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DESCRIÇÃO Estudo da anatomia osteoarticular do esqueleto apendicular (membros superiores e inferiores), interpretação de imagens radiográficas e uso da anatomia comparada para identificar alterações e aspectos patológicos. PROPÓSITO Compreender a anatomia com base na análise radiográfica e identificar alterações e achados de suspeita patológica são fundamentais para o profissional de radiologia. Para isso, inicialmente, é necessário revisitar a anatomia osteoarticular, entender o aspecto radiográfico normal e classificar os achados anormais como falhas técnicas ou traços suspeitos de lesões ou patologias específicas. PREPARAÇÃO Consulte livros de anatomia humana ou um atlas de anatomia para revisar posição anatômica padrão, planos e eixos anatômicos, assim como os termos de posição e de movimento. OBJETIVOS MÓDULO 1 Descrever a anatomia observada nas radiografias de membros superiores e patologias associadas MÓDULO 2 Listar as estruturas anatômicas de interesse nas radiografias de membros inferiores e patologias associadas INTRODUÇÃO Radiografias do esqueleto apendicular são frequentes em atendimentos de emergência, visto que respondem pela maior parcela das demandas em ortopedia e traumatologia. Radiografias simples são úteis à maioria das necessidades clínicas e têm suprido outra demanda crescente: a avaliação de doenças reumáticas. As lesões que acometem articulações, tendões e ligamentos carecem de métodos mais sensíveis, como a ressonância magnética e a ultrassonografia. Para a avaliação óssea, radiografias simples de rotina básica, além do baixo custo operacional, satisfazem a maioria dos critérios para identificar lesões mais recorrentes. Conheceremos as principais estruturas osteoarticulares que compõem os membros superiores e inferiores, bem como os processos patológicos mais recorrentes por meio da análise de imagens radiográficas. Afinal, só identificamos cédulas falsas se conhecemos as características da cédula verdadeira. A proposta é que você se familiarize com a visualização da anatomia por meio das imagens radiográficas, reconhecendo seu aspecto normal para que seja capaz de identificar aspectos anormais durante sua análise. MÓDULO 1 Descrever a anatomia observada nas radiografias de membros superiores e patologias associadas ANATOMIA RADIOGRÁFICA DA MÃO A mão é dividida em três grandes regiões: CARPO METACARPO FALANGES Os dedos da mão são chamados de quirodáctilos: do grego kyros (mão) e daktylos (dedo). O datilógrafo, por exemplo, era o profissional que digitava documentos em máquinas de escrever. Os dedos são numerados de 1 a 5, e a contagem é feita a partir do polegar, ou seja, de forma lateromedial em posição anatômica. Falanges são ossos longos que dão forma e sustentação aos dedos. Cada dedo possui três falanges, com exceção do polegar, com apenas duas falanges. Imagem: Shutterstock.com Divisão anatômica dos ossos da mão DICA Para entender melhor a terminologia anatômica neste conteúdo, recomendamos que você consulte livros de anatomia humana para revisar a posição anatômica padrão, planos e eixos anatômicos, assim como os termos de posição e de movimento. ESTUDO RADIOGRÁFICO DOS DEDOS Com base no plano mediossagital (PMS), os dedos possuem falanges proximais, mediais e distais. Cada falange é composta por uma cabeça (distal), um corpo e uma base (proximal), sobre a qual as falanges se articulam. Imagem: Shutterstock.com No polegar, encontramos apenas as falanges proximal e distal. Como os ossos são compostos por minerais de peso atômico elevado (cálcio, fósforo e potássio), as falanges são densas, o que confere à imagem tons claros, bem-delineados na radiografia. As articulações são compostas por cartilagem, menos densas que os ossos. Por isso, os espaços articulares são vistos como áreas escuras e bem-definidas entre as falanges. Veja na imagem radiográfica a seguir. Imagem: Shutterstock.com Radiografia da mão direita, projeção posteroanterior (PA). Nesse exemplo, perceba a correta posição de ossos, articulações e tecidos moles. Quanto menos denso é o tecido, mais escuro se torna. Os ossos permanecem em tons claros, tecidos musculares em cor acinzentada e a articulações em tons escuros. ESTUDO RADIOGRÁFICO DOS METACARPOS Os cinco metacarpos formam a região palmar das mãos. São ossos longos, maiores que as falanges. A identificação e a contagem são feitas de forma semelhante às dos dedos. A estrutura anatômica também é bem similar, destacando-se apenas a cabeça metacarpiana mais protuberante. Essa estrutura é vulgarmente conhecida como “nó” dos dedos, muito lesionados em fraturas do boxeador. Cada falange proximal se articula com um metacarpo, formando as articulações metacarpofalangianas. Na imagem, temos um diagrama para a localização e contagem dos metacarpos. javascript:void(0) Imagem: Pixabay Identificação e contagem dos metacarpos. Nas imagens a seguir, temos: Imagem: Shutterstock.com Uma modelagem 3D evidenciando fraturas na cabeça do 4º e do 5º metacarpo. Modelagem 3D evidenciando fraturas metacarpais. Imagem: Shutterstock.com Radiografias indicando que a lesão também ocorre no colo do metacarpo, dependendo da intensidade da lesão. Aqui, temos imagens nas incidências em PA e oblíqua da mão, evidenciando a lesão no 4º metacarpo, com o fragmento deslocado posteriormente. Radiografias da mão direita, projeções PA e oblíqua. ANATOMIA RADIOGRÁFICA DA ARTICULAÇÃO DO PUNHO Juntamente com as porções distais dos ossos rádio e ulna (antebraço), o carpo é um conjunto de ossículos que formam a base da mão e a estrutura articular do punho. A porção distal da ulna forma uma área esférica, chamada cabeça, e uma protuberância externa, chamada processo estiloide. Essa estrutura também está presente no rádio, porém é menos proeminente. O carpo é composto por oito ossos, dispostos em duas fileiras: proximal e distal. A contagem é feita similarmente à dos dedos, iniciando pela fileira proximal. Sendo assim, o nome dos ossos são: Na fileira proximal Escafoide Semilunar Piramidal Pisiforme Na fileira distal Trapézio Trapezoide Capitato Hamato A fileira proximal se vincula com a articulação radiocarpal e a fileira distal com os metacarpos, como é possível observar nas imagens a seguir. Imagem: Shutterstock.com MODELAGEM 3D COM OS OSSOS DA MÃO ARTICULADOS. Imagem: Shutterstock.com MODELAGEM 3D COM OS OSSOS DA MÃO DISSOCIADOS. Imagem: Shutterstock.com RADIOGRAFIA DO PUNHO ESQUERDO, EM PROJEÇÃO PA. OSSOS DA MÃO DISSOCIADOS A ilustração mostra os ossos carpais dissociados em posição AP (região palmar voltada para cima). É possível perceber o pisiforme e o hâmulo (gancho) do hamato. javascript:void(0) javascript:void(0) PROJEÇÃO PA A radiografia em incidência PA mostra a sobreposição entre pisiforme e piramidal, e, entre trapézio e trapezoide. ANATOMIA RADIOGRÁFICA DOS OSSOS DO ANTEBRAÇO O antebraço é o segmento do membro superior localizado entre o cotovelo e o punho. O exame radiográfico pode ser útil para avaliar lesões e alterações ósseas nas partes moles e articulações. O antebraço é composto por dois ossos longos: rádio e ulna. Anatomicamente, o primeiro é posicionado lateralmente e o segundo, medialmente ao PMS. Imagem: Shutterstock.com DICA Para facilitar a identificação e localização anatômica do rádio, estique seu membro superior e levante o polegar, como se fizesse um sinal positivo com a mão. Pense no polegar esticado como a “antena” do rádio. Veja que ela ficará posicionada lateralmente, em posição anatômica. Assim, classificamos o rádio como o osso lateral do membro superior. Unida ao carpo, a porção distal do antebraço forma a articulação do punho. Junto ao úmero, a porção proximal do antebraço forma a articulação do cotovelo. Veja nas imagens a seguir que os ossos longos são formados por duas estruturas importantes: córtex e medula. A região cortical concentraa maior quantidade de matriz óssea, e a medula óssea é composta por tecido esponjoso. Imagem: Shutterstock.com Estrutura interna de composição dos ossos longos Na radiografia, a borda cortical é mais radiopaca e o tecido medular, mais cinzento. As extremidades tendem a ser mais radiotransparentes por causa do tecido trabecular ósseo, que facilita o processo articular. Imagem: Shutterstock.com Rotina radiográfica do antebraço, projeções AP e lateral. ATENÇÃO Tecido radiopaco é aquele que absorve mais raios X e não permite que cheguem ao receptor de imagem. Tecido radiotransparente permite que os raios X atravessem por serem pouco densos. Com isso, mais raios X chegam ao receptor, deixando a imagem mais escura. Imagem: Shutterstock.com A composição física dos ossos longos é similar àquela do biscoito waffer canudo, que comemos com sorvete, uma casca dura, geralmente recheada de chocolate. Nessa analogia, o recheio seria a medula óssea (mais esponjosa) e o waffer, a cortical óssea (mais dura). ANATOMIA RADIOGRÁFICA DA ARTICULAÇÃO DO COTOVELO O cotovelo é formado por: úmero distal, ulna e rádio proximais. É um importante sítio de lesões que acometem os ossos, cartilagens e estruturas adjacentes. A avaliação de partes moles é limitada em radiografias, mas processos de artrite, fraturas ou luxações são facilmente identificados com raios X. Em radiografias de cotovelo, poucos acidentes anatômicos são bem visualizados quando o encaixe é perfeito. No úmero, observamos apenas os epicôndilos lateral e medial e uma sombra radiotransparente referente à fossa olecraniana. Os acidentes anatômicos da ulna que realizam o encaixe com a porção distal do úmero não são visualizados, salvo em casos de luxação. A sobreposição é o principal motivo que leva à necessidade de se realizar as imagens em duas projeções opostas: anteroposterior (AP) (frente) e perfil (lateral). Imagem: Brian C. Goss / Wikimedia commons/ Licença (public domain) Peça cadavérica de um cotovelo em vista anterior. Imagem: Brian C. Goss / Wikimedia commons/ Licença (public domain) Peça cadavérica de um cotovelo em vista posterior. Na projeção AP, conseguimos ver o epicôndilo lateral e o medial do úmero, o capítulo do úmero articulado com a cabeça do rádio e a tróclea do úmero encaixada na incisura troclear da ulna. Imagem: Mikael Häggström, M.D./ Wikimedia Commons/ Licença (CC0 1.0) Radiografia de um cotovelo esquerdo, projeção AP, mostrando anatomia normal e sem lesões. ATENÇÃO O olécrano está encaixado na fossa olecraniada e não conseguimos ver nessa projeção. O processo coronoide da ulna aparece anteriormente, bem radiopaco, em formato pontiagudo. Nessa projeção, o espaço articular deve aparecer radiotransparente e aberto. Na projeção lateral, a região proximal do rádio e da ulna ficam sobrepostas. Mesmo assim, conseguimos ver a cabeça do rádio e o processo coronoide ulnar. Ainda assim, conseguimos ver bem o encaixe da incisura troclear com a tróclea umeral. A fossa olecraniana fica aberta com o cotovelo fletido e conseguimos ver o capitulum bem definido, esférico e sobreposto à tróclea. Um pouco acima do capitulum, está localizado o epicôndilo lateral. Veja na imagem radiográfica. Imagem: Mikael Häggström, M.D./ Wikimedia commons/ Licença (CC0 1.0) Radiografia de um cotovelo esquerdo, projeção lateral, mostrando anatomia normal e sem lesões. ANATOMIA RADIOGRÁFICA DO ÚMERO O úmero é o maior osso longo do membro superior, articulando-se proximalmente com a escápula e distalmente com a ulna. As incidências ideais para avaliação do úmero são anteroposterior e lateral. Nessas radiografias, o objetivo é identificar fraturas na diáfise, assim como alterações no tecido ósseo, nas partes moles e localização de corpos estranhos. A análise das articulações é feita por incidências específicas para cada sítio. Além disso, como é um osso com mais corpo, é possível visualizar nitidamente as bordas corticais, a região medular e o aspecto mais transparente das áreas trabeculares na epífise proximal. A porção distal do úmero é composta pelos acidentes anatômicos, já estudados na seção sobre o cotovelo: epicôndilos lateral e medial, fossa olecraniana e coronoide, tróclea e capitulum. A diáfise ou corpo é bem alongada, com bordas corticais bem espessas. Já a porção proximal é composta por cabeça, colo, tubérculo maior (lateral), tubérculo menor (medial) e sulco intertubercular. Imagem: Shutterstock.com Diagrama ilustrado da composição anatômica do úmero. Imagem: Nevit Dilmen / Wikimedia Commons / Licença (CC Attribution-Share Alike 3.0 javascript:void(0) Unported). Radiografia do úmero esquerdo, em projeção AP. Na radiografia anteroposterior, o tubérculo maior aparece posicionado à frente, e o tubérculo maior está mais lateralmente. A cabeça umeral é medial, encaixada na articulação do ombro, que estudaremos a seguir. Na porção distal, tróclea (medial) e capitulum (lateral) aparecem justapostos. É importante que a radiografia do úmero contemple a extremidade superior e inferior para descartar luxações. Imagem: Nevit Dilmen / Wikimedia Commons / Licença (CC Attribution-Share Alike 3.0 Unported) Radiografia do úmero esquerdo, em projeção lateral. Na radiografia lateral, a extremidade superior do úmero gira internamente. Com isso, o tubérculo maior aparece na parte medial, de frente. Na extremidade inferior, os epicôndilos aparecem totalmente sobrepostos, e a ulna deve ser vista em perfil, encaixando na tróclea. ANATOMIA RADIOGRÁFICA DA ARTICULAÇÃO DO OMBRO javascript:void(0) javascript:void(0) O ombro é formado por três ossos: úmero proximal, clavícula e escápula. A articulação da cavidade glenoide (escápula) com a cabeça do úmero dá origem à articulação glenoumeral, principal estrutura do ombro. Imagem: Shutterstock.com OMBRO Diagrama ilustrado da composição anatômica do ombro. Imagem: Shutterstock.com ESCÁPULA (VISTA ANTERIOR E POSTERIOR) Modelagem 3D com as vistas anterior e posterior da escápula. Imagem: Shutterstock.com ESCÁPULA (VISTA AXIAL) Modelagem 3D com a vista axial da escápula. Devido ao tipo de movimentos realizados, a região é muito suscetível a lesões como luxações e, algumas vezes, fraturas na borda da cavidade glenoide e na cabeça do úmero. Clavícula É um osso longo de pequeno porte, com duas extremidades: acromial e esternal. Como o próprio nome sugere, a extremidade acromial se articula com uma estrutura escapular chamada acrômio, na porção lateral. A extremidade esternal se conecta ao manúbrio, no esterno. Escápula Além do acrômio, é composta pela cavidade glenoide (lateral) e pelo processo coracoide (anterior), cuja função é limitar o movimento do membro superior e fixar os músculos peitorais e do bíceps. O corpo escapular é laminar, de formato triangular, composto por um ângulo superior e inferior, e margens lateral e medial. A rotina radiográfica para ombro é composta por três exames: anteroposterior com rotação neutra, rotação interna e rotação externa. Note que é a posição do tubérculo maior (úmero) que define o tipo de rotação. Quando ele está em posição lateral, temos a rotação neutra. Quando sua posição é anterior e a cabeça totalmente medial, temos a rotação interna. Por fim, quando o tubérculo maior está medial, temos a rotação externa. Imagem: Nevit Dilmen / Wikimedia commons / Licença (CC Attribution-Share Alike 3.0 Unported) RADIOGRAFIA DO OMBRO, PROJEÇÃO AP, COM ROTAÇÃO NEUTRA. imagem: Nevit Dilmen/ Wikimedia commons/ Licença (CC Attribution-Share Alike 3.0 Unported) RADIOGRAFIA DO OMBRO, PROJEÇÃO AP, COM ROTAÇÃO INTERNA. Imagem: Nevit Dilmen / Wikimedia Commons / Licença(CC Attribution-Share Alike 3.0 Unported) RADIOGRAFIA DO OMBRO, PROJEÇÃO AP, COM ROTAÇÃO EXTERNA. Na imagem, você verá uma incidência em perfil axilar do ombro, conhecida como incidência em Y da escápula, pois a vista da escápula forma a imagem de um “Y”.O acrômio está à esquerda da imagem, cavidade glenoide ao centro e o processo coracoide à direita. Imagem: RSatUSZ/Wikimedia commons/licença (Creative Commons Attribution-Share Alike 4.0 International, 3.0 Unported, 2.5 Generic, 2.0 Generic and 1.0 Generic license). Radiografia do ombro, projeção lateral, com visualização do “Y” escapular. PATOLOGIAS ASSOCIADAS AOS MEMBROS SUPERIORES LESÕES REUMÁTICAS Doenças reumáticas são um grupo de patologias que acometem esqueleto, articulações, cartilagens, músculos, tendões e ligamentos. São caracterizadas por provocar dores limitadoras de movimento. A maioria das doenças reumáticas é silenciosa e progressiva, requerendo apenas tratamento paliativos quando não tratadas aos primeiros sinais. Aqui, vamos estudar a classe de lesões reumáticas mais recorrentes no sistema apendicular e visíveis por técnicas radiográficas: as artrites. Imagem: Jmarchn / Wikimedia Commons / Licença (Creative Commons Attribution-Share Alike 3.0 Unported license) Radiografia do cotovelo, projeção lateral, evidenciando processo de artrite. OSTEOARTRITE A osteoartrite é o tipo mais comum de lesão reumática. Consiste em um processo de inflamação e destruição da cartilagem entre os ossos. Essa lesão pode se estender para a cápsula articular, para o líquido sinovial (sinovite) e progredir para os ossos, causando erosão (degeneração) das epífises. A artrite pode ter causa inflamatória, infecciosa ou metabólica. Imagem: Shutterstock.com Radiografia bilateral das mãos, projeção PA, evidenciando artrites interfalangianas. Na radiografia, os espaços articulares (radiotransparentes) aparecem reduzidos, com nitidez reduzida e aumento de radiopacidade. Quando associada a processos inflamatórios ou infecciosos, pode apresentar um aumento da densidade nos tecidos adjacentes, típico em edemas e abscessos. Estágios mais avançados apresentam o sinal de gaivota: um desenho em “V” na epífise óssea em razão da degeneração avançada das bordas laterais dos ossos. Imagem: Mikael Häggström / Wikimedia Commons / Licença (Creative Commons Attribution 4.0 International) Radiografia da mão, projeção PA, evidenciando artrite erosiva e sinal de gaivota. OSTEOARTROSE A osteoartrose é o estágio crônico da osteoartrite, geralmente irreversível, podendo gerar perda total do movimento por formação de anquilose (calcificação entre ossos da articulação). Na radiografia, a osteoartrose é identificada pela perda total do espaço articular e alteração da angulação natural entre eles. Na imagem, veja o processo de anquilose na borda inferior da cavidade glenoide e a degeneração progressiva da cabeça umeral. Imagem: Vladimir V. Senatorov, Ramon Cuevas-Trisan, Francisco J. Garcia, Gabriel P. Suciu, Robert H. Parkes and Alina M. Alonso/Wikimedia commons/licença (Creative Commons Attribution 4.0 International) Radiografia do ombro, projeção AP, evidenciando artrose glenoumeral. ARTRITE REUMATOIDE A artrite reumatoide é uma doença autoimune, sem causa estritamente definida, que provoca processos inflamatórios similares aos apresentados em osteoartrites. No entanto, a artrite reumatoide é mais comum em articulações interfalangianas. Os sinais básicos são o desalinhamento das falanges com o metacarpo e os edemas no tecido mole, que aumentam a radiopacidade local. A seguir, veja uma fotografia que mostra o desalinhamento típico da região e imagens radiográficas com diferentes casos dessa lesão. Foto: Phoenix119/Wikimedia commons/licença (CC Attribution-Share Alike 3.0 Unported license) Anamnese física da mão de um paciente com artrite reumatoide. Imagem: Shutterstock.com Radiografia da mão, projeção PA, evidenciando desalinhamento das falanges. Imagem: Shutterstock.com Radiografia da mão, projeção PA, evidenciando quadro moderado de artrite reumatoide. Imagem: Bernd Brägelmann Braegel Mit freundlicher Genehmigung von Dr. Martin Steinhoff/Wikimedia commons/licença (Creative Commons Attribution 3.0 Unported license) Radiografia da mão, projeção PA, evidenciando quadro severo de artrite reumatoide. Quando ocorre nas articulações interfalangianas proximais (IFP), a lesão é classificada como nódulo de Bouchard. O edema nas interfalangianas distais (IFD) caracteriza o nódulo de Heberden. De acordo com o grau de desalinhamento das falanges, a funcionalidade das mãos pode ser drasticamente comprometida. Veja, a seguir, uma fotografia de dedos acometidos pelos dois tipos de nódulos e imagens radiográficas demonstrando esse tipo de lesão. Foto: Drahreg01 / Wikimedia Commons / Licença (Creative Commons Attribution 3.0 Unported license) Anamnese física dos nódulos de Heberden e de Bouchard. Imagem: Hellerhoff / Wikimedia commons / Licença (Creative Commons Attribution 4.0 International license) Radiografia da mão, projeção PA, evidenciando nódulo de Heberden no dedo indicador. Imagem: J. Lengerke/Wikimedia commons/licença (Creative Commons Attribution-Share Alike 3.0 Germany license) Radiografia da mão, projeção PA, evidenciando nódulo de Bouchard severo no dedo indicador. ATENÇÃO Existem outros processos inflamatórios e infecciosos no esqueleto apendicular. Entretanto, alguns deles são mais comuns nos membros inferiores e serão abordados no próximo módulo deste material. LESÕES ASSOCIADAS A EVENTOS TRAUMÁTICOS Quando se estuda o esqueleto apendicular, a primeira gama de patologias a se pensar seriam as fraturas e luxações. As lesões decorrentes de traumas são especialmente importantes pela sua maior frequência e relevância da imagem radiográfica nesses casos. TRAUMA É a aplicação de uma energia externa sobre uma estrutura anatômica de modo que sua força vença a resistência do tecido. No caso das articulações, traumas produzem entorses e luxações. Nos ossos, são produzidas fissuras e fraturas. Já nos músculos, traumas produzem contusões e estiramentos. Estes últimos não são visíveis por meio de exames radiográficos. Portanto, vamos discutir apenas as lesões traumáticas ósseas e articulares. LUXAÇÃO É a perda da congruência total ou parcial de uma articulação. Em outras palavras, é o desencaixe entre os ossos de determinada articulação. As luxações são eventos dolorosos e geralmente ocorrem em traumas de alto impacto. Não confunda entorse com luxação. ENTORSE É o estiramento de tendões ou ligamentos sem desencaixe articular. Quando a desarticulação é total, a lesão é caracterizada como luxação. Porém, quando ocorre a perda parcial do encaixe, o evento é chamado de subluxação. Existem, ainda, lesões decorrentes da associação de fraturas e luxações em um mesmo evento. Um bom exemplo disso é a fratura- luxação de Monteggia, que abordaremos na seção de lesões epônimas. EXEMPLO Na mão, luxações podem ocorrer entre as falanges, na articulação metacarpofalangiana e na articulação radiocarpal. No cotovelo, é mais comum na articulação troclear. No ombro, são comuns as luxações glenoumerais, que podem gerar lesões subsequentes, como a lesão de Bankart e de Hill-Sachs, que também estudaremos na seção de lesões epônimas. Imagem: Hellerhoff / Wikimedia commons / Licença (Creative Commons Attribution – shared 3.0, license unported) Radiografia do dedo, projeções PA e lateral, mostrando subluxação na 2ª IFD. A primeira imagem mostra uma subluxação na articulação IFD do segundo dedo. Veja como os ossos ainda mantêm alguma relação e possivelmente ainda estão dentro da cápsula articular. Imagem: Hellerhoff/Wikimedia commons/licença (Creative Commons Attribution – shared 3.0, javascript:void(0) javascript:void(0) license unported). Radiografia do dedo, projeções PA e lateral, mostrando luxação completa na 4ª IFP. Já a segunda radiografia revela uma luxação na articulação IFP do 4º dedo. Veja que, na imagem de frente, não é possível determinar se a luxação é completa ou não por aparecer um pequeno acavalamento entre as extremidades ósseas. Já na imagem oblíqua fica mais nítidoque ocorreu a dissociação total. As luxações de ombro merecem um pouco mais de atenção, pois podem ocorrer em duas posições diferentes: anterior e posterior. Focalize sua atenção na cavidade glenoide, pois a escápula é a estrutura mais fixa do ombro. Quando a borda da cabeça umeral está sobreposta à cavidade glenoide, temos um indicativo para luxação anterior do ombro. Imagem: Hellerhoff/Wikimedia commons/licença (Creative Commons Attribution – shared 3.0, license unported) Radiografia do ombro, projeções AP, evidenciando luxação anterior. Na luxação posterior não acontece da mesma forma. A cabeça umeral volta-se para trás e ficam em evidência apenas as bordas dos tubérculos. Não há sobreposição do úmero com a cavidade glenoide. javascript:void(0) Imagem: Hellerhoff/Wikimedia commons/licença (Creative Commons Attribution – shared 3.0, license unported) Radiografia do ombro, projeções AP, evidenciando luxação posterior e sinal de lâmpada. Imagem: Shutterstock.com Nesse caso, é formado o sinal de lâmpada. A cabeça umeral rodada posteriormente deixa a epífise mais esférica e o colo mais acentuado, produzindo uma silhueta similar a uma lâmpada incandescente. A essas formas exóticas visíveis em algumas radiografias chamamos de sinal radiográfico, como é o caso do sinal de gaivota, que vimos anteriormente. FRATURAS São processos não naturais de descontinuidade óssea, de todo o tecido cortical ósseo ou de parte dele. FRATURA INCOMPLETA Chamamos de fratura incompleta quando uma parte do tecido cortical se rompe. FRATURA COMPLETA Quando a estrutura cortical sofre ruptura total, dividindo o osso em dois ou mais segmentos, a lesão é classificada como fratura completa. Esta é mais recorrente em ossos menos densos, como no caso dos ossos infantis, sendo conhecidas como fraturas em galho verde. FRATURAS EM GALHO VERDE Galhos verdes são ricos em fibras jovens, que não se rompem com facilidade. Mesmo com o caule quebrado, parte da planta ainda permanece unida. Por esse motivo, fraturas que não rompem totalmente são chamadas de fraturas em galho verde. Imagem: Nevit Dilmen / Wikimedia Commons/ Licença (Creative Commons Attribution – shared 3.0, license unported) Radiografia de antebraço, projeção AP, mostrando fratura em galho verde. FRATURA EM GALHO SECO Quando o osso se parte em vários fragmentos, a lesão é conhecida como fratura em galho seco. Fraturas também são classificadas de acordo com a direção do trauma. Imagem: Shutterstock.com Tipos de fraturas. FRATURAS TRANSVERSAIS São as mais comuns e rompem o eixo mais curto do osso. Imagem: Hellerhoff / Wikimedia Commons / Licença (Creative Commons Attribution – shared 3.0, license unported) Fratura transversal nos metacarpos. FRATURAS LINEARES São pouco comuns e acompanham o maior eixo do osso. Imagem: Nevit Dilmen / Wikimedia commons / Licença (Creative Commons Attribution – shared 3.0, license unported) Fratura linear no segundo metacarpo. FRATURAS OBLÍQUAS E ESPIRAIS São semelhantes, mas as fraturas em espiral são decorrentes de torção do membro. Imagem: Hellerhoff / Wikimedia Commons / Licença (Creative Commons Attribution – shared 3.0, license unported) Fratura em espiral no terço inferior do úmero. Imagem: Shutterstock.com Fratura oblíqua nos segundos metacarpos. FRATURA COMINUTIVA Por fim, quando a fratura divide o osso em mais de dois fragmentos, é chamada de fratura cominutiva. É muito comum em acidentes de alto impacto e em perfurações por arma de fogo. Imagem: Shutterstock.com Fratura cominutiva provocada por arma de fogo. LESÕES EPÔNIMAS São aquelas que receberam o nome ou sobrenome de seu descobridor. Geralmente não se enquadram em nenhum dos tipos de fratura já citados ou se trata de lesão com aspecto muito específico, que merece destaque. Os membros superiores têm uma vasta lista de fraturas epônimas, que serão discutidas a seguir. FRATURA DE BARTON É uma lesão intra-articular na porção distal do rádio, sem deslocamento do fragmento e sem rompimento articular. Nome dado em homenagem ao médico John Rhea Barton. Imagem: Mikael Häggström, M.D./ Wikimedia Commons / Licença (CC0 1.0 Universal Public Domain Dedication) FRATURA DE BARTON, PROJEÇÃO LATERAL. Imagem: Nevit Dilmen / Wikimedia Commons / Licença (Creative Commons Attribution – shared 3.0, license unported) FRATURA DE BARTON, PROJEÇÕES AP E LATERAL. FRATURA DE COLLES É uma lesão extra-articular no rádio distal, com o deslocamento posterior do fragmento e da mão, uma vez que é típica em quedas sobre a mão estendida. O nome foi dado em homenagem ao médico Abraham Colles. Imagem: Lucien Monfils / Wikimedia Commons / Licença (Creative Commons Attribution-Share Alike 4.0 International license) FRATURA DE COLLES (intensidade leve) Imagem: Ashish j29/Wikimedia commons/licença (Creative Commons Attribution – shared 3.0, license unported) FRATURA DE COLLES (intensidade moderada) Imagem: Hellerhoff / Wikimedia Commons / Licença (Creative Commons Attribution – shared 3.0, license unported) FRATURA DE COLLES (anamnese física) FRATURA DE SMITH É uma lesão extra-articular no rádio distal, com deslocamento anterior do fragmento e da mão. Lesão típica em queda sobre o punho fletido ou por um golpe direto no dorso da mão. Nome dado em homenagem ao médico Robert William Smith. Imagem: Dsprenkels / Wikimedia Commons / Licença (Creative Commons Attribution – shared 4.0 international license) Fratura de Smith, projeções AP e lateral. FRATURA DO BOXEADOR É uma lesão transversal no colo do metacarpo, desalinhando sua cabeça das demais. Geralmente acomete o 4º ou o 5º metacarpo, sendo decorrente de traumas por impacto nas mãos ocasionados por socos – por isso o nome. Pode ocorrer também no corpo do metacarpo. Imagem: Hellerhoff/Wikimedia commons/licença (Creative Commons Attribution – shared 3.0, license unported) FRATURA DO BOXEADOR NOS METACARPOS IV E V. Imagem: James Heilman, MD/Wikimedia commons/licença (Creative Commons Attribution – shared 4.0 international license) FRATURA DO BOXEADOR NO METACARPO V. Não é uma lesão epônima, mas é típica de um grupo específico. FRATURA DE BENNETT Ocorre na base do 1º metacarpo. A lesão geralmente é ocasionada pela abdução forçada do polegar, podendo ser seguida ou não de luxação do dedo. Nome dado em homenagem ao médico Edward Hallaran Bennett. Imagem: Hellerhoff / Wikimedia Commons / Licença (Creative Commons Attribution – shared 3.0, license unported) Fratura de Bennett. FRATURA DE GALEAZZI É uma fratura-luxação em que ocorre uma fratura no rádio distal, com luxação da cabeça ulnar, também distal. Nesse tipo de lesão, a ulna tende a permanecer íntegra e o desalinhamento dos segmentos fraturados podem ser mais bem percebidos em projeções laterais. Nome dado em homenagem ao médico Riccardo Galeazzi. Imagem: Th. Zimmermann / Wikimedia Commons / Licença (Creative Commons Attribution – shared 4.0 international license) Fratura de Galeazzi. FRATURA DE MONTEGGIA Também é uma fratura-luxação. No entanto, a fratura ocorre na ulna, com luxação da cabeça do rádio, podendo a fratura ocorrer no terço médio ou proximal. Em grau mais avançado, pode ocorrer também a fratura do rádio. Nome dado em homenagem ao médico Giovanni Battista Monteggia. Imagem: Benoudina Samir / Wikimedia Commons / Licença (Creative Commons Attribution – shared 4.0 international license) GRAUS DA FRATURA DE MONTEGGIA Imagem: Shutterstock.com FRATURA DE MONTEGGIA. LESÃO DE BANKART É uma fratura nas bordas da cavidade glenoide. Esse tipo de lesão é comum em luxações anteriores do ombro. A fratura produz um fragmento em avulsão. Nome dado em homenagem ao cirurgião britânico Arthur Sydney Blundell Bankart. Imagem: RSatUSZ / Wikimedia Commons/ Licença (Creative Commons Attribution – shared 4.0 international license) FLesão de Bankart. LESÃO DE HILL-SACHSÉ uma fratura na região posterior da cabeça umeral, decorrente de seu impacto sobre a cavidade glenoide. Por esse motivo, a Medicina geralmente associa uma lesão de Hill-Sachs a uma lesão de Bankart, pois decorrem de um mesmo evento traumático. Nome dado em homenagem aos médicos Harold Arthur Hill e Maurice David Sachs. Imagem: Mikael Häggström, M.D. / Wikimedia Commons / Licença (Creative Commons CC0 1.0 Universal Public Domain Dedication) LESÃO DE HILL-SACHS Imagem: Mikael Häggström, M.D./Wikimedia commons/licença (Creative Commons CC0 1.0 Universal Public Domain Dedication) LESÃO DE BANKART E HILL-SACHS DOENÇA DE PAGET A seguir, o especialista abordará a patologia “doença de Paget”, explicando sua fisiopatologia, incidência, aspectos demográficos e geográficos. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. UMA CARACTERÍSTICA DA IMAGEM RADIOGRÁFICA EM PACIENTES COM OSTEOARTRITE OU ARTRITE REUMATOIDE NA MÃO É A PERDA DA NITIDEZ ENTRE OS OSSOS COM O AUMENTO DA RADIOPACIDADE NOS ESPAÇOS ARTICULARES. COM BASE NESSAS INFORMAÇÕES, LEIA AS SENTENÇAS A SEGUIR. I – A OSTEOARTRITE É UM ESTÁGIO MAIS AVANÇADO DE OSTEOARTROSE EM IDOSOS. II – A LESÃO DE BANKART É UMA VERSÃO TRAUMÁTICA MAIS BRANDA DE OSTEOARTRITE. III – A DEGENERAÇÃO ARTICULAR É UMA DAS CAUSAS DA REDUÇÃO DO ESPAÇO ARTICULAR. AGORA MARQUE A OPÇÃO COM APENAS AFIRMAÇÕES CORRETAS. A) I B) II C) III D) I e II E) II e III 2. TRAUMA É TODA E QUALQUER LESÃO EM CÉLULAS OU TECIDOS PROVOCADA POR UM AGENTE EXTERNO, DE NATUREZA FÍSICA OU QUÍMICA. O TRAUMATISMO PODE GERAR DISFUNÇÃO OU DEFORMAÇÃO DA ESTRUTURA DE FORMA TEMPORÁRIA OU PERMANENTE. COM BASE NESSA INFORMAÇÃO, ANALISE A RADIOGRAFIA A SEGUIR. APÓS SUA ANÁLISE RADIOGRÁFICA, MARQUE A OPÇÃO QUE MAIS BEM CARACTERIZA O CASO CLÍNICO PROPOSTO. A) A fratura com avulsão na base da 1º falange proximal indica fratura de Bennett. B) A cabeça do 5º metacarpo desalinhada das demais caracteriza fratura do boxeador. C) O aumento da opacidade na 4ª articulação metacarpofalangiana indica nódulo de Bouchard. D) d) Mão em aspecto de normalidade clínica, com articulações abertas, transparentes, diáfises ósseas íntegras e contornos ósseos bem definidos. E) e) O desalinhamento das falanges proximal do 5º dedo e distal do 1º dedo indica estágio inicial de artrite reumatoide, com alterações graves na densidade óssea das extremidades. GABARITO 1. Uma característica da imagem radiográfica em pacientes com osteoartrite ou artrite reumatoide na mão é a perda da nitidez entre os ossos com o aumento da radiopacidade nos espaços articulares. Com base nessas informações, leia as sentenças a seguir. I – A osteoartrite é um estágio mais avançado de osteoartrose em idosos. II – A lesão de Bankart é uma versão traumática mais branda de osteoartrite. III – A degeneração articular é uma das causas da redução do espaço articular. Agora marque a opção com apenas afirmações corretas. A alternativa "C " está correta. A perda de nitidez entre os ossos e o aumento da radiopacidade nos espaços articulares decorrem da redução dos espaços articulares e da degeneração das superfícies articulares dos ossos. Essas características são típicas de doenças reumáticas, principalmente a artrite reumatoide e a osteoartrite, que são estágios mais iniciais e brandos da osteoartrose. 2. Trauma é toda e qualquer lesão em células ou tecidos provocada por um agente externo, de natureza física ou química. O traumatismo pode gerar disfunção ou deformação da estrutura de forma temporária ou permanente. Com base nessa informação, analise a radiografia a seguir. Após sua análise radiográfica, marque a opção que mais bem caracteriza o caso clínico proposto. A alternativa "D " está correta. A fratura de Bennett é localizada na base do 1º metacarpo, e não na falange proximal. Nódulos de Bouchard ocorrem apenas em IFP. Na imagem, não há desalinhamento das cabeças metacarpianas que justifiquem fratura do boxeador. Da mesma forma, não há aumento anormal de angulação que justifique desalinhamento das falanges e, consequentemente, processos de artrite reumatoide. Portanto, considerando os espaços articulares escuros e abertos e contornos nítidos e bordas ósseas definidas, a imagem caracteriza mão em aspecto clínico normal. MÓDULO 2 Listar as estruturas anatômicas de interesse nas radiografias de membros inferiores e patologias associadas Com a função de suportar todo o peso do corpo e auxiliar no suporte e equilíbrio, os membros inferiores tendem a ser mais vulneráveis a acidentes, o que requer maior atenção quanto ao estudo da imagem. Assim como nos membros superiores, radiografias simples evidenciam a maioria das lesões, desde edemas em partes moles, luxações, fraturas simples e até fraturas complexas, como fraturas cominutivas. Vamos explorar a anatomia dos membros inferiores na imagem radiográfica e, na sequência, conhecer as principais lesões encontradas. ANATOMIA RADIOGRÁFICA DOS OSSOS DO PÉ Bem similar às mãos, os pés são divididos em três regiões: tarso, metatarso e falanges. Os dedos do pé são chamados de pododáctilos, do grego pous (pé) e daktylos (dedo). Os pododáctilos são contados de forma diferente, uma vez que o dorso do pé é anterior em posição anatômica e a contagem passa a ser mediolateral. Imagem: Shutterstock.com Divisão dos ossos do pé. ATENÇÃO Em posição anatômica, a palma da mão é anterior e o dorso é posterior. Já nos pés, o dorso é anterior. Por isso, a contagem dos dedos da mão é lateromedial e os dedos dos pés são contados de forma mediolateral. Isso confunde muito o aprendizado. Imagem: Shutterstock.com Posição anatômica. Em um porte físico menor, as falanges dos pés são distribuídas da mesma forma que nas mãos. São 14 falanges, divididas em proximal, medial e distal dos dedos II a IV. São igualmente divididos em falanges proximal, medial e distal, sendo cada falange composta por uma cabeça (distal), um corpo e uma base (proximal), sobre a qual as falanges se articulam. No dedo I, encontramos apenas falanges proximal e distal. Na radiografia, permanece o aspecto radiopaco (claro) das falanges e o tom transparente (escuro) de articulações e tecidos moles. A grande diferença é o polegar alinhado aos demais dedos, junto ao eixo longitudinal do pé. Essa é uma característica evolutiva, que permite a posição ereta e o andar bipedal nos humanos. Imagem: Nevit Dilmen / Wikimedia Commons / Licença (Creative Commons CC0 3.0 Unported license) RADIOGRAFIA DO PÉ Projeção dorsoplantar Imagem: Nevit Dilmen / Wikimedia commons / Licença (Creative Commons CC0 3.0 Unported license) RADIOGRAFIA DO PÉ Projeção oblíqua Imagem: Nevit Dilmen / Wikimedia Commons / Licença (Creative Commons CC0 3.0 Unported license) RADIOGRAFIA DO PÉ Projeção lateral Os metatarsos são os cinco ossos longos e espessos que formam o dorso do pé. Entre eles, o 1º metatarso é mais protuberante que os demais. Na região posterior (inferior) de sua cabeça, ficam localizados ossos sesamoides, que facilitam o movimento do polegar. É importante que você não os confunda com fraturas por avulsão na análise da imagem. Nos membros inferiores, os metatarsos são maiores e mais protuberantes. É na região metatarsal que ocorre uma alteração articular chamada joanete ou hallux valgus. Nessa lesão, ocorre uma angulação progressiva entre o 1º metatarso e a falange proximal, causando a abdução do metatarso. Como reação, uma secreção serosa é produzida no espaço articular. Imagem: Shutterstock.com Dedos em posição hallux valgus. JOANETE Imagem: Shutterstock.com FORMAÇÃO PATOLÓGICA DO JOANETE Imagem: Shutterstock.com RADIOGRAFIA DO PÉ, DORSOPLANTAR, EVIDENCIANDO JOANETE A porção mais medial do pé é conhecida como tarso. É composta por sete ossos, tendo um a menos do que os ossos do carpo. Nos pés, os ossos tarsianos são maiores, mais densos e têm menos mobilidade, umavez que a principal função é suportar peso durante o movimento da perna. São eles: tálus, calcâneo, navicular, cuboide e três ossos cuneiformes (medial, intermédio e lateral). Na ilustração ao lado, temos: O tálus é o osso que forma o encaixe do tornozelo. O calcâneo é a base do pé, vulgarmente conhecido como sola do pé. O navicular se localiza à frente do tálus, formando a parte medial do dorso do pé. Lateralmente temos o osso cuboide , que serve de encaixe para os metatarsos IV e V. Os ossos cuneiformes medial, intermédio e lateral articulam com os metatarsos I, II e III, respectivamente. Imagem: Shutterstock.com Anatomia dos pés, divisão das partes. O calcâneo aparece sobreposto no exame dorsoplantar (anteroposterior – AP), uma vez que é necessário inclinar a perna, que fica sobreposta ao calcanhar. Por isso, são realizadas incidências específicas para o calcanhar: axial de calcâneo e lateral. Veja as radiografias de demonstram esses casos a seguir. Imagem: Shutterstock.com RADIOGRAFIA DORSOPLANTAR Imagem: Shutterstock.com RADIOGRAFIA AXIAL DO CALCÂNEO Imagem: Nevit Dilmen / Wikimedia Commons / Licença (Creative Commons CC0 3.0 Unported license) RADIOGRAFIA LATERAL DO PÉ ANATOMIA RADIOGRÁFICA DA ARTICULAÇÃO DO TORNOZELO A articulação do tornozelo é formada pelo tálus e pela porção distal dos ossos da perna: tíbia (medial) e fíbula (lateral). O espaço entre esses três ossos é chamado de encaixe do tornozelo ou articulação talocrural e deve ser visualizado de forma radiotransparente em uma radiografia. As bordas laterais dos ossos da perna formam duas protuberâncias chamadas de maléolo medial (tíbia) e lateral (fíbula), que são áreas de risco para fraturas em traumas de alta energia. Na análise de radiografia, os maléolos aparecem radiopacos, sendo o lateral um pouco mais inferior que o maléolo medial. São estruturas visualizadas em exames de rotina básica para tornozelo, compostas por incidências em AP (com e sem encaixe) e lateral. ATENÇÃO Na incidência de encaixe do tornozelo, o pé do paciente é rodado 15 graus internamente. Esse movimento garante o encaixe perfeito do tálus na articulação do tornozelo. Algumas fraturas ficam sobrepostas em incidências comuns, sendo necessário realizar o encaixe. Imagem: Nevit Dilmen / Wikimedia Commons / Licença (Creative Commons CC0 3.0 Unported license) RADIOGRAFIA AP DO TORNOZELO. Veja, na imagem, que a incidência AP do tornozelo preserva uma parte da fíbula sobreposta ao tálus, formando uma área mais opaca. Imagem: Mikael Häggström, M.D./Wikimedia commons/licença (Creative Commons CC0 1.0 Universal Public Domain Dedication) RADIOGRAFIA AP DO TORNOZELO, COM ENCAIXE. Nessa imagem, a projeção com o movimento de encaixe dissocia totalmente a fíbula do tálus. Imagem: Mikael Häggström, M.D./Wikimedia commons/licença (Creative Commons CC0 1.0 Universal Public Domain Dedication) RADIOGRAFIA LATERAL DO TORNOZELO. Por outro lado, nessa imagem é possível identificar a porção esférica do tálus, em sua porção superior, justamente para favorecer o movimento de dorsiflexão e extensão do pé. ANATOMIA RADIOGRÁFICA DOS OSSOS DA PERNA A perna é composta de dois grandes ossos. A tíbia é um osso longo, altamente espesso, posicionado medialmente. A fíbula é mais fina, menos espessa, posicionada lateralmente ao plano mediossagital. A tíbia é o maior osso da perna e essa afirmação confunde muitos estudantes. De acordo com o conhecimento popular, o maior osso da perna é o fêmur, pois as pessoas chamam todo o membro inferior de perna. No entanto, o fêmur está localizado na coxa. Imagem: Nevit Dilmen / Wikimedia commons / Licença (Creative Commons CC0 3.0 Unported license) Rotina radiográfica para os ossos da perna: AP e lateral. ATENÇÃO Por padrão técnico, radiografias da perna devem contemplar as duas articulações no receptor. Embora o objetivo de análise seja o terço médio (diáfise), essa projeção permite avaliar os ossos da perna de forma panorâmica. Muitas das vezes, lesões centrais podem ter origem em trauma articular. É comum encontrar fraturas decorrentes de eventos traumáticos, corpos estranhos e lesões que degeneram a matriz óssea cortical ou medular, tais como a osteomielite. Na primeira imagem a seguir, é possível observar uma fratura oblíqua no terço proximal da fíbula e uma fratura em espiral no terço inferior da tíbia. Na segunda e na terceira radiografia temos lesões ósseas típicas de osteomielite. javascript:void(0) Imagem: Doado pelo paciente, sem informação sobre o autor/ Wikimedia Commons / Licença (Creative Commons CC0 3.0 unported) RADIOGRAFIA DA PERNA, COM FRATURA NA TÍBIA. Imagem: Shutterstock.com RADIOGRAFIA DA PERNA, COM OSTEOMIELITE NA TÍBIA. Imagem: Shutterstock.com RADIOGRAFIA DA PERNA, COM OSTEOCONDROMA NO TERÇO PROXIMAL DA TÍBIA. OSTEOMIELITE É importante saber que osteomielite é uma infecção óssea causada por bactérias, que destroem a medula e a matriz cortical, produzindo zonas circunscritas e transparentes nos ossos. Quando as bactérias são eliminadas, os ossos sofrem remodelação e as bordas corticais ficam exageradamente dilatadas e radiopacas. Na imagem ao lado, temos uma lesão osteolítica (transparente), circunscrita, solitária, na direção do terço inferior da tíbia, deformando a borda periosteal (externa). Esses traços são típicos de tumores benignos de origem cartilaginosa, denominados osteocondromas. Imagem: Nevit Dilmen / Wikimedia Commons / Licença (Creative Commons CC0 3.0 Unported license) Radiografia da perna, com osteocondroma no terço proximal da tíbia. ANATOMIA RADIOGRÁFICA DA ARTICULAÇÃO DO JOELHO O joelho é composto de três ossos: tíbia proximal, fêmur distal e patela. Apenas fêmur e tíbia se articulam diretamente, estando a fíbula mais associada à fixação dos músculos da panturrilha. A patela tem uma função acessória, funcionando como proteção para os ligamentos. Imagem: Nevit Dilmen/Wikimedia commons/licença (Creative Commons CC0 3.0 Unported license) Radiografia do joelho em AP. A rotina radiográfica para a avaliação do joelho consiste nas incidências em lateral e AP, que pode ser feita também com carga (em pé, com o próprio peso do corpo sobre o joelho). A porção proximal da fíbula é composta por ápice e cabeça, que se articula diretamente com a tíbia. Em sua porção proximal, a tíbia não tem formato esferoide como na maioria das epífises proximais. A região é chamada de platô (planalto, em francês) e tem forma achatada com duas depressões denominadas facetas articulares, onde o fêmur se articula. Anteriormente, a tíbia tem uma protuberância chamada tuberosidade tibial, onde se fixa o ligamento patelar. Imagem: Nevit Dilmen / Wikimedia commons/ Licença (Creative Commons CC0 3.0 Unported license) Radiografia do joelho em lateral. Imagem: Hellerhoff / Wikimedia Commons / Licença (Creative Commons CC0 3.0 unported license) Radiografia do joelho, projeção tangencial Na radiografia AP, a patela aparece sobreposta ao fêmur, sendo bem visualizada na incidência em perfil ou tangencial. Veja nessa radiografia como uma fratura na patela poderia passar despercebida se realizada somente uma imagem AP. Imagem: Nevit Dilmen/Wikimedia commons/licença (Creative Commons CC0 3.0 Unported license) Radiografia do joelho, com carga O fêmur proximal é uma estrutura bicondilar (côndilo lateral e medial), que favorece o movimento de flexão e extensão do joelho. Acima, o fêmur distal possui dois epicôndilos (também lateral e medial) e duas faces, sendo a poplítea posterior e a face patelar anterior. Como o nome sugere, é nessa região que se localiza e se encaixa a patela. ANATOMIA RADIOGRÁFICA DO FÊMUR O fêmur é o maior osso do membro inferior, mas não é o maior osso da perna, como já conversamos. São utilizadas incidências em AP e lateral para a avaliação da região. Dado o seu tamanho, o exame pode ser feito dividindo a região ao meio.Em um chassi/cassete dividido, de um lado, é colocado o terço distal e médio. Do outro lado, é radiografado o terço distal e médio. Alguns profissionais realizam a imagem com o chassi/cassete em diagonal, aproveitando o maior eixo para incluir todas as estruturas em uma única radiografia. Imagem: Mikael Häggström, M.D. / Wikimedia Commons / Licença (Creative Commons CC0 1.0 Universal Public Domain Dedication) Radiografia do terço proximal do fêmur, em projeção AP. Imagem: Nevit Dilmen / Wikimedia Commons / Licença (Creative Commons CC0 3.0 Unported license) Radiografia do terço médio do fêmur, em projeção AP. javascript:void(0) Imagem: Nevit Dilmen / Wikimedia Commons / Licença (Creative Commons CC0 3.0 Unported license) Radiografia do fêmur, em projeção lateral. A diáfise do fêmur está mais sujeita a processos de fratura e lesões que afetam diretamente o tecido cortical ou medular do osso. Veja, por exemplo, essa fratura decorrente de um disparo por arma de fogo. Note que o terço inferior está rodado lateralmente e identificamos os estilhaços como formas irregulares e radiopacas na imagem. javascript:void(0) Imagem: Nevit Dilmen / Wikimedia Commons / Licença (Creative Commons CC0 3.0 Unported license) Fratura na diáfise femoral. ANATOMIA RADIOGRÁFICA DOS OSSOS DO QUADRIL A articulação do quadril fica localizada na pelve. Formada pelos ossos ílio, ísquio e púbis, a pelve permite a movimentação do fêmur e de todo o membro inferior. A conexão entre eles é realizada pela cabeça do fêmur. Abaixo, a epífise proximal tem uma característica peculiar, pois o colo femoral tem uma angulação medial. Em seguida, o colo se fixa a uma grande protuberância, denominada trocânter maior, cuja proeminência avança lateralmente. Menor e voltada medialmente, temos uma saliência denominada trocânter menor. O encaixe da cabeça femoral no quadril é realizada no acetábulo, uma fossa em formato de soquete. A articulação formada entre eles é chamada articulação coxofemoral. Imagem: Mikael Häggström, M.D. / Wikimedia commons / Licença (Creative Commons CC0 1.0 Universal Public Domain Dedication) RADIOGRAFIA DO QUADRIL. Identificar os acidentes anatômicos descritos. Imagem: Nevit Dilmen/Wikimedia commons/licença (Creative Commons CC0 3.0 Unported license) RADIOGRAFIA DA PELVE COMPLETA. Analisar toda a pelve, com as duas articulações coxofemorais em aspecto normal. Imagem: Nevit Dilmen/Wikimedia commons/licença (Creative Commons CC0 3.0 Unported license) RADIOGRAFIA DA PELVE COMPLETA, COM LUXAÇÃO DA CABEÇA FEMORAL. Reconhecer um quadro de luxação femoroacetabular. PATOLOGIAS ASSOCIADAS AOS MEMBROS INFERIORES Nesta seção, abordaremos as patologias mais recorrentes em membros inferiores. É importante frisar que patologias ósseas de origem infecciosa, endócrina ou metabólica podem acometer qualquer osso do esqueleto apendicular. Entretanto, distribuiremos as lesões conforme a maior incidência. Embora já tenhamos conceituado fratura e luxação no módulo anterior, essas lesões são muito frequentes nos membros inferiores. Uma das principais causas é a tensão aplicada em razão do peso corporal. LESÃO DE LISFRANC É uma fratura-luxação na região dorsal do pé. Nesse caso, a lesão ocorre entre os ossos do tarso e metatarso. É mais comum entre o cuboide e os dois últimos cuneiformes. Quando ocorre a ruptura ou o estiramento do ligamento de Lisfranc, os metatarsos podem ser deslocados lateralmente ou ainda sofrer fratura em suas bases. Nome dado em homenagem ao médico Jacques Lisfranc de St. Martin. Perceba, na imagem, que a articulação do metatarso I permanece intacta, ao passo que os demais sofrem deslizamento lateral em decorrência das fraturas na base dos metatarso II e III. Imagem: James Heilman, MD / Wikimedia Commons / Licença (Creative Commons 4.0 international license) Lesão de Lisfranc. FRATURA DE JONES É uma lesão na base do 5º metatarso. Está geralmente associada a torções no pé, em que todo o peso do corpo é projetado sobre a região lateral do pé. Nome dado em homenagem ao médico Robert Jones. A seguir, veja três radiografias com três graus diferentes de fratura. Na primeira, apenas o ápice da base fraturou e sofreu avulsão. Na segunda, além do ápice, parte da base sofreu fratura transversal. Na terceira, a fratura está localizada bem mais acima do terço inferior do metatarso. Imagem: James Heilman, MD Wikimedia commons/licença (Creative Commons 4.0 International license) FRATURA DE JONES Porção leve em avulsão. Imagem: Alison Cassidy/Wikimedia commons/licença (Creative Commons 4.0 International license) FRATURA DE JONES Porção moderada em avulsão. Imagem: Lucien Monfils/Wikimedia commons/licença (Creative Commons 3.0 Unported, 2.5 Generic, 2.0 Generic and 1.0 Generic license) FRATURA DE JONES Porção moderada no terço inferior do metatarso. Fratura trimaleolar ocorre no tornozelo e envolve três partes diferentes: MALÉOLO LATERAL MALÉOLO MEDIAL REGIÃO POSTERIOR DO MALÉOLO MEDIAL SAIBA MAIS É uma lesão muito instável, uma vez que o tornozelo fica sem nenhum ponto de apoio. Imagem: Article authors: Nazzar Tellisi, I S Abdulkareem, P G Giannoudis / Wikimedia commons/ Licença (Creative Commons 4.0 International license) Fratura bimaleolar Nas primeira imagem, temos uma fratura bimaleolar, uma vez que a porção posterior ficou preservada. Note o fragmento avulso do maléolo medial e a laceração total do terço distal da fíbula. Imagem: Chaim Mintz/Wikimedia commons/licença (Creative Commons 3.0 unported license) Fratura trimaleolar clássica Na segunda imagem, temos uma fratura trimaleolar clássica e a radiografia após correção ortopédica. PATOLOGIAS INFECCIOSAS Infecções ósseas acometem áreas com maior quantidade de tecido cortical, geralmente o terço distal do fêmur, platô tibial e as diáfises ósseas. A infecção pode começar com um processo inflamatório, que evolui para processo infeccioso ou até mesmo decorrer de um trauma de partes moles. Porém, nem toda inflamação tem origem infecciosa, como no caso das artrites, por exemplo. Duas patologias importantes desse grupo seriam a osteomielite e o abscesso ósseo agudo: OSTEOMIELITE É um processo infeccioso que ocorre a partir da medula óssea. É causado pelas bactérias Staphylococcus aureus ou Streptococcus pyogenes, que destroem o tecido medular, migrando para o osso pela região endosteal. Na imagem, é possível observar edemas nos tecidos moles (áreas opacas), destruição do tecido ósseo (áreas transparentes) e a formação de fístulas (canal não anatômico, transparente, com paredes opacas) na região epifisária ou metafisária. Imagem: Shutterstock.com Radiografia da perna, evidenciando osteomielite na tíbia. ABSCESSO ÓSSEO AGUDO É um processo inflamatório focal, decorrente de infecção bacteriana. Diferentemente da osteomielite, o abscesso ósseo ataca a região metafisária e avança para o interior dos ossos. Na imagem, são identificados como áreas osteolíticas (com substituição da massa óssea por tecido mole, como secreção) com contorno delineado. Imagem: Jto410./Wikimedia commons/licença (Creative Commons 3.0 unported license) Abscesso ósseo agudo, na radiografia do tornozelo, projeção AP. PATOLOGIAS METABÓLICAS São doenças ou lesões decorrentes de falhas em processos metabólicos importantes do corpo, como a construção de matriz óssea e ação de enzimas e vitaminas. As células ósseas têm uma dinâmica de reunir minerais, enzimas e vitaminas para formar osso novo (osteogênese) e outra para remover tecidos ósseos mortos ou lesionados (osteólise). Portanto, doenças que aceleram a osteólise ou retardam a osteogênese comprometem a estrutura óssea. ATENÇÃO Na osteoporose, a reposição de matriz óssea é drasticamente comprometida. Com isso, os ossos se tornam frágeis, com matriz trabecular frouxa. Na radiografia, os ossos aparecem com a opacidade nitidamente baixa, com aspecto mais enegrecido,e as bordas corticais aparecem mais irregulares e transparentes. Todos os seres humanos sofrem perda de massa óssea ao longo da vida. No entanto, a taxa de redução de massa óssea é estimada conforme a faixa etária. Quando a perda se acentua, o quadro é denominado osteopenia. Nessa fase, reposição hormonal, suplementação de cálcio e vitamina D contribuem para retardar a perda. No entanto, é impossível interrompê-la definitivamente, por ser um processo natural. Imagem: Nevit Dilmen/Wikimedia commons/licença (Creative Commons CC0 3.0 Unported license) Pelve em aspecto clínico normal. Na imagem, uma radiografia de aspecto clínico normal: contornos ósseos opacos, borda cortical espessa e o espaço medular acinzentado. Imagem: Shutterstock.com Pelve com perda de massa óssea severa Neste caso, note a perda drástica de massa óssea na epífise proximal. Imagem: Shutterstock.com Artroplastia no quadril Aqui, temos artroplastia com prótese femoral no quadril esquerdo e transparência acentuada na diáfise femoral. Imagem: Shutterstock.com Radiografia do tornozelo, com perda de massa na fíbula Por fim, note a transparência da tíbia e fíbula, redução da borda cortical e fratura patológica na metáfise tibial. Raquitismo e osteomalácia são patologias com a mesma dinâmica. Porém, afetam públicos- alvo diferentes: RAQUITISMO Afeta o crescimento ósseo (crianças). OSTEOMALÁCIA Afeta adolescentes e adultos jovens. SAIBA MAIS São processos de desmineralização generalizada do esqueleto que provocam deformações na estrutura óssea em razão da baixa taxa de vitamina D no sangue. Essa vitamina é responsável pela fixação de cálcio nos ossos e o processo de maturação da matriz óssea. Com essa deficiência, os ossos se tornam “moles”, arqueados e atrofiados. Na imagem radiográfica, um sinal clássico do raquitismo é o alargamento da placa metafisária e a curvatura em varus (externa) ou em valgus (interna) das diáfises, principalmente de fêmur e tíbia. Em adultos, encontramos deformações no colo femoral e nas asas ilíacas, alargamento na diáfise femoral e curvatura do membro inferior. A retrata um caso específico de osteomalácia, induzida por uso abusivo de drogas. Alguns medicamentos, como glicocorticoides, podem causar aos ossos se usados em doses inadequadas e por tempo prolongado. Foto: Wellcome Images / Wikimedia Commons / Licença Atribuição 4.0 International (CC BY 4.0) ANAMNESE FÍSICA DO RAQUITISMO Imagem: Shutterstock.com ASPECTO RADIOGRÁFICO DO RAQUITISMO ATENÇÃO É muito comum encontrar pessoas que utilizem o termo “raquítico” para se referir a crianças franzinas, com porte físico mais magro. No entanto, é um termo pejorativo e mal colocado, pois o termo raquítico é qualifica uma criança diagnosticada com raquitismo. Portanto, devemos ter cautela com a terminologia técnica e promover educação em saúde. PATOLOGIAS ENDÓCRINAS Ainda falando sobre o metabolismo ósseo, surge uma pergunta: quem controla tudo isso? RESPOSTA Acertou se você pensou nos hormônios. São eles que levam o comando do cérebro às células. Com isso, quando algo vai mal em uma dessas glândulas, indiretamente, esse metabolismo também estará comprometido. HIPERPARATIREOIDISMO O hiperparatireoidismo é definido como a hiperatividade das glândulas paratireoides. A produção excessiva do paratormônio (PTH) altera o metabolismo do cálcio e do fósforo. Na radiografia, podemos identificar osteopenia generalizada, reabsorção óssea subperiosteal e calcificação das cartilagens. Uma consequência dessa doença também é a formação dos tumores marrons, que são lesões benignas, císticas, de grandes proporções, nos ossos longos. Imagem: Anish A. Patel, Rohit Ramanathan, Joshua Kuban, and Marc H. Willis/Wikimedia commons/licença (Creative Commons 3.0 unported license) TUMORES MARRONS DO HIPERPARATIREOIDISMO javascript:void(0) Imagem: Mikael Häggström, M.D./Wikimedia commons/licença (Creative Commons CC0 3.0 unported license) LESÕES OSTEOLÍTICAS NA PELVE Embora a imagem a seguir seja de membro superior, conseguimos ter uma boa visualização da lesão osteolítica, localizada no segundo metacarpo da mão esquerda. Imagem: Frank Gaillard /Wikimedia commons/licença (Creative Commons 4.0 international license) Lesão osteolítica no segundo metacarpo. INTERVENÇÃO CIRÚRGICA NO MEMBRO INFERIOR Para aprofundar ainda mais a compreensão, o especialista abordará as fraturas de tíbia e fíbula, dando ênfase à utilização da radiologia para a colocação de placas e pinos em cirurgias de fraturas expostas e não expostas. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. DURANTE A REALIZAÇÃO DO EXAME RADIOGRÁFICO DE TORNOZELO, O QUE PRECISAMOS FAZER PARA QUE A ARTICULAÇÃO TALOCRURAL FIQUE TOTALMENTE ABERTA, SEM NENHUM TIPO DE SOBREPOSIÇÃO? A) Fazer uma leve rotação da coxa internamente com o paciente deitado. B) Realizar o exame com o paciente em posição ortostática (em pé). C) Posicionar o paciente sentado sobre a mesa de exames. D) Fazer uma leve rotação do pé internamente. E) Realizar o exame em projeção lateral. 2. A MATRIZ ÓSSEA É FORMADA PELA AÇÃO DE DUAS CÉLULAS (OSTEÓCITOS): OSTEOBLASTOS E OSTEOCLASTOS. A PRIMEIRA É RESPONSÁVEL POR REUNIR SAIS MINERAIS, VITAMINAS E INSUMOS NECESSÁRIOS PARA FORMAR UMA MATRIZ ÓSSEA NOVA (OSTEOGÊNESE); A SEGUNDA REALIZA A REMOÇÃO DE TECIDO NECROSADO E LESIONADO PARA QUE SEJA FEITA A REMODELAÇÃO ÓSSEA. NO ENTANTO, O TECIDO ÓSSEO É REGENERADO MAIS RAPIDAMENTE NA INFÂNCIA E DEMORA MAIS TEMPO PARA REGENERAR EM IDOSOS. COM BASE NESSAS INFORMAÇÕES, AVALIE AS SENTENÇAS A SEGUIR. I – AS GLÂNDULAS PARATIREOIDES CONTROLAM O CRESCIMENTO ÓSSEO POR MEIO DO PTH. II – A OSTEOPOROSE É UMA DOENÇA ENDÓCRINA, POIS É DIRETAMENTE AFETADA PELA AÇÃO DA HIPÓFISE III – A OSTEOPOROSE É MAIS COMUM EM IDOSOS DEVIDO À BAIXA ABSORÇÃO DE CÁLCIO. MARQUE A SEGUIR A OPÇÃO QUE CONTENHA APENAS AFIRMAÇÕES VERDADEIRAS. A) I B) II C) III D) I e II E) II e III GABARITO 1. Durante a realização do exame radiográfico de tornozelo, o que precisamos fazer para que a articulação talocrural fique totalmente aberta, sem nenhum tipo de sobreposição? A alternativa "D " está correta. Quando o tornozelo aparece perfeitamente dentro da articulação, chamamos o procedimento de encaixe. Para realizar o encaixe, basta rodar o pé do paciente 15 graus internamente sem mexer a perna. Se rodarmos toda a coxa, o tornozelo inteiro aparecerá em projeção oblíqua na imagem, prejudicando mais ainda a visualização. 2. A matriz óssea é formada pela ação de duas células (osteócitos): osteoblastos e osteoclastos. A primeira é responsável por reunir sais minerais, vitaminas e insumos necessários para formar uma matriz óssea nova (osteogênese); a segunda realiza a remoção de tecido necrosado e lesionado para que seja feita a remodelação óssea. No entanto, o tecido ósseo é regenerado mais rapidamente na infância e demora mais tempo para regenerar em idosos. Com base nessas informações, avalie as sentenças a seguir. I – As glândulas paratireoides controlam o crescimento ósseo por meio do PTH. II – A osteoporose é uma doença endócrina, pois é diretamente afetada pela ação da hipófise III – A osteoporose é mais comum em idosos devido à baixa absorção de cálcio. Marque a seguir a opção que contenha apenas afirmações verdadeiras. A alternativa "C " está correta. As glândulas paratireoides controlam o metabolismo osteogênico e osteolítico. O crescimento é controlado pela hipófise. A osteoporose é uma doença metabólica, influenciada pela redução na absorção de cálcio e na redução do metabolismo dos osteoblastos. Por isso, é mais comum em idosos e em mulheres pós-menopausa. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Como vimos, o estudo da anatomia radiológica é de suma importância para monitorar o padrão de qualidade dos exames radiográficos, bem como para auxiliar na análise radiográfica e interpretação dos achados. Dessa forma, o profissional passaa ser capaz de diferenciar os achados considerando a possibilidade de falha humana na realização do exame ou a possibilidade de o achado sugerir lesões que representem algum tipo de patologia. Investir no estudo de anatomia radiológica melhora a acuidade visual e agiliza a análise das imagens. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS BONTRAGER, K. L.; LAMPIGNANO, J. Tratado de posicionamento radiográfico e anatomia associada. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. DAFFNER, R. H. Radiologia clínica básica. 3. ed. São Paulo: Manole, 2003. GREENSPAN, A.; BELTRAN, J. Radiologia ortopédica: uma abordagem prática. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. LEWER, M. H. M. (org.). Tecnologia radiológica. Rio de Janeiro: MedBook, 2019. SZEJNFELD, J.; ABDALA, N.; AJZEN, S. Diagnóstico por imagem. 2. ed. Barueri: Manole, 2016. EXPLORE+ Radiopaedia: É uma enciclopédia médica com vasto material sobre Radiologia, Anatomia e Patologia. Além disso, você encontrará muitos casos clínicos para estudar. Anatomia Papel e Caneta: É um site educativo, bem-humorado, que trata sobre anatomia humana. O site tem conteúdos sobre imaginologia, história da anatomia e um canal no YouTube com vídeos educativos. Dr. Pixel: É um projeto da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM/Unicamp), com aulas, cursos, casos clínicos e artigos sobre temas específicos em anatomia patológica por imagem. 3D Bones and Organs: É um app 100% gratuito, com um modelo 3D para estudo do corpo humano. Disponibiliza várias ferramentas e opções de visualização. CONTEUDISTA Raphael de Oliveira Santos CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);
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