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livro legislação e etica

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Indaial – 2019
LegisLação e Ética da 
comunicação
Prof. Renato Emydio da Silva Júnior
2a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2019
Elaboração:
Prof. Renato Emydio da Silva Júnior
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
J95l
 Júnior, Renato Emydio da Silva
Legislação e ética da comunicação. / Renato Emydio da Silva Júnior. – 
Indaial: UNIASSELVI, 2019.
185 p.; il.
ISBN 978-85-515-0416-1
1. Comunicação. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 302.2
III
apresentação
Prezado acadêmico!
Iniciamos o estudo da disciplina de legislação e ética na comunicação. 
O conteúdo foi abordado partindo da exposição dos temas mais amplos e 
genéricos aos mais estritos e específicos. São três unidades que tratam, 
respectivamente, da justiça, do ordenamento jurídico brasileiro e da 
comunicação. 
Nesta disciplina você irá aprender noções sobre justiça, ética, 
ordem social e ordem jurídica, leis, poder, comunicação, política, natureza 
humana, sociedade, entre outras. Todas elas conjugadas e orientadas para 
compreender não somente o que vem a ser um simples código de ética em 
comunicação, mas como se chegou a ele, e por que ele existe.
A ética em comunicação é fundamental em sociedades que possuem 
a liberdade como princípio. Desde o surgimento do Estado Moderno, a 
população em geral foi chamada a participar da vida política, chamando-as 
de cidadãos, de maneira que, com o passar do tempo, os avanços tecnológicos 
possibilitaram que a comunicação entre estes cidadãos se desse de maneira 
cada vez mais rápida e ampla. De tal sorte, a política, inclusive a geopolítica, 
tem na comunicação um de seus aspectos mais fundamentais.
O aluno deve proceder com leitura cuidadosa, pois os temas foram 
abordados, principalmente nas Unidades 1 e 3, como que em círculos 
concêntricos que vão se expandindo. Ou seja, os temas abordados retornam 
em discussão, ampliando-se com relação ao que foi dito anteriormente e, às 
vezes, dando-lhes novas perspectivas. 
Sugerimos que se faça a leitura deste livro conforme ensina Mortimer 
Adler em seu livro Como ler Livros. Resumidamente, o aluno deve fazer uma 
leitura inicial, rápida e sem se deter em detalhes ou maiores entendimentos. 
Após proceder com esta leitura, você deve, contudo, iniciar a leitura lenta e 
gradual do livro, tendo, agora, uma ideia geral do que está escrito, poderá se 
deter em detalhes e aprofundar entendimentos. 
Boa leitura e bons estudos!
Prof. Renato Emydio da Silva Júnior
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos 
materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais 
os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais 
que possuem o código QR Code, que é um código 
que permite que você acesse um conteúdo interativo 
relacionado ao tema que você está estudando. Para 
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos 
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar 
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!
UNI
V
VI
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
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de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
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continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
VII
UNIDADE 1 –DA JUSTIÇA .....................................................................................................................1
TÓPICO 1 – AS BASES FILOSÓFICAS DA JUSTIÇA.......................................................................3
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3
2 JUSTIÇA E ORDEM ...............................................................................................................................3
RESUMO DO TÓPICO 1..........................................................................................................................8
AUTOATIVIDADE ...................................................................................................................................9
TÓPICO 2 – A JUSTIÇA NA ANTIGUIDADE ..................................................................................11
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................11
2 ORDEM DA ALMA E ORDEM SOCIAL .........................................................................................11
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................28
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................29
TÓPICO 3 – A JUSTIÇA NA IDADE MÉDIA ...................................................................................31
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................31
2 JUSTIÇA E ORDEM DIVINA ............................................................................................................31RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................45
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................46
TÓPICO 4 – A JUSTIÇA NA IDADE MODERNA ...........................................................................49
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................49
2 JUSTIÇA SEM FUNDAMENTO .......................................................................................................49
LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................55
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................57
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................58
UNIDADE 2 – DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA ..............................................................................59
TÓPICO 1 – ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO .............................................................61
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................61
2 ESTRUTURA E HIERARQUIA ..........................................................................................................62
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................70
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................71
TÓPICO 2 – DEONTOLOGIA DA COMUNICAÇÃO
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................73
2 DEONTOLOGIA E UTILITARISMO ...............................................................................................73
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................79
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................80
sumário
VIII
TÓPICO 3 – CÓDIGOS DE ÉTICA ......................................................................................................81
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................81
2 CÓDIGO DE ÉTICA DA PROFISSÃO DE JORNALISMO.........................................................82
3 CÓDIGO DE ÉTICA DA PROFISSÃO DE RELAÇÕES PÚBLICAS .........................................96
4 CÓDIGO DE ÉTICA DA PROFISSÃO DE PUBLICIDADE E PROPAGANDA ...................100
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................123
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................128
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................129
UNIDADE 3 – COMUNICAÇÃO E PODER ....................................................................................133
TÓPICO 1 – COMUNICAÇÃO E PODER – UMA BREVE HISTÓRIA .....................................135
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................135
2 NA ORIGEM DA LINGUAGEM E DA COMUNICAÇÃO .......................................................135
3 O SURGIMENTO DA COMUNICAÇÃO DE MASSA ..............................................................140
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................155
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................156
TÓPICO 2 – COMUNICAÇÃO E PODER – DEMOCRACIA E TOTALITARISMO ..............157
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................157
2 COMUNICAÇÃO E DEMOCRACIA .............................................................................................157
3 A LINGUAGEM HUMANA E A OPINIÃO PÚBLICA ...............................................................159
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................168
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................169
TÓPICO 3 – COMUNICAÇÃO E PODER – DESAFIOS NA PÓS-VERDADE.........................171
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................171
2 PÓS-VERDADE ..................................................................................................................................171
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................179
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................181
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................182
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................183
1
UNIDADE 1
DA JUSTIÇA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• apontar as várias noções de justiça ao longo da história;
• relacionar vários aspectos concernentes à noção de justiça;
• explicar certos conceitos que fundamentam as várias noções de 
justiça;
• demonstrar os princípios gerais do direito.
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade você 
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – AS BASES FILOSÓFICAS DA JUSTIÇA
TÓPICO 2 – A JUSTIÇA NA ANTIGUIDADE
TÓPICO 3 – A JUSTIÇA NA IDADE MÉDIA
TÓPICO 4 – A JUSTIÇA NA IDADE MODERNA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
AS BASES FILOSÓFICAS DA JUSTIÇA
1 INTRODUÇÃO
É correto afirmar que justiça é um elemento da alma humana. Com 
elemento queremos dizer que é próprio da alma humana aspirar à justiça, 
sendo, então, um dos elementos que nos constituem como ser humano e que nos 
diferencia do restante dos outros seres da natureza. Somente nós, seres humanos, 
podemos julgar o mundo das coisas segundo uma justiça que, não estando no 
mundo em si mesmo, a ele se aplica e o ultrapassa.
Portanto, a ideia de justiça só aparece para nós enquanto seres dotados 
de inteligência e capazes de refletir sobre as situações do mundo de maneira a 
transcendê-las. Dito de outra forma, não adquirimos a noção de justiça a partir 
do mundo natural em si mesmo, mas sendo essa noção anterior em nós, reflete, 
julga e pune a realidade inteira. 
A justiça foi, assim, considerada uma lei universal que expressava a ordem 
e a medida do cosmos inteiro, sendo, portanto, um valor anterior e mais alto. É 
que a ideia de ordem estava atrelada à ideia do cosmos, já que para os gregos 
havia uma espécie de inteligência no cosmosque dava ordenamento ao universo. 
Por isso que a noção de justiça também estava ligada à noção de ordem. Só 
que uma ordem superior, que a tudo rege, anima e dá seu ritmo. Tal inteligência 
só poderia ser vista como fonte para a própria inteligência humana, que, por sua 
vez, tinha que adequar-se ao cosmos, assim como o inferior está subordinado ao 
superior. Foi assim que mais ou menos nasceu as primeiras formulações sobre 
justiça, numa clara tentativa de responder à pergunta “qual a melhor comunidade 
política para se viver”?
2 JUSTIÇA E ORDEM
A concepção de justiça traz consigo a noção de que tudo o que existe possui 
um propósito e, como tal, uma relação dentro de uma ordem. É então essa relação que 
expressa a justiça das coisas, de maneira que noções como equilíbrio, imparcialidade, 
harmonia e equidade guardam ligação direta com a noção de justiça.
UNIDADE 1 | DA JUSTIÇA
4
A ideia de ordem está atrelada à ideia do cosmos, já que para os gregos havia 
uma espécie de inteligência no cosmos que ordenava o universo. Por isso que a noção de 
justiça também está ligada à noção de ordem.
ATENCAO
Como já se pode imaginar, a noção de justiça sempre esteve ligada à 
noção de ordem social. Considerando que justiça é o correto estabelecimento das 
relações de uma ordem, infere-se que a justiça na sociedade humana seja o correto 
estabelecimento das relações humanas. 
Aspectos sociais da justiça sempre foram temas centrais nas e das 
discussões humanas. A justiça podia ser tanto tema de discussão como uma 
discussão podia ser tema da justiça. Por exemplo, pode-se, assim, questionar se 
é justo que o Supremo Tribunal Federal coloque o tema da liberação das drogas 
para ser discutido, já que a mera aceitação do tema dá por aceito que ele está apto 
a ser discutido. Não é o diálogo em si que se constituiu uma injustiça para alguns, 
mas discutir o uso não medicinal de drogas é visto como uma afronta à própria 
justiça já que é injusto deixar que as pessoas pratiquem o mal, mesmo que seja 
nelas mesmas. Veremos mais sobre isso ainda nesta unidade.
Os romanos representavam a justiça como uma divindade parecida com a 
deusa grega Dice. A justiça em Roma era representada em pé, de olhos vendados, 
balança de dois pratos na mão e espada na outra. Essa simbologia não poderia ser 
mais direta comparando com tudo o que dissemos até aqui.
Primeiro, por ser uma deusa, o que, de certa forma, coloca a justiça para fora 
e acima do mundo natural, fazendo dela algo como uma força ou poder superior. 
Segundo, como uma deusa personificada (aparência humana) que, ainda que vinda 
do alto e fora deste mundo natural, alcança os homens que a entendem, por ela 
agem e devem fazê-la cumprir. E terceiro, a deusa pisa na cabeça da serpente, como 
demonstração de que a justiça predomina sobre as paixões e impulsos humanos. 
Podemos detalhar ainda mais essa simbologia. Acompanhe.
Os olhos vendados representam a equidade. Equidade aqui é o tratamento 
igual a todos, sem distinção ou preferência. É fundamentalmente importante para 
a noção de justiça que haja igualdade às partes, já que, como vimos, a ideia de 
correta relação numa ordem é o ponto de partida para noção de justiça. E não se 
pode haver uma ordem justa se suas partes estão ordenadas sem equidade, quer 
dizer, sem receber análise equânime e imparcial.
TÓPICO 1 | AS BASES FILOSÓFICAS DA JUSTIÇA
5
A espada não poderia guardar outra relação que não com o castigo, sendo 
a reparação pelos erros cometidos obrigatória. Considerando que a espada está 
baixada, em posição de descanso, se sugere um castigo não por meios violentos, 
mas pela violência da virtude. Vale aqui ressaltar que Platão (428 a.C. – 348 a.C.) 
na República havia se oposto à noção de justiça como mera compensação de danos 
sem considerar os meios para fazê-lo. Afirmava, o filósofo, ser inaceitável conceber 
que a justiça é o restabelecimento por quaisquer meios incluindo os violentos.
FIGURA 1 – DEUSA THEMIS
FONTE: <https://ccartoday.com/wp-content/uploads/2019/03/lady_justice_stock_2lr.png>. 
Acesso em: 25 out. 2019.
A simbologia dos pratos mostrava o equilíbrio no julgamento feito pela 
justiça. É a razão que julga, equilibrando-se entre o ideal e o concreto, entre o 
particular e o universal, dando mesmo peso e mesma medida a todos. Os romanos 
buscavam a virtude da prudência, dando por certo que um julgamento precisava 
ser ponderado com paciência e sabedoria para que se produzisse justiça. É fácil 
notar que a balança também guarda relação direta com a noção de ordem, já que é 
um símbolo direto do equilíbrio. Para que uma ordem possa se manter ordenada 
é importante que suas partes estejam relacionadas em equilíbrio, do contrário 
desestabilizariam toda a ordem.
Themis é a deusa grega que mantém as leis divinas, a ordem da natureza e a 
moralidade. A divindade reúne o espírito de Dike, na mão esquerda, ao segurar 
uma balança em posição bem visível, que representa a justiça, a moralidade e as leis, e o 
espírito de Nemesis, na mão direita com uma espada de maneira coercitiva, representando 
a punição, a vingança, a indignação e o fato. Themis pisa na cabeça de uma serpente, que 
é a representação da dominação do conhecimento, das paixões e dos impulsos humanos. 
FONTE: <https://edisciplinas.usp.br/mod/page/view.php?id=1868654>. Acesso em: 5 ago. 2019.
IMPORTANT
E
UNIDADE 1 | DA JUSTIÇA
6
Podemos resumir a noção de justiça para gregos e romanos com a sentença 
“dar a cada um aquilo que lhe é devido”. Assim, também já se pode imaginar, que a 
noção de justiça também estava ligada à noção de bem. A própria justiça, portanto, 
é considerada um bem, e como tal, deve ser realizada e orientada para este fim.
Perceba, acadêmico, que tal é a importância da justiça para a humanidade 
que nunca, jamais, o homem deixou de pensar sobre ela. A convivência humana 
depende do modo que as pessoas percebem a noção de justiça. Há inúmeros 
momentos da humanidade em que o homem esteve sobre julgo de tiranos, e 
clamava pela justiça. Há outros em que o homem gozou de justiça e a enalteceu.
Na imagem a seguir, do quadro de Galen, podemos perceber que 
mesmo uma pena capital, como a condenação à morte, é acompanhada de um 
livro da justiça — no qual, podemos supor, estavam as leis que definiam as 
responsabilidades, culpas, penas etc. Convido você, acadêmico, a olhar a obra 
mais detidamente, acessando-a na internet — para vê-la colorida —, e, quem 
sabe, possa perceber outros aspectos sobre a justiça.
Tudo o que existe possui um propósito e, como tal, uma relação dentro 
de uma ordem. É então esta relação que expressa a justiça das coisas, de maneira que 
palavras como equilíbrio, imparcialidade, harmonia e equidade guardam uma ligação 
direta com a palavra justiça.
ATENCAO
FIGURA 2 – OBRA DE NICOLAES VAN GALEN, EM ÓLEO SOBRE TELA DE 1657, “CONDE 
WILLEM III PRESIDE A EXECUÇÃO DO DESONESTO OFICIAL DE JUSTIÇA EM 1336”
FONTE: <http://warburg.chaa-unicamp.com.br/img/obras/4050_original.jpg>. Acesso em: 29 
jun. 2019.
TÓPICO 1 | AS BASES FILOSÓFICAS DA JUSTIÇA
7
Seria próprio dizer que um leão está sendo justo ou injusto ao matar uma 
zebra para se alimentar? Tampouco que o seja um leão jovem matar um velho 
para tomar seu lugar na hierarquia da alcateia? Estas perguntas suscitam, de um 
lado, o questionamento sobre a ordem e a justiça, e de outro lado, colocam em 
dúvida a noção de uma justiça “natural”. Isso por quê, pensam alguns, que se 
as coisas são assim por natureza não caberia o julgamento da justiça que é coisa 
puramente humana. Para um sofista, contemporâneo a Sócrates, um animal ao 
seguir seus instintos não está sendo justo ou injusto, mas somente está agindo 
conforme sua própria natureza. E, por estas questões, colocam em dúvida que há 
ordem em justa medida no cosmos — como acreditavam os gregos.
Estabeleceram os sofistas a distinção entre aquilo que é “por natureza” e 
o que é “por convenção”. Esta distinção levou muitos sofistas a concluírem que a 
justiça eraalgo “por convenção”, não existindo nada justo “por natureza”. 
Assim, as relações humanas em sociedade seriam justas na medida em 
que fossem feitas a partir de uma convenção, e que a injusta estaria em quebrar 
os acordos firmados nela. E isto é praticamente o oposto do que vimos no início 
de que haveria uma ordem nos cosmos. Não seria exagero, e é até muito correto 
afirmar que as bases filosóficas da justiça serão firmadas nas discussões e embates 
entre as noções de justiça “por natureza” e justiça “por convenção”.
8
Neste tópico, você aprendeu que:
• A justiça foi incialmente entendida como um aspecto humano, da natureza 
humana.
• A justiça foi considerada uma lei universal
• As bases filosóficas da justiça serão firmadas nas discussões acerca das noções 
de justo ‘por natureza’ e ‘por convenção’.
RESUMO DO TÓPICO 1
9
1 Achou interessante a simbologia com a deusa Themis? Que tal, colocar-se 
a analisar a estátua (FIGURA 1) e buscar outras significações ali presentes? 
Nesta atividade você está livre para buscar a polissemia dos símbolos.
2 Leia a frase: “somente nós, seres humanos, podemos julgar o mundo das 
coisas, que pela inteligência capta a justa ordem do cosmos”. Com base nessa 
frase é correto afirmar que a ordem no cosmos é ou está:
a) ( ) No mundo em si mesmo, na natureza das coisas, cada qual com sua 
própria ordem natural.
b) ( ) Puramente humana, já que a inteligência é que ordena e julga o mundo.
c) ( ) Anterior à natureza e somente a inteligência humana é capaz de captá-la.
d) ( ) Imanente à natureza das coisas, inclusive, à inteligência humana.
3 Na frase “um animal ao seguir seus instintos não está sendo justo ou injusto, 
mas somente está agindo conforme sua própria natureza”, encontra-se uma 
reflexão sobre ordem e natureza. Com base nessa frase e no conteúdo visto, 
é correto afirmar que ‘por natureza’ é:
a) ( ) A ordem cósmica captada pela inteligência humana e encontrada no 
mundo em si mesmo.
b) ( ) O ordenamento do cosmos que só pode ser captado pela inteligência 
humana, já que se encontra ‘fora’ ou acima do mundo.
c) ( ) A percepção de que cada ser possui uma ordem própria por natureza, sem 
uma ordem superior que esteja presente no cosmos e que há tudo ordene.
d) ( ) O estabelecimento de uma ordem puramente humana, baseada na 
natureza humana.
AUTOATIVIDADE
10
11
TÓPICO 2
A JUSTIÇA NA ANTIGUIDADE
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Opondo-se aos sofistas — e recuperando o que foi escrito no tópico anterior 
—, Platão escreveu em Górgias que a justiça é a condição para a felicidade, que 
Sócrates ensinava que ao homem injusto é impossível ser feliz. Para os socráticos 
a noção de justiça é inerente à noção de bem e felicidade, e, portanto, uma 
justiça “por natureza”, já que a noção de bem e felicidade não eram vistas como 
convenções humanas.
A ideia mesma de uma ordem ‘por natureza’ vem acrescida de outra 
noção, a saber, de que tudo que possui uma natureza que, lhe sendo própria, 
possui uma ordem interna e que, por sua vez, lhe foi ordenada desde fora. É certo 
que seja desde fora, já que tudo que possui a mesma natureza possui a mesma 
ordem. Se não fosse desde fora, não haveria como garantir que essa ordem fosse 
idêntica em tudo que é a mesma coisa. Nesse sentido, é que uma justiça ‘por 
natureza’, deve considerar a própria ordem da alma humana face a ordem do 
cosmos para depois pensar a ordem social.
2 ORDEM DA ALMA E ORDEM SOCIAL
Precisamos pontuar um aspecto sobre a justiça e a felicidade colocado por 
Trasímaco que mereceu a contenda de Sócrates. Trasímaco colocava que a justiça 
nada mais era do que um modo de lutar pelos próprios interesses, de maneira 
que os poderosos a utilizavam para manter seu poder na sociedade. O argumento 
aqui é: se a felicidade era o bem a que aspirava a justiça, então as pessoas iriam 
cometer injustiças quando buscassem ser felizes, já que a felicidade para alguns 
poderia trazer a infelicidade para outros, ou ainda agiriam com injustiça na busca 
da felicidade. A isto Sócrates opôs que a justiça não estava subordinada à felicidade, 
de maneira que um homem, para ser feliz, tinha que ser justo. O filósofo, assim, 
colocava a justiça acima da felicidade como um valor mais elevado que este.
Estamos na Grécia Antiga, por volta de 450 a.C. Esse período foi decisivo para 
o mundo, pois foi quando a Filosofia Ocidental. Período de fecunda luminosidade 
para o pensamento humano, ele se centra em três grandes homens: Sócrates, Platão 
e Aristóteles. Estes pensadores lançaram a base do pensamento filosófico ocidental 
ao ponto de Arthur Lovejoy (1873 – 1962) dizer que a filosofia ocidental inteira não 
passa de uma coleção de notas de rodapé a Platão e Aristóteles.
UNIDADE 1 | DA JUSTIÇA
12
As bases filosóficas da justiça serão firmadas nas discussões e embates entre 
as noções de justiça “por natureza” e justiça “por convenção”.
ESTUDOS FU
TUROS
FIGURA 3 – AFRESCO DE 1511 DE RAFAEL SANZIO - A ESCOLA DE ATENAS
FONTE: <http://warburg.chaa-unicamp.com.br/img/obras/1280px-sanzio_01.jpg>. 
Acesso em: 5 ago. 2019.
Sócrates (469 a.C. – 399 a.C.) foi um filósofo ateniense e pai fundador 
da filosofia ocidental, pois estabeleceu aquilo que depois ficou conhecido como 
método socrático (dialética) e definiu as bases da técnica filosófica e da própria 
filosofia. Platão (428 a.C. – 347 a.C.) foi discípulo de Sócrates, filósofo e matemático, 
autor de diversos escritos filosóficos e fundador da primeira instituição 
de educação superior do mundo ocidental — a Academia em Atenas. Junto a seu 
mentor, Sócrates, e seu aluno, Aristóteles, Platão ajudou a construir os alicerces 
da filosofia natural, da ciência e da filosofia ocidental. Já Aristóteles (384 a.C. – 
322 a.C.), além de filósofo e, por isso mesmo, professor de Alexandre, o Grande, 
escreveu sobre diversos assuntos, como física, metafísica, música, lógica, retórica, 
governo, ética, biologia, linguística, e outros. Esses três filósofos são, como já 
dissemos, os fundadores da filosofia ocidental. 
TÓPICO 2 | A JUSTIÇA NA ANTIGUIDADE
13
O termo socrático se refere, sobretudo, ao pensamento desses três filósofos 
que em conjunto formam uma espécie de escola filosófica. Dela nasce a noção 
interligada de justiça e felicidade. Por felicidade devemos entender não a alegria 
como mero sentimento momentâneo, mas uma espécie de estado de espírito que 
se consegue pela correta ordenação dos fins e meios.
É preciso compreender que o conceito de felicidade para os gregos não era 
o conceito moderno, a saber, a maximização do prazer e a minimização da dor, 
ou ainda, o aumento da riqueza e a diminuição da pobreza, não tendo nada a ver, 
portanto, com o conceito utilitarista, liberal ou voluntarista dos tempos de hoje. Para 
Aristóteles, esta felicidade era chamada de eudaimonia e significava, em termos 
práticos, a consideração a respeito da melhor ação numa situação particular. 
A correta ordenação é, em certo sentido, a própria justiça já que por ela 
entendiam a correta ordem social. Em a República, Platão disserta sobre um Estado 
ideal nos levando a concluir que só haveria um tal estado se nos fosse possível 
conseguir uma justiça ideal. Nesse sentido, a justiça é vista como virtude e base da 
constituição de qualquer sociedade prevalente. Aristóteles, apoiado em muito sobre as 
teses de Platão, dividi a justiça em partes, considerando-a sob o aspecto do equilíbrio 
e da penalidade — mas que não convém ao nosso estudo os aprofundarmos.
Para Aristóteles esta felicidade era chamada de eudaimonia e significava, em 
termos práticos, a consideração a respeito da melhor ação numa situação particular.
IMPORTANT
E
A justiça adquire assim um valor ético e filosófico já que vai além de uma 
mera convenção e passa a ser vista sob a luz da natureza humana. Refazendo o 
percurso até aqui, vimos que a noção de justiça está ligada à ideia de ordenação 
da sociedade e esta passa pelas noções de equilíbrio, equidade, imparcialidade. 
Essa ordenaçãogera a felicidade, que, para Aristóteles, é a causa final do homem. 
Assim, a ordenação da sociedade passa pela ordenação do próprio homem e a 
esta ordenação Aristóteles chamou Ética.
Quando pensamos na ordenação do próprio homem devemos ter em 
mente que estamos nos colocando as perguntas “o que é o homem?”, “de onde 
viemos?” e “para onde vamos?”. Estas três questões implicam em dizer sobre o 
fim último do homem e quais os meios para atingi-lo. Daí que a palavra ética, 
do grego éthos, signifique um “modo de ser” pelo qual se atinge o fim último do 
homem, que os gregos entendiam ser a felicidade.
UNIDADE 1 | DA JUSTIÇA
14
Antes, porém, vamos explicar a noção de ordem. De onde ela vem? Por 
qual razão acredita-se que exista uma ordem correta e outra(s) incorreta(s)? Ou 
ainda, por qual razão acredita-se que exista uma ordem? Este ponto é fundamental 
pois nele está alicerçado todo o pensamento filosófico não somente de justiça e 
ética, mas de tudo o mais. Pensemos, pois, que para tudo que olhamos há uma 
ordem estabelecida. Seja em sua família, com regras e costumes; seja em seu país, 
com leis e costumes; seja em uma cultura com valores e hábitos. Para onde quer 
que olhamos, encontramos alguma ordem estabelecida pelo homem. 
Acontece que, como falamos anteriormente, não se discute a existência de 
uma ordem que seja criação humana, pois é evidente, inclusive sua necessidade. 
No entanto, a questão é se existe uma ordem anterior e superior que deve o homem 
cumpri-la. Para saber se existe ordem é necessário que entendamos o que ela é.
Ordem é, dizia Aristóteles, a relação recíproca entre as partes: relatio 
partium ad invicem. Esta relação é “a disposição de uma pluralidade de coisas 
ou objetos de acordo com a anterioridade e a posterioridade em virtude de um 
princípio”, conforme propôs Brian Coffey (1949 apud MORA, 2004, p. 2163). Ou 
seja, nesta relação há de haver uma hierarquia entre o inferior e o superior, com 
subordinação do mais baixo ao mais alto. Essa noção de ordem é das coisas “por 
natureza” ou “por convenção”? Dito de outra forma, essa noção de ordem é uma 
criação do homem ou temos como verificar se é possível encontrar ordem no 
mundo e no universo?
Pois bem, se olhamos para a mundo natural encontramos ali uma 
disposição de pluralidades de coisas que estão relacionadas. Pensemos, por 
exemplo, numa cadeia alimentar em que uma quantidade muito grande de 
animais está relacionada, e torna-se evidente uma relação anterior e posterior. 
Pensemos mais e analisemos, por exemplo, o ciclo da vida de uma planta frutífera, 
ela cresce e dá frutos; dos frutos vêm as sementes e delas uma nova planta. Nos é 
evidente que essas funções estão também ordenadas numa sequência hierárquica 
de maneira que o fim último da planta cumpre sua função. Tomando esses 
exemplos, perguntamos se existe, enfim, um princípio ordenador neles e que 
esteja presente no universo. A maneira de analisarmos é perguntarmo-nos o que 
nessa disposição de mundo natural estaria desordenado, quer dizer, se há algo no 
mundo natural que não estaria ordenado.
Ora, é evidente e amplamente documentado que tudo, absolutamente 
tudo, no mundo natural possui um propósito. Ou seja, para toda inclinação, 
toda necessidade, todo desejo existente há um correspondente que lhe satisfaz e 
cumpre seus propósitos. Assim sendo, no próprio mundo não se encontra nenhum 
exemplo de frustração para nenhuma inclinação que há na vida. Na natureza 
não há frustração. Não há, por exemplo, um leão — para usar um dos exemplos 
anteriores — que só coma zebras de listras vermelhas, já que não existem tais 
zebras. Assim, o princípio é a noção de finalidade. Tudo o que existe possui um 
fim que lhe é próprio e para o qual há um correspondente.
TÓPICO 2 | A JUSTIÇA NA ANTIGUIDADE
15
Entendido que existe uma ordem no universo, podemos voltar a discutir 
então qual seria a correta ordem da alma humana e, consequentemente, da vida 
em comunidade. Sim, pois uma comunidade seria corretamente ordenada na 
medida em que seus pares fossem corretamente ordenados, seja em suas almas, 
seja em suas relações sociais.
Podemos dizer que Sócrates foi quem primeiro enfatizou a questão da 
ética, centrando-a em toda reflexão filosófica. Platão a subordinou à metafísica e 
foi Aristóteles quem a definiu como disciplina filosófica e estabeleceu os principais 
problemas da ética. Segundo Mora (2004, p. 931):
De fato, essa história começou de modo formal apenas com Aristóteles 
[...]. Entretanto, antes de Aristóteles já se encontram precedentes para a 
constituição da ética como disciplina filosófica. Entre os pré-socráticos, 
por exemplo, podem ser encontradas reflexões de caráter ético que já 
não estão ligadas à aceitação de certas normas sociais vigentes – ou ao 
protesto contra essas normas -, mas que procuram descobrir as razões 
pelas quais os homens têm de se comportar de certa maneira.
Aristóteles foi o fundador da ética como ciência. Todo o problema da 
ética, para Aristóteles, começa por responder à nossa primeira pergunta: o que é o 
homem? Sendo o homem uma unidade composta de alma e corpo, o filósofo nos 
ensina que a alma é superior ao corpo na medida em que o é ontologicamente, 
isto é, anterior e superior. Anterior pois é imortal; superior pois é ela que anima o 
corpo. Em outras palavras mais pobres, podemos entender que o corpo humano 
é feito das mesmas coisas que os animais (células, tecidos, ossos etc.), enquanto 
aquilo que nos diferencia do resto da Criação é nossa alma, mais precisamente 
uma parte dela, como veremos.
Nesse sentido, precisamos, portanto, entender as potências da alma. A 
alma possui um conjunto de potências em relação a si própria, segundo suas 
próprias características, e outro conjunto de potências em relação ao corpo. O 
primeiro trata das características intrínsecas da alma, e que não convém tratarmos 
deste conjunto de potências neste Livro Didático. Já o segundo conjunto, das 
potências da alma em relação ao corpo, é no que precisamos nos aprofundar.
Potência e ato são conceitos formulados primeiramente por Aristóteles. Esses 
dois conceitos estão inerentemente ligados. Ato e potência são conceitos para explicar o 
movimento, ou mudança. De acordo com Mora (2005, p. 217) “A mudança pode ser então 
definida do seguinte modo: trata-se de levar a cabo o que existe potencialmente enquanto 
existe potencialmente. Nesse ‘levar a cabo’ o ser passa da potência de ser algo ao ato de 
sê-lo; a mudança é passagem da potência à atualidade [ato]”. Ainda segundo Mora (2005, p. 
2336) “são várias as significações de ‘potência’. Sobretudo, há duas. Segunda uma, potência 
é o poder que tem uma coisa de produzir uma mudança em outra coisa. Segundo outra, a 
potência é potencialidade residente numa coisa de passar a outro estado”.
NOTA
UNIDADE 1 | DA JUSTIÇA
16
As potências da alma em relação ao corpo são aquelas que se identificam 
à atividade do ser humano e dos aspectos da sua vida. Assim, podemos dizer que 
a alma possui três potências, a saber: vegetativa, sensitiva e intelectiva.
A potência vegetativa é aquela que nos aproxima do reino vegetal. Ou seja, são 
as potências da alma em relação ao corpo que dizem respeito às nossas necessidades 
básicas e biológicas e correspondem à necessidade de sobrevivência corporal. 
Correspondem propriamente a atividade da nutrição e crescimento do corpo.
A potência sensitiva diz respeito às atividades que correspondem aos 
elementos sensíveis do corpo humano, e, nesse sentido, ela nos aproxima do 
reino animal. Essa correspondência passa pela cognição desses elementos, não 
pelo aspecto intelectual ainda, mas perceptível. Ela corresponde aos fundamentos 
observados com os quais a consciência humana irá trabalhar. E isso nos leva à 
terceira potência, a intelectiva. 
É interessante notar que essas três potências estão ordenadas de maneira 
hierarquizada, de modo que, a potência vegetativa se atualiza (ver Uni Nota 
sobre ato e potência) nas potências sensitivas; eestas atualizam-se nas potências 
intelectivas. Dito de outra forma, as potências intelectivas abarcam as sensitivas, 
que, por sua vez, abarcam as vegetativas.
As duas partes da alma, as potências vegetativas e sensitivas, são, para 
Aristóteles, irracionais. E a parte racional, chamada intelectiva, é aquela que 
corresponde propriamente àquilo que nos diferencia dos demais seres. A 
potência intelectiva é aquela que em nós é própria da nossa espécie e nos capacita 
a viver como seres humanos. Suas atividades são, por exemplo, a compreensão e 
razão. À pergunta “o que é o homem?”, respondemos: um ser racional ou, para 
melhor compreensão do que dissemos até aqui, é um ser com intelecto — é aquele 
que intelige. Assim, palavras como conhecimento e inteligência surgem para 
designar aquilo que nos diferencia dos demais seres.
Significado de inteligir: verbo transitivo direto e intransitivo. Compreender 
alguma coisa usando a inteligência; depreender o sentido de; compreender, perceber, 
entender: inteligir a razão de uma hipótese; conteúdo difícil de inteligir. Etimologia (origem 
da palavra inteligir). Do latim intelligere, entender, perceber, compreender. 
FONTE: <https://www.dicio.com.br/inteligir/>. Acesso em: 26 jul. 2019.
NOTA
TÓPICO 2 | A JUSTIÇA NA ANTIGUIDADE
17
É preciso continuar de onde paramos, e compreender melhor a parte 
intelectiva da alma humana, também chamada de intelecto. Possui três modalidades 
(ou partes) possíveis, e hierarquizados. São três maneiras pela qual o intelecto 
humano é capaz de operar, a saber, produzindo, agindo e conhecendo.
Quando o intelecto se destina a fabricar ou criar alguma coisa, damos a esta 
capacidade o nome de produtiva. O intelecto, aqui, se vale de uma determinada 
técnica voltada para produzir ou criar algo. O intelecto produtivo se vale de uma 
técnica, um método, para a fabricação de algo em que lançará mão de instrumentos 
adequados para este fim. Por exemplo, quando um arquiteto constrói um prédio, ele 
está usando uma determinada técnica, método, para este fim, usando instrumentos 
e ferramentas que o possibilitam executar a obra. É preciso notar aqui que o 
intelecto concebe os instrumentos e métodos em relação ao fim desejado, sendo 
o bem produzido, dessa ação, extrínseco (externo) à atividade intelectual que o 
produziu. Usando o exemplo do arquiteto, o prédio, depois de pronto, é externo 
e independente ao ato inicial do intelecto produtivo que o originou.
A palavra técnica vem do grego téchne, que se traduz por “arte” ou “ciência”. 
Uma técnica é um procedimento que tem como objetivo a obtenção de um determinado 
resultado, seja na ciência, na tecnologia, na arte ou em qualquer outra área. Por outras 
palavras, uma técnica é um conjunto de regras, normas ou protocolos que se utiliza como 
meio para chegar a uma certa meta. A técnica supõe que, em situações semelhantes, uma 
mesma conduta ou um mesmo procedimento produzirão o mesmo efeito. Como tal, trata-
se do ordenamento de uma forma de atuar ou de um conjunto de ações.
FONTE: <https://conceito.de/tecnica>. Acesso em: 26 jul. 2019.
NOTA
Outra modalidade do intelecto é sua capacidade de identificar qual o fim 
determinado para uma ação particular, considerando ainda o modo correto para 
atingir este determinado fim. Essa modalidade é chamada de intelecto prático, ou 
razão prática, e visa um bem intrínseco ao ato, e, portanto, interno e dependente 
do ato intelectual que o originou. Assim, o intelecto prático visa condicionar a 
ação do seu agente em função de determinado bem ou fim. Por exemplo, quando 
o aluno se pergunta o que deve fazer para ser um bom aluno, está fazendo uso do 
seu intelecto prático já que sua atenção está voltada para uma ação (agente) em 
vista de um bem ou fim (ser um bom aluno).
UNIDADE 1 | DA JUSTIÇA
18
A terceira modalidade, ou parte, é o intelecto teórico, e se destina a uma 
atividade distinta das outras duas anteriores, qual seja, a de conhecer a verdade. 
E a verdade aqui, também é entendida como um bem, tal qual as outras duas 
modalidades também aspiravam a um bem determinado. Esta parte do intelecto é 
chamada também de contemplativa e visa o conhecimento de coisas verdadeiras, 
o conhecimento da verdade e de verdades imutáveis. 
Dirige-se, sobremaneira, ao conhecimento das coisas que são invariáveis 
ou não contingentes ou não acidentais, e, portanto, também de seus princípios que 
são necessários e não contingentes.
O próprio desta atividade é o mundo da ciência e da filosofia. Um exemplo 
simples e altamente útil é a expressão matemática “dois mais dois é igual a quatro” 
(2+2 = 4). Este conhecimento matemático é universal, imutável, invariável, não 
contingente, nem acidental. O tipo de conclusão que se tem com a expressão 
matemática, a saber, “é NECESSARIMENTE E SEMPRE quatro” é o tipo de bem 
para o qual o intelecto teórico está destinado ou dirigido.
Sendo a contemplação a atividade própria do intelecto teórico, a vida prática 
é a atividade própria do intelecto prático. Este ponto é fundamental entender, que o 
intelecto teórico se dirige ao tipo de conhecimento imutável e invariável, e, portanto, 
aos princípios que são absolutos e invariáveis, enquanto que o intelecto prático se 
dirige ao tipo de conhecimento mutável e variável, e, logo, aos princípios que são 
relativos e variáveis. O conhecimento das coisas que são variáveis é o conhecimento 
daquilo que é contingente e particular em relação à universalidade (absoluto).
É imprescindível que se entenda a verdadeira capacidade humana de 
conhecer as coisas. Do contrário, todos os valores tornam-se subjetivos e noções 
como justiça e ética deixarão de fazer qualquer sentido.
TÓPICO 2 | A JUSTIÇA NA ANTIGUIDADE
19
O poder de conhecer
Olavo de Carvalho
“Experimentai de tudo, e ficai com o que é bom”, aconselha o apóstolo. 
Experiência, tentativa e erro, constante reflexão e revisão do itinerário — 
tais são os únicos meios pelos quais um homem pode, com a graça de Deus, 
adquirir conhecimento. Isso não se faz do dia para a noite. Veritas filia temporis, 
dizia Sto. Tomás: a verdade é filha do tempo. Não me venham com fulgurações 
místicas e intuições súbitas. Que las hay, las hay, mas mesmo elas requerem 
preparação, esforço, humildade, tempo. Até Cristo, no cume da agonia, lançou 
ao ar uma pergunta sem resposta. Por que nós, que só somos filhos de Deus 
por delegação, teríamos o direito congênito a respostas imediatas?
O aprendizado é impossível sem o direito de errar e sem uma longa 
tolerância com o estado de dúvida. Mais ainda: não é possível o sujeito 
orientar-se no meio de uma controvérsia sem conceder a ambos os lados 
uma credibilidade inicial sem reservas, sem medo, sem a mínima prevenção 
interior, por mais oculta que seja. Só assim a verdade acabará aparecendo 
por si mesma. O verdadeiro homem de ciência aposta sempre em todos 
os cavalos, e aplaude incondicionalmente o vencedor, qualquer que seja. 
A isenção não é desinteresse, distanciamento frio: é paixão pela verdade 
desconhecida, é amor à ideia mesma da verdade, sem pressupor qual seja o 
conteúdo dela em cada caso particular.
Não há nada mais estúpido do que a convicção geral da nossa 
classe letrada de que não existe imparcialidade, de que todas as ideias são 
preconcebidas, de que tudo no mundo é subjetivismo e ideologia. Aqueles que 
proclamam essas coisas provam apenas sua total inexperiência da investigação, 
científica ou filosófica. Não dando valor a sua própria inteligência — porque 
jamais a testaram — apressam-se em prostituí-la à primeira crença que os 
impressione, e daí deduzem, com demencial soberba, que todo mundo faz o 
mesmo. Não sabem que uma aposta total no poder do conhecimento bloqueia, 
por antecipação, todas as apostas parciais em verdades preconcebidas. Se o 
que está em jogo para mim, no momento da investigação, não é a tese “x” ou 
“y”, mas o valor da minha própria capacidade cognitiva, pouco se me dá que 
vença “x” ou vença “y”: só o que importa é que eu mesmo,enquanto portador 
do espírito, saia vencedor. Nenhuma crença prévia, por mais sublime que 
seja o seu conteúdo, vale esse momento em que a inteligência se reconhece no 
inteligível. Quem não viveu isso não sabe como a felicidade humana é mais 
intensa, mais luminosa e mais duradoura que todas as alegrias animais.
Infelizmente, a classe intelectual está repleta de indivíduos que não 
conhecem, da inteligência, senão o seu aparato de meios — a lógica, a memória, 
os sentimentos, cada qual prezando mais um ou outro desses instrumentos, 
conforme suas inclinações pessoais — mas não têm a menor ideia do que seja 
a inteligência enquanto tal, a inteligência enquanto poder de conhecer o real. É 
UNIDADE 1 | DA JUSTIÇA
20
impressionante como o poder mesmo que define a atividade dessas pessoas — 
o intelecto — pode ser desprezado, ignorado, reprimido, e, por fim, totalmente 
esquecido na prática diária de seus afazeres nominalmente intelectuais. O culto 
da razão ou dos sentimentos, das sensações ou do instinto, da fé cega ou do 
“pensamento crítico”, não é senão o resíduo supersticioso que sobra no fundo 
da alma obscurecida quando se perde o sentido da unidade da inteligência por 
trás de todas essas operações parciais. A inteligência, com efeito, não é uma 
função, uma faculdade em particular: é a expressão da pessoa inteira enquanto 
sujeito do ato de conhecer. A inteligência não é um instrumento, um aspecto, 
um órgão do ser humano: ela é o ser humano mesmo, considerado no pleno 
exercício daquilo que nele há de mais essencialmente humano.
 
Perguntaram-me uma vez, num debate, como eu definia a honestidade 
intelectual. Sem pestanejar, respondi: é você não fingir que sabe aquilo que 
não sabe, nem que não sabe aquilo que sabe perfeitamente bem. Se sei, 
sei que sei. Se não sei, sei que não sei. Isto é tudo. Saber que sabe é saber; 
saber que não sabe é também saber. A inteligência não é, no fundo, senão 
o comprometimento da pessoa inteira no exercício do conhecer, mediante 
uma livre decisão da responsabilidade moral. Daí que ela seja também a base 
da integridade pessoal, quer no sentido ético, quer no sentido psicológico. 
Todas as neuroses, todas as psicoses, todas as mutilações da psique humana 
se resumem, no fundo, a uma recusa de saber. São uma revolta contra a 
inteligência. Revoltas contra a inteligência — psicoses, portanto, a sua 
maneira — são também as ideologias e filosofias que negam ou limitam 
artificiosamente o poder do conhecimento humano, subordinando-o 
à autoridade, ao condicionamento social, ao beneplácito do consenso 
acadêmico, aos fins políticos de um partido, ou, pior ainda, subjugando a 
inteligência enquanto tal a uma de suas operações ou aspectos, seja a razão, 
seja o sentimento, seja o interesse prático ou qualquer outra coisa.
É claro que, para cada domínio especial do conhecimento e da vida, 
uma faculdade em particular se destaca, ainda que sem se desligar das 
outras: o raciocínio lógico nas ciências, a imaginação na arte, o sentimento e a 
memória no conhecimento de si, a fé e a vontade na busca de Deus. Mas, sem 
a inteligência, que é cada uma dessas funções, ou a justaposição mecânica de 
todas elas, senão uma forma requintada de fetichismo? Que é uma imaginação 
que não intelige o que concebe, um sentimento que não se enxerga a si mesmo, 
uma razão que raciocina sem compreender, uma fé que aposta às cegas, sem a 
visão clara dos motivos de crer? São cacos de humanidade, jogados num porão 
escuro onde cegos tateiam em busca de vestígios de si mesmos. Toda “cultura” 
que se construa em cima disso não será jamais senão um monumento à miséria 
humana, um macabro sacrifício diante dos ídolos.
Só o inteligir, assumido como estatuto ontológico e dever máximo da 
pessoa humana, pode fundamentar a cultura e a vida social. Por isso não há 
perdão para aqueles que, vivendo das profissões da inteligência, a rebaixam e 
TÓPICO 2 | A JUSTIÇA NA ANTIGUIDADE
21
a humilham. Cada vez que um desses indivíduos grita, seja na língua que for, 
seja sob o pretexto que for, Abajo la inteligencia!, é sempre o coro dos demônios 
que ecoa, do fundo do abismo: Viva la muerte!
FONTE: CARVALHO, O. de. O poder de conhecer. 2001. Disponível em: http://
olavodecarvalho.org/o-poder-de-conhecer/. Acesso em: 26 jan. 2019.
Enfim, chegamos ao ponto importante do que vem a ser a ética. Antes, 
vamos refazer nosso itinerário até aqui para não nos perder. 
Vimos que a noção de justiça nasce ligada à noção de ordem, e como 
um bem é a correta ordem das coisas em sociedade. A noção de ordem vem da 
constatação de que tudo no universo está ordenado, ou seja, para toda e qualquer 
inclinação há um fim que lhe é próprio.
Visto a noção de ordem, entendemos que a correta ordenação da sociedade 
passava pela correta ordenação do homem, que, por conseguinte, necessitou 
responder sobre o que é o homem. Vimos que o homem possui alma e corpo. 
Uma parte da alma nos diferencia do restante da criação, a inteligência, e que 
nos diferencia — ou seja, responder “o que é homem?” —, também responde à 
questão sobre o propósito da existência humana. Se o fim último do homem é a 
felicidade, como nos diz o intelecto teórico do homem, o intelecto prático — como 
vimos antes — nos dirá por qual modo de ser conseguiremos ser feliz. 
Assim, a justiça que começa como a correta ordenação para atingir a 
felicidade, passa pelo entendimento do que é o homem para compreender qual 
fim lhe é próprio e, portanto, seu modo de ser ordenado. Vamos ilustrar nosso 
itinerário assim:
FIGURA 4 – O HOMEM SEGUNDO SÃO TOMAZ DE AQUINO
FONTE: O autor
UNIDADE 1 | DA JUSTIÇA
22
Agora podemos seguir adiante e compreender melhor que ética é o correto 
modo de ser do homem em vista de algum fim. Podemos, por enquanto, afirmar 
que a ética visa o correto uso do intelecto prático. Ou seja, já deu para perceber que 
tudo que foi dito até aqui, não se destinou dar explicação à noção de “correto”. Pois 
é precisamente essa noção que precisamos entender agora: se o intelecto prático 
visa a ação, essa ação visa um bem, e, se esse bem lhe é interno e, o fim do intelecto 
prático como um bem depende de um meio para realizá-lo. Dito de outra forma, 
se o intelecto prático é a potência da alma que capta o bem de uma ação particular, 
a questão é, qual os meios corretos para atingir esse bem?
Os meios pelos quais agimos podem ser chamados de hábitos, costumes, 
tendências comportamentais. Porém, é inevitável admitirmos que para uma 
situação corresponde um modo de agir que é melhor ou mais adequado. Assim, 
podemos dizer também que existe um hábito ou modo de agir que é por excelência 
o mais indicado para o homem. A esse hábito ou modo de agir chamaremos, como 
Aristóteles, de virtude. Só que, as virtudes não são um modo de agir para uma 
situação em particular, uma determinada atividade, mas para toda e qualquer 
atividade humana. Virtude é a excelência nos costumes e hábitos. 
Podemos notar então que virtude é, por assim dizer, uma vontade 
predisposta para agir com excelência em toda em qualquer atividade humana. 
É um modo de ser diante das circunstâncias. Se constatamos com claridade que 
o homem se inclina mais para as coisas contrárias à virtude não é, senão por um 
esforço da vontade que se combate estas inclinações. Então, a virtude deve ser 
cultivada como um hábito.
Aristóteles (1992, p. 1109a) diz que “as coisas para as quais nos inclinamos 
mais naturalmente parecem mais contrárias ao meio-termo. Por exemplo, tendemos 
mais naturalmente para os prazeres, e, por isso, somos levados mais facilmente 
para a concupiscência do que para a moderação”. 
Daí que o termo ‘ética’ foi com muita frequência definido como ciência ou 
doutrina dos costumes. Só que não são meros costumes, e sim virtudes (MORA, 
2004). Podemos antever, na citação anterior de Aristóteles, a noção de meio-
termo que vem a ser a medida da virtude. Recorramos mais uma vez ao próprio 
(ARISTÓTELES, 1992, p. 1106): 
A virtude se relaciona com as emoçõese as ações, nas quais o excesso 
é uma forma de erro, tanto quanto a falta, enquanto o meio-termo é 
louvado como um acerto, ser louvado e estar certo são características 
da excelência. A virtude, portanto, é algo como a equidistância, pois, 
seu alvo é o meio-termo.
Este ‘meio-termo’ está situado entre dois vícios, a saber, a falta e o excesso. 
Tomemos por exemplo a virtude da coragem e vamos verificar que ela é o meio-
termo entre a falta de coragem (covardia), e o excesso de coragem (temeridade). 
Lembre-se, acadêmico, que essa noção de virtude como o meio-termo vem da 
TÓPICO 2 | A JUSTIÇA NA ANTIGUIDADE
23
mesma noção de justa medida ou correta ordenação que vimos no início desta 
unidade. Não é senão, fundamental que o aluno vá como que costurando as noções 
aqui apresentadas de maneira a perceber o que estamos dizendo.
Se a virtude é, por assim dizer, um hábito que conduz a agir do nosso 
intelecto, precisamos distinguir a virtude em função das operações intelectivas. 
Dessa maneira, e do ponto de vista da virtude, existem duas classes de virtude, 
conforme Mora:
As virtudes éticas são para Aristóteles as que se desenvolvem na prática 
e se encaminham para a consecução de um fim, enquanto as [virtudes] 
dianoéticas são as virtudes propriamente intelectuais. Às primeiras 
pertencem as virtudes que servem para a realização da ordem da vida do 
Estado – a justiça, a amizade, o valor etc. – e têm sua origem direta nos 
costumes e no hábito, razão pela qual podem ser chamadas de virtudes de 
hábito ou tendência. Às segundas, por outro lado, pertencem as virtudes 
fundamentais, as que são como que os princípios das éticas, as virtudes 
da inteligência ou razão: sabedoria e prudência (MORA, 2004, p. 931).
 
Vale aqui ver o que o próprio Aristóteles nos diz ainda sobre estas classes 
de virtudes:
[...] A virtude dianoética deve sua origem e desenvolvimento à instrução, 
razão pela qual requer experiência e tempo, enquanto a virtude ética 
procede do hábito; o nome ethiké é formado por uma leve variação 
introduzida na palavra éthos [hábito]. Resulta daí que nenhuma das 
virtudes morais se origina em nós por natureza, pois nada do que 
existe por natureza pode formar um hábito contrário à sua natureza 
(ARISTÓTELES, 1992, p. 1103a).
A virtude dianoética é própria do intelecto, enquanto que a virtude ética é 
própria do caráter humano. Aquela está ligada à força da inteligência, enquanto, 
esta, à força da vontade. Acontece que, as virtudes do caráter, ou éticas, que são 
hábitos bons, não podem existir, em última análise, se não estiverem ancoradas 
nas virtudes dianoéticas ou do intelecto. 
Daí que se a virtude ética não se origina em nós por natureza, mas por 
hábito, não é por que também a virtude dianoética se origina em nós por nossa 
própria natureza. E como aquela está subordinada a esta, fica evidente que o hábito 
deve ser orientado pela razão. 
Ficará mais fácil de entender se compreendermos que as virtudes 
dianoéticas são divididas em duas virtudes, a saber, a virtude do intelecto teórico e 
a virtude do intelecto prático, que são respectivamente, a sabedoria e a prudência. 
A prudência é a virtude própria do intelecto prático enquanto a sabedoria é própria 
do intelecto contemplativo. 
UNIDADE 1 | DA JUSTIÇA
24
Então, quando se dirige o intelecto para o conhecimento das coisas invariáveis 
é importante que o faça com essa excelência intelectual chamada sabedoria. E quando 
se dirige para o conhecimento das coisas variáveis deve-se utilizar a virtude da prudência.
ATENCAO
Como vimos, o intelecto prático capta o bem próprio para uma ação em 
particular, e a prudência conduz essa operação do intelecto ao dispor uma variedade 
de meios para que o agente escolha e aja de acordo com aquele determinado meio 
específico. Ou seja, a prudência dirá qual o melhor meio ou caminho para agir de 
acordo com o bem desejado. Para usar nosso exemplo anterior, o aluno que quer ser 
bom aluno, usará a prudência para — analisando uma situação concreta e particular 
— decidir qual o melhor caminho para conseguir este bem (ser bom aluno).
É preciso estar atento e notar que para cada virtude existente, há uma ação 
concreta humana que lhe é própria. Assim, toda atividade humana possui uma 
virtude que representa sua excelência. Para melhor esclarecer vamos mostrar um 
quadro resumido com as virtudes de Aristóteles:
QUADRO 1 – AS VIRTUDES DE ARISTÓTELES
Vício por falta Virtude Vício por excesso
Covardia Coragem Temeridade
Insensibilidade Temperança Libertinagem
Avareza Prodigalidade Esbanjamento
Vileza Magnificência Vulgaridade
Modéstia Respeito próprio Vaidade
Moleza Prudência Ambição
Indiferença Gentileza Irascibilidade
Descrédito próprio Veracidade Orgulho
Rusticidade Agudeza de espírito Zombaria
Enfado Amizade Condescendência
Malevolência Justa indignação Inveja
FONTE: Chauí (2000, p. 448)
Respondido, portanto, a primeira questão sobre o que é o homem, devemos 
passar a responder as outras duas, qual seja, aquelas que nos perguntam de onde 
o homem veio e para onde ele vai. É necessário compreender que estas duas 
perguntas podem ser condensadas em outra pergunta: “Qual fim último do 
homem”? Ou melhor ainda: “Qual é o bem próprio do homem”? “Qual é o bem 
humano verdadeiro”?
TÓPICO 2 | A JUSTIÇA NA ANTIGUIDADE
25
Eudaimonia é uma palavra de origem grega formada a partir dos 
vocábulos Eu (o bem ou aquilo que é bom) e Daemon (deus, ou gênio, intermediário entre 
os homens e as divindades superiores). Na cultura grega, o Daemon seria a entidade capaz 
de guiar o caminho das pessoas.
Traduções equivocadas relacionam Daemon a demônio, mas esse sentido não se sustenta. 
O Daemon era a entidade que traria a luz e a sabedoria divina à humanidade, por ser 
a ponte entre os deuses e os seres humanos. Em uma tradução livre, podemos dizer 
que eudaimonia é a “ética da felicidade” ou o “voltar-se para a felicidade”, pois é uma espécie 
de doutrina que coloca como finalidade última a sabedoria prática necessária para que o 
agir humano alcance o bem supremo. 
FONTE: <https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/filosofia/eudaimonia.htm>. Acesso 
em: 11 out. 2019.
NOTA
Para avançarmos, perguntamos: e qual é a melhor forma de agir numa dada 
circunstância? Se o acadêmico nos acompanhou até aqui com atenção, não poderia 
responder de outra forma que não dizendo que é aquela que desempenha em sua 
atividade as virtudes práticas daquela atividade para qual se destina o agente. 
É agir deliberando sobre os meios disponíveis e escolher o melhor bem que seja 
mais adequado a atividade específica. Antes de passarmos adiante, vamos rever 
algumas conclusões às quais chegamos até aqui:
• A noção de justiça está ligada à noção de ordem.
• A noção de ordem está ligada à noção de inteligência e cosmos.
• O homem possui corpo e alma.
• A alma possui potências e é aquilo que em nós nos diferencia dos outros seres.
• A virtude é a excelência na atividade humana.
• A eudaimonia é a atividade da alma racional conforme a virtude daquela 
atividade específica e que, por agir assim, traz felicidade.
Qual é o bem próprio do ser humano e qual a função que ele desempenha 
na vida humana? Toda arte e toda atividade tendem a um bem — o fim da arte 
naval é o navio; o fim da atividade pai é ser um bom pai. Como já vimos, arte é 
técnica e produção, e seu bem é um bem externo. O bem da atividade é um bem 
intrínseco e interno à atividade. Portanto, qual a melhor forma de agir? Qual é o 
bem humano, e, logo, a excelência humana, por definição?
A resposta de Aristóteles é ‘eudaimonia’. Já mencionamos esta palavra, 
lembrando-nos que sua tradução é felicidade, ela significa a melhor maneira de 
agir numa situação particular.
UNIDADE 1 | DA JUSTIÇA
26
Concluímos esse tópico fazendo um grande avanço teórico a respeito da 
noção de justiça. Se, como dissemos anteriormente, as bases filosóficas da justiça 
estão numa disputa entre as noções de justiça “por natureza” ou “por convenção”, 
deve o aluno considerarque o itinerário feito até aqui foi para colocar as coisas 
nesses termos. Ou seja, vimos qual era a natureza do homem para os gregos e 
compreendemos que a noção de justiça dos gregos tem como fundamento o cosmos, 
chamado de Noûs e que para Anaxágoras era a divina razão que dá e mantém a 
ordem do mundo. Recorramos a Mora (2004, p. 2117):
Noûs é usado em grego em vários sentidos: 1) como faculdade de 
pensar, inteligência, espírito, memória e, às vezes, (como na Odisseia, 
VI, 320), sabedoria; 2) como pensamento objetivo, a inteligência 
objetiva; 3) como uma entidade (penetrada pela inteligência) que rege 
todos os processos do universo. 
Da constatação da origem da ordem e da natureza humana, segue-se 
inapelavelmente que existe um modo de agir ao homem que lhe é preferível, já 
que cumpre as finalidades segundo as suas inclinações mesmas. A este modo de 
agir, Aristóteles chamou ética, e a elevou à disciplina filosófica.
A justiça que surgira como noção de uma ordem social que, por assim dizer, 
espelhava uma ordem cósmica, só era possível de ser atingida na medida em que 
os agentes desta comunidade política cumprissem, em si mesmos, a mesma ordem 
cósmica que lhes abrangia e ultrapassava. Era preciso que o homem ordenasse antes 
a si mesmo para que pudéssemos ter uma sociedade, por conseguinte, ordenada 
e justa. E, por fim, feliz.
Assim, a noção de justiça se conecta à noção de virtude, já que por virtude, 
entendemos o correto modo de agir — ou seja, um modo de agir que possui uma 
ordenação. Mais do que isso, a justiça para os gregos, em especial para Aristóteles, 
é ela mesma uma espécie de virtude especial já que ela acompanha (como que 
fundamenta) todas as demais virtudes. Só será possível o homem ser virtuoso se 
antes ele for justo.
Disso resulta, por fim, a questão com a qual iniciamos esse estudo, a saber, 
qual a melhor comunidade política (sociedade) para se viver? Dito de outra forma, 
o que é preciso fazer para se ter uma sociedade boa para se viver, portanto, que seja 
justa e feliz? Podemos então responder de forma resumida que “a melhor sociedade 
é aquela na qual seus cidadãos, os agentes, agirão, de forma excelente (virtuosa) 
de acordo com a parte racional de suas almas, nas circunstâncias concretas em 
conformidade com as virtudes próprias daquelas atividades”.
Assim, terminamos este tópico concluindo em definitivo que a justiça 
para os gregos era uma virtude humana. Mas não sem antes apresentarmos um 
esquema sobre a ética em Aristóteles.
TÓPICO 2 | A JUSTIÇA NA ANTIGUIDADE
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FIGURA 5 – ÉTICA EM ARISTÓTELES
FONTE: O autor
• Hábito do caráter racional
• Está no 'meio-termo'
• Busca a excelência
• Existem dois tipos:
 ◦Virtudes Éticas
 ◦Virtudes Noéticas
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RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• Para os gregos a justiça é uma virtude.
• O fim último do homem, para os gregos, é a felicidade.
• A virtude busca a excelência.
• A noção de ordem está imbricada numa constatação do universo.
29
1 O aluno deve tomar um tema que esteja em debate público atualmente, 
por exemplo, o aborto. Deve identificar alguns agentes nesse debate e 
considerar se suas posições são justas ou injustas a partir do argumento 
de Sócrates de que a justiça é desinteressada, ou seja, não se pauta pelos 
interesses pessoais.
2 “Sendo a contemplação a atividade própria do intelecto teórico, a vida 
prática é a atividade própria do intelecto prático. Este ponto é fundamental 
entender, que o intelecto teórico se dirige ao tipo de conhecimento imutável 
e invariável, e, portanto, aos princípios que são absolutos e invariáveis, 
enquanto que o intelecto prático se dirige ao tipo de conhecimento que é 
mutável e variável e, portanto, aos princípios que são relativos e variáveis”.
Tomando a frase anterior, relacione as duas colunas:
AUTOATIVIDADE
a) Intelecto Teórico
b) Intelecto Prático
( ) Teorema de Pitágoras com a fórmula a² = b² + c².
( ) O homem é uma espécie animal do gênero Homo.
( ) Ser um bom pai é estar presente.
( ) A riqueza não traz felicidade.
( ) Há uma ordem no cosmos.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) a, a, b, a, a.
b) ( ) b, a, a, b, a.
c) ( ) b, b, b, a, b.
d) ( ) a, a, b, b, a.
3 Considerando a frase “A ordem de uma sociedade é espelho da ordem da 
alma” e o conteúdo visto até aqui, podemos dizer que para termos uma 
ordem social justa, é necessário que:
a) ( ) A ética ordene a alma humana através das ações virtuosas.
b) ( ) As virtudes sejam ordenadas por convenção, já que não é possível 
estabelecer a natureza humana.
c) ( ) Percebendo uma ordem na natureza do mundo, a ordem social dirija a 
ordem da alma humana. A esta ordem da natureza damos o nome de ética.
d) ( ) Se estabeleça a eudaimonia como virtude da sociedade inteira e não de 
um único indivíduo.
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31
TÓPICO 3
A JUSTIÇA NA IDADE MÉDIA
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
2 JUSTIÇA E ORDEM DIVINA
Tal qual os gregos perceberam que a própria noção de justiça estava 
imbricada numa noção de hierarquia de valores, os medievais, levados pela tradição 
e pela revelação, corrigiram a noção grega de justiça subordinando-a ao amor, 
valor mais elevado que a própria justiça. Amor, este, ensinado por Cristo na cruz.
Enquanto nas noções gregas a justiça era elemento fundamental da 
organização social e estavam ligadas às noções de ordem social e ordem da alma, 
nas noções cristãs medievais o elemento fundamental da organização social e da 
alma passa a ser o amor — e a misericórdia. Disso não implica que a justiça tenha 
deixado de ocupar espaço na organização social, nem que a justiça tenha deixado de 
ser uma virtude. Em se tratado de justiça e virtude, as noções gregas, principalmente 
de Aristóteles, são muito próximas das noções medievais, notadamente, às de São 
Tomás de Aquino.
Estamos utilizando a expressão ‘medieval’ mais como uma posição histórica 
do que uma posição ultrapassada. Com efeito, se é verdade que a ética grega foi 
em muito ultrapassada quando absorvida e plasmada pelos cristãos medievais, já 
não é verdade que a ética cristã do medievo foi ultrapassada pela ética moderna 
(que veremos mais adiante).
Na passagem da idade clássica para a medieval, neste aspecto da ética, 
houve uma espécie de junção das ideias, coisa que na passagem da medieval para 
a moderna foi diversa, havendo uma ruptura. Isso torna-se ainda mais visível se 
considerar, para fins de demonstração do que queremos afirmar, que não há uma 
instituição grega com a influência igual à da Igreja Católica nos dias de hoje.
São Tomás de Aquino foi o grande mestre da cristandade. O é até os dias 
de hoje. O Santo, ao se deparar com as questões éticas levantadas no período 
clássico (gregos e romanos), faz suas considerações e molda, por assim dizer, o 
pensamento ocidental do que vem a ser a justiça.
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UNIDADE 1 | DA JUSTIÇA
Vamos abordar algumas considerações deste autor, introduzindo, para 
tanto, algumas noções clássicas — que não foram vistas até aqui — que, por Aquino, 
foram objetos de meditação, e outras noções novas.
Com isso o aluno tomará bastante cuidado na leitura para não se perder 
cronologicamente a respeito das noções e, ao mesmo tempo, deverá costurar as 
noções clássicas deste tópico com as anteriores. Foi assim necessário para que 
o assunto, denso pela sua própria natureza, não se estendesse além dos limites 
exigidos para este Livro Didático.
O aluno deve recordar quando indicamos que havia a discussão sobre as 
coisas que são “por natureza” e aquelas que são “por convenção”. Grosso modo, 
essa distinção aplica-se às coisas referentes à natureza e àquelas que são humanas. 
Pois bem, a noção de lei natural clássica, sobretudo com Cícero — filósofo estoico 
romano do período clássico pós-aristotélico —, quem lhe dedicou mais atenção, 
diz respeito à lei natural com fundamento no cosmos. Ou seja, essa noção nos diz 
que existe uma lei cósmica ou divina, que é natural, e que os homens deveriam 
espelhar-se nessa lei para ordenarem suas própriasrelações. 
Com Aquino, essa lei ganha uma forma final, e nos diz sobre a existência 
de uma lei que rege eticamente os homens. Ela é um reflexo da Lei Eterna que 
é captada pela sindérese, e, juntamente à ciência moral, a desenvolve e a aplica.
Disso resulta que nossa vida moral tem uma base objetiva na própria 
natureza. Só que por natureza, Aquino se referia não ao mesmo cosmos do período 
clássico, mas ao Deus de Abraão, Moisés e, ao próprio, Jesus Cristo. Por isso que 
o Santo utiliza a expressão lei eterna e lei natural, e identifique a lei natural como 
participação da lei eterna no homem racional: 
Sendo a lei regra e medida, pode, como já se disse antes, existir de duas 
maneiras: tal como se encontra no princípio regulador e medidor, e tal 
como está no regulado e medido. Agora bem. Que algo se ache medido 
e regulado se deve ao que participe da medida e regra. Portanto, como 
todas as coisas que se encontram submetidas à divina providência estão 
reguladas e medidas pela lei eterna, segundo consta pelo que foi dito, é 
manifesto que participam em certo modo da lei eterna, a saber, na medida 
em que, sob a penumbra dessa lei, se vejam impulsionados a seus atos e 
fins próprios. Por outra parte, a criatura racional se encontra submetida 
à divina providência de uma maneira muito superior às demais, porque 
participa da providência como tal, e é providente para si mesma e para as 
demais coisas. Pelo mesmo argumento, há também nela uma participação 
da razão eterna na virtude da qual se encontra naturalmente inclinada aos 
atos e fins devidos. E esta participação da lei eterna na criatura racional 
é o que se chama lei natural (AQUINO, 2016, p. 710).
Se sindérese é a capacidade de captar a lei eterna, ela não é o mesmo que 
lei natural, como o aluno possa imaginar. É preciso esclarecermos, portanto, que 
a sindérese (SOTO, 1926, p. 81) “é um hábito, uma virtude da mente que nos 
inclina a assentir os princípios práticos [...] A sindéreses é um hábito que contém 
em si a lei natural, posto que com sua virtude julgamos — os atos humanos em 
geral — a partir desses princípios”. Esclareçamos um pouco mais: 
TÓPICO 3 | A JUSTIÇA NA IDADE MÉDIA
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Sindérese, ou mais corretamente sinérese, é um termo usado pelos teólogos 
escolásticos para significar o conhecimento habitual dos princípios práticos universais 
da ação moral. O processo de raciocínio no campo da ciência especulativa pressupõe 
certos axiomas fundamentais sobre os quais repousa toda a ciência. Tal é o princípio da 
contradição, "uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo", e verdades autoevidentes 
como "o todo é maior que a sua parte". Esses são os primeiros princípios do intelecto 
especulativo. No campo da conduta moral, existem princípios de ação semelhantes, como: 
"o mal deve ser evitado, o bem deve ser feito"; "Não faça aos outros o que você não gostaria 
de fazer a si mesmo"; "Os pais devem ser honrados"; "Devemos viver de forma temperada 
e agir com justiça". Tais como estas são verdades autoevidentes no campo da conduta 
moral que qualquer pessoa sã admite se ele as entende. De acordo com os escolásticos, a 
prontidão com que tais verdades morais são apreendidas pelo intelecto prático é devida ao 
hábito natural impresso na faculdade cognitiva que eles chamam de sindérese. Enquanto 
a consciência é um ditame da razão prática que decide que qualquer ação particular é 
certa ou errada, a sindérese é um ditame da mesma razão prática que tem como objeto os 
primeiros princípios gerais da ação moral (tradução nossa).
FONTE: <http://www.newadvent.org/cathen/14384a.htm>. Acesso em: 8 ago. 2019.
IMPORTANTE
A diferenciação entre a lei natural e a sindérese é importante, pois que se 
torna fundamental distinguir os atos e hábitos do intelecto prático. Portanto, para 
os escolásticos, a lei natural é uma autoridade superior que a inteligência estabelece, 
por exemplo, a proibição de assassinar. Diferentemente, os hábitos intelectuais não 
são juízos ou proposições que fazemos, mas uma certa qualidade e virtude de fazer 
estes mesmos juízos ou proposições.
No entanto, a lei natural não é por sua natureza um hábito, embora esteja 
no homem de maneira habitual. Essa lei é uma espécie de autoridade superior em 
forma de preceito. É o ato do intelecto prático que ordena ao bem.
Assim, o hábito é a qualidade de elaborar juízos e proposições práticas acerca 
do bem, mas não os atos em si mesmos, já que os atos da razão prática preceituam 
as ações ordenando-as aos bens. O acadêmico atento já compreendeu que, portanto, 
o hábito é a virtude de elaborar juízos e não os próprios juízos em si mesmos.
Conclui-se assim que a lei humana positiva (veremos mais sobre isso a frente) 
é, portanto, um desdobrando da lei natural, que a ela se adequa e reverencia. Por 
lei humana positiva queremos dizer nossas leis jurídicas, nossas constituições etc.
Destarte, para Aquino, a lei humana jamais poderia contrariar a lei natural 
— esta, um espelho da lei eterna —, sem que, com isso, deixasse de ser justa ou 
tornar-se iníqua.
34
UNIDADE 1 | DA JUSTIÇA
No entanto, a lei natural não é por sua natureza um hábito, embora esteja no 
homem de maneira habitual. Esta lei é uma espécie de autoridade superior em forma de 
preceito, é o ato do intelecto prático que ordena ao bem. Assim, o hábito é a qualidade de 
elaborar juízos e proposições práticas acerca do bem, mas não os atos em si mesmos, já 
que os atos da razão prática preceituam as ações ordenando-as aos bens.
ATENCAO
Outro ponto que precisamos compreender é o princípio de totalidade, que, 
resumidamente, nos diz que a parte é para o todo e só tem função em relação a ele.
Disso resulta que o todo tem prioridade sobre a parte, que lhe é superior, 
sendo até mesmo a ‘parte’ dispensada em favor do ‘todo’. Esse princípio pode nos 
ser bastante intuitivo quando, por exemplo, julgamos justo que alguém ampute 
sua perna gangrenada para não morrer. À parte, a perna, é, neste caso, dispensada 
em favor da saúde do corpo, o todo, que lhe tem prioridade. 
Esse princípio pode não ser tão intuitivo assim quando pensamos no corpo 
social, já que, por exemplo, não julgaríamos justo que um governante matasse uma 
parte da população que, a seu critério, está prejudicando o todo. Acadêmico, não 
se engane em achar que o exemplo aqui é desproporcional ou fantasioso, já que o 
século passado nos deu provas terríveis do quanto são verdade.
Aristóteles aplicava esse princípio de maneira direta e, por assim dizer, 
indiscriminada. As razões para isso são muitas e densas, motivo pelo qual não 
convém adentramos aqui. É importante, no entanto, que saibamos as distinções e 
correções feitas por Aquino na aplicação deste princípio.
Dizia o Santo que há todos e todos, ou seja, que é preciso diferenciar os 
vários tipos de todos. Com isso, Aquino diferenciou entre o ‘todo substancial’ e 
o ‘todo acidental’. Todo substancial é aquele que, como no exemplo da perna, 
aplica-se a um todo em que as partes não possuem função fora dele, ou seja, as 
partes estão na essência do todo.
Já o todo acidental possui dois tipos, “composição” e “polis”. A totalidade de 
composição é aquela em que as partes não são essenciais ao todo, por exemplo, em um 
parque de diversões no qual cada brinquedo pode ser retirado sem que, no entanto, 
o parque de diversão deixe de ser um parque. E a totalidade da polis, ou cidade, 
é aquela que não sendo nem totalidade substancial nem de composição, aplica-se 
exclusivamente à noção de totalidade como um conjunto de homens — ou comunidade.
TÓPICO 3 | A JUSTIÇA NA IDADE MÉDIA
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O exemplo de Aquino é o de um exército, cujos soldados são a parte, sendo, 
no entanto, legítimo que um soldado agindo por conta própria, realize uma ação 
que irá beneficiar o todo — o exército (notemos com atenção que a ação deliberada 
do soldado é uma quebra da ordem estabelecida). Esse exército não é nem um todo 
substancial, já que os soldados possuem função fora do exército, nem um todo de

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