modificações não se restringiram à simplificação da técnica. A amplitude de aplicações desses materiais conduz ao lançamento contínuo de novos materiais, a novas tecnologias e estratégias de união. Os sistemas adesivos, chamados de universais ou multimodo e as novas resinas compostas autoadesivas são alguns dos avanços mais recentes. Os sistemas adesivos universaissão modificações dos adesivos autocondicionantes tradicionais nos quais as soluções adesivas apresentam um potencial hidrogeniônico (pH) mais baixo do que os adesivos convencionais e monômeros funcionais acídicos capazes de produzir adesão química ao substrato. Os monômeros ácidos podem ser utilizados diretamente sobre a dentina mineralizada ou desmineralizada por ácido fosfórico,4 atuando como sistemas adesivos de condicionamento e lavagem ou como autocondicionantes. As resinas autoadesivas utilizam também monômeros funcionais acídicos com capacidade de união química com a hidroxiapatita e com característica fluida, o que permite seu uso sem associação com sistemas adesivos.5 Os dois materiais, adesivos autocondicionantes e resinas autoadesivas, apesar de já estarem no mercado e de serem os lançamentos mais atuais em termos de adesão, ainda estão em teste pela comunidade científica, e a literatura ainda carece de informações a respeito de sua longevidade clínica. Ainda há muito que percorrer para alcançar a durabilidade clínica de restaurações de amálgama de prata, que pode chegar a 30-40 anos.6 No entanto, assim como ocorreu nos últimos 30 anos, é de um material ou ideia inovadora que a odontologia estética adesiva progride, e isso leva a crer que, em um futuro não muito distante, tanto os sistemas adesivos atuais como as resinas compostas autoadesivas serão materiais corriquei- ros no ambiente clínico, permitindo restaurações com cada vez maior durabilidade. Neste artigo de revisão de literatura, serão mostradas as principais mudanças e os avanços que trouxeram ao estágio em que se está agora, desde o desenvolvimento do conceito da camada híbrida por Nakabayashi e colaboradores, em 1982.7 OBJETIVOS Ao final da leitura deste artigo, o leitor poderá: ▪ reconhecer as principais mudanças nos sistemas adesivos e na técnica adesiva em esmalte e dentina nos últimos 30 anos; ▪ identificar técnica para a aplicação de um sistema adesivo com a inclusão de detalhes técnicos que maximizem a adesão aos substratos e reduzam a degradação dessa interface ao longo do tempo. ESQUEMA CONCEITUAL ADESÃO NAS DÉCADAS DE 1970-1980 Condicionamento de esmalte e dentina com gel de ácido fosfórico a 35-37%, lava- gem abundante com água, remoção do excesso de água, aplicação de uma solução hidrofílica (primer) e, por fim, aplicação de solução adesiva hidrófoba antes da po- limerização: esse é um protocolo comum entre os dentistas atualmente quando se utiliza um adesivo de três passos. O protocolo realizado com um adesivo de três passos é o mesmo protocolo usado com adesivos que contêm monômeros funcionais com alta afinidade química pelo cálcio e hidroxiapatita. Podería estar-se falando de adesivos recentemente lançados no mercado, ou de protocolos utilizados corriqueiramente em qualquer parte do mundo. Entretanto, isso tudo já acontecia no fim dos anos 1970 e no início dos anos 1980.8-10 Com base nisso, pode- se dizer que a logística da adesão pouco mudou de lá pra cá, mas foi o maior conhecimento da interação do adesivo com os substratos que permitiu grandes alterações na composição e no protocolo clínico. Em meados dos anos 70, o condicionamento das cavidades era realizado com ácido fosfórico 40% por um tempo de 60 segundos.11 Nada se conhecia sobre os efeitos adversos do sobrecondicionamento com ácido na dentina, que podem gerar áreas desmineralizadas e não infiltradas por monômeros resinosos.12 Ainda se utilizavam resinas compostas auto- polimerizáveis (a mais popular era a Adaptic da Dentsply) e muito pouco (ou nada) se sabia em relação ao controle de umidade da dentina condicionada.8 O próprio passo de con- dicionamento ácido da dentina ainda era muito questionado,13 pois muitos pesquisadores ainda o relacionavam com a alta ocorrência de sensibilidade pós-operatória e de pulpite durante e após o término da restauração. Em relação aos sistemas adesivos, muito pouco se sabia sobre o benefício de se usarem soluções mais hidrófilas antes da aplicação de soluções adesivas mais hidrófobas. É possível encontrar publicações14 com a aplicação de resinas à base de cianoacrilato (tipo Superbonder, Loctite) como resina adesiva à dentina por sua maior biocompatibilidade. Naquela época já havia alguns pesquisadores9,15 que demonstravam os benefícios do uso de monômeros funcionais acídicos como o 4-metacriloxietil-trimelítico-anidro (4-META) e o n-fenil-glicina-glicidil-metacrilato (NPG-GMA). Apesar desse benefício ter sido atribuído pri- mariamente ao potencial de união química com a hidroxiapatita do esmalte e da dentina pela formação de sais de monômero-cálcio,9 esses monômeros também possuíam característi- cas menos hidrófobas, o que os tornavam mais compatíveis com o substrato dentinário ineren- temente úmido. Desde a década de 50, com Buonocore,16 já se tinha uma adesão confiável ao esmalte pelo condicionamento com ácido fosfórico. A união micromecânica promovida pela penetração dos monômeros nas microrretenções produzidas no esmalte pelo condicionamento era, e ainda é, suficiente para propiciar adesão aceitável e duradoura a esse substrato. No entanto, o maior problema era alcançar o mesmo grau de adesão para o substrato dentinário. O ano de 1982 foi um dos anos mais importantes para a odontologia adesiva, pois foi o início do entendimento do mecanismo de adesão das soluções adesivas à dentina. Em maio daquele ano, foi publicado o conceito da camada híbrida por Nakabayashi e colaboradores (1982),7 demonstrando que a infiltração e a polimeri- zação dos monômeros entre as fibrilas colágenas expostas pelo condicionamento ácido produzia microrretenção. A essa região de interdifusão entre material polimérico e substrato dentinário deu-se o nome de camada híbrida. O conceito de camada híbrida perdura até os dias atuais, e muitose descobriu em relação a procedimentos clínicos que melhoram a qualidade dessa camada e em relação aos processos de degradação à qual a interface está sujeita. Sem dúvida, foram os japoneses Nakabayashi e Fusayama7,8 que deram os primeiros passos para um maior entendimento da adesão à dentina. AVANÇOS NA TÉCNICA Com a evolução dos sistemas adesivos aplicados à dentina na técnica úmida, que eram os adesivos mais utilizados nos Estados Unidos nas décadas de 1980 e 1990, alguns detalhes técnicos foram melhorados. Diversos ácidos para o condicionamento de esmalte e dentina foram testados para substituir o ácido ortofosfórico,17 como ácido cítrico, ácido maleico e ácido lático, entre outros. Porém nenhum demonstrou padrão de condicionamento tão efeti- vo quanto o alcançado pelo ácido ortofosfórico em curto tempo.18 A partir de 1990, passaram-se a estudar as variações no tempo e a concentração do ácido fosfórico, até o atual gel com concentração de 35-37% aplicado por 30 segundos em esmalte e 15 segundos em dentina.12 O tempo de lavagem do ácido também foi ajustado: foi aumenta- do dos 10 segundos utilizados na década de 19808 para os 30 segundos atuais, para permitir uma diminuição do padrão de condicionamento12 e facilitar a subsequente remoção dos subprodutos da desmineralização dos substratos dentais.19 O condicionamento total, termo utilizado para designar o condicionamento com ácido fosfórico simultâneo do esmalte e da dentina, tornou-se comum entre os dentistas,19 após estabelecido que não ocorrem danos pulpares provenientes do contato do ácido fosfórico com a dentina, em função do potencial tamponante da dentina em cavidades rasas e de média profundidade. O conceito de condicionamento ácido total foi uma mudança tão expressiva na técnica ade- siva que ainda há autores que chamam os adesivos atuais que preconizam o condicionamento e a lavagem de adesivos de condicionamento ácido total, desconsiderando que a grande maioria dos adesivos, sejam os que usam o ácido fosfórico, sejam os que não usam (autocondicionantes), realizam o condicionamento simultâneo de ambos ossubstratos dentais. Um grande avanço no protocolo de adesão com adesivos de condicionamento e lavagem foi a técnica de adesão úmida. O controle da umidade da dentina condicionada20 para a aplicação dos adesivos foi o passo essencial para o aumento da união imediata e dalonge- vidade das restaurações usando os adesivos que preconizavam o condicionamento com ácido fosfórico em dentina. Os principais problemas relacionados ao “ overdrying ” (quando a dentina condicionada é deixada excessivamente seca) ou ao “ overwetting ” (quando a dentina condicionada é deixada excessivamente úmida) foram mostrados no fim da década de 1990.21 Com a dentina muito seca, as fibrilas colágenas, essenciais para a formação da camada híbrida, sofrem um colabamento, diminuindo drasticamente o espaço entre elas, o que é essencial para a infiltra- ção dos monômeros.22 Isso reduz a homogeneidade da camada híbrida formada e resulta em baixa resistência de união imediata.22 Por outro lado, a água em excesso impede a infiltração de monômeros mais hidrófobos (essenciais para uma maior longevidade da interface de união) e ainda impede a aproximação dos monômeros para uma adequada polimerização.23 A dentina condicionada deve ser mantida levemente úmida para favorecer a penetração dos monômeros resinosos. Entretanto, a variação do grau de umidade a ser deixado em função do tipo de solvente presente em cada solução adesiva desfavorece essa técnica, por não haver uma padronização do protocolo para um mesmo adesivo.24 Apesar de atualmente a técnica de adesão úmida não se mostrar clinicamente superior à técnica de adesão seca com adesivos de condicionamento e lavagem, desde que seja rea- lizada uma aplicação vigorosa do adesivo,25,26 ela ainda é recomendada pela maioria dos fabricantes de sistemas adesivos. A evaporação do solvente também é um passo crucial para aumentar a resistência de união e a sua durabilidade.27,28 O solvente é necessário somente para melhorar a infiltração dos monômeros mais hidrófobos e facilitar a evaporação da água que mantinha as fibrilas colágenas expandidas. Após a aplicação de um adesivo sobre a dentina condicionada, a evaporação do solvente com ar quente ou por tempos prolongados pode aumentar a durabi- lidade da união.28 Em muitos casos, os dentistas confundem o procedimento e realizam erroneamente a evapo- ração dos solventes, em especial quando utilizam um adesivo em que uma camada hidrófoba será aplicada por último (adesivos de condicionamento e lavagem de três passos ou autocon- dicionantes de dois passos). Quando se utiliza um sistema adesivo de três passos, a evaporação do solvente do primer deve ser geralmente feita por pouco tempo (até 5 segundos) e com jatos de ar com baixa pressão, pois a evaporação excessiva dificulta a mistura da resina adesiva (bond) que será aplicada posteriormente.22 Nesses casos, o solvente é ne- cessário e é diluído drasticamente após a aplicação do bond. Alguns métodos clínicos que melhoram a adesão, e que mostraram eficácia em estudos clínicos randomizados, são a aplicação vigorosa com agitação29-31 dos adesivos de condi- cionamento e lavagem e dos autocondicionantes e a aplicação de duas ou três cama- das de adesivo.32 Esses procedimentos melhoram a infiltração da resina no substrato condicio- nado. O uso de uma resina hidrófoba sem solvente (bond) como camada adicional também aumenta significantemente a adesão de sistemas simplificados4,32 já que quanto mais monô- meros hidrófobos existem na interface adesiva, menor é a sorção de água33 e, consequen- temente, a degradação da interface de união. AVANÇOS NA COMPOSIÇÃO Além dos avanços no protocolo de aplicação dos adesivos, mudanças fundamentais foram realizadas na composição para hoje terem-se disponíveis sistemas que possuem partículas de carga nanométricas, uso de diferentes tipos de solventes, monômeros funcionais com forte interação química com a hidroxiapatita e sistemas monoméricos resistentes à hidrólise que aumentam o prazo de validade dos adesivos. Alguns desses progressos serão relacionados e exemplificados nesta parte do artigo. SOLVENTES Após décadas de estudos com os solventes mais tradicionais (água, etanol e acetona), alguns solventes diferentes foram mais recentemente avaliados e vêm mostrando importantes avan- ços, principalmente na durabilidade da união. Alguns desses solventes inclusive já estão na composição de sistemas adesivos comerciais de condicionamento e lavagem simplificados. Atualmente os melhores adesivos em termos de resistência de união e longevidade são basea- dos em uma mistura de água e etanol.2,34 Apesar de ainda existirem diversos sistemas à base de acetona, esse solvente evapora muito rapidamente,3,34 dificultando a correta infiltração dos monômeros que nele estão dissolvidos. É comum também observar microsseparação de fases após a polimerização,35 o que deixa a interface adesiva menos homogênea e mais propensa à degradação. A mistura de água/etanol proporciona um tempo maior para a infiltração dos mo- nômeros na dentina condicionada, e só posteriormente, com a aplicação de jatos de ar, o solvente evapora. Dentre os solventes alternativos, empregados ou não em soluções adesivas comerciais, vale a pena citar: ▪ o tetraidrofurano (THF); ▪ o dimetil-sulfóxido (DMSO); ▪ o t-butanol. As estruturas químicas dos solventes alternativos são apresentadas na Figura 1. Figura 1 – Estruturas químicas do THF, do DMSO e do t-butanol. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. O THF é um solvente que possui uma pressão de vapor intermediária entre o etanol e a acetona, ou seja,ele evapora menos que a acetona e mais que o etanol.36 Um dos problemas da acetona, como já mencionado, é que ela evapora muito rapidamente quando o adesivo é aplicado sobre a dentina, e isso dificulta a infiltração dos monômeros na dentina condicionada. Já o etanol promove uma ótima infiltração, porém evapora em menor grau, mantendo com ele a água da dentina condicionada. Essa água e o solvente residual diminuem a capacidade de polimerização dos monômeros resinosos e degradam o polímero ao longo do tempo.37 Por isso, o solvente ideal para sistemas adesivos seria um que tivesse uma taxa de evaporação entre o etanol e a acetona. O THF encaixa-se nesse requisito e já demonstrou citotoxicidade relativamente baixa e boa durabilidade em restaurações in vitro.36 O DMSO é um solvente com características peculiares. Ele possui uma alta capacidade de dissolução para a maioria dassubstâncias líquidas, independente da polaridade, mesmo quan- do usado em baixas concentrações.38 Em outras palavras, ele dissolve muito bem tanto mo- nômeros hidrófilos como hidrófobos, promovendo uma homogeneidade excelente para os adesivos, principalmente os simplificados. Além disso, ele facilita a mistura e a infiltração dos monômeros hidrófobos na dentina condicionada e úmida.38 Entretanto, o DMSO possui pressão de vapor muito baixa (quase não evapora), ou seja, não pode ser usado em grandes quantida- des, pois, assim como praticamente todos os solventes, afeta drasticamente a polimerização. Baixíssimas concentrações de DMSO (0,004%) foram suficientes para reduzir a degradação de interfaces de união de restaurações de resina composta à dentina ao longo do tempo: e maiores concentrações foram capazes de inibir a degradação do colágeno presente na camada híbrida.38 Uma das explicações dos autores foi que o melhor molhamento promo- vido pela adição de DMSO no adesivo sobre a dentina indica maior infiltração dos monômeros e melhor qualidade de união. Diferentemente do THF e do DMSO, o t-butanol é um solvente que já pode ser encontrado em sistemas adesivos comerciais (XP Bond, adesivo de dois passos de condicionamento e lavagem, e Xeno V, autocondicionante de passo único, ambos da Dentsply). As vantagens que são especuladas sobre esse solvente são que ele possui maior hidrofobia que o etanol e a acetona, sendo, portanto mais adequado para dissolver monômeros hidrófobos e promover a infiltração deles no substrato úmido. O t-butanol possui evaporação (pressão de vapor) semelhante ao etanol, porém com maior taxa de evaporação39 o que levaria a maior evaporação da água residual, trazendo como possível benefício a produção de interfaces adesivas menos propensas à degradação. Algumas pesquisas têm demonstrado excelente adaptação marginal de restaurações que usam adesivos com t-butanol,40 e também foi obtido melhor selamento da dentina (me- nor permeabilidade) para adesivos autocondicionantes com o t-butanol (Xeno V) em compa- ração com adesivos contendo acetona.39 MONÔMEROS FUNCIONAIS O hidroxietilmetacrilato (HEMA) é um dos monômeros mais hidrófilos utilizados na Odontologia. Desde a década de 90 ele vem sendo usado nos adesivos de condi- cionamento e lavagem de três passos somente na solução do primer, devido a sua alta afinidade com a água da dentina condicionada, com o objetivo de facilitar a infiltração dos monômeros mais hidrófobos. Quando o HEMA é utilizado dessa forma (primer), pode-se incluí-lo em maior porcentagem (20-40% em peso), pois após a aplicação do adesivo (bond), o teor relativo de HEMA na camada híbrida será reduzido para menos de 10%. Isso faz com que o efeito de sorção de água produzido pelo caráter hidrófilo do HEMA e a consequente redução da durabilidade da união sejam reduzidos drasticamente em adesivos de três passos. O HEMA continuou sendo usado, no início dos anos 2000, em praticamente todos os adesivos simplificados em altos percentuais. Nesses sistemas, os efeitos negativos do HEMA foram mais pronunciados pela não aplicação de um bond com caráter mais hidrófobo. Logo se percebeu que a presença de HEMA nos adesivos de técnica úmida de dois passos e nos adesivos autocondicionantes de passo único era prejudicial para a durabilidade da união quando adicionado em concentração superior a 20%.41 Com o propósito de melhorar a durabilidade, alguns fabricantes introduziram no mercado os sistemas adesivos HEMA- free (sem HEMA). A grande desvantagem desses materiais é que ocorre separação de fases entre monômeros hidrófobos e hidrófilos que leva a uma falta de homogeneidade da solução adesiva na extensão da interface de união.42 Após muitas pesquisas, hoje se sabe que o HEMA é um componente importante nos sistemas adesivos, e que a sua adição somente deve ser feita em concentrações baixas e suficientes para prevenir a separação de fases e promover a correta infiltração dos monômeros hidrófobos. Ossistemas adesivos HEMA-free que ainda estão no mercado já demonstraram possuir menor resistência de união inicial e também maior degradação pela micro e nano separação de fases.2 Os sistemas adesivos atuais com melhor desempenho laboratorial e clínico possuem o HEMA na sua composição, principalmente no primer de adesivos de três passos. Por fim, há na literatura alguns monômeros chamados surfactantes que substituem de forma efetiva o HEMA e possuem sorção de água muito menor,43 o que possivelmente impactará na durabili- dade da união das restaurações. Porém, ainda não existem adesivos comerciais e estudos clínicos ainda não foram realizados com esses monômeros. Em relação aos monômeros funcionais ácidos (ou acídicos), os adesivos autocondicionantes só são possíveis devido à sua adição. Eles promovem o condicionamento ácido, pois possuem radicais ácidos ligados aos polimerizáveis separados por uma cadeia espaçadora. Muitos dentistas e até alguns pesquisadores ainda acham que a presença desses monômeros aumenta a degradação por eles serem mais hidrófilos, assim como o HEMA. Entretanto, quando usa- dos em baixas concentrações (<25%), possuem mais benefícios que desvantagens. Os monômeros funcionais ácidos são capazes de ligar-se quimicamente (ligação iônica) ao cálcio e à hidroxiapatita do esmalte e da dentina.2 Essa ligação química somada ao embricamento micromecânico tradicional da camada híbrida já demonstrou maior durabilidade para a união de restaurações de resina composta.2 Os monômeros funcionais ácidos possuem uma união química mais forte e durável quando são compostos por radicais ácidos fosfatos, uma vez que formam sais de cálcio com menor solubilidade.2 Atualmente, o melhor monômero funcional ácido presente em sistemas comerciais é o 10- metacroloiloxi-decil-fosfato, o MDP (Figura 2), por sua longa cadeia espaçadora e pela presença do radical ácido fosfato. Esse monômero já está presente em diversos adesivos comerciais, tanto autocondicionantes como adesivos de condicionamento e lavagem, diferentemente da maioria dos monômeros destacados na Figura 2.44 A interação química dos monômeros fun- cionais com a dentina é aumentada com a aplicação ativa, e quanto maior a agitação, maior a união química e, consequentemente, maior o grau de polimerização, já que ambas as propriedades estão diretamente correlacionadas, principalmente em adesivos com menores pHs.45 Figura 2 – Monômeros funcionais ácidos com cadeias espaçadoras de diferentes tamanhos e hidrofi- lias (MEP: 2-metacriloiloxi-etil-fos- fato; MDDP: 12-metacriloiloxi-do- decil-fosfato; CAP-P: caprolacto- na-fosfato; MTEP: metacriloiloxi- tetraetileno-fosfato.) Fonte: Arquivo de imagens dos auto- res. Da década de 1990 até os dias atuais, muito progresso foi observado em relação aos sistemas utilizados, inclusive para os adesivos autocondicionantesde passo único.3 Como a durabilidade da união dos autocondicionantes com o esmalte ainda é questionável, devido ao pH mais alto e ao condicionamento muito superficial, é recomendável a técnica de condicionamento ácido seletivo do esmalte com ácido fosfórico previamente à aplicação desses sistemas.2,12 FOTOINICIADORES O sistema fotoiniciador dos sistemas adesivos evoluiu muito, principalmente na última década. Muitos estudos mostraram que a separação de fases, em níveis micro e nanométrico, existia mesmo em adesivos contendo HEMA. Os monômeros mais hidrófobos não se misturam bem com os solventes, e principalmente com a água (componente essencial nos adesivos autocondicionantes), e isso leva a uma falta de homogeneidade da solução e da interface adesiva formada ao final.46 Os iniciadores utilizados na maioria das resinas odontológicas e nos sistemas adesivos são tradicionalmente hidrófobos. Dentre eles, o mais empregado é a canforoqui- nona, uma molécula fotossensível que, ao reagir com o coiniciador etileno-dimeti- lamino-benzoato, produz radicais livres. Os fotoiniciadores são menos efetivos para desencadear a polimerização de monômeros mais hidrófilos como o HEMA e os monômeros funcionais ácidos, produzindo regiões mais propensas à degradação.47 Fotoiniciadores alternativos predominantemente hidrófilos como o cloreto de 3-(3,4-dimetil- 9-oxo-9H-tioxanteno-2-iloxi)-2-hidroxipropil-trimetil amônio (QTX) demonstraram eficiência na polimerização das regiões mais hidrófilas dos monômeros, mesmo em presença de água,48 e podem já estar sendo utilizados em sistemas adesivos comerciais, mesmo que sem divulgação. Os adesivos com fotoiniciadores hidrófobos e hidrófilos são mais eficientes na polimerização e reduzem a separação de fases,47 deixando a interface adesiva mais homogênea e possivelmen- te com maior durabilidade.46 Uma desvantagem desses fotoiniciadores é que eles possuem picos de absorção de luz na região ultravioleta e um espectro visível de luz purpura (violeta).48 Diferentemente de aparelhos fotopolimerizadores de lâmpadas halógenas, que possuem espectro mais amplo de emissão de luz, e portanto capazes de ativar esses iniciadores alternativos, o aparelho de diodo emissor de luz (LED, do inglês light emitting diode), que emite estritamente na faixa da luz azul (470nm), não ativa adequadamente os fotoiniciadores hidrófilos. Somente os aparelhos fotopolimerizadores LED mais avançados, que possuem lâmpadas adicionais, emitem espectros capazes de ativar fotoiniciadores como o QTX. Dessa forma, é recomendável a utilização dos LEDs para fotopolimerizar sistemas adesivos maissimplificados. Sais de difeniliodônio têm sido incluídos na composição de diversos sistemas adesivos, por serem hidrófilos e funcionarem tanto como coiniciadores quanto como aceleradores da polimerização.47 O principal sal adicionado é o hexafluorfosfato de difeniliodônio (HFFDI), que reduz o efeito inibitório dos solventes na polimerização e aumenta a cinética da polimerização.49 Além disso, sua adição tam- bém melhora as propriedades mecânicas e diminui a sorção de água pela camada híbrida e pela camada de adesivo.50 Em função das melhorias proporcionadas pela adição do HFFDI, que são conhecidas desde o ano 2000, acredita-se que vários fabricantes já o incluíram em seus produtos, e o descrevem apenas como acelerador da polimerização. PARTÍCULAS DE CARGA A maioria dos sistemas adesivos atuais possui a adição de partículas de carga na composição.51 Até o ano de 2010, acreditava-se que a adição de partículas só contribuía para a melhoria das propriedades mecânicas do polímero adesivo, da resistência de união e também da durabi- lidade da união devido à maior resistência que a adição proporcionava ao material.52 O efeito da adição de carga na resistência mecânica de adesivos ainda é tema controverso na literatura,52,53 o que por si só não justificaria sua inclusão. Além disso, o caráter hidrófilo e a baixa estabilidade hidrolítica54,55 do agente de ligação organosilano, que une quimicamen- te as partículas de carga e a matriz orgânica, é uma questão preocupante. Isso leva ao despren- dimento das partículas e cria zonas enfraquecidas na interface de união que são mais propensas à degradação.56 As partículas de carga a serem incluídas nos sistemas adesivos devem ser de tamanho nanométrico para que elas possam infiltrar-se na camada híbrida, junto da resina. As partícu- las, além de serem muito mais caras, também são difíceis de se manter separadas, sem a formação de aglomerados (nanoclusters) que dificultam sua infiltração na matriz de colágeno desmineralizada.57 Um aspecto que vem sendo deixado de lado pelos fabricantes e tem direta relação com a adição de partículas de carga refere-se à radiopacidade dos sistemas adesi- vos. Sabe-se que os materiais odontológicos devem ter radiopacidade superior ou igual ao esmalte para serem diferenciados dos substratos dentais ao exame radio- gráfico. Isso não é um problema para a grande maioria dos materiais odontológicos, como resinas fluidas, cimentos resinosos e resinas compostas.58,59 No entanto, a grande maioria dos adesivos comerciais disponíveis no mercado possui característica radiolúcida.51 Embora o fato de os adesivos comerciais serem radiolúcidos e, portanto, serem não detectáveis ao exame radiográfico não seja um problema para camadas adesivas bem finas, sua espessura pode variar significativamente dependendo: ▪ da viscosidade do material; ▪ do número de camadas aplicadas; ▪ da experiência do operador; ▪ da geometria da cavidade. | PRO-ODONTO ESTÉTICA | CICLO 8 | VOLUME 4 | 23 Já houve relato de espessuras de adesivo de 60 a 80µm em superfícies lisas e convexas que atingiram espessuras de 200 a 300µm em regiões côncavas.60,62 Nessas situações, o diagnóstico diferencial torna-se problemático e pode induzir a uma inapropriada substituição de restau- rações. METACRILAMIDAS Uma das desvantagens dos sistemas adesivos utilizados há três décadas era o uso do sistema resinoso tradicional à base de metacrilatos. Apesar de hoje a maioria dos sistemas ainda usarem esses monômeros, a ligação do radical metacrilato às cadeias espaçadoras é feita por uma funcionalidade éster, facilmente quebrada quando em presença de água.63 O maior problema ocorre nos sistemas autocondicionantes de passo único que necessitam de certa quantidade de água para a correta ionização dos monômeros funcionais ácidos. Esses monômeros também possuem uma ligação éster conectando a cadeia espaçadora ao radical ácido, a qual também é degradada ao longo do tempo.63 O processo de degradação dos monômeros ocorre principalmente durante a armazenagem do adesivo e não após a polimerização no dente. Com isso, já foi demonstrado que quanto mais próximo ao prazo de validade um sistema adesivo que contém água na composição é utilizado, pior é a adesão obtida por ele e, consequentemente, menor será a durabilidade da união.64 Existem duas estratégias para diminuir o efeito da degradação dos monômeros durante a armazenagem no consultório, a primeira e mais conhecida é a armazenagem dos sistemas adesivos em geladeira.64 A menor temperatura diminui a cinética de reação da hidrólise dos ésteres, mantendo a integridade dos monômeros e a efetividade dos adesivos mesmo após meses de uso clínico. Outro método para diminuir a hidrólise dos monômeros na solu- ção do adesivo contendo água é o uso de um sistema monomérico alternativo à base de metacrilamidas,63 e, em monômeros funcionais ácidos, o uso de radicais fosfonatos que contêm uma ligação entre o fósforo e o carbono, altamente resistente à hidrólise, ao invés do éster ligando o radical ácido à cadeia espaçadora. Os sistemas adesivos comerciais que utilizam essa tecnologia de metacrilamidas são princi-palmente os autocondicionantes simplificados das empresas Ivoclar Vivadent e da Dentsply (por exemplo, o AdheSE One F e o Xeno V). Sem dúvida, o prazo de validade é muito maior com os adesivos à base de metacrilamida e de autocondicionantes à base de fosfonatos.63 Um clínico pode utilizá-los próximo ao prazo de validade sem incerteza quanto à adesão e à durabilidade promovida por eles. A durabilidade da união promovida por resinas à base de metacrilamida comparada com as de metacrilato ainda é uma incógnita.63 Já em relação aos fosfonatos, sabe-se que os monômeros fosfatados dos adesivos que possuem menor prazo de validade são capazes de promover união química mais forte e duradoura com a hidroxiapatita e com a dentina,2 o que é uma desvantagem para os sistemas à base de metacrilamidas e fosfonatos. DESENVOLVIMENTO DOS SISTEMAS SIMPLIFICADOS Baseado nos avanços citados acima, durante os últimos 30 anos, o que mais se buscou foi o desenvolvimento de sistemas adesivos simplificados que promovessem boa retenção inicial às restaurações e sofressem o mínimo possível de degradação ao longo do tempo. Ainda não foi possível, nessas últimas décadas, encontrar um sistema simplificado capaz de desenvolver sistemas adesivos simplificados. Talvez, algum dos sistemas autocondicionantes de frasco e passo único mais atuais seja capaz de preencher os requisitos. Entretanto, não houve tempo suficiente para se avaliar a longo prazo um desses sistemas, tanto laboratorial como clinicamente. Hoje, sabe-se que os sistemas de condicionamento e lavagem de três passos e os autocondicionantes de dois passos (como o Optibond FL e o Clearfil SE Bond) são os padrões ouro em termos de durabilidade e retenção.2 Contudo, os sistemas sim- plificados são mais fáceis e padronizados de se utilizar. Isso faz com que os clínicos busquem mais por esses sistemas, mesmo sabendo que eles não são os melhores do ponto de vista da longevidade clínica. Os primeiros adesivossimplificados lançados no mercado tinham como a principal desvantagem a excessiva hidrofilia6 por conterem grandes porcentagens de HEMA, água e solventes. No caso dos autocondicionantes, a principal desvantagem dos primeiros lançados na década de 1990 e os primeiros de passo único nos anos 2000 era o pH muito baixo das soluções que os tornavam muito mais hidrófilos.2 A maior hidrofilia das soluções e consequentemente do polímero levava a uma maior sorção de água.33 Com o tempo, e após muitas pesquisas, os fabricantes conseguiram adequar o pH dassoluções dos adesivos e balancear a quantidade de monômeros hidrófilos. No caso dos sistemas autocondicionantes, adesivos mais leves, com pH em torno de 2-2,5, são mais favoráveis em relação à formação de uma união química e de uma maior durabilidade clínica.2 Outros avanços são relacionados à melhor polimerização dos sistemas adesivos utilizando fotoiniciadores alternativos, tanto hidrófobos como hidrófilos, para diminuir a separação de fase e reduzir a degradação.47 Também já foi observada grande melhoria para os sistemas de passo único comerciais nos últimos cinco anos,3 o que sugere maior segurança ao utilizar esses sistemas, principalmente os recentemente lançados, que contêm MDP. Provavelmente, os sistemas autocondicionantes simplificados serão submetidos a mais e mais avanços nos próximos anos, e em uma década dominarão o mercado tanto em preferência dos dentistas como em relação à retenção e à durabilidade clínica. 28 ADESÃO E SISTEMAS ADESIVOS: O QUE REALMENTE MUDOU DEPOIS DE 30 ANOS? SISTEMAS ADESIVOS UNIVERSAIS Como comentado na seção 6.2, o monômero funcional ácido MDP é usado em vários adesivos atualmente. Esse monômero foi desenvolvido pela empresa japonesa Kuraray e foi utilizado durante muitos anos exclusivamente nos produtos dessa empresa, tal como o Clearfil SE Bond, adesivo conhecido e comercializado no Brasil. Contudo, a patente do MDP venceu, e diversas empresas odontológicas passaram a fazer a inclusão desse monômero dentro de novos adesivos comercializados sob o nome de universais ou multimodo. Em geral, esses materiais tem uma apresentação como a de adesivos de condicionamento e lavagem simplificados (ácido fosfórico + adesivo), mas, segundo os fabricantes, pode ser usado de forma convencional (ácido fosfórico + adesivo) ou autocondicionante (apenas ade- sivo), criando com isso uma maior simplificação para os dentistas que podem escolher qual procedimento utilizar.65 Quando essas duas estratégias de aplicação foram testadas em dentina, resultados semelhantes foram obtidos, inclusive quando comparados aos materiais padrão- ouro dentro de cada categoria.4,65 Já em esmalte, é fundamental usar o ácido fosfórico.66 Mais recentemente, o conceito de universal tem sido estendido a outros substratos, já que o MDP tem também capacidade de união à cerâmica, por exemplo.67 Entretanto, dois fatores devem ser observados quando o clínico for escolher os materiais. Primeiro que, infelizmente, não são todos os materiais que contêm MDP, e tem sido observado que os que não o contêm têm um desempenho inferior já no tempo imediato.4,65 Segundo que, como são na essência adesivos simplificados, continuam a ter os mesmos problemas de degradação descritos a seguir, apesar da presença de MDP ter um efeito retardatário.68 Apesar disso, um estudo clínico publicado com um dos materiais dentro dessa categoria mostrou excelente desempe- nho clínico quando o material foi aplicado como autocondicionante ou usado seletivamente o ácido fosfórico, apenas em esmalte ou em esmalte e dentina.69,70 MECANISMOS DE DEGRADAÇÃO Em relação à degradação da união com ossistemas adesivos, o entendimento sobre o assunto evoluiu muito nos últimos 30 anos, culminando no fato de que existem três principais meios de degradação da união, que ocorrem principalmente na adesão à dentina,33 por ser um substrato mais heterogêneo e com maior presença de água. Os mecanismos são: ▪ degradação do polímero; ▪ degradação das partículas de carga; ▪ degradação do colágeno. DEGRADAÇÃO HIDROLÍTICA DO POLÍMERO A resina utilizada no sistema adesivo é um dos fatores principais determinantes da durabilidade da união da restauração. Quanto mais hidrófilo o polímero infiltrado na camada híbrida e presente na camada de adesivo, maior será a sorção de água e a hidrólise de todos os componentes da interface de união.71 A água induz quebra das ligações ésteres entre as cadeias espaçadoras e os radicais polimerizáveis, assim como as ligações entre os monômeros mais hidrófilos como o HEMA. Isso torna o polímero mais linear e ainda mais suscetível à captação de mais água.72 De fato, a melhor polimerização dos adesivos também leva à formação de polímeros de melhor quali- dade, maior resistência mecânica e resistência à hidrólise com menor liberação de monômeros não reagidos.49 A hidrólise do polímero depende também do substrato a que o polímero está unido. A união com o esmalte é mais estável e de certa forma protege a união com a dentina, desde que esteja presente em toda a margem cavitária, já que, tanto devido à saliva/aos fluidos bucais, como devido ao maior teor de água e à pressão pulpar exercida pela circulação de sangue na polpa, ocorre maior degradação da dentina.33 Para diminuir a degradação hidrolítica do polímero, a melhor estratégia é infiltrar a maior porcentagem possível de monômeros hidrófobos na dentina condicionada.71 De fato, isso é muito difícil quando a dentina condicionada é saturada com água. Por isso, foi desenvolvida a técnica de adesão úmida com etanol (ethanol-wet bonding technique), que substitui totalmente a água na dentina condicionada por etanol por meio de consecutivas aplicações desse solvente.71 O etanol possuimaior afinidade com os monômeros hidrófobos que a água e permite mais infiltração desses monômeros na dentina condicionada e, consequentemente, maior durabili- dade às restaurações testadas em laboratório.71 Apesar de ter mostrado bons resultados, essa técnica não é empregada em função do longo tempo clínico necessário para substituir a água por etanol, e também pela falta de trabalhos clínicos que comprovem a capacidade de aumento de durabilidade da técnica. DESPRENDIMENTO DAS PARTÍCULAS DE CARGA Como já foi descrito na seção 6.4, recentemente foi demonstrado um novo mecanismo de degradação de união promovida por sistemas adesivos que contém partículas de carga na composição. A hidrólise do silano, que mantém as partículas unidas à matriz polimérica, causa o desprendimento das partículas e o consequente enfraquecimento da interface de união frente a esforços mastigatórios, aumentando a captação de água na camada de adesivo. Isso já foi comprovado em laboratório56 e clinicamente.73 Dessa forma, as vantagens da adição das partículas de carga devem ser cuidadosamente investigadas, a ponto dos benefícios serem maiores que o possível enfraquecimento da interface pelo desprendimento de partículas. DEGRADAÇÃO DO COLÁGENO O mecanismo de degradação mais estudado na última década é a degradação do colágeno, seja o exposto pelo condicionamento ácido e não envolto por monômeros resinosos ou o colágeno presente na camada híbrida. A hidrólise do colágeno é um processo natural pela estrutura da proteína, suscep- tível à quebra na presença de água. Por isso, o colágeno da dentina deveria ser sempre protegido por mineral, ou, intimamente, por resina hidrófoba (que evitaria o contato com água). Inevitavelmente, sempre haverá alguma (mesmo que muito pequena) região de colágeno exposto na interface de união com a dentina, independente do sistema adesivo utilizado. Esse mecanismo de degradação é o principal nos primeiros meses da restauração74 e, nor- malmente, é significantemente acelerado74 pela ação de enzimas endógenas presentes na dentina, chamadas de metaloproteinases de matriz (MMPs). Outras enzimas foram recente- mente descobertas na interface adesiva e também contribuem para a degradação do colágeno, tais como as catepsinas.75 Entretanto, a atividade delas é muito menor que das MMPs.76 A degradação enzimática do colágeno é ativada durante o condicionamento ácido e a aplicação do adesivo.76 Devido ao fato da ação das enzimas proteolíticas MMPs e das catepsinas já ser bem conhecida, diversas substâncias químicas são capazes de inibir essas enzimas. Dentre elas, a mais conhecida e utilizada é a clorexidina, que apresenta capacidade de inibir tanto as MMPs quanto as catepsinas.75 Apesar da clorexidina já ter sido incluída no ácido fosfórico e nos sistemas adesivos, e de os resultados demonstrarem que ela é eficiente em aumentar a durabilidade da união com a dentina,77,78 a forma mais estudada de sua aplicação é o uso de soluções aquosas de 0,2-2% de digluconato de clorexidina na dentina condicionada após a lavagem e durante o con- trole de umidade previamente à aplicação do primer ou do adesivo,74,79 como forma de reduzir a velocidade de degradação dessas interfaces adesivas. PARTÍCULAS BIOATIVAS E REMINERALIZAÇÃO Um dos métodos de redução da degradação mais eficientes já publicados é aestraté- gia de remineralização biomimética.80 Ela consiste na remineralização das regiões frágeis e ricas em água na interface adesiva por meio de substâncias liberadoras de cálcio e fosfato. Com a remineralização, as MMPs são “ fossilizadas” , inativando e preservando a integridade das fibrilas colágenas expostas e não envoltas por resina que são propensas à remineralização.73 Diversos minerais podem ser usados como partículas liberadoras de cálcio e fosfato (bioativas), porém os mais utilizados são: ▪ partículas de cimento de Portland modificado;73,80 ▪ vidros bioativos;81 ▪ silicatos de cálcio, magnésio e titânio.82 É importante ressaltar que estratégias para preservar o mineral já presente na dentina, ou seja, evitar a desmineralização (condicionamento) excessiva. também são efetivas em au- mentar a durabilidade da união das restaurações in vitro83 pelo mesmo princípio de que quanto mais mineral, menor a degradação. Já que o mineral não sofre degradação em condições fisiológicas, como o polímero, o colágeno e o agente de união das partículas de carga. A remineralização terapêutica da interface adesiva (principalmente com a dentina) não é, entretanto, simples de se obter, pois são necessários dois tipos deanálogos biomiméticos que guiam a mineralização para as regiões ricas em água e para dentro das fibrilas de colágeno expostas.80 Os análogos mais utilizados são o ácido poliacrílico e o ácido polivinilfosfôni- co.80 Como essa técnica é muito recente e ainda pouco estudada clinicamente, não há sistemas adesivos comerciais que a empreendem. No entanto, muitas vantagens já foram relatadas73,81,82 e, provavelmente, a comercialização de sistemas adesivos com eficientes propriedades remineralizadoras é só uma questão de poucos anos. PROTOCOLO CLÍNICO ATUAL Esta parte do presente artigo irá detalhar um protocolo clínico que tenta incorporar grande parte dos procedimentos utilizados nos últimos 30 anos e que fizeram da técnica adesiva uma das mais utilizadas pelos dentistas na atualidade (Figuras 3 a 16). Ele é embasado também em uma recente revisão da literatura sobre todos os métodos alternativos de maximizar a adesão, especialmente no substrato dentinário.84 Neste caso, foi utilizado um adesivo simplificado con- vencional, que é a estratégia de união maciçamente utilizada pelos dentistas no Brasil. Figura 3 – Vista frontal mais ampla (A) e aproximada (B) dos incisivos centrais com restaurações de Classe IV defeituosas. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. Figura 4 – Escolha da cor da resina composta a ser utilizada. Nesse caso foi usada a resina composta Sinergy (Coltène). Selecionou-se uma cor de dentina (dentin WB) (A) e duas de esmalte (enamel WB e ena- mel universal) (B). Observe na foto C que a escala de cores do material permite o encaixe das duas cores para que haja uma melhor visualização da cor final da resina composta a ser utilizada. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. A B A B C Figura 5 – Realização de restaurações provisórias com resina composta visando a aumentar a região incisal (A e B); principalmente para permitir uma moldagem palatina das restaurações que servirá para auxiliar a confecção da região palatina das restaurações (C e D). Fonte: Arquivo de imagens dos autores. Figura 6 – Após a remoção das restaurações e a instalação de isolamento absoluto modificado (A), a matriz é testada em posição (B). Fonte: Arquivo de imagens dos autores. A B C D A B 1) Escolher um ácido fosfórico em gel ou semigel que contenha algum agente antimi- crobiano (cloreto de benzalcônio ou clorexidina), já que eles têm demonstrado ser efetivos em prevenir a degradação da dentina (Figura 7).77,85 Fazer condicionamento ácido do esmalte e da dentina. Iniciar sempre a aplicação pelo esmalte (30s) e subse- quentemente estender até a dentina (15s). Para executar este passo, é fundamental que o ácido fosfórico seja empregado na forma de gel ou semigel. O tempo de condi- cionamento da dentina não deve ser superior a 15s (Figura 7). Se optar-se por usar um adesivo universal que contenha MDP, pode-se optar por realizar apenas o condiciona- mento ácido do esmalte (selective-enamel etching) da mesma forma que o descrito anteriormente. Figura 7 – Condicionamento ácido de toda a região a ser restaurada nodente 21, iniciando pelo esmalte (30s) e estendendo-se para a dentina (15s). Neste caso foi utilizado um ácido fosfórico contendo cloreto de benzalcônio capaz de inibir as metaloproteinases da dentina. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. 2) Lavar o ácido com spray água/ar abundante (30s). Este passo é fundamental para remover todo o ácido da superfície e especialmente os espessantes que podem ter sido usados para aumentar a consistência do gel. 3) Remover excesso de água, mantendo a dentina úmida. Existem várias estratégias para se executar este passo, tais como: bolinha de algodão, uso de papel para filtro de café, jato de ar, remoção dos excessos com cânula suctora, entre outros, e TODAS elas têm se mostrado igualmente efetivas. Se optar-se por aplicar clorexidina nesse momento, deve secar-se a dentina com jato de ar e umedecê-la novamente com solução aquosa de clorexidina (0,12 e 2% devido à disponibilidade comercial).74 Na sequência, a dentina não deve ser lavada, sendo mantida úmida da mesma forma descrita anteriormente. O mais importante, sem nenhuma dúvida, é manter a dentina ligeiramente úmida, caracterizada pelo seu leve brilho superficial. 4) Aplicar em toda a cavidade utilizando um microaplicador rígido levemente saturado de adesivo em forma vigorosa por, no mínimo, 10s.26,29,84 Microaplicadores flexíveis deformam-se durante a aplicação e não permitem que a aplicação ativa seja executada. Prefira adesivos que contenham MDP e etanol, ao invés de acetona (Figuras 8A e 8B). | PRO-ODONTO ESTÉTICA | CICLO 8 | VOLUME 4 | 37 Figura 8 – Aplicação do adesivo de forma vigorosa (A e B) em todas as superfícies, mas em especial em dentina, para favorecer a infiltração dos monômeros na dentina desmineralizada. Observe a presença de um fio retrator instalado na região cervical. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. 5) Remover o excesso de solvente com a aplicação de um leve (não aperte o botão da seringa tríplice até o fundo) e constante jato de ar (10s) a uma distância de cerca de 5cm, até a dentina apresentar um aspecto brilhante sem acúmulos de adesivo nos ângulos internos (Figura 9). Figura 9 – Aplicação de um jato de ar por 10s a distân- cia, para evaporação de solventes. Conforme o sol- vente evapora, observa-se aumento da viscosidade do adesivo na superfície. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. Quanto mais tempo de aplicação e de evaporação do solvente, melhor o desempenho das restaurações.84 6) Reaplicar o adesivo, conforme descrito nos itens 4 e 5 (Figuras 8 e 9). 7) Fotoativar a camada de adesivo com um fotopolimerizador com, no mínimo, 600mW/ cm2, por, no mínimo, 10s (Figura 10). Quanto mais tempo de fotoativação, melhor o desempenho das restaurações.84 A B Figura 10 – Fotoativação por, no mínimo, 10s. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. 8) Um passo adicional é aplicar sobre a camada adesiva de sistemas adesivossimplificados, tanto convencionais como autocondicionantes, antes ou após a fotoativação (passo 7), uma camada de um bond, que é um adesivo altamente hidrófobo. O uso dessa camada melhora muito o desempenho das restaurações adesivas quando comparado a adesivos simplificados, e isso também é válido para adesivos universais mais atuais.66,86,87 9) Realizar a restauração de forma convencional. Para maiores detalhes, veja a legenda das Figuras 3 a 6 e 11 a 16. Figura 11 – Aplicação da resina cor white opalescente na matriz de silicone (A) e polimerização do material com a matriz em posição (B). Fonte: Arquivo de imagens dos autores. A B A B Figura 12 – Aplicação da resina cor de dentina (A) e, subsequentemente, de esmalte (B e C). Fonte: Arquivo de imagens dos autores. Figura 13 – Acabamento inicial com discos Sof-Lex Pop-On (A e B) e aspecto final da restauração do 21 (C). Fonte: Arquivo de imagens dos autores. A B C C A B Figura 14 – Após teste da matriz de silicone em po- sição (A), o protocolo restaurador seguiu a mesma sequência descrita para o dente 21. Em (B) foi aplica- da a cor white opalescente; em (C) dentina WB e em (D, E) a cor enamel universal. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. | C D E A B Figura 15 – Aspecto imediatamente após o polimento das restaurações concluídas com (A) e sem (B) isolamento absoluto. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. Figura 16 – Aspecto das restaurações 15 dias após a finalização do procedimento restaurador (A, B e C). A combinação de cor entre o material restaurador e o dente mostra-se adequada. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. A B C CONCLUSÃO Com base em todos os avanços na adesão a esmalte e dentina, bem como nos sistemas adesivos utilizados, pode ser concluído que nos últimos 30 anos muitas melhorias na técnica e na composição foram obtidas. Entretanto, a durabilidade clínica das restaurações de resina composta ainda é uma questão a ser melhorada para diminuir a substituição de restaurações, frequentemente realizada nos consultórios. Está-se em um período avançado em relação ao entendimento do mecanismo de união dos diferentes sistemas adesivos aossubstratos dentais, porém ainda são necessárias muitas pesqui- sas para melhor entender a degradação da união e como diminuir essa degradação. Muitas melhorias ainda são requeridas também na composição dos sistemas simplificados, que são os de preferência de muitos clínicos. REFERÊNCIAS 1. Cardoso MV, Almeida Neves A, Mine A, Coutinho E, Van Landuyt K, De Munck J, Van Meerbeek B. Current aspects on bonding effectiveness and stability in adhesive dentistry. Aust Dent J 2011;56:31-44. 2. Van Meerbeek B, Yoshihara K, Yoshida Y, Mine A, De Munck J, Van Landuyt KL. State of the art of self-etch adhesives. Dent Mater 2011;27:17-28. 3. Van Meerbeek B, Peumans M, Poitevin A, Mine A, Van Ende A, Neves A, De Munck J. Relationship between bond-strength tests and clinical outcomes. Dent Mater 2010;26:100- 21. 4. Muñoz MA, Sezinando A, Luque-Martinez I, Szesz AL, Reis A, Loguercio AD, Bombarda NH, Perdigão J. Influence of a hydrophobic resin coating on the bonding efficacy of three univer- sal adhesives. J Dent 2014;42:595-602. 5. Poitevin A, De Munck J, Van Ende A, Suyama Y, Mine A, Peumans M, Van Meerbeek B. 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