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RPro_n 247 04

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2017	-	03	-	03
Revista	de	Processo
2015
REPRO	VOL.	247	(SETEMBRO	2015)
TEORIA	GERAL	DO	PROCESSO	E	PROCESSO	DE	CONHECIMENTO
Teoria	Geral	do	Processo	e	Processo	de	Conhecimento
1.	O	novo	Código	de	Processo	Civil	brasileiro	e	a	ordem
processual	civil	vigente
The	new	Brazilian	Civil	Procedure	Code	and	the	current
Brazilian	procedural	law
(Autor)
CANDIDO	RANGEL	DINAMARCO
Doutor	em	Direito	pela	Universidade	de	São	Paulo.	Professor	titular	do	curso	de	Pós-Graduação	em	Direito	da
Faculdade	de	Direito	da	Universidade	de	São	Paulo.
Sumário:
1.	Esclarecimento	ao	leitor
2.	Em	busca	do	modelo	processual	civil	brasileiro:	o	papel	do	novo	Código	de	Processo	Civil
3.	Antecedentes:	entre	o	Código	de	Processo	Civil	de	1939	e	o	de	1973:	permanência	do	mesmo	modelo
processual
4.	Alterações	ulteriores	no	modelo	processual	civil	brasileiro:	as	reformas	e	a	Lei	do	Cumprimento	de
Sentença
5.	As	ondas	renovatórias	e	a	legislação	extravagante:	pequenas	causas,	meio	ambiente	e	consumidor	–	o
processo	coletivo
6.	As	origens	do	novo	Código	–	a	Comissão	de	Juristas	e	o	anteprojeto
7.	Os	propósitos	explícitos	da	Comissão	indicados	na	Exposição	de	Motivos	e	as	linhas	fundamentais	das
inovações	propostas
8.	A	obcecada	busca	da	celeridade
9.	Eliminação	de	incidentes	e	casos	de	suspensão	do	processo
10.	Flexibilização	do	procedimento
11.	Cooperação,	diálogo,	arbitragem,	autocomposição	–	o	novo	modelo	processual
12.	A	estrutura	do	novo	Código
13.	Impropriedades	sistemáticas	na	estrutura	do	novo	Código
14.	Institutos	suprimidos,	institutos	acrescentados,	institutos	reformados	e	dúvidas	resolvidas
15.	Supressões
16.	Institutos	e	técnicas	acrescidos
17.	Novas	conceituações	e	nova	disciplina	de	certos	institutos
18.	Esclarecimento	de	dúvidas	e	questões	controvertidas
19.	Linguagem:	redação	aprimorada
20.	Linguagem:	dificuldades,	imperfeições	e	opções	do	legislador
21.	Legem	habemus
Área	do	Direito:	Civil
Resumo:
Este	artigo	trata	dos	aspectos	gerais	do	novo	Código	de	Processo	Civil	brasileiro,	muitas	vezes	à	luz	das	regras
ainda	 em	 vigor,	 do	 Código	 de	 Processo	 Civil	 de	 1973.	 As	 principais	 novidades	 do	 Código	 são	 integralmente
abordadas.
Abstract:
This	article	deals	with	general	aspects	of	the	new	Brazilian	procedure	Code	sometimes	in	the	light	of	the	rules
of	the	CPC	which	is	currently	in	effect.	The	mainly	aspects	of	the	new	code	are	practically	fully	covered.
Palavra	Chave:	Código	de	Processo	Civil	brasileiro	-	Direito	processual	civil	brasileiro	-	Novo	Código	de
Processo	Civil	-	CPC	brasileiro	de	2015.
Keywords:	Brazilian	Civil	Procedural	Law	-	New	Civil	Procedure	Code	-	Brazilian	Civil	Procedure	Code	of
2015.
Recebido	em:	21.07.2015
Aprovado	em:	28.08.2015
1.	Esclarecimento	ao	leitor
A	elaboração	do	presente	estudo	foi	motivada	pelo	duplo	objetivo	de	servir	aos	neófitos	como	um	guia	para	o
entendimento	global	e	sistemático	do	atual	processo	civil	brasileiro	e,	aos	profissionais	e	estudiosos	experientes,
como	 uma	 ponte	 de	 passagem	 destinada	 a	 bem	 compreender	 as	 alterações	 trazidas	 à	 ordem	 processual
brasileira	 pelo	 novo	 Código	 de	 Processo	 Civil.	 Dada	 essa	 finalidade,	 nenhum	 dos	 temas	 aqui	 versados	 vem
desenvolvido	com	a	profundidade	ou	possível	 inteireza	própria	a	um	compêndio,	porque	o	que	se	visa	nada
mais	 é	 que	 proporcionar	 aos	 leitores	 o	 entendimento	 sistemático	 da	 vigente	 ordem	 processual	 brasileira,
presumivelmente	útil	para	a	orientação	de	cada	um	com	vista	ao	exercício	profissional	com	a	consciência	do
espírito	da	nova	legislação,	dos	pontos	em	que	novos	regramentos	foram	implantados	em	lugar	dos	antigos,	das
novidades	 acrescentadas	 ao	 sistema,	 dos	 institutos	 que	 desapareceram.	 Este	 estudo	 foi	 elaborado	 com	 o
objetivo	de	constituir	um	capítulo	inicial	da	oitava	edição	do	livro	Instituições	de	direito	processual	civil,	em	via
de	 publicação,	 mas	 entendo	 que	 sua	 publicação	 em	 revista	 poderá	 também	 ter	 alguma	 utilidade	 para	 os
estudiosos	do	processo.
“Tenho	o	prazer	de	 lembrar	que	uma	empreitada	como	esta	foi	por	mim	enfrentada	quando	da	passagem	do
Código	de	Processo	Civil	de	1939	ao	de	1973,	ocasião	em	que	produzi	um	pequeno	livro	formado	por	capítulos
referentes	 às	mais	 importantes	 inovações	 então	 aportadas	 ao	 processo	 civil	 deste	 País	 (cf.	Direito	processual
civil,	São	Paulo:	Bushatsky,	1975).	Agora	a	história	se	repete,	quando	pela	segunda	vez	me	atrevo	a	construir
uma	ponte	de	passagem	entre	uma	e	outra	ordem	processual,	com	os	mesmos	objetivos	que	me	motivaram	há
quarenta	anos.”
2.	Em	busca	do	modelo	processual	civil	brasileiro:	o	papel	do	novo	Código	de	Processo	Civil
Para	a	correta	compreensão	sistemática	da	ordem	processual	civil	brasileira	a	partir	do	advento	do	Código	de
Processo	Civil	de	2015	é	indispensável	bem	definir	os	fundamentos	institucionais	e	estruturais	dele	próprio	e	do
universo	de	normas	processuais	em	que	se	insere,	incluindo	o	disposto	na	Constituição	Federal	e	em	certas	leis
extravagantes	 de	 direta	 relevância	 para	 o	 processo	 civil.	 O	 processo	 civil	 de	 um	 país	 não	 é	 regido
exclusivamente	 por	 seu	 Código	 mas	 também	 por	 superiores	 normas	 constitucionais	 inerentes	 ao	 direito
processual	constitucional,	por	 leis	extravagantes	de	direito	processual	e	por	outras	que,	conquanto	centradas
em	 realidades	 e	 institutos	 não	 processuais,	 em	 alguma	 medida	 contêm	 normas	 relativas	 ao	 exercício	 da
jurisdição,	da	ação,	da	defesa	e	do	processo.	São	pois	dois	 conceitos	e	duas	realidades	distintas,	a	do	modelo
contido	no	novo	Código	e	a	do	modelo	vigente	no	processo	civil	brasileiro	como	um	todo.
É	também	necessária	a	consciência	de	que	o	conhecimento	verdadeiramente	científico	de	uma	ordem	jurídica
jamais	 poderá	 prescindir	 da	 identificação	 de	 seus	 elementos	 centrais	 e	 nucleares	 e	 do	 modo	 como	 se
interrelacionam	em	um	verdadeiro	sistema,	 sem	o	que	esse	conhecimento	correria	o	risco	de	um	empirismo
incompatível	 com	 a	 seriedade	 de	 uma	 ciência.	 O	 conhecimento	 do	 sistema	 e	 dessas	 interrelações	 é	 fator
imprescindível	 da	 coerência	 e	 harmonia	 na	 interpretação	 de	 cada	 uma	 das	 normas	 que	 o	 compõem	 e,
consequentemente,	da	segurança	jurídica	indispensável	à	ordem	processual.
3.	Antecedentes:	entre	o	Código	de	Processo	Civil	de	1939	e	o	de	1973:	permanência	do	mesmo
modelo	processual
O	segundo	Código	de	Processo	Civil	nacional,	promulgado	no	ano	de	1973	e	vigente	desde	janeiro	de	1974,	foi
uma	réplica	do	anterior	(o	de	1939),	com	expressivos	aperfeiçoamentos	formais	e	algumas	relevantes	inovações
substanciais,	mas	muito	pouco	para	que	nele	se	pudesse	identificar	um	novo	estilo	de	processo	civil.	O	modelo
processual	que	tínhamos	continuou	praticamente	intacto	no	Código	de	1973	e	intacta	a	estrutura	dos	institutos
do	 processo	 civil	 brasileiro.	 Trouxe	 sim	 algumas	 novidades	 dignas	 de	 nota,	 como	 a	 instituição	 do	 efeito	 da
revelia	e	do	julgamento	antecipado	do	mérito	(arts.	319	e	330),	a	sistematização	das	medidas	cautelares	em	um
Livro	 específico	 (L.	 III,	 arts.	 796	 e	 ss.),	 a	 implantação	 do	 poder	 geral	 de	 cautela	 (art.	 798),	 a	 extensão	 da
admissibilidade	do	agravo	de	instrumento	a	todas	as	decisões	interlocutórias	(art.	522),	uma	nova	disciplina	da
execução	por	título	extrajudicial	com	eliminação	da	antiga	e	superada	ação	executiva	(CPC/1939,	art.	298),	um
linguajar	mais	correto,	uma	severa	 tônica	no	dever	de	 lealdade	etc.	–	mas	 isso	não	bastou	para	que	então	se
considerasse	implantado	neste	País	um	novo	estilo	processual,	ou	um	novo	modelo	processual.	O	processo	civil
vigente	 a	 partir	 do	 ano	 de	 1974	 foi	 na	 prática	 o	 mesmo	 processo	 civil	 do	 Código	 de	 1939,	 com	 alguns
aperfeiçoamentos	técnicos	mas	sem	diferenças	substanciais	quanto	ao	modo	como	o	processo	civil	atua	sobre	a
vida	 dos	 direitos.	 A	morosidade	 na	 oferta	 e	 efetivação	 da	 tutela	 jurisdicional,	 sem	 uma	 corajosa	 ênfase	 aos
institutos	relacionados	com	a	tutela	 jurisdicional	diferenciadae	sem	a	oferta	de	 instrumentos	eficazes	para	a
luta	contra	o	tempo-inimigo,	prosseguiu	como	dantes	e	a	prática	mostrou	como	o	processo	civil	brasileiro	ainda
continuava	 refém	 de	 formas	 inúteis	 e	 de	 uma	 insustentável	 proliferação	 de	 recursos,	 que	 atenta	 contra	 a
promessa	constitucional	de	um	processo	realizado	em	tempo	razoável	(Const.,	art.	5.º,	LXVIII).
Essa	 realidade	 foi	 àquele	 tempo	 favorecida	 pelo	 estado	 então	 vigente	 dos	 estudos	 sobre	 as	 projeções
processuais	 das	 garantias	 constitucionais,	 ou	 seja,	 pela	 ausência	 de	 maior	 interesse	 dos	 processualistas
brasileiros	 daquele	 tempo	 pelo	 método	 que	 hoje	 denominamos	 direito	 processual	 constitucional.	 Foi	 só	 na
década	dos	 anos	 setenta,	 quando	o	 então	novo	Código	 já	 estava	 em	vigor,	 que	 começaram	a	 se	 avolumar	as
investigações	 mais	 profundas	 acerca	 da	 tutela	 constitucional	 do	 processo,	 representada	 pelos	 princípios	 e
garantias	 estabelecidos	 na	 Constituição	 Federal.	 O	 próprio	 autor	 do	 Anteprojeto,	 que	 era	 um	 processualista
tradicional	 e	 claramente	voltado	ao	aprimoramento	das	 técnicas	processuais,	não	ostentava	o	 empenho,	que
então	passou	a	envolver	as	subsequentes	gerações,	em	buscar	no	patamar	constitucional	os	fundamentos	mais
profundos	 das	 boas	 técnicas	 do	 processo	 e	 o	 guia	 mais	 legítimo	 e	 mais	 consistente	 para	 a	 concepção	 e
interpretação	dos	preceitos	 infraconstitucionais.	Não	havia,	como	hoje,	a	clara	percepção	do	 imenso	valor	da
garantia	 constitucional	 do	 contraditório,	 não	 se	 tinha	 familiaridade	 alguma	 com	a	 garantia	 e	 com	o	 próprio
conceito	do	devido	processo	legal,	não	se	falava	em	direito	ao	processo,	não	era	moda	discorrer	sobre	a	garantia
da	inafastabilidade	do	controle	jurisdicional	e	sequer	havia	ingressado	em	nosso	vocabulário	jurídico	de	todo
dia	a	locução	acesso	à	Justiça.	Não	se	tinha	consciência	da	instrumentalidade	do	processo,	como	abertura	para	o
reconhecimento	 dos	 escopos	 metajurídicos	 da	 jurisdição	 (especialmente	 seus	 escopos	 sociais)	 e	 dos
compromissos	do	juiz	com	a	Justiça	e	com	as	realidades	sociais	e	políticas	subjacentes	aos	conflitos.
“Não	é	que	o	interesse	do	processualista	daqueles	tempos	pelos	fundamentos	constitucionais	e	sócio-políticos	da
ordem	processual	 fosse	nenhum.	O	 clássico	 João	Mendes	 Jr.,	 escrevendo	nos	 albores	do	 século	XX,	 já	 àquele
tempo	preocupara-se	com	as	raízes	constitucionais	do	direito	processual,	lançando	bases	para	a	compreensão
do	 due	 process	 of	 law,	 que	 hoje	 nos	 é	 familiar.	 Disse,	 entre	 outras	 afirmações	 de	 perene	 atualidade,	 que	 o
processo	 ‘é	meio,	 não	 só	 para	 chegar	 ao	 fim	 próximo,	 que	 é	 o	 julgamento,	 como	 a	 um	 fim	 remoto,	 que	 é	 a
segurança	 constitucional	 dos	 direitos	 e	 da	 execução	 das	 leis’.	 Também	 José	 Frederico	 Marques,	 jurista	 de
fecundíssima	versatilidade,	mais	de	uma	vez	dedicou-se	a	escritos	de	fundo	processual-constitucional,	como	os
ensaios	‘Ação	penal	popular’	e	‘Os	princípios	constitucionais	da	Justiça	penal’	–	no	qual	disse	incisivamente	que
‘a	Lei	Maior	contém	em	si	os	fundamentos	institucionais	e	políticos	de	toda	a	legislação	ordinária’	e	que	 ‘nesse
conjunto	de	normas	 e	preceitos	 agasalhados	no	Texto	Constitucional	 é	que	a	 ciência	processual	 vai	haurir	 a
seiva	de	que	se	alimentam	seus	postulados	e	regras	fundamentais’.	Mas	foi	só	no	ano	de	1974	que,	em	tese	para
concurso	à	 livre-docência	de	processo	civil	na	Faculdade	do	Largo	de	São	Francisco,	Ada	Pellegrini	Grinover
deu	um	audacioso	e	definitivo	passo	no	sentido	da	absorção	das	grandes	balizas	constitucionais	pela	ciência	dos
processualistas.	 Pode-se	 dizer,	 sem	 exagero,	 que	 sua	 tese	 As	 garantias	 constitucionais	 do	 direito	 de	 ação
constitui	 o	 marco	 de	 uma	 mudança	 de	 rumo	 da	 ciência	 processual	 brasileira.	 Já	 nos	 anos	 oitenta	 Kazuo
Watanabe	discorreu,	também	em	tese	acadêmica,	sobre	a	garantia	constitucional	da	inafastabilidade	da	tutela
jurisdicional	 (Controle	 jurisdicional	 e	 mandado	 de	 segurança	 contra	 atos	 judiciais).	 Só	 a	 partir	 daí	 vieram	 a
proliferar	na	doutrina	brasileira	os	estudos	e	obras	com	o	foco	no	direito	processual	constitucional”.
Ora,	 naquele	 quadro	 metodológico	 de	 então	 era	 natural	 que,	 à	 míngua	 de	 grandes	 inovações	 no	 plano
processual-constitucional	 e	 sobretudo	 na	 cultura	 e	 no	 pensamento	 dos	 estudiosos	 brasileiros	 do	 processo,
também	a	 ordem	 legal	 infraconstitucional	 se	 acomodasse	nos	 conceitos	 e	 nas	 estruturas	 já	 praticadas	 antes,
sem	o	 estímulo	 de	 uma	mola	 propulsora	 que	 impelisse	 o	 legislador	 e	 os	 operadores	 do	 processo	 à	 busca	 de
soluções	 diferentes.	 O	 tipo	 de	 processo	 de	 antes	 prosseguiu	 vivo	 e	 vigente	 apesar	 da	 chegada	 do	 Código	 de
Processo	Civil	de	1973.	Não	passamos	portanto	de	um	modelo	a	outro.
4.	Alterações	ulteriores	no	modelo	processual	civil	brasileiro:	as	reformas	e	a	Lei	do
Cumprimento	de	Sentença
Relevantes	e	profundas	alterações	substanciais	no	sistema	jurídico-positivo	do	Código	de	Processo	Civil	de	1973
principiaram	com	as	duas	reformas	do	Código	de	Processo	Civil,	operadas	a	partir	do	ano	de	1994	por	iniciativa
de	dois	destacados	integrantes	do	STJ	–	o	Min.	Sálvio	de	Figueiredo	Teixeira	e	o	Min.	Athos	Gusmão	Carneiro	–
os	quais	propuseram	à	nação	mais	de	uma	dezena	de	anteprojetos	destinados	a	promover,	como	diziam	eles
próprios,	 pontuais	 minirreformas	 do	 processo	 civil	 brasileiro	 (ou	 uma	 guerra	 de	 guerrilhas,	 como	 também
disseram	eles).	O	mais	visível	fio	condutor	dessas	reformas	foi	o	empenho	em	acelerar	a	tutela	jurisdicional	a
partir	de	uma	série	de	diagnósticos	nos	quais	se	evidenciava	que	o	principal	dos	males	da	ordem	processual
então	vigente	consistia	na	morosidade	do	sistema.	Partiram	de	uma	nova	leitura	do	dispositivo	constitucional
antes	qualificado	como	mera	garantia	do	direito	de	ação	(Const.,	art.	5.º,	XXXV),	no	qual	já	era	possível	entrever
a	promessa	de	uma	tutela	jurisdicional	capaz	de	conduzir	à	efetividade	do	processo	–	tema	então	em	moda	na
doutrina	internacional	e	na	pauta	de	grandiosos	congressos	internacionais	sob	a	liderança	do	idealista	Mauro
Cappelletti.	Chegava-se	à	consciência	de	que	do	sistema	processual	é	lícito	exigir	que	seja	capaz	de	oferecer	uma
tutela	 jurisdicional	não	só	efetiva	em	seus	resultados,	como	também	adequada,	fazendo	justiça,	e	 tempestiva,
chegando	em	tempo	para	realmente	solucionar	os	conflitos	com	utilidade.	Ao	trinômio	efetividade-adequação-
tempestividade	 deu	 especial	 relevância	 o	 pensador	 Kazuo	Watanabe,	 já	 diante	 da	 conclamação,	 contida	 no
Pacto	de	San	José	da	Costa	Rica,	à	oferta	de	tutelas	jurisdicionais	em	tempo	razoável	(promessa	hoje	explicitada
no	art.	5.º,	LXXVIII,	da	CF).
Foi	sob	essa	influência	e	aquela	liderança	que	sobrevieram	principalmente	dois	grupos	de	leis	reformadoras	do
Código	de	Processo	Civil,	nos	anos	de	1994-1995	e	2002,	nos	quais	 se	evidenciava	a	enorme	preocupação	em
instituir	 mecanismos	 destinados	 a	 propiciar	 a	 consecução	 desses	 objetivos	 constitucionalmente	 desejados.
Quatro	 ordens	 de	 dispositivos	 de	 primeira	 grandeza	 sistemática	 ingressaram	no	 Código	 de	 Processo	 Civil	 de
1973	por	obra	dessas	reformas,	com	vista	a	acelerar	a	tutela	jurisdicional,	a	saber:	(a)	aquele	que	alargou	portas
à	antecipação	da	tutela	jurisdicional	ao	instituir	um	verdadeiro	poder	geral	de	antecipação	à	disposição	do	juiz
(art.	 273,	 caput	e	 parágrafos,	 red.	 Lei	 8.952,	 de	 13.12.1994);	 (b)	 aqueles	 que	 instituíram	 a	 chamada	 execução
direta	das	obrigações	de	fazer	ou	não	fazer	(art.	461,	red.	Lei	8.952,	de	13.12.1994)	e	também	das	obrigações	de
entregar	coisa	certa	(art.	461-A,	red.	Lei	10.444,	de	07.05.2002);	(c)	aquele	que	deu	nova	regência	à	interposição
do	agravo	de	instrumento,	o	qual	passou	a	ser	apresentado	diretamente	ao	tribunal	competente	e	não	mais	ao
Juízo	a	quo,	como	sempre	fora	(art.	524,	red.	Lei	9.139,	de	30.11.1995);	e	(d)	aquele	queeliminou	a	liquidação	por
cálculo	do	contador,	mandando	que,	quando	a	determinação	do	quantum	debeatur	depender	exclusivamente	de
contas	aritméticas,	o	próprio	credor	os	faça	e	deduza	a	petição	inicial	executiva	acompanhada	de	uma	memória
atualizada	(arts.	604	e	614,	red.	Leis	8.898,	de	29.06.1994	e	8.953,	de	13.12.1994).
“Tais	 inovações	 foram	 prontamente	 assimiladas	 na	 cultura	 dos	 operadores	 do	 direito	 processual	 (juízes,
tribunais,	advogados)	e	depois	vieram	a	ser	acatadas	no	Código	de	Processo	Civil	de	2015.	Talvez	a	de	maior
impacto	 na	 vida	 concreta	 dos	 processos	 em	 juízo	 tenha	 sido	 aquela	 referente	 à	 antecipação	 da	 tutela
jurisdicional	 (CPC/1973,	 art.	 273	 –	 CPC/2015,	 art.	 294,	 par.	 etc.),	 que	 vem	 sendo	 manipulada	 com	 grande
intensidade	e	muita	frequência	–	e	talvez	até	com	certo	exagero	da	parte	de	advogados,	promotores	de	justiça,
juízes	e	tribunais”.
O	que	houve	de	comum	em	todas	essas	e	outras	inovações	trazidas	pelas	reformas	foi	o	empenho	em	acelerar	a
oferta	 de	 resultados	 úteis	 do	 processo	 em	 menor	 tempo,	 como	 culto	 ao	 objetivo	 de	 propiciar	 tutelas
jurisdicionais	 tempestivas	 mediante	 um	 combate	 aos	 riscos	 e	 possíveis	 males	 causados	 pelo	 tempo-inimigo
(Francesco	Carnelutti).
A	 busca	 da	 aceleração	 processual	mediante	 repúdio	 ao	 formalismo	 e	 à	 exigência	 de	 providências	 inúteis	 ou
desnecessárias	tomou	ainda	mais	força	e	vigor	com	a	edição	da	chamada	Lei	do	Cumprimento	de	Sentença,	do
ano	de	2005	(Lei	11.232,	de	12.12.2005).	Aí,	sim,	ficou	significativamente	alterado	o	modelo	processual	até	então
vigente	 no	 direito	 brasileiro.	 Sempre	 com	vista	 à	 aceleração,	 o	 legislador	 optou	 por	 suprimir	 o	 dualismo	 de
processos	tradicionalmente	vigente	no	Brasil	e	na	generalidade	dos	ordenamentos	jurídicos	mais	avançados	do
mundo	 latino,	 para	 instituir	 um	processo	 sincrético	 no	 qual	 a	 decisão	 da	 causa	 e	 a	 efetivação	 do	 julgado	 se
processem	em	duas	 fases	do	mesmo	processo,	sem	a	separação	entre	um	processo	de	conhecimento	e	um	de
execução,	como	sempre	fora.	A	supressão	do	dualismo	cognição-execução,	com	a	implantação	de	um	processo
sincrético,	constituiu	um	severo	golpe	no	modelo	até	então	vigente.
5.	As	ondas	renovatórias	e	a	legislação	extravagante:	pequenas	causas,	meio	ambiente	e
consumidor	–– 	o	processo	coletivo
Naquele	momento	 histórico	 e	 notadamente	 na	 passagem	 dos	 anos	 setenta	 aos	 oitenta	 efervescia	 a	 doutrina
internacional	em	 torno	da	efetividade	do	processo,	que	 foi	 tema	de	congressos	 sob	a	 liderança	 inconteste	de
Mauro	Cappelletti	e	participação	de	processualistas	de	diversos	países,	entre	os	quais	Vittorio	Denti,	Vincenzo
Vigoriti,	 Luigi	 Paolo	 Comoglio,	 Michele	 Taruffo,	 Augusto	 Mario	 Morello,	 Roberto	 Omar	 Berizonce,	 Enrique
Vescovi,	 Adolfo	 Gelsi	 Bidart,	 José	 Carlos	 Barbosa	 Moreira,	 Ada	 Pellegrini	 Grinover	 etc.	 É	 conhecidíssimo	 o
estudo	 de	 largo	 espectro	 conduzido	 pelo	 primeiro	 e	 refletido	 em	 sua	monumental	 obra	Access	 to	 justice	–	 a
worldwide	movement	to	make	rights	effective	–	a	general	report	(em	cooperação	com	Bryant	Garth),	que	correu	o
mundo	 e	 exerceu	 influência	 sobre	 estudiosos	 de	 todos	 os	 lugares,	 inclusive	 brasileiros.	 Detectou-se	 aí	 uma
profunda	e	generalizada	tendência	em	prol	da	universalização	da	tutela	jurisdicional	mediante	a	eliminação	de
bolsões	de	conflitos	não	 jurisdicionalizáveis	e	busca	de	maior	aderência	da	ordem	processual	às	realidades	e
aos	anseios	da	 sociedade	moderna,	assim	como	aos	 seus	problemas	e	 seus	valores,	 com	reflexo	nas	próprias
instituições	 políticas.	 As	 novas	 tendências	 do	 direito	 processual	 positivo	 constituem	 projeção	 das	 novas
tendências	 culturais	 e	 estruturais	 das	 nações	 e	 das	 exigências	 políticas,	 econômicas	 e	 psicossociais	 que	 daí
emergem.
“No	 plano	 do	 processo	 civil	 essas	 tendências	 cristalizaram-se	 nas	 três	 conhecidas	 ondas	 renovatórias	 assim
identificadas	por	Cappelletti:	(a)	movimento	em	prol	da	assistência	judiciária,	com	vista	a	superar	os	obstáculos
que	 a	 pobreza	 opõe	 ao	 ingresso	 em	 juízo	 e	 acesso	 à	 justiça;	 (b)	 reformas	necessárias	 à	 tutela	 dos	 interesses
transindividuais,	especialmente	dos	respeitantes	às	comunidades	de	consumidores	e	à	higidez	do	ambiente;	e
(c)	implantação	de	múltiplas	inovações	no	interior	do	processo,	visando	a	uma	espécie	de	Justiça	coexistencial
mais	acessível	e	participativa,	com	forte	tendência	à	absorção	dos	valores	inerentes	aos	princípios	da	igualdade,
do	contraditório,	do	devido	processo	legal	e,	numa	palavra,	a	um	processo	mais	justo.”
Essas	 tendências,	 ou	 ondas,	 foram	 bem	 captadas	 pela	 doutrina	 brasileira	 e	 corporificadas	 na	 legislação
processual	 extravagante	 editada	 àquele	 tempo,	 a	 principiar	 com	 a	 Lei	 das	 Pequenas	 Causas	 (Lei	 7.244,	 de
07.11.1984), 1	 passando	 pelas	 disposições	 processuais	 contidas	 na	 Lei	 da	 Ação	 Civil	 Pública	 (Lei	 7.347,	 de
24.07.1985)	e	chegando	ao	Código	de	Defesa	do	Consumidor	(Lei	8.078,	de	11.09.1990).
“A	Lei	da	Ação	Civil	Pública,	nesse	ponto	seguida	pelo	Código	de	Defesa	do	Consumidor,	foi	um	gigantesco	passo
no	 sentido	 da	 coletivização	 da	 tutela	 jurisdicional,	mediante	 a	 outorga	 de	 legitimidade	 a	 diversas	 entidades
(Ministério	Público,	associações	etc.)	para	a	propositura	de	demandas	no	interesse	de	toda	uma	classe,	categoria
ou	 grupo	 de	 indivíduos.	 Essas	 Leis	 foram	 responsáveis	 pela	 implantação	 de	 uma	 visão	macroprocessual	 do
exercício	 da	 jurisdição.	 Suas	 preocupações	 principais	 não	 se	 voltam	 mais	 ao	 processo,	 tomado	 como	 ente
isolado,	 mas	 à	 totalidade	 de	 que	 ele	 é	 parte	 e	 ao	 sistema	 público	 de	 distribuição	 de	 tutela	 jurisdicional,
composto	de	enorme	massa	de	processos	e	de	recursos	de	interesse	geral”	 (André	de	Albuquerque	Cavalcanti
Abbud).
6.	As	origens	do	novo	Código	–– 	a	Comissão	de	Juristas	e	o	anteprojeto
Estando	 assim	 as	 coisas,	 no	 ano	 de	 2009	 o	 então	 Presidente	 do	 Senado	 Federal,	 Sen.	 José	 Sarney,	 tomou	 a
iniciativa	de	promover	uma	renovação	no	processo	civil	brasileiro,	constituindo	uma	comissão	encarregada	de,
em	 cento	 e	 oitenta	 dias,	 redigir	 um	 anteprojeto	 de	 Código	 de	 Processo	 Civil	 (Ato	 379,	 de	 setembro	 de	 2009,
publicado	em	outubro	do	mesmo	ano).	Essa	Comissão	de	 Juristas	 foi	 integrada	por	onze	membros,	dos	quais
sete	processualistas	bastante	conhecidos,	mais	quatro	profissionais	do	direito.	Ela	foi	constituída	já	pelo	mesmo
ato	que	deu	início	ao	iter	de	criação	de	um	novo	Código	e,	apesar	da	exiguidade	do	tempo,	logrou	apresentar
seu	anteprojeto	no	prazo	estipulado.
“Os	processualistas	integrantes	dessa	Comissão	foram	os	Professores	Luiz	Fux,	Professor	titular	da	Universidade
do	Estado	do	Rio	 de	 Janeiro	 e	 àquele	 tempo	Ministro	do	 STJ	 (presidente	 da	Comissão);	 Teresa	Arruda	Alvim
Wambier,	 livre-docente	 da	 Pontifícia	 Universidade	 Católica	 de	 São	 Paulo	 (coordenadora);	 Adroaldo	 Furtado
Fabrício,	Professor	titular	da	Universidade	Federal	do	Rio	Grande	do	Sul;	Humberto	Theodoro	Júnior,	Professor
titular	 da	 Universidade	 Federal	 de	 Minas	 Gerais;	 José	 Miguel	 Garcia	 Medina,	 Professor	 da	 Universidade
Estadual	de	Maringá;	José	Roberto	dos	Santos	Bedaque,	Professor	titular	da	Universidade	de	São	Paulo;	e	Paulo
Cezar	 Pinheiro	 Carneiro,	 Professor	 titular	 da	Universidade	 do	 Estado	 do	 Rio	 de	 Janeiro.	Os	 demais,	 entre	 os
quais	alguns	são	pós-graduados,	foram	os	Drs.	Bruno	Dantas,	Elpídio	Donizete	Nunes,	Jansen	Fialho	de	Almeida
e	Marcus	Vinicius	Furtado	Coelho.”
7.	Os	propósitos	explícitos	da	Comissão	indicados	na	Exposição	de	Motivos	e	as	linhas
fundamentais	das	inovações	propostas
Na	 justificativa	 do	 anteprojeto	 apresentado	 à	 Presidência	 do	 Senado	 Federal,	 o	 presidente	 da	 Comissão	 de
Juristas	 que	 o	 elaborou,	 Min.	 Luiz	 Fux,	 tratou	 desde	 logo	 de	 enunciar	 as	 linhas	 fundamentais	 do	 Código
proposto,	nas	quais	se	consubstanciamos	propósitos	da	reforma	então	desenhada.	Como	ali	está	ressaltado	e
exposto	de	modo	sistemático,	“os	trabalhos	da	Comissão	orientaram-se	precipuamente	por	cinco	objetivos”:	(a)	o
da	harmonia	 com	a	 Constituição	 Federal;	 (b)	 o	 da	 fidelidade	 ao	 contexto	 social	mediante	 a	maior	 aderência
possível	 às	 realidades	 subjacentes	 ao	 processo;	 (c)	 o	 da	 simplificação	 dos	 procedimentos,	 eliminando
formalidades	 ou	 atos	 desnecessários	 ou	 inúteis;	 (d)	 o	 do	 maior	 rendimento	 possível,	 para	 otimização	 dos
resultados	de	“cada	processo	em	si	mesmo	considerado”;	 e	 (e)	o	de	 “imprimir	maior	grau	de	organicidade	ao
sistema,	 dando-lhe	 assim	 maior	 coesão”.	 A	 esses	 objetivos	 centrais,	 que	 constituem	 o	 núcleo	 essencial
anunciado	 pelos	 reformadores,	 é	 lícito	 acrescentar	 duas	 outras	 linhas	 de	 largo	 espectro	 e	muita	 relevância
sistemática,	que	são	(f)	a	adoção	de	um	modelo	colaboracionista,	com	a	explícita	e	ampla	imposição	às	partes	do
dever	de	 cooperação	de	 cada	uma	delas	 com	o	 juiz	 (art.	 6.º)	 e,	 ao	próprio	 juiz,	 do	dever	de	dialogar	 com	as
partes	(arts.	9.º,	10	etc.); 2	e	(g)	a	nova	estrutura	do	próprio	Código	de	Processo	Civil.
“O	projeto	de	 lei	 assim	 composto	 foi	 aprovado	no	 Senado	Federal	 com	algumas	 alterações	 e,	 na	Câmara	dos
Deputados,	as	muitas	alterações	ali	propostas	deram	corpo	a	um	substitutivo	da	lavra	do	lúcido	e	aplicadíssimo
relator,	Dep.	Paulo	Teixeira,	que	para	tanto	contou	com	o	apoio	de	um	grupo	alentado	de	colaboradores.	Depois,
aprovado	o	substitutivo	na	Câmara	dos	Deputados,	o	texto	foi	ao	Senado	Federal,	que	o	aprovou	com	bastante
celeridade,	sobrevindo	a	sanção	pela	Presidência	da	República	aos	16.03.2015,	com	alguns	vetos,	convertendo-se
na	Lei	13.105,	daquela	data	–	que	é	o	novo	Código	de	Processo	Civil.	Seu	art.	1.045	estabelece	uma	vacatio	legis
de	um	ano,	para	que	esse	Código	entre	em	vigor	no	dia	16.03.2016”.
8.	A	obcecada	busca	da	celeridade
Tendo	 em	 vista	 esse	 quadro	 é	 imperioso	 entrever	 no	 novo	 Código	 de	 Processo	 Civil	 uma	 linha	 de	 primeira
grandeza,	consistente	no	empenho	pela	aceleração.	Esse	afã	já	se	manifesta	de	modo	explícito	em	um	daqueles
propósitos	anunciados	pela	Comissão	(o	da	“simplificação	dos	procedimentos,	eliminando	formalidades	ou	atos
desnecessários	ou	inúteis”)	e	está	presente	ao	longo	de	todo	o	Código,	na	disciplina	de	muitos	de	seus	institutos	–
como	 a	 nova	 disciplina	 das	 medidas	 provisórias	 (incluindo	 a	 tutela	 de	 urgência	 e	 a	 da	 evidência),	 a
estabilização	das	tutelas	antecipadas	(art.	304),	a	eliminação	das	exceções	rituais	(arts.	336-337),	confinamento
da	admissibilidade	do	agravo	de	instrumento	a	certas	hipóteses	tipificadas	em	um	numerus	clausus	(art.	1.015)
etc.	Essa	é	a	mesma	luz	que	norteara	os	reformadores	de	1994,	1995	e	2002	(a	Reforma	do	Código	de	Processo
Civil	e	a	Reforma	da	Reforma)	e	também	a	edição	da	Lei	do	Cumprimento	de	Sentença,	a	qual	muito	fizera	com
o	intuito	de	remover	barreiras	 tradicionalmente	antepostas	à	boa	fluência	do	processo	e	do	procedimento.	O
novo	Código	não	só	manteve	as	inovações	trazidas	por	essa	lei	como	também	concebeu	outras	de	equivalente
valia	sistemática	–	seja	pelo	aspecto	macroscópico	da	implantação	de	um	processo	sincrético,	seja	em	algumas
disposições	pontuais	como	(a)	a	que	comina	uma	multa	de	dez	por	cento	do	valor	da	obrigação	ao	devedor	que,
intimado	da	sentença	condenatória,	não	paga	esse	valor	no	prazo	de	quinze	dias;	(b)	as	que	incentivam	a	opção
pela	arbitragem	e	estimulam	a	solução	consensual	de	conflitos	(mediação	e	conciliação	–	art.	3.º,	§	3.º	etc.);	(c)	a
que	dá	prioridade	à	adjudicação	ao	exequente	do	bem	penhorado	(sem	a	necessidade	da	hasta	pública	–	arts.
876	 e	 ss.);	 e	 (d)	 a	 que	 favorece	 o	 parcelamento	 do	 pagamento	 do	 valor	 da	 execução	mediante	 o	 depósito	 de
trinta	por	cento	desse	valor	(art.	916)	etc.
“Em	entrevista	concedida	à	imprensa	logo	que	aprovado	pelo	Senado	Federal	o	texto	definitivo	do	Projeto,	um
dos	integrantes	da	Comissão	de	Redação	afirmou	que	com	o	novo	Código	o	tempo	de	duração	do	processo	civil
ficará	reduzido	à	metade.	Otimismos	à	parte,	esperemos	que	realmente	haja	uma	aceleração	significativa,	para
cumprimento	da	promessa	constitucional	de	realização	do	processo	em	tempo	razoável	(Const.,	art.	5.º,	LXXVIII)
e,	 consequentemente,	 do	 exercício	 verdadeiramente	 útil	 da	 jurisdição,	 com	 a	 efetiva	 consecução	 de	 seus
escopos.”
9.	Eliminação	de	incidentes	e	casos	de	suspensão	do	processo
Sempre	 em	busca	da	 aceleração	da	oferta	de	 tutela	 jurisdicional,	 o	 legislador	de	 2015	 entendeu	 conveniente
suprimir	uma	série	mais	ou	menos	significativa	de	incidentes	processuais	presentes	no	estatuto	anterior,	como
o	das	exceções	rituais,	o	da	ação	declaratória	incidental,	o	da	falsidade	documental,	o	da	impugnação	ao	valor
da	 causa	 etc.	 (arts.	 293,	 336,	 337,	 430).	 Dispôs	 que	 a	 matéria	 antes	 tratada	 nesses	 e	 outros	 incidentes	 será
deduzida	pelo	réu	em	contestação	(art.	336)	ou	em	petição	avulsa	por	qualquer	das	partes,	como	sucede	com	a
recusa	do	juiz	mediante	a	alegação	de	sua	suspeição	ou	impedimento	(art.	146,	caput).	Foi	também	explícito	ao
negar	a	suspensão	do	processo	em	várias	outras	situações,	como	a	do	pedido	de	gratuidade	da	Justiça	(art.	99,	§
1.º)	ou	de	intervenção	de	terceiro	como	assistente	(art.	120,	par.),	o	dos	embargos	à	execução	(art.	919)	etc.
Na	mente	 do	 legislador	 esteve	 presente	 a	 ideia	 de	 que	 esses	 e	 outros	 incidentes	 e	 a	 suspensão	 do	 processo
inerente	a	vários	deles	constituiriam	fatores	determinantes	do	retardamento	da	tutela	jurisdicional,	a	dano	do
princípio	 constitucional	 da	 tutela	 em	 tempo	 razoável	 (Const.,	 art.	 5.º,	 LXXVIII).	 Reduzidos	 os	 incidentes,	 o
sistema	ganharia	em	celeridade.	 Idem,	quando	se	nega	a	suspensão	processual.	Nem	sempre,	 todavia,	 logrou
simplificar	e	acelerar	o	procedimento	 tanto	quanto	pretendia	e	anunciou	na	Exposição	de	Motivos,	 inclusive
porque	a	alegação	de	algumas	das	matérias	antes	tratadas	pela	via	dos	incidentes	ainda	pode,	em	alguns	casos	e
em	 certas	 circunstâncias,	 produzir	 a	 suspensão	 do	 processo	 –	 como	 se	 dá,	 v.g.,	 no	 tocante	 à	 alegação	 de
suspeição	ou	impedimento	do	juiz	(art.	146,	§	2.º,	II).
“E	 o	 novo	 Código	 instituiu	 também	 alguns	 incidentes	 que	 antes	 inexistiam,	 como	 o	 de	 desconsideração	 da
personalidade	jurídica	(art.	133)	e	o	de	assunção	da	competência	(art.	947).	Além	disso,	admitiu	expressamente
a	 suspensão	 processual	 em	 outros	 casos,	 como	 o	 da	 oposição	 deduzida	 depois	 de	 iniciada	 a	 audiência	 de
instrução	(art.	685,	par.),	o	da	habilitação	de	herdeiros	no	processo	(art.	689),	o	da	incapacidade	processual	da
parte	 ou	 irregularidade	 de	 sua	 representação	 (art.	 76),	 o	 da	 suspensão	 dos	 processos	 envolvendo	 ações	 de
família	 ‘enquanto	os	litigantes	se	submetem	a	mediação	extrajudicial	ou	a	atendimento	multidisciplinar’	etc.	–
sem	falar	em	seu	art.	133,	que	define	de	modo	bastante	amplo	as	hipóteses	de	suspensão	do	processo.”
10.	Flexibilização	do	procedimento
Vínhamos	 de	 um	 regime	 em	 que	 se	 impunha	 com	 extremo	 rigor	 a	 estrita	 legalidade	 na	 definição	 dos
procedimentos,	os	quais	não	podiam	ser	livremente	escolhidos	pelas	partes	nem	alterados	por	atos	de	vontade
destas,	ainda	quando	de	acordo.	Sempre	em	prol	da	prometida	aderência	do	processo	às	realidades	subjacentes,
o	 novo	 Código	 optou	 todavia	 pela	 outorga	 às	 partes	 de	 uma	 relativa	 liberdade	 para	 alterarem,	 segundo	 as
conveniências	de	ambas,	as	regras	do	procedimento	estabelecidas	em	lei.	Assim	dispõe	seu	art.	190:	“versando	o
processo	sobre	direitos	que	admitam	autocomposição,	é	lícito	às	partes	plenamente	capazes	estipular	mudanças
no	 procedimento	 para	 ajustá-lo	 às	 especificidades	 da	 causa	 e	 convencionar	 sobre	 os	 seus	 ônus,	 poderes,
faculdades	 e	 deveres	 processuais,	 antes	 ou	durante	 o	 processo”.	 Obviamente,	modificações	 dessa	 ordem	não
serão	admissíveisquando	forem	insuportavelmente	prejudiciais	a	uma	das	partes	e	favoráveis	à	outra,	cabendo
ao	juiz	fiscalizar	a	admissibilidade	do	que	por	elas	vier	a	ser	pactuado	(art.	190,	par.).	Essa	nova	disposição	é	um
culto	 à	 liberdade	 das	 partes	 e	 à	 adaptabilidade	 do	 procedimento,	 que	 foi	 uma	postulação	 de	 antiga	 e	muito
nobre	 fonte	doutrinária	 (Piero	Calamandrei)	–	 e	o	princípio	da	adaptabilidade	é	 também	valorizado	pelo	art.
139,	 VI,	 do	NCPC,	 ao	 conceder	 ao	 juiz	 o	 poder-dever	 de	 “dilatar	 os	 prazos	 processuais	 e	 alterar	 a	 ordem	 de
produção	dos	meios	de	prova,	adequando-os	às	necessidades	do	conflito	de	modo	a	conferir	maior	efetividade	à
tutela	do	direito”.
“Dispõe	 também	 o	 novo	 Código,	 na	 mesma	 linha,	 que	 ‘de	 comum	 acordo,	 o	 juiz	 e	 as	 partes	 podem	 fixar
calendário	para	a	prática	dos	atos	processuais,	quando	for	o	caso’	(art.	191)	–	sendo	esse	calendário	vinculativo
a	todos,	inclusive	ao	juízo	(art.	191,	§	1.º).	Na	prática,	porém,	prepondera	uma	boa	dose	de	ceticismo	quanto	à
efetiva	 utilização	 dessa	 faculdade	 pelas	 partes,	 antevendo-se	 que	 o	 art.	 191	 do	 CPC	 será	 uma	 letra-morta.
Esperemos	que	não	seja	assim,	a	bem	do	aprimoramento	da	busca	de	bons	resultados	pela	via	do	processo”.
11.	Cooperação,	diálogo,	arbitragem,	autocomposição	–– 	o	novo	modelo	processual
São	de	duas	ordens	as	 inovações	de	maior	profundidade	 trazidas	no	Código	de	2015,	aquelas	que	podem	ser
consideradas	como	soluções	capazes	de	alterar	em	alguma	medida	o	estilo	processual	até	então	vigente.	Trata-
se	da	ênfase	atribuída	ao	dever	de	cooperação	entre	as	partes	e	o	juiz	e	das	veementes	aberturas	para	atuação
dos	chamados	meios	alternativos	de	solução	de	litígios.	Um	processo	realizado	com	a	exigência	de	uma	intensa
cooperação	 entre	 seus	 sujeitos	 e	mediante	 valorização	desses	meios	 alternativos	 é	um	processo	diferente	do
tradicional	que	sempre	vivenciamos,	constituindo	por	isso	um	modelo	diferente.
A	cooperação	desejada	pelo	legislador	e	desenhada	no	Código	consiste	em	severas	exigências	endereçadas	tanto
às	 partes	 quanto	 ao	 juiz	 e	 não	 somente	 àquelas.	 Ao	 estabelecer	 que	 “todos	 os	 sujeitos	 do	 processo	 devem
cooperar	entre	si	para	que	se	obtenha,	em	tempo	razoável,	decisão	de	mérito	justa	e	efetiva”,	seu	art.	6.º	tem	em
mente	 não	 apenas	 o	 dever	 de	 cooperação	 das	 partes	 com	 o	 juiz,	mas	 também	deste	 em	 face	 daquelas.	 Esse
dever	do	juiz	revela-se	de	modo	muito	claro	no	art.	10.º	do	novo	Código,	segundo	o	qual	“o	juiz	não	pode	decidir,
em	 grau	 algum	 de	 jurisdição,	 com	 base	 em	 fundamento	 a	 respeito	 do	 qual	 não	 se	 tenha	 dado	 às	 partes
oportunidade	de	se	manifestar,	ainda	que	se	trate	de	matéria	sobre	a	qual	deva	decidir	de	ofício”.	Esse	é	o	dever
de	diálogo,	que	 integra	o	 ideário	da	garantia	constitucional	do	contraditório	e	que	chegou	ao	direito	positivo
brasileiro	por	sadia	e	notória	influência	do	art.	16	do	CPC	francês.	O	juiz	que	dialoga	com	as	partes	e	as	ouve	é
um	 juiz	 consciente	 dessa	 garantia.	 As	 partes	 que	 dialogam	 com	 o	 juiz	 estão	 não	 só	 a	 cumprir	 seu	 dever	 de
cooperação	mas	exercendo	com	maior	eficiência	seu	próprio	direito	de	defesa.
A	cooperação	de	cada	uma	das	partes	com	o	juiz	constitui	também	um	enérgico	ditame	do	princípio	da	lealdade
processual,	que	veda	a	prática	de	atos	tendentes	a	dificultar	a	instrução	da	causa	ou	a	retardar	a	efetivação	de
medidas	constritivas	na	execução	forçada.	Como	está	no	art.	774,	V,	do	novo	Código,	“considera-se	atentatória	à
dignidade	da	justiça	a	conduta	comissiva	ou	omissiva	do	executado	que	(...)	intimado,	não	indica	ao	juiz	quais
são	e	onde	estão	os	bens	sujeitos	à	penhora	e	seus	respectivos	valores”	etc.
A	partir	daqueles	propósitos	anunciados	na	Exposição	de	Motivos,	o	novo	Código	de	Processo	Civil	 incluiu	no
modelo	processual	civil	brasileiro	as	seguintes	características	fundamentais:
“a)	Garantias	constitucionais	reproduzidas	e	enfatizadas	ao	longo	do	Código,	dispondo	este,	logo	em	seu	art.	1.º,
que	nesse	sistema	figura	como	autêntico	pilar	sistemático	e	assim	está	redigido:	‘o	processo	civil	será	ordenado,
disciplinado	e	interpretado 3	conforme	os	valores	e	os	princípios	fundamentais	estabelecidos	na	Constituição	da
República	 Federativa	 do	 Brasil,	 observando-se	 as	 disposições	 deste	 Código’.	 O	 propósito	 de	 harmonia	 com	 a
Constituição	Federal,	anunciado	na	Exposição	de	Motivos,	está	manifesto	não	somente	naquele	art.	1.º	mas	em
todo	o	capítulo	I	do	título	único	da	parte	geral	(arts.	1.º	a	12),	no	qual	se	vê	uma	fortíssima	ênfase	na	valorização
dos	princípios	constitucionais	do	processo;
b)	 Uma	 tônica	 muito	 forte	 na	 garantia	 do	 contraditório,	 a	 qual	 foi	 especificada	 no	 Código	 em	 relevantes
disposições	específicas.	Uma	dessas	disposições	pontuais,	de	grande	valor	em	face	da	garantia	do	contraditório,
é	a	que	institui	o	incidente	de	desconsideração	da	personalidade	jurídica	(arts.	133	ss.),	imposto	como	requisito
para	a	extensão	da	responsabilidade	executiva	para	além	do	patrimônio	do	obrigado;
c)	A	valorização	dos	meios	alternativos	de	 solução	de	conflitos.	O	novo	Código	contém	dez	artigos	alusivos	à
conciliação	e	à	mediação	e	integrantes	de	toda	uma	seção	(arts.	165	e	ss.).	Seu	art.	165	chega	a	estabelecer	que
‘os	 tribunais	 criarão	 centros	 Judiciários	 de	 solução	 consensual	 de	 conflitos,	 responsáveis	 pela	 realização	 de
sessões	 e	 audiências	 de	 conciliação	 e	mediação	 e	 pelo	 desenvolvimento	 de	 programas	 destinados	 a	 auxiliar,
orientar	e	estimular	a	autocomposição’.	Também	estão	explicitadas	normas	bastante	minuciosas,	relacionadas
com	a	conciliação	e	mediação,	inclusive	uma	mandando	que	nos	tribunais	estaduais	e	federais	sejam	instituídos
cadastros	de	conciliadores	e	mediadores	(art.	167).	Sobre	a	arbitragem,	estabelece	que	ela	é	‘permitida	na	forma
da	lei’	 (art.	3.º,	par.)	 e	 também	está	disposto	que	 ‘as	causas	cíveis	 serão	processadas	e	decididas	pelos	órgãos
jurisdicionais	nos	limites	de	sua	competência,	ressalvado	às	partes	o	direito	de	instituir	juízo	arbitral,	na	forma
da	lei	(art.	42);
d)	O	dever	de	cooperação	das	partes	com	o	juiz,	ditado	de	forma	genérica	no	art.	6.º.	O	art.	357,	§	3.º	também
dispõe	 que	 ‘se	 a	 causa	 apresentar	 complexidade	 em	 matéria	 de	 fato	 ou	 de	 direito,	 deverá	 o	 juiz	 designar
audiência	para	que	o	saneamento	seja	feito	em	cooperação	com	as	partes,	oportunidade	em	que	o	juiz,	se	for	o
caso,	 convidará	 as	 partes	 a	 integrar	 ou	 esclarecer	 suas	 alegações’	 (saneamento	 compartilhado).	 O	 dever	 de
cooperar	também	está	explicitado	em	normas	específicas,	como	acima	referido;
e)	 O	 sincretismo	 processual,	 consistente	 na	 reunião	 das	 atividades	 de	 cognição	 e	 de	 execução	 em	 um	 só
processo	dividido	 em	 fases.	 Esse	 é	 um	 sistema	 já	 vigente	no	 País	 desde	 a	 edição	da	Lei	 do	 Cumprimento	de
Sentença,	que	o	novo	Código	veio	a	adotar;
f)	A	redução	da	incidência	de	preclusões,	que	agora	são	menos	intensas	ou	numerosas	que	no	Código	anterior,
inclusive	porque	só	em	casos	tipificados	na	lei	as	decisões	interlocutórias	comportam	irresignação	pela	via	do
agravo	de	 instrumento	 (art.	 1.015)	–	 de	modo	que	 as	 interlocutórias	não	 suscetíveis	 desse	 recurso	não	 serão
atingidas	 pela	 preclusão.	 Essa	 linha	 de	 orientação	 do	 Projeto	 foi	 sensivelmente	 comprometida	 em	 sua
tramitação	 pelas	 Casas	 do	 Congresso,	 que	 ampliaram	 em	muito	 o	 rol	 das	 decisões	 suscetíveis	 de	 agravo	 de
instrumento	(onze	hipóteses	e	mais	‘outros	casos	expressamente	referidos	em	lei’	–	art.	1.015,	XIII);	e
g)	A	valorização	dos	precedentes	Judiciários,	associada	aos	crescentes	poderes	do	relator	nos	tribunais	(art.	927
etc.)”.
12.	A	estrutura	do	novo	Código
O	novo	 Código	 traz	 uma	 estrutura	 substancialmente	 diferente	 da	 estrutura	 de	 seu	 antecessor	 e,	 em	 alguma
medida,	melhor.	Ele	principia	com	uma	parte	geral,	contida	em	seu	Livro	I,	que	o	de	1973	não	tinha.	Todas	as
normas	gerais	de	processo	 residiam	nolivro	do	processo	de	conhecimento	e	eram	simplesmente	cedidas	em
empréstimo	às	outras	espécies	de	processo,	inclusive	ao	de	execução	(CPC/1973,	art.	598).	A	parte	geral	contida
no	novo	Código,	como	é	natural,	é	responsável	pela	coordenação	e	regência	sistemática	das	disposições	contidas
nos	demais	Livros	–	o	que	não	existia	no	Código	de	1973	e	era	motivo	para	as	justas	críticas	da	doutrina.
“Todo	o	Cap.	I	do	Livro	único	dessa	parte	geral	é	composto	da	positivação	infraconstitucional	dos	princípios	e
garantias	 constitucionais	 do	 processo	 (arts.	 1.º	 a	 12),	 aos	 quais	 quis	 o	 legislador	 de	 2015	 emprestar	 uma
extraordinária	 ênfase,	 em	 busca	 da	 harmonia	 do	 Código	 com	 a	 Constituição	 Federal	 que	 constitui	 um	 dos
propósitos	nucleares	arrolados	na	Exposição	de	Motivos”.
No	novo	Código	o	Livro	I	de	sua	parte	especial,	denominado	“do	processo	de	conhecimento	e	do	cumprimento
de	sentença”	 (arts.	318	ss.),	 inclui	 todo	um	Título	que	tem	por	conteúdo	os	procedimentos	especiais	–	porque,
obviamente,	todos	os	procedimentos	especiais	são	procedimentos	relativos	ao	processo	de	conhecimento,	sendo
pois	adequada	sua	inclusão	naquele	Livro.	Vem	depois	o	Livro	II,	denominado	do	processo	de	execução,	que	é
voltado	 diretamente	 apenas	 à	 execução	 por	 título	 extrajudicial	 porque	 a	 execução	 por	 título	 judicial,	 como
herança	 perversa	 da	 Lei	 do	 Cumprimento	 de	 Sentença,	 não	 é	 tratada	 como	 execução	mas	 como	 se	 fora	 um
mero	conjunto	de	providências	inerentes	à	atividade	cognitiva.	Não	há	um	Livro	do	processo	cautelar,	como	era
o	Livro	III	do	Código	revogado	–	sendo	agora	as	medidas	urgentes	disciplinadas	no	Livro	V	da	parte	especial,
sob	o	título	mais	amplo	“da	tutela	provisória”	(tutela	de	urgência	e	tutela	da	evidência	–	arts.	294	e	ss.).	O	Livro
III	do	novo	Código	cuida	“dos	processos	nos	tribunais	e	dos	meios	de	impugnação	das	decisões	judiciais”	 (arts.
926	e	ss.)	e	o	“Livro	complementar”,	das	disposições	finais	e	transitórias	(arts.	1.045	e	ss.).
O	Projeto	havia	desenhado	um	Código	com	apenas	970	artigos	e	portanto	bem	mais	breve	que	o	anterior,	que
chegava	até	ao	art.	1.218	e	ainda	contava	com	muitos	artigos	multiplicados	mediante	a	designação	por	 letras
(285-A,	 461-A,	 475-A	 a	 475-R	 etc.).	 Em	 sua	 redação	 final	 o	 Código	 de	 2015	 veio	 com	 1.072	 artigos	 e	 também
contém	 artigos	 incluindo	 números	 elevados	 de	 incisos	 ou	 de	 parágrafos,	 o	 que	 no	 final	 das	 contas	 alonga	 o
próprio	Código.
13.	Impropriedades	sistemáticas	na	estrutura	do	novo	Código
O	Código	de	Processo	Civil	de	2015	comete	algumas	 impropriedades	sistemáticas	no	tocante	à	distribuição	de
seus	dispositivos	entre	os	 livros,	 títulos	e	capítulos	que	o	compõem.	Além	daquela	consistente	na	 inclusão	do
cumprimento	de	sentença	ao	lado	do	processo	de	conhecimento,	como	se	cumprimento	de	sentença	tivesse	uma
suposta	natureza	cognitiva	e	não	fosse	autêntica	execução	(parte	especial,	Livro	I,	arts.	318	e	ss.),	identificam-se
algumas	impropriedades	de	menor	tomo	ao	longo	de	seus	livros,	títulos	e	capítulos.
Competência.	Disposições	gerais	e	competência	territorial.	No	cap.	I	do	tít.	I	de	sua	parte	especial	o	novo	Código
contém	 uma	 seção	 que,	 sob	 a	 rubrica	 disposições	 gerais,	 inclui	 não	 somente	 verdadeiras	 disposições	 gerais
sobre	a	competência	 (arts.	42-45)	mas	 também	toda	a	disciplina	da	competência	 territorial	–	que	obviamente
não	é	composta	de	disposições	gerais.	Melhor	estava	o	Código	revogado,	no	qual	a	disciplina	da	competência
territorial	residia	em	uma	seção	autônoma	(arts.	94	e	ss.),	em	seguida	a	duas	outras	seções	sobre	a	“competência
em	 razão	 do	 valor	 e	 da	matéria”	 e	 sobre	 “competência	 funcional”	 (arts.	 91-93).	Mas	 o	 Código	 de	 2015	 tem	 o
mérito	de	desenvolver	agrupadamente	aquelas	disposições	gerais,	o	que	o	estatuto	de	1973	não	fazia.
Conciliador,	mediador,	conciliação	e	mediação.	Também	constitui	uma	impropriedade	estrutural	do	novo	Código
o	 trato	 das	 atividades	 referentes	 à	 conciliação	 e	 à	 mediação	 em	 uma	 rubrica	 nominalmente	 destinada	 aos
auxiliares	da	justiça	(arts.	139	e	ss.),	incluída	em	um	título	que	cuida	do	juiz	e	dos	auxiliares	da	justiça	(arts.	139
e	ss.).	Uma	coisa	é	o	regramento	dos	sujeitos	processuais	e	outra,	o	das	atividades	que	exerce.	Seria	pois	mais
correto	 impor	 naquela	 seção	 VI	 (arts.	 165	 e	 ss.)	 somente	 as	 normas	 referentes	 a	 esses	 sujeitos	 como	 tais
(conciliador	e	mediador),	modo	de	escolha,	deveres,	responsabilidades	etc.,	sem	misturar	tal	disciplina	com	a	da
conciliação	e	da	mediação	em	si	mesmas,	deixando	para	outro	lugar	preceitos	como	aquele	segundo	o	qual	“a
conciliação	e	a	mediação	são	informadas	pelos	princípios	da	independência,	da	imparcialidade,	da	autonomia
da	vontade,	da	confidencialidade,	da	oralidade,	da	 informalidade	e	da	decisão	 informada”	 (art.	166)	e	aquela
onde	 se	 dispõe	 que	 “as	 disposições	 desta	 Seção	 não	 excluem	 outras	 formas	 de	 conciliação	 e	 mediação
extrajudiciais	vinculadas	a	órgãos	institucionais	ou	realizadas	por	intermédio	de	profissionais	independentes,
que	poderão	ser	regulamentadas	por	lei	específica”.
14.	Institutos	suprimidos,	institutos	acrescentados,	institutos	reformados	e	dúvidas
resolvidas
É	muito	natural	que	uma	nova	 lei,	 e	particularmente	quando	essa	nova	 lei	 é	um	Código,	ponha	em	crítica	o
acervo	dos	institutos	regidos	pela	lei	anterior,	seja	para	lhes	conferir	uma	nova	configuração,	seja	para	eliminar
alguns,	 seja	para	acrescentar	outros,	para	esclarecer	dúvidas	existentes	na	 jurisprudência	ou	na	doutrina	ou
ainda	para	distribuí-los	de	modo	diferente	em	sua	estrutura.	Movimentações	dessa	ordem	estiveram	presentes
na	 passagem	 do	 Código	 de	 Processo	 Civil	 de	 1973	 ao	 de	 2015,	 com	 significativas	 modificações	 em	 alguns
institutos	antes	regidos	por	aquele,	com	a	supressão	de	vários	deles,	com	inovações	consistentes	na	inclusão	de
institutos	 novos	 etc.	 Esse	 Código	 contém	 ainda	 diversas	 disposições	 destinadas	 a	 positivar	 em	 lei	 certos
entendimentos	da	doutrina	ou	da	jurisprudência,	ou	a	impor	soluções	diversas	das	que	vinham	sendo	acatadas
e	praticadas.	O	rol	dessas	inovações	de	diferentes	conteúdos	e	finalidades,	que	adiante	se	lê,	constitui	somente
um	 panorama	 geral	 do	 confronto	 entre	 os	 dois	 Códigos,	 sem	 a	 menor	 pretensão	 à	 exaustão	 e	 sendo
inevitavelmente	 composto	 por	 critérios	 em	 alguma	 medida	 subjetivos.	 Também	 não	 se	 busca	 uma
profundidade	 no	 exame	 dessas	 alterações,	 incompatível	 com	 esta	 mera	 apresentação	 do	 novo	 Código	 de
Processo	Civil	brasileiro.
15.	Supressões
Alguns	 institutos	 ou	 tradicionais	 disposições	 contidas	 no	 Código	 de	 Processo	 Civil	 de	 1973	 estão
deliberadamente	 ausentes	 de	 seu	 sucessor,	 como	 (a)	 um	 Livro	 do	 processo	 cautelar,	 (b)	 um	 Livro	 dos
procedimentos	especiais	e	 (c)	alguns	específicos	 institutos	processuais.	Foram	substituídos	por	outras	técnicas,
com	nova	estruturação	do	próprio	Código,	ou	simplesmente	banidos	por	opção	política	do	legislador.
Procedimento	sumário.	 Na	 sistemática	 do	 novo	 Código	 de	 Processo	 Civil	 os	 procedimentos	 na	 fase	 cognitiva
serão	 somente	 de	 duas	 ordens,	 a	 saber:	 o	 comum	 e	 os	 especiais	 (arts.	 318	 e	 ss.	 e	 539	 e	 ss.).	 Não	 há	mais	 a
subdivisão	 do	 procedimento	 comum	 em	 ordinário	 e	 sumário,	 como	 no	 Código	 anterior.	 Foi	 suprimido	 o
procedimento	 sumário.	 Uma	 disposição	 transitória	 estabelece	 porém	 que	 as	 “ações	 propostas	 e	 não
sentenciadas	até	o	início	da	vigência	deste	Código”	prosseguirão	pelo	procedimento	adotado	desde	o	início	(art.
1.046),	indo	até	ao	fim	por	esse	rito	até	quando	proferida	a	sentença	em	primeiro	grau	de	jurisdição.	Ações	não
sentenciadas,	na	redação	do	art.	1.046,	são	aquelas	ainda	pendentes	em	primeiro	grau	de	jurisdição	quando	da
entrada	em	vigor	do	novo	Código.	É	óbvio	que,	estando	elas	já	sentenciadas	e	portanto	exaurido	o	procedimento
de	primeira	instância,	não	se	pensa	mais	em	procedimentosumário,	comum	ou	especial	–	porque	daí	por	diante
impor-se-á	o	procedimento	recursal	adequado	segundo	a	lei.
Ação	declaratória	 incidental.	 O	novo	Código	 suprimiu	 o	 incidente	 processual	 da	 ação	declaratória	 incidental,
disciplinado	nos	 arts.	 5.º	 e	 325	 do	 anterior,	 e	 o	 substituiu	 por	uma	 técnica	 diferente	 em	 relação	 às	 questões
prejudiciais	levantadas	no	processo.	Dispõe	que	a	decisão	de	tais	questões	poderá	obter	a	autoridade	da	coisa
julgada	 desde	 que	 (a)	 a	 seu	 propósito	 tenha	 havido	 um	 pronunciamento	 explícito	 do	 juiz,	 (b)	 dessa	 decisão
dependa	o	julgamento	do	mérito,	(c)	a	seu	respeito	tenha	havido	contraditório	prévio	e	efetivo,	não	se	aplicando
no	caso	de	revelia	e	(d)	o	juízo	prolator	da	sentença	tenha	competência	em	razão	da	matéria	e	da	pessoa	para
resolvê-la	como	questão	principal	(art.	503,	§	1.º,	I-III).
“Ao	réu,	contudo,	continua	sendo	facultada	a	possibilidade	de	propor,	pela	via	da	reconvenção,	uma	verdadeira
ação	declaratória	 incidental	com	o	pedido	de	declaração	principaliter	 sobre	eventual	causa	prejudicial,	desde
que	 conexa	 com	 a	 demanda	 principal	 ou	 com	 os	 fundamentos	 da	 defesa	 (art.	 343)	 –	 e,	 como	 é	 natural,	 a
sentença	que	julgar	essa	demanda	reconvencional,	juntamente	com	a	principal,	será	uma	decisão	principaliter	e
portanto	suscetível	de	obter	aquela	autoridade	em	ambos	os	seus	capítulos	(inclusive	o	reconvencional)”.
Exceções	 rituais	 (incompetência	 territorial	 ou	 suspeição	 ou	 impedimento	 do	 juiz).	 O	 novo	 Código,	 procurando
concentrar	na	contestação	 toda	a	matéria	da	defesa	a	 ser	arguida	pelo	réu	 (art.	336),	ali	 inclui	a	alegação	de
ambas	as	espécies	de	 incompetência,	ou	seja,	a	absoluta	e	 também	a	relativa	–	 e	não	só	a	absoluta,	 como	no
estatuto	anterior	(CPC/2015,	art.	337,	II).	Não	inclui	entre	as	peças	defensivas	do	réu	a	exceção	de	incompetência
relativa,	como	fazia	o	anterior	(CPC/1973,	art.	297	etc.).	Também	os	fundamentos	de	eventual	recusa	do	juiz	pela
parte	(suspeição	e	impedimento)	serão	apresentados	sem	o	formalismo	de	uma	exceção	ritual,	devendo	a	parte
deduzi-los	 “em	 petição	 específica	 dirigida	 ao	 juiz	 do	 processo”	 no	 prazo	 de	 quinze	 dias	 a	 contar	 do
conhecimento	 fato	 causador	do	 impedimento	ou	 suspeição	 (art.	 146,	caput)	 e	 sem	a	necessária	 suspensão	do
processo	(art.	146,	§	2.º).	Não	há	mais	as	exceções	rituais.
Medidas	 cautelares	 nominadas	 ou	 típicas.	 O	 novo	 Código	 inclui	 a	 tutela	 cautelar	 em	 um	 gênero	 próximo,
intitulado	 da	 tutela	 de	 urgência.	 Põe	 também	 esse	 gênero	 no	 âmbito	 de	 um	 outro	mais	 amplo,	 que	 é	 o	 das
tutelas	provisórias	–	o	qual	inclui	ainda	a	tutela	da	evidência	(arts.	294	e	ss.).	Procurou	com	isso	dar	um	trato
sistemático	a	todas	as	medidas	relacionadas	com	a	mitigação	dos	males	da	espera	pelas	delongas	do	processo
até	que	sobrevenha	a	decisão	final	da	causa	–	ao	contrário	do	Código	de	Processo	Civil	de	1973,	que	trazia	uma
longa	e	pormenorizada	disciplina	das	 cautelares	 (todo	o	Livro	 III,	 com	dezenas	de	artigos	–	 arts.	 796	 e	 ss.)	 e
somente	dois	dispositivos	sobre	a	antecipação	da	tutela	jurisdicional	(CPC/1973,	arts.	273	e	461,	§	3.º).	Em	boa
medida	 a	 disciplina	 das	 medidas	 antecipatórias	 viviam	 de	 empréstimos	 tomados	 ao	 Livro	 III,	 portador	 da
disciplina	das	cautelares.	Além	disso,	aquele	Código	disciplinava	também	em	pormenor	a	admissibilidade	e	o
procedimento	para	cada	uma	das	espécies	de	medidas	cautelares	imaginadas	pelo	legislador,	como	o	arresto,	o
sequestro,	a	busca	e	apreensão,	a	produção	antecipada	de	provas	etc.	(CPC/1973,	arts.	813	e	ss.)	–	construindo
com	 isso	um	arsenal	de	medidas	nominadas	ou	 típicas,	 cada	uma	com	sua	disciplina	específica.	O	Código	de
Processo	Civil	de	2015	renunciou	a	tipificar	as	medidas	de	urgência.	Seguiu	o	bom	exemplo	do	art.	700	do	Codice
di	 Procedura	 Civile	 italiano,	 ao	 falar	 genericamente	 em	 medidas	 urgentes	 e	 em	 medidas	 cautelares	 e	 não
explicitar	 suas	 espécies.	 Seu	art.	 301	 limita-se	 a	 exemplificar	 com	o	 arresto,	 sequestro,	 arrolamento	de	bens,
registro	 de	 protesto	 contra	 alienação	 de	 bem,	 concluindo	 com	 uma	 verdadeira	 norma	 de	 encerramento
abrangente	de	“qualquer	outra	medida	idônea	para	asseguração	do	direito”.	Nisso	reside	uma	decidida	outorga
de	grande	poder	geral	de	cautela	aos	juízes,	aos	quais	será	lícito	conceder	a	medida	urgente	adequada	ao	caso,
sem	se	apegar	a	especificidades	ou	a	uma	nomenclatura	tão	particularizada	como	no	Código	anterior.
Juízo	de	admissibilidade	da	apelação	e	dos	recursos	aos	tribunais	de	superposição.	O	Código	de	Processo	Civil	de
2015	eliminou	o	primeiro	dos	 juízos	de	admissibilidade	da	apelação,	do	recurso	especial	e	do	extraordinário,
que	tradicionalmente	era	feito	pelo	órgão	prolator	do	ato	recorrido	(juiz	de	primeiro	grau	ou	tribunal	local	ou
regional,	conforme	o	caso).	Segundo	está	na	disciplina	dada	à	apelação,	diz	o	Código	no	§	3.º	de	seu	art.	1.010
que	 “após	 as	 formalidades	 previstas	 nos	 §§	 1.º	 e	 2.º,	 os	 autos	 serão	 remetidos	 ao	 tribunal	 pelo	 juiz,
independentemente	de	 juízo	de	admissibilidade”.	Depois,	no	 trato	dos	 recursos	extraordinário	e	especial,	 seu
art.	 1.030	 estabelece	 que,	 depois	 das	 contrarrazões	 ou	 não	 sendo	 elas	 deduzidas	 no	 prazo,	 “os	 autos	 serão
remetidos	ao	respectivo	Tribunal	Superior”,	acrescentando	logo	a	seguir:	“a	remessa	de	que	trata	o	caput	dar-se-
á	independentemente	de	juízo	de	admissibilidade”	(art.	1.030,	par.).
“Visivelmente	 a	 supressão	do	 juízo	de	 admissibilidade	a	 ser	 feito	pelo	Órgão	a	quo	 veio	 com	a	 finalidade	 de
acelerar	o	fluxo	dos	recursos.	Percebe-se	ainda	que,	no	que	diz	respeito	ao	recurso	extraordinário	e	ao	especial,
essa	 supressão	 mira	 também	 à	 uniformidade	 dos	 critérios	 para	 aferir	 a	 admissibilidade	 desses	 recursos	 –
sabendo-se	que	esses	critérios	variam	de	tribunal	a	tribunal	e	nem	sempre	o	STF	e	o	STJ	têm	a	oportunidade	de
impor	de	modo	uniforme	e	geral	os	seus	próprios	critérios	(em	virtude	de	nem	sempre	ser	 interposto	agravo
contra	decisão	de	denegatória).	Teme-se	porém	que	essa	 inovação	venha	a	produzir	um	impacto	perverso	na
tramitação	dos	 recursos	nos	Tribunais	Superiores,	dado	o	enorme	volume	de	 recursos	que	ali	virão	 ter,	 sem
uma	prévia	 triagem	 feita	no	 tribunal	de	origem.	Certamente	por	 isso	 foi	 apresentado	ao	Senado	Federal	um
projeto	 de	 lei	 (Sen.	 Blairo	 Maggi)	 restaurando	 o	 juízo	 de	 admissibilidade	 do	 recurso	 extraordinário	 e	 do
especial,	 com	a	possibilidade	de	um	agravo	de	admissão	contra	eventuais	 juízos	negativos	 (indeferimento	do
recurso)”.
Agravo	retido.	O	agravo	retido,	criação	do	Código	de	Processo	Civil	de	1973	(art.	522),	foi	excluído	pela	ordem
processual	vigente,	em	associação	à	intenção	de	limitar	a	admissibilidade	do	agravo	de	instrumento	a	quatro
hipóteses	 bem	especificadas	 (Projeto,	 art.	 929,	 I-IV).	 Isso	 significava	 que,	 por	não	 serem	 recorríveis,	 todas	 as
demais	 decisões	 interlocutórias,	 não	 contidas	 nesse	 rol,	 ficavam	 a	 salvo	 de	 eventuais	 preclusões,	 inevitáveis
quando	 todas	 elas	 eram	 agraváveis.	 A	 intenção	 da	 Comissão	 de	 Juristas	 foi	 no	 entanto	 contrariada	 em	 boa
medida	quando	o	rol	das	decisões	suscetíveis	de	agravo	de	instrumento	veio	a	ser	consideravelmente	ampliado
pelas	Casas	do	Congresso	(art.	1.015)	–	com	a	consequência	de	que	todas	essas	decisões	ali	tipificadas,	e	que	são
muitas,	ficarão	preclusas	se	não	forem	tempestivamente	impugnadas	por	esse	recurso.
Embargos	infringentes.	 Já	nos	preparativos	do	Código	de	1973	cogitou-se	da	eliminação	desse	recurso,	que	no
entanto	 veio	 a	 ser	 incluído	 naquele	 estatuto,	 como	 estava	 no	 anterior	 (CPC/1939).	 Muitos	 anos	 depois	 da
vigência	 do	 Código	 de	 1973	 a	 repulsa	 de	 parte	 da	 doutrina	 e	 dos	 tribunais	 aos	 embargos	 infringentes,	 tidos
como	indesejável	causa	de	retardamento	da	tutela	jurisdicional,	levou	o	legislador	a	impor	novos	requisitos	à
sua	 admissibilidade,	 alémda	 mera	 divergência	 entre	 os	 julgadores	 das	 apelações	 ou	 ações	 rescisórias
(CPC/1973,	art.	530,	red.	Lei	10.352,	de	26.12.2001).	E	o	novo	Código	de	Processo	Civil,	levando	mais	adiante	essa
repulsa,	 não	 incluiu	 os	 embargos	 infringentes	 no	 rol	 dos	 recursos	 admissíveis	 no	 processo	 civil	 brasileiro,
substituindo-os	 por	 uma	 técnica	muito	mais	 simples.	 Agora,	 sempre	 que	 haja	 divergência	 de	 votos	 entre	 os
integrantes	 de	 uma	 câmara	 ou	 turma	 no	 julgamento	 de	 apelações,	 ações	 rescisórias	 ou	 certos	 agravos	 de
instrumento,	 a	 sessão	 de	 julgamento	 prosseguirá	 para	 a	 tomada	 de	 votos	 de	 outros	 julgadores,	 em	 número
suficiente	para	possivelmente	reverter	o	julgamento	(art.	942,	caput	e	§§	1.º	e	ss.).	Tudo	será	muito	mais	simples
que	dantes,	sem	a	necessidade	de	lavrar	e	publicar	acórdãos	referentes	ao	primeiro	julgamento,	sem	prazo	para
recorrer	e	para	responder,	sem	tramitação	dos	embargos	infringentes,	sem	nova	inclusão	em	pauta.
“Mas	será	lícito	incluir	os	embargos	infringentes	entre	os	verdadeiros	vilões	da	lentidão	processual	neste	país?
Em	que	medida	sua	eliminação	produzirá	o	efeito	de	acelerar	a	 tutela	 jurisdicional?	Eles	acarretam	sim	uma
demora	adicional	do	processo	mas,	afinal,	não	são	tão	frequentes	assim	na	experiência	do	foro.	Mais	frequentes
serão	os	casos	em	que,	somente	com	a	existência	de	um	voto	divergente	e	sem	requerimento	algum	da	parte
vencida,	a	técnica	estabelecida	no	art.	942	do	novo	Código	será	automaticamente	desencadeada.	Isso	acontecerá
ainda	quando	o	meritum	causæ	não	houver	 sido	 julgado	e	mesmo	que	a	parte	vencida	no	 tribunal	haja	 sido
vencida	também	na	sentença	recorrida	ou	sujeita	a	ação	rescisória	(casos	em	que	o	art.	530	do	Código	anterior
excluía	a	admissibilidade	dos	embargos	infringentes).”
16.	Institutos	e	técnicas	acrescidos
Incidente	de	desconsideração	da	personalidade	 jurídica	 (arts.	 133	 e	 ss.).	 Esse	 é	um	valioso	 culto	 à	 garantia	 do
contraditório	mediante	a	eliminação	da	extrema	insegurança	decorrente	de	desordenados	redirecionamentos
de	 execuções	 (na	maior	 parte,	 execuções	 fiscais	 ou	 trabalhistas)	 e	 arbitrárias	 extensões	 da	 responsabilidade
executiva	a	sujeitos	diferentes	do	obrigado.	Pelo	que	dispõe	o	Código	de	Processo	Civil	de	2015,	extensões	dessa
ordem	só	serão	admissíveis	quando	houver	um	prévio	pronunciamento	judicial	a	respeito.
“O	eventual	temor	por	uma	dilapidação	patrimonial	durante	o	processamento	do	incidente	de	desconsideração
da	personalidade	jurídica	é	facilmente	superável	pelo	amplo	poder	cautelar	do	juiz,	o	qual	poderá,	em	caso	de
perigo,	determinar	medidas	urgentes	capazes	de	assegurar	a	integridade	do	patrimônio	do	eventual	obrigado
(inalienabilidade	de	bens,	bloqueio	de	depósitos	ou	aplicações	bancárias	etc.	–	art.	300)”.
Amicus	curiæ.	A	figura	do	amicus	curiæ	ingressou	no	direito	positivo	brasileiro	através	do	art.	7.º,	§	2.º,	da	Lei
da	Ação	Direta	de	Inconstitucionalidade	(Lei	9.868,	de	10.11.1999).	Pelo	que	ali	se	dispõe,	tratando-se	de	matéria
relevante	o	 relator	poderá	admitir,	 no	processo	de	 ações	dessa	ordem,	 a	manifestação	de	 entidade	ou	órgão
representativo	que	se	proponha	a	atuar	como	amicus	curiæ.	Depois	veio	o	art.	138	do	novo	Código	de	Processo
Civil,	autorizando	o	juiz	de	primeiro	grau	ou	o	relator,	em	qualquer	tribunal,	a	convocar	por	iniciativa	própria
tais	 entes	 representativos	 a	 se	manifestarem	 no	 processo	 ou	 deferir	 eventual	 pedido	 de	 ingresso	 no	 feito	 –
sempre	“considerando	a	relevância	da	matéria,	a	especificidade	do	tema	objeto	da	demanda	ou	a	repercussão
social	da	controvérsia”.	Claramente	teve	o	legislador	a	sadia	intenção	de	ampliar	e	enriquecer	as	discussões	das
causas	mediante	a	participação	de	entes	especializados	e	representativos,	capazes	de	auxiliar	os	juízes	na	boa
compreensão	das	questões	e	das	pretensões	sobre	as	quais	deverá	pronunciar-se.	Ou,	em	outras	palavras,	ele
pretendeu	dar	maior	efetividade	à	garantia	 constitucional	do	contraditório	mediante	a	participação	de	entes
presumivelmente	qualificados	a	debater,	possivelmente	com	mais	eficiência	que	as	próprias	partes,	as	questões
mais	profundas	de	 interesse	de	uma	classe,	categoria	ou	grupo	de	pessoas	naturais	ou	 jurídicas.	Mas	o	modo
como	está	redigido	tal	dispositivo	acaba	por	permitir	que,	como	vem	acontecendo	nas	ações	diretas	perante	o
STF,	venham	esses	órgãos	ou	entidades	ao	processo	com	o	manifesto	propósito	de	trazer	apoio	a	uma	das	partes
(geralmente	filiados	a	elas)	e	não	de	realmente	auxiliar	o	Poder	Judiciário	a	bem	decidir.	Em	sua	pureza	inicial
a	figura	do	amicus	curiæ	do	direito	norte-americano	é	realmente	a	de	um	colaborador	da	corte,	chamado	por
esta	 a	 dar	 suporte	 consistente	 às	 suas	 decisões	 e	 não	 a	 de	 uma	 entidade	 que	 se	 apresenta	 como	 verdadeiro
assistente	 da	 parte,	 empenhado	 em	 coadjuvá-la,	 como	 tem	 sido	 na	 experiência	 das	 ações	 diretas	 e	 como
também,	segundo	tudo	indica,	será	em	todas	as	áreas	do	processo	civil.	Verdadeiro	amicus	curiæ	seria	somente
aquele	que	o	juiz	ou	tribunal	convocasse	por	iniciativa	própria	e	não	esses	verdadeiros	assistentes.
Meios	 eletrônicos.	 O	 legislador	 de	 2015	 pretendeu	 alinhar-se	 desenganadamente	 às	 modernidades	 técnicas
representadas	pelo	chamado	processo	digital,	ou	processo	eletrônico,	chegando	o	novo	Código	a	dedicar	 toda
uma	seção	a	esse	modo	de	documentação,	registro	e	publicidade	dos	atos	processuais	 (arts.	193-199).	Começa
essa	seção	com	uma	abertura	geral	para	tais	técnicas,	ao	estabelecer	que	“os	atos	processuais	podem	ser	total	ou
parcialmente	digitais,	de	forma	a	permitir	que	sejam	produzidos,	comunicados,	armazenados	e	validados	por
meio	eletrônico,	na	 forma	da	 lei”	 (art.	193).	Para	 segurança,	 regularidade	e	confiabilidade	do	sistema,	dispõe
também	que	 “o	registro	de	ato	processual	eletrônico	deverá	 ser	 feito	em	padrões	abertos,	que	atenderão	aos
requisitos	de	autenticidade,	 integridade,	 temporalidade,	não	 repúdio,	 conservação	e,	nos	 casos	que	 tramitem
em	 segredo	 de	 justiça,	 confidencialidade,	 observada	 a	 infraestrutura	 de	 chaves	 públicas	 unificada
nacionalmente,	 nos	 termos	 da	 lei”.	 A	 realidade	 vem	 mostrando,	 todavia,	 que	 essa	 opção	 do	 legislador	 foi
indesejavelmente	prematura	por	diversas	razões	técnicas	e	principalmente	pela	diversidade	entre	os	sistemas
adotados	pelos	diferentes	tribunais	do	País,	inclusive	o	STF	e	o	STJ,	os	quais	não	se	comunicam	com	apoio	em
uma	só	técnica	praticada	por	todos.	Daí	a	frequente	necessidade	de	imprimir	folhas	digitalizadas	do	processo,
ou	 mesmo	 todos	 os	 seus	 autos,	 quando	 da	 remessa	 de	 um	 tribunal	 ao	 outro	 –	 o	 qual,	 ao	 a	 receber	 esses
impressos,	 volta	 a	 digitalizar	 as	 folhas	 e	 autos	 recebidos.	 Enquanto	 não	 vier	 uma	 unificação	 do	 sistema	 de
documentação	 eletrônica	 do	 Poder	 Judiciário	 como	 um	 todo,	 será	 deficiente	 e	 incômoda	 a	 utilização	 desses
meios.	Mas	os	dispositivos	do	Código	de	Processo	Civil	a	esse	respeito	estão	aí,	vigentes	e	postos	em	prática	na
medida	do	possível,	esperando-se	que	chegue	o	dia	dessa	desejada	unificação	técnica	e	operacional,	superada	a
presente	fase	de	transição	técnica.
Audiência	 prévia	 de	 conciliação	 ou	 de	medição	 conduzida	 pelo	 terceiro	 facilitador.	 O	 empenho	 pela	 prática	 e
valorização	dos	meios	alternativos	de	solução	de	conflitos	levou	o	legislador	também	a	instituir	uma	audiência
de	conciliação	ou	de	mediação	logo	ao	início	do	processo,	a	qual	será	designada	pelo	juiz	ao	despachar	a	petição
inicial	–	sempre	que	esta	esteja	regular	e	que	não	seja	o	caso	de	improcedência	liminar	da	demanda	(art.	334,
caput).	 Também	 está	 disposto	 que	 “o	 conciliador	 ou	 mediador,	 onde	 houver,	 atuará	 necessariamente	 na
audiência	de	conciliação	ou	de	mediação,	observando	o	disposto	neste	Código,	bem	como	as	disposições	da	lei
de	organização	judiciária”	(art.	334,	§	1.º)	–	donde	se	infere	que	onde	não	houver	um	conciliador	ou	mediador,	o
próprio	 juiz	conduzirá	essa	audiência.Esta	só	não	será	realizada	quando	a	matéria	em	litígio	não	comportar
autocomposição	 (direitos	 indisponíveis)	 ou	 quando	 ambas	 as	 partes	 manifestarem	 expressamente	 seu
desinteresse	 em	realizá-la	 (art.	 334,	 §	 4.º).	 Se	 somente	uma	delas	assim	 se	manifestar	 e	 a	outra	declarar	que
pretende	 realizar	 a	 audiência	 ou	 simplesmente	 silenciar	 a	 respeito,	 a	 audiência	 será	 designada	 e	 o	 não
comparecimento	 de	 uma	 ou	 de	 outra	 será	 considerado	 como	 ato	 atentatório	 à	 dignidade	 da	 Justiça,	 com
imposição	de	multa	ao	ausente	(art.	334,	§	8.º).	Se	a	audiência	for	realizada	e	ali	se	obtiver	a	autocomposição	das
partes,	esta	 será	reduzida	a	 termo	e	homologada	pelo	 juiz	 (art.	334,	§	11).	Em	caso	contrário,	o	prazo	para	a
contestação	correrá	da	data	da	realização	da	audiência	de	conciliação	ou	mediação	(art.	335,	I).	A	inclusão	desta
como	providência	inicial	indispensável	no	procedimento	constitui	positivação	daquele	intuito	do	legislador,	de
fidelidade	 do	 sistema	 processual	 ao	 contexto	 social	 mediante	 a	 maior	 aderência	 possível	 às	 realidades
subjacentes	–	o	que	é	buscado	ardorosamente	nesse	culto	à	solução	consensual	de	conflitos.	Constitui	também
cumprimento	do	que	recomenda	o	Conselho	Nacional	de	Justiça	em	sua	Res.	125,	de	25.11.2010,	associando-se
ainda	aos	dispositivos	da	Lei	da	Mediação,	promulgada	no	ano	de	2015	(Lei	13.140	de	26.06.2015).
“Mas	 é	 justo	 o	 temor	 de	 que	 a	 necessidade	 dessa	 audiência	 prévia	 venha	 a	 retardar	 a	 fluência	 do	 processo
mediante	 a	 postergação	 do	 início	 do	 prazo	 para	 oferecer	 contestação	 –	 o	 que	 sucedeu	 com	 o	 procedimento
sumário,	no	qual	a	audiência	era	designada	a	uma	distância	de	meses,	 com	 todos	esperando	por	ela	para	 só
então	chegar	o	momento	de	contestar”.
Estabilização	dos	efeitos	da	tutela	antecipada.	O	afã	do	legislador	pela	aceleração	da	oferta	de	resultados	úteis
mediante	 o	 exercício	 da	 jurisdição	 está	 presente	 também	 no	 instituto	 da	 estabilização	 dos	 efeitos	 da	 tutela
antecipada,	admissível	quando	“da	decisão	que	a	conceder	não	 for	 interposto	o	respectivo	recurso”	 (CPC,	art.
304,	caput).	Dispõe	também	o	§	6.º	desse	mesmo	art.	334	que,	ainda	quando	estabilizada,	“a	decisão	que	concede
a	 tutela	não	 fará	coisa	 julgada,	mas	a	estabilidade	dos	 respectivos	efeitos	 só	 será	afastada	por	decisão	que	a
revir,	reformar	ou	invalidar,	proferida	em	ação	ajuizada	por	uma	das	partes,	nos	termos	do	§	2.º	deste	artigo”	–
e	“a	 tutela	antecipada	conservará	 seus	efeitos	enquanto	não	revista,	 reformada	ou	 invalidada	por	decisão	de
mérito	 proferida	na	 ação	 de	 que	 trata	 o	 §	 2.º”	 (art.	 304,	 §	 3.º).	 Esse	 regime	 de	 estabilização	 de	 efeitos	 inclui
somente	as	antecipações	de	tutela	concedidas	em	caráter	antecedente,	porque	aquelas	incidentes	ao	processo
em	que	se	discute	a	própria	causa	recebe	da	lei	uma	disciplina	diferente,	podendo	a	qualquer	tempo,	como	toda
tutela	provisória,	ser	revogada	ou	modificada	mediante	decisão	motivada	do	juiz	da	causa	(art.	296).	Apenas	as
tutelas	 antecipadas	 recebem	esse	 tratamento,	 e	não	as	 cautelares,	 porque	 estas	não	projetam	efeitos	 fora	do
processo	e	sobre	a	vida	comum	dos	litigantes,	não	havendo	pois	o	que	estabilizar.
“As	disposições	contidas	no	art.	304	e	seus	parágrafos	vêm	dando	origem	a	muitas	dúvidas,	questionamentos	e
críticas	ao	Código,	especialmente	em	razão	das	incertezas	que	ficaram	no	ar”.
Distribuição	 dinâmica	 do	 ônus	 da	 prova.	 O	 novo	 Código	 mantém	 em	 princípio	 os	 mesmos	 critérios	 de
distribuição	 do	 ônus	 da	 prova,	 contidos	 no	 anterior	 (CPC/1973,	 art.	 333,	 I-II),	 pelos	 quais	 esse	 ônus	 incumbe
àquela	das	partes	à	qual	 interessar	o	reconhecimento	de	um	fato	relevante	ao	 julgamento.	A	prova	dos	 fatos
constitutivos	do	alegado	direito	do	autor	 fica	a	cargo	deste	e	a	prova	dos	 fatos	 impeditivos,	modificativos	ou
extintivos	desse	direito	 incumbe	ao	réu	(CPC/2015,	art.	373,	 I-II).	O	próprio	Código,	porém,	em	sua	busca	pela
aderência	 do	 sistema	processual	 às	 realidades	 sociais	 subjacentes,	 prometida	na	 Exposição	 de	Motivos,	 abre
portas	à	flexibilização	de	tais	regras	mediante	a	chamada	distribuição	dinâmica	do	ônus	da	prova,	a	prevalecer
“nos	casos	previstos	em	lei	ou	diante	de	peculiaridades	da	causa	relacionadas	à	impossibilidade	ou	à	excessiva
dificuldade	 de	 cumprir	 o	 encargo	 nos	 termos	 do	 caput	 ou	 à	maior	 facilidade	 de	 obtenção	 da	 prova	 do	 fato
contrário,	poderá	o	juiz	atribuir	o	ônus	da	prova	de	modo	diverso,	desde	que	o	faça	por	decisão	fundamentada,
caso	em	que	deverá	dar	à	parte	a	oportunidade	de	se	desincumbir	do	ônus	que	lhe	foi	atribuído”	(art.	373,	§	1.º).
Ao	falar	nos	casos	previstos	em	lei,	provavelmente	teve	o	legislador	em	mente,	acima	de	tudo,	o	art.	6.º,	VIII,	do
CDC,	de	caráter	desenganadamente	protecionista	ao	hipossuficiente.	As	“peculiaridades	da	causa	relacionadas	à
impossibilidade	 ou	 à	 excessiva	 dificuldade	 de	 cumprir	 o	 encargo	nos	 termos	 do	 caput”	 constituem	conceitos
juridicamente	 indeterminados	 e	 serão	 apreciadas	 pelo	 juiz	 em	 cada	 caso	 segundo	 sua	 sensibilidade	 às
realidades	do	processo.	Serão	fatores	subjetivos,	como	a	própria	hipossuficiência	econômico-financeira	de	uma
das	 partes,	 seu	 despreparo	 ou	 inexperiência	 etc.,	 ou	 fatores	 objetivos	 relacionados	 com	 a	 própria	 causa,
dificuldades	para	a	obtenção	de	certos	documentos	etc.	Em	qualquer	hipótese	essas	alterações	das	regras	legais
sobre	a	distribuição	do	ônus	da	prova	“não	pode	gerar	situação	em	que	a	desincumbência	do	encargo	pela	parte
seja	 impossível	ou	excessivamente	difícil”,	 tanto	quanto	não	o	pode	a	 inversão	consensual	do	ônus	da	prova,
pactuada	pelas	próprias	partes	(art.	373,	§	3.º).
Ordem	cronológica	de	recebimento	ou	de	conclusão.	Com	o	objetivo	de	cultuar	o	valor	da	isonomia	no	processo,
evitando	indesejáveis	favorecimentos	(Const.,	art.	5.º,	caput	–	CPC,	arts.	7.º	e	139,	I),	duas	ordens	de	dispositivos
do	 novo	 Código	 de	 Processo	 Civil	 impõem	 a	 observância	 da	 ordem	 cronológica	 para	 os	 juízes	 ou	 tribunais
proferirem	sentenças	ou	acórdãos	(art.	12,	caput	e	§§	1.º	a	6.º)	e	para	o	escrivão	ou	chefe	de	secretaria	realizar
atos	 de	 publicação	 e	 efetivação	 dos	 pronunciamentos	 judiciais	 (art.	 153,	 caput	 e	 §§	 1.º	 a	 5.º).	 Para	 juízes	 ou
tribunais	 prevalecerá	 a	 ordem	 cronológica	 de	 conclusão.	 Para	 os	 escrivães	 ou	 chefes	 de	 secretaria,	 a	 de
recebimento	dos	autos	em	cartório.	O	Código	especifica	também	normas	de	pormenor	a	propósito	dos	modos
como	 se	 afere	 a	 prioridade	 entre	 os	 processos,	 dispondo	 ainda,	 a	 bem	 da	 transparência	 e	 confiabilidade	 do
Poder	Judiciário,	que	“a	lista	de	processos	aptos	a	julgamento	deverá	estar	permanentemente	à	disposição	para
consulta	pública	em	cartório	e	na	rede	mundial	de	computadores”	(art.	12,	§	1.º	–	v.	também	art.	153,	§	1.º).	São
admitidas	certas	exceções	a	essas	regras,	como	em	caso	de	“sentenças	proferidas	em	audiência,	homologatórias
de	acordo	ou	de	 improcedência	 liminar	do	pedido”,	 causas	urgentes,	 sentenças	 terminativas,	 as	 preferências
legais	etc.	(arts.	12,	§	2.º	e	153,	§	2.º).	Entre	as	preferências	legais	incluem-se	as	causas	em	que	figure	como	parte
um	idoso	(60	anos	ou	mais)	ou	pessoa	portadora	de	doença	grave	(CPC,	art.	1.048,	I).
“Ainda	 é	 muito	 cedo	 para	 se	 sentir	 se	 essa	 nova	 regra	 será	 realmente	 observada	 pelos	 juízes,	 tribunais	 e
auxiliares,	e	se	produzirá	o	sadio	efeito	desejado,	de	impedir	o	favorecimento	de	alguns	em	desfavor	de	outros,
ou	 será	um	 fator	de	obstrução	do	 fluxo	 regular	dos	 julgamentos	ou	dos	atos	da	escrivania.	Teme-se	que	 sua
rigorosa	observância	poderá	produzir	o	efeito	perverso	de	impor	longas	esperas	de	uma	grande	massa	de	feitos
ou	recursos	de	mais	fácil	solução,	por	conta	da	solução	de	casos	mais	complexos,	que	ocupam	maior	tempo	dos
juízes	ou	tribunais.”
Julgamento	antecipado	parcial	do	mérito.	O	art.	356	do	novo	CPC	brasileiro	 institui	na	ordem	processualcivil
brasileira	 a	 admissibilidade	 de	 julgar	 antecipadamente	 uma	 parte	 do	 pedido	 inicial	 sempre	 que	 um	 dos
capítulos	deste	reunir	condições	para	esse	julgamento	e	o	outro,	ou	outros,	não.	No	tocante	aos	capítulos	não
decididos	prosseguirá	o	processo,	mediante	a	 instrução	probatória	 e	 tudo	mais	quanto	 for	necessário	para	o
julgamento	final.	A	antecipação	do	julgamento	de	um	dos	pedidos,	sem	julgar	os	demais,	significa	a	separação
entre	 dois	 ou	mais	 capítulos	 da	 decisão	 do	mérito,	 sendo	um	deles	 externado	 desde	 logo	 e	 o	 outro	 devendo
esperar.	Esse	julgamento	parcial	aproxima-se	ao	que	se	denomina	julgamento	antecipado	do	mérito	(art.	355)
mas	com	ele	não	se	confunde	porque	é,	conforme	o	próprio	nome	indica,	um	julgamento	parcial	e	este	último,
integral.	 Esse	 julgamento	 parcial,	 que	 é	 um	 autêntico	 julgamento	 de	mérito,	 será	 suscetível	 à	 autoridade	 da
coisa	 julgada	material,	 como	qualquer	 julgamento	de	mérito.	Mas	o	Código	o	 trata	como	decisão	e	não	como
sentença,	pondo-o	sob	o	crivo	do	recurso	de	agravo	de	instrumento	e	não	da	apelação	(art.	356,	§	2.º).
“Na	redação	do	art.	356,	seriam	duas	as	hipóteses	de	admissibilidade	desse	julgamento	antecipado	–	a	saber,	a
de	um	dos	pedidos	mostrar-se	incontroverso	(inc.	I)	e	a	de	estar	ele	em	condições	de	imediato	julgamento	(inc.
II).	Na	realidade,	o	inc.	I	seria	desnecessário	porque	um	pedido	incontroverso	estará	sempre,	em	princípio,	em
condições	de	ser	julgado	pelo	mérito”.
Honorários	da	sucumbência	em	segunda	instância.	Segundo	disposição	contida	no	art.	85,	§	11	do	novo	Código	de
Processo	Civil,	“o	tribunal,	ao	julgar	recurso,	majorará	os	honorários	fixados	anteriormente	levando	em	conta	o
trabalho	adicional	realizado	em	grau	recursal”	etc.	Disposições	como	essa	já	existem	na	lei	processual	de	outros
países,	notadamente	da	Itália,	e	correspondem	com	fidelidade	a	dois	dos	critérios	estabelecidos	em	lei	para	o
concreto	arbitramento	dos	honorários	da	sucumbência,	que,	a	 teor	do	que	dispõe	o	art.	85,	§	2.º,	 IV,	do	novo
Código,	são	“o	trabalho	realizado	pelo	advogado	e	o	tempo	exigido	para	o	seu	serviço”.	Ao	mandar	que	se	leve
em	 conta	 o	 trabalho	 adicional	 desenvolvido	 com	 as	 atividades	 recursais	 está	 aquele	 §	 11	 rigorosamente
alinhado	a	essa	ideia	de	remunerar	na	proporção	do	trabalho	efetuado	e	do	tempo	despendido.	Essa	inovação	é
também	 claramente	 motivada	 pelo	 intuito	 de	 inibir	 a	 interposição	 de	 recursos	 de	 pouca	 probabilidade	 de
conhecimento	 e	 provimento,	 aliviando	 a	 carga	 recursal	 que	 atormenta	 os	 tribunais.	 Ao	 falar	 somente	 em
tribunal	e	em	recurso,	sem	especificar	qual	tribunal	e	qual	recurso,	esse	parágrafo	aplica-se	tanto	aos	recursos
endereçados	 aos	 tribunais	 da	 Justiça	 comum	 (apelação	 e	 agravo	 de	 instrumento	 –	 Tribunais	 de	 Justiça	 e
Tribunais	Regionais	Federais),	como	àqueles	a	serem	julgados	pelo	STF	ou	STJ	(recurso	extraordinário,	recurso
especial,	recurso	ordinário)	e	também	aos	recursos	internos	processados	e	julgados	no	seio	do	próprio	tribunal.
“Mas	é	óbvio	que	esse	agravamento	da	honorária	só	ocorre	quando	o	recurso	interposto	não	for	conhecido	ou
vier	a	ser	improvido	–	porque,	sendo	provido,	na	maioria	dos	casos	o	tribunal	inverte	simplesmente	os	encargos
da	sucumbência	ou	os	dimensiona	segundo	as	regras	gerais.”
Medidas	relacionadas	com	a	união	estável.	Entre	as	modernidades	contidas	no	novo	Código	residem	certamente
aquelas	consistentes	em	disposições	relacionadas	com	a	união	estável	de	casais.	Essa	realidade	contemporânea
já	havia	sido	captada	pelo	Código	Civil,	que	a	disciplina	sistematicamente	(arts.	1.723	e	ss.)	e	a	ela	se	refere	em
uma	série	significativa	de	dispositivos	(arts.	1.562,	1.595,	§	2.º,	1.622,	1.631,	l.632	etc.),	transparecendo	agora	no
novo	Código	de	Processo	Civil,	que	a	inclui	na	disciplina	de	processos	e	medidas	atinentes	a	certas	relações	de
família,	 como	 se	 vê,	 acima	 de	 tudo,	 na	 rubrica	 em	 que	 trata	 “do	 divórcio	 e	 da	 separação	 consensuais,	 da
extinção	consensual	de	união	estável	e	da	alteração	do	regime	de	bens	do	matrimônio”	(arts.	731	e	ss.).	Também
ao	disciplinar	a	 competência	 territorial,	 os	 requisitos	da	petição	 inicial,	 os	 casos	de	 segredo	de	 Justiça	etc.,	 o
Código	de	2015	dá	atenção	a	essa	realidade	consistente	na	união	estável	(arts.	23,	III;	53,	I;	73,	III;	189,	II;	319,	II;
600,	par.	etc.).
17.	Novas	conceituações	e	nova	disciplina	de	certos	institutos
Intimações	 feitas	 pelo	 advogado.	 O	 novo	 Código	 de	 Processo	 Civil	 inovou	 na	 ordem	 jurídica	 brasileira	 ao
estabelecer	 que	 “é	 facultado	 aos	 advogados	 promover	 a	 intimação	 do	 advogado	 da	 outra	 parte	 por	meio	 do
correio,	 juntando	aos	autos,	a	seguir,	cópia	do	ofício	de	intimação	e	do	aviso	de	recebimento”	 (art.	269,	§	1.º).
Dispensam-se	 com	 isso	 as	 providências	 cartorárias	 destinadas	 à	 publicação	 dos	 atos	 judiciais	 para
conhecimento	 dos	 advogados,	 as	 quais,	 por	 conta	 da	 endêmica	 lentidão	 dos	 serviços	 Judiciários,	 às	 vezes
demoram	mais	do	que	deviam.	Mas,	como	está	nesse	dispositivo,	somente	as	intimações	a	advogados	podem	ser
feitas	como	ali	está.
Prazos	 contados	 em	 dias	 úteis.	 O	 art.	 219	 do	 novo	 CPC	 inovou	 significativamente	 no	 sistema	 dos	 prazos,	 ao
estabelecer	que	“na	contagem	de	prazo	em	dias,	estabelecido	por	 lei	ou	pelo	 juiz,	computar-se-ão	somente	os
dias	úteis”.	Ao	assim	dispor	contrariou	uma	longa	tradição	do	direito	brasileiro,	onde	sempre	se	contavam	os
prazos	em	dias	corridos	 (fossem	eles	dias	úteis	ou	não),	só	não	tendo	 início	e	não	podendo	terminar	em	dias
sem	expediente	forense.	Os	prazos	eram	contínuos,	dizia	o	art.	178	do	Código	revogado,	“não	se	interrompendo
nos	feriados”.
Conceito	 de	 citação.	 Ao	 definir	 a	 citação	 como	 “o	 ato	 pelo	 qual	 são	 convocados	 o	 réu,	 o	 executado	 ou	 o
interessado	para	integrar	a	relação	processual”,	o	art.	238	do	novo	CPC	corrigiu	o	equívoco	cometido	no	art.	213
do	 velho	 Código,	 que	 a	 definia	 como	 “o	 ato	 pelo	 qual	 se	 chama	 juízo	 o	 réu	 ou	 o	 interessado	 a	 fim	 de	 se
defender”.	Só	no	processo	de	conhecimento	o	demandado	 (réu)	é	chamado	a	se	defender.	No	executivo,	para
satisfazer	 a	 obrigação	 (CPC,	 arts.	 806,	 815,	 829	 etc.).	 A	 convocação	 a	 se	 defender	 ou	 a	 satisfazer	 a	 obrigação
(conforme	o	caso)	é	realizada	mediante	uma	intimação,	feita	simultaneamente	com	a	citação	mas	que	com	ela
não	se	confunde.	Essa	era	uma	crítica	 lançada	pela	doutrina	contra	a	redação	do	art.	213	do	CPC/1973,	que	o
novo	Código	acatou	por	inteiro.
“Ainda	 sob	 a	 influência	 do	 velho	 Código,	 o	 art.	 238	 do	 atual	 incluiu	 o	 interessado	 entre	 os	 destinatários	 da
citação	ou	da	intimação	que	a	acompanha,	o	que	não	tem	razão	de	ser.	Em	dois	dispositivos	o	Código	de	1973
manipulava	 esse	 vocábulo	 para	 indicar	 os	 sujeitos	 parciais	 do	 processos	 de	 jurisdição	 voluntária,	 que	 não
seriam	partes	 (arts.	 2.º	 e	 213),	 a	partir	de	um	superado	preconceito	pelo	qual	nessa	 espécie	de	processo	não
haveria	partes,	mas	simplesmente	interessados.	Superado	amplamente	esse	preconceito	na	doutrina	moderna,
é	inconveniente	a	menção	que	o	novo	art.	238	faz	a	interessados.”
Citação	por	via	postal	a	qualquer	comarca	ou	subseção	do	País.	O	art.	247	do	CPC	consagra	uma	prática	que	já
vinha	 dos	 tempos	 do	 estatuto	 revogado,	 ao	 dispor	 que,	 em	 princípio,	 “a	 citação	 será	 feita	 pelo	 correio	 para
qualquer	comarca	do	País”	–	entendendo-se	que	o	vocábulo	comarca,	ali	empregado,	está	por	foro,	abrangendo
pois	as	comarcas	das	Justiças	estaduais	e	as	subseções	da	Federal.
“Apesar	do	que	pode	parecer	pelo	modo	como	o	caput	do	art.	347	poderia	sugerir,	as	exceções	contidas	em	seus
cinco	 incisos	não	 são	 casos	em	que	a	 citação	postal	não	possa	 ir	além	dos	 limites	 territoriais	da	 comarca	ou
subseção,	mas	casos	em	que	a	própria	citação	por	via	postal	não	se	realiza.”
Honorários	da	sucumbência	tarifados	em	uma	tabela	decrescente	(Fazenda	Pública).	Em	alguma

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