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INICIAÇÃO ESPORTIVA PROFESSOR Dr. Rui Resende Quando identificar o ícone QR-CODE, utilize o aplicativo Uni- cesumar Experience para ter acesso aos conteúdos online. O download do aplicativo está disponível nas plataformas: Acesse o seu livro também disponível na versão digital. Google Play App Store 2 INICIAÇÃO ESPORTIVA C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; RESENDE, Rui. Iniciação Esportiva. Rui Resende. Maringá - PR.:Unicesumar, 2018. Reimpresso em 2021. 168 p. “Graduação em Educação Física - EaD”. 1. Iniciação Esportiva . 2. Esporte na Escola. 3. Desporto. 4. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-1661-1 CDD - 22ª Ed. 796 CIP - NBR 12899 - AACR/2 NEAD Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 Jd. Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Impresso por: Coordenador(a) de Conteúdo Mara Cecília Rafael Lopes, Projeto Gráfico José Jhonny Coelho, Editoração Humberto Garcia da Silva, Designer Educacional Ana Claudia Salvadego, Revisão Textual Ariane Andrade Fabreti e Silvia Caroline Gonçalves, Ilustração Bruno Pardinho, Fotos Shutterstock. DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon, Diretoria de Graduação Kátia Coelho, Diretoria de Pós-Graduação Bruno do Val Jorge, Diretoria de Permanência Leonardo Spaine, Diretoria de Design Educacional Débora Leite, Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima, Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira, Gerência de Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas, Gerência de Contratos e Operações Jislaine Cristina da Silva, Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia, Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey, Supervisora de Projetos Especiais Yasminn Talyta Tavares Zagonel Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos com princípios éticos e profissionalismo, não somente para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo- nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educadores soluções inteligentes para as necessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! Wilson Matos da Silva Reitor da Unicesumar boas-vindas Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Comunidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, atemporal, global, democratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da educação por meio da conectividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram a informação e a produção do conhecimento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Então, priorizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em informações e interatividade. É um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. Willian V. K. de Matos Silva Pró-Reitor da Unicesumar EaD Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1981): “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica. boas-vindas Débora do Nascimento Leite Diretoria de Design Educacional Janes Fidélis Tomelin Pró-Reitor de Ensino de EAD Kátia Solange Coelho Diretoria de Graduação e Pós-graduação Leonardo Spaine Diretoria de Permanência autor Dr. Rui Resende Possui Bacharelado em Educação Física e Desporto pela Universidade do Porto (1988), graduação em Licenciatura em Educação Física e Desporto pela Uni- versidade do Porto (1990), especialização em Profissionalizaçãono Ensino da Educação Física pela Escola Superior de Educação do Porto (1995), mestrado em Alto Rendimento Desportivo pela Universidade do Porto (1996), doutorado em Ciências da Atividade Física e do Desporto pela Universidade da Corunha (2009) e aperfeiçoamento em Estudos Avançados em Ciências da Atividade Física e do Desporto: Avances e pela Universidade da Corunha (2005). Para informações mais detalhadas sobre sua atuação profissional, pesquisas e publicações, acesse seu currículo, disponível no endereço a seguir: Link: <http://lattes.cnpq.br/5443241436070731>. apresentação do material INICIAÇÃO ESPORTIVA Professor Dr. Rui Resende O livro que se apresenta, denominado de Iniciação Esportiva, tem como grande propósito constituir um objeto de referência para quem pretende iniciar uma profissão relacionada à Educação Física e ao Esporte. No momento atual, de grandes transformações políticas, econômicas e sociais, a sociedade exige que o profissional que exerce a sua atividade na área da atividade física e esportiva tenha uma preparação adequada, que seja uma pessoa culta, empenhada, e que, por via disso, seja capaz de exercer com competência e proficiência esta profissão. Considerando que a escola constitui o momento mais privilegiado para de- senvolver a literatura relacionada à atividade física e ao esporte em particular, abordou-se a forma como se poderá fazer a introdução do esporte na escola. Real- çaram-se os contextos histórico-políticos pelos quais esta abordagem se fez sentir, e perspectiva-se uma abordagem atualizada e mais apropriada aos seus propósitos. A importância do esporte e a sua afirmação enquanto valor educativo são es- camoteáveis. A sua abordagem educativa deve privilegiar a integração de todos, e a prática de formas jogadas, como preponderante fator motivacional. A evidência com a qual o esporte se manifesta na sociedade moderna deve ser investigada pelos seus atores, nomeadamente, os treinadores. Parece uma evidência aceitar que o esporte de elevado rendimento continuará a manifestar-se como um espetáculo onde o surgimento de novos heróis e a consequente mercantilização serão uma realidade. Paralelamente a este fenômeno, o esporte de participação poderá ser uma ferramenta de desenvolvimento pessoal e da sociedade como um todo, pois tem todos os utensílios para fazer emergir excelentes qualidades humanas, e estas, por sua vez, repercutirem na sociedade como um todo. Como exemplos que ilustram esta demanda na promoção da saúde pública, apontamos o esporte como fator de combate à obesidade e às drogas e com grande impacto na inclusão social. Destaca-se, igualmente, a importância de conhecer a origem do esporte e da figura do treinador para compreender como decorreu a sua evolução e, assim, perspectivar o futuro deste profissional, que se pretende digno e respeitado, porque também deverá ser altamente qualificado. Por isso, faz todo o sentido perspectivar os conhecimentos e as competências necessárias para desempenhar esta função com eficácia. A forma como ele adequa as suas competências ao desenvolvimento do atleta é o ponto essencial da atuação do treinador. Os diferentes contextos de aplicação da competência do treinador (esporte de rendimento ou de participação) devem manifestar-se de forma a levar em conta o desenvolvimento positivo dos jovens e manifestar de forma intencional o desenvol- vimento de competências de vida para além das esportivas. Para alcançar este fim, é fundamental contar com o apoio da família que, como agente primário da sua inserção no esporte, deve ser aliciada a se comprometer com o desenvolvimento integral do jovem. O clube esportivo e o treinador devem, consequentemente, empregar esforços e promover iniciativas que contribuam para este efeito. O papel diferenciador que o treinador pode proporcionar, nomeadamente, com a reali- zação de informação qualificada referente ao atleta (ficha do atleta) no processo de treino, pode constituir uma forma de interação com os pais e demonstrar, de forma evidente, a qualidade do trabalho desenvolvido. Materializando todas as concepções anteriores, o treinador deve ser capaz de criar uma filosofia de treino adequada aos seus valores e aos do clube que repre- senta, materializando-os em atitudes e comportamentos no decurso do treino e da competição. Neste sentido, apontam-se sugestões para percorrer este caminho pedagógico. A planificação do trabalho a ser efetuado é uma ferramenta essencial para que o treinador conduza um processo de treino. O esforço em controlar a globalidade de todo o processo de treino permite adequar os seus propósitos e refletir de forma mais aprofundada sobre toda a atividade desenvolvida. As planilhas que se apre- sentam pretendem contribuir para que seja permitido ao treinador desenvolver, dentro do seu contexto específico, um trabalho com maior rigor e profissionalismo. sumário UNIDADE I ESPORTE NA ESCOLA 14 Contextos da Educação Física 18 O Esporte como Conteúdo de Ensino nas Aulas de Educação Física 22 Modelos de Ensino do Esporte – TGfU 28 Modelos de Educação Esportiva – Sport Education 31 Considerações finais 36 Referências 38 Gabarito UNIDADE II O DESPORTO NO SÉCULO XXI 44 Caracterização do Esporte no Século XXI 48 Esporte Potenciador da Saúde das Populações 52 Os Clubes Esportivos Modernos 58 Contexto Histórico da Intervenção do Treinador 62 Considerações finais 68 Referências 69 Gabarito UNIDADE III CONHECIMENTOS E COMPETÊNCIAS DO TREINADOR 74 Conhecimentos do Treinador 78 Competências do Treinador 82 Domínios de Desenvolvimento dos Atletas 86 Caracterização do Esporte Juvenil 92 Considerações finais 98 Referências 100 Gabarito UNIDADE IV EVOLUÇÃO POSITIVA ATRAVÉS DO ESPORTE 106 Treino de Jovens Atletas para uma Evolução Positiva por Meio do Esporte 110 Impacto do Esporte nas Competências de Vida 114 Desenvolvimento Positivo por Meio do Es- porte: Papel dos Treinadores 120 Desenvolvimento Positivo por Meio do Es- porte: Papel da Família 126 Considerações finais 132 Referências 135 Gabarito UNIDADE V PREPARAR E PLANEJAR A INTERVENÇÃO DO TREINADOR 140 Filosofia do Treinador 146 Planificação Anual Periodização 152 Plano Semanal Microciclo 158 Unidade de Treino 162 Considerações finais 167 Referências 167 Gabarito 168 Conclusão geral Professor Dr. Rui Resende Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Contextos da Educação Física • O esporte como conteúdo de ensino nas aulas de Educação Física • Modelos de ensino do esporte - TGfU • Modelos de educação esportiva - Sport Education Objetivos de Aprendizagem • Reconhecer os contextos e a evolução da Educação Física. • Identificar as razões pelas quais o esporte constitui matéria curricular da Educação Física. • Verificar os conteúdos da proposta de modelo de ensino do esporte – TGfU. • Estudar os conteúdos da proposta de modelo de ensino do esporte – Sport Education. ESPORTE NA ESCOLA unidade I INTRODUÇÃO O livro Iniciação Esportiva inicia-se por uma abordagem à Edu- cação Física (EF). A razão pela qual se faz esta incursão ganha pertinência pelo fato de o sistema educacional brasileiro ter como incumbência, na sua matriz curricular, lecionar o es- porte. Justifica-se, então, enquadrar historicamente a evolução desta dis- ciplina relacionando-a com o esporte, pois ainda são evidentes as tensões subjacentes à sua abordagem nos espaços escolar e não escolar. A pertinência advém de que, por meio da EF, o esporte chega a toda a população como conteúdo de ensino. Constitui um processo pedagógico que, se devidamente enquadrado, possibilitará a valorização dos alunos do ponto de vista humanista, fomentando a sua opção por um estilo de vida ativo quando eles saírem do sistema de ensino. Legitima-se o ensino do esporte pelo seu valor intrínseco, pois implica orientação e compro- metimento, apela ao esforço, à persistência e à resiliência, para além da competência e doresultado. Contudo, os métodos de ensino tradicionais têm sido questionados quanto à sua eficácia. As principais criticas provêm do fomento à exclusão pela elitização da participação e de não corresponder aos anseios dos alunos por se funda- mentar no ensino das técnicas em detrimento do jogo. Os modelos de ensino do esporte ilustram novas possibilidades de ensino e também têm o propósito de oferecer novas ferramentas didáti- cas aos educadores no intuito de melhorar a sua intervenção pedagógica. O modelo do ensino do jogo para a sua compreensão deu novos sig- nificados pedagógicos ao ensino do esporte, inspirado em uma visão construtivista centrada no aluno. O ensino estratégico e tático com a uti- lização de jogos reduzidos e a transferibilidade entre modalidades afins constitui o cerne da sua filosofia. O modelo de educação esportiva consti- tui uma abordagem profundamente diferenciadora pela noção de ensinar o esporte em todos as suas competências. Assim, o aluno deverá passar por todos os papéis e atribuições que perpassam a competição esportiva. 14 INICIAÇÃO ESPORTIVA Para quem tem como vocação, ou interesse, vir a ensinar conteúdos relacionados com a atividade fí- sica e esportiva, deve ter alguma consciência sobre as determinantes que precederam a sua atualidade e a forma como ela, por meio da EF, é abordada no meio educativo. Vamos, então, dedicar alguma atenção às ra- zões que levaram à incorporação do esporte nos currículos da EF. Contudo, antes de abordarmos o esporte na escola, importa observarmos um pouco a EF, que é a disciplina que assume o ensino formal do esporte na escola. O termo EF é usado para identificar a área cur- ricular correspondente aos anos de escolaridade das crianças e dos jovens, tendo como propósito desen- volver competências e habilidades em diferentes atividades motoras (RESENDE; LIMA, 2016). Deve constituir-se como a base de um conhecimento da atividade física e esportiva, fomentando nos alunos a procura por um estilo de vida ativo, de forma que este venha a repercutir no futuro enquanto adultos. Aliás, é interessante salientar que as percepções fí- sicas formadas durante a adolescência são, muitas vezes, determinantes no comprometimento com os Contextos da Educação Física EDUCAÇÃO FÍSICA 15 níveis de atividade física subsequentes. Neste senti- do, os contributos que a EF pode providenciar e pro- mover no aluno são inúmeros: o respeito pelo corpo, o seu e o dos outros; melhoria da autoestima e da autoconfiança; desenvolvimento de competências sociais e cognitivas que, por sua vez, podem refle- tir-se em um melhor desempenho acadêmico, como muitos estudos apontam (PERALTA et al., 2014). Não se pode deixar de referir, porém, que, devi- do a inabilidades várias, a EF pode provocar “alergia” à atividade física e esportiva por parte dos jovens e, assim, condicionar a sua adesão, no futuro, ao pro- clamado e desejado estilo de vida saudável. Este as- pecto não deve ser escamoteado, pois a simples prá- tica da EF, com todas as virtudes que se enunciam e lhe reconhecem, podem não ser suficientes para alcançar os objetivos a que ela se propõe. Neste con- texto, o professor e profissional de EF é um ator de importância crucial, pois o seu empenho na forma como leciona fará toda a diferença na perceção que o aluno terá sobre a importância da atividade física para toda a sua vida. Tendo em conta a saúde pública e a cultura espor- tiva, a EF deve constituir-se como uma defesa na promoção de um estilo de vida saudável. Para isto, é determinante que as atividades aí propostas refor- cem os sentimentos de competência, estimulando a realização da atividade física de forma prazerosa. A EF escolar brasileira possui uma trajetória que principia em 1851 (com a reforma Couto Ferraz), inicialmente denominada Ginástica, com a sua inclu- são no rol de disciplinas operacionalizadas na esco- la e com o propósito da prática de exercícios físicos. Somente em 1882, com Rui Barbosa e a sua reforma do ensino primário, secundário e superior, é que se atribui importância à ginástica como elemento indis- pensável para a formação integral da juventude. Des- de então, vem agregando elementos históricos, mar- cos sociais com conflitos e conquistas, por exemplo, a sua consolidação enquanto área de conhecimento. Sofreu, desde a sua inclusão, influências das institui- ções onde era lecionada, nomeadamente de caráter militar e médico (MARTINS; PAIXÃO, 2014). Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na- cional, ou LDB (BRASIL, 1996), a EF é componente curricular obrigatório para a Educação Básica (Edu- cação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Mé- dio). As diretrizes curriculares reforçam a ideia de se estabelecer o desenvolvimento pleno e gradual do aluno, preparando-o para a cidadania em articula- ção com todos os componentes curriculares, privile- giando o desenvolvimento humano. A forma como a EF se apresenta atualmente di- fere das razões que a fizeram surgir na generalidade dos sistemas educativos contemporâneos. Conside- rando o Brasil, inicialmente (1889-1930), sob uma ótica médica e higienista, os governantes passaram a prestar mais atenção à saúde dos habitantes nas ci- dades. Pretendia-se a formação de indivíduos fortes, Figura 1 – As aulas de Educação Física em 1916, exercícios de postura e equilíbrio só com mulheres Fonte: Wikipédia (2015, on-line)1. 16 INICIAÇÃO ESPORTIVA saudáveis e propensos à aderência às atividades boas em detrimento de maus hábitos. Curiosamente, as- siste-se, atualmente, a uma preocupação semelhante com o combate à obesidade e ao sedentarismo. Pos- teriormente (1930-1945), tal preocupação veio com uma perspectiva militarista, a qual se pretendia que os jovens estivessem fisicamente aptos e, assim, me- lhor preparados para as obrigações militares. Em se- guida, veio um período considerado pedagogicista (1945-1965), em que a EF era proposta como forma- ção do indivíduo. A EF competitivista (1964-1985), uma visão do regime militar de então, enaltece os es- portes com competições oficiais e o culto do atleta- -herói. Esta fase, em que existe uma apropriação da EF pelo regime, ainda condiciona, em grande me- dida, a forma como o esporte é visto hoje no Brasil. Apesar de tudo, o esporte, nos dias atuais, surge como parte integral do programa curricular da EF. Acrescentamos que o vigor com que o faz advém dos desenvolvimentos sociais das últimas décadas, que promoveram o esporte à escala mundial, transfor- mando-o em um produto extremamente midiático e com grande impacto comercial. Tal como já referimos, a inclusão do esporte nas aulas de EF ainda é considerado controverso por muitos, por via do peso político e ideológico que contempla (MARTINS; PAIXÃO, 2014). Com efeito, a tentativa de reproduzir, na escola, o espor- te-espetáculo, ou servir-se da escola como viveiro de futuros alunos “atletas”, enfatizando a competição, a vitória e, como consequência, a exclusão dos menos habilidosos, levou a sua base componente educativa e formadora ao enfraquecimento. A inserção do esporte na escola constitui uma realidade hegemônica no Brasil (FERREIRA; LU- CENA, 2006), mas também no mundo, com um tempo destinado à sua prática nas aulas de EF su- perior a 40% (HARDMAN, 2008). Estes dados re- forçam a importância que deve ser dada ao ensino desta matéria em contexto escolar. Não pretendendo aflorar os contornos políticos que levam à discussão da importância desta hegemo- nia, consideramos, contudo, que o esporte deve ter um lugar importante na formação das crianças e dos jo- vens. Os jogos esportivos “são atraentes pela dinâmica que exploram e as disputas que desencadeiam, enal- tecendo o incerto (pela presença de um adversário), a tomada de decisão e a inevitável solidariedade para a conquista de um objetivo comum” (RESENDE; SÁ; LIMA, 2017, p. 12). De acordo com os autores citados, o esporte tem a possibilidade de transportar mais-va- lias pedagógicaspara o espaço educativo, potenciado- ras de um desenvolvimento positivo dos jovens. Os resultados positivos da participação esportiva na inclusão social, na saúde mental e física e na apa- rente melhoria cognitiva e acadêmica dos jovens (BAI- LEY, 2005) deve constituir um forte argumento para perspectivar um ensino esportivo de qualidade. A pró- pria ONU (2003), enaltece o esporte como inclusivo e promotor da cidadania, contribuindo para a economia e fomentando um ambiente limpo e saudável. A EF, no Brasil, passou por momentos muito conturbados pela apropriação e pela carga ideológica que lhe foi associada. A este pro- pósito e acerca da História brasileira da EF, sugerimos a leitura do artigo “A História da Educação Física Escolar no Brasil”. Para saber mais, acesse: <http://www.efdeportes.com/ efd124/a-historia-da-educacao-fisica-esco- lar-no-brasil.htm>. Fonte: o autor. SAIBA MAIS EDUCAÇÃO FÍSICA 17 18 INICIAÇÃO ESPORTIVA A EF é uma área curricular que se preocupa com o desenvolvimento dos alunos em termos de compe- tência física e autoconfiança, de forma a usar estas habilidades em um leque alargado de atividades. Deve preocupar-se, em consequência, em ensinar os alunos a “aprender a mover-se” e a “mover-se para aprender”. Centra-se no ensino de habilidades que envolvem a participação física, com o conhe- cimento do próprio corpo e a sua capacidade de movimento. Contudo, tem igualmente incluído, no seu âmago, valores educacionais, como habilidades sociais e éticas. O Esporte como Conteúdo de Ensino nas Aulas de Educação Física EDUCAÇÃO FÍSICA 19 A legitimação do ensino do esporte, na escola e fora dela, advém do seu próprio valor enquanto potencial de desenvolvimento do ser humano, por meio de uma prática que, apesar de lúdica e praze- rosa, exige o cumprimento de regras pré-estabele- cidas e, por isto, implica organização. Desta forma, ensinar um jogo esportivo implica a orientação e o comprometimento com um objetivo, exigindo esforço e persistência, qualidade de desempenho e resultado. Estas virtudes levam ao espaço educa- tivo mais-valias pedagógicas que sustentam a sua importância curricular. O ensino dos esportes na escola, todavia, por meio dos métodos tradicionais e analítico, tem sido objeto de críticas por não corresponder nem às ex- pectativas dos alunos, nem aos objetivos que perse- gue. O foco de um ensino centrado em um método de aquisição das técnicas específicas de cada um dos esportes, desligada do contexto real do jogo, impli- ca uma escassa aquisição de competência por parte dos alunos em resolver as situações reais que o jogo levanta. Isto, aliado à exaltação de uma mestria téc- nica, traz desmotivação aos alunos pela falta de sen- tido que leva à sua aprendizagem do jogo. A questão de como ensinar os jogos esportivos consti- tui um assunto controverso e tem sido objeto de grande curiosidade acadêmica. As novas correntes pedagógi- cas sustentadas nas teorias da aprendizagem cognitiva e construtivista, assim como a teoria da aprendizagem situada, são consideradas inovadoras no ensino dos esportes (ROBLES et al., 2013) e têm dado destaque ao conceito de modelo em detrimento do método. Os modelos curriculares são desenvolvidos para ajudar os alunos a participar de uma forma equitativa, desafiando o seu raciocínio para além da replicação de técnicas ou de habilidades. A este propósito, Metzeler (2005) refere que o modelo: • Fornece um plano global e uma abordagem coerentes para ensinar e aprender. • Clarifica as prioridades nos diferentes domí- nios de aprendizagem e de suas interações. • Fornece uma ideia central para o ensino. • Permite ao professor e aos alunos entenderem o que está acontecendo e o que virá a seguir. • Fornece uma estrutura teórica unificada. • Apoia-se na investigação. • Fornece uma linguagem técnica aos professores. • Permite que a relação entre instrução e apren- dizagem seja verificável. • Permite uma avaliação mais válida da aprendizagem. • Facilita a tomada de decisão do professor den- tro de uma estrutura de trabalho conhecida. A importância de conceber o esporte e, mais particu- larmente, os jogos esportivos coletivos desta forma, permite ensinar o jogo de uma maneira modificada, mantendo a sua essência, mas reduzindo a sua comple- xidade e possibilitando aos alunos compreender os seus elementos-chave (ALMOND, 2015). Usando as formas de jogo reduzido, permite-se um estilo de ensino que se pode apelidar de descoberta guiada, pois, por meio Marco Saroldi / Shutterstock.com 20 INICIAÇÃO ESPORTIVA da colocação do aluno em uma situação de jogo de en- frentamento do adversário, ele é estimulado a encon- trar as melhores soluções para resolver os problemas que o jogo induz. Assim, o aluno alcança um nível de compreensão consciente e age intencionalmente sobre a tática do jogo (GRAÇA; MESQUITA, 2007). A prática de jogos reduzidos oferece, igualmente, a vantagem de permitir aos professores integrar o en- sino de modalidades similares, pois a transferibilidade entre elas é possível. Como exemplo, podemos citar: [...] o popular jogo dos ‘10 passes’ em que se pre- tende que uma equipa mantenha a posse de bola, ou a ‘bola ao capitão’, em que o objetivo, para além de manter a posse de bola, é efetuar uma progres- são no terreno de jogo tendo como objetivo fazer com que ela chegue a um colega de equipa que está num espaço circunscrito no término do cam- po adversário (RESENDE et al., 2017, p. 12). gos tempos de espera para entrar em atividade. Este tipo de abordagem implica o professor assumir uma intervenção que, para além da liberdade de deixar jogar, ajude o aluno a encontrar soluções, comuni- cando de forma positiva e estimuladora uma reação à prestação do aluno. Neste contexto, e de acordo com Tani (2002), as principais caraterísticas do esporte enquanto con- teúdo da EF devem: • Ser objetiva no que diz respeito ao rendimen- to, implicando consideração pelas diferenças individuais, nomeadamente, as caraterísticas físicas, psicológicas, sociais e culturais dos alunos. Deve também ter em consideração as diferenças individuais quanto às expectativas individuais, às aspirações e aos valores. • Estabelecer metas de desempenho realistas, evitando, por um lado, a superestimulação e, por outro, a subestimulação. • Deve visar a aprendizagem e, com isso, o co- nhecimento esportivo. • Necessita ter como preocupação abranger to- dos os alunos, independentemente do sexo, do seu nível de desenvolvimento motor e das suas capacidades físicas. • O processo deve ser objeto de avaliação, per- mitindo fornecer indicações objetivas sobre o progresso do aluno. • Deve ter como alicerce que a sua dissemina- ção constitui um patrimônio cultural da hu- manidade. De acordo com a sua própria experiência en- quanto aluno(a), pondere sobre a razão pela qual o esporte pode desencorajar a prática de atividade física nos alunos de EF. REFLITA Idealizar o ensino do esporte desta forma tem como grande objetivo fomentar a participação dos alunos nas aulas de Educação Física, pois a motivação para o jogo é muito mais entusiasmante do que a reali- zação de exercícios analíticos que induzem a lon- A_Lesik / Shutterstock.com EDUCAÇÃO FÍSICA 21 22 INICIAÇÃO ESPORTIVA Modelos de Ensino do Esporte – TGfU EDUCAÇÃO FÍSICA 23 Materializando os conceitos expostos, apresentamos duas propostas de modelos de ensino do esporte que têm sido alvo de bom acolhimento a nível interna- cional, com destaque para os países anglo-saxôni- cos. O interesse da sua importância para o ensino do esporte na escola, e na EF em particular, é o que pretende fazer a adesão ao esporte ser muito mais significativa. Esses modelos têm igualmente desper- tado a curiosidade da comunidade científica, a qual tem produzido material empírico (fruto de pesqui- sas com recurso a diferentes metodologias e em di- ferentes sistemas de ensino) que dá sustento e incen-tiva a sua aplicação. São modelos cujo objetivo é empregar metodo- logias pedagógicas mais democráticas, providen- ciando aos alunos experiências esportivas que real- mente lhes permitam aprender a jogar bem e, com isso, ter maior desfrute com a sua prática. Neste sen- tido, o conhecimento do jogo refere-se não somen- te à capacidade para executar habilidades motoras complexas, mas também às decisões apropriadas do uso dessas habilidades no contexto do jogo. Ambos os modelos rompem com as abordagens mais tradicionais ao nível dos conteúdos, dos méto- dos e das estratégias de ensino. Reconfiguram os pa- péis e a responsabilidades de quem ensina e de quem aprende, estabelecendo novos cenários de contextos de instrução e aprendizagem. Estes novos modelos surgem em oposição à perspetiva tradicional de fragmentação do jogo em ‘habilidades básicas’ e ao ensino das técni- cas isoladas, onde é ignorada a complexidade e a espontaneidade do jogo, para enfatizar a to- mada de decisão e a capacidade de intervenção em situações autênticas de prática em referên- cia aos problemas impostos pelo jogo (MES- QUITA; PEREIRA; GRAÇA, 2009, p. 945). Desta forma, sugere-se que, quando os professores ajudam as crianças e os jovens a “entender” o jogo e reduzem a importância do ensino das técnicas de forma isolada, o divertimento e a satisfação com o jogo são abertos a todos, independentemente da sua habilidade. MODELO DE JOGO PARA A SUA COMPRE- ENSÃO – TGfU O modelo do ensino dos jogos para a sua compre- ensão (Teaching Games for Understanding - TGfU), proposto por Bunker e Thorpe (1982), teve um forte impacto na forma como se começou a encarar o en- sino das modalidades esportivas. A um ensino tra- dicional que iniciava a aprendizagem do jogo pelo domínio das técnicas, os autores propuseram uma forma de ensinar na qual o próprio jogo fosse a sua essência. Desta forma, promovia-se uma participa- ção mais igualitária entre os estudantes, desafiando o entendimento do esporte para além das execuções técnicas e habilidades respectivas. 24 INICIAÇÃO ESPORTIVA O ensino centrado no aluno, no qual este modelo se apoia, pretende proporcionar sucesso em uma grande variedade de jogos, explorando as técni- cas e táticas que lhes são comuns, como “o passar e desmarcar”, “encontrar espaços vazios” ou “abrir linhas de passe”. Assim, o professor ou o treinador centra o seu foco no ensinar a jogar ao invés de en- sinar as técnicas específicas de cada modalidade. Os alunos devem executar estratégias apropriadas à complexidade do jogo e empregar tempo satisfa- tório para jogar. Quando se apresenta um jogo aos alunos, este deve ser adequado à sua idade e ao seu nível de experiên- cia. Na prática, o professor desenha cenários de jogo em forma de puzzles (quebra-cabeça) que necessi- tam ser resolvidos e que representam aquilo que o aluno normalmente encontra no jogo. A apreciação do jogo envolve o conhecimento das suas regras, que podem ser adaptadas em fun- ção dos constrangimentos situacionais. A compre- ensão tática implica o aluno na consciencialização dos problemas táticos que o jogo aporta e preconiza o entendimento das táticas mais elementares. A to- mada de decisão incita o aluno a resolver questões (o que fazer? Como fazer), atribuindo, desta forma, significado ao uso da técnica, em função dos pro- blemas táticos suscitados pelas ocorrências do jogo. A habilidade de execução procura dotar os alunos de um maior domínio e também de uma maior efi- cácia na execução das técnicas. Todas as fases ante- riores se reúnem para se corporizar na consolidação do jogo. O ciclo voltará a repetir-se, implicando o desenvolvimento de procedimentos cognitivos e técnicos cada vez mais complexos, até atingir o jogo formal. Contudo, é importante salientar que, apesar do propósito ser o ensino em direção ao domínio do O foco pedagógico é uma abordagem que: 1. Representa jogos complexos de forma simplificada. 2. Modifica os princípios de jogo de forma a diminuir as suas exigências. 3. Exagera procedimentos no sentido de salientar determinados aspectos do jogo que são importantes para a sua compreensão. Uma das primeiras preocupações é evitar que o jogo se torne uma obsessão, desta forma, colocando aos alunos questões como: o que fazer? Quando fazer? E não apenas como fazer? O contexto do jogo tem precedência sobre o en- sino das técnicas, assim, a escolha da forma do jogo é crucial e será determinante que este o qual foi se- lecionado não faça recurso de técnicas que impeçam a sua realização. Consequentemente, deve permitir aos alunos enfrentar de forma inteligente as situa- ções colocadas, interpretá-las, identificar uma possi- bilidade de solução e, consequentemente, agir inten- cionalmente de acordo com os objetivos. Os seis passos para o ensino do TGfU pro- postos por Bunker e Thorpe (1982) são os seguintes: 1. Jogo. 2. Apreciação do jogo. 3. Consciência tática. 4. Tomada de decisão. 5. Habilidade de execução. 6. Performance em competição. EDUCAÇÃO FÍSICA 25 jogo formal, se este não for alcançado, não diminui em nada a importância das aprendizagens obtidas pelos alunos no decorrer de todo o processo. debol possui um princípio similar à desmarcação no basquetebol. O segundo princípio consiste na representação do jogo (Game representation), no qual os professo- res criam um desenvolvimento apropriado por meio de cenários de jogo que proporcionem como usar uma determinada habilidade ou solução tática den- tro do jogo. Como exemplo, podemos ilustrar com o jogo dos dez passes, já mencionado anteriormente. O objetivo será a manutenção da posse de bola e impedir que o adversário a conquiste. O terceiro princípio, designado de exagero (Exaggeration), implica que os professores defi- nam um objetivo específico tendo como ponto de partida o jogo formal, concebendo um outro jogo que procure exagerar o conceito específico que es- colheram anteriormente. Recorrendo novamente ao jogo dos dez passes, coloca-se um constran- gimento ao jogo, em que se penaliza com perda de posse de bola se houver um passe devolvido a quem lhe passou. O último princípio, complexidade tática (Tacti- cal complexity), assenta-se na premissa de que existe um desenvolvimento progressivo de soluções táticas que inclui as habilidades com bola e respectivos mo- vimentos. Mais uma vez, por meio do mesmo jogo, solicitar (até com ajuda de uma pontuação) formas diferenciadas de passar a bola. O modelo de ensino do jogo, para a sua com- preensão, não deve ser reduzido ao ensino de uma competência cognitiva ou tática, pois tem grande potencial de confirmar a humanidade da EF e do es- porte por meio das formas em que destaca a intera- ção humana e as dimensões afetivas dos jogos. A operacionalização do ensino desse modelo, segundo Almond (2015), envolve: Estes passos metodológicos anteriormente referen- ciados estão subordinados a quatro princípios peda- gógicos. O primeiro, chamado de amostragem (Sam- pling), evidencia como a compreensão das soluções táticas, regras e habilidades permite a transferibili- dade entre jogos similares ou da mesma categoria. Significa que, por exemplo, a desmarcação no han- 26 INICIAÇÃO ESPORTIVA Na sua essência, jogar pressupõe esforçar-se pela obtenção da vitória, o professor deve re- fletir sobre a melhor estratégia para desenvolver o aluno neste particular. Entender o jogo: • As regras do jogo e a forma como o podem influenciar. • Estratégia, táticas e princípios de jogo. • Os princípios de jogo dentro de uma partida reconhecendo a sua relevância em situações específicas. • Como trabalhar em equipe e para a equipe – fomentando a responsabilida- de coletiva. • Por que jogar desta forma ou daquela. • Onde os próprios colegas estão e para onde eles são suscetíveis de se movimentar. • A forma e o fluxo do jogo. • O papel e a responsabilidades individuais: • No ataque e na defesa. • Quando não tem a posse da bola.EDUCAÇÃO FÍSICA 27 Uma das muitas vantagens do TGfU é que ele per- mite ao professor integrar a sua abordagem em di- ferentes categorias de jogos. Isto pode ser alcançado procurando similaridades e diferenças nas técnicas, estratégias, táticas, regras e, inclusive, variáveis psi- cológicas. Noções básicas sobre o jogo: a necessida- de de aprender a vencer os adversários • Reconhecer como a sua equipe pode jo- gar – Quais são as opções. • Reconhecer como jogam os adversários. • Ser sensível às mudanças que ocorrem durante o jogo. • Estabelecer conexões entre a forma como se está jogando e as forças e fraquezas do adversário e da própria equipe. • Decidir o que fazer (como equipe/indi- vidual). • Reconhecer que aquilo que é taticamente exequível deve ser tecnicamente possível. Procurando fazer um exercício pedagógico e didático, utilizando o modelo de ensino TgfU, idealize um jogo reduzido (com base em uma modalidade à sua escolha), contemplando as ideias que achar mais pertinentes do referido modelo. Você deve estipular as regras e os objetivos do jogo, assim como, pelo menos, uma hipótese de transferibilidade entre mo- dalidades. REFLITA 28 INICIAÇÃO ESPORTIVA De uma forma completamente distinta de pensar o ensino do esporte na escola, e sugerindo uma abor- dagem inovadora desse ensino, o modelo que se apresenta a seguir pretende ampliar a aprendizagem do esporte a todos os fatores que o envolvem. MODELO DE EDUCAÇÃO DESPORTIVA (SPORT EDUCATION) O modelo curricular e de instrução de educação desportiva proposto por Siedentop (1994) foi ela- borado para providenciar experiências desportivas enriquecedoras para ambos os sexos no contexto da EF, e constitui-se como uma alternativa ao ensino de unidades didáticas de curta duração compostas por multiatividades. A importância desse modelo é reconhecida pela comunidade internacional que investiga a área da EF e tem sido alvo de pesquisas incidindo, por um lado, na forma como se pode implementá-lo e, por outro, sobre os resultados da sua aplicação. O grande obje- tivo “será reconhecer que o esporte é uma forma de jogo e, que numa sociedade onde formas superiores de atividade lúdica são perseguidas vigorosamente Modelos de Educação Esportiva Sport Education EDUCAÇÃO FÍSICA 29 por todas as pessoas, a sociedade é mais madura” (CURTNER-SMITH; SOFO, 2004, p. 347). Desta forma, tem como fim mais específico gerar pessoas com competência esportiva, literadas e entusiásticas. • Uma pessoa competente no esporte é aque- la que possui habilidade, entende e executa a estratégia de jogo de forma a participar com sucesso no jogo. • Uma pessoa com conhecimento esportivo é aquela que entende os valores e tradições do esporte, assim como os seus rituais e regras, além de ser capaz de distinguir uma boa de uma pobre realização. • Um esportista entusiasta é aquele que partici- pa de forma a melhorar, preservar e proteger a cultura desportiva. A ideia contida nesse modelo será a de introduzir o conceito de época desportiva, que: • Articula a prática desportiva com a institu- cionalização de clubes. • Junta a filiação duradoura e a competição ca- lendarizada, com a conservação de registos de resultados e estatísticas dos desempenhos individuais e de grupo. • Atribui papéis e funções que compõem o envolvimento desportivo (capitães, treinadores, árbitros, diretores, jornalistas, entre outras possíveis funções). Para concretizar tudo isto, os alunos são chamados a desempenhar diferentes papéis além de jogar. À me- dida que a “época” progride, o professor altera um estilo de ensino mais diretivo para um estilo menos diretivo e mais centrado no aluno. Desta forma, ao aumentar a responsabilidade em todos os aspectos do ambiente de aprendizagem sobre os alunos, gra- dualmente, o professor assume mais um papel de facilitador. A importância que a competição tem como ele- mento central da experiência esportiva exige crité- rios cuidadosos na criação das equipes e pretende fazer uma clara distinção entre o treinar (preparar para a competição) e o competir. kzww / Shutterstock.com O modelo visa, igualmente, evidenciar o compo- nente diversão e a competência esportiva, que se traduz na prática da competição esportiva institu- cionalizada. O que faz todo o sentido, pois competir e esforçar-se pela vitória é inerente à prática do jogo e à cultura esportiva que lhe está subjacente. Como princípios fundamentais dos conteúdos de ensino da EF e do esporte, o espírito da competição deve fundar-se em um forte espírito ético de respeito pelo jogo e por todos os que nele intervêm. É fun- damental que a competição favoreça a participação de todos e, com isso, o seu desenvolvimento pessoal, criando a oportunidade de todos jogarem e, por via disso, aprenderem a jogar. Possuindo uma orientação que pretende ver to- dos os alunos incluídos no processo, o modelo de educação esportiva tem que saber lidar com valores um pouco divergentes, que são o ganhar e garantir que todos tenham oportunidade de participação 30 INICIAÇÃO ESPORTIVA dade no grupo, um espírito consolidado nos obje- tivos comuns de alunos que se ajudam mutuamente para o alcançar. Naturalmente que, se tratando de um grupo e, ainda, formado por jovens, serão de- sencadeados tensões e conflitos. Estes devem ser tratados por meio do diálogo e, para a sua resolu- ção, deve contribuir o saber do professor que, com o seu empenho e a sua boa influência, fará resultar o processo. efetiva no jogo. Neste sentido, a esse modelo é im- portante corresponderem formas de jogo adequadas às capacidades dos alunos, motivando e mobilizan- do a sua participação de forma relevante. Um dos pontos fundamentais que o modelo de educação esportiva propõe é uma aprendizagem cooperativa por meio da constituição de pequenos grupos heterogêneos e que tenham uma grande duração. Este é um ponto fundamental para que o modelo seja eficaz. Criar um sentimento de identi- O objetivo do modelo de educação espor- tiva é: • Melhorar a capacidade de jogo por meio do progresso das habilidades es- pecíficas, da leitura de jogo e da conse- quente tomada de decisão. • Melhorar as capacidades físicas e psi- cológicas. • Fomentar a autonomia, a liderança e a partilha de responsabilidades na organização da experiência esportiva (isto obtido por meio de uma trans- ferência progressiva da organização para os alunos). Em um interessante artigo, Deenihan, McPhain e Young (2011) pesquisam sobre como ensinar os professores estagiários a implementar o modelo de educação es- portiva na escola. Por meio de diferentes estratégias metodológicas de investigação, os autores deparam-se com as dificuldades que os professores estagiários revelam em adotar esta estratégia de ensino do esporte, o que leva os pesquisadores a proporem intervenções para melhorar esta aprendiza- gem. Para saber mais, acesse: < https://www. researchgate.net/publication/232220050_’Li- ving_the_curriculum’_Integrating_sport_edu- cation_into_a_Physical_Education_Teacher_ Education_programme>. Fonte: o autor. SAIBA MAIS 31 considerações finais O primeiro contato com o esporte, na maioria das situações, acontece dentro do âmbito escolar. Urge, assim, compreender como se pode intervir pedagogi- camente para que esta experiência seja positiva e conquiste os alunos para uma prática esportiva continuada. O esporte, por ser uma disciplina curricular, é uma matéria de ensino. Con- tudo, ele ainda levanta objeções sobre o seu valor educativo, nomeadamente por razões políticas relacionadas com o aproveitamento do esporte pela ditadura mi- litar como forma de controlar a população. Outras das razões apontadas é que o esporte promove a elitização, pois enaltece os mais fortes e discrimina os que revelam menores aptidões. Na verdade, se o esporte ensinado na escola reproduzir o esporte de rendi- mento, reúne os condimentos para a seletividade por um lado, e para adiscri- minação por outro. Tentando contrariar estes pressupostos, evidencia-se, nesta unidade de ensino, as características intrínsecas do esporte como ferramenta que pode fomentar a evolução positiva das crianças e dos jovens. Neste sentido, apresentam-se modelos de ensino que expõem estratégias agregadoras para ensinar o esporte de forma motivadora e prazerosa, não esque- cendo que é quase inerente ao ser humano gostar de jogar. No centro da aplicação dessas estratégias de ensino está o professor, que, pelo seu empenho e competên- cia, ensinará a criança e o jovem a jogar. Para isto, ele terá que idealizar a sua intervenção de uma forma contextuali- zada a cada grupo que lidera, pautando a sua intervenção adequadamente, com o intuito de fazer as crianças e os jovens tirarem o máximo partido da atividade. Tendo em mente a inclusão e a valorização de todos, será determinante equacio- nar estratégias que evidenciem todos os aspectos relacionados ao jogo e à com- petição esportiva. Desta forma, a avaliação dos alunos poderá contemplar muitas outras facetas, além de apenas a competência obtida pelo resultado, constituindo mais um fator mobilizador para o gosto pelo esporte. 32 atividades de estudo 1. A importância da Educação Física surge a par de outras disciplinas para a formação do aluno. Acerca da razão pela qual a Educação Física faz parte do currículo da educação nacional, assinale a alternativa correta. a) Detectar futuros atletas olímpicos. b) Desenvolver em todos os alunos compe- tências e habilidades motoras. c) Ensinar o esporte. d) Divertir os alunos por meio de um recreio supervisionado. e) Disciplinar os alunos. 2. Ao longo de sua história, a Educação Física ma- nifestou-se de várias maneiras. Houve o período higienista, o pedagogicista e o competitivista, por exemplo. Sendo que, nesse último período, os militares apossaram-se da EF e até hoje influen- ciam a maneira com que o esporte é visto no Brasil. Apesar de ser considerado um conteúdo de docência, o ensino do esporte na escola ain- da é visto com alguma desconfiança. Em relação ao motivo de desconfiança, assinale a alternativa correta. a) Exaltação do aluno atleta e a supervaloriza- ção de competições. b) Só serve para jogar futebol. c) Contribui para a integração e socialização dos jovens. d) Retira tempo das atividades gímnicas. e) Favorece o desenvolvimento global de to- dos os alunos. 3. Aqueles que são mais veementes sobre a ex- clusão do esporte como parte do currículo da Educação Física fazem algumas críticas ao seu ensino. Em relação a essas críticas, assinale a al- ternativa correta. I - Fomenta a exclusão. II - É demasiado tecnicista. III - Há pouco tempo dedicado ao jogo. IV - A avaliação contemple somente as com- petências atléticas. É correto o que se afirma em: a) I, apenas. b) I e II, apenas. c) I e IV, apenas. d) I e III, apenas. e) I, II, III e IV. 4. De forma a potenciar um estímulo adequado à melhora da saúde, as principais caraterísticas do esporte enquanto conteúdo da EF devem: a) Ativar a superestimulação. b) Evitar a subestimulação. c) Evidenciar o rendimento. d) Enaltecer a competição. e) Selecionar os melhores. 5. Para implementar um modelo de ensino inspira- do no TgfU, deve-se proceder à definição de im- portantes princípios. Neste sentido, os seis pas- sos para o ensino do TGfU são: V - Consciência tática, apreciação, habilidade de execução, tomada de decisão, jogo e performance. VI - Apreciação, tomada de decisão, consciên- cia tática, habilidade de execução, jogo e performance. VII - Habilidade de execução, apreciação, to- mada de decisão, consciência tática, jogo e performance. VIII - Jogo, apreciação, consciência tática, toma- da de decisão, habilidade de execução e performance em competição. É correto o que se afirma em: a) I, apenas. b) II, apenas. c) IV, apenas. d) III, apenas. e) I e IV, apenas. 33 LEITURA COMPLEMENTAR A qualificação profissional é uma exigência premente na atualidade, nomeadamente naquela em que se si- tua o ato educativo, sendo pertinente, por isso, apurar qual a opinião que os destinatários da formação fazem do agente formador. O qualitativo de bom professor ou o perfil do professor ideal é, porventura, impossível de atingir, mas que deve ser continuamente perseguido. A consciência desta dificuldade evidencia o propósito deste trabalho, em que se pretende inquirir os alunos sobre a ocorrência de um conjunto de comportamen- tos a serem observados em um bom professor de EF. Desta forma, alimenta-se a discussão sobre esta temá- tica, procurando contribuir para valorizar a função do- cente por meio do maior conhecimento. Sendo um conceito central em Psicologia Social, as re- presentações sociais combinam a nossa capacidade de perceber, inferir e compreender, de forma a dar um sentido às coisas, ou para explicar uma situação a alguém (MOSCOVICI, 2004). Assim, podemos conhecer como o conceito é percebido pelos intervenientes na relação pedagógica. Como os alunos conceitualizam o conceito, qual a representação mental que eles fazem dos professores. De acordo com Shimamoto (2004), as representações sociais de professores oferecem parâ- metros que possibilitam o entendimento das perce- ções que os indivíduos constroem sobre a realidade, como também o da influência das representações no pensamento e nas condutas humanas, o que constitui uma das vias de compreensão do trabalho pedagógi- co realizado em sala de aula. A representação que os atores presentes na relação educativa formam um do outro constitui um dos elementos mais decisivos deste universo representacional, pois todo o ato de comuni- car, na sua interação, supõe uma representação de si e uma representação do outro. As representações, isto é, o que pensa cada interveniente sobre a situação que vivencia, apesar de subjetivas, estão na base da mo- tivação, da orientação e da tomada de decisões pes- soais, bem como traduzem e condicionam os modos como os indivíduos se relacionam entre si. “O modo como cada professor enfrenta uma situação didática depende muito da sua individualidade psicológica, a partir da qual interpreta e lhe atribui significados, e dos momentos de decisão em que se enquadra” (PA- CHECO, 1995, p. 51). O aluno, na representação que possui do professor, de acordo com Gouveia-Pereira (2008), tem a expetativa de que a escola e os seus professores orientarão o seu relacionamento com os vários interlocutores, que ga- rantam o respeito e o cumprimento das regras e dos deveres estabelecidos, assegurem todo o apoio neces- sário ao seu bem-estar e sejam intervenientes ativos na resolução justa dos conflitos de interesse que possam ocorrer. Com o evoluir das representações formadas pelos alu- nos sobre os seus professores, os fatores afetivos vão assumindo um papel importante. Entre esses fatores, destacam-se a disponibilidade que o professor revela, o respeito e o afeto que transmite e a capacidade de se mostrar acolhedor e positivo. O peso desses fatores será tanto maior quanto mais baixo for o nível de es- colaridade. 34 LEITURA COMPLEMENTAR Segundo um estudo realizado por Wallon (1995), o papel do professor na vida do aluno é essencial. Para os alu- nos, esse papel é representado como o de uma pessoa formada e habilitada, com afetos contemplados aos alu- nos, podendo ambos interagir dentro de uma transmis- são emocional. Caraterísticas de um bom professor Segundo Hashweh (2005), o professor deverá ter uma boa bagagem de conhecimentos didáticos e pedagógicos e ter uma grande variedade de caminhos pedagógicos no seu ensino, para, assim, ele poder adaptar-se às mais variadas situações que possa encontrar. Pitta (1999) tam- bém refere que os professores deverão possuir compe- tências científico-pedagógicas para ter a segurança e o desembaraço para as situações que decorrem do exer- cício das suas funçõesdurante as práticas pedagógicas. Perrenoud (2000) considera que, para ensinar, o profes- sor deverá ter dez competências bem desenvolvidas, as quais poderão ser sujeitas a alterações em consonância com a sociedade ao desenvolver a sua atividade. Essas competências são: I) Organizar e dirigir situações de aprendizagem, II) Administrar a progressão das apren- dizagens; III) Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação, IV) Envolver os alunos nas suas aprendiza- gens e no seu trabalho, V) Trabalhar em equipe, VI) Parti- cipar na administração da escola, VII) Informar e envolver os pais, VIII) Utilizar novas tecnologias, IV) Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão, X) Administrar a sua própria formação contínua. Caraterísticas do bom professor de EF No plano da nossa área de estudo, como nos recorda Cunha (2007), o professor de EF possui bases científi- cas que permitem que haja um desenvolvimento motor correto do aluno, proporcionando o gosto pela aprendi- zagem das atividades físicas, tendo em conta a saúde e as suas limitações. Das suas competências devem fazer parte, além dos conhecimentos científicos, as habilida- des e atitudes relacionadas ao meio em que ele intervirá (NASCIMENTO, 1999). De acordo com Pitta (1999), são quatro as dimensões fundamentais do bom professor: I) A dimensão motivado- ra, que capacita o professor a motivar os alunos, possi- bilitando-lhes uma adequada aprendizagem e os meios necessários para evoluir e enfrentar os desafios da vida, II) A dimensão relacional, que tem a ver com o bom clima de uma sala de aula, III) A dimensão ética do bom profes- sor, que contribui para a formação do caráter e dos valo- res dos seus alunos, indispensáveis ao desenvolvimento da sua maturidade e à sua inserção na vida social, IV) A dimensão construtiva, aquela que se reflete na admiração que os alunos têm pelo seu professor, pela sua habili- dade para os ensinar, a sua clareza e a forma como os orienta nas suas tarefas. Reflete também a sua forma de ser imparcial, como controla a turma, o afeto que trans- mite aos alunos, a sua paciência, o seu bom humor e a sua justiça. Fonte: Resende et al. (2014). 35 material complementar Esporte Escolar Maristela da Silva Sousa Editora: Ícone Sinopse: a Educação Física realmente vinculada aos rituais pedagógicos da escola precisa passar por uma nova fase de crítica e de reformulações. Portanto, o pre- sente trabalho encaminha-se para este propósito também. Ele não permanece apenas na crítica ao esporte e à Educação Física do ponto de vista pedagógico, mas se propõe a abrir uma ampla discussão em torno das questões epistemológi- cas mais abrangentes que fundamentam a prática da Educação Física e, em espe- cial, o ensino dos esportes. Por fim, para não ficar apenas no plano da crítica e do debate teórico-metodológico das questões gerais da Educação Física brasileira, o trabalho propõe-se, ainda, a apresentar o que é denominado, por sua autora, de possibilidade superadora no plano da cultura corporal. Indicação para Ler Esporte, Política, Educação Renato Sampaio Sadi Editora: Appris Sinopse: este livro expõe a história de professores e alunos que compartilharam conhecimentos variados para lidar com as contradições sociais e as relações entre esporte, política e educação. Indicação para Ler A Criança e o Esporte: uma Perspectiva Lúdica Francisco Xavier V. Neto e Rogério C. Voser Editora: Ulbra Sinopse: divertidos jogos e brincadeiras estão presentes neste universo, ao mes- mo tempo lúdico e pedagógico, que envolve a criança no esporte. Indicado para as disciplinas de Iniciação Esportiva e Atividades Pré-Desportivas. Indicação para Ler 36 referências ALMOND, L. Rethinking teaching games for understanding. Ágora, v. 17, p. 15- 25, 2015. BAILEY, R. Evaluating the relationship between physical education, sport and social inclusion. Educational Review, v. 57, n. 1, p. 71-90, 2005. BRASIL. Lei N0 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. 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UNIDADE II Professor Dr. Rui Resende Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Caracterização do esporte no século XXI • Esporte potenciador da saúde das populações • Os clubes esportivos modernos • Contexto histórico da intervenção do treinador Objetivos de Aprendizagem • Identificar a relevância do esporte na sociedade contemporânea. • Verificar as potencialidades do esporte como fomentador de um estilo de vida saudável. • Caracterizar e perspectivar o clube esportivo moderno. • Considerar a evolução da profissão de treinador. O DESPORTO NO SÉCULO XXI unidade II INTRODUÇÃO A importância do impacto do esporte no contexto social atual é dúbia. As multidões que acorrem aos espetáculos esportivos e a repercussão que estes eventos têm nos órgãos de comuni- cação social fazem parte da nossa vivência diária. Com esta consciência, um profissional do esporte deverá saber identificar a área onde vai desenvolver a sua atividade e projetar a sua evolução, não só no contexto brasileiro, como mundial. Por outro lado, desenvolvem-se no- vas áreas de intervenção do esporte, nomeadamente enquanto atividade potenciadora de fomentar a saúde das populações. Neste sentido, será exigida uma transfiguração dos clubes esportivos de forma a adequarem os seus serviços a uma nova geração de frequenta- dores. Estes atletas poderão ser de rendimento, mas também poderão ser de participação, sendo que a convivência e a coexistência entre ambos os projetos esportivos terão que ser bem definidos e de acordo com os valo- res do clube. Ao modernizar-se, o clube tenderá a oferecer serviços com qualidade cada vez maior, e os recursos humanos farão toda a diferença. Esta evolução necessitará de uma resposta profissional de todas as es- truturas do clube, implicando, como consequência, a formação adequada dos seus agentes. Os novos clientes poderão ser crianças, jovens ou adul- tos, visando a diversas formas de rendimento esportivo, e o treinador terá de exercer a sua competência de forma eficaz em todos os projetos que for chamado a liderar. Tendo em conta o percurso profissional do treinador e a forma como se projeta a sua atuação futura, importa reconhecer o caminho percorrido até então. De uma atividade pouco reconhecida até a importante função social que desempenhará, enunciam-se interessantes desafios à carreira profis- sional do treinador. Esta demanda requererá uma maior solidez de co- nhecimentos por forma a exercer com competência as diferentes funções que vier a ser convidado a exercer. 44 INICIAÇÃO ESPORTIVA Iniciamos esta matéria com o propósito de enqua- drarmos o esporte na sociedade atual e perspecti- vando como se desenvolverá no futuro. A ideia será refletir melhor sobre a forma como se deve prepa- rar o profissional do esporte para ele atuar com competência. O esporte tem sido um instrumento para a in- dústria que, por meio da sua utilização, obtém grandes proveitos impulsionando as economias na- cionais. Para este feito, com o apoio dos órgãos de comunicação social, promovem-se espetáculos es- portivos e originam-se novas estrelas mediáticas que alcançam grande repercussão mundial. Contudo, apesar do esporte de rendimento ser seguido apai- xonadamente por cada vez mais pessoas, não existe um reflexo desta paixão no incremento do número de praticantes esportivos. Tomando o exemplo do Brasil, quantas pessoas praticam esporte e de que maneira o fazem? O Mi- nistério do Esporte (BRASIL, 2015) encomendou uma pesquisa denominada de Diagnóstico Nacional do Esporte (Diesporte) em que traçou, por um lado, o perfil do praticante de esporte ou de atividade físi- ca e, por outro lado, o sedentário (indivíduo que não faz atividade física ou esporte). Os resultados indi- cam que 45,9% dos brasileiros (67 milhões) são se- Caracterização do Esporte no Século XXI A.RICARDO / Shutterstock.com EDUCAÇÃO FÍSICA 45 dentários, sendo que as mulheres representam uma maior percentagem, com 50,4%, enquanto os ho- mens estão em 41,2%. Os sedentários são em menor número na faixa etária mais jovem, mas progridem com a idade. Em relação a países como Argentina (68,3%) e Portugal (53%), verificamos que a taxa de sedentarismo do Brasil é bem inferior. É ligeiramen- te menor que a da Itália (48%) e ligeiramente maior que a dos Estados Unidos (40%). A população de se- dentários é muito inferior em países como Espanha (35%), Uruguai (34,1%), Canadá (33,9%), França (22%) e Inglaterra (17%). Será importante notar, no relatório referido, que a faixa de idade dos brasileiros na qual se regista um maior abandono do esporte ou da atividade física se dá entre os 16 e 24 anos, indi- cando, igualmente, que 90% dos abandonos surge até os 34 anos. É interessante constatar, no mesmo rela- tório, que os praticantes esportivos são 25,6% da po- pulação, enquanto os outros 28,5% se declaram pra- ticantes de atividade física. Caraterizando um pouco melhor, verifica-se que os homens (35,9%) praticam mais esportes que atividades físicas (22,9%), e que esta tendência se inverte quando consideramos as mulheres, com somente 15,6% praticando esporte e 34% relatando que faz atividade física. É estimulante para essa matéria constatar que o caminho pelo qual o brasileiro inicia a sua prática esportiva é, maioritariamente (48%), na escola, com a orientação de um professor, e se inicia entre os 6 e 14 anos. A modalidade esportiva mais praticada é, sem surpresa, o futebol (59,9%). sendo seguida do voleibol (9,7%). Os autores do estudo registraram, ainda, que 90,3% dos entrevistados não recebem qualquer tipo de orientação quando fazem atividade esportiva, e que 92,4% não têm qualquer filiação a uma instituição para efetuar a prática esportiva. 46 INICIAÇÃO ESPORTIVA A gestão esportiva profissional trouxe novas estra- tégias de marketing, planos de negócios e expansão dos esportes para novos mercados. O crescimen- to do rádio e da televisão fez com que o esporte se tornasse parte do dia a dia das pessoas. As estrelas esportivas passaram a fazer parte dos tabloides e das televisões, vendendo produtos diversos, tornando- -se parte da realidade mundana e roubando o prota- gonismo que, no século passado, pertencia às estre- las de cinema. Assim, quando a globalidade dos indivíduos re- flete sobre o esporte ou a atividade física, não lhe ocorre o que ela pode fazer como praticante, mas sim, os resultados esportivos do seu clube, das gran- des competições em que o seu país está envolvido ou as medalhas obtidas nas Olimpíadas. Por outro lado, essa globalidade associa ao esporte as personagens mais relevantes e as marcas que a elas estão relacio- nadas (SPRACKLEN, 2015). Refletindo sobre aquilo que pode ser o esporte no futuro, não podemos deixar de considerá-lo e aceitá-lo como um espetáculo no qual as regras do mercado econômico ditarão as suas leis. Contudo, o esporte pode desempenhar uma importante função social, pois oferece oportunidades para melhorar o autoconhecimento e a autovalorização, reforçando, desta forma, a própria identidade e, com isso, a da comunidade onde ele está inserido. Para além das sensações descritas anteriormen- te, o esporte pode constituir uma importante forma de promoção da saúde, combatendo aquilo que já se chama de doença do século: a obesidade. Neste sentido, ao fomentar um estilode vida saudável e promover os valores que lhe são próprios, o esporte suscita um ser humano melhor. Carece, por isto, de se considerá-lo como uma atividade educativa e for- mativa, em que o intuito será criar um cidadão com um estilo de vida ativa. Desta forma, ao olhar paro o fenômeno espor- tivo, deveremos ter consciência do seu alcance e de sua amplitude. A atividade física e a competição es- tão no âmago das definições de esporte. De acordo com Resende (2016), uma organi- zação internacional denominada SportAccord, que aglomera federações esportivas internacionais, além de outras organizações, define esporte como uma atividade que: • Deve incluir um elemento de competição; • Não deve recair em qualquer elemento de ‘sorte’; • Não deve apresentar risco para a saúde ou se- gurança dos seus praticantes; • Não pode de nenhuma forma ser prejudicial para qualquer criatura viva e; • Não deve depender de equipamentos provi- denciados por um só fornecedor Ainda segundo o mesmo autor, além dessas caracte- rísticas, o esporte se situa como: • Principalmente físico; • Principalmente mental; • Principalmente motorizado; • Principalmente coordenativo; • Principalmente suportado por animais EDUCAÇÃO FÍSICA 47 Assim, podemos partir da premissa que o esporte depende de estruturas formais e de organizações que estabelecem as regras da competição e monitorizam os participantes. Sugere-se que os profissionais da área apreciem esta atividade como constituída por múltiplos esportes, pois implica considerar distintos enquadramentos na sua formulação. Sobre esta temática, alertamos que a generalida- de dos clubes está formatada para o alto rendimento esportivo, mesmo os que sabem que nunca terão as possibilidades de lá chegar, sendo que o esporte de alto rendimento é somente uma parte muito reduzi- da dessa atividade. Você pode observar os dados de uma pes- quisa realizada entre 2010 e 2014, chamada Diagnóstico Nacional do Esporte. Ela teve apoio e participação de seis instituições fe- derais de Ensino Superior nos estados do Rio Grande do Sul, Goiás, Rio de Janeiro, Amazonas, Sergipe e Bahia, as quais coorde- naram os trabalhos. Além de definir a prá- tica de esporte pelos brasileiros, o trabalho envolve, ainda, os pilares de infraestrutura, legislação e investimentos. Para saber mais, acesse: <http://www.esporte.gov.br/dies- porte/2.html>. Fonte: o autor. SAIBA MAIS 48 INICIAÇÃO ESPORTIVA No futuro, espera-se que o esporte continue a se evi- denciar nas diferentes comunidades, tanto sob a sua forma mais popular, por meio do esporte-espetácu- lo, quanto em uma perspectiva mais global, em que faixas maiores da população desfrutarão das suas potencialidades. O reconhecimento de que as impli- cações da prática do esporte poderão ser benéficas, tendo reflexos positivos sociais, implicará a promo- ção e a maximização da sua prática. As razões pelas quais é importante promo- ver o esporte, sobretudo nas faixas etárias mais precoces, assinala que os esportistas têm uma maior disposição para hábitos alimentares mais saudáveis, para manter um peso menor, e uma diminuição da sedução pelo fumo ou pelas drogas. Possuem, igual- mente, menor tendência para expressar sentimentos de desânimo e de aborrecimento ou tédio (MU- LHOLLAND, 2008). A investigação tem contribuído para a solidi- ficação da opinião de que a atividade física e es- portiva praticada pelos jovens e pelos adolescentes tem um forte tributo na promoção da saúde públi- Esporte Potenciador da Saúde das Populações EDUCAÇÃO FÍSICA 49 ca. Acresce esta importância, em termos de bene- fícios, quando a participação esportiva é realizada de uma forma consistente (TELAMA, 2009). Por isto a importância de a participação esportiva ser integrada em um programa esportivo, desenvol- vendo-se de forma significativa e persistente ao longo do tempo. Aliás, reforçando a ideia ante- rior, Kjonniksen, Fjortoft e Wold (2010), em uma pesquisa com 630 participantes, verificaram uma relação positiva entre a participação esportiva or- ganizada e o desenvolvimento de atividade física em idades adultas. Ou seja, a prática esportiva em idades mais jovens antevê o envolvimento com a atividade física quando se é mais velho, sendo con- sistente defender a formação esportiva como um instrumento para a promoção de hábitos de saúde no presente e para o futuro. Salienta-se a evidência de que o esporte promo- ve, para além das competências esportivas, compe- tências de vida (aspecto que trataremos com maior relevância) o que, naturalmente, faz com que o trei- nador deva investir nesta ideia. Aliando o conheci- mento que ele possui dos atletas e das suas neces- sidades, o treinador poderá incrementar de forma muito positiva as aptidões desses atletas para a vida (WHITLEY; WRIGHT; GOULD, 2016), considera- -se que as competências de vida oriundas por meio do esporte podem ser transferidas para outras rea- lidades. Para isto, o treinador terá de agir de uma forma consciente, enfatizando a aquisição de habi- lidades transversais aos diferentes domínios em que ele está envolvido e, assim, dotando os atletas de uma melhor preparação para enfrentar com sucesso a vida cotidiana. DIFERENTES TIPOS DE PARTICIPAÇÃO DESPORTIVA Tal como já apontamos, o esporte de alto rendi- mento não é a única forma pela qual devemos observar e considerar a atividade esportiva. Con- siderando o espectro da participação esportiva, protagonizado pelo ICCE (International Council for Coach Education) e pela ASOIF (Association of Summer Olympic International Federations) em 2012, duas organizações internacionais que fo- mentam o esporte, o estudam e o promovem, pro- curando qualificá-lo pela melhor preparação dos treinadores, identificamos dois tipos diferentes de participação esportiva, o que também foi eviden- ciado por Resende (2016) e que podemos observar na citação a seguir, assim como na Figura 1. • O esporte de participação que envolve crianças, jovens adolescentes e adultos e tem como objetivo resultados auto referenciados como o entretenimento, o desenvolvimento de habilidades e o vínculo com um estilo de vida saudável. • O esporte de rendimento que engloba atletas emergentes, atletas de performance e atletas de elite Figura 1 - Espectro da participação esportiva Fonte: ICCE e ASOIF (2012). 50 INICIAÇÃO ESPORTIVA Esta distinção obriga a oferecer uma atenção par- ticular sobre os objetivos esportivos para cada um dos programas onde os atletas se inserem. Conse- quentemente, as exigências que consideram o nível do treino e da competição deverão ser convenien- temente adequadas, sugerindo-se a premissa de que todos que praticam esporte merecem treinado- res qualificados. O esporte, neste século, deve almejar a massifica- ção da participação esportiva com o intuito da pro- moção do desenvolvimento e da integração social e, paralelamente, da melhoria da saúde e aptidão física das populações. Todavia, apesar de algumas iniciati- vas políticas com o intuito de massificar a participa- ção esportiva, ainda são escassas as oportunidades para praticar esporte por prazer, nomeadamente, de forma organizada. Existe, assim, um abundante trabalho para integrar todos os que gostariam de participar do esporte, prestando atenção também às populações especiais, às mulheres e aos idosos. Os decisores políticos investem muita da sua energia na promoção de grandes eventos esportivos com a perspectiva de obter dividendos eleitorais, cabendo à sociedade um papel reivindicativo no apelo para que se criem melhores condições de generalização da prática esportiva. É de elevada relevância social o que o esporte pode realizar na potencialização da saúde das po- pulações, tendo em consideração os diferentes tipos de participação esportiva e adequando os seus pro- pósitos a cada população que os procuram. Desta forma, o esporte poderá alargar exponencialmente a sua penetração e, consequentemente, a promoção