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PSICOPATOLOGIA GERAL – Prof. Ueslei Solaterrar da Silva Carneiro UNIDADE I: INTRODUÇÃO AO ESTUDO E DIAGNÓSTICO DE TRANSTORNOS MENTAIS Consciência, Atenção e Suas Alterações Exame Psíquico: Avaliação Atual 1. Aspecto geral: cuidado pessoal, higiene, trajes, postura, atitude global do paciente. 2. Nível de consciência. 3. Orientação. 4. Atenção. 5. S. Memória (fixação e evocação). 6. Sensopercepção. 7. Pensamento (curso, forma e conteúdo). 8. Linguagem. 9. Inteligência. 10. Consciência do eu/Juízo de realidade. 11. Vida afetiva (estado de humor basal, emoções e sentimentos predominantes). 12. Humor. 13. Volição. 14. Psicomotricidade. 15. Personalidade. 16. Pragmatismo. 17. Crítica em relação aos sintomas (consciência de morbidade) e desejo de ajuda. • Sumula Psicopatológica: “Lúcido. Vestido adequadamente e com boas condições de higiene pessoal. Orientado auto e alopsiquicamente. Cooperativo. Normovigil. Hipertenaz. Memórias retrógrada e anterógrada prejudicadas. Inteligência mantida. Sensopercepção alterada com alucinação auditivo-verbal. Pensamento sem alteração de forma, porém apresentando alteração de curso (fuga de idéias e descarrilamento) por ocasião da agudização do quadro e alteração de conteúdo (idéias deliróides de perseguição, grandeza e onipotência). Linguagem apresentando alguns neologismos. Consciência do eu alterada na fase aguda do quadro. Nexos afetivos mantidos. Hipertimia. Psicomotricidade alterada, apresentando tiques. Hiperbúlico. Pragmatismo parcialmente comprometido. Com consciência da doença atual”. Advertência: Limitações de Uma Psicopatologia das Funções Psíquicas • A separação da vida e da atividade mental em distintas áreas ou funções psíquicas é um procedimento essencialmente artificial. Trata-se apenas de uma estratégia de abordagem da vida mental que, por um lado, é bastante útil, mas, por outro, um tanto arriscada, pois pode suscitar enganos e simplificações inadequadas; • É útil porque permite o estudo mais detalhado e aprofundado de determinados fatos da vida psíquica normal e patológica; é arriscada porque facilmente se passa a acreditar na autonomia desses fenômenos, como se fossem objetos naturais; • Que fique claro: não existem funções psíquicas isoladas e alterações psicopatológicas compartimentalizadas desta ou daquela função. É sempre a pessoa na sua totalidade que adoece; (DALGALARRONDO, 2019, p. 137) • Eugène Minkowski (1966): questiona se o objeto da psicopatologia seria o estudo de sintomas isolados, atomizados e cindidos ou se, de fato, não seria mais adequado um projeto de estudo que vise abordar globalmente a pessoa que adoece. Além disso, para Minkowski (1966), a psicopatologia deve sempre e necessariamente estudar o homem na “primitiva solidariedade interhumana”; • Psicopatologia como clínica do encontro entre pessoas; • A psicopatologia geral dos manuais que Minkowski (1966) critica seria apenas a descrição mecânica e irrefletida dos sintomas, um exercício classificatório vazio, sem indicar o essencial, ou seja, a significação dos fenômenos. (DALGALARRONDO, 2019, p. 137/138) • Nos transtornos mentais, não se trata apenas de agrupamentos de sintomas que coexistem com regularidade e revelam, assim, sua origem comum. Os sintomas que os compõem são ligados estruturalmente entre si. A psicopatologia, na medida em que é centrada na pessoa humana, não se desenvolve a não ser partindo de determinadas síndromes (psicopatologia sindrômica). A psicopatologia sintomática, como estudo dos sintomas isolados, não passa de uma semiologia psiquiátrica rudimentar; • Eugen Bleuler (1985, p. 16): [...] Na observação e descrição do mundo das manifestações psíquicas e psicopatológicas tendemos, de há muito, à fragmentação: descrevemos funções psíquicas singulares (como a sensação, a percepção, a atenção, a memória, o pensamento, o juízo). [...] Se reunirmos estes fragmentos, ficamos com a impressão de que a vida psíquica pode ser compreendida como um mosaico, a partir de uma soma de manifestações isoladas. Esta impressão, não obstante, não corresponde à realidade. [...] Cada função parcial na vida psíquica e cada aspecto da realidade psíquica só existem em vinculação estreita com toda a vida e com a realidade psíquica total. (DALGALARRONDO, 2019, p. 137/138) Consciência e Suas Alterações • Múltiplos sentidos para os termos: filosófico, psicopatológico, etc.; • Três concepções diferentes: 1) A definição neuropsicológica emprega o termo “consciência” no sentido de estado vígil (vigilância), o que, de certa forma, iguala a consciência ao grau de clareza do sensório. Consciência, aqui, é fundamentalmente o estado de estar desperto, acordado, vígil, lúcido. Trata-se especificamente do nível de consciência. 2) Já a definição psicológica a conceitua como a soma total das experiências conscientes de um indivíduo em determinado momento. Nesse sentido, consciência é o que se designa campo da consciência. É a dimensão subjetiva da atividade psíquica do sujeito que se volta para a realidade. Na relação do Eu com o meio ambiente, a consciência é a capacidade do indivíduo de entrar em contato com a realidade, perceber e conhecer os seus objetos; 3) A definição ético-filosófica é utilizada mais frequentemente no campo da ética, da filosofia, do direito ou da teologia. O termo “consciência” refere-se à capacidade de tomar ciência dos deveres éticos e assumir as responsabilidades, os direitos e os deveres concernentes a essa ética. Assim, a consciência éticofilosófica é atributo do homem desenvolvido e responsável, engajado na dinâmica social de determinada cultura. Refere-se a consciência moral, ética e política. • A fenomenologia (filósofo Edmund Husserl- 1859-1938): A psicologia clássica, com base na teoria sensualista-empirista, compreendia a consciência como algo passivo, uma tábula rasa ou papel em branco no qual os objetos do mundo penetram e imprimem suas marcas, formando as imagens e as representações. Husserl propõe inverter essa visão meramente passiva da consciência; para ele, o fundamental da consciência é ser profundamente ativa, visando o mundo e produzindo sentido para os objetos que se lhe apresentam. Não existiria, então, uma consciência pura, pois ela é necessariamente consciência de algo. A intencionalidade, isto é, o visar algo, o dirigir-se aos objetos e sujeitos do mundo, de modo ativo e produtivo, é próprio da consciência na visão fenomenológica (Penha, 1991); • Foco da disciplina: aspectos psicológicos e neuropsicológicos; • O nível de consciência é o continuum de sensibilidade e alerta do organismo perante os estímulos, tanto internos como externos. As principais características e propriedades do nível de consciência são: 1) O nível de consciência facilita a interação da pessoa com o ambiente de forma adequada ao contexto no qual o sujeito está inserido (estado de alerta); 2) O nível de consciência adequado pode ser evocado tanto por estímulos externos ambientais como por estímulos internos, como pensamentos, emoções, recordações; 3) O nível de consciência pode ser modulado tanto pelas características dos estímulos externos como pela motivação que o estímulo implica para o indivíduo em questão; 4) O nível de consciência varia ao longo de um continuum que inclui desde o estado total de alerta, passando por níveis de redução da consciência até os estados de sono (variação normal) ou coma (variação patológica). Bases Neuroanatômicas • Sistema reticular ativador ascendente (SRAA): a capacidade de estar desperto e agir conscientemente depende da atividade do tronco cerebral e do diencéfalo. Essas estruturas exercem poderosa influência sobre os hemisférios cerebrais, ativando-os e mantendo o tônus necessário para seu funcionamento normal. • É de fundamental importância, para a atividade mental consciente, a atividade do lobo parietal direito,o qual está intimamente relacionado ao reconhecimento do próprio corpo, dos objetos e do mundo, assim como da apreensão daquilo que, convencionalmente, se denomina realidade. Também as áreas pré-frontais são fundamentais na organização da atividade mental consciente. Por fim, reconhece-se a importância das interações talamocorticais na ativação e na integração da atividade neuronal cortical relacionada à consciência (Zeman; Grayling; Cowey, 1997). • O tálamo é uma estrutura posicionada singularmente no centro do cérebro para filtrar, integrar e regular as informações que chegam ao córtex cerebral, dados que partem da periferia do organismo e meio externo e se dirigem ao córtex cerebral. O tálamo é extensiva e reciprocamente interligado a todas as áreas do córtex cerebral, de forma que uma pequena lesão talâmica pode produzir graves alterações do nível de consciência, como, por exemplo, o delirium (Trzepacz; Meagher; Wise, 2006). Por fim, deve-se ressaltar a importância das estruturas encefálicas do lado direito (parietais, frontais e mesmo talâmicas) na origem dos transtornos da consciência. O Campo da Consciência • Ao voltar-se para a realidade, a consciência demarca um campo, no qual se pode delimitar um foco, ou parte central mais iluminada da consciência, e uma margem (franja ou umbral), que seria sua periferia menos iluminada, mais nebulosa. Segundo a psicopatologia clássica, é na margem da consciência que surgem os chamados automatismos mentais e os estados ditos subliminares; • O inconsciente; • Características funcionais do inconsciente: atemporalidade, isenção de contradição, princípio do prazer.... Alterações Normais da Consciência • As alterações normais da consciência ocorrem no contexto dos chamados ritmos circadianos: são oscilações endógenas autossustentadas do ritmo biológico no período de um dia (24 horas) (que inclui centralmente as oscilações do nível de consciência da vigília e do sono), as quais, nesse intervalo, organizam a temporalidade dos sistemas biológicos do organismo e otimizam a fisiologia, o comportamento e a saúde; • Sono: pode-se, portanto, descrever o sono como um estado especial da consciência, que ocorre de forma recorrente e cíclica nos organismos superiores (Ayala-Guerrero, 1994). É também, ao mesmo tempo, um estado comportamental e uma fase fisiológica normal e necessária do organismo. Dividem-se as fases do sono em duas: o sono sincronizado, sem movimentos oculares rápidos (sono não REM), e o sono dessincronizado, com movimentos oculares rápidos – rapid eye movements (sono REM) (Aloé; Azevedo; Hasan, 2005). • O sono se caracteriza por: 1. Ser um estado reversível, tipicamente expresso pela postura de repouso, comportamento quieto e redução da responsividade; 2. Ter uma arquitetura neurofisiológica complexa, com estados cíclicos de sono não REM e de sono REM, tendo tais estados substratos neuronais distintos (neurotransmissores, moduladores, circuitos específicos) e propriedades oscilatórias do eletrencefalograma (EEG); 3. Ter duração e intensidade dos seus vários períodos afetadas por mecanismos de regulação homeostáticos; 4. Ser afetado por experiências ocorridas durante a vigília; 5. Ter efeitos restauradores e transformadores que otimiza funções neurocomportamentais da vigília. 6. Durante o sono não REM, ocorrem quatro estágios (Irwin, 2015): ➢ Estágio 1: mais leve e superficial, com atividade regular do EEG de baixa voltagem, de 4 a 6 ciclos por segundo (2-5% do tempo total de sono). ➢ Estágio 2: um pouco menos superficial, com traçado do EEG revelando aspecto fusiforme de 13 a 15 ciclos por segundo (fusos do sono) e algumas espículas de alta voltagem, denominadas complexos K (45-55% do tempo total de sono). ➢ Estágio 3: sono mais profundo, com traçado do EEG mais lentificado, com ondas delta, atividade de 0,5 a 2,5 ciclos por segundo, ondas de alta voltagem (3-8% do tempo total de sono). ➢ Estágio 4: estágio de sono mais profundo, com predomínio de ondas delta e traçado bem lentificado. É mais difícil de despertar alguém nos estágios 3 e 4, podendo o indivíduo apresentar-se confuso ao ser despertado (10-15% do tempo total de sono). • O sonoREM, por sua vez, não se encaixa em nenhuma dessas quatro fases. Sua duração total em uma noite perfaz de 20 a 25% do tempo total de sono. É um estágio peculiar, cujo padrãodo EEG é semelhante ao do Estágio 1 do não REM; • O sonoREM não é, entretanto, um sono leve, tampouco profundo, mas um tipo de sono qualitativamente diferente; • No sono REM, há um padrão de movimentos oculares rápidos e conjugados (movimentos oculares sacádicos), bem como um relaxamento muscular profundo e generalizado (atonia muscular), interrompido esporadicamente por contrações de pequenos grupos musculares, como os dos olhos; • É durante o sono REM que ocorre a maior parte dos sonhos, e, em 60 a 90% das vezes, se o indivíduo for despertado durante a fase REM, relatará que estava sonhando; • Em uma noite normal de sono, as fases não REM e REM se repetem de forma cíclica a cada 70 a 110 minutos, com 4 a 6 ciclos completos por noite. O sono se inicia com o tipo não REM, havendo a sucessão dos Estágios de 1 a 4. O primeiro período REM,que geralmente é bem curto, ocorre cerca de 70 a 120 minutos após o indivíduo adormece; • Ao longo da noite, os períodos REM vão se tornando mais frequentes eprolongados, desaparecendo os Estágios 3 e 4. A maior quantidade de sono REM ocorre no último terço da noite, geralmente de madrugada (das 4 às 7h da manhã), momento em que a maioria das pessoas mais sonha. O Estágio 4, de forma oposta, ocorre predominantemente no primeiro terço da noite (Tavares; Aloé, 1998); • O sonho: século XIX- sonho como modelo de loucura francêsMoreau de Tours (1804-1884), “[...] a loucura é o sonho do homem acordado”, uma espécie de invasão da vigília pela atividade onírica. Também o antropólogo inglês Edward Burnett Tylor (1832-1917) formulou a hipótese de queo sonho, com suas visões arrebatadoras, seria a experiência humana que teria dado origemà crença em seres espirituais e, posteriormente, às religiões; • Os modernos laboratórios de sono,com a polissonografia do sono têm demonstrado que, ao contrário do que se pensava no passado, sonhar não é algo raro, infrequente. A maioria das pessoas sonha várias vezesdurante uma noite, apenas não se lembra da maior parte, pois, se acordarem (ou forem despertadas) após mais de oito minutos de um sono REM (durante o qual sonharam), não se lembrarão mais do conteúdo do sonho (Oliveira; Amaral, 1997). • Os significados dos conteúdos dos sonhos permanecem controvertidos. As diversas culturas tendem a interpretá-los a partir de seus símbolos, crenças religiosas e valores próprios, geralmente tomando-os como mensagens divinas ou demoníacas. No ano de 1900, Freud publicou um de seus mais importantes trabalhos: A interpretação do sonho; • Nessa obra, ele busca demonstrar que o sonho não é nemum “produto aleatório e sem sentido de um cérebro em condições alteradas defuncionamento”, nem um “mensageiro de recados do além”. O sonho é um fenômeno psicológico extremamente rico e revelador de desejos e temores, ainda que de forma indireta e disfarçada. Enfim, para ele, oconteúdo do sonho tem um sentido. • Trabalho do sonho: Freud transforma os conteúdos latentes (inconscientes) do sonho original em conteúdos manifestos (conscientes) do sonho lembrado. Isso se dá por meio da condensação (fusão de duas ou mais representações), dodeslocamento (passagem da energia de uma representação a outra representação) e da figurabilidade (desejos transformam-se em imagensvisuais). • Sonho com solução de compromisso: negociação entre o inconsciente e o consciente. • Alterações patológicas quantitativas da consciência: rebaixamento do nível de consciência ➢ Em diversos quadros neurológicos e psicopatológicos, o nível de consciência diminui de forma progressiva,desde o estado normal, vígil, desperto, até o estado de coma profundo, no qual não há qualquer resquício de atividade consciente. Os diversos graus de rebaixamento da consciência (Ramos Jr., 1986) são: 1) Obnubilação: turvação da consciência ou sonolência patológica leve. Rebaixamento da consciência em grau leve ou moderado. Diminuição da compreensão, lentificação do pensamento, etc; 2) Torpor: grau mais acentuado de rebaixamento da consciência. A pessoa está evidentemente sonolenta. Responde às vezes e volta a adormecer. 3) Sopor: profunda turvação da consciência. É despertado apenas com estímulos muito intensos, como a dor. 4) Coma: perda completa da consciência, não é possível resposta voluntária consciente. ➢ Perdas Abruptas da consciência: lipotimia, síncope, desmaios e perdas da consciência de outra natureza; ➢ Síndromes psicopatológicas associadas ao rebaixamento prolongado do nível de consciência: o Delirium: o delirium diz respeito, portanto, aos vários quadros com rebaixamento leve a moderadodo nível de consciência, acompanhados dedesorientação temporoespacial, dificuldade de concentração, perplexidade, ansiedade em graus variáveis, agitação ou lentificação psicomotora, discurso ilógico e confuso e ilusões e/ou alucinações, quase sempre visuais. Trata-se de um quadro queoscila muito ao longo do dia. o Delirium x Delírio Atenção e Suas Alterações • “A atenção se refere ao conjunto de processos psicológicos que torna o ser humano capaz de selecionar, filtrar e organizar as informações em unidades controláveis e significativas.” (Dalgalarrondo, 2008). • A determinação do nível de consciência é essencial para a avaliação da atenção (Cohen, Salloway, Zawacki, 2006). • “A direção da consciência, o estado de concentração da atividade mental sobre determinado objeto. (Cuvillier, 1937). • “A atenção se refere ao conjunto de processos psicológicos que torna o ser humano capaz de selecionar, filtrar e organizar as informações em unidades controláveis e significativas.” (Dalgalarrondo, 2008). • A determinação do nível de consciência é essencial para a avaliação da atenção (Cohen, Salloway, Zawacki, 2006). Psicologia da Atenção 1. Natureza da Atenção 1.1. Atenção Voluntária; 1.2. Atenção Espontânea. 2. Direção da Atenção 2.1. Atenção Externa; 2.2. Atenção Interna. 3. Amplitude 3.1. Atenção Focal; 3.2. Atenção Dispersa. 4. Tenacidade 5. Vigilância. 1. Capacidade e Foco de atenção: quantidade de operações mentais e dificuldade da tarefa; 2. Atenção Seletiva: capacidade de limitar a quantidade de informações que chegam ao sistema cerebral; 3. Seleção de respostas e controle Seletivo: processos cognitivos complexos que envolve a intenção, o planejamento e a tomada de decisões 3.1. Funções Executivas (Lezak, 1982); 3.2. Sistemas cerebrais pré-frontais, (sobretudo em circuitos subcorticais); 3.3. Lesão neurológica ou comprometimento neuropsicológico: ter funções executivas deficientes pode dificultar a realização de tarefas cotidianas. Ex.: síndrome desexecutiva ou síndrome frontal/ doença de Pick ou demência frontotemporal Oliver Sacks: “O homem que confundiu sua mulher com um chapéu” (1985) e “Alucinações Musicais” (2007). A avaliação das funções executivas se dá por uma bateria de testes neuropsicológicos: o desenvolvimento socioeconômico, fatores emocionais e culturais com forte influência no desenvolvimento das funções executivas; 4. Atenção Constante ou Sustentada: Capacidade de manter a atenção ao longo do tempo. Tal capacidade varia, geralmente diminui, com o passar do tempo. Como função psíquica, a atenção é mais variável ao longo do tempo do que a memória e a percepção, por exemplo. O desempenho depende da relação estímulos-alvo e os estímulos distrativos, do nível de consciência (vigilância), da motivação (incluindo a excitação com a tarefa e o tédio) e a fadiga. Neuropsicologia da Atenção • A atenção é um processo que resulta da interação complexa de diversas áreas do sistema nervoso, não sendo, portanto, um processo unitário (Cohen, Salloway, Zawacki, 2006). • Principais Estruturas do SN: 1. Sistema reticular ativador ascendente, no tronco cerebral (SRAA): possibilita o nível de consciência básico para manter a vigilância necessária aos processos de atenção 2. O tálamo e o corpo estriado, em nível subcortical 3. O córtex parietal posterior direito (não-dominante); 4. Estruturas do Lobo temporal medial do sistema límbico. 5. O giro cingulado anterior (também na região frontal); 6. Córtex Pré-frontal. • As estruturas do córtex pré-frontal são as mais relevantes à atenção: • As áreas pré-frontais dorsolaterais: estão muito relacionadas com a seleção de resposta e controle seletivo. Logo, lesões nessa área provocam alterações da atenção como distraibilidade e perseveração (repetição automática de respostas). • Áreas pré-frontais orbitomediais: modulação dos impulsos, ao humor e à memória de trabalho. Lesões nessas áreas provocam alterações da atenção associadas a impulsividade, desinibição e labilidade afetiva (Cohen, Salloway, Zawacki, 2006). • Diversas estruturas límbicas nas poções medianas dos lobos temporais participam no interesse afetivo, no que diz respeito, a atração, motivação, importância e carga emocional que determinado estímulo causa na mente. Anormalidades da Atenção • Hipoprosexia; • Aprosexia; • Hiperprosexia; • Distração (hipertenacidade e hipovigilância); • Distraibilidade (hipotencidade e hipervigilância). Valor Diagnóstico das alterações da atenção: podem ocorrer tanto em distúrbios neurológicos e neuropsicológicos como em transtornos mentais. Distúrbios Neurológicos e Neuropsicológicos • Em geral, são os distúrbios que envolvem diminuição do nível de consciência. ➢ Ex: as encefalopatias metabólicas (por alteração de níveis de oxigênio, glicose e do equilíbrio eletrolítico, acúmulo de catabólitos, etc.), meningoencefalites, AVCs, esclerose múltiplas e quadros tumorais. • Demências: ➢ Quadros episódicos com rebaixamento do nível de consciência (delirium que se sobrepõe ao quadro demencial) ou deterioração cognitiva progressiva, como nas demências de Alzheimer. ➢ Pacientes tem dificuldade com tarefas que requerem concentração e foco, assim como em atividades de controle executivo (funções frontais). Transtornos Mentais • A atenção quase sempre está alterada nos transtornos mentais graves desde os primórdios da semiologia psicopatológica no século XIX; • De acordo com Mattos (1884), Esquirol afirmava que “a atenção é fugitiva no maníaco, concentrada no monomaníaco (melancólico, delirante) e vaga e difusa no demente.” • Transtornos de humor (bipolar e depressão), TOC, esquizofrenia e TDAH são os que mais apresentam alterações da atenção: 1. Transtornos do Humor: ➢ Nos quadros maníacos há uma diminuição da atenção voluntária e aumento da atenção espontânea, ou seja, uma hipotenacidade e hipervigilância. ➢ Nos quadros depressivos há diminuição geral da atenção, ou seja, hipoprosexia. Em casos mais graves, há fixação em alguns temas depressivos (hipertenacidade) e dificuldade e rigidez de mudar o foco da atenção (hipovigilância). Em geral, temas de fracasso, doença, culpa, pecado, ruína, etc. 2. Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC): ➢ Apresenta atenção ou vigilância excessiva e desregulada. O paciente demonstra alterações no controle executivo (funções frontais), na memória de trabalho e na seleção de respostas. 3. Esquizofrenia: ➢ O déficit de atenção é central. Dificuldade na filtragem de informações “irrelevantes”. São muito suscetíveis de distrair-se com estímulos visuais e auditivos. ➢ Lentificação no tempo de resposta/reação devida a distraiabilidade, não conseguir suprimir informações interferentes e dificuldades de manter a atenção constante. 4. Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH): ➢ A atenção constante prejudicadacomo um aspecto primário e central dessa condição. ➢ Dificuldades marcantes em prestar atenção em estímulos externos e internos ➢ O paciente, geralmente, criança e adolescente, tem a capacidade prejudicada de organizar e completar tarefas, assim como relutância em controlar seus comportamentos e impulsos; ➢ Em exames de imagem cerebral há alterações no sistema frontal. Semiotécnica simplificada da atenção!!! Referências Bibliográficas • DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 2º Edição. Porto Alegre: Artmed, 2008.
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