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● Introdução: O pâncreas é um órgão de duas porções: a endócrina, responsável pelo metabo- lismo de carboidratos (insulina e glucagon); e a exócrina, responsável pelas enzimas digestivas (amilase, lipase e tripsina). Sendo assim, a avalia- ção pancreática se subdivide igualmente. ● Pâncreas Exócrino: Quando está doente, a- presenta sinais clínicos não específicos. Por esse motivo, seu diagnóstico parte de vários achados simultâneos em exames físicos, de imagem e testes bioquímicos. ➤ Doença Pancreática Exócrina: Não são in- comuns em cães e gatos, e podem ser processos agudos ou crônicos. ☞ Pancreatite Aguda: É de intensidade variá- vel, apresentando desde edema moderado até necrose pancreática generalizada. Causas: Mecânicas: Refluxo biliar para o ducto pancreático, promovendo a digestão do próprio parênquima visto a presença de tripsina já ativada. Refluxo duodenal de ácidos graxos. Trau- mas aos órgãos internos em casos de quedas, prin- cipalmente de felinos. Infecciosas: promove pan- creatite séptica por bile infectada, geralmente por Escherichia coli. Nutricionais: casos de dietas com excesso de gordura, que exigem alta demanda pancreática. Outras: hipercalcemia em gatos, fa- tores hormonais em ratos, e corticoides em cães. Patofisiologia: Independente da causa, a is- quemia é o fator promotor da pancreatite aguda, ativando o sistema calicreína-cinina. Sendo assim, há ativação da tripsina, que promove dano vas- cular; e da bradicinina, que estimula os fatores ativadores de plaquetas, consequentemente aumentando a permeabilidade vascular e forman- do edema. Diagnóstico Laboratorial: Hemograma: obser- va resposta inflamatória: alterações leucocitárias Medição da Amilase: está aumentada a partir de 12-48h após o dano e se mantém por até 8-14 dias; no entanto não é específica, sendo influenciada pelo intestino, rins (menor perfusão renal gera menor excreção) e útero. Indica pan- creatite quando está muito aumentada em cães (3 a 5x), ou levemente aumentada em gatos; en- quanto que em bovinos e equinos raramente au- menta. Medição da Lipase: é mais exclusiva do pâncreas e mucosa gástrica, estando aumentada em casos de pancreatite, disfunção renal, uso de corticosteroides, e neoplasias. Porém, é pouco útil em gatos, bovinos e equinos. Imunoreatividade da Lipase Pancreática (PLI): é um imunoensaio espécie-específico para cães e gatos, apresentando sensibilidade de 65%- 82% e 54%-100%, respectivamente. É considerado um teste referência nessas espécies. Imunoreatividade da Molécula Similar a Tripsina (TLI): é um imunoensaio espécie-especí- fico para cães e gatos com sensibilidade de 33%- 36% para ambos. A menor sensibilidade é conse- quência do fato da tripsina ser rapidamente inativada por fagocitose e o tripsinogênio ser ex- cretado via renal. ☞ Pancreatite Crônica: Resulta na produção di- minuída de enzimas digestivas (insuficiência pan- creática), promovendo perda de peso, polifagia e esteatorreia. Pode ser causada por repetidas pancreatites agudas, excesso de zinco em dietas para ruminan-tes. Patofisiologia: Hipotripsinemia: é a dimi- nuição da tripsina, ocasionando fezes com fibras proteicas e perda de nitrogênio. Hipolipasemia: é a diminuição da lipase, resultando em fezes gordu- rosas. Diagnóstico Laboratorial: Medição da Lipase e Amilase: ao contrário do observado na pancrea- tite aguda, seus valores estarão diminuídos visto a perda de função exócrina. Exame de Fezes: observa-se gotículas de gordura em coração com Sudan. Além disso, há 2 outros testes para verificar a presença de tripsina: O teste do filme de raio-x utiliza fezes frescas e 3 tubos: um controle (+), com 9 partes de bicarbonato 5% e 1 parte de fe- zes normais; um controle (-), de mesma composição, mas sem as fezes; e um de teste, de mesma composição, mas com 1 parte de fezes teste. Aplica-se, então, em cada tubo, uma tira de filme de raio-x e in- cuba por 1 horas a 37°C ou 2,5 horas a 26°C. Se houver tripsina, a fita será digerida, ficando transparente; portanto o controle (+) apresentará um filme trans- parente, e o controle (-) apresentará um filme escuro. O teste da gelatina é semelhante ao an- terior, sendo o controle (+) composto por 2mL de gelatina 7,5%, 1mL de bicarbonato 5% e 1mL de fezes normais; o controle (-) de mesma composição, mas sem as fezes; e o teste de mesma composição, mas com 1mL de fezes teste. Assim, incuba-se os tubos a 37°C por 1 hora e em seguida leva ao refrigerador por 20 minutos. Se houver tripsina, a gelatina será digerida, ficando líquida; portanto o controle (+) apresen- tará gelatina líquida, e o controle (-) apre- sentará gelatina sólida. Exame de Absorção de Gordura: serve para avaliar a presença de lipase. Utiliza-se 2 animais em jejum mínimo de 12 horas para verificação de amostras de plasma inicialmente límpidos do animal normal e de teste. Então, admi- nistra-se 3mL/kg de óleo de milho por via oral, e espera-se turvação do plasma após 1-2 horas, atestando-se absorção normal de gorduras. Caso o plasma permaneça límpido, é atestando duas condições: ausência de lipase ou má absorção. Para ambos serem idealmente diferenciados, o teste é refeito, dessa vez com a aplicação de pancreatina junto ao óleo de milho. Nesse caso, a insuficiência hepática é atestada a partir da turvação do plasma após 1-2 horas. Se o plasma permanecer límpido, é atestado síndrome de má- absorção. ● Pâncreas Endócrino: Quando está doente, indica interferência no metabolismo da glicose, associado principalmente nos casos de diabetes mellitus. ➤ Diabetes Mellitus Tipo I: É dependente de insulina, visto que há produção insuficiente desta pelo pâncreas. Ocorre principalmente em cães, e está associada ao estro. Seu tratamento consiste na administração exógena de insulina. ➤ Diabetes Mellitus Tipo II: Apresenta níveis de insulina normais, no entanto há redução de receptores periféricos para esta, inibindo sua ação de maneira efetiva. Está associada ao aumento do tecido adiposo, e ocorre geralmente em cães velhos e obesos. Seu tratamento é baseado em dieta hipoglicemiante. ➤ Diagnóstico: Urinálise: apresenta glicosúria quando há acúmulo de glicose sérica, indicando alteração insulínica. Dosagem Sérica de Glicose: deve ser feita com jejum mínimo de 12 horas. Se houver hiperglicemia é indicativo de diabetes, choque, pancreatite ou anestesia. Se houver hipoglicemia é indicativo de tumores pancreáticos, acetonemia em vacas leiteiras ou ovelhas gestantes, e hipo- glicemia dos leitões. Dosagem de Colesterol: Se houver hipercolesterolemia é indicativo de diabetes, alimentação rica em gorduras, hipotireoidismo, icterícia obstrutiva, pancreatite, doença renal crônica (hipoalbuminemia) e hepatopatias (hipoalbuminemia). Se houver hipocolesterolemia é indicativo de hepatites graves, hipertireoidismo, caquexias e anemias graves. Dosagem de Proteínas Glicosiladas: São moléculas de glicose irreversivelmente ligadas a proteínas, indicando o tempo de hiperglicemia. A hemoglobina glicolisada (HbAlc) apresenta tempo de meia-vida de 60 dias em cães e 40 dias em gatos. É importante considerar anemias e policite- mias para evitar erros. A frutosamina (FrAm) é a mais utilizada na medicina veterinária, diferenciando diabetes mellitus da hiperglicemia induzida por representar as proteínas plasmáticas (principal-mente albumina). Sua meia-vida é de 2- 3 semanas (7-9 dias para albumina). É importante considerar hipoproteinemias e hipoalbuminemias. Teste de Tolerância a Glicose: É utilizado para confirmação de diagnóstico, grau do processo e o tipo de diabetes. Nele, administra-se glicose 50% na dose de 0,5g/kg por via endo- venosa e então avalia-se os níveis séricos, que devem retornar ao normal em 60-90 minutos. Está em desuso, visto que pode promover piora na saúde do animal.
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