Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SISTEMA DE ENSINO DIREITO PROCESSUAL PENAL Inquérito Policial Livro Eletrônico 2 de 141www.grancursosonline.com.br Geilza Diniz Inquérito Policial DIREITO PROCESSUAL PENAL Inquérito Policial ............................................................................................................4 Conceito .........................................................................................................................4 “Pacote anticrime” e Contraditório no Inquérito (?) ........................................................5 Finalidade e Valor Probatório do Inquérito ..................................................................... 7 Polícia Judiciária .............................................................................................................9 Atribuição dos Delegados ...............................................................................................9 Vícios do Inquérito ........................................................................................................ 10 Poder de Investigação do MP: ....................................................................................... 10 Características ............................................................................................................. 13 Formas de Instauração do Inquérito Policial ................................................................. 16 Notitia Criminis e Delatio Criminis ................................................................................. 18 Identificação Criminal: Datiloscópica, Fotográfica (Lei n. 12037/09), do Perfil Genético (Lei n. 12654/2012) ....................................................................................... 20 Indiciamento: ................................................................................................................ 21 Conclusão do Inquérito Policial .....................................................................................23 Relatório ......................................................................................................................24 Arquivamento do Inquérito Policial ...............................................................................25 Fundamentos para o Arquivamento do Inquérito ......................................................... 28 Formas de Arquivamento ............................................................................................ 28 Coisa Julgada no Arquivamento do Inquérito Policial ....................................................32 Desarquivamento .........................................................................................................36 Juiz das Garantias .........................................................................................................37 Acordo de Não Persecução Penal .................................................................................47 Resumo ........................................................................................................................53 O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 3 de 141www.grancursosonline.com.br Geilza Diniz Inquérito Policial DIREITO PROCESSUAL PENAL Súmulas Pertinentes ....................................................................................................54 Jurisprudência Pertinente .............................................................................................55 Questões de Concurso ..................................................................................................62 Gabarito ...................................................................................................................... 86 Gabarito Comentado .....................................................................................................87 Referências ................................................................................................................ 140 O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 4 de 141www.grancursosonline.com.br Geilza Diniz Inquérito Policial DIREITO PROCESSUAL PENAL INQUÉRITO POLICIAL ConCeito O tema do inquérito policial é um dos mais cobrados em concursos da magistratura e Mi- nistério Público e, por isso, requer total atenção do candidato. A persecução criminal é dever do Estado, consistindo o processo penal em um instrumento para a aplicação da lei penal, instrumento esse que deve ser exercitado mediante a observação dos direitos e garantias fundamentais do autor do crime. Ao Estado incumbe o esclarecimento dos fatos e de suas circunstâncias, e o inquérito po- licial é destinado à apuração da justa causa, para que o titular da ação penal, posteriormente, ingresse em juízo. Assim, podemos conceituar o inquérito policial como sendo um complexo de diligências que são efetivadas pela polícia investigativa, com objetivo de reunir elementos de informação suficientes a respeito da autoria e da materialidade de uma determinada infração penal, a fim de propiciar a futura ação penal, por parte de seu titular. É importante ressaltar que o inquérito policial não é a única forma de investigação de cri- mes e de sua autoria e que o STF entendeu ser possível a condução de investigações criminais pelo Ministério Público (RE 593727). Saliente-se, todavia, que não cabe ao MP a presidência do inquérito, mas sim de outras formas de investigação. Também são possíveis outras formas de investigação, como as realizadas pelo COAF, a investigação defensiva por Defensores etc. Embora a inquisitorialidade seja característica do inquérito, não é correto afirmar que o inquérito é um sistema inquisitorial, pois a expressão “sistema” se refere tão somente aos pro- cessos e não a procedimentos. Podemos, com essas noções iniciais, voltar ao conceito de “inquérito”: procedimento de natureza administrativa que tem por finalidade levantar requisitos mínimos, elementos de in- formação, para o futuro exercício da ação penal, ou seja, indícios de autoria e materialidade. Como um procedimento administrativo, do inquérito policial não decorrem sanções penais, diversamente do que ocorre com processos administrativos e judiciais. Por exemplo, quando alguém responde a um processo administrativo, pode receber uma sanção ao final do proces- so, como é o caso da advertência, suspensão e demissão. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 5 de 141www.grancursosonline.com.br Geilza Diniz Inquérito Policial DIREITO PROCESSUAL PENAL Deve-se lembrar dos sistemas processuais, ou seja, o sistema acusatório, inquisitório e misto. Essa noção de sistemas se refere apenas ao processo, de forma que o inquérito poli- cial, não sendo processo, não se enquadra nessa classificação de sistemas. Por isso, sabendo que o inquérito não é processo, o contraditório e a ampla defesa a ele não se aplicam, pois a CF assevera que o contraditório e ampla defesa são aplicáveis ao processo. “PaCote antiCrime” e Contraditório no inquérito (?) Importante alteração na sistemática do inquérito foi introduzida pela Lei nº 13.964/2019, ao prever expressamente hipótese de citação no inquéritopolicial, quando for investigado po- licial e demais servidores vinculados às instituições disposta no art. 144 da Constituição, ou seja: Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos se- guintes órgãos: I – polícia federal; II – polícia rodoviária federal; III – polícia ferroviária federal; IV – polícias civis; V – polícias militares e corpos de bombeiros militares. VI – polícias penais federal, estaduais e distrital. Além do investigado ser policial, é necessário, para aplicação do procedimento previsto no art. 14-A do CPP, que o objeto do inquérito seja a investigação de fatos relacionados ao uso da força letal e que esses fatos tenham sido praticados no exercício profissional, tanto na forma tentada como na forma consumada, mesmo que o fato tenha sido praticado em situação de excludente de ilicitude. Satisfeitos tais requisitos, o investigado será citado e poderá constituir defensor no prazo de 48 a contar do recebimento da citação. Caso não constitua defensor, a autoridade policial deverá intimar a instituição a que estava vinculado o investigado, para que constitua defensor para o investigado, em novo prazo de 48 horas. Esse procedimento também se aplica aos servidores militares vinculados às Forças Arma- das, se os fatos investigados disserem respeito a missões para a Garantia da Lei e da Ordem. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 6 de 141www.grancursosonline.com.br Geilza Diniz Inquérito Policial DIREITO PROCESSUAL PENAL Essa previsão de uma citação no inquérito policial não foi uma opção tecnicamente correta do legislador, considerando que a citação é um ato de comunicação processual, por meio do qual se dá ciência de uma acusação ao réu. Logo, a citação pressupõe um processo e com- pleta a relação jurídico processual. Tecnicamente, portanto, não é correto falar em citação no inquérito. Melhor teria feito o legislador se previsse a notificação do investigado. Obs.: � Chamo a atenção do aluno, todavia, para o fato de que as bancas examinadoras deve- rão cobrar o texto expresso da lei. Assim, apesar da falta de técnica, como a expressão utilizada pelo legislador foi citação, assim deverá ser cobrada. Em resumo, temos que, no caso de policial investigado por fato relacionado ao uso da força letal praticado no exercício da profissão, na forma tentada ou consumada, inclusive sob excludente da ilicitude, deverá ele ser citado para constituir defensor no prazo de 48 horas a contar do recebimento da citação. Caso não o faça, a autoridade policial deverá intimar a insti- tuição a que ele era vinculado, para que constitua defensor em 48 horas. Vejamos o texto da lei: Art. 14-A. Nos casos em que servidores vinculados às instituições dispostas no art. 144 da Cons- tituição Federal figurarem como investigados em inquéritos policiais, inquéritos policiais militares e demais procedimentos extrajudiciais, cujo objeto for a investigação de fatos relacionados ao uso da força letal praticados no exercício profissional, de forma consumada ou tentada, incluindo as situações dispostas no art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), o indiciado poderá constituir defensor. § 1º Para os casos previstos no caput deste artigo, o investigado deverá ser citado da instauração do procedimento investigatório, podendo constituir defensor no prazo de até 48 (quarenta e oito) horas a contar do recebimento da citação. § 2º Esgotado o prazo disposto no § 1º deste artigo com ausência de nomeação de defensor pelo investigado, a autoridade responsável pela investigação deverá intimar a instituição a que estava vinculado o investigado à época da ocorrência dos fatos, para que essa, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, indique defensor para a representação do investigado. § 3º Havendo necessidade de indicação de defensor nos termos do § 2º deste artigo, a defesa ca- berá preferencialmente à Defensoria Pública, e, nos locais em que ela não estiver instalada, a União ou a Unidade da Federação correspondente à respectiva competência territorial do procedimento instaurado deverá disponibilizar profissional para acompanhamento e realização de todos os atos relacionados à defesa administrativa do investigado. § 4º A indicação do profissional a que se refere o § 3º deste artigo deverá ser precedida de ma- nifestação de que não existe defensor público lotado na área territorial onde tramita o inquérito e O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 7 de 141www.grancursosonline.com.br Geilza Diniz Inquérito Policial DIREITO PROCESSUAL PENAL com atribuição para nele atuar, hipótese em que poderá ser indicado profissional que não integre os quadros próprios da Administração. § 5º Na hipótese de não atuação da Defensoria Pública, os custos com o patrocínio dos interes- ses dos investigados nos procedimentos de que trata este artigo correrão por conta do orçamento próprio da instituição a que este esteja vinculado à época da ocorrência dos fatos investigados. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 6º As disposições constantes deste artigo se aplicam aos servidores militares vinculados às instituições dispostas no art. 142 da Constituição Federal, desde que os fatos investigados digam respeito a missões para a Garantia da Lei e da Ordem. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019). Finalidade e Valor Probatório do inquérito O objetivo central do inquérito é a formação da opinio delicti, a opinião acerca do delito, para fins de instauração, ou não, da futura ação penal, tanto para o Ministério Público, no caso das ações penais públicas, como para o querelante, nas ações penais privadas. Essa formação da opinio delicti se dá pela colheita de elementos de informação. Em regra, não há provas produzidas no inquérito, pois o CP, em seu art. 155, distingue provas de elemen- tos de informação, sendo as provas aquelas produzidas em contraditório judicial e tudo o que não observar esses dois elementos, será elemento de informação. Observe ainda, da leitura do art. 155 do CP, que os elementos de informação podem ser utilizados para fundamentar uma condenação, mas não de forma exclusiva: Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório ju- dicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. Desse dispositivo, observe a diferença: Provas Elementos de informação Produção em contraditório judicial Não há contraditório judicial Pode fundamentar uma condenação, por si só Não pode, por si só, fundamentar uma condenação. Se forem provas cautelares, repetíveis ou antecipadas, possuem o “status” de prova. Esse artigo foi objeto da chamada microrreforma do CPP e passou a prever expressamente o que já era consolidado na jurisprudência, no sentido de que os elementos de informação co- lhidos no inquérito policial precisavam ser corroborados por provas colhidas em contraditório. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civile criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 8 de 141www.grancursosonline.com.br Geilza Diniz Inquérito Policial DIREITO PROCESSUAL PENAL Podemos, assim, concluir acerca do valor probatório do inquérito. Como os elementos de informação não são produzidos com contraditório ou ampla defesa, seu valor probatório é re- lativo, devendo ser olhado de forma mitigada, já que os referidos elementos de informação não podem fundamentar, de forma exclusiva, uma condenação. Observe, todavia, que algumas provas foram excepcionadas pelo legislador, que conferiu a elas um status de prova independente do momento em que foram produzidas e independente se foram produzidas perante o juiz ou não: são as provas cautelares, antecipadas e não repe- tíveis. Essas, ainda que produzidas durante o inquérito, poderão fundamentar, por si sós, uma condenação. Observe que o art. 155 do CPP deve ser interpretado em consonância com o art. 386 do CPP, do que deriva que os elementos de informação não servem, por si sós, para fundamentar uma condenação, mas podem ser utilizados para fundamentar uma absolvição, o que é con- sentâneo com o princípio favor rei. Deve-se observar ainda o teor da Súmula n. 14 do STF: É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa. A súmula não instituiu a ampla defesa e o contraditório no inquérito policial, mas tão so- mente o direito de vista, e apenas em relação ao que já foi documentado no procedimento investigatório. Além disso, é necessário que esse acesso diga respeito ao direito de defesa do investigado, patrocinado pelo defensor. O enunciado não andou bem ao utilizar a expressão “elementos de prova”, pois, em se tra- tando que inquérito policial, não há provas, mas sim elementos de informação, ressalvadas, repise-se, as provas cautelares, antecipadas e não repetíveis. O STF decidirá, ainda, sobre a tramitação direta do inquérito policial, entre delegacia e o MP. Atualmente, diversos estados e a Justiça Federal tem adotado a tramitação direta, tendo o STJ assim decidido sobre o tema: O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 9 de 141www.grancursosonline.com.br Geilza Diniz Inquérito Policial DIREITO PROCESSUAL PENAL REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. TRAMITAÇÃO DIRETA DE INQUÉRITOS ENTRE A POLÍCIA JUDICIÁRIA E O MINISTÉRIO PÚBLICO. POSSIBILIDADE. CELERIDADE E ECONOMIA PROCESSUAL. INCIDÊNCIA DO ÓBICE DO ENUNCIADO N.º 83 DA SÚMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. AGRAVO DESPROVIDO. 1. Esta Corte Superior de Justiça já firmou entendimento no sentido não haver nenhuma ilegalidade na tramitação direta de inquéritos entre a Polícia Judiciária e o Ministério Público, pois tal procedimento atende à garantia da duração razoável do processo, assim como aos postulados da economia processual e da eficiência. 2. Aresto que se alinha a entendimento pacificado neste Sodalício, situação que atrai o óbice do Verbete Sumular n.º 83/STJ, também aplicável ao recurso especial interposto com fundamento na alínea a do permissivo constitucional. 3. Agravo regimental desprovido. (AgRg no REsp 1543205/SC, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 04/05/2017, DJe 10/05/2017) Nesse caso, só seria necessária a distribuição do inquérito no caso de pedido sujeito à reser- va de jurisdição, como, por exemplo, pedido de interceptação telefônica, de prisão preventiva, dentre outros. PolíCia JudiCiária As atribuições da polícia podem ser dividas em: • Polícia administrativa: possui viés preventivo, ou seja, tem a finalidade de evitar crimes. • Polícia judiciaria: é a que atua em cumprimento de determinações judiciais, como, por exemplo, a que cumpre mandado de busca e apreensão. • Polícia investigativa: é a que tem por atribuição coletar elementos de informação para via- bilizar indícios e materialidade, ou seja, atribuição que envolve a presidência do inquérito policial. atribuição dos delegados Da análise literal do art. 4º do CPP, poderíamos auferir que o delegado possui competência: Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 10 de 141www.grancursosonline.com.br Geilza Diniz Inquérito Policial DIREITO PROCESSUAL PENAL Parágrafo único. A competência definida neste artigo não excluirá a de autoridades administrati- vas, a quem por lei seja cometida a mesma função. A competência, no entanto, é medida de jurisdição, de forma que não é correto falar em “competência da autoridade policial”, mas sim de “atribuição”. Essa atribuição é firmada, como regra geral, pelo local do fato e natureza da infração. VíCios do inquérito Sendo o inquérito um procedimento administrativo e não processo, não há que se falar em “nulidade no inquérito”. Com efeito, o conceito de “nulidade” se refere a atos processuais e não a atos de procedimento administrativo. Lembre-se que o inquérito é procedimento administrativo (e não processo) porque dele não decorre nenhuma sanção penal. Ao fim do inquérito, ele será relatado, não havendo qual- quer aplicação de sanção possível, ao investigado. Veja que a possibilidade de haver alguma medida cautelar decretada não se confunde com sanção. Sendo assim, por ser procedimento administrativo, eventuais vícios (e não nulidades) existentes não contaminam a futura ação penal. Mas, atenção: se o vício for referente a prova ilícita, ela deverá ser desentranhada do inquérito. Isso porque, embora a Constituição, ao tra- tar das provas ilícitas, refira-se à inadmissibilidade no processo, havendo violação a direito fundamental, deve ser estendido o entendimento ao inquérito, com o desentranhamento de eventual elemento de informação ilícito. Confira o teor do art. 5º da CF: LVI – são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos; Poder de inVestigação do mP: Vimos que a presidência do inquérito é feita pela polícia judiciária, que tem função repres- siva e atua após a prática do crime. Relembremos que o art. 4º do CPP dispõe: Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 11 de 141www.grancursosonline.com.br Geilza Diniz Inquérito Policial DIREITO PROCESSUAL PENAL Assim, quem tem atribuição de presidir o inquérito é a polícia judiciária. Mas, sendo o Ministério Público o titular da ação penal pública, o titular da opinio delicti, podendo ele o mais, que é ajuizar a ação penal, não poderia o menos, que é o procedimento administrativo de colheita de provas? Para isso, devemos diferenciar as expressões “poder de investigação” de “presidência de inquérito”. O MP pode efetivar investigações, mas não presidir inquérito. Ao decidirsobre o tema, o STF entendeu que como cabe ao MP controle externo da ati- vidade policial, cabe também a ele a possibilidade de investigar, ou seja: “quem pode o mais, pode o menos”. O órgão decidiu ainda que essa atividade do MP deve ser eventual, subsidiaria, em casos específicos e não atividade principal. Ex.: corporativismo comprovado, inercia policial, dentre outras. Veja esse precedente: Repercussão geral. Recurso extraordinário representativo da controvérsia. Constitu- cional. Separação dos poderes. Penal e processual penal. Poderes de investigação do Ministério Público. 2. Questão de ordem arguida pelo réu, ora recorrente. Adiamento do julgamento para colheita de parecer do Procurador-Geral da República. Substituição do parecer por sustentação oral, com a concordância do Ministério Público. Indeferimento. Maioria. 3. Questão de ordem levantada pelo Procurador-Geral da República. Possibili- dade de o Ministério Público de estado-membro promover sustentação oral no Supremo. O Procurador-Geral da República não dispõe de poder de ingerência na esfera orgânica do Parquet estadual, pois lhe incumbe, unicamente, por expressa definição constitucional (art. 128, § 1º), a Chefia do Ministério Público da União. O Ministério Público de estado- -membro não está vinculado, nem subordinado, no plano processual, administrativo e/ ou institucional, à Chefia do Ministério Público da União, o que lhe confere ampla pos- sibilidade de postular, autonomamente, perante o Supremo Tribunal Federal, em recur- sos e processos nos quais o próprio Ministério Público estadual seja um dos sujeitos da relação processual. Questão de ordem resolvida no sentido de assegurar ao Ministério Público estadual a prerrogativa de sustentar suas razões da tribuna. Maioria. 4. Questão constitucional com repercussão geral. Poderes de investigação do Ministério Público. Os artigos 5º, incisos LIV e LV, 129, incisos III e VIII, e 144, inciso IV, § 4º, da Constituição O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 12 de 141www.grancursosonline.com.br Geilza Diniz Inquérito Policial DIREITO PROCESSUAL PENAL Federal, não tornam a investigação criminal exclusividade da polícia, nem afastam os poderes de investigação do Ministério Público. Fixada, em repercussão geral, tese assim sumulada: “O Ministério Público dispõe de competência para promover, por autoridade própria, e por prazo razoável, investigações de natureza penal, desde que respeitados os direitos e garantias que assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado, observadas, sempre, por seus agentes, as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição e, também, as prerrogativas profissionais de que se acham investidos, em nosso País, os Advogados (Lei 8.906/94, artigo 7º, notadamente os inci- sos I, II, III, XI, XIII, XIV e XIX), sem prejuízo da possibilidade – sempre presente no Estado democrático de Direito – do permanente controle jurisdicional dos atos, neces- sariamente documentados (Súmula Vinculante 14), praticados pelos membros dessa instituição”. Maioria. 5. Caso concreto. Crime de responsabilidade de prefeito. Deixar de cumprir ordem judicial (art. 1º, inciso XIV, do Decreto-Lei n. 201/67). Procedimento instau- rado pelo Ministério Público a partir de documentos oriundos de autos de processo judi- cial e de precatório, para colher informações do próprio suspeito, eventualmente hábeis a justificar e legitimar o fato imputado. Ausência de vício. Negado provimento ao recurso extraordinário. Maioria. (RE 593727, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. GILMAR MENDES, julgado em 14/05/2015, publicado em 08/09/2015, Tribunal Pleno) Veja que o STF decidiu sobre os poderes de investigação do MP e não sobre poder de pre- sidir inquérito policial, sendo muito importante que você perceba essa diferença. Assim, o MP não pode presidir o inquérito, mas pode fazer outras investigações, inclusive investigações paralelas ao inquérito policial. Perceba que na decisão do STF, foram estipula- dos alguns requisitos a serem observados pelo MP: • respeitar os direitos e garantias fundamentais do investigado; • observar a reserva constitucional de jurisdição, ou seja, as providências que só o juiz pode autorizar, como, por exemplo, uma interceptação telefônica; • preservar as prerrogativas dos advogados. O Supremo entendeu, portanto, que a investigação promovida pelo MP deve seguir os mes- mos preceitos informativos do inquérito, ou seja, ato formal, instauração procedimento e, se O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 13 de 141www.grancursosonline.com.br Geilza Diniz Inquérito Policial DIREITO PROCESSUAL PENAL eventualmente, não for o caso de ajuizamento de ação penal, deverão ser arquivados pelo juiz. (STF, HC 84965/MG). CaraCterístiCas São conhecidas as características do IP com o mnemônico “É IDOSO”. Em primeiro lugar, o inquérito é um procedimento escrito, nos termos do art. 9º do CPP: Art. 9º Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou datilo- grafadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade. Já com relação aos Juizados Especiais Criminais, nas infrações de menor potencial ofensi- vo, o procedimento é o termo circunstanciado, que é menos formal e não se submete ao art. 9º do CPP. Não esqueça que o CPP é da década de 40 e, portanto, não houve a previsão de gravação áudio visual em inquérito. Todavia, caso isso seja feito, não gerará nulidade da futura ação penal. O inquérito é indisponível, para a autoridade policial, o que significa que, uma vez instaura- do, não pode o delegado dispor, desistir ou arquivar o inquérito: Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito. Isso não se confunde com a instauração do inquérito. Para instaurar, o delegado deverá analisar a presença dos requisitos legais, só sendo obrigado a instaurar o inquérito na presen- ça de todos os requisitos. O inquérito é inquisitivo. Recorde que há três sistemas processuais: acusatório, inquisitório e misto. Mas o inquérito não é processo, logo não há que se falar em que o sistema do inqué- rito é inquisitório, mas sim que ele possui características inquisitivas. Aury Lopes Júnior e Antônio Scarance Fernandes afirmam que o inquérito seria uma inves- tigação preliminar sujeita a contraditório diferido e ampla defesa, mas prevalece o entendimen- to de que o inquérito é uma investigação preliminar com características inquisitoriais. Assim, não se aplicam ao inquérito os princípios do contraditório e ampla defesa. O inquérito é discricionário, pois há um rol não taxativo dos arts. 6º e 7º do CPP. O princípio do devido processo legal possui dois aspectos: um procedimental e outro subs- tancial. No procedimental, esse princípio significa observar as fases do rito. O Código de Processo O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 14 de 141www.grancursosonline.com.br Geilza Diniz Inquérito Policial DIREITO PROCESSUAL PENAL Penal dispõe toda uma sequência procedimental que, se não for observada, poderá gerar a nulidade do processo. Já noinquérito policial isso não acontece. Os arts. 6º e 7º do CPP dispõem algumas dili- gências que a autoridade policial poderá tomar, mas esse rito não é taxativo, pois, para o inqué- rito, não se aplica o devido processo legal. A autoridade policial poderá fazer uma ou mais das diligências previstas de forma não taxativas, não precisando seguir uma ordem legal. Vejam os dispositivos: Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá: I – dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais; II – apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais; III – colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias; IV – ouvir o ofendido; V – ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo III do Título VII, deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que lhe tenham ouvido a leitura; VI – proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações; VII – determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras pe- rícias; VIII – ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes; IX – averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quais- quer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter; X – colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma defici- ência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa. Art. 7º Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de determinado modo, a au- toridade policial poderá proceder à reprodução simulada dos fatos, desde que esta não contrarie a moralidade ou a ordem pública. O inquérito, sob a ótica do titular da ação penal, é dispensável, o que decorre dos arts. 12, 27, 39, §5º e 46, §1º CPP. Assim, o titular da ação penal prescinde do prévio inquérito policial para a propositura da ação penal, ou seja, o inquérito não é uma condição de procedibilidade para a futura ação penal. Veja, portanto, que sob a ótica da autoridade policial, presentes os requisitos legais, es- pecialmente a justa causa, o inquérito é de instauração obrigatória. Já para o titular da ação penal, para fins de ajuizamento da demanda, o inquérito é dispensável. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 15 de 141www.grancursosonline.com.br Geilza Diniz Inquérito Policial DIREITO PROCESSUAL PENAL Dispõe o art. 12, do CPP: Art. 12. O inquérito policial acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que servir de base a uma ou outra. Lendo o dispositivo a contrario sensu, temos que se o inquérito não servir de base à denún- cia ou queixa, ele não a acompanhará e, por isso, é dispensável. Tem-se ainda no CPP: Art. 39. O direito de representação poderá ser exercido, pessoalmente ou por procurador com pode- res especiais, mediante declaração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao órgão do Ministério Público, ou à autoridade policial. § 5º O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de quinze dias. Veja que aqui o legislador se refere à ação penal pública condicionada, mas prevalece o en- tendimento que a dispensabilidade é aplicável à qualquer ação penal, o que decorre da leitura conjunta desse dispositivo com o art. 12 do CPP. E se o inquérito estiver em tramitação, ou seja, já há inquérito instaurado, o MP poderia oferecer a denúncia antes da conclusão do inquérito? Sim, se o MP, que é dominus litis entender que aqueles elementos de informação são sufi- cientes, o MP pode propor a ação penal. O inquérito será dispensável sempre que o titular da ação penal entender que o inquérito não é necessário para embasar a denúncia ou queixa. O inquérito policial é sigiloso, nos termos do art. 20 do CPP: A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo inte- resse da sociedade. Nesse sentido, o sigilo pode ser aplicado até mesmo em todo os inquéritos abertos por determinada autoridade policial, pois trata-se de algo que é discricionário, ou seja, é de escolha do Delegado de Polícia. Verifique que, pela fórmula do art. 20 do CPP, a autoridade “assegurará no inquérito o sigilo necessário”, ou seja, cabe à autoridade verificar se é necessário, mas o CPP não exige funda- mentação nesse sentido. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 16 de 141www.grancursosonline.com.br Geilza Diniz Inquérito Policial DIREITO PROCESSUAL PENAL A Súmula Vinculante n. 14, STF, previu: É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa. Essa súmula não revogou o sigilo, pois instituiu um acesso apenas aos elementos de infor- mação já documentados. Por outro lado, veja que a incomunicabilidade prevista no CPP, que é de 1941, não foi recep- cionada pela CF, pois está veda a incomunicabilidade do preso mesmo na vigência do estado de defesa, que é medida excepcional. Assim, em tempos normais, com mais razão não pode subsistir a incomunicabilidade (art. 136, §3º, IV, CF). Assim, o artigo abaixo não foi recepciona- do pela Constituição: Art. 21. A incomunicabilidade do indiciado dependerá sempre de despacho nos autos e somente será permitida quando o interesse da sociedade ou a conveniência da investigação o exigir. Parágrafo único. A incomunicabilidade, que não excederá de três dias, será decretada por despacho fundamentado do Juiz, a requerimento da autoridade policial, ou do órgão do Ministério Público, respeitado, em qualquer hipótese, o disposto no artigo 89, inciso III, do Estatuto da Ordem dos Ad- vogados do Brasil (Lei n. 4.215, de 27 de abril de 1963) O inquérito é procedimento oficial, pois não pode ser feito por qualquer pessoa, incumbindo ao Delegado de Polícia, seja ela federal ou civil, a presidência do inquérito policial, como já vimos. Assim, é de atribuição de órgão oficial, como previsto no art. 144, § 1º e 144, §4º da Constituição. Por fim, o inquérito é oficioso, pois cabe à autoridade policial o dever de agir de ofício, ao tomar conhecimento de crime de ação penal pública incondicionada, nos termos do art. 5º, inciso I, do CPP. Nas ações penais públicas condicionadas e privadas, é necessária a manifestação do ofen- dido para o início do inquérito policial, para a sua instauração, mas, após, a autoridade policial age de ofício. Formas de instauração do inquérito PoliCial As formas de instauração do inquérito policial vão variar de acordo com a natureza da ação penal respectiva. Assim, colhe-se do CPP: O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilizaçãocivil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 17 de 141www.grancursosonline.com.br Geilza Diniz Inquérito Policial DIREITO PROCESSUAL PENAL • De ofício pela autoridade policial (inciso I) – Ação penal pública incondicionada: como regra geral, o inquérito policial é instaurado de ofício, pois a maioria dos crimes previs- tos no Direito Penal brasileiro é de ação penal pública incondicionada. Apenas nos casos em que há previsão expressa do legislador é que a ação penal não será do tipo pública incondicionada. Dessa forma, sendo o crime de ação penal pública incondicionada, o inquérito policial po- derá ser instaurado de ofício pelo delegado de polícia, em aplicação ao princípio da oficiosida- de, sem qualquer necessidade de provocação para tanto. • Por requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público (inciso II): a segunda forma de instauração do inquérito policial é mediante requisição da autoridade judici- ária ou do MP. Com relação à requisição da autoridade judiciária, pode-se questionar a eventual revogação tácita do dispositivo, considerando a previsão do art. 3º-A, do CPP, na redação da lei anticrime, que veda a iniciativa do juiz na fase de investigação. O as- sunto, todavia, é ainda polêmico e merece melhor discussão a partir das decisões dos tribunais superiores. Com relação à segunda requisição, por parte do MP, destaque-se precedente do STJ no sentido de que eventual recusa do delegado em cumprir a requisição comportaria repercussão no âmbito administrativo disciplinar, mas não crime de desobediência: PROCESSUAL PENAL. “HABEAS-CORPUS”. REQUISIÇÃO JUDICIAL DIRIGIDA A AUTORI- DADE POLICIAL. NÃO ATENDIMENTO. FALTA FUNCIONAL. ATIPICIDADE PENAL. - EMBORA NÃO ESTEJA A AUTORIDADE POLICIAL SOB SUBORDINAÇÃO FUNCIONAL AO JUIZ OU AO MEMBRO DO MINISTÉRIO PUBLICO, TEM ELA O DEVER FUNCIONAL DE REALIZAR AS DILIGENCIAS REQUISITADAS POR ESTAS AUTORIDADES, NOS TERMOS DO ART. 13, II, DO CPP. - A RECUSA NO CUMPRIMENTO DAS DILIGENCIAS REQUISITADAS NÃO CONSUBS- TANCIA, SEQUER EM TESE, O CRIME DE DESOBEDIÊNCIA REPERCUTINDO APENAS NO ÂMBITO ADMINISTRATIVO-DISCIPLINAR. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 18 de 141www.grancursosonline.com.br Geilza Diniz Inquérito Policial DIREITO PROCESSUAL PENAL - RECURSO ORDINÁRIO PROVIDO. (RHC 6.511/SP, Rel. Ministro VICENTE LEAL, SEXTA TURMA, julgado em 15/09/1997, DJ 27/10/1997, p. 54840) • Por requerimento do ofendido ou seu representante (inciso II): a segunda forma de ins- tauração do inquérito é mediante requerimento do ofendido ou de seu representante legal, situação em que o requerimento, sempre que possível, deverá conter a narração do fato, com todas as suas circunstâncias, a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as razões de convicção ou presunção de ser ele o autor da infração, ou ainda as razões da impossibilidade de fazê-lo e a nomeação das testemunhas, com indicação de profissão e residência, tudo na forma no art. 5º, §1º, do CPP. O CPP, no art. 5º, prevê as formas de instauração do inquérito policial, o que é feito a partir da natureza da ação penal: Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado: I – de ofício; II – mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo. § 2º Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito caberá recurso para o chefe de Polícia. Em regra, não cabe recurso no inquérito policial; entretanto, o §2º prevê o cabimento de recurso para o chefe de polícia, em caso de indeferimento de abertura do inquérito, em caso de requerimento do ofendido. Apesar da omissão do legislador, prevalece o entendimento de que esse recurso é cabível nos casos de ação penal pública. Veja-se que esse recurso previsto é, na verdade, um recurso administrativo, já que ainda não há ação penal Notitia CrimiNis e Delatio CrimiNis Dá-se o nome de notitia criminis ao conhecimento da autoridade policial, que poderá ser espontâneo ou provocado, sobre determinado fato criminoso. A notitia criminis poderá ser de cognição imediata, direta ou espontânea, quando a autoridade policial toma conhecimento do O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 19 de 141www.grancursosonline.com.br Geilza Diniz Inquérito Policial DIREITO PROCESSUAL PENAL crime por intermédio de suas atividades do dia a dia, por suas atividades rotineiras, como por exemplo, por meio da leitura de um jornal que narra um crime ocorrido no dia anterior. Por outro lado, a “notitia criminis de cognição mediata, indireta ou provocada” é aquela que, como o nome diz, se dá de maneira indireta, como por meio de um requerimento do ofendido para a instauração do inquérito policial. Já na “notitia criminis de cognição obrigatória ou compulsória”, tem-se o conhecimento a respeito do crime, pela autoridade policial, pela prisão em flagrante e sua consequente apre- sentação à autoridade policial. Frise-se que a delatio criminis nada mais é do que uma espécie de notitia criminis, referin- do-se à comunicação de um crime por terceira pessoa, à autoridade policial. Poderá ser “sim- ples”, quando não contiver nenhum requerimento, ou “postulatória”, quando for acompanhada de requerimento de instauração de inquérito. Chama-se de “notitia criminis inqualificada ou apócrifa” a denúncia anônima que serve para dar início às investigações, mas não é suficiente para a instauração do inquérito policial. Con- fira o entendimento do STF, noticiado no Informativo 819: As notícias anônimas (“denúncias anônimas”) não autorizam, por si sós, a propositura de ação penal ou mesmo, na fase de investigação preliminar, o emprego de métodos inva- sivos de investigação, como interceptação telefônica ou busca e apreensão. Entretanto, elas podem constituir fonte de informação e de provas que não podem ser simplesmente descartadas pelos órgãos do Poder Judiciário. Procedimento a ser adotado pela autori- dade policial em caso de “denúncia anônima”: • Realizar investigações preliminares para confirmar a credibilidade da “denúncia”; • Sendo confirmado que a “denúncia anônima” possui aparência mínima de procedência, instaura-se inquérito policial; • Instaurado o inquérito, a autoridade policial deverá buscar outros meios de prova que não a interceptação telefônica (esta é a ultima ratio). Se houver indícios concretos contra os investigados, mas a interceptação se revelar imprescindível para provar o crime, poderá ser requerida a quebra do sigilo telefônico ao magistrado. STF. 1ª Turma. HC 106152/MS, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 29/3/2016 (Info 819). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 20 de 141www.grancursosonline.com.br Geilza Diniz Inquérito Policial DIREITO PROCESSUAL PENAL identiFiCação Criminal: datilosCóPiCa, FotográFiCa (lei n. 12037/09), do PerFil genétiCo (lei n. 12654/2012) Segundo disposto no CPP, a autoridade policial deverá ordenar a identificação do indicia- do pelo processo datiloscópico: Art. 6º Logo que tiver conhecimentoda prática da infração penal, a autoridade policial deverá: VIII – ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes. Por ouro lado, dispõe a CF, em seu art. 5º: LVIII – o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei. A identificação criminal poderá ser feita por meio da identificação datiloscópica, da iden- tificação fotográfica e da identificação do perfil genético. Deve-se observar que o art. 6º, VIII, do CPP, deve ser aplicado em conformidade com o art. 5º, LVIII, da CF, de forma que, somente nas hipóteses previstas em lei, o civilmente identificado será criminalmente identificado. A Lei n. 12.037/2009 previu as situações em que o civilmente identificado será submetido a identificação criminal, além de estabelecer que a identificação civil é atestada pela carteira de identidade, carteira profissional, passaporte, carteira de identificação profissional e outro do- cumento público que permita a identificação do indiciado, prevendo ainda, tudo no art. 2º, que equiparam-se aos documentos de identificação civil os documentos de identificação militares. Prevê ainda a lei: Art. 3º Embora apresentado documento de identificação, poderá ocorrer identificação criminal quando: I – o documento apresentar rasura ou tiver indício de falsificação; II – o documento apresentado for insuficiente para identificar cabalmente o indiciado; III – o indiciado portar documentos de identidade distintos, com informações conflitantes entre si; IV – a identificação criminal for essencial às investigações policiais, segundo despacho da autorida- de judiciária competente, que decidirá de ofício ou mediante representação da autoridade policial, do Ministério Público ou da defesa; V – constar de registros policiais o uso de outros nomes ou diferentes qualificações; VI – o estado de conservação ou a distância temporal ou da localidade da expedição do documento apresentado impossibilite a completa identificação dos caracteres essenciais. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 21 de 141www.grancursosonline.com.br Geilza Diniz Inquérito Policial DIREITO PROCESSUAL PENAL A lei dispõe ainda que deve a autoridade tomar as providencias necessárias para evitar o constrangimento do identificado (art. 4º). Saliente-se que a Lei n. 13.964/2019 trouxe alterações na Lei n. 12.037/2009, passando a prever hipóteses de exclusão dos perfis genéticos dos bancos de dados e regulamentando que a identificação de perfil genético deverá ser armazenada em banco de dados sigilosos, ficando autorizada a criação de Banco Nacional Multibiométrico e de Impressões Digitais, que tem por objetivo armazenar dados de registros biométricos, de impressões digitais e, quando possível, de íris, face e voz, para subsidiar investigações federais, estaduais ou distritais (art. 7º-C, §2º). A lei estipula ainda que poderão ser colhidos os registros biométricos, de impressões di- gitais, de íris, face e voz dos presos provisórios ou definitivos, quando estes não tiverem sido extraídos por ocasião da identificação criminal (art. 7º-C, §4º). A partir da entrada em vigor da Lei n. 13.964/2019, a autoridade policial e o Ministério Público poderão requerer ao juiz competente, no caso de inquérito ou ação penal instaurados, o acesso ao Banco Nacional Multibiométrico e de Impressões Digitais. A Lei n. 12.654/2012 é a responsável, por outro lado, pela disciplina da coleta de perfil ge- nético como forma de identificação criminal, tendo alterado tanto a Lei n. 12.037/2009 como a Lei de Execução Penal. indiCiamento: Podemos definir o “indiciamento” como o ato formal de indicar a autoria a uma pessoa, como provável autora ou partícipe de crime. A Lei n. 12.830/2013, que dispõe sobre a investi- gação criminal conduzida pelo delegado de polícia, prescreve: Art. 2º As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais exercidas pelo delegado de polícia são de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado. § 6º O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, materialidade e suas circunstâncias. Se pudéssemos sugerir uma gradação no “status” do réu (em sentido amplo), diríamos que o investigado tem menores elementos em seu desfavor, enquanto que contra o indiciado há maiores indícios de autoria, tanto assim que a autoridade policial fará o indiciamento de forma fundamentada, indicando os elementos relativos à autoria. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 22 de 141www.grancursosonline.com.br Geilza Diniz Inquérito Policial DIREITO PROCESSUAL PENAL O indiciamento pode ser feito diretamente, quando o indiciado está presente, e de forma indireta, quando o indiciado não está presente. A fundamentação necessária para o indiciamento não é a mesma que se exige para o rece- bimento da denúncia, e os tribunais, em regra, não reconhecem nulidade (até porque a nulidade é vício de ato processual e no indiciamento não há processo em curso) em face de eventual defeito na fundamentação. Confira: INDICIAMENTO. FUNDAMENTAÇÃO NECESSÁRIA. INDÍCIOS DE AUTORIA. DELITOS EM TESE PRATICADOS PELOS INVESTIGADOS. ORDEM DENEGADA. 1. Após o advento da Lei 12.830/2013 o ato do Delegado de Polícia que determina o indiciamento dos investiga- dos deve ser fundamentado. 2. A fundamentação exigida para o ato de indiciamento não é a mesma que se exige para o recebimento da denúncia. Indícios mínimos de autoria e de materialidade revelam-se suficientes para fundamentá-lo. 3. A capitulação do crime fixada no ato de indiciamento é provisória, e não constitui nulidade a errônea indicação de tipo penal. 4. Não existe contraditório no inquérito policial, não havendo direito subje- tivo à defesa na fase de investigação pré-processual. Descabe falar em nulidade do indi- ciamento por ausência de possibilidade de contestação dos fatos pelo investigado. 5. Ordem de Habeas Corpus denegada. (TRF-1 - HC: 303779520144010000, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL NEY BELLO, Data de Julgamento: 01/07/2014, TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: 11/07/2014) Pode-se também falar de “desindiciamento”, quando for constatado que o autor do crime não é o indiciado. Por fim, o art. 17-D da Lei n. 9.613/1998 prevê que, se o servidor público for indiciado por crime de lavagem de capitais, ele será afastado, sem prejuízo da remuneração e demais direi- tos previstos em lei, até que o juiz competente autorize, de forma fundamentada, o seu retorno. Confira: Art. 17-D. Em caso de indiciamento de servidor público, este será afastado, sem prejuízo de remu- neração e demais direitos previstos em lei, até que o juiz competente autorize, em decisão funda- mentada, o seu retorno. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 23 de 141www.grancursosonline.com.br Geilza Diniz Inquérito Policial DIREITO PROCESSUAL PENAL Alguns doutrinadores, como Renato Brasileiro (Manual de Processo Penal, pág. 154) apon- tam a inconstitucionalidadedesse dispositivo, por afronta ao princípio da presunção de ino- cência e da jurisdicionalidade. ConClusão do inquérito PoliCial O inquérito policial tem prazo para a conclusão, e isso pode variar. A regra geral, do art. 10 do CPP, é que o prazo de conclusão é de 10 dias, em se tratando de réu preso, e de 30 dias, se o réu estiver solto. A Lei n. 13.964/2019 trouxe a possibilidade de o juiz das garantias prorrogar o prazo de conclusão do inquérito relativo a investigado preso, uma única vez, por 15 dias, mediante re- presentação da autoridade policial e com oitiva previa do MP: Art. 3º-B. O juiz das garantias é responsável pelo controle da legalidade da investigação criminal e pela salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia tenha sido reservada à autorização prévia do Poder Judiciário, competindo-lhe especialmente: § 2º Se o investigado estiver preso, o juiz das garantias poderá, mediante representação da autori- dade policial e ouvido o Ministério Público, prorrogar, uma única vez, a duração do inquérito por até 15 (quinze) dias, após o que, se ainda assim a investigação não for concluída, a prisão será imedia- tamente relaxada. Vejamos uma tabela com os prazos de conclusão do inquérito, matéria muito cobrada em concursos públicos: Investigado preso (dias) Investigado solto (dias) Regra geral do art. 10, CPP 10 + 15 30 Inquérito policial federal (Lei n. 5.010/1966, art. 66) 15 + 15 30 Inquérito policial militar (CPPM, art. 20) 20 40 + 20 Lei de drogas (art. 51, Lei n. 11.313/2006) 30 + 30 90 + 90 Crimes contra a economia popular (art. 10, §1º, Lei n. 1.521/1951) 10 10 O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 24 de 141www.grancursosonline.com.br Geilza Diniz Inquérito Policial DIREITO PROCESSUAL PENAL Com relação a investigado solto, o art. 10, §3º, do CPP, prescreve que, se o fato for de difícil elucidação e o indiciado estiver solto, a autoridade policial poderá requerer ao juiz a devolução dos autos para novas diligências, em prazo a ser definido pelo juiz, o que pode ocorrer reitera- das vezes. Confira: § 3º Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade poderá requerer ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz. relatório Ao fim do inquérito policial, estabelece o art. 10, §1º do CPP que a autoridade policial deve- rá elaborar minucioso relatório do que já tiver sido apurado. Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se exe- cutar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela. § 1º A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará autos ao juiz com- petente. § 2º No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que não tiverem sido inquiridas, mencio- nando o lugar onde possam ser encontradas. O relatório, portanto, é a peça elaborada pela autoridade policial que, como o nome indica, deve relatar as diligências efetivadas durante o inquérito, o que de regra é feito na ordem crono- lógica. É uma peça de conteúdo descritivo, que não deve conter juízo de valor, pois o dominus litis é o MP ou querelante, a eles cabendo o juízo de valor, para o ajuizamento da futura ação penal ou para o arquivamento. No entanto, apesar de não ser tecnicamente correto, caso o delegado faça juízo de valor no relatório final do inquérito, não há qualquer vício a contaminar a futura ação penal. O MP ou o querelante não ficam vinculados a eventual juízo de valor feito pela autoridade policial e nem mesmo à capitulação jurídica indicada no inquérito. Não devemos esquecer que a autoridade policial não pode requerer, representar ou mandar arquivar os autos do inquérito: Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 25 de 141www.grancursosonline.com.br Geilza Diniz Inquérito Policial DIREITO PROCESSUAL PENAL Pois bem, relatado o inquérito policial, está concluída a investigação, surgindo, para o MP, três possibilidades: • Promover o arquivamento; • Requerer a remessa dos autos à delegacia de origem para novas diligências; ou • Ajuizar a ação penal. Sobre o pedido de devolução dos autos para novas diligências, prevê o CPP: Art. 16. O Ministério Público não poderá requerer a devolução do inquérito à autoridade policial, senão para novas diligências, imprescindíveis ao oferecimento da denúncia. Vejamos, agora, como ocorre o arquivamento do inquérito policial. arquiVamento do inquérito PoliCial O chamado “pacote anticrime” trouxe importante alteração no processo de arquivamento do inquérito policial. Podemos analisar, por meu de um esquema, como era antes, e como ficou com o advento da nova lei: Redação anterior Redação dada pela Lei n. 13.964/2019 Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, reque- rer o arquivamento de inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invo- cadas, fará remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este ofe- recerá a denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender. Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer elementos informativos da mesma natureza, o órgão do Ministério Público comunicará à vítima, ao inves- tigado e à autoridade policial e encaminhará os autos para a instância de revisão ministerial para fins de homologação, na forma da lei. § 1º Se a vítima, ou seu representante legal, não concordar com o arquivamento do inquérito policial, poderá, no prazo de 30 (trinta) dias do recebimento da comunicação, subme- ter a matéria à revisão da instância competente do órgão ministerial, conforme dispuser a respectiva lei orgânica. § 2º Nas ações penais relativas a crimes praticados em detri- mento da União, Estados e Municípios, a revisão do arquiva- mento do inquérito policial poderá ser provocada pela chefia do órgão a quem couber a sua representação judicial. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 26 de 141www.grancursosonline.com.br Geilza Diniz Inquérito Policial DIREITO PROCESSUAL PENAL Na redação anterior, caso o juiz discordasse da promoção de arquivamento do Ministério Público, deveria encaminhar os autos ao Procurador Geral de Justiça, o qual teria três possi- bilidades: • Oferecer a denúncia, concordando com o juiz; • Designar outro promotor para oferecer a denúncia, concordando com o juiz; • Insistir no arquivamento, concordando com a manifestação do promotor de justiça, hi- pótese em que o juiz estará obrigado a arquivar o inquérito. Essa sistemática foi profundamente alterada com o “pacote anticrime”. Observe que não houve alteração no arquivamento do inquérito em si, nas hipóteses de arquivamento e nas modalidades de arquivamento, mas tãosomente nos casos em que o juiz discordava do MP, na atribuição para o arquivamento e na forma de revisão do arquivamento. Vejamos cada uma dessas alterações. A primeira questão que certamente será alvo de muita discussão é sobre a atribuição para o arquivamento. Veja que não é correto falar em legitimidade para o arquivamento, considerando que a legitimidade é condição da ação. Logo, não há que se falar em “legitimidade no inquérito”. Quem arquiva o inquérito? Antes da alteração, a doutrina mencionava o arquivamento do inquérito como um ato com- plexo, pois dependia de uma manifestação de vontade do MP e da decisão do juiz, determinan- do o arquivamento. Com a nova redação, o art. 28 não menciona expressamente quem arquiva, apenas afirma que Art. 28 Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer elementos informativos da mesma natureza, o órgão do Ministério Público comunicará à vítima, ao investigado e à autoridade policial e encaminhará os autos para a instância de revisão ministerial para fins de homologação, na forma da lei. A princípio, e pela leitura do texto legal, subentende-se que o próprio promotor ordena o arquivamento do inquérito, comunicando a vítima, o investigado e a autoridade policial e encaminhando os autos para a instância de revisão ministerial para homologação, sem qual- quer participação do juiz. Todavia, outros dispositivos do CPP que previam uma decisão judicial de arquivamento não foram alterados, como o art. 18: O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 27 de 141www.grancursosonline.com.br Geilza Diniz Inquérito Policial DIREITO PROCESSUAL PENAL Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por falta de base para a denúncia, a autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver notícia. Duas possíveis interpretações devem surgir: • Dispositivos como os art. 18, 67 e 779 foram parcial e tacitamente revogados, devendo- -se entender que o arquivamento é feito pelo MP; • O juiz deve ordenar o arquivamento do inquérito, após a promoção do arquivamento pelo MP, mas sem possibilidade de discordar do arquivamento. No bojo da ADI 6299 MC/DF, o Ministro Luiz Fux, relator, concedeu medida cautelar para suspender sine die a eficácia da alteração do procedimento do inquérito policial, ou seja, o novo art. 28 do CPP, até que a matéria seja julgada pelo plenário do STF. Nos autos da ADI 6305, a Associação Nacional dos Membros do Ministério Público impugnou esse dispositivo, não pelo fato do arquivamento passar a ser promovido diretamente pelo MP, o que a referida associação considerou “muito elogiável, tratando-se de medida que, há muito tempo, é aguardada pela comunidade jurídica brasileira, preservando a imparcialidade judicial e o protagonismo ministerial que são medidas estruturais do sistema acusatório”, mas pela necessi- dade de submissão de todos os arquivamento à homologação pela instância de revisão. O Ministro Fux, assim, determinou que “a redação revogada do artigo 28 do Código de Pro- cesso Penal permanece em vigor enquanto perdurar esta medida cautelar”. Portanto, o arqui- vamento do inquérito, até que a questão seja apreciada pelo plenário do STF, segue sendo feito mediante promoção do MP e decisão do juiz, o qual, caso discorde, deverá submeter o feito ao Procurador-Geral de Justiça. Outra alteração da lei foi a possibilidade da vítima, caso discorde do arquivamento, subme- ter, no prazo de 30 dias a contar do recebimento da comunicação de arquivamento, a matéria à revisão da instância competente do órgão ministerial, nos termos do art. 28, §1º do CPP. Por fim, nas ações penais relativas a crimes praticados em detrimento da União, Estados e Municípios, a revisão do arquivamento do inquérito policial poderá ser provocada pela chefia do órgão a quem couber a sua representação judicial, conforme previsto no §2º do art. 28, na redação da Lei n. 13.964/2019. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 28 de 141www.grancursosonline.com.br Geilza Diniz Inquérito Policial DIREITO PROCESSUAL PENAL Fundamentos Para o arquiVamento do inquérito O CPP, embora mencione o arquivamento do inquérito, não elenca as hipóteses em que o promotor deve promover o arquivamento. Com isso, e utilizando-se do art. 3º do CPP, que auto- riza o uso da analogia no processo penal, pode-se concluir que as hipóteses de arquivamento do inquérito são as mesmas que ensejam a rejeição da peça acusatória ou a absolvição sumá- ria, ou seja, aquelas dos arts. 395 e 397 do CPP. Assim, o arquivamento pode ocorrer, considerando o princípio da obrigatoriedade da ação penal, em caso de ausência de pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; falta de justa causa – ou seja, falta de indícios de autoria e materialidade –; atipicidade; excludente da ilicitude; excludente da culpabilidade, salvo inimputabilidade ou causa extintiva da punibilidade. Formas de arquiVamento A regra geral – e prevista no CPP – é que o arquivamento do inquérito ocorra de forma direta. O art. 28, do CPP, com a redação dada pela Lei n. 13.964/2019, dispõe que “ordenado o arquivamento”, ou seja, há determinação expressa de arquivamento. Doutrinariamente, menciona-se o “arquivamento implícito do inquérito”, que ocorreria quan- do, havendo mais de um crime ou mais de um réu, o promotor denuncia apenas por um crime ou denuncia apenas um réu. Ocorre que, por força da indivisibilidade da ação penal pública, o MP a qualquer momento pode aditar a denúncia para inserir o corréu ou o outro crime, desde que dentro do prazo pres- cricional. Dessa forma, o arquivamento implícito não é admitido pelos tribunais superiores. Confira: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ARTIGO 2º DA LEI N. 8.176/1991. CRIME AMBIENTAL E CRIME CONTRA A ORDEM ECONÔMICA. ACÓRDÃO QUE AFASTOU O CRIME POR ENTENDER TER OCORRIDO ARQUIVAMENTO IMPLÍCITO. FUNDA- MENTAÇÃO INIDÔNEA. EMENDATIO LIBELLI. POSSIBILIDADE. REVALORAÇÃO DOS ELE- MENTOS FÁTICO-PROBATÓRIOS. POSSIBILIDADE. INAPLICABILIDADE DA SUM 7/STJ. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 29 de 141www.grancursosonline.com.br Geilza Diniz Inquérito Policial DIREITO PROCESSUAL PENAL I – O entendimento consolidado nesta Corte Superior de Justiça é que “em razão do prin- cípio da indivisibilidade, não se admite arquivamento implícito em crimes de ação penal pública incondicionada...” (AgRg no REsp n. 1.499.292/RS, Quinta Turma, Rel. Min. Rei- naldo Soares da Fonseca, Dje de 23/2/2016). II – No caso em tela, não há surpresa da defesa com a condenação nas penas do art. 2º da Lei n. 8.176/91, pois, apesar de não ter sido capitulado na denúncia, os fatos encon- tram-se narrados na exordial acusatória. Precedentes. III – Conforme orientação remansosa desta Corte, “[n]ão há violação à Súmula 7 desta Corte quando a decisão limita-se a revalorar juridicamente as situações fáticas constantes da sentença e do acórdão recorridos” (AgRg no REsp n. 1.444.666/MT, Sexta Turma Relª. Minª. Maria Thereza de Assis Moura, DJe de 4/8/2014). Agravo regimentaldesprovido. (AgRg no AREsp 1495795/RO, Rel. Ministro LEOPOLDO DE ARRUDA RAPOSO (DESEM- BARGADOR CONVOCADO DO TJ/PE), QUINTA TURMA, julgado em 12/11/2019, DJe 28/11/2019) RECURSO ESPECIAL. DENÚNCIA. ARQUIVAMENTO IMPLÍCITO. ILEGALIDADE. TRÁFICO DE DROGAS PRIVILEGIADO. REDUÇÃO DA PENA. QUANTIDADE E NATUREZA DA DROGA. TERCEIRA FASE DA DOSIMETRIA. POSSIBILIDADE. RECURSO PROVIDO. 1. Este Superior Tribunal de Justiça possui entendimento consolidado no sentido de que, em virtude dos princípios da indisponibilidade e da indivisibilidade da ação penal pública incondicionada, considera-se inadmissível o arquivamento implícito, podendo o Minis- tério Público, até a prolação da sentença condenatória, aditar a denúncia para fazer incluir fatos novos na inicial acusatória. Precedentes. 2. Esta Corte Superior entende que, na dosimetria da pena dos crimes previstos na Lei de Drogas, o juiz deve considerar, com preponderância sobre o previsto no artigo 59 do Esta- tuto Repressivo, a natureza e a quantidade da substância entorpecente, a personalidade e a conduta social do agente, conforme o disposto no artigo 42 da Lei 11.343/2006. 3. Este Sodalício detém o entendimento de que não há impedimento para considerar-se, no crime de tráfico de drogas privilegiado, a quantidade e a natureza da droga para limitar a aplicação da fração redutora prevista no art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006, inexistindo, desse modo, óbice para sua incidência na terceira fase da dosimetria, desde que o men- cionado critério não tenha sido mencionado na fixação da sanção básica. Precedentes. 4. Recurso provido. (REsp 1637447/RJ, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 23/08/2018, DJe 31/08/2018) O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 30 de 141www.grancursosonline.com.br Geilza Diniz Inquérito Policial DIREITO PROCESSUAL PENAL Já o “arquivamento indireto” ocorreria quando o promotor, ao invés de oferecer a denún- cia, requeresse o declínio de competência para outro juízo. Por exemplo: após a conclusão de inquérito para apuração de crime de tráfico de entorpecentes, o promotor entende que não se trata de tráfico, mas sim de uso de entorpecente e requer a remessa dos autos para o juízo que considera competente1. O juiz, por outro lado, entende ser o caso de tráfico e não declina da competência. Nesse caso, haveria um arquivamento indireto, ante a recusa do promotor em oferecer a denúncia. Na realidade, ante uma situação como essa, o juiz deveria aplicar, analogicamente, o art. 28 do CPP, provocando o Procurador-Geral de Justiça para dirimir a questão. O STJ tem alguns importantes entendimentos sobre o tema: CONFLITO DE COMPETÊNCIA. HOMICÍDIO PRATICADO POR POLICIAIS MILITARES DE SERVIÇO CONTRA CIVIL. EXCLUDENTES DE ILICITUDE. VERIFICAÇÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM ESTADUAL. 1. Em conformidade com a Constituição da República (art. 125, § 4º) e com as normas infraconstitucionais que regulam a matéria (art. 9º, parágrafo único, do CPM e art. 82 do CPPM), a competência para processar e julgar policiais militares acusados da prática de crimes dolosos contra a vida é do Tribunal do Júri. 2. Não é conforme ao direito a iniciativa do juiz militar que, em face de pedido do Ministé- rio Público para a declinação de competência para a jurisdição criminal comum, arquiva o IPM, sem a observância do procedimento previsto no art. 397 do CPPM (Decreto-Lei N. 1.002, de 21 de outubro de 1969), em tudo similar ao mecanismo previsto no art. 28 do CPP, que determina a remessa dos autos ao Procurador-Geral em caso de discordância judicial das razões apresentadas pelo órgão de acusação (arquivamento indireto). Precedente. 3. Sob diversa angulação, no restrito exame da competência mínima, não pode o juiz avançar - em sede inquisitorial, ausente a imputação formalizada em denúncia do órgão ministerial - na verificação de causas justificantes da conduta investigada, quando, ante a sua adequação típica, seja possível de plano visualizar a incompetência absoluta da jus- tiça militar, ratione materiae, para o processo e julgamento do caso. 1 TÁVORA, Nestor e ALENCAR, Rosmar. Curso de Direto Processual Penal. 12. Ed. rev e atual. Salvador: Ed. JusPodvm, 2017, pg. 213. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 31 de 141www.grancursosonline.com.br Geilza Diniz Inquérito Policial DIREITO PROCESSUAL PENAL 4. Não se há, outrossim, de conferir grau de imutabilidade a decisão proferida por juízo constitucionalmente incompetente, notadamente porque lançada em fase ainda investi- gativa, onde não há ação e, portanto, não há processo e menos ainda jurisdição, máxime em situação como a versada nos autos, na qual, como destacado, o Ministério Público Militar não pleiteou o arquivamento do inquérito, mas tão somente a sua remessa para o Juízo comum estadual, competente para o exame da causa. 5. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo de Direito da 3ª Vara do Júri de São Paulo - SP. (CC 145.660/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 11/05/2016, REPDJe 19/05/2016, DJe 17/05/2016) PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. POSICIONAMENTO DIVERGENTE ENTRE MINISTÉRIO PÚBLICO E MAGISTRADO. TENTATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DE ARQUIVAR A QUESTÃO EM DETERMINADA ESFERA. ARQUIVAMENTO INDIRETO. APLICAÇÃO ANALÓGICA DO ART. 28 DO CPP. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO. 1. Havendo divergência de posicionamento entre o Ministério Público e o magistrado, no sentido de que o membro do Parquet entendeu que não possuía atribuição para oficiar no feito, requerendo a remessa para outra esfera judicial, e, ao contrário, o magistrado consi- derou-se competente para tal finalidade, opera-se uma tentativa do Ministério Público de arquivar a questão perante a Justiça Castrense, com a consequente remessa dos autos à Justiça Comum Estadual, que deve ser entendida como um arquivamento indireto, a rece- ber, por analogia, o tratamento designado nos artigos 28 do Código de Processo Penal e 397 do Código de Processo Penal Militar. 2. Agravo regimental improvido. (AgRg nos EDcl no REsp 1550432/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 18/02/2016, DJe 29/02/2016) Observemos com atenção o posicionamento da jurisprudência acerca do tema, com a alte- ração do art. 28 do CPP, efetivada com o “pacote anticrime”. Em suma: • Arquivamento direto regra geral, com manifestação expressa pelo arquivamento • Arquivamento implícito quando houver mais de um réu ou mais de um crime e o pro- motor denuncia apenas em relação a parte deles O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 32 de 141www.grancursosonline.com.br Geilza Diniz Inquérito Policial DIREITO PROCESSUAL PENAL • Arquivamento indireto quando o promotor se manifesta pelo declínio de competência e o juiz não concorda Fala-se ainda em “arquivamento originário”, que ocorre quando a promoção do arquivamen- to é feita pelo Procurador-Geral, nas ações em que atue originariamente. Nessa situação, como o relator não pode invocar a aplicação do art. 28, do CPP, não pode recusar o arquivamento, devendo acolher o arquivamento,
Compartilhar