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Esquistossomose

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NEVES, David Pereira. Parasitologia Humana. 13. Ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2016. 
 
 
 
Camyla Oliveira – Odontologia UFPE 
A leishmaniose trata-se de uma doença crônica 
causada pelos parasitas multicelulares platelmintos do 
gênero Schistosoma. É conhecida como “xistose”, 
“barriga d’água” ou “mal do caramujo” e pode ser 
transmitida no litoral a partir do caramujo, sendo este 
hospedeiro intermediário, Biomphalaria glabrata, e em 
outras áreas pelos caramujos da espécie B. stramiínea 
ou B. tenagophila. O ciclo do Schistossoma Mansoni, 
seu agente etiológico, é heteróxeno, com dois tipos de 
hospedeiro, um definitivo - Homem, o qual abriga a fase 
adulta do parasita, e um intermediário - Caramujo, que 
abriga a fase larvária do parasita, seus vermes adultos 
vivem no SISTEMA PORTA. As fases evolutivas do 
Schistossoma Mansoni são: Ovo, Miracídio (forma 
infectante no hospedeiro intermediário), Esporocisto e 
Cercária (forma infectante no hospedeiro definitivo) . O 
homem adquire esquistossomose pela penetração da 
cercaria na pele. 
Morfologia 
São vermes que apresentam dismorfismo sexual. 
▪ Macho 
Tem formato achatado, cor esbranquiçada e tegumento 
recoberto por minúsculos tubérculos. Tem corpo 
dividido em duas porções: anterior, encontra-se 
ventosa oral e ventosa ventral (mais evidentes no 
macho do que na fêmea) e uma porção posterior, 
encontra-se canal ginecóforo (dobras laterais que 
envolve fêmea para fecunda-la). Após ventosa oral, 
observa-se esôfago, que se bifurca a nível de acetábulo 
e funde-se depois, formando ceco único. Atrás do 
acetábulo, observa-se 7 a 9 massas testiculares, que se 
abrem no canal ginecóforo (o verme não possui órgão 
copulador e, assim, os espermatozoides passam pelos 
canais deferentes, que se abrem no poro genital, dentro 
do canal ginecóforo, e alcançaram a fêmea, 
fecundando-a). 
 
▪ Fêmea 
Tem cor mais escura pelo ceco com sangue 
semidigerido e tegumento liso. Na parte anterior, 
observa-se a ventosa oral e acetábulo, após isso a vulva 
e o útero com um ou dois ovos e o ovário. A parte 
anterior é preenchida pelas glândula vitelogênica 
(linhas franzidas) e o ceco. É mais cilíndrica. 
 
▪ Ovo 
Tem formato oval, uma espícula voltada para trás. O 
que caracteriza sua fase madura é a presença de um 
miracídio formado, visível pela transparência da casca. 
A importância de se estudar os ovos do Schistosoma é 
a capacidade de se obter o diagnostico do paciente com 
ESQUISTOSSOMOSE 
NEVES, David Pereira. Parasitologia Humana. 13. Ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2016. 
 
esquistossomose, pois o ovo maduro é a forma comum 
de ser encontrada nas fezes. Os ovos, ao serem 
depositados, podem levar dois caminhos: serem 
eliminados nas fezes ou formarem Granulomas. O ovo 
é viável quando apresenta o miracídio e, seu interior. No 
hospedeiro, o ovo pode durar cerca de 20 dias. Em fezes 
líquidas, pode durar cerca de 24h, enquanto que em 
fezes pastosas, dura cerca de 5h. 
 
▪ Miracídio 
Tem forma cilíndrica e cílios que permitem seu 
movimento no meio aquático (por esse meio alcançam 
caramujo). Muitas das estruturas internas estão 
contidas no meio líquido do interior da larva. A 
extremidade anterior apresenta uma papila apical, que 
pode se moldar no formato da ventosa – 
Terabratorium (contém glândulas adesivas chamadas 
“glândulas de penetração”, além de sacos digestivos, 
um conjunto de cílios maiores e espículos anteriores), 
além de terminações nervosas para funções táteis e 
sensoriais. O aparelho excretor é composto por 
solenócitos (2 pares). Seu sistema nervoso é primitivo 
(massa nervosa central que se ramifica e se conecta 
com células periféricas). Para que eclodam, precisam de 
luz intensa, temperaturas elevadas e oxigenação da 
água. 
 
▪ Cercária 
Apresenta 2 ventosas, uma oral (apresenta as 
glândulas de penetração, 4 pares pré-acetabulares e 4 
pares pós-acetabulares, além de uma abertura que se 
conecta com intestino primitivo) e uma ventral 
(acetábulo). A cauda é uma estrutura que rapidamente 
se perde, portanto, não apresenta órgãos definidos. 
Segue o sexo do miracídio de origem. 
 
Ciclo biológico 
O Schistosoma mansoni, na fase adulta no sistema 
vascular do homem, alcança as veias mesentéricas, 
principalmente a mesentérica inferior, migrando contra 
a corrente circulatória, as fêmeas fazem a postura no 
nível da submucosa. Cada fêmea põe cerca de 400 ovos 
por dia na parede de capilares e vênulas (cerca de 50% 
alcança meio externo). Vivem em média 5 anos, 
podendo chegar a 30. Após uma semana os ovos 
amadurecem e vão da submucosa para a luz intestinal 
(por reação infamatória, enzimas proteolíticas e 
adelgação da parede do vaso). Os ovos que chegam à 
luz intestinal vão para o exterior eliminados nas fezes e 
têm expectativa de vida de 24h em fezes líquidas e 5 
dias em fezes sólidas. Com isso, alcançam a água, ovos 
liberam o miracídio, estimulados por temperaturas 
altas, luz intensa e oxigenação da água. 
NEVES, David Pereira. Parasitologia Humana. 13. Ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2016. 
 
A larva perde as glândulas de adesão e penetração após 
penetrar no caramujo e, depois, perde o epitélio ciliado, 
com degeneração do terebratorium. Transforma-se em 
um saco com paredes cuticulares, contendo geração de 
células germinativas ou reprodutivas, por 
poliembrionia, (esporocisto), os quais a localização 
final. A formação completa da cercaria pode ocorrer 
num período de 27 a 30 dias em condições ideais. A 
maior atividade e capacidade infectiva das cercarias 
acontece nas primeiras horas de vida, em que nadam 
ativamente na água e penetram na pele e mucosas. Por 
ação lítica e mecânica penetram o corpo cercariano e 
perde a cauda. Quando ingeridas, são destruídas pelo 
suco gástrico. 
Após a penetração, as larvas que resultam são 
chamadas esquitossômulos, que se adaptam a 
fisiologia do meio interno, migram pelo tecido 
subcutâneo e ao penetrarem num vaso, vão até 
pulmões (de forma passiva) pelo sistema vascular 
sanguíneo, via coração direto. Dos pulmões vão para o 
sistema porta (seguem pela via sanguínea ou 
transtissular). Das arteríolas pulmonares e dos 
capilares alveolares, os esquistossômulos adentram 
veias pulmonares chegando ao coração esquerdo e 
acompanhando o fluxo sanguíneo, seriam disseminados 
pela aorta para mais diversos pontos até chegar à rede 
capilar terminal: os que chegam ao sistema porta intra-
hepático permaneceriam ali, os demais ou reiniciariam 
novo ciclo ou pereceriam. Após isso, se alimentam e se 
desenvolvem em machos ou fêmeas, migram 
acasalados para via mesentérica, onde farão 
ovoposição. Ovos são depositados nos tecidos, no 35° 
dia, imaturos e depois de 6 dias amadurecem e formam 
miracídio. São excretados nas fezes após 42 a 45 dias 
após infecção do hospedeiro 
Em resumo... 
1. Fezes e urina contaminadas são excretadas no 
meio ambiente; 
2. Ovos presentes nestes eclodem e liberam 
miracídios, indo até caramujo guiados pelo 
terebratorium; 
3. Miracídios penetram e infectam caramujo; 
4. Se transformam em esporocistos; 
5. Cercárias são liberadas na água pelo caramujo, 
nadando livremente com o auxílio da cauda; 
6. As cercarias penetram na pele do ser humano; 
7. Cercárias perdem cauda e viram 
esquitossômulos; 
8. Esquitossômulos vão para circulação; 
9. Migram para o sangue portal do fígado; 
10. Pares de vermes migram para vênulas 
mesentéricas para ovoposição. 
11. Ovos são depositados nos tecidos e em cerca 
de 42 a 45 dias após infecção são vistos nas 
fezes. 
Transmissão 
Penetram na pele ou mucosa pelas cercarias, que 
focam nas áreas de pés e pernas (por estarem mais 
em contato com água contaminada. São mais vistas 
entre 10 e 16 horas, pela temperatura e luz solar 
intensos. 
Fisiopatologia 
A resposta imunológica é importante pois impede 
uma superinfecção, bem como mecanismos 
moduladoresde uma resposta granulomatosa. Nos 
humanos, a imunidade concomitante atua contra as 
formas iniciais das reinfecções sem afetar os 
vermes adultos presentes no sistema portal 
visceral. Essa resposta pode se dar por Th1 
NEVES, David Pereira. Parasitologia Humana. 13. Ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2016. 
 
(ativação de macrófagos) e Th2 (IgE, IL-10 e 
eosinófilos). 
Fase aguda 
Caracteriza-se por hemograma aumentado, com 
eosinofilia proeminente, além de gamaglobulinas 
presentes no soro. Ocorre 10-35 dias após a 
infecção, sem queixas (assintomática) na maioria 
das vezes e em alguns, causa mal-estar, febre, 
tosse, dor muscular, desconforto abdominal e 
hepatite aguda. Há a disseminação dos ovos, 
principalmente na parede do intestino, com áreas 
de necrose - enterocolite. Provoca a formação de 
granulomas de forma simultânea, caracterizando 
como doença aguda, febril, com sudorese, calafrios, 
emagrecimento, fenômenos alérgicos, diarreia, 
disenteria, cólicas, tenesmo, hepatoesplenomegalia 
discreta, linfadenia, leucocitose com eosinofilia, 
dermatite cercariana, aumento das globulinas e 
alterações discretas das funções hepáticas. Pode 
causar morte ou evoluir para forma crônica. 
Fase Crônica 
Apresenta variações clínicas, predominantes: 
intestinais, hepatointestinais ou hepatoesplênicas. 
No intestino, causa granulomas, fibrose da alça 
retossigmóide, diminuindo peristaltismo. Além 
disso, causa granulomas pulmonares, insuficiência 
cardíaca (cor pulmonale) e neuroesquistossomose 
– Schistossoma invade SNC por veias pélvicas, 
hemorroidárias, causa dor aguda lombar, face 
interna das coxas parapesia e paraplegia. No fígado, 
causa hepatomegalia, granulomas, fibrose de 
simmers, hipertensão portal (alterações hepáticas 
surgem na ovoposição e formação dos 
granulomas). Na forma hepatoesplênica, há 
baçomegalia, hipertensão portal, proliferação 
basofílica e aumento das imunoglobulinas. Por fim, 
localizações ectópicas no pâncreas, ovários e 
testículos. 
Diagnóstico Parasitológico 
Demonstração de presença 
• Método de Hoffman; 
• Método de concentração por tamização 
(Kato – Katz); 
• Biópsia Retal; 
• Biópsia hepática (diagnóstico exclusivo de 
esquistossomose para procura de ovos em 
tecidos hepáticos) 
 Métodos imunológicos ou indiretos 
• ELISA (Antígeno-anticorpo) 
• Reação intradérmica. 
Profilaxia 
A profilaxia para esquistossomose pode ser feita a 
partir do tratamento da população, saneamento 
básico para a destinação correta das fezes, 
educação sanitária, redução da população de 
moluscos, não contato com águas contaminadas e 
utilização de competidores. 
Tratamento 
O tratamento é feito com PRAZIQUANTEL 
(atua sobre todas as espécies, porém, não sobre 
todas as fases evolutivas) ou OXAMNIQUINA 
(específica para o S. mansoni).

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