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historia da cirurgia

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Blood And Guts - A 
história da cirurgia 
Meu nome é Michael Mosley, e nesta série 
tenho abordado a história da cirurgia e o 
magnífico elenco de personagens que a 
tiraram da Idade das Trevas transformando-a 
numa disciplina precisa, habilidosa e capaz de 
salvar vidas. 
No princípio, os cirurgiões não eram deuses 
exaltados, mas um grupo marginalizado. 
Treinados como barbeiros, eles podiam 
purgar, sangrar ou decepar um membro. A 
sua ferramenta mais sofisticada, uma 
sanguessuga. 
Para que eles usavam as sanguessugas? 
Basicamente tudo. Se estivéssemos para 
perder a perna esquerda ou uma dor de 
cabeça. A ideia era provocar um sangramento 
para fazer com se sentisse melhor. 
Os médicos podiam prescrever o tratamento, 
mas a sangria em si ficava a cargo dos pouco 
sofisticados cirurgiões-barbeiros. 
A obsessão europeia pela sangria remonta 
aos gregos e na sua crença de que o 
desequilíbrio em um dos 4 fluidos, fleuma, 
bile amarela, bile negra ou sangue, podia 
causar doenças. 
Provavelmente é apenas o efeito do placebo. 
Se eu perder sangue suficiente, minha 
pressão sanguínea e temperatura corporal 
irão cair, deixando-me agradavelmente 
sonolento, mas anêmico. Podia se sangrar em 
demasia, os médicos sangravam 
sucessivamente durante semanas. 
- Quanto sangue posso perder? 
poderia perder uma boa taça de vinho cheia 
de sangue, se sangrasse por quatro a cinco 
horas 
Tratava-se da açouguice. Cortar e amputar. A 
cirurgia é limitada, falha e muitas vezes, fatal. 
É bom estar de volta ao século XXI. tornaram 
a sanguessuga desnecessária, e que tirariam 
a cirurgia à força da Idade das Trevas. 
Hoje, seja por acidente de carro, câncer ou 
enfarte, cerca de 75% de nós, em algum 
momento, irão acabar chegando ao bisturi do 
cirurgião. 
Jason Harvey, de 32 anos, taxista, caiu e 
esmagou a rótula. Este homem sofreu uma 
fratura na zona superior, bem no centro da 
rótula. Uma fratura como esta, antes da época 
em que podíamos operar com segurança, 
teria repercussões significativas na 
capacidade de andar do paciente, e seria uma 
incapacitação expressiva. Se a cirurgia de 
Jason for bem sucedida, então será 
principalmente graças as quatro grandes 
inovações que surgiram nesses 500 anos de 
avanços e retrocessos cirúrgicos. 
A primeira dessas inovações foi fundamental. 
A compreensão da anatomia humana. 
A primeira pessoa a criar desenhos precisos 
do corpo humano foi o gênio do 
Renascimento, Leonardo da Vinci. Porém ele 
nunca os publicou. Assim, no século XVI, os 
médicos ainda baseavam a compreensão da 
anatomia em desenhos grosseiros feitos há 
1.300 anos. Seria necessário um anão belga, 
André Vesálio, para mudar isso. Imaginem o 
cenário. 1536, um criminoso foi enforcado e 
ficou apodrecendo no cadafalso. Certa noite, 
surge Vesálio, um estudante de medicina, de 
22 anos, ele olha desejosamente para o 
cadáver. 
O roubo de cadáveres é ilegal, mas isso não o 
impede. Ele salta, agarra as pernas e puxa. 
Com o som terrível de algo se rasgando, elas 
acabam em suas mãos, ele desaparece na 
noite, levando-as em seus braços. O que 
Vesálio fez foi extraordinariamente perigoso, 
além de arriscar a ser preso e ficar arruinado, 
ele estava desafiando ideias há muito 
estabelecidas. 
Na Escola de Medicina de Vesálio, havia 
apenas uma coleção de livros de anatomia 
escrita por Cláudio Galeno. Além de ter sido 
escrita há 1.300 anos, era principalmente 
baseada em animais, como porcos e 
macacos. Nas dissecações humanas, as 
palavras de Galeno eram lidas em voz alta, 
enquanto os estudantes observavam a 
distância sem questionar. Com apenas 22 
anos, Vesálio decidiu fazer algo que teria 
escandalizado e repugnado os seus 
contemporâneos. 
Dissecar e examinar ele mesmo, um corpo 
humano. Sem se intimidar pela carne humana 
apodrecendo sobre a mesa da cozinha, 
Vesálio começa a destrinchar o cadáver até os 
ossos. Ele trabalhou como se estivesse 
preparando um caldo de carne. 
Primeiro, ele pegou uma panela d´água e pôs 
para ferver. Depois ele pegou os pedaços do 
corpo e removeu toda a carne e pele que 
pôde, jogando os pedaços na panela. Ele os 
cozinhou durante horas, até a carne se 
desfazer. 
A decisão de Vesálio representa uma 
extraordinária demonstração de prazer com 
mortos, e ele se apega e insiste em viver com 
ela, e se acerca dela de uma forma que hoje, 
creio, seria assustadora. Vesálio tinha pela 
frente uma tremenda tarefa. 
Para Vesálio, isso foi apenas o começo. Ele 
agora queria mapear cada órgão, músculo e 
ligamento do corpo humano. Ele estava 
determinado a entender como tudo se 
encaixava. Para isso, ele precisava de mais 
corpos, por isso naturalmente os roubou. 
De fato, ele roubou do mesmo lugar de onde 
vieram todos esses corpos. Os cemitérios de 
Paris. 
E o que Vesálio estava desafiando? O trabalho 
de Cláudio Galeno. 
Vejamos o que Galeno diz dos rins, que é 
onde você está agora, 
"devemos entender a utilidade da disposição 
dos rins. É por isso que o direito está mais 
acima e ligado ao fígado e o esquerdo fica 
mais abaixo." 
Então está completamente enganado. 
Quem está errado, o corpo ou o livro? A 
resposta é que isto não pode estar errado 
porque é real, é anatomia de verdade. 
A disposição dos rins foi apenas um dos 
muitos erros grassos de Galeno, mas o que 
me surpreende não é que Galeno tenha 
errado, mas o fato de não ter sido contestado 
por tanto tempo. 
Quando Vesálio anunciou que muito do que 
o grande deus, Galeno, tinha escrito estava 
errado, e que os 1.300 anos de ensino da 
medicina estavam seriamente 
comprometidos, ele se tornou extremamente 
impopular. Alguns o consideraram como 
louco, outros, que viram seu trabalho, 
indagavam-se se o corpo humano teria 
mudado desde a era Galeno. 
No total, André Vesálio corrigiu mais de 200 
erros de Galeno. E, em 1543, ele publicou sua 
obra prima. 
"De Humani Corporis Fabrica -A Organização 
do Corpo Humano". 
Vesálio identificou corretamente a localização 
todos os principais órgãos, nervos e músculos 
do corpo. Finalmente, após 1.300 anos de 
estagnação, a anatomia, e, por tabela, a 
cirurgia, deu um imenso passo em frente. 
André Vesálio deu início ao estudo adequado 
da anatomia humana. Mas operar pacientes 
vivos acarreta uma série de outros problemas. 
Seja há 500 anos ou hoje. A primeira coisa 
que um cirurgião precisa saber é como 
impedir que alguém se esvaia em sangue. 
Os segredos para controlar a perda de 
sangue foram descobertos noutro campo de 
batalha, poucos anos após Vesálio ter 
dissecado seus primeiros cadáveres. No 
século XVI, a Europa estava em guerra. Uma 
guerra travada com armas novas e letais. De 
repente, os cirurgiões estavam lidando com 
hemorragias de escalas inimagináveis. 
Acaba de ser baleado na perna, na coxa, no 
braço. E vem um cirurgião e despeja óleo 
quente em sua lesão. 
Quando a mudança chegou, veio através de 
uma barbearia parisiense. No século XVI, os 
mesmos utensílios cortavam a barba ou um 
membro, e muitas vezes era a mesma pessoa 
que fazia ambos. Cirurgiões-barbeiros, como 
Ambroise Paré. 
Paré passava os dias barbeando clientes, 
removendo verrugas estranhas e fazendo 
sangrias ocasionais. Mas, em 1537, sua vida 
mudou para sempre. Ele foi enviado como 
cirurgião militar para a Batalha de Turim. Até 
mesmo a viagem ao campo de batalha foi 
traumática. Paré foi forçado a passar por cima 
de corpos de homens moribundos, ouvindo 
seus lamentos sob os cascos de seus cavalos. 
Ele encontrou lesões a bala numa escala 
assustadora. 
E dia após dia, semana após semana, ele 
amputou membros. A amputação era 
extremamente arriscada. Acarretava mais dor 
e perda de sangue. 
Os pacientes de Paré frequentemente se 
esvaiam em sangue antes que ele fervesse o 
óleo cauterizador. Para ser sincero, não 
parecia que Paré era um cirurgião nato. Ele 
ficou horrorizado com tudo que viu. Mas sua 
falta de entusiasmo pela dor e pelo 
derramamento de sangue pode tê-lo levado 
a encontrar outra solução. 
Durante muito tempo, Paréteve que aplicar 
as técnicas convencionais. um serrote usado 
para amputar membros, depois para deter a 
hemorragia, um ferro de cauterização. 
Paré era um homem misericordioso e 
trabalhou numa série de invenções 
maravilhosas. Muitas delas eram tentativas de 
compensar os membros que ele havia 
amputado. No final das contas, a solução para 
o problema da perda de sangue era algo 
incrivelmente simples. Um pedaço de fio. 
O “bico de corvo", foi uma das invenções 
dele. Ele utilizava esta extremidade para 
comprimir a artéria, em seguida a amarrava 
com um fio de seda fino. 
Sua contribuição inigualável para a cirurgia. A 
ligadura. 
A ligadura era usada pelos árabes há 500 
anos, mas não usada na Europa, até que Paré 
pôs sua nova invenção para trabalhar no 
campo de batalha. 
Paré havia inventado a ligadura. Seria de 
imaginar que isso tenha entrado 
imediatamente em uso, mas 100 anos depois, 
os cirurgiões ainda usavam óleo fervente e 
cauterizavam lesões. Não era a primeira vez 
que os cirurgiões levavam algum tempo para 
adotar algo tão benéfico para seus pacientes. 
Basicamente, a cirurgia não mudou durante 
incríveis 300 anos. Durante os três séculos 
seguintes, Isaac Newton descobriu a 
gravidade, Michael Faraday inventou o motor 
elétrico e Beethoven transformou a música 
clássica. 
De fato, não houve qualquer progresso real 
até o século XIX, quando a industrialização 
começou a mudar o mundo. O trabalho 
mecanizado acarretava novas lesões. 
Membros arrancados e fraturas horríveis. 
Este aumento da demanda por cirurgia 
coincidiu com a Era Vitoriana das invenções, e 
produziu duas grandes inovações que 
transformariam a carnificina da cirurgia em 
algo reconhecível atualmente. 
Em 1840, quem tivesse o azar de necessitar 
de uma operação, teria que suportar 
consciente todo o processo. A descoberta do 
alívio da dor, ou anestesia, foi o terceiro 
grande obstáculo a ser superado. 
que reagem à lesão e enviam a mensagem de 
dor ao longo dos nervos periféricos da 
medula espinhal até o cérebro. O álcool 
retarda o cérebro, fazendo com que não reaja 
tão depressa à dor. 
Tudo que posso dizer agora é: hipnose 1 x 0 
álcool. 
Com a hipnose e o álcool longe de serem 
infalíveis, era necessário alguém que surgisse 
com uma solução melhor. 
O estudante de medicina escocês, James 
Younger Simpson, era ousado, precoce e 
extremamente ambicioso. 
Em 1827, com apenas 16 anos, ele assistiu sua 
primeira cirurgia. Uma mastectomia. Sem 
analgésicos, a única coisa que o cirurgião 
podia oferecer à mulher era a rapidez. 
Simpson achou a experiência tão aterradora, 
que por um tempo desistiu da medicina. Mas 
isso também o fez pensar na importância do 
alívio da dor. 
Então, em 1846, ele recebeu notícias 
promissoras. Um dentista de Boston, 
chamado William Morton tinha realizado a 
primeira cirurgia indolor usando uma 
substância chamada éter. Simpson testou o 
éter em seus pacientes e logo descobriu que 
ele era eficaz. Porém apresentava alguns 
problemas. 
um frasco de éter originalmente era feito 
misturando álcool com ácido sulfúrico, e por 
incrível que pareça, era consumido em festas. 
Era um anestésico extremamente eficaz, mas 
tinha uma grande desvantagem, 
estivéssemos na sala de cirurgia e 
acendessem um isqueiro e derramassem um 
frasco de éter, todos ficariam chamuscados. 
Além de ser explosivo e penetrante, o éter 
irritava a garganta dos pacientes e causava 
convulsões. 
Em 1847, enquanto cheirava produtos 
químicos em casa, Simpson se deparou com 
o clorofórmio. Simpson, na verdade, não 
descobriu o clorofórmio. 
Isso havia sido feito há 15 anos pelo Dr. 
Samuel Guthrie. Ele, por razões 
desconhecidas, misturou 8 litros de uísque 
com alguns quilos de cal clorada. Misturou 
tudo e depois deu essa substância à sua filha. 
Ela tomou um gole, disse que era delicioso e 
depois desmaiou. Ele decidiu classificá-lo 
como estimulante. Nunca percebeu que, na 
verdade, era um anestésico. 
Simpson usou o clorofórmio com êxito em 
alguns pacientes. Depois, com um desejo de 
autopromoção digno de um publicitário do 
século XXI, anunciou a sua estupenda 
descoberta à comunidade médica. 
Simpson deu uma palestra a um grupo de 
médicos. Ele enalteceu as virtudes do 
clorofórmio e ao final, tirou um lenço e um 
frasco, perguntando se alguém queria 
experimentar. 
Logo o riso tomou conta do ambiente 
enquanto homens caiam inconscientes, 
enquanto outros vagavam em estado de 
atordoamento. Felizmente para os 
inconscientes, todos acordaram. Outros, 
porém, que experimentaram o clorofórmio 
não tiveram tanta sorte. 
Graças ao entusiasmo de Simpson, o uso do 
clorofórmio generalizou-se, à medida que 
isso foi acontecendo, os pacientes 
começaram a morrer. 
Primeiro alguns, depois uma dúzia, depois a 
centenas. Simpson se recusou a acreditar que 
houvesse algo errado ou a investigar qual a 
causa das mortes. Mas até alguém fazer isso, 
os corpos continuavam a amontoar-se. 
O Dr. John Snow, mais conhecido por provar 
que a cólera era transmitida pela água, ficou 
intrigado pelas mortes por clorofórmio. Ele 
analisou os relatórios das autópsias e notou 
que as vítimas tinham algo em comum. 
Os mortos eram, em geral, jovens, saudáveis 
ou hesitantes. 
O que estaria acontecendo? 
Snow era frio, analítico. Ele cuidadosamente 
estudava, media e calculava. 
Ele analisou caso a caso, à procura de um 
padrão. Ele tabulou os registros, transformou 
tudo em estatísticas. 
Snow analisou profundamente os dados. Nas 
horas livres e às próprias custas, Snow mediu 
a quantidade exata de clorofórmio nos 
cadáveres. E fez experiências, aplicando o 
clorofórmio em animais. Snow logo descobriu 
que clorofórmio causa graves danos ao 
coração. Isso porque o clorofórmio reduz o 
funcionamento das células do corpo. Ele age 
particularmente rápido nas células cerebrais, 
por isso a perda de consciência. Mas o 
clorofórmio também retarda as células 
cardíacas, e em altas doses, pode pará-las. 
O clorofórmio é um remédio extremamente 
perigoso. Uma colher rasa é suficiente para a 
perda de consciência. Meia colher de chá 
basta para matar. 
Mas por que isso afetava os hesitantes? 
Snow notou que eram estes que mais 
resistiam, segurando a respiração o máximo 
de tempo possível. Por fim, tinham de inspirar 
com uma enorme força e inalavam 
clorofórmio suficiente para parar o coração. 
Derramar colheres num lenço e colocá-lo 
contra o rosto do paciente claramente não era 
uma boa técnica. 
Para reduzir o risco de overdose, Snow 
inventou uma coisa destas. O inalador de 
clorofórmio. O vapor sobe por um tubo até 
uma máscara. É muito mais seguro que 
embebedar um lenço com ele. 
Snow ministrou clorofórmio a mais de 4.000 
pessoas, incluindo a rainha Vitória, sem uma 
única morte. 
Graças a John Snow, o clorofórmio tornou-se 
um remédio bem mais seguro e continuou a 
ser usado até o século XX. 
Snow foi um tipo particular de gênio. Ele criou 
a noção da medicina como projeto de 
pesquisa, e, nesse aspecto, ele foi o fundador 
de uma nova visão da medicina. 
Na Escócia, Simpson e a sua carreira não 
foram afetadas pelas críticas devastadoras de 
Snow. 
Simpson se recusou a aceitar que o 
clorofórmio era perigoso. Quando ele 
morreu, em 1870, era um herói nacional e 
teve funeral com honras de estado, o maior da 
história escocesa. Bandeiras a meio mastro e 
30 mil enlutados lotaram as ruas. 
Os cirurgiões não têm de se preocupar com 
um paciente se contorcendo de dor para 
operar. Não têm de correr atrás deles, por 
assim dizer, agora podem trabalhar com 
calma, serem mais delicados, mais precisos. 
Com a descoberta dos anestésicos, a cirurgia 
deu outro grande passo à frente. Mas apesar 
disto e das descobertas anteriores, metade 
dos pacientes que entrava na sala de 
operações morria. 
Descobrir por quê, tornou-se obsessão para 
um desafortunado médico húngaro. Ignacz 
Semmelweis. 
Em 1847, Semmelweis, com 29 anos, 
começou a trabalhar na maternidade do 
Hospital Geral de Viena. À sua volta,um 
mistério desenrolava-se. 
Era o principal hospital de Viena, mas 
centenas de mulheres que ali davam à luz 
todos os anos desenvolviam uma doença fatal 
chamada febre puerperal. Abdômen inchado, 
múltiplos abcessos, febre, depois morte. 
Ninguém sabia o que a causava nem como 
detê-la. 
No hospital havia duas unidades. Uma 
comandada por parteiras, a outra, por 
médicos. 
Se desse o azar de ficar na unidade dos 
médicos, onde Semmelweis trabalhava, então 
tinha 9 vezes mais chances de morrer de febre 
puerperal do que se estivesse na das 
parteiras. 
Por quê? 
Semmelweis estava extremamente intrigado 
com esta discrepância. Ele ficou obcecado 
em resolver o mistério, tentando de tudo, 
desde mudar o jeito como as mulheres se 
deitavam ao que comiam. Mas nada 
funcionava. 
Semmelweis e seus colegas médicos 
dissecaram mães mortas, mas não achavam 
nada. 
Apesar disso, dia após dia, ele visitava o 
necrotério, antes de voltar às alas. Ele 
trabalhava arduamente, mas as mulheres 
continuavam a morrer. Ele estava deprimido, 
confuso, perplexo. 
Então surgiu uma descoberta vital. Um amigo, 
Jakob Kolletschka, professor de medicina 
legal, cortou o dedo durante uma autópsia e 
morreu dias depois. 
Desesperado para descobrir o que o tinha 
matado, Semmelweis pegou o relatório da 
autópsia de Kolletschka. O relatório revelava 
que quando morreu, seu amigo tinha o 
abdômen inchado, múltiplos abcessos e 
febre. Os mesmos sintomas que tinham 
matado tantas mães. 
Para Semmelweis, deve ter sido um momento 
surpreendente e aterrador. Teria ele 
finalmente resolvido o mistério, descoberto 
que na verdade o assassino era ele. 
Que era ele e os colegas médicos que de 
alguma maneira transportavam para as 
enfermarias a morte nas mãos? 
Era um pensamento chocante e herético. Mas 
finalmente explicaria por que um parto feito 
por uma parteira era mais seguro que por um 
médico. 
Parteiras não faziam autópsias. Não 
carregavam substâncias mortais nas mãos. 
Sem consultar seus superiores, Semmelweis 
pôs um aviso na porta da clínica, ordenando a 
todos os médicos que lavassem as mãos com 
hipoclorito de cálcio. 
Não foi um gesto popular. Os médicos 
acharam este ritual de lavagem de mãos 
entediante, inútil e demorado. Semmelweis 
tinha que percorrer as alas dia e noite para 
obrigá-los a cumprir. Mas ele estava 
determinado. 
O regime de lavagem de Semmelweis 
começou a produzir resultados espetaculares. 
A taxa de mortalidade da febre puerperal caiu 
de mais de 10% para menos de 3%. 
Dezenas de mulheres que do contrário teriam 
morrido agora podiam viver. Deve ter sido o 
período mais feliz da vida de Semmelweis. 
Mas esses dias estavam contados, porque não 
conseguira convencer os médicos. Ele não 
possuía uma explicação racional ou científica 
para o fato de as mãos sujas causarem a 
morte. 
As mulheres morriam de septicemia, infecção 
do sangue. Semmelweis não sabia qual a sua 
causa. Ele sabia que tinha descoberto algo 
importante. Porém, com um equipamento 
simples, que Semmelweis não tinha, 
Semmelweis sabia que mãos sujas causavam 
doenças. Mas não podia explicar por quê. E 
sem uma boa explicação, os colegas apenas 
riam dele. 
A ideia de que um pouco de sujeira debaixo 
das unhas podia matar era ridícula. Eles viviam 
num mundo no qual não pensavam nos 
germes. Sabiam que se olhasse uma lesão 
através de um microscópio, veria minúsculas 
criaturas se arrastando ao redor dela. 
Acreditavam que eram geradas 
espontaneamente e as consideravam 
inofensivas, irrelevantes. Não davam atenção 
a elas. 
O chefe de Semmelweis e seus colegas 
estavam fartos de suas ideias. Assim, quando 
seu contrato acabou, não foi renovado e ele 
voltou, desacreditado, a Budapeste. Ele 
acabou aqui, no Hospital St Rochus, como 
diretor da maternidade. 
Quando Semmelweis chegou ao hospital, a 
maternidade estava num estado deplorável. 
Uma em cada três mulheres que aqui vinham 
para dar à luz morria de febre puerperal. 
Semmelweis estava prestes a mudar isso. Ele 
iniciou uma rigorosa campanha de limpeza de 
mãos, lençóis, instrumentos, tudo tinha de ser 
limpo a cada paciente. 
O hospital foi modernizado, mas há 150 anos, 
Semmelweis percorria estes corredores 
tentando apanhar quem desobedecia às suas 
ordens. 
Ele não fez amigos, mas fez progressos. Levou 
6 anos, mas ele conseguiu reduzir a taxa de 
mortalidade de mais de 30% para menos de 
1%. 
Enquanto isso em Viena, onde abandonaram 
seus métodos, centenas de mulheres 
morriam anualmente por infecção hospitalar. 
Mas os húngaros eram tão cínicos como os 
vienenses. E a descrença combinada com o 
estilo agressivo de Semmelweis fizeram mais 
uma vez com que ele alienasse a equipe do 
hospital. E a noção de que ninguém lhe ouvia 
começava a enlouquecê-lo. Semmelweis, que 
havia feito a descoberta mais extraordinária e 
brilhante, não podia explicá-la aos médicos 
de uma forma que fizesse sentido. Ele sabia 
como evitar a morte de milhares, de centenas 
de milhares, e ninguém o ouvia. Era uma 
posição horrível de se estar e ele não 
suportou. 
Semmelweis estava desesperado. Ele vinha 
regularmente a esta capela anexa ao hospital 
para pedir perdão a Deus. 
Ele começou a escrever aos médicos, 
acusando-os de assassinos, e interrompia 
suas palestras com ataques incontroláveis de 
choro. Ele também saía as ruas, parava os 
casais que encontrava implorando pra 
garantirem, se fossem ter filhos, que os 
médicos lavassem as mãos antes do parto. 
Sua jovem esposa estava com dificuldade 
para lidar com seu comportamento. Em 
desespero, Semmelweis decidiu fazer o que 
vinha evitando há anos. Escrever um livro. 
Em 1860, sentado nesta escrivaninha, 
Semmelweis finalmente terminou de escrever 
a obra de sua vida. Infelizmente, era bastante 
errática e repetitiva, mas continha a essência 
de suas ideias. 
"O transmissor é o dedo do examinador, a 
mão que opera, instrumentos, lençóis da 
cama, ar, esponjas..." 
Foi uma descoberta que podia ter salvo 
milhares de vidas. Para os médicos que liam o 
livro com mente aberta, tudo estava aqui. Mas 
Semmelweis estraga tudo ao gastar a última 
parte do livro em ataques longos e 
rancorosos contra todos os seus críticos. 
E com o livro, ele enviou cartas ofensivas e 
agressivas. 
"E você, Sr. professor, foi cúmplice deste 
massacre, gestos assassinos cometidos por 
parteiras e médicos em Wurtzburg, declaro 
perante Deus e o mundo que você é um 
assassino!" 
O livro foi mal recebido e alimentou a sua 
evidente paranoia. Ele se voltou para a bebida 
e para as prostitutas. Com seu 
comportamento cada vez mais instável, a sua 
esposa, com relutância, aceitou ajudar numa 
conspiração planejada pelos médicos de 
Semmelweis. Ela propôs umas férias em 
família na Áustria. Quando chegaram a Viena, 
sua esposa sugeriu uma visita ao hospital de 
um amigo. Mas quando chegaram lá, 
Semmelweis foi detido e arrastado a um 
quarto. O hospital era, na verdade, um 
hospício. 
O que aconteceu em seguida não é claro. Há 
várias versões. 
Ele teria sido espancado ou cortado um dedo. 
Não importa a razão. Dias depois de chegar 
ao hospício, ele adoeceu gravemente. 
Desenvolveu múltiplos abcessos, abdômen 
inchado e febre alta. Ele morreu duas 
semanas depois de septicemia, infecção 
sanguínea. 
A mesma doença que matou seu amigo e 
todas aquelas mulheres. Ele foi sepultado 
aqui, na casa da família, quase literalmente na 
casa da família. Atrás desta parede. 
Ele tinha apenas 47 anos quando morreu. E a 
história tem uma reviravolta trágica. 
Quando Semmelweis morreu, outra pessoa já 
tinha descoberto o pedaço que faltava no 
quebra-cabeças que podia explicar por que 
mãos sujas causam doenças. 
Na França, Louis Pasteur havia provado que 
os micróbios causavam a decomposição. 
Infelizmente, Semmelweis morreu sem 
conhecer o trabalho de Pasteur. Mas no ano 
de sua morte, um jovem escocês finalmente 
reuniu todas as peças do quebra-cabeças e 
concluiu aquilo que Semmelweis tentara 
tanto fazer. 
Joseph Lister era umjovem cirurgião escocês, 
que ao contrário de Semmelweis, leu o 
trabalho de Pasteur sobre as bactérias. Lister 
notou que se Pasteur tivesse razão, eles 
estavam sendo mortos por micróbios 
invisíveis. 
Mas o que ele podia fazer a esse respeito? 
Certo dia, um amigo seu entrou na ala e disse: 
"Meu Deus, este lugar cheira a esgoto!" 
Foi o seu momento eureca. 
"Esgoto, claro! Esgoto!" 
Por que não controlar as infecções com o uso 
do mesmo produto que usavam para 
desinfetar os esgotos? 
Ácido carbólico. 
Lister mergulhou seus instrumentos nele 
antes de sua próxima operação. Operar um 
garoto. O garoto sobreviveu, então ele voltou 
a repetir. Logo as taxas de mortalidade caíram 
impressionantes 70%. Gostaria de dizer que 
os cirurgiões britânicos acolheram a ideia 
com enorme entusiasmo, mas, na verdade, 
isso só aconteceu quando ele se mudou para 
Londres, 12 depois, e começou a fazer 
operações pioneiras no joelho que 
começaram a lhe dar atenção. 
MÉTODOS DE ESTERILIZAÇÃO: VAPOR - 
ÁGUA QUENTE – FOGO- IMERSÃO EM 
ANTISSÉPTICOS. 
Lentamente, os cirurgiões aceitaram a 
necessidade de lavar mãos e instrumentos em 
ácido carbólico. Antes de Lister, a maioria dos 
pacientes não sobrevivia às grandes 
operações. Mas a introdução das técnicas 
antissépticas mudou tudo isso. Finalmente 
transformou a cirurgia de carnificina à ciência. 
A sala de cirurgias do século XX iria reunir o 
legado desses homens. A sua dedicação à 
anatomia, à ciência da anestesia, ao controle 
das hemorragias, e acima de tudo, ao 
combate da infecção. 
Mas não esqueçamos o seu alto custo 
humano. Hoje, os cirurgiões têm uma noção 
muito mais exata do que podem fazer, e ainda 
bem. Mas não há sucesso sem fracasso, 
desenvolvimento sem risco. Ainda espero 
que no futuro haja oportunidade para fazer 
algumas dessas ousadas experiências que 
marcaram o passado.

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