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VIOLÊNCIA-CONFLITOS-E-TÉCNICAS-CONSTITUCIONAIS-EM-SEGURANÇA-PÚBLICA

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1 
 
SUMÁRIO 
1 VIOLÊNCIA, CRIME E CONTROLE SOCIAL ............................................. 2 
1.1 Violências e dilemas do controle social nas sociedades da 
"modernidade tardia" ............................................................................................... 2 
1.2 A violência difusa na modernidade tardia ............................................. 6 
1.3 As conflitualidades sociais no processo de mundialização ................ 10 
1.4 A produção do Estado de controle social penal ................................. 12 
1.5 Possibilidades de um controle social democrático ............................. 15 
2 GESTÃO DE CONFLITOS E SEGURANÇA PÚBLICA ............................ 18 
3 COMUNICAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS EM SEGURANÇA PÚBLICA
 21 
3.1 Especial: tecnologia a favor da segurança ......................................... 21 
3.2 Sociabilidade, tecnologia da internet e comunicação ......................... 25 
3.3 A importância da inovação para a segurança pública ........................ 29 
3.4 Inovações tecnológicas a favor da segurança pública ....................... 30 
3.5 A importância da inovação para a segurança pública ........................ 32 
4 TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS POLICIAIS E DE SEGURANÇA 
PÚBLICA 33 
4.1 Técnicas e tecnologias não-letais na atuação das forças de segurança
 33 
4.2 A atividade do agente prisional e o uso da força não-letal ................. 37 
4.3 Polícia e cidadania ............................................................................. 42 
4.4 Polícia comunitária ............................................................................. 44 
5 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 48 
 
 
 
2 
 
1 VIOLÊNCIA, CRIME E CONTROLE SOCIAL 
1.1 Violências e dilemas do controle social nas sociedades da "modernidade 
tardia" 
O fenômeno da violência difusa consiste em um processo social diverso do 
crime, anterior ao crime ou ainda não codificado como crime no Código Penal. 
Durkheim considera o crime um fenômeno social normal, pois, em toda sociedade, um 
certo número de crimes é cometido e, por consequência, se nos referimos ao que se 
passa regularmente, o crime não é um fenômeno patológico. Igualmente, uma certa 
taxa de suicídios pode ser considerada normal (Aron, 1967:340). Ainda assim, o crime 
é considerado por Durhkeim uma ruptura com a consciência coletiva, razão pela qual 
sofre punição pela lei penal. Ao contrário, afigura-se que a violência difusa nas 
sociedades do século XXI é, em larga medida, legitimada pela consciência coletiva, 
instituindo-se como norma social, ainda que controversa e polêmica. 
 
 
Fonte: blogdoenem.com.br 
Entre os conflitos sociais atuais, crescem os fenômenos da violência difusa e 
as dificuldades das sociedades e dos Estados contemporâneos em enfrentá-los 
(Giddens, 1966). Tal dificuldade expressa os novos limites da formação política da 
"modernidade tardia", pois os laços de interação social são orientados por modos 
 
3 
 
violentos de sociabilidade, invertendo as expectativas do processo civilizatório 
(Harvey, 1993:17). Afirma Sousa Santos (1994:271): "(...) o Estado perde o monopólio 
da violência legítima que durante dois séculos foi considerada a sua característica 
mais distintiva. (...) Em geral os Estados periféricos nunca atingiram na prática o 
monopólio da violência, mas parecem estar hoje mais longe de o conseguirem do que 
nunca". As raízes sociais desses atos de violência difusa parecem localizar-se nos 
processos de fragmentação social, os quais refletem "a desagregação dos princípios 
organizadores da solidariedade e a crise da concepção tradicional dos direitos sociais 
em oferecer um quadro para pensar os excluídos". (Rosanvallon, 1995:9). Em outras 
palavras, estamos diante de processos de massificação paralelos a processos de 
individualização — "Somos células em uma sociedade de massas. A globalização é 
celular", pois a "multidão solitária" vive em uma pluralidade de códigos de conduta 
(Díaz, 1989:89-91). A cultura pós-moderna privilegia o acontecimento: "A realidade 
pós-moderna assume a existência de conflitos irresolúveis" (Díaz, 1989:37). 
Desenvolve-se a vivência de uma incerteza: "O mundo pós-moderno está se 
preparando para a vida sob uma condição de incerteza que é permanente e 
irredutível" (Bauman, 1998:32). 
Esta é uma das facetas da lógica cultural do capitalismo avançado: a 
pluralidade, a descontinuidade, a dispersão (Jameson,1996). Como evoca Díaz 
(1989:17): "Nossa época, desencantada, se desembaraça das utopias, reafirma o 
presente, resgata fragmentos do passado e não possui demasiadas ilusões a respeito 
do futuro". As relações de sociabilidade passam por uma nova mutação, mediante 
processos simultâneos de integração comunitária e de fragmentação social, de 
massificação e de individualização, de ocidentalização e de desterritorialização (Ianni, 
1996). Repõe-se o problema de qual é o lugar da alteridade cultural na sociedade em 
processo de mundialização: "Nas sociedades do capitalismo tardio, o culto da 
liberdade individual e o desdobramento da personalidade se reformam e se localizam 
no centro mesmo das preocupações" (Díaz, 1989:17). Retoma-se uma inquietação 
que estava presente nos primeiros sociólogos, pois: "O projeto sociológico nasceu de 
uma inquietude sobre a capacidade de integração nas sociedades modernas: como 
estabelecer ou restaurar os laços sociais em sociedades fundadas na soberania do 
indivíduo?" (Schnapper, 1998: 15). Rompe-se a consciência coletiva da integração 
 
4 
 
social, um "declínio dos valores coletivos e com o crescimento de uma sociedade 
extremamente individualista" (Hobsbawm, 2000:136). 
As questões sociais, desde o século XIX centradas em torno do trabalho 
(Castel, 1998), tornam-se questões complexas e mundiais, pois várias são as 
dimensões do social que passam a ser questionadas, entre elas a questão dos 
vínculos sociais. Trata-se de uma ruptura do contrato social e dos laços sociais, 
provocando fenômenos de "desfiliação" e de ruptura nas relações de alteridade, 
dilacerando o vínculo entre o eu e o outro. 
No limiar do século XXI, o panorama mundial é marcado por questões sociais 
mundiais que se manifestam, de forma articulada e com distintas especificidades, nas 
diferentes sociedades. Paradoxalmente, o internacionalismo está fundado em 
problemas sociais globais, tais como a violência, a exclusão, as discriminações por 
gênero, os vários racismos, a pobreza, os problemas do meio ambiente e a questão 
da fome. As transformações do mundo do trabalho, mediante as mudanças 
tecnológicas, com novas possibilidades de emprego em determinados setores as 
quais vêm acompanhadas pela precarização do trabalho, pelo desemprego e pelo 
processo de seleção/exclusão social (Laranjeira, 1999). Instaura-se um modo de 
organização da produção pós-fordista, caracterizado pela desregulamentação, pela 
crise do salariado: a precarização do assalariamento como princípio da conflitualidade 
social, redução do mercado de emprego formal, provocando a "desfiliação" dos 
trabalhadores em relação às estruturas coletivas do mundo do trabalho (Castel, 1998; 
Taylor, 1999:224; Garland, 2001:81-82). 
Conforme situa Hespanha (1999): "E não só as velhas desigualdades baseadas 
nas diferenças de classes e de estatuto social em termos de rendimento, capital 
educacional ou prestígio não desapareceram como emergiram (ou tornaram-se mais 
visíveis) novas desigualdades baseadas em outros fatores de distinção como o sexo, 
a etnia, a religião ou os modos de vida" (Hespanha, 1999:70). Neste contexto, 
emergem diferentes formas de desigualdade e de subordinação, seja em trabalhos 
temporários, seja pelo surgimento dos "novos pobres" ou pela vivência da "miséria do 
mundo" (Taylor, 1999:12; Bourdieu, 1993). 
Também são relevantes as mudanças no mundo rural, desdea questão global 
da fome até as inovações tecnológicas, e as novas formas de organização produtiva, 
como a agricultura familiar e as atuais lutas sociais pela terra em diferentes países. A 
 
5 
 
importância para o futuro da relação do homem com a natureza, indicando a questão 
ecológica, a discussão sobre as tecnologias intermediárias e a noção de 
desenvolvimento com sustentabilidade (Sachs, 1993). Desencadeiam-se processo de 
exclusão social: os "sem classe", "sem terra", aqueles que vivem a exclusão digital, 
os "sem teto", aqueles que passam fome ou os "sem trabalho". 
Um novo espaço social mundial de conflitualidades está se desenhando nos 
espaços e nos tempos da globalização (Ianni, 1996; Sousa Santos, 1994; Harvey, 
1993; Giddens, 1991), com a predominância da mercantilização do social e a 
destruição das sociabilidades coletivas, ou seja, "o mercado é agora a fundamental 
força motor das práticas e discursos sociais e políticos contemporâneos", com o 
"desenvolvimento de novas formas de desigualdade social (Taylor, 1999:54). 
As instituições socializadoras vivem um processo de crise e 
desinstitucionalização, a família, escola, processos de socialização, fábricas, 
religiões, e o sistema de justiça criminal (polícias, tribunais, manicômios judiciários, 
prisões). 
A crise da família avoluma-se, seja pela desnaturação da ordem patriarcal 
realizada pelo movimento feminista, a crítica da dominação masculina (Bourdieu, 
1998), seja pelo registro da violência doméstica (Saffioti; Almeida, 1995; Gregori, 
1992). Analisa Garland (2001:82-83): "A estrutura da família foi substancialmente 
transformada. Houve um acentuado declínio (e concentração no tempo) da fertilidade, 
com as mulheres se casando mais tarde, tendo poucos filhos e reentrando no trabalho 
remunerado imediatamente após dar à luz. Houve também um súbito e notável 
aumento dos divórcios". Também as dificuldades da identidade de gênero (Taylor, 
1999:37-41) e as transformações da posição das mulheres na sociedade 
contemporânea. 
A crise da família cristaliza tais mudanças nos laços sociais, pois as funções 
sociais desta unidade social marcada por relações de parentesco — assegurar a 
reprodução da espécie, realizar a socialização dos filhos, garantir a reprodução do 
capital econômico e da propriedade do grupo, assegurar a transmissão e reprodução 
do capital cultural — estão atualmente ameaçadas. 
Por um lado, em decorrência da própria diversidade de tipos de família no Brasil 
atual — família nuclear, família extensa em algumas áreas rurais, famílias 
monoparentais, famílias por agregação. Por outro, os tipos de relações de 
 
6 
 
sociabilidade que nela se realizam são variadas, marcadas originalmente pela 
afetividade e pela solidariedade, agora reaparecem como largamente conflitivas, 
como o demonstram os fenômenos da violência doméstica. Finalmente, as funções 
de socialização são compartilhadas pela escola e pelos meios de comunicação. Dessa 
forma, identifica-se uma desorganização do grupo familiar, com as funções de 
reprodução econômica ameaçadas pela crise do emprego assim como pelos efeitos 
da crise do Estado-Providência. 
1.2 A violência difusa na modernidade tardia 
Os fenômenos da violência difusa adquirem novos contornos, passando a 
disseminar-se por toda a sociedade. Essa multiplicidade das formas de violência 
presentes nas sociedades contemporâneas — violência ecológica, exclusão social, 
violência entre os gêneros, racismos, violência na escola — configuram-se como um 
processo de dilaceramento da cidadania. A compreensão da fenomenologia da 
violência pode ser realizada a partir da noção de uma microfísica do poder, de 
Foucault, ou seja, de uma rede de poderes que permeia todas as relações sociais, 
marcando as interações entre os grupos e as classes (Foucault, 1994:38-39). 
Deparamo-nos com as dimensões subjetivas e objetivas das variadas formas de 
violências: violência na escola, violência social, ecológica, exclusão, gênero, 
racismos. Configura-se uma "microfísica da violência" na vida cotidiana da sociedade 
contemporânea (Tavares dos Santos, 2002b). 
Efetiva-se uma pluralidade de diferentes tipos de normas sociais, algo mais do 
que o próprio pluralismo jurídico, levando-nos a ver a simultaneidade de padrões de 
orientação da conduta muitas vezes divergentes e incompatíveis, como, por exemplo, 
a violência configurando-se como linguagem e como norma social para algumas 
categorias sociais, em contraponto àquelas denominadas de normas civilizadas, 
marcadas pelo autocontrole e pelo controle social institucionalizado (Elias, 1990; 
1993). Fortalece-se a prática de fazer justiça pelas próprias mãos, um traço de uma 
cultura orientada pelo hiperindividualismo (Díaz, 1898, 107). Nas palavras de Bauman 
(1998:26): "A busca da pureza moderna expressou-se diariamente com a ação 
punitiva contra as classes perigosas; a busca da pureza pós-moderna expressa-se 
diariamente com a ação punitiva contra os moradores das ruas pobres e das áreas 
 
7 
 
urbanas proibidas, os vagabundos e os indolentes". Adquirindo a cultura uma 
centralidade na "modernidade tardia", a disseminação de uma cultura de "ganhadores 
ou perdedores" (Taylor, 1999: 34-37) acentua os valores do individualismo competitivo 
e a criação de uma cultura popular unidimensional, hedonista e imediatista (Young, 
1999:10; Taylor, 1999:90), induz as populações a viverem em novos grupos sociais 
eletivos e auto referidos (Garland, 2001:89). 
O período atual pode ser denominado de Processo de Mundialização, marcado 
pela pós-modernidade como forma cultural, pela expansão da produção industrial em 
nova distribuição do trabalho planetária, com o avanço do capital especulativo e pelas 
conflitualidades sociais mundiais. 
A herança do Estado de Bem-Estar Social e do Modernismo Penal (1946-1978) 
começou a ser abalada durante a crise global do final do século XX (1978-1991), como 
comprova Hobsbawm (1994; 2000): assistimos ao final do "Estado de Bem-Estar" 
(1946-1973), no qual as instituições sociais tinham um funcionamento regular, ao 
menos nos países desenvolvidos. O controle social formal (as polícias, o judiciário, o 
sistema da justiça criminal, as prisões) era orientado para a reabilitação dos 
delinquentes, com uma intenção "correcional" e ressocializadora. Porém, também 
nessa época as instituições de controle social informal funcionavam regularmente: a 
família, a escola, os grupos sociais, as associações, os movimentos sociais definiam 
normas de conduta, reproduziam valores e disseminavam orientações para a ação 
social. Estávamos vivendo o modelo de controle social "correcional", pois todos os 
controles sociais, informais e formais, estavam em funcionamento, conforme a 
interpretação de Garland (2001:44): "O bem-estar penal retirava suporte de uma 
particular forma de Estado e de uma particular estrutura de relações de classes. 
Funcionava em um ambiente específico de políticas sociais e econômicas e interagia 
com uma série de instituições contíguas, as mais importantes das quais eram o 
mercado de trabalho e as instituições do Estado de Bem-estar Social". Por outro lado, 
o controle social distribuía-se pelas instituições societárias: "Os controles sociais 
informais exercidos pelas famílias, vizinhanças e comunidades, junto com as 
disciplinas impostas pelas escolas, locais de trabalho e outras instituições criavam um 
cotidiano de normas e sanções que embasavam as demandas legais e garantiam 
suporte às intervenções do bem-estar penal" (Garland, 2001:44). Uma das novas 
questões sociais mundiais tem sido a violência no espaço escolar, marcada pela 
 
8 
 
violência simbólica e pela territorialização do crime organizado (Tavares dos Santos, 
1999), também um sintoma da crise da juventude masculina (Taylor, 1999:65-85; 
Zaluar, 1994). 
O crime seria um epifenômeno da sociedade capitalista, diziam em 1973 os 
autoresda New Criminology, denominados, ao longo dos anos 90, de "realistas de 
esquerda" na Inglaterra (Taylor; Walton; Young; 1990). Entretanto, acompanhando as 
mudanças sociais no final do século XX, três décadas depois os "realistas de 
esquerda" chegariam a perceber os dilemas da "modernidade tardia": as crescentes 
taxas de criminalidade; a revelação das invisíveis vítimas; a problematização do 
fenômeno criminal; a universalidade do crime; e a seletividade da justiça; os 
problemas da punição e da culpabilidade (Young, 1999: 35-43). 
As características da "modernidade tardia" seriam a repetição da exclusão 
social, a disseminação das violências, a ruptura de laços sociais e a "desfiliação" de 
algumas categorias sociais, como a juventude, uma das grandes vítimas da 
civilização, analisa Pais: "Nas décadas imediatas ao pós-guerra, as transições dos 
jovens assemelhavam-se a viagens de comboios nas quais os jovens, dependendo 
da sua classe social, gênero e qualificações acadêmicas, embarcavam em diferentes 
comboios com destinos pré-determinados". Atualmente, "o terreno onde as transições 
têm lugar é de natureza cada vez mais labiríntica. No labirinto da vida, como num 
labirinto rodoviário, surgem frequentemente sentidos obrigatórios e proibidos, 
alterações de trânsito, caminhos que parecem já ter sido cruzados, várias vezes 
passados: essa retomada de caminhos que parecem que provoca uma sensação de 
perda, de confusão" (Pais, 2001:10). 
Houve profundas alterações no espaço urbano, modificando a visão da 
ecologia urbana da Escola de Chicago, pois a hegemonia "da sociedade de mercado" 
envolve um crítico processo de retirada da autoridade pública da supervisão e 
manutenção dos espaços públicos na cidade" (Taylor, 1999:61). Completa Garland: 
"Os projetos de renovação urbana dos anos de 1960 continuaram o processo 
demolindo muitas vizinhanças das áreas urbanas centrais, o que resultou em novos 
sistemas de tráfico e autoestradas, com a realocação dos moradores em projetos 
habitacionais concentrados. O efeito frequentemente, foi concentrar as famílias 
pobres e de minorias em áreas muito afastadas da cidade nas quais faltavam os 
 
9 
 
serviços básicos tais como lojas, empregos e bom transporte público" (Garland, 
2001:84-85). 
Produziu-se uma urbanização sociopática, com espaços urbanos fragmentados 
e segmentados, seguindo um mesmo padrão geral: centros deteriorados e bairros 
periféricos carentes, habitados por populações vulneráveis; bairros de populações de 
altas rendas, com forte presença de segurança privada assim como a implementação 
de condomínios fechados (Caldeira, 2000); territórios controlados pelo "crime 
organizado"; espaços privados de comércio, com controle social por segurança 
privada; desigualdade social e espacial; violência cotidiana nas ruas; e violência no 
espaço escolar (Taylor, 1999:110). Em suma, a falência do poder público regulatório. 
 
Vivemos em um contexto societário no qual as concepções do crime passam 
por grandes metamorfoses (Young, 1999:46-47): a definição do crime passa a ser 
problemática, seja pelas novas modalidades de crime — criminalidade violenta; crime 
organizado, tráfico de armas e de drogas; crimes de "colarinho branco", crimes 
informacionais, seja por fenômenos sociais de violência contra a pessoa ainda não 
consideradas, por exemplo, as violências contra as crianças, sob a ideologia da 
educação pelo castigo físico; os infratores da lei não são mais uma minoria mas 
podem ser extensos continentes sociais; a probabilidade de alguém ser vítima, de 
excepcional, passa a ser prevalecente e contingente; as causas do crime são difusas, 
eminentes ou por "escolha racional", nos casos de delitos contra o patrimônio ou de 
extorsão por sequestro; há uma continuidade entre o fato social normal e o crime, 
transformado em fenômenos societários; o assaltante deixa de ser profissionalizado 
para tornar-se um ofensor sem especialização, realizando a ação delituosa quase ao 
acaso (Pegoraro, 1999); a relação entre agressores e vítimas passa a ser uma relação 
complexa, pois o agressor não é mais somente o estranho, mas alguém conhecido ou 
do próprio grupo da vítima, estranhos e íntimos, habitantes locais e de outras regiões; 
as causas do crime passam a ser multidimensionais; o crime passa a ser societal, em 
um contínuo na vida social, sendo o lugar da ocorrência ser tanto privado quanto 
público; e o controle social formal não mais é monopólio do sistema de justiça criminal 
mas passa a ser compartilhado por outras agências sociais. 
Por conseguinte, os "impactos da modernidade tardia sobre as taxas de crime 
foram multidimensionais: aumento das oportunidades para o crime; redução dos 
 
10 
 
controles situacionais; aumento da população em risco; redução da eficácia dos 
autocontroles sociais, como consequência das mudanças na ecologia social e nas 
normas culturais" (Garland, 2001:90). 
Estaríamos diante de uma crise da modernidade tardia, na qual a privação 
relativa combina-se com o individualismo, transformando-se em "uma comparação no 
interior da divisão do trabalho e entre aqueles que estão no mercado e os excluídos, 
conformando uma grande vulnerabilidade social, pobreza e miséria. Assiste-se, nesse 
quadro, a uma ruptura dos controles sociais tradicionais (Young, 1999:46-48), 
substituídos por uma invasão dos meios de comunicação na esfera da socialização. 
Cabe falar, então, de um tempo histórico não linear, pontual, repetitivo, de uma 
sociedade de risco (Young, 1999:68-72), na qual a falência do controle social formal 
se expressa na crise mundial das polícias (Reiner, 2000; Bayley, 1996; Soares, 2000). 
1.3 As conflitualidades sociais no processo de mundialização 
No início do século XXI, a questão das conflitualidades — das formas de 
violência, das metamorfoses do crime, da crise das instituições de controle social e 
dos conflitos sociais — configura-se pela emergência de novas modalidades de ação 
coletiva, com lutas sociais protagonizadas por outros agentes sociais e diferentes 
pautas de reivindicações. 
As questões substantivas — emergentes de pesquisas tanto no espaço urbano 
quanto no espaço rural — para o futuro da transformação social das sociedades latino-
americanas, podem ser assim formuladas (Tavares dos Santos, 2002c): "Quais as 
formas de violências que predominam na América Latina no início do século XXI? 
Quais as origens sociais, econômicas e políticas das violências? Qual a relação entre 
juventude e violência? Como se conforma a crise do sistema de Justiça Penal? Quais 
as experiências inovadoras e as lutas sociais pela cidadania que se configuram 
atualmente na América Latina?" 
A observação de um fato social — as violências disseminadas pelo espaço 
social — possibilita a construção de um objeto sociológico, mediante a ótica espaço-
temporal da conflitualidade, tecendo uma explicação sociológica da violência, a partir 
da experiência latino-americana, mas com alcance teórico para várias sociedades 
 
11 
 
contemporâneas, pois nos encontramos diante da mundialização da violência e da 
injustiça (Tavares dos Santos, 2002a). 
Na sociedade brasileira, a Constituição de 1988, denominada de Constituição 
Cidadã, representou a instauração do Estado Democrático de Direito, com inúmeras 
possibilidades de aumento no acesso à Justiça, abrindo um processo de 
informalização da Justiça (Azevedo, 2000). Entretanto, foi escassa a discussão sobre 
o direito à segurança, prevalecendo o ponto de vista dos comandos das Polícias 
Militares estaduais, o qual garantiu a definição constitucional dessas polícias como 
força auxiliar das forças armadas (Constituição Federal de 1988, art. 144) (Caldeira, 
2000). 
As forças sociais democráticas vinham fazendo a denúncia de graves violações 
de direitos humanos desde os anos de "chumbo" da ditadura militar. Por um lado, os 
liberais consideravam que o Estado de Direito superariatanto a violência do Estado 
quanto a criminalidade. Por outro, as forças de esquerda falavam em violência 
estrutural do modo de produção capitalista, considerando o crime um epifenômeno 
das relações de exploração. Poucos percebiam as relações entre cultura e violência 
como estratégia de sobrevivência para algumas camadas populares (Oliven, 1982). 
Somente nos anos 90, a violência veio a tornar-se um problema social e uma 
questão sociológica. Os estudos sobre o crime já estavam presentes na historiografia 
brasileira (Bretas, 1991), os processos da violência política rural já vinham sendo 
analisados, com larga tradição nos estudos sociológicos (Tavares dos Santos, 1991), 
e a denúncia da violência contra os trabalhadores rurais e camponeses passou a ser 
sistemática (CPT, 1989a-2002). A noção de "criminalidade violenta" passou a ser um 
instrumento chave para explicar a junção do crime com a violência, inaugurando uma 
larga série de pesquisas e estudos de caso (Adorno, 1993; Zaluar, 1999; Kant de Lima 
et al., 2002). Em outras palavras, a publicação de uma série de resenhas sobre o 
estado da arte dos estudos sociológicos sobre crime e violência, incluindo os estudos 
sobre as polícias, a segurança pública, o poder judiciário penal, as prisões e os 
fenômenos de violência na escola (Sposito, 2001). A diversidade regional dos estudos 
já possibilita também uma visão comparativa entre cidades e Estados, acrescendo a 
visibilidade social e a compreensão sociológica das conflitualidades na sociedade 
brasileira. 
 
12 
 
No início do século XXI, a questão das conflitualidades — das formas de 
violência, das metamorfoses do crime, da crise das instituições de controle social e 
dos conflitos sociais — configura-se pela emergência de novas modalidades de 
conflitos sociais: "Estamos em presença de um social heterogêneo, no qual nem 
indivíduos nem grupos parecem reconhecer valores coletivos. Esse contexto dá 
origem a múltiplos arranjos societários, a múltiplas lógicas de condutas. 
Predominando tal situação é válido falar em sociedade fragmentada, plural, 
diferenciada, heterogênea" (Grossi Porto, 1994). Conformam-se novas questões 
sociais mundiais, seja porque "os processos de transformação pelas quais vem 
passando o trabalho afetam sua característica de integração social, com uma 
configuração fundamentalmente marcada pela fragmentação" (Grossi Porto, 1994), 
seja pela expansão dos fenômenos da violência difusa, para cuja explicação poderia 
ser útil uma microfísica da violência (Tavares dos Santos, 2002). Retomamos esta 
definição de violência difusa: as diferentes formas de violência presentes em cada um 
dos conjuntos relacionais que estruturam o social podem ser explicadas se 
compreendermos a violência como um ato de excesso, qualitativamente distinto, que 
se verifica no exercício de cada relação de poder presente nas relações sociais de 
produção do social. A ideia de força, ou de coerção, supõe um dano que se produz 
em outro indivíduo ou grupo social, seja pertencente a uma classe ou categoria social, 
a um gênero ou a uma etnia, a um grupo etário ou cultural. Força, coerção e dano, em 
relação ao outro, enquanto um ato de excesso presente nas relações de poder. Pode-
se verificar empiricamente na sociedade brasileira a seletividade social das vítimas: 
trabalhadores urbanos, moradores de bairros populares, pais, crianças, mulheres, 
jovens, negros, índios. Do sexo masculino: acidentes de trânsito, homicídios, armas 
de fogo; jovens e adolescentes: abuso sexual; violência doméstica (contra crianças, 
idosos, mulheres): contra crianças, castigos corporais e maus-tratos; violência sexual 
contra as mulheres e o aumento do registro da violência doméstica. 
1.4 A produção do Estado de controle social penal 
A violência como nova questão social global está provocando mudanças nos 
diferentes Estados, com a configuração de Estado de Controle Social repressivo: em 
outras palavras, estamos diante de formas contemporâneas de controle social, com 
 
13 
 
as características de um Estado repressivo acompanhando a crise do Estado-
Providência. Alguns elementos possibilitam caracterizar este estado penal: 
- O discricionarismo e a violência policial aparecem como umas das novas 
questões sociais globais, em grande parte ainda impensada pela sociologia, na 
perspectiva da conflitualidade. Na última década, a questão policial tornou-se mais 
complexa, seja pela suposta ineficácia e ineficiência frente ao crescimento e 
diferenciação das ações sociais socialmente criminalizadas, seja pelos novos 
fenômenos criminalizados na "modernidade tardia" nos países centrais do mundo 
capitalista (Young, 1999). Expande-se, pelo planeta, a opção pelo crescimento das 
funções de controle social repressivo da polícia, com o apelo sistemático ao uso da 
violência ilegal e ilegítima. 
 
- A produção social do sentimento de insegurança: "Os homens e as mulheres 
pós-modernos trocaram um quinhão de suas possibilidades de segurança por um 
quinhão de felicidade. Os mal-estares da modernidade provinham de uma espécie de 
segurança que tolerava uma liberdade pequena demais na busca da felicidade 
individual. Os mal-estares da pós-modernidade provêm de uma espécie de liberdade 
de procura do prazer que tolera uma segurança individual pequena demais" (Bauman, 
1998:10). Tal incerteza tem sido produzida pelo enfraquecimento dos laços sociais, 
desde a insegurança no emprego à crise das relações sociais entre as pessoas 
(Hobsbawm, 2000:138-194; Bauman, 1998:32-35; Garland, 2001:92). A reação do 
público seria marcada pelo "medo do crime" e pelo "pânico moral", a "sensação de 
insegurança" (Young, 1999), o "medo de falhar" similar ao "medo do outro", uma crise 
da civilidade na vida cotidiana (Taylor, 1999:17-19). 
 
- O programa de "tolerância zero", da polícia de Nova York, somente em seu 
aspecto de reforço do policiamento ostensivo, mas desprezando toda a rede de 
serviços de associações que, naquela cidade, faz parte do programa (Young, 
1999:121-148). 
 
- O controle social do crime não é mais apenas das agências estatais, mas 
também das polícias privadas, formais ou precárias, configurando um "complexo de 
serviços privados de segurança". 
 
14 
 
 
- O encarceramento dos "consumidores falhos", pois "a busca da pureza pós-
moderna expressa-se diariamente com a ação punitiva contra os moradores das ruas 
pobres e das áreas urbanas proibidas, os vagabundos e os indolentes" (Bauman, 
1998:26). Consolidou-se a indústria carcerária: "Durante os últimos vinte e cinco anos, 
a população de encarcerados e de todos os que obtêm a sua subsistência da indústria 
carcerária — a polícia, os advogados, os fornecedores de equipamento carcerário — 
tem crescido constantemente. O mesmo aconteceu com a população de ociosos — 
exonerados, abandonados, excluídos da vida econômica e social. 
Consequentemente, como seria previsível, aumentou o sentimento popular de 
insegurança" (Bauman, 1998:49; Wacquant, 2000). Finalmente, a barbárie das 
prisões enquanto depósito de "hombres infames", nas quais passa a predominar uma 
orientação repressiva, aumenta a duração das penas privativas de liberdade, 
restringindo-se a vida dos apenados nos presídios de segurança máxima, com o 
abandono dos ideais "correcionais" da época anterior. 
Em síntese, o Estado do controle social penal apresenta as seguintes 
características: a polícia repressiva, o Judiciário penalizante, a privatização do 
controle social, fazendo com que o crescimento das polícias privadas e das prisões 
privadas seja acompanhado pelo "complexo industrial-policial", ou todos os ramos 
industriais envolvidos com equipamentos e instalações de prevenção e repressão ao 
crime, tais como seguros, segurança privada, viaturas, equipamentos de 
comunicação, sistemas de informação, etc. (Taylor, 1999:213-222). 
As dificuldades políticas advindas dos processos de transiçãodemocrática na 
América Latina, nos últimos 20 anos, pois não só permanece o desconhecimento e a 
surpresa, em face da expansão dos fenômenos de violência, como nos esforços de 
reconstrução institucional visando a plenitude do Estado de Direito não foi colocada 
em questão várias dimensões do controle social institucional, em particular, a situação 
das prisões e os modos de funcionamento das polícias. Cabe salientar as dificuldades 
de acesso à justiça, a seletividade social da justiça penal e a perda de legitimidade 
das instituições de controle social. 
As lutas sociais contra a violência expressam as possibilidades de uma 
governamentalidade, fundada na sociedade civil e na construção social da cidadania, 
 
15 
 
buscando-se a reconstrução das relações de sociabilidade mediante outras bases da 
solidariedade social. 
Entre os agentes da transformação, podemos identificar as instituições da 
sociedade civil que promoveram tais lutas: a campanha de Hélio Bicudo contra os 
"grupos de extermínio" em São Paulo, nos anos 70; a campanha pela Anistia, de 1975 
a 1979; o grupo ecumênico, católico, luterano e judeu, do movimento "Tortura Nunca 
Mais", no início dos anos 80; a Campanha Nacional contra a Violência, levada adiante 
pela OAB; e a Campanha sobre a Violência contra a Criança, organizada pela 
Confederação Nacional dos Bispos do Brasil — CNBB, Igreja Evangélica de Confissão 
Luterana do Brasil — IECLB e Comissão Pastoral da Terra — CPT. 
Nos anos 90, assistimos a sucessivas campanhas contra a violência no campo, 
protagonizadas pela Comissão Pastoral da Terra, da CNBB, Confederação dos 
Trabalhadores na Agricultura — Contag e Instituto Brasileiro de Análise Sociais e 
Econômicas — Ibase, desde 1985; as Comissões de Direitos Humanos; as ONG, 
como o Movimento Viva Rio; as campanhas contra a violência à mulher; os 
movimentos de homossexuais denunciando a violência contra gays, lésbicas e 
travestis; as lutas do movimento negro, e tantas outras. 
Também as campanhas contra a violência nos presídios, levadas adiante pela 
Comissão de Justiça e Paz Teotônio Vilela, da Arquidiocese de São Paulo; a 
mobilização pela desmilitarização das polícias militares estaduais, capitaneada por 
Hélio Bicudo e pelo Núcleo de Estudos da Violência da USP, dirigido por Paulo Sérgio 
Pinheiro; a Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Deputados, as Comissões 
de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul (Relatório Azul, 
1994-2002); e a Campanha pela Paz nas Escolas, capitaneada pela Unesco. 
1.5 Possibilidades de um controle social democrático 
 
Neste nascente século XXI, multiplicam-se os projetos para prevenir as 
violências e reduzir a criminalidade violenta, na perspectiva de novas alternativas de 
políticas públicas de segurança que possam garantir o direito de segurança dos 
cidadãos e cidadãs nas sociedades do século XXI. São efeitos múltiplos da 
 
16 
 
mundialização da questão dos direitos humanos, desde a II Conferência Internacional 
de Direitos Humanos, reunida em Viena, em 1995. 
Estamos, desde 2001, em um período de proposições para "um outro mundo 
possível", como aconteceu durante o Fórum Social Mundial de Porto Alegre, nos anos 
de 2001, 2002 e 2003. Entretanto, se muito se discutiu sobre a violência, em particular 
a violência doméstica e a violência contra os jovens, o debate sobre a questão da 
segurança foi escasso, e sobre a questão da reforma das polícias foi nulo. 
Assistimos a uma virtual impossibilidade do ofício de policial, seja pelas 
dificuldades em garantir a ordem pública, por ela estar internacionalizada e 
privatizada, seja pelas limitações em contribuir à construção do consenso, pois as 
bases da comunidade não mais existem em sociedades complexas e com o mundo 
do trabalho desestruturado. A análise de várias situações reais pode levar a perceber 
a vigência, na sociedade brasileira, de uma representação social baseada em 
tecnologias de poder repressivas, mas também cabe salientar a emergência de ações 
coletivas e de trabalhos institucionais enquanto expressões de um movimento contra 
a violência. 
Tal movimento de reforma do trabalho policial tem sido, por um lado, marcado 
por uma colaboração entre universidades e escolas de Polícia, em vários estados 
brasileiros, nos últimos anos, que tem sido franca e profícua, indicando um movimento 
de transformação de currículos, de conteúdos e de concepção do ofício de policial (em 
Minas Gerais, a UFMG e a Fundação João Pinheiro; no Rio Grande do Sul, a 
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, desde 1992; no Rio de Janeiro, a UERJ 
e a Universidade Federal Fluminense; em São Paulo, a USP; na Bahia, a UFBA; em 
Pernambuco, a UFPE; no Pará, a Universidade Federal do Pará, no Ceará, a 
Universidade Federal do Ceará). 
Na mesma perspectiva, estão as experiências e as discussões acerca do 
modelo da polícia comunitária, ou da polícia de proximidade, mediante a análise das 
experiências no Canadá, na França, na Espanha, nos Estados Unidos e na Inglaterra, 
assim como em São Paulo, no Rio de Janeiro, na Bahia, no Amapá, no Espírito Santo 
e no Rio Grande do Sul (Mesquita Neto, 1998; Muniz, 1997). Também está em curso, 
no Brasil, uma discussão sobre a reforma das polícias estaduais, tendo sido lançado, 
em dezembro de 1999, um projeto de emenda constitucional que propõe um "novo 
modelo de polícia no Brasil", com os seguintes itens: unificação das polícias civis e 
 
17 
 
militares em cada estado; extinção dos tribunais militares estaduais; eliminação do 
inquérito policial; e controle externo das polícias por ouvidorias. 
Desta forma, para responder a tais processos sociais planetários, impõe-se 
propor uma diversificação nas alternativas de desenvolvimento para as sociedades 
contemporâneas, tanto no centro como na periferia do sistema global. Contra essa 
sociedade normalizadora e programada, efeito de uma tecnologia de poder centrada 
na vida, e de um Estado orientado para o controle social penal emergem, aparecem, 
no jovem século XXI, forças sociais de resistência, novos movimentos sociais, a crítica 
aos processos sociais de construção da violência simbólica e das "representações 
sociais da insegurança" e as concepções de uma polícia cidadã orientada para a 
mediação de conflitos. 
Seria, então, possível, pensar a construção de uma cidadania transnacional ou 
mundial, marcada pela criação institucional e pela difusão e comunicação de práticas 
sociais, jurídicas e simbólicas, inovadoras e globais, no âmbito da sociedade civil: "É 
no âmbito da sociedade civil mundial, vista como o novo palco da história, que os 
indivíduos e as coletividades, as classes e os grupos, os gêneros e as etnias, as 
línguas e as religiões adquirem outros e novos significados, envolvendo movimentos 
de integração e fragmentação, acomodação e contradição, reforma e revolução" 
(Ianni, 2003:129). 
Por um lado, a reinvenção das formas de solidariedade; por outro, a redefinição 
do trabalho, em múltiplas relações sociais, tanto no espaço rural como no espaço 
urbano; enfim, a prevenção e erradicação das formas de violência social; e a 
construção de um outro tipo de trabalho policial. 
Estamos no limiar de um processo político no qual a questão da segurança 
retoma as origens da polis e da politeia, como conjunto das instituições necessárias 
ao funcionamento e à conservação da cidade, incluindo-se o direito coletivo da 
segurança dos cidadãos e cidadãs. 
Em outras palavras, a emergência de uma noção de segurança cidadã, na 
perspectiva da mundialização, supõe a construção social de controle social 
democrático, mediante o qual tanto as instituições de socialização — a família, a 
escola, as associações locais, os meios de comunicação — quanto as organizações 
do controle social formal — as polícias, o sistema judiciário, as instituições prisionais 
— reconstruam o objetivo de uma governamentalidade preocupada comas práticas 
 
18 
 
de si, emancipatórias, dos conjuntos de cidadãos e cidadãs em suas vidas cotidianas, 
em suas trajetórias sociais e em seus sonhos de sociedade. Tais possibilidades estão 
presentes nas lutas sociais mundiais pela construção de uma sociedade democrática, 
com novas modalidades de controle social orientadas pelo respeito à dignidade 
humana.1 
2 GESTÃO DE CONFLITOS E SEGURANÇA PÚBLICA 
Há algum tempo, uma grande expectativa foi construída em torno da atuação 
de policiais estaduais de todo o Brasil. Nada tão inimaginável para eles, que em suas 
bases nos estados passaram a se mobilizar de forma tão incisiva que hoje todos 
voltam seus olhares para manifestações em busca da realização desse sonho de 
servir à expectativa da população e construir uma força policial forte e prestativa. 
 
Fonte: www.informeblumenau.com 
Tudo começou em 2008, quando o Deputado Federal Arnaldo Faria de Sá, do 
PTB de São Paulo, criou um projeto de emenda constitucional que visava criar 
tratamento isonômico no quesito salarial para policiais de todos os estados da 
federação que exercem a mesma função, possuem a mesma patente, passam por 
 
1 Extraído do link: www.scielo.br 
 
19 
 
situações similares no enfrentamento do crime e, no entanto, recebem salários 
diferenciados. 
A PEC 300, como ficou conhecido o projeto do deputado, apresenta um texto 
muito simples, porém impactante que estabelece que “a remuneração dos Policiais 
Militares dos estados não poderá ser inferior à da Polícia Militar do Distrito Federal, 
aplicando-se também aos integrantes do Corpo de Bombeiros Militar e aos inativos. 
Altera a Constituição Federal de 1988. ” 
A legalidade da proposta se fundamenta na CF/88, que em seu artigo 47 diz 
que “a Lei disporá sobre a isonomia entre as carreiras de policiais civis e militares, 
fixando os vencimentos de forma escalonada entre os níveis e classes, para os civis, 
e correspondentes postos e graduações, para os militares”. Com esse fundamento, a 
Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados declarou a PEC 
como constitucional. 
No seio das polícias militares de todo o país, além da expectativa por melhorias 
salariais também cresceu uma grande insatisfação pela postergação da aprovação 
desse projeto. No bojo deste processo, vemos uma mobilização que merece 
destaque: a atual movimentação realizada pelos policiais militares da Bahia desde o 
dia 30 de janeiro último que conta com a Associação dos Policiais, Bombeiros e de 
seus Familiares do Estado (ASPRA), cuja força pode ser medida pela liderança e 
atuação seu presidente Marco Preço, que foi expulso da PM em 2002 (por conta da 
greve dos policiais em 2001), e ainda pelo número de filiados e outras entidades 
representativas que apoiam esta greve. 
Após a greve ter sido declarada ilegal por uma decisão judicial, a vontade de 
reprimi-la surgiu com força total, encabeçada pelo governador da Bahia, Jaques 
Wagner (PT), que após retornar de viagem a Cuba e ao Haiti com a presidente Dilma 
Rousseff, declarou: “Não admitirei que a segurança da população baiana seja 
colocada em risco por um pequeno grupo de pessoas...” referindo-se à ASPRA. 
Com a paralisação, houve tumulto na capital da Bahia. Eventos foram 
cancelados, falou-se em aumento do número de assassinatos e roubos, embora 
nenhum boletim oficial confirmasse esses fatos. O ponto alto da comoção nacional, 
no entanto, aconteceu no momento em que o Exército e a Força Nacional foram 
convocados para dar um fim ao movimento. A convocação do Exército já era esperada 
 
20 
 
pelos manifestantes, mas a convocação da Força Nacional carrega uma carga 
simbólica digna de nota ao movimento. 
Para os manifestantes, a Força Nacional pode ser entendida como um 
grupamento formado por policiais militares de todos os estados da federação que 
passaram por treinamento especial e são convocados em ocasiões especiais, mas, 
ainda assim, são policiais militares, tal qual os grevistas que se encontram do outro 
lado deste pêndulo. Uma das principais diferenças em relação à Força Nacional é o 
fato de que os policiais militares que servem neste grupamento vivem destacados para 
outras regiões e complementam, portanto, seus salários com as diárias recebidas por 
estes deslocamentos. O montante empreendido no custeio de longos deslocamentos 
a este grupamento especial por diferentes regiões do país pode ser ponto passível de 
discussão junto ao poder estadual, uma vez que onera os cofres públicos e, assim, 
contribui para alguns dos principais argumentos que barram as propostas de 
elevação/equiparação de salários policiais. 
Para evitar a propagação nacional da greve, ações no âmbito federal foram 
também tomadas e a Polícia Federal foi acionada, através do Comando de Operações 
Táticas da Polícia Federal – COTE, para cumprir os 12 mandados de prisão expedidos 
pela Justiça para os comandantes da paralisação no estado. 
A greve na Bahia já acabou, mas não restam dúvidas que outras surgirão. A 
insatisfação geral das polícias militares não vai acabar. O uso da Força Nacional foi 
um duro golpe, pois colocou policiais da mesma força uns contra os outros. A prisão 
dos líderes pode dar ainda mais força ao movimento, pois esses homens passam a 
ser considerados heróis da causa. 
A habilidade de negociação das diversas instâncias do governo falhou. Acordos 
que poderiam ter sido feitos não foram nem sequer discutidos. A gestão de segurança 
pública foi levada ao limite de uma ação drástica que não abrevia uma solução. 
Homens e mulheres das forças policiais de todo Brasil arriscam diuturnamente 
suas vidas pelo dever de “proteger e servir”. Levam seu dever de ofício às últimas 
instâncias e todos os dias vemos relatados casos de algum deles que tombaram em 
serviço, no cumprimento de suas obrigações. 
Para além da isonomia dos salários e da aprovação da PEC 300, é preciso 
discutir a falta de efetivo, a carência de equipamentos de proteção individual, o 
provimento de boas condições de trabalho, entre outros. 
 
21 
 
Novas políticas para gestão dos profissionais de segurança pública precisam 
ser adotadas, um estudo íntimo da situação de cada estado faz-se necessário e deve 
ser encabeçado pela instância federal, como forma de superar a inabilidade manifesta 
das instâncias estaduais em lidar com esses profissionais. 
Enquanto o atual cenário de gestão das políticas de segurança pública e de 
suas forças perdurar, não veremos solução próxima para as demandas das polícias 
estaduais e teremos que aprender a gerir seus conflitos.2 
3 COMUNICAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS EM SEGURANÇA PÚBLICA 
3.1 Especial: tecnologia a favor da segurança 
Os versos “A cidade não para, a cidade só cresce/ O de cima sobe e o debaixo 
desce” eternizados por Chico Science & Nação Zumbi, representam bem a sociedade 
em que vivemos, onde somente nos últimos anos a diferença entre ricos e pobres vem 
diminuindo. 
 
 
Fonte:www.mtitecnologia.com.br 
Mesmo assim, a falta de perspectiva de uma vida digna de muitos cidadãos 
acaba gerando sérios problemas de segurança pública. Para combater estes e 
 
2 Extraído do link: www.cartacapital.com.br 
 
22 
 
diversos outros problemas de segurança, diversas tecnologias têm sido desenvolvidas 
e empregadas, principalmente em grandes metrópoles do Brasil e do Mundo. 
 
Enxergar através das paredes 
 
Enxergar do outro lado da parede já não é mais um privilégio somente do Super 
Homem desde que a empresa francesa Cambridge Consultants desenvolveu o 
equipamento Prism 200. Ele é um radar que utiliza emissões de raio-x para monitorar 
eventos ocorrendo do outro lado da parede, algo ideal para casos negociação da 
polícia com sequestradores. 
Seu funcionamento se dá através de um radar, encostado na parede (seja ela 
de madeira, tijolos ou concreto), que consegueidentificar a posição de pessoas, 
animais e móveis com alcance de até 20 metros. Assim seria possível planejar o 
melhor local para a invasão, tendo certeza do posicionamento das vítimas e também 
de objetos que podem ajudar ou atrapalhar a ação da polícia. 
 
Observador de tiros 
 
Infelizmente em grandes cidades tem se tornado cada vez mais troca de tiros 
entre policiais e bandidos. A sociedade toda acaba se tornando refém de sua própria 
ineficiência na hora de atuar na direção de corrigir os problemas sociais e votar em 
governantes comprometidos com este tema, e nessa guerra não tão silenciosa, muitos 
inocentes perdem a vida. 
Está chegando ao Brasil um sistema desenvolvido nos Estados Unidos e que 
promete reduzir em até 40% a taxa de homicídios e em mais de 70% a troca de tiros 
em áreas públicas, possibilitando assim revisão e reordenação das políticas públicas 
para a área de segurança. 
Este é o Sistema de Detecção de Disparos de Armas de Fogo (SDD) que 
através de um sistema acústico com sensores de áudio camuflados instalados em 
diversas regiões de áreas urbanas, captará as ondas e identificará de onde tiros são 
disparados. O sistema é inteligente e possui mecanismos de assinaturas acústicas 
para distinguir disparos de armas de fogo de outros barulhos “semelhantes”, como 
fogos de artifício. 
 
23 
 
O sistema é simples: em caso de disparo dentro do perímetro coberto pelo 
captador de áudio, o barulho do tiro é captado e então é a central telefônica da polícia 
ou de qualquer outro órgão de segurança pré-programado é acionada. 
A utilidade deste equipamento está justamente no fato de permitir uma ação 
rápida da polícia, pois o local do disparo é conhecido no momento em que ele 
acontece. Deste modo encurta-se o caminho entre a central de polícia e o local de 
onde partiu o projétil, pois um simples contato com uma viatura próxima pode 
surpreender e evitar uma série de contratempos. 
 
Choques contra bandidos 
 
Uma arma “não-letal” para combater bandidos em fuga, cujo conteúdo do 
projétil é gás nitrogênio comprimido. Essa é a Taser, equipamento desenvolvido pela 
Taser International e que deve chegar ao Brasil em breve. Ela é chamada de uma 
arma “não-letal”, mesmo sob afirmações da Anistia Internacional de que desde 2001 
já morreram 330 pessoas morreram pelos efeitos desta arma. 
De qualquer modo, a Taser age da seguinte forma: quando seu gatilho é 
pressionado ela dispara um cartucho que ao se colidir com outra superfície (no caso 
o corpo de alguém) libera o gás nitrogênio, que se expande e gera pressão, permitindo 
que eletrodos sejam lançados através de fios condutores ligados à arma. 
Por estes fios uma descarga elétrica de 50.000 volts, durante 5 segundos, são 
transmitidos para o atingido, afetando seu sistema nervoso central e deixando-o 
completamente paralisado por alguns instantes. Em cada disparo, após este período, 
caso o atirador continue com o gatilho pressionado os impulsos duram 1,5 segundo. 
A arma é alimentada por 8 pilhas AA de 1,2 volts e é por meio destas pilhas e 
também de condensadores e transformadores presentes na pistola que ela gera os 
50.000 volts de cada disparo. Além disso, as pilhas servem também para fazer 
funcionar a memória interna das pistolas que, segundo a fabricante Taser 
International, armazenam data e hora dos últimos 585 disparos. 
Além disso, outro controle de disparos são confetes (semelhantes aos confetes 
de carnaval) liberados pelo cartucho no momento em que ele colide com algo. Como 
as munições são numeradas, cada uma delas possui seu próprio “número de 
identidade” impresso também nos confetes. Desta maneira, bastaria um deles 
 
24 
 
recolhidos em torno de onde houve o disparo para comprovar qual autoridade foi o 
seu autor. 
 
Sorria, o Grande Irmão zela por ti dentro do ônibus 
 
A insegurança existente nas ruas acaba fazendo com as pessoas aceitem 
pacificamente a troca de sua privacidade por uma suposta segurança oferecida por 
câmeras de vídeos em locais públicos. Se você já estava acostumado a encontrar 
aparelhos filmando a todos em praças e esquinas mais movimentadas de grandes 
cidades, saiba que os ônibus públicos estão trilhando o mesmo caminho. 
Em cidades como Curitiba (PR), Campina Grande (PB) e Rio de Janeiro (RJ) 
já é possível encontrar ônibus de grande circulação equipados com câmeras de 
segurança. No caso curitibano, a imagem é transmitida diretamente para dentro do 
próprio ônibus com o intuito de coibir a ação de bandidos em momentos de lotação. 
Estações de metrô, terminais e pontos de ônibus de várias cidades já contam 
com equipamentos semelhantes e devem, até certo ponto, inibir pequenos assaltos 
nestes locais. Se isso acontece já é um grande ganho para a população. Quem sabe 
ainda estejamos um pouco longes do futuro preconizado pelo escritor britânico George 
Orwell em 1984, onde as teletelas (televisões gigantes presentes em todas as casas, 
que não tinham como ser desligadas) filmavam os cidadãos em tempo integral, mas 
cada vez mais equipamentos assim fazem parte de nossa rotina. 
 
INFOSEG e a rede integrada de informação 
 
Em um país de dimensões continentais como o Brasil, uma rede nacional de 
segurança pública cujo conteúdo esteja disponível para os vários órgãos de 
segurança atuantes no país seria ideal, não é mesmo? Pois é isso mesmo o que 
propõe a INFOSEG, um sistema nacional da Secretaria Nacional de Segurança 
Pública (SENASP). 
Lançada no final de 2004, a rede utiliza a tecnologia da informação e a 
comunicação para integrar informações como inquéritos policiais, dados de armas de 
fogo e processos judiciais, mandatos de prisão, informações sobre condutores de 
veículos e sobre veículos, etc. as últimas reformulações da INFOSEG permitiu que 
 
25 
 
seu conteúdo seja acessado por membros da segurança pública não somente através 
do computador, mas também de celulares, palms e viaturas.3 
3.2 Sociabilidade, tecnologia da internet e comunicação 
No processo histórico contemporâneo, a comunicação é o agente construtor da 
realidade, nossa percepção do mundo é uma construção cultural, sendo a 
comunicação quem produz e interfere nas percepções. A partir da inserção das 
tecnologias informacionais no cotidiano, os indivíduos interagem entre si, 
independentemente das distâncias geográficas. Com o surgimento da internet, que é 
o mais completo meio de comunicação já concebido pela tecnologia humana, temos 
assistido uma reconfiguração das culturas e o nascimento de uma nova estrutura da 
sociabilidade contemporânea. 
Organizando a informação que conhecemos sobre este tema, e tentando tirar 
conclusões destes conhecimentos para propor algumas hipóteses acerca dos 
esquemas de sociabilidade que estão a surgir nas nossas sociedades, irei dialogar 
com os estudos realizados por Manuel Castells e Pierre Lévy, no sentindo de sintetizar 
e interpretar os dados disponíveis acerca da relação entre Internet e a sociedade. 
O surgimento da internet como novo meio de comunicação gerou um conflito 
acerca do aparecimento de novos padrões de interação social. A partir dessa origem, 
o filósofo Pierre Lévy diz que a revolução contemporânea é apenas uma das 
dimensões de uma transformação antropológica ampla. Lévy afirma que ainda 
estamos na “infância da cibercultura”, e que, para ele, as principais transformações 
sociais provocadas pela tecnologia ainda estão por vir. Lévy coloca que a cibercultura 
é um movimento que oferece novas formas de comunicação. Como tal, reflete a 
“universalidade sem totalidade”, algo novo se comparado aos tempos da oralidade 
primária e da escrita. É universal porque promove a interconexão generalizada, mas 
comporta a diversidade de sentidos, dissolvendo a totalidade. Em outras palavras: a 
interconexão mundial de computadores forma a grande rede, mas cada nó dela é fonte 
de diversidade de assuntos.3 Extraído do link: www.tecmundo.com.br 
 
26 
 
Escolhas e estratégias 
 
A criação e desenvolvimento da internet é uma extraordinária aventura 
humana. Mostra a capacidade das pessoas para transcender as regras institucionais, 
superar as barreiras burocráticas e subverter os valores estabelecidos no processo 
de criação de um novo mundo. Delas resulta o mundo “virtual” e o que hoje chamamos 
de cibercultura. 
O sociólogo Manuel Castells em seus estudos, diz que a formação de 
comunidades virtuais, baseadas principalmente na comunicação online, foi 
compreendida com o culminar de conexões transversais e interativas, sendo 
individuais ou comunitárias. Ainda para Castells (2006, p.255), “a internet é – e será 
ainda mais – o meio de comunicação e de relação essencial sobre o qual se baseia 
uma nova forma de sociedade que nós já vivemos”. As redes interativas de 
comunicação estruturam uma nova geografia de conexões e sistemas. Castells 
centraliza seu estudo na chamada Era da Informação, ou Era Digital, em algumas 
questões específicas correspondentes à sociedade conectada de forma global. 
O impacto que a internet causou, e ainda causa, sobre os demais meios de 
comunicação é significativo. Porque ao menos até o presente, não há centros diretivos 
nem comandos decisórios na web. A rede universal da internet possibilita a circulação 
instantânea de informações e elimina a centralização e o controle pelo poder político. 
Apesar das nossas sociedades terem muitas coisas em comum, são também produto 
de diferentes escolhas e identidades históricas. A realidade parece indicar que muitos, 
a maioria dos utilizadores sociais da internet, criam suas próprias identidades online 
coerentes com as suas identidades off-line. De fato, a crescente diversidade de 
modelos de sociabilidade é o que determina a especificidade da evolução social nas 
nossas sociedades. As redes constroem-se de acordo com as escolhas e estratégias 
de pessoas, grupos ou entidades que se movem na web de acordo com seus valores 
e conveniências, consignados em escolhas individuais ou comunitárias. Neste 
contexto, a comunicação de valores constrói-se em torno de sistemas de comunicação 
porque esta é a principal via que estes encontram para chegar àquelas pessoas que 
podem partilhar os seus valores, e partir daí, atuar na consciência da sociedade. 
 
Interação entre os participantes 
 
27 
 
A internet não é apenas uma tecnologia: é um meio de comunicação e constitui 
a infraestrutura material de uma forma organizativa concreta: a rede. Logo, mais que 
o surgimento de uma sociedade online, presenciamos uma apropriação da internet 
por redes sociais. Com isso, uma nova forma de organização comunitária está 
surgindo utilizando-se das novas tecnologias: as comunidades virtuais, que são redes 
de laços interpessoais que proporcionam sociabilidade, apoio, informação, um senso 
de integração e identidade social. 
A internet tem, hoje, profunda relação com os movimentos sociais e políticos 
do mundo e converteu-se no componente indispensável do tipo de movimentos sociais 
que estão a surgir na sociedade em rede. A tecnologia da internet permite expressões 
de protestos, mobilização em torno de valores culturais e age para mudar os códigos 
de significados nas instituições e na atividade social. Por outro lado, Lévy destaca que 
a conexão da humanidade não acarreta igualdade no sentido mais favorável aos 
princípios de liberdade e de fraternidade, mas que também é um poder nascido da 
capacidade de aprender e de trabalhar de maneira cooperativa num contexto social. 
Os movimentos sociais são confrontados com a necessidade de contrariar o 
alcance local com o impacto global. A tecnologia da internet permite a estes 
movimentos mobilizarem-se na construção da nova sociedade. Com efeito, a Internet 
proporciona, em princípio, um canal de comunicação sem centro de comando e, 
assim, a interatividade permite aos cidadãos solicitar informação e expressar sua 
opinião. Pierre Lévy diz que em vez de existir um centro emissor todo-poderoso como 
também afirma Castells, a comunicação na internet emerge da interação entre os 
participantes. 
 
O processo de transformação 
 
O papel mais importante da internet na reestruturação das relações sociais é a 
sua contribuição para o novo modelo de sociabilidade, baseado no individualismo – 
que, a princípio, conduz ao aperfeiçoamento do ser enquanto agente individual desse 
processo de comunicação. Pierre Lévy diz que a melhor forma de manter e 
desenvolver uma coletividade não é mais construir, manter ou ampliar fronteiras, mas 
alimentar e melhorar a qualidade das relações em seu próprio seio bem como com 
outras coletividades. 
 
28 
 
O uso da internet potencializava a sociabilidade, tanto à distância como no 
ambiente da comunidade local. As pessoas ligam-se e desligam-se da rede, mudam 
de interesses, e, além disso, mudam de companheiros on-line quando querem. De 
acordo com os estudos de Castells, o conjunto de dados disponíveis não sustenta a 
ideia de que a utilização da Internet conduz a uma menor interação e a um maior 
isolamento social, mas existem indícios de que, em determinadas circunstâncias, o 
seu uso pode agir como substituto de atividades sociais. Lévy diz que essa reconexão 
da humanidade é acompanhada de um certo número de “revoluções” de um único 
fenômeno de transformação. 
A chegada da internet e dos novos meios de comunicação, que são também 
novas formas do pensamento coletivo e de acesso ao conhecimento, vão acelerar o 
processo de transformação da sociedade. Mas não devemos achar que as coisas vão 
acontecer de forma mágica e imediata. Não pela proeza técnica em si, mas porque há 
uma relação profunda entre o progresso das formas de comunicação, o progresso da 
democracia e de transformação do ser humano. 
 
Ações coletivas 
 
São incontáveis as observações a serem feitas sobre a internet como fator 
modificador da sociabilidade. Neste artigo, procuro explanar os principais elementos 
da sociedade que têm sofrido considerável mudança a partir da influência da rede. As 
novas tecnologias de comunicação têm, como é natural, agido de modo a reconfigurar 
os espaços como os conhecemos, bem como a estrutura da sociedade. Os modos de 
comunicação alteram-se bruscamente, propagando um volume incalculável de 
conteúdo. A própria vida social se encontra imersa numa rotação incessante. 
O surgimento da sociedade em rede não pode ser entendido sem a interação 
entre essas duas tendências relativamente autônomas: o desenvolvimento de novas 
tecnologias da informação e a tentativa da antiga sociedade de readaptar-se com o 
uso dessa ferramenta tecnológica. Cabe enfatizar que as relações online estão 
baseadas em interesses compartilhados do homem, onde ele se agrupa com seus 
semelhantes e vai estabelecendo relações. Esses relacionamentos são também 
diferenciados: alguns constroem vínculos mais fortes; outros, relações mais 
superficiais. O ser humano, portanto, aspiraria à união e ao mesmo tempo, seria contra 
 
29 
 
ela, oscilaria entre a conexão e a separação, o coletivo e o individual. As redes de 
relações pessoais não são nenhuma novidade, pois o formato de rede é 
extremamente atrativo para relacionamentos, pois tudo se torna descentralizado, 
transparente e autônomo, ao mesmo tempo em que é otimizado em conjunto. A rede 
funciona muito bem na manutenção das relações e na intermediação de laços entre 
pessoas que não podem se ver pessoalmente com frequência. Além disso, permite o 
exercício da solidariedade em várias situações, ameaças, riscos, problemas coletivos 
ou individuais. 
Na contramão, o surgimento das tecnologias informacionais, principalmente a 
internet, aumentou a dificuldade de discutir o tópico de privacidade. Com a internet, 
os indivíduos que na época da TV eram apenas receptores de informação passaram 
a ser produtores de informação,disseminando-se por meio das tecnologias, que 
possibilitam que as informações – dentre elas as que se referem a algo particular dos 
indivíduos – ganham amplitude global rapidamente. Tal acesso poderia, também, 
constituir um clima de hostilidade entre grupos que possuem interesses distintos, 
interesses esses que estariam disponíveis para conhecimento. 
As atividades humanas estão ficando, a cada dia, mais dependentes da 
tecnologia e, portanto, susceptíveis às suas vulnerabilidades e seus efeitos. É certo 
que estamos na “infância da cibercultura” como afirma Lévy, e que as principais 
transformações sociais provocadas pela tecnologia ainda estão por vir. Entretanto, há 
muito ainda o que pensar no que se refere a todas as questões polêmicas e 
importantes que surgiram com o advento da internet. Talvez sejam essas polêmicas 
o motivo de conflitos como pontua Manuel Castells: o aparecimento de novos padrões 
de interação social que, cada vez mais densa entre os indivíduos realmente contribui 
para ações coletivas, transformadoras e democráticas.4 
3.3 A importância da inovação para a segurança pública 
Ultimamente o assunto violência tem sido frequente nos noticiários, mostrando 
que são frequentes os assaltos a mão armada, crimes contra a mulher, ao patrimônio 
 
4 Extraído do link: observatoriodaimprensa.com.br 
 
30 
 
público e privado e em muitas cidades o homicídio é frequente; incluindo os de 
agentes da segurança pública. 
Devido a este fato, o poder público e a sociedade civil organizada procuram 
encontrar soluções inovadoras para a segurança pública, que sejam eficientes para 
combater ou evitar a criminalidade. Para amenizar o problema de segurança pública, 
é essencial usar a tecnologia como uma ferramenta. 
Uma das tecnologias mais usadas frequentemente são as de informação e 
comunicação. Essas ferramentas auxiliam o público a ter uma abordagem direta e 
dinâmica com as instituições públicas, dando voz aos cidadãos e ajudando o Governo 
a aprimorar a segurança pública. 
Uma ferramenta tecnológica que vem apresentando bons resultados, é o uso 
de redes sociais como forma alertar seus participantes sobre eventos ocorridos 
naquela localidade. Embora ainda restrito em pequenas cidades, grupos organizados 
procuram manter a informação em tempo real e com isso auxiliando cada vez mais 
autoridades locais que acompanham o grupo com viés de monitoramento. Os 
resultados são práticos e eficientes. 
3.4 Inovações tecnológicas a favor da segurança pública 
O uso de dispositivos móveis, tal como câmera de vídeo, feita pelos cidadãos, 
são fundamentais para aumentar ainda mais a relação da população com os órgãos 
públicos, devido ao acesso à internet e contribui para o empoderamento da sociedade. 
Um dos modelos de inovações para a segurança pública, são os aplicativos de 
smartphones que são desenvolvidos com o objetivo de melhorar a comunicação entre 
o cidadão e os órgãos governamentais para gerar um melhor atendimento à 
população. 
Já a algum tempo a polícia europeia e norte-americana, repensou as suas 
atribuições como a formação e o planejamento de suas estratégias de acordo com o 
relacionamento com as comunidades. 
Essa mudança aconteceu não apenas pelo fracasso dos modelos que eram 
adotados anteriormente e considerados reativos, mas também pelas descobertas 
científicas e muitas evidências sobre o assunto, como o sistema chamado de polícia 
comunitária, com a finalidade de mapear o crime e a violência. 
 
31 
 
Isso é possível aliando os recursos tecnológicos que permitem uma boa 
evolução para a segurança pública com novas técnicas de controle, investigação e 
perícia contra o crime, como por exemplo o uso de câmeras em espaços públicos, 
softwares de reconhecimento visual e voz, satélites para rastreamento e utilizando o 
DNA como produção de provas, entre outros. 
No Brasil alguns dos recursos e técnicas falados acima, estão sendo 
empregados pela polícia, ainda que de forma parcial e/ou como projeto-piloto. O nosso 
país está reconhecendo que inovações tecnológicas na segurança pública são 
importantes e a implementação desta inovação está acontecendo pela comprovação 
dos seus benefícios, e também pelo entendimento de que a mudança na segurança 
pública é necessária. 
Atualmente existe uma série de inovações práticas para a segurança pública 
na prevenção e redução de violência na América Latina, que são implementadas pelo 
governo e cidadãos, com o objetivo de diminuir ou acabar com a violência ligada ao 
crime organizado e a gangues envolvidas com narcóticos. 
Essas inovações são feitas através de estudos na América Latina e em outras 
regiões da África (África do Sul e Quênia), da Ásia (Singapura e Tailândia) e do Oriente 
Médio, que comprovam que as novas tecnologias de informação e comunicação, 
através dos dispositivos móveis, as câmaras de vídeo e o fácil acesso à internet, são 
utilizadas para dar voz a cidadãos e aprimorar a segurança pública. 
O uso da tecnologia como aliada da segurança da população no Brasil ainda 
precisa crescer, mas existe um grande avanço no desenvolvimento do combate à 
violência e na parceria entre sociedade e os órgãos públicos para atender a 
necessidade da população, e lutar por uma sociedade organizada e segura. 
Podemos concluir que as inovações tecnológicas auxiliam a promover a 
segurança pública, pois há um grande desenvolvimento da parceria entre a sociedade 
e órgãos públicos em diversos países devido aos estudos que comprovam este fato.5 
 
5 Extraído do link: tecnocopa.com.br 
 
32 
 
3.5 A importância da inovação para a segurança pública 
Nos últimos tempos, infelizmente, o assunto violência não tem saído dos 
noticiários. Dia após dia, as estatísticas mostram que são crescentes os casos de 
assaltos a mão armada, crimes contra a mulher e contra os patrimônios públicos e 
privados e, em grande parte das cidades, é crescente o número de homicídios. 
Neste contexto, não faltam discussões entre os poderes públicos e a sociedade 
civil organizada para encontrar soluções que se mostrem eficientes para combater a 
criminalidade. Entre elas, está a importância do uso da tecnologia como uma das 
ferramentas essenciais para amenizar este problema. 
De acordo com o sócio fundador da Mooh Tech, Everton Cruz, cada vez mais, 
os três níveis de governos no Brasil e a sociedade civil vêm buscando maneiras de 
aproveitar a revolução digital a fim de desenvolver abordagens inovadoras e 
dinâmicas para resolver esta questão. “E as novas Tecnologias de Informação e 
Comunicação (TICs) têm sido utilizadas para dar voz aos cidadãos e aprimorar as 
práticas das instituições”, complementa. 
Segundo Cruz, entre as novas TICs estão os dispositivos móveis, como, por 
exemplo, as câmeras de vídeo e os tão conhecidos smartphones. E, sem deixar de 
considerar, claro, o devido acesso à internet. “As TICs têm sido fundamentais para 
estreitar ainda mais a relação entre a população e os órgãos governamentais. Elas 
também têm contribuído para o empoderamento da sociedade civil em locais onde o 
poder público está distante dos cidadãos”, diz. 
 
INOVAÇÕES 
 
Entre as iniciativas que contam com a participação efetiva dessas tecnologias 
estão o uso de aplicativos como o Sempre Alerta, criado pela empresa pernambucana 
Mooh Tech. “Ele foi desenvolvido como um instrumento cujo objetivo é, ao utilizar a 
tecnologia, melhorar a comunicação, gerando um melhor atendimento à população. 
Assim, quando alguém faz alguma denúncia por meio dele, estará ajudando a reduzir 
a violência”, explica Cruz, também idealizador da ferramenta. 
Para ele, a participação da população é decisiva na captura e na disseminação 
das informações. “Inovações como o Sempre Alerta promovem o envolvimento dos 
 
33 
 
usuários na revolução digital e auxilia o poder público em diversasfrentes como a 
filtragem, a análise e a interpretação dos dados. A partir disso, se tornará possível 
distribuir os recursos destinados à segurança de forma mais assertiva e planejada, 
além de mensurar os resultados mais eficazmente”, afirma. 
“Como podemos perceber, os avanços tecnológicos estão mudando a 
arquitetura das relações entre os poderes públicos e a sociedade como um todo. 
Contudo, ainda é preciso que grande parte da população esteja envolvida com as 
evoluções do mundo digital, incentivando, assim, a cultura da denúncia. Dessa forma, 
os cidadãos, igualmente afetados pelo aumento da violência em todo o mundo, 
poderão se sentir um pouco mais conscientes do seu papel na sociedade”, finaliza 
Everton Cruz.6 
4 TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS POLICIAIS E DE SEGURANÇA PÚBLICA 
4.1 Técnicas e tecnologias não-letais na atuação das forças de segurança 
Observando a atuação policial, nota-se que durante o passar dos tempos a 
violação aos mais diversos tipos de direitos fundamentais é nítida, tendo surgido, 
como um meio de atenuar as tecnologias não letais, objeto deste estudo. 
Toda vez que se inicia uma rebelião em presídio, lembra-se do lamentável fato 
ocorrido no ano de 1992, no antigo complexo penitenciário do Carandiru, onde uma 
briga de presos no Pavilhão 9 que inicialmente parecia ser apenas mais um tumulto 
no local, tomou caminhos desastrosos e após uma intervenção policial o saldo foi de 
mais de 100 mortes, episódio que ficou conhecido como “O Massacre do Carandiru”. 
Diante deste fato, e de tantos outros, onde a obrigatoriedade do uso da força 
pelo Estado, para conter algum tipo de distúrbio em unidade prisional, acabou em 
morte de detentos, a sociedade civil e os organismos de proteção aos direitos 
humanos, cobraram uma resposta quanto à verdadeira necessidade da utilização de 
armamentos letais para o combate a este tipo de intempérie, começando a surgir 
então, constantemente à utilização das tecnologias não letais, que vem se 
aperfeiçoando cada vez ao longo dos últimos anos. 
 
6 Extraído do link: www.techdicas.net.br 
 
34 
 
Cabe destacar aqui que cada vez mais tem se atido a questão de como 
estabelecer parâmetros acerca da utilização de armas pelas policias, e sabiamente a 
Organização das Nações Unidas – ONU elaborou um documento denominado 
Princípios Básicos sobre o Uso da Força e Armas de Fogo (P.B.U.F.A.F.) elaborado 
no Oitavo Congresso das Nações Unidas sobre a Prevenção do Crime e o Tratamento 
dos Infratores, realizado em Havana, Cuba, de 27 de agosto a 7 de setembro de 1990, 
vejamos: 
 
 
Fonte:fbsp.memoriaseguranca.org.br 
“[...] os policiais, no exercício das suas funções, devem, na medida do possível, 
recorrer a meios não violentos antes de utilizarem a força ou armas de fogo. Só 
poderão recorrer à força ou a armas de fogo se outros meios se mostrarem ineficazes 
ou não permitirem alcançar o resultado desejado. Paralelamente instrumentos de 
controle das polícias são instituídos, a exemplo de ouvidorias, julgamentos de policiais 
militares em tribunais civis, cursos de direitos humanos, empregos de armas não letais 
e reformas curriculares”. Disponível em www.forumseguranca.org.br/artigos/uso-nao-
letal-da-forca-na-acao-policial, acessado em 30/06/2010. 
Destaquemos que mesmo não se tratando de um tratado, o documento 
elaborado no oitavo congresso da ONU em Havana tem como escopo principal 
fornecer normas orientadoras aos Estados-membros na tarefa de assegurar e 
 
35 
 
promover o papel adequado dos encarregados da aplicação da lei, reconhecendo a 
importância e a complexidade do trabalho destes, frisando seu papel importante na 
preservação da vida. 
Observemos assim, que antes de usar a arma de fogo, o policial ou o agente 
do presídio, conforme o caso deverá dispor de todos os outros meios que estiverem 
ao seu alcance, inclusive utilizando as tecnologias não-letais e somente se estes se 
mostrarem ineficazes é que poderá fazer uso da arma de fogo. 
Podemos dizer então que o principal fator da substituição das armas letais por 
equipamentos de técnicas e tecnologias não-letais é o fato de se buscar uma 
conscientização entre os profissionais da Segurança Pública em geral, 
especificamente aqui o agente de presídio, de que a utilização de outros mecanismos 
para conter as intempéries do dia a dia desta profissão é tão eficaz quanto à utilização 
das armas letais, mas possui uma diferença essencial, prioriza a preservação do bem 
maior, a vida! 
 
No decurso do tempo, as civilizações procuraram criar meios para a proteção 
e defesa de seus direitos, sendo criadas então diversas instituições, são as forças de 
segurança pública, tendo como objetivo a proteção e garantia dos direitos individuais 
e coletivos. 
De plano, para refletirmos um pouco sobre a função das forças de segurança 
estatal, mister se faz mencionar aqui alguns autores citados por Wilquerson Felizardo 
Sandes, em seu artigo Uso não-letal da força na ação policial: formação, tecnologia e 
intervenção governamental, vejamos: 
Segundo Elias (1994), a necessidade de uma sociedade constituir instrumentos 
de controle para sua proteção conduz à construção de um monopólio de força, 
centrado na figura do Estado. Este, através de seus agentes, regula a conduta social 
de maneira uniforme e estável em espaços pacificados, que normalmente estão livres 
de atos de violência. Ao mesmo tempo em que o Estado protege o indivíduo, força-o 
a reprimir em si qualquer impulso emocional para cometer violência contra outras 
pessoas. Na perspectiva de Foucault (1991), a sociedade recorre a uma série de 
instrumentos de controle social para adestrar o indivíduo, tornando-o submisso e 
controlável – “corpos dóceis”. Para evitar atitudes inconvenientes no sistema, cada 
corpo é classificado e controlado em locais heterogêneos, como colégios e 
 
36 
 
organizações, recebendo uma localização funcional, um cadastro, e tarefas 
específicas. O controle da atividade do indivíduo é realizado através de horários, 
ritmos, programas, atitudes e gestos. Em qualquer sociedade o corpo está preso ao 
interior de poderes que lhe impõem limitações, proibições e obrigações, por uma série 
de recursos disciplinadores, como vigilância, coerção e controle. 
Observando os dizeres de Foucault, percebemos que a área prisional é 
exatamente isso, ou seja, temos o controle do indivíduo realizado através de horários, 
ritmos, programas, atitudes e gestos, ocorrendo alguns casos em que certos seres 
tendem a desrespeitar estas normas, momento então que a força policial do Estado, 
nesse caso os agentes de presídios, terão que atuar para manter a ordem e disciplina 
do local. 
Na atuação destes agentes, por diversas vezes a força terá que ser utilizada, 
sendo que em tempos remotos, em casos extremos, as tropas de choque eram 
acionadas para intervir de posse de armas letais, sujeitando à ação a ocorrência de 
muitas baixas de vidas humanas. 
Notemos que estamos regidos por um Estado Democrático de Direito, garantido 
por nossa Constituição Federal de 1988, tendo a atuação das forças policiais sido 
regulada pelo artigo 144 da mesma, onde temos que a Segurança Pública é direito de 
todos e dever do Estado, vejamos: 
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de 
todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das 
pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: 
 
I - polícia federal; 
 
II - polícia rodoviária federal; 
 
III - polícia ferroviária federal; 
 
IV - policias civis; 
 
V - policias militares e corpos de bombeiros militares. 
 
37 
 
Temos então elencados aí os integrantes das Forças de Segurança Pública, e 
mesmo não estando elencado expressamente, o agente de presídio tão é um 
colaborador desta, exercendo de fato uma atividade policial no desenvolver de suas 
atribuições diárias,

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