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2 PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA SECRETARIA DE GESTÃO E ENSINO EM SEGURANÇA PÚBLICA DIRETORIA DE ENSINO E PESQUISA COORDENAÇÃO-GERAL DE ENSINO COORDENAÇÃO DE ENSINO A DISTÂNCIA CONTEUDISTAS Adriano Mendes Barbosa Marcelo Migowski Ferreira REVISÃO DE CONTEÚDO Penélope Automar Leme Gama REVISÃO PEDAGÓGICA Daniele Rosendo dos Santos Márcio Raphael Nascimento Maia SETOR DE CRIAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PROGRAMAÇÃO E EDIÇÃO Lúcio André Amorim Renato Antunes dos Santos DESIGNER Fagner Fernandes Douetts Renato Antunes dos Santos DESIGNER INSTRUCIONAL Wagner Henrique Varela da Silva 3 Sumário .................................................................................................................................... 1 Apresentação do Curso ............................................................................................... 5 Objetivos do Curso ...................................................................................................... 7 Estrutura do Curso ...................................................................................................... 8 Módulo I - MEDIDAS DE CORREIÇÃO NA PREVENÇÃO E REPRESSÃO À CORRUPÇÃO ............................................................................................................. 9 Apresentação do módulo ......................................................................................... 9 Objetivos do módulo ................................................................................................ 9 Estrutura do módulo .............................................................................................. 10 Aula 1 - O papel das corregedorias na prevenção dos desvios de conduta .......... 11 Aula 2 - Fatores intrínsecos que podem levar à corrupção ................................... 16 Aula 3 - A importância da fiscalização proativa e preventiva do serviço policial .... 20 Aula 4 - Fundamentos da atividade correcional ..................................................... 23 Finalizando ............................................................................................................ 30 Módulo II - ESTRUTURA CORRECIONAL E EDUCACIONAL COMO OBJETO DE PREVENÇÃO AO DESVIO DE CONDUTA............................................................... 32 Apresentação do módulo ....................................................................................... 32 Objetivos do módulo .............................................................................................. 32 Estrutura do módulo .............................................................................................. 33 Aula 1 - Compreendendo a estrutura correcional .................................................. 34 Aula 2 - Analisando a legislação à luz da atuação dos servidores lotados nos órgãos correcionais ........................................................................................................... 40 Aula 3 - Conceituando os temas que devem ser objeto de estudo nos cursos de formação ................................................................................................................ 45 3.1 Temas importantes para a criação de uma mentalidade crítica e um comportamento técnico, ético e imparcial por parte dos agentes de Segurança Pública: .............................................................................................................. 47 4 3.2 Noções de inteligência aplicadas à atividade correcional: ........................... 60 Aula 4 - Evolução do conceito de imagem institucional e a sua construção na atualidade .............................................................................................................. 63 Finalizando ............................................................................................................ 65 Módulo III - IMAGEM INSTITUCIONAL, CONSEQUÊNCIAS PRÁTICAS E JURÍDICAS DOS DESVIOS DE CONDUTA E INTRODUÇÃO ÀS PRÁTICAS CORRECIONAIS 66 Apresentação do módulo ....................................................................................... 66 Objetivos do módulo .............................................................................................. 66 Estrutura do módulo .............................................................................................. 67 Aula 1 - O comprometimento da Imagem Institucional pela prática dos desvios de conduta .................................................................................................................. 68 Aula 2 - As implicações jurídicas decorrentes do cometimento de crimes por parte dos agentes de segurança pública ........................................................................ 72 Aula 3 - Os Processos Administrativos Disciplinares ............................................. 75 Aula 4 - Introdução às práticas correcionais .......................................................... 81 Finalizando ............................................................................................................ 86 Referências Bibliográficas ......................................................................................... 87 5 Apresentação do Curso Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo ao Curso Combate à Corrupção - Gestão de Pessoal e Corregedorias. Este curso aborda um tema que está no topo da agenda das instituições públicas e privadas que é o enfrentamento da corrupção. A corrupção na seara pública deteriora a atuação do órgão onde ela se desenvolve comprometendo a devida prestação do serviço público com prejuízo fulcral da observância dos princípios que orientam a administração pública, notadamente a legalidade e a moralidade. A corrupção faz com que o aparato de prestação de serviço público seja instrumentalizado em benefício de conveniências privadas escusas ao arrepio do interesse da coletividade. Neste sentido, é fundamental que haja a promoção de medidas de combate à corrupção. Isso, tanto sob um viés preventivo, quanto repressivo. E este combate se mostra mais importante na esfera da polícia. A polícia que é instituição fundamental para o Estado democrático de direito deve ser sempre preservada de iniciativas que pervertem a sua atuação na sociedade. Como nos ensina o professor Ricardo BALESTRERI (1998, p. 10) “Zelar pela ordem pública é, assim, acima de tudo, dar exemplo de conduta fortemente baseada em princípios. Não há exceção quando tratamos de princípios, mesmo quando está em questão a prisão, guarda e condução de malfeitores. Se o policial é capaz de transigir nos seus princípios de civilidade, quando no contato com os sociopatas, abona a violência, contamina-se com o que nega, conspurca a normalidade, confunde o imaginário popular e rebaixa-se à igualdade de procedimentos com aqueles que combate.” Assim, nesse curso vamos estudar e analisar a relevância desta confrontação no âmbito policial. Esta abordagem pedagógica será realizada por meio dos seguintes tópicos: 1. lançando luzes sobre atuação das Corregedorias Policiais, 6 2. avançando sobre o estudo da importância de medidas de prevenção da corrupção na esfera das polícias, notadamente as iniciativas de fiscalização da atividade policial, 3. desenvolvendo análise sobre a atividade correcional na esfera policial, 4. estudando sobre sistemas de controle e gestão da atividade policial, 5. perquirindo sobre a capacitação do agente policial visando a adoção de comportamentos que viabilizem uma ação técnica, segura e com respaldo jurídico, 6. examinado sobre a imperiosa necessidade de inclusão do tema corrupção policial nos cursos de formação, 7. esquadriando a imagem policial junto à opinião pública. Estes tópicos serão abordados ao longo de três módulos de estudodivididos em quatro por módulo, da seguinte forma: Módulo I Medidas de correição na prevenção e repressão à corrupção Aula 1 O papel das corregedorias na prevenção dos desvios de conduta; Aula 2 Fatores intrínsecos que podem levar à corrupção; Aula 3 A importância da fiscalização proativa e preventiva do serviço policial; e Aula 4 Fundamentos da atividade correcional. Módulo II Estrutura correcional e educacional como objeto de prevenção ao desvio de conduta Aula 1 Compreendendo a estrutura correcional; Aula 2 Analisando a legislação à luz da atuação dos servidores lotados nos órgãos correcionais; Aula 3 Conceituando os temas que devem ser objeto de estudo nos cursos de formação; e Aula 4 Evolução do conceito de imagem institucional e a sua construção na atualidade. Módulo III Imagem Institucional, consequências práticas e jurídicas dos desvios de conduta e introdução às práticas correcionais 7 Aula 1 O comprometimento da Imagem Institucional pela prática dos desvios de conduta; Aula 2 As implicações jurídicas decorrentes do cometimento de crimes por parte dos agentes de segurança pública; Aula 3 Os Processos Administrativos Disciplinares; e Aula 4 Introdução às práticas correcionais. Tenha um excelente curso!!! Objetivos do Curso O curso de combate à corrupção tem por escopo ensejar aos senhores conhecimentos que sejam hábeis a permitir o alcance de 8 objetivos pedagógicos (estratégicos), a saber: Compreender a relevância do papel das corregedorias no âmbito das instituições policiais; Analisar os fatores que influenciam na prática da corrupção nos corpos de polícia; Entender a importância da fiscalização do trabalho policial na prevenção de desvios de condutas; Reconhecer quais são os fundamentos da atividade correcional na esfera policial; Compreender a importância dos órgãos de controle da atividade policial; Analisar a legislação vigente com o objetivo de respaldar uma atuação amparada nos preceitos legais; Conceituar os assuntos que devem ser objeto de estudo nos cursos de formação policial; e Reconhecer a importância da construção de uma imagem positiva junto a opinião pública. 8 Estrutura do Curso Este curso compreende os seguintes módulos: Módulo 1 - Medidas de correição na prevenção e repressão à corrupção. Módulo 2 - Estrutura correcional e educacional como objeto de prevenção ao desvio de conduta. Módulo 3 - Imagem Institucional, consequências práticas e jurídicas dos desvios de conduta e introdução às práticas correcionais. 9 Módulo I - MEDIDAS DE CORREIÇÃO NA PREVENÇÃO E REPRESSÃO À CORRUPÇÃO Ouça o ÁUDIO1 Apresentação do módulo Prezado discente, vamos a partir de agora iniciar o estudo do curso Combate à Corrupção. Neste primeiro módulo será estudado os seguintes temas: ● Atuação das corregedorias de polícia. ● Elementos intrínsecos às organizações policiais que podem levar à prática da corrupção. ● A fiscalização da atividade policial como instrumento de prevenção de desvio de condutas. ● Atividade correcional na polícia. Estes temas serão abordados ao longo de 4 (quatro) aulas, a saber: Aula 1 - O papel das corregedorias na prevenção dos desvios de conduta; Aula 2 - Fatores intrínsecos que podem levar à corrupção; Aula 3 - A importância da fiscalização proativa e preventiva do serviço policial; e Aula 4 - Fundamentos da atividade correcional. Ao final será apresentado um estudo de caso, onde se pode verificar como os tópicos acima referidos se materializam em um cenário fático. Objetivos do módulo Este módulo tem por objetivos: 10 Compreender a relevância do papel das corregedorias no âmbito das instituições policiais; Analisar os fatores que influenciam na prática da corrupção nos corpos de polícia; Entender a importância da fiscalização do trabalho policial na prevenção de desvios de condutas; e Reconhecer quais são os fundamentos da atividade correcional na esfera policial. Estrutura do módulo Este módulo compreende as seguintes aulas: Aula 1 - O papel das corregedorias na prevenção dos desvios de conduta. Aula 2 - Fatores intrínsecos que podem levar à corrupção. Aula 3 - A importância da fiscalização proativa e preventiva do serviço policial. Aula 4 - Fundamentos da atividade correcional. 11 Aula 1 - O papel das corregedorias na prevenção dos desvios de conduta Prezados, o Estado moderno, enquanto entidade política organizada, que viabiliza de forma ordenada a vida em sociedade da civilização humana, detém o monopólio do uso da força. Isso, seja do ponto de vista doméstico (segurança interna), seja do ponto de vista da defesa do território (segurança externa). Assim, as Forças Armadas zelam precipuamente pela incolumidade da soberania do Estado promovendo a manutenção da integridade nacional e, por seu turno, as Forças Policiais zelam pela manutenção da ordem interna prevenindo e reprimindo ações delituosas que trazem desequilíbrio ao tecido social. Neste sentido, em nosso país, a Constituição Federal de 1988 a nossa “Constituição Cidadã”, como no dizer do saudoso Ulisses Guimarães, disciplina o emprego das Forças Armadas e das Forças Policiais ordenando que as primeiras “destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais” e às segundas destinam-se à “preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio”. E, por via de consequência, essas destinações implicam em instrumentalização da força, inclusive, quando necessário, de natureza letal. SAIBA MAIS! Vide o que determina a Constituição Federal nos seus art. 142 e 144. O art. 142, caput, CF/88 ordena: “As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.” De outro lado, o art. 144, caput, CF/88 determina: “A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:” 12 Por conseguinte, tanto as Forças Armadas quanto as Forças Policiais, enquanto instituições que exercem o controle da soberania e o controle social, respectivamente, através do emprego da força, devem também estar submetidas, de maneira irrenunciável, a formas de controle. Se assim não for, tais organizações ficam passíveis de serem instrumentalizadas de forma ilegal em prol das conveniências de gestores políticos ou por seus próprios membros e tudo isso ao arrepio do interesse da coletividade. É neste contexto que surge a relevância do controle das instituições policiais. Em verdade, é possível sustentar que um Corpo de Polícia sem controles acaba atuando, por assim dizer, como se um “bando armado” fosse. A Polícia, devido à sua relevante atuação na sociedade promovendo a prevenção e a repressão criminais, quando é empregada sem observância de limites normativos e éticos, invariavelmente, passa a funcionar sob uma lógica, que se pode dizer perversa, hábil a desrespeitar direitos e garantias fundamentais e a inobservar mandamentos legais. Ou seja, instâncias de controle, notadamente de controle interno (interna corporis) são essenciais, diria mais, são imprescindíveis, para que o monopólio da força, em âmbito doméstico, exercido pelas Polícias seja exercido de forma adequada sempre em benefício da sociedade. Neste passo, se agiganta o papel da Corregedoria de Polícia no contexto das instituições policiais. Tais estruturas administrativassão fundamentais para zelar pelo controle interno das Forças Policiais garantindo a integridade dos Corpos de Polícia, bem como garantindo que a Instituição Policial atue nos limites da lei e da probidade, cumprindo as suas atribuições legais e obedecendo os princípios constitucionais da Administração Pública, conforme o que determina o art. 37, caput, CF/88, notadamente: 13 Figura 1: Princípios constitucionais da Administração Pública Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen. Segundo SILVA, José Afonso (2015), Administração Pública: “A Administração Pública é informada por diversos princípios gerais, destinados, de um lado, a orientar a ação do administrador na prática dos atos administrativos e, de outro lado, a garantir a boa administração, que se consubstancia na correta gestão dos negócios públicos e no manejo dos recursos públicos (dinheiro, bens e serviços) no interesse coletivo, com o que também se assegura aos administrados o seu direito a práticas administrativas honestas e probas.” (SILVA, 2015, p. 675). A Corregedoria de Polícia tem, portanto, o condão de proporcionar à instituição policial (a) equilíbrio e (b) legitimidade. Ela enseja equilíbrio na medida em que previne e reprime condutas ilegais (indisciplinadas) e antiéticas de seus membros viabilizando 14 um ambiente corporativo policial sadio. Ela, da mesma forma, enseja legitimidade à atuação da Polícia na medida em que confere respaldo legal e ético às suas ações promovidas no seio da coletividade. Nesta mesma linha de pensamento, as Corregedorias de Polícia, no cumprimento das suas atribuições são hábeis a atuar de duas formas em relação às condutas de seus membros: (a) de maneira repressiva e (b) de maneira preventiva. As medidas repressivas avançam sobre condutas já praticadas que implicam em transgressões disciplinares. Aqui há a prática de tipos disciplinares que constam em textos normativos como os que estão elencados na Lei 4878/1965, que é o estatuto disciplinar da Polícia Federal (PF) do Brasil, que traz em seu art. 43, entre outras condutas, por exemplo, o seguinte: “XX - Deixar de cumprir ou de fazer cumprir, na esfera de suas atribuições, as leis e os regulamentos;” “XLVII - Deixar de concluir, nos prazos legais, sem motivo justo, inquéritos policiais ou disciplinares, ou, quanto a estes últimos, como membro da respectiva comissão, negligenciar no cumprimento das obrigações que lhe são inerentes;” A atividade repressora das Corregedorias de Polícia, implicam em: a) Apuração das condutas desviadas através de Sindicâncias e Processos Administrativos Disciplinares e, em havendo elementos de provas e observância do devido processo legal, na esteira de contraditório e ampla defesa, b) Ações de capacitação dos policiais em todos os níveis de atuação (estratégico, tático e operacional), em prol de um melhor entendimento sobre seus limites de atuação institucional à luz da legalidade. 15 Contudo, mais importante que reprimir condutas já desviadas é evitar o desvio de condutas. Vale dizer, muito melhor que reprimir um mal feito é prevenir que o mal seja feito. Dessa forma, as Corregedorias de Polícia também exercem o imprescindível papel institucional de prevenção de desvios de conduta. Sob este viés as Corregedorias de Polícia devem promover ações que visam à antecipação de práticas de condutas de natureza disciplinar. A prevenção dos desvios de conduta pode ser levada a efeito através de ações de caráter pedagógico de natureza orientativa e fiscalizatória. São, assim, medidas não punitivas com o escopo de aprendizagem dos quadros policiais. As ações de orientação dizem respeito às medidas que visam nortear as condutas dos policiais, para que os mesmos não incidam na prática de condutas de natureza disciplinar. Estas ações podem ser materializadas, por exemplo, através de: a) Campanhas de conscientização nas Unidades Policiais para a observância de condutas de acordo com a regulamentação disciplinar da instituição; e b) Aplicação de sanções disciplinares na medida da culpabilidade do réu que podem ensejar desde advertências até a “penal capital” do servidor público que é a demissão. De outro lado, as ações de fiscalização, são medidas de exame de condutas para verificação de conformidade com o regramento legal. Através da fiscalização permanente e sistemática a instituição policial é hábil a manter sob controle condutas e procedimentos policiais ensejando mais e melhores oportunidades de ajustes e aperfeiçoamento da atividade policial. As ações de fiscalização serão analisadas com mais profundidade mais à frente em nossos estudos. 16 Aula 2 - Fatores intrínsecos que podem levar à corrupção A corrupção é uma conduta criminosa que atinge a Administração Pública e, por via de consequência, toda a coletividade. Ela pode se manifestar tanto de forma endógena, por iniciativa de funcionários públicos (corrupção passiva) em razão da função pública, quanto de forma exógena, por iniciativa de indivíduos particulares (corrupção ativa). Nas suas duas formas, a corrupção subverte a Administração Pública em benefício de interesses privados ensejando (a) a execução de ato de ofício em desacordo com a lei, (b) a não execução (omissão) de ato de ofício ou (c) o retardamento da prática de atos de ofício. E isso é realizado mediante a consecução de condutas que caracterizam atos de corrupção nos termos do nosso Código Penal (CP). Veja o que determina o art. 317, caput, CP: “Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.” Veja o que ordena o art. 333, caput, CP: “Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.” 17 A corrupção passiva se manifesta através de: a) Solicitação de vantagem indevida, b) Recebimento de vantagem indevida, c) Aceite de promessa de vantagem indevida ou, d) Cessão a pedido ou influência. Por outro lado, as condutas que caracterizam a perpetração da corrupção ativa são: a) O oferecimento de vantagem indevida ou, b) A promessa de vantagem indevida. É preciso ainda frisar que para caracterizar a prática do ato de corrupção não é necessário o recebimento da vantagem indevida. Basta solicitá-la, aceitá-la, oferecê- la ou prometê-la para que se tenha a consecução de uma conduta corrupta conforme a nossa lei penal incriminadora. Na mesma medida, também é necessário esclarecer que a vantagem indevida, objeto material dos crimes de corrupção passiva e corrupção ativa, como ensina Bento de Faria, apud Rogério Greco “pode ser expressa por dinheiro ou qualquer outra utilidade, seja ou não de ordem patrimonial, proporcionando um lucro ou proveito”. Feitas essas considerações vestibulares, para melhor entendermos o fenômeno criminoso da corrupção, vamos avançar sobre o seu estudo no âmbito das instituições policiais, lançando luzes precipuamente sobre os fatores institucionais que podem ensejar a prática de atos de corrupção. Deveras, toda a Administração Pública está sujeita à prática de crimes e entre estes a corrupção. E neste contexto os órgãos do poder público que são responsáveis pela condução da prevenção e repressão criminais estão mais suscetíveis a estes tipos de ações delituosas como os Corpos de Polícia, o ministério público e o poder judiciário. Isso, devido aos interesses que os indivíduos que se encontram em conflito com a lei possuem em relação a estas instâncias de poder. 18 Desse modo, desde a perspectiva policial, é imperiosose identificar, para fins de prevenção, quais fatores podem ser observados nas instituições policiais e que são fragilidades, em tese, em prol da prática de atos de corrupção. Ao se promover esta análise ensejam-se oportunidades de aperfeiçoamentos dos mecanismos de integridade da polícia e inibem-se os fatores que podem levar à corrupção. Neste passo, os seguintes elementos podem ser apontados como pontos de fragilidade institucional que incrementam a possibilidade de perpetração do crime de corrupção, sem prejuízo da incidência de outros elementos de fraqueza institucional: a) Leniência das instâncias de comando na promoção de controle interno; b) Falta de estrutura material das corregedorias de polícia para promoção de prevenção e repressão de desvios de conduta; e c) Ineficácia e ineficiência dos procedimentos e processos de apuração e sanção de condutas desviadas. Figura 2: Imagem ilustrativa que exprime os fatores intrínsecos que podem levar à corrupção Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen. 19 Medidas de controle interno, que promovem a manutenção da integridade das organizações, para que sejam eficazes, demandam do comando do órgão um patrocínio institucional (patrocínio político). Neste sentido, a leniência das instâncias de comando na promoção de controle interno fragiliza as medidas de controle, sejam preventivas, sejam repressivas, e dão ensejo a oportunidade de desvios de conduta. E neste cenário atos de corrupção podem encontrar um ambiente propício para serem perpetrados. Assim, é preciso que as lideranças institucionais deem respaldo e suporte ao enfrentamento de condutas desviadas, notadamente as que são de alta gravidade como a prática de corrupção. Sem este amparo dos altos escalões de chefia, os agentes que atuam no controle interno passam a atuar como se “Dom Quixotes” fossem “lutando contra moinhos de vento'' que ascende da obra de Cervantes. Veja o que escreveu Miguel de CERVANTES na clássica D. Quixote, Pág, 52: Quando nisto iam, descobriram trinta ou quarenta moinhos de vento, que há naquele campo. Assim que D. Quixote os viu, disse para o escudeiro: — A aventura vai encaminhando os nossos negócios melhor do que o soubemos desejar; porque, vês ali, amigo Sancho Pança, onde se descobrem trinta ou mais desaforados gigantes, com quem penso fazer batalha, e tirar- lhes a todos as vidas, e com cujos despojos começaremos a enriquecer; que esta é boa guerra, e bom serviço faz a Deus quem tira tão má raça da face da terra. Além do suporte, por assim dizer de ordem moral, do comando da instituição, as instâncias de controle interno necessitam de suporte de ordem material para bem enfrentar as demandas de controle interno. É imprescindível, minimamente, (a) a constituição de uma equipe que seja motivada e capacitada para bem conduzir tecnicamente medidas de controle interno, de cunho preventivo e repressivo; (b) a viabilização de estrutura física e de recursos materiais, como espaços físicos e meios tecnológicos, por exemplo, para viabilização dos trabalhos do aparato de controle interno corporativo. 20 Outrossim, caso o pior cenário venha à tona, ou seja, um que haja falta de estrutura material das corregedorias de polícia para promoção de prevenção e repressão de desvios de conduta, a probabilidade de haver a incidência de atos de corrupção se agiganta. Uma corregedoria de atuação meramente simbólica nada resolve. Ao revés, ela desempenha um papel de engodo que só colabora para o descrédito institucional e a fragilização dos mecanismos de integridade institucional. Por fim, mas não por menos, como fator intrínseco que pode levar à corrupção, notadamente no âmbito dos Corpos de Polícia, temos a ineficácia e ineficiência dos procedimentos e processos de apuração e sanção de condutas desviadas. No Estado democrático de direito só é possível haver a devida promoção de controles institucionais, sejam preventivos, sejam repressivos, através da promoção de procedimentos e processos legais e legítimos. Neste sentido, é preciso que as fiscalizações, as investigações, as apurações, os julgamentos e as aplicações de sanções sejam sempre levadas a efeito (a) através do emprego da melhor técnica, (b) com observância da dignidade humana e (c) com respeito incondicional à lei. A ausência de qualquer destes elementos, enseja a fragilização dos procedimentos e processos instrumentalizados para afastar (prevenindo ou reprimindo) atos de corrupção. A inobservância da lei, por exemplo, pode ensejar a anulação judicial de todo procedimento apura tório. E, por vezes, Policiais que não honram a farda e o distintivo que ostentam executando atos de corrupção, acabam por se beneficiar deste tipo de fragilidade institucional permanecendo nos quadros do efetivo policial mesmo tendo praticado graves atos de desvio de conduta. Aula 3 - A importância da fiscalização proativa e preventiva do serviço policial Como já sustentamos neste nosso curso de combate à corrupção, melhor que reprimir atos de corrupção, é prevenir que tais atos sejam praticados. Com efeito, o esforço de prevenção à corrupção deve ser constante e sistemático. Atuar antes do mal feito, é crucial para promoção da integridade institucional. Agindo antes da ocorrência do desvio de conduta, a instituição poderá: 21 a) Garantir o incremento da sua incolumidade organizacional; b) Diminuir o desgaste natural que procedimentos apuratórios geram no seio dos seus quadros funcionais; e c) Prevenir de forma constante que desvios de conduta sejam levados a efeito. Neste cenário, percebemos que no contexto dos Corpos de Polícia a fiscalização do trabalho policial é hábil a promoção da desejada prevenção da prática de atos de corrupção. Mais ainda, uma fiscalização proativa e, naturalmente preventiva, é instrumento adequado para o afastamento de qualquer ato que represente desvio de conduta, das leves até as mais graves, como as que representam a prática de crimes como a corrupção. No contexto do controle interno institucional, especialmente na esfera da atividade policial, a fiscalização representa a verificação do desempenho das funções dos agentes da lei, em conformidade com as normas internas e com a legislação vigente. A fiscalização, portanto, é uma abordagem preventiva e proativa. Isso, enquanto ela acontece antes da prática das condutas desviadas e, por consequência, representa uma antecipação ao ato de corrupção, bem como a qualquer outro ato antinormativo. Nesta esteira, podemos sustentar que a importância do supervisionamento do trabalho policial pode ser compreendida sob dois vieses, a saber: a) Instrumento de legitimação da execução da missão policial; e b) Mecanismo dissuasório de prática de condutas ilícitas. A fiscalização enseja ao policial o sentimento de que sua conduta está sob acompanhamento. Dessa forma, sob controle o policial passa a ter ao seu lado o respaldo institucional no desempenho de suas funções. A atuação policial sob supervisionamento se legitima em termos institucionais. Ela labora, portanto, em benefício do bom cumprimento da missão policial. Ou seja, a fiscalização é uma aliada do policial que é diligente e probo na execução das suas funções de aplicação da lei. Neste sentido, em havendo intercorrências na consecução da missão policial, as 22 instâncias de comando e controle, através da inspeção proativa tem como atuar imediatamente garantindo uma pronta resposta institucional para solvência do problema, posto e pondo a salvo a conduta do policial executor. De outro lado, a fiscalização do trabalho policial é hábil a fomentar um ambiente dissuasório em relação à prática de condutas ilícitas. Na verdade, essa é uma circunstância natural ao comportamento humano. Figura 3: Pense nisso Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen. De outrolado, se alguém nos observa, naturalmente nos preocupamos em nos comportar melhor. Isso, para atender as expectativas dos padrões de conduta que nos são exigidos. Neste sentido, se o policial sabe que há na sua organização mecanismos efetivos de fiscalização de seu trabalho, que o coloca sob observação e controle sistemáticos, ele como regra, se sente inibido para a prática de condutas indevidas. É neste passo que o supervisionamento do trabalho policial, de forma proativa e preventiva, se mostra mais eficaz para afastar da instituição, a perpetração de crimes como o de corrupção. Por óbvio, a fiscalização do trabalho policial não afasta em sua totalidade a prática de condutas antinormativas. Em verdade, não há mecanismos institucionais que garantam que haja 100% o arredamento do desvio de condutas. Mas, a fiscalização viabiliza um ambiente corporativo sob controle, sendo, portanto, 23 fundamental para termos uma instituição policial arredada de condutas ilícitas. Uma boa prática de inspeção proativa do trabalho policial, vem da Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP) através da atuação da “Patrulha Disciplinar Ostensiva” da Corregedoria da PMESP, que atua promovendo ações de controle de forma eficiente da atividade policial, desenvolvida por Policiais Militares em serviço no Estado de São Paulo. Aula 4 - Fundamentos da atividade correcional A atividade correcional é essencial para o bom desenvolvimento da prestação do serviço público. Ela é um instrumento para o enfrentamento de desvios de condutas ilícitas na Administração Pública. Contudo, ela não é a primeira linha de ação de controle interno. A primeira fronteira sempre deve ser o desenvolvimento de medidas de prevenção da prática de desvios de conduta. De novo, enfatizamos: prevenir é sempre melhor que remediar. Por seu turno, a atividade correcional (atividade de corrigir, de reparar um erro) no âmbito do serviço público, vem depois. Isso, quando as iniciativas preventivas falham em evitar que a má conduta funcional seja praticada. Ela possui, portanto, uma essência reparadora. É uma iniciativa institucional que busca atuar como meio de conserto do mal que já foi praticado. A atividade correcional decorre de um dos poderes inerentes à Administração Pública, que é o Poder Disciplinar. A Professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro ensina que “Poder disciplinar é o que cabe à Administração Pública para apurar infrações e aplicar penalidades aos servidores públicos e demais pessoas sujeitas à disciplina administrativa”. Veja o que conclui Prof. Maria Sylvia Zanella Di Pietro (in Direito Administrativo, Rio de Janeiro: Editora Forense, 2017, p. 165), sustentando que: “A Administração não tem liberdade de escolha entre punir e não punir, pois, tendo conhecimento de falta praticada por servidor, tem necessariamente que instaurar o procedimento adequado para sua apuração e, se for o caso, aplicar a pena cabível.” 24 Com efeito, podemos sustentar que a atividade correcional, notadamente no âmbito policial, é sustentada minimamente pelo intermédio de 3 (três) pilares (iniciativas mais significativas), que são sustentados pelas Corregedorias, quais sejam: I) Detecção (investigação); II) Apuração (processamento); e III) Julgamento de condutas que são de interesse disciplinar da Administração Pública. Podemos utilizar a seguinte figura ilustrativa em prol do nosso raciocínio sobre este tema: Figura 4: Imagem ilustrativa que representa os pilares que sustentam a atividade correcional Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen. Em termos normativos, temos como referência sobre a regulamentação da Atividade Correcional, a Portaria da Controladoria Geral da União (CGU) Nº 335 de 30 de maio de 2006. Este diploma normativo regulamenta o Sistema de Correição do Poder Executivo Federal e versa, por exemplo, sobre a instauração e condução de procedimentos correcionais. Entre estes procedimentos, chamamos atenção para a Sindicância Investigativa (SI) ou Preparatória e para o Processo Administrativo 25 Disciplinar (PAD), que bem expressam os pilares que sustentam o edifício institucional da Atividade Correcional. Por certo, pode haver variação de denominação de órgãos e de procedimentos, a depender da regulamentação estadual e institucional, mas a essência da atividade correcional se replica em toda a Administração Pública. E com mais razão no âmbito policial, onde a demanda por controle interno se faz mais relevante, devido à instrumentalização da força em prol da prevenção e repressão criminais da democracia. Na prática Neste passo, temos o pilar da detecção operacionalizado pelas Corregedorias de Polícia, através das suas unidades de apuração administrativa interna. Na Polícia Federal (PF) há, por exemplo, os Núcleos de Disciplina (NUDIS) que se vinculam às Corregedorias Regionais de Polícia (COR) no âmbito das Superintendências Regionais da PF, espalhadas por todas as unidades da federação. Assim, quando chega ao conhecimento da Corregedoria a notícia da prática de uma conduta, em tese, disciplinarmente típica (com descrição em um estatuto disciplinar) e demanda esclarecimento preliminar para estabelecer se há elementos fáticos, mínimos que justificam a inauguração, seja de uma Sindicância Acusatória (SA) ou Punitiva, ou de um Processo Administrativo Disciplinar, é pertinente que se promova uma investigação vestibular. Veja o que traz as definições normativas do art. 4º da Portaria da Controladoria Geral da União (CGU) Nº 335 de 30 de maio de 2006: “Art. 4º Para os fins desta Portaria, ficam estabelecidas as seguintes definições: I – investigação preliminar: procedimento sigiloso, instaurado pelo Órgão Central e pelas unidades setoriais, com objetivo de coletar elementos para verificar o cabimento da instauração de sindicância ou processo 26 administrativo disciplinar; II – sindicância investigativa ou preparatória: procedimento preliminar sumário, instaurada com o fim de investigação de irregularidades funcionais, que precede ao processo administrativo disciplinar, sendo prescindível de observância dos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa; III – sindicância acusatória ou punitiva: procedimento preliminar sumário, instaurada com fim de apurar irregularidades de menor gravidade no serviço público, com caráter eminentemente punitivo, respeitados o contraditório, a oportunidade de defesa e a estrita observância do devido processo legal; IV – processo administrativo disciplinar: instrumento destinado a apurar responsabilidade de servidor público federal por infração praticada no exercício de suas atribuições, ou que tenha relação com as atribuições do cargo em que se encontre investido; V – sindicância patrimonial: procedimento investigativo, de caráter sigiloso e não-punitivo, destinado a apurar indícios de enriquecimento ilícito por parte de agente público federal, à vista da verificação de incompatibilidade patrimonial com seus recursos e disponibilidades; VI – inspeção: procedimento administrativo destinado a obter diretamente informações e documentos, bem como verificar o cumprimento de recomendações ou determinações de instauração de sindicância, inclusive patrimonial, e processos administrativos disciplinares, a fim de aferir a regularidade, a eficiência e a eficácia dos trabalhos.” Forma de detecção mais notória é a Investigação Preliminar Administrativa, que pode ser materializada, por exemplo, através de uma Sindicância Investigativa. Este procedimento busca elementos de prova, que sejam ao menos indícios relativos, tais como: a) Autoria da conduta típica disciplinar; b) Existência material da prática do tipo disciplinar; e 27 c) Circunstâncias que traduzem o cenário fático que expressam a conduta ilícita.Dessa forma, há uma perspectiva tridimensional da investigação preliminar desenvolvida pelos órgãos correcionais, para se estabelecer se há ou não, justa causa para inauguração de procedimento que tenha força punitiva, SA ou PAD. Essa perspectiva tridimensional pode também ser materializada através de uma figura ilustrativa, que nos auxilia na construção do nosso raciocínio, da seguinte forma: Figura 5: Perspectiva Tridimensional da Investigação Preliminar Fonte: do conteudista/SCD/EaD/Segen. De outro lado, em havendo a incidência de elementos de prova que justificam a construção de uma acusação formal, em face de um funcionário público, que na nossa seara de raciocínio é um policial no exercício de sua função, ou em razão dela, haverá a inauguração de procedimento acusatório, sempre com observância do devido processo legal, com obediência dos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa. Estes são princípios irrenunciáveis de estatura constitucional, nos termos do art. 5º, LV, da Carta Magna, nos seguintes termos: “LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;” 28 Dessa forma, o procedimento apuratório é levado a termo, por meio de: a) Imputação formal de uma conduta de natureza disciplinar (acusação); b) Exercício de ampla defesa, que se manifesta através de autodefesa, englobando o direito do imputado ao silêncio e de não se produzir prova contra si, bem como de defesa técnica, através de advogado devidamente habilitado, do acusado; c) Exercício de contraditório com desafogada oportunidade de produção de provas e de alegações e contra alegações; e d) Julgamento levando em conta os elementos de prova carreados no procedimento sempre sob os auspícios do due process of law. Por conseguinte, após a consecução da apuração dos fatos, com inarredável prestígio à ampla defesa e ao contraditório, deve ser levado a efeito pela competente Comissão Processante, e sempre de forma fundamentada, o julgamento da conduta de interesse disciplinar colocada sob exame. Tal fundamentação há de ser realizada de acordo com: a) Ditames da Constituição da República; b) Mandamentos legais; e c) Provas produzidas nos autos do procedimento apuratório. Neste diapasão, se houver um juízo de valor positivo em relação aos elementos probatórios hábeis a indicar a prática da conduta ilícita imputada sob apuração, vem à tona a condenação do imputado. De outro lado, por óbvio, se a Comissão Processante à luz das provas produzidas, seja nos autos de uma Sindicância Acusatória ou Punitiva, ou nos autos de um Processo Administrativo Disciplinar, formar um juízo de valor no sentido de que a conduta sob exame não representa a prática de uma transgressão disciplinar, haverá a absolvição do acusado. 29 Estudo de Caso Para fins de observarmos em concreto a relevância da atuação da Corregedoria Policial em face de desvios de condutas de policiais, é apresentado uma matéria jornalística publicada em 8 janeiro de 2021, na edição eletrônica do Jornal “O Vale”, que traz a exposição de uma ação da Corregedoria da Polícia Militar do Estado de São Paulo, na repressão de grave desvio de conduta de policiais deste respeitada e centenária organização policial. MP e Corregedoria deflagram operação que investiga envolvimento de PMs em tráfico de drogas em São José dos Campos. O Ministério Público e a Corregedoria da Polícia Militar deflagraram nesta sexta-feira (8), uma operação cujo objetivo é desarticular uma organização criminosa que seria formada por policiais militares e traficante de drogas na região sul de São José dos Campos. De acordo com o MP, a operação busca cumprir 25 mandados de busca e apreensão expedidos pela 3ª Auditoria da Justiça Militar do Estado. As investigações tiveram início com a instauração de inquéritos policiais militares, pelo 46º Batalhão e contaram com interceptações telefônicas. Nelas, teriam sido evidenciados indícios de crimes praticados por policiais, que favoreciam traficantes de drogas no bairro Campo dos Alemães. O MP apontou ainda que houve, com autorização judicial, compartilhamento de provas para que o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate do Crime Organizado), passasse a investigar a participação dos traficantes de drogas identificados pelas provas produzidas nos respectivos IPMs. A operação contou com a participação de promotores de Justiça, 119 policiais militares da Corregedoria da PM e 111 policiais militares do Batalhão de Choque da PM. Em nota, a Polícia Militar disse que possui uma Corregedoria que, além de investigar e proteger policiais, caracteriza-se pela sua proatividade no trabalho de fiscalização, seja pelas ações da Patrulha Disciplinar 30 Ostensiva, ou por meio de ações de fiscalização, como as executadas em São José dos Campos. "Tais ações de fiscalização, portanto, sempre existiram e continuarão a ser feitas, com foco no fortalecimento da disciplina e na correção de atitudes. Trabalhos como estes garantem a qualidade dos trabalhos da Polícia Militar do Estado de São Paulo", diz nota. Finalizando Neste módulo, você aprendeu que: No Módulo I, tratamos em linhas gerais da relevância da atuação das corregedorias no contexto dos Corpos de Polícia. Isso enquanto as Corregedorias de Polícia são hábeis a ensejar à instituição policial, equilíbrio e legitimidade. Equilíbrio, pois previne e reprime condutas ilegais (indisciplinadas) e antiéticas dos policiais, proporcionando um ambiente corporativo sadio. De outro lado, mas no mesmo passo, a atuação da Corregedoria Policial confere legitimidade à atuação da Polícia, tendo em vista que confere respaldo legal e ético à sua atuação institucional, no contexto social em que está inserida. Abordamos também, o estudo dos elementos intrínsecos (nevrálgicos) às organizações policiais, que podem levar à perpetração de atos de corrupção. Esses elementos representam pontos de fragilidade institucional, sem prejuízo de outros: a) Leniência das instâncias de comando na promoção de controle interno; b) Falta de estrutura material das corregedorias de polícia para promoção de prevenção e repressão de desvios de conduta; e c) Ineficácia e ineficiência dos procedimentos e processos de apuração e sanção de condutas desviadas. 31 Outra questão relevante que estudamos nesse módulo foi, a fiscalização da atividade policial como instrumento de prevenção de desvio de condutas nas Instituições policiais. Desse modo, podemos observar que a importância da fiscalização do trabalho policial, pode ser compreendida através de dois aspectos essenciais: a) Instrumento de legitimação da execução da missão policial; e b) Mecanismo dissuasório de prática de condutas ilícitas. Por fim, mas não menos importante, desenvolvemos estudos do nosso curso com tema da atividade correcional na polícia. Neste sentido, é pertinente que nós sustentemos que a atividade correcional, notadamente no âmbito policial, é desenvolvida ao menos, por intermédio de 3 (três) pilares (iniciativas mais significativas), sustentados pelas Corregedorias, que são: a) Detecção (investigação); b) Apuração (processamento); e c) Julgamento de condutas que são de interesse disciplinar da Administração Pública. 32 Módulo II - ESTRUTURA CORRECIONAL E EDUCACIONAL COMO OBJETO DE PREVENÇÃO AO DESVIO DE CONDUTA Ouça o ÁUDIO2 Apresentação do módulo Prezado discente, vamos iniciar o estudo do segundo módulo do curso Combate à Corrupção, onde serão descritos e discutidos a estrutura correcional, análise de legislação, temas de estudos em capacitações de formaçãona área de segurança pública, bem como a evolução de conceitos relacionados a imagem institucional. Objetivos do módulo Este módulo tem por objetivos: Compreender a importância dos órgãos de controle da atividade policial; Analisar a legislação vigente com o objetivo de respaldar uma atuação amparada nos preceitos legais; Conceituar os assuntos que devem ser objeto de estudo nos cursos de formação policial; e Reconhecer a importância da construção de uma imagem positiva junto à opinião pública. 33 Estrutura do módulo Este módulo compreende as seguintes aulas: Aula 1 - Compreendendo a estrutura correcional. Aula 2 - Analisando a legislação à luz da atuação dos servidores lotados nos órgãos correcionais. Aula 3 - Conceituando os temas que devem ser objeto de estudo nos cursos de formação. Aula 4 - Evolução do conceito de imagem institucional e a sua construção na atualidade. 34 Aula 1 - Compreendendo a estrutura correcional Todas as entidades, sejam públicas, ou privadas, possuem sistemas que viabilizam uma melhor organização, uma melhor gestão e um melhor controle sobre seus processos, seus produtos (e serviços) e seu pessoal. E como é sabido, sistema é um conjunto de elementos interdependentes, no seio de uma organização, que são instrumentalizados em sinergia para alcançar objetivos organizacionais. Neste contexto, vamos lançar luzes sobre dois sistemas essenciais para a consecução da missão policial, e em verdade para o desempenho de qualquer órgão público: Figura 6: Sistemas essenciais para a consecução da missão policial Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen. O sistema de controle provê à instituição policial condições, para que os seus objetivos sejam alcançados de forma proba e legal. Neste sentido, a eficiência e a eficácia da gestão do órgão policial, são alcançadas sem prejuízo da observância de preceitos éticos e legais. Veja o que diz o Professor e Ministro do STF Alexandre de MORAES (2017, p. 259): “a Constituição Federal prevê que os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário manterão, de forma integrada, sistema de controle interno com a finalidade de comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à eficácia e eficiência da gestão 35 orçamentária, financeira e patrimonial nos órgãos e entidades da administração federal (...).” Podemos utilizar como referência no poder público, que se erradia para o âmbito da administração policial como boa prática de sistema de controle interno, o que é desenvolvido na esfera do governo federal. Neste plano de atuação governamental, há a Instrução Normativa Conjunta (INC) Nº 1, de 10 de maio de 2016 do então Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) e da Controladoria Geral da União (CGU) que versa sobre controles internos, gestão de risco e governança no âmbito do poder executivo federal. Esta INC traz em seu bojo o art. 3º que determina o seguinte: Art. 3º Os órgãos e entidades do Poder Executivo federal deverão implementar, manter, monitorar e revisar os controles internos da gestão, tendo por base a identificação, a avaliação e o gerenciamento de riscos que possam impactar a consecução dos objetivos estabelecidos pelo Poder Público. Os controles internos da gestão se constituem na primeira linha (ou camada) de defesa das organizações públicas para propiciar o alcance de seus objetivos. Esses controles são operados por todos os agentes públicos responsáveis pela condução de atividades e tarefas, no âmbito dos macroprocessos finalísticos e de apoio dos órgãos e entidades do Poder Executivo federal. A definição e a operacionalização dos controles internos devem levar em conta os riscos que se pretende mitigar, tendo em vista os objetivos das organizações públicas. Assim, tendo em vista os objetivos estabelecidos pelos órgãos e entidades da administração pública, e os riscos decorrentes de eventos internos ou externos que possam obstaculizar o alcance desses objetivos, devem ser posicionados os controles internos mais adequados para mitigar a probabilidade de ocorrência dos riscos, ou o seu impacto sobre os objetivos organizacionais. (Grifei) 36 Assim, podemos observar que o sistema de controle interno vai além da atuação das Corregedorias de Polícia. Ele não se limita a um viés de controle disciplinar, seja no preventivo, ou no repressivo. Ele engloba também as instâncias de gestão (administrativa) dos órgãos públicos que cuidam da regularidade da gestão orçamentária, financeira e patrimonial institucionais. Isso, assessorando e orientando o gestor público no trato do erário e do patrimônio da administração pública sob sua responsabilidade. É neste diapasão que há, por exemplo, as Unidades de Controle Interno (UCI) que atuam junto aos gabinetes dos Comandos das corporações. Estas unidades assessoram o Diretor-Geral ou o Comandante-Geral, bem como a Diretoria de Polícia ou o Estado-Maior, na tomada de decisões estratégicas, notadamente as que se relacionam com gestão de recursos financeiros e patrimoniais, com a devida governança e correta prestação de contas. Na esfera policial, temos uma boa prática de gestão de controle interno que vem da Polícia Federal (PF). A PF tem de forma estruturada de UCIs, tanto no Comando central da PF junto ao Gabinete do Diretor-Geral em Brasília/DF, quanto nos Comandos regionais da PF junto aos Gabinetes dos Superintendentes Regionais em todas as unidades da federação. Nesta esteira, no âmbito da Polícia Federal, há a Instrução Normativa (IN) Nº 118-DG/PF, de 13 de setembro de 2017, que disciplina as atividades do controle interno no âmbito da Polícia Federal. A IN 118-DG/PF explicita no seu art. 2º, quais são os objetivos do controle interno e no seu art. 6º, quais são as atividades que devem ser desenvolvidas na seara do controle interno, sempre no âmbito da Polícia Federal: Objetivos do controle interno: Art. 2º São objetivos das atividades realizadas no âmbito do Controle Interno: (Grifei) I - fortalecer a governança; II - contribuir para o alcance dos objetivos institucionais; III - orientar o processo de prestação de contas; IV - monitorar o atendimento às demandas do Tribunal de Contas da União - TCU e do Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União - CGU; V - contribuir para a melhoria da gestão e da qualidade do gasto; e VI - disseminar a cultura do controle interno. 37 Atividades do controle interno: Art. 6º São atividades do Controle Interno: I - acompanhar, avaliar e propor ações para o desenvolvimento contínuo da governança; II - realizar controle preventivo dos atos de gestão referentes a atos normativos, instrumentos de cooperação e contratações; III - executar e acompanhar auditorias internas, conforme planejamento anual aprovado exclusivamente pelo Diretor-Geral; IV - assistir o dirigente máximo da unidade em assuntos relativos ao Tribunal de Contas da União - TCU e ao Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União - CGU; V - acompanhar auditorias e o atendimento às demandas do TCU e da CGU, observando o cumprimento dos prazos; VI - gerenciar e acompanhar o Plano de Providências Permanentes; VII - conduzir os processos de Tomada de Contas Especial - TCE; VIII - reportar ao dirigente máximo da unidade os resultados de suas análises, propondo ações destinadas à melhoria da governança, da gestão e dos controles internos; e IX - cumprir outras atribuições pertinentes, conforme determinado pelo dirigente máximo da unidade vinculada. De outra margem, um sistema de gestão é aquele instrumentalizado por uma organização, para estabelecer políticas corporativas e metas com o escopo de se alcançar objetivos estratégicos. Neste sentido, para uma organização ter estruturado em seu seio um sistema de gestão, representa aviabilização da consecução da sua missão institucional com eficácia e eficiência. A Fundação Nacional da Qualidade (FNQ) sustenta conceitualmente que Sistema de Gestão é: “um conjunto de práticas padronizadas, logicamente interrelacionadas com a finalidade de gerir uma organização e produzir resultados. O Sistema de Gestão da organização abrange todos os seus subsistemas de gestão, composto por práticas. O sistema de gestão costuma ser um emaranhado de práticas de gestão que interagem entre si, produzindo resultados ou não.” 38 Neste sentido, para o bom desempenho da atividade policial, é relevante que a instituição policial operacionalize seu sistema de gestão por intermédio de processos gerenciais e processos operacionais de maneira sinergética. Os processos gerenciais são os desenvolvidos nos planos estratégico e tático da organização, e os processos operacionais, são os levados a termo no plano operacional. Podemos visualizar melhor esses planos de atuação corporativa, através da figura ilustrativa abaixo: Figura 7: Planos de atuação corporativa Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen. Os processos gerenciais na seara policial, são desenvolvidos nas esferas de comando das instituições, nos níveis estratégico e tático. Como as polícias, mesmo as de matriz civil, observam a hierarquia e a disciplina, é no topo da organização (plano estratégico), onde ascendem as grandes linhas de ação da instituição, aqui englobando os objetivos estratégicos da polícia. Neste plano de atuação organizacional, estão as diretrizes macro da polícia, indicando o norte para onde deve seguir a instituição policial. Dessa forma, as decisões estratégicas que impactam toda a polícia, são tomadas nesta dimensão. Encontramos nesta porção gerencial a produção do planejamento estratégico da polícia. Como boa prática institucional que reflete a atuação do comando de uma organização policial, temos no âmbito da Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP), o “Plano de Comando 2020 – 2023”. Neste plano de comando, encontramos a sua finalidade, onde se lê: 39 “O Comando da PMESP, comprometido com a melhoria da qualidade dos serviços prestados, apresenta para a sociedade paulista o presente Plano de Comando, que comunica os objetivos estratégicos, metas, indicadores, iniciativas e seus respectivos planos de ação, alinhando os esforços institucionais às necessidades da sociedade, dos cidadãos e do governo.” Os processos gerenciais também se manifestam no plano tático. Este plano de atuação institucional, promove a produção do planejamento operacional da polícia, de onde emergem as ações e metas traçadas para alcançar os objetivos das decisões estratégicas tomadas pelo comando da polícia. Neste nível decisório, os envolvidos são aqueles que executam as ações que são aplicadas em curto prazo, geralmente em períodos de atuação de 1 (um) a 12 (meses). Aqui temos, por exemplo, os órgãos de execução regionalizada da Polícia Civil do estado do Rio Grande do Sul (PCRS), previstas na lei estadual nº 10994, de 18 de agosto de 1997(6) que trata da organização básica da PCRS e ordena: “Art. 17 - Os órgãos de execução regionalizada exercem suas funções no âmbito de sua respectiva região, sendo que: I - ao Departamento de Polícia Metropolitana - DPM compete coordenar, fiscalizar e executar as atividades de polícia judiciária e de investigações de infrações penais na Capital e nos municípios que integram a região metropolitana, sem prejuízo da competência dos órgãos de execução especializados; (...).” De outra margem, os processos operacionais no contexto do sistema de gestão policial, são desenvolvidos pelas unidades policiais de execução operacional (plano operacional). São as estruturas organizacionais que se encontram na base da pirâmide da instituição policial, onde se encontram as equipes policiais, que são responsáveis por executar a missão da polícia junto aos cidadãos. Aqui é onde se encontra a face mais externa da polícia e onde se materializa, portanto, o trabalho 40 policial final. Trabalho este que espelha as decisões estratégicas e táticas da organização, levando a efeito a prevenção e a repressão criminais. Aqui temos, por exemplo, a atuação dos supervisores de operações dos Batalhões pertencentes ao Comando do Policiamento Militar da Capital (CPMC) da cidade de Aracaju, da Polícia Militar do Estado de Sergipe (PMSE), prevista na Diretriz Operacional 003/CPMC que trata da organização básica da PMSE que ordena: “Art. 3º- São atribuições do Supervisor de Operações no âmbito operacional dos batalhões de área a que se refere esta norma: I- Coordenar e fiscalizar a atuação da tropa sob seu comando direto quando do atendimento de ocorrências policiais; II- Participar do atendimento de ocorrências policiais, em apoio a qualquer guarnição policial que esteja atuando na circunscrição do batalhão; III – Atender as ocorrências policiais com que se deparar durante o serviço de supervisão, sem prejuízo da segurança de todos os envolvidos; (...)” Aula 2 - Analisando a legislação à luz da atuação dos servidores lotados nos órgãos correcionais O Estado desenvolve em benefício da coletividade, atividades essenciais para a viabilização do bem viver em sociedade. Entre estas atividades essenciais, destacam-se ações vinculadas à saúde, à educação e à segurança. Por óbvio, há outros serviços públicos essenciais providos pela Administração Pública, como a assistência social, a mobilidade urbana e a infraestrutura viária. Contudo, os três primeiros são o que no mínimo os governos devem viabilizar à população. Não é possível imaginar uma coletividade hábil a se desenvolver socialmente sem acesso mínimo à educação pública, ao menos a fundamental, à cobertura de saúde pública e à segurança pública, que traz pacificação ao tecido social. 41 Figura 8: Atividades essenciais Fonte: SCD/EaD/Segen. De outro lado, em nosso país há exigência constitucional de que a Administração Pública deve obedecer aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade e eficiência. SAIBA MAIS! A Constituição Cidadã ordena em seu art. 37, caput, o seguinte: “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:” Nesta parte do nosso estudo, chamo atenção ao princípio da eficiência, que foi introduzido na Carta Magna, por meio da Emenda Constitucional nº 19, de 04 de junho de 1998. Este princípio trouxe para a Administração Pública o dever constitucional de prover os serviços públicos, notadamente os de caráter essencial, de forma mais produtiva e otimizada, com menos gastos possíveis. Segundo o Mestre José Afonso da SILVA, a eficiência administrativa: “se obtém pelo melhor emprego dos recursos e meios (humanos, materiais e institucionais) para melhor satisfazer às necessidades coletivas num regime de igualdade dos usuários.” 42 A indagação que fazemos, diante desta realidade constitucional, levando em conta a atuação dos Corpos de Polícia no Brasil é: Figura 9: Para refletir Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen. Para podermos enfrentar e responder esta indagação, que é de suma importância em prol da boa gestão policial, preliminarmente é preciso que avancemos sobre o que podemos classificar como sendo: ações técnicas, ações seguras e respaldo jurídico. Ações técnicas: São as desempenhadas observando a expertise adequada para a consecução de uma determinada atividade. Por seu turno, esta expertise se expressa através de princípios, procedimentos e protocolos hábeis a ensejar uma atuação em acordo com a arte, ofício ou profissão de interesse. Na searapolicial, estas ações se manifestam através do emprego de medidas previstas em manuais de orientação técnica, frutos de análise e estudos, em suporte ao desempenho da atividade de interesse. Exemplo deste tipo de abordagem no campo policial, é o Manual de Operações de Choque, da Polícia Militar do Estado de Goiás. Neste manual, estão elencados procedimentos e protocolos que dão guarida a ações técnicas no desempenho de ações policiais de choque. Nele pode-se ler, em sua introdução o seguinte: “A elaboração deste manual decorre da transcrição dos princípios doutrinários vivenciados dentro do BPMCHOQUE, além dos procedimentos operacionais padrão desta unidade especializada.” 43 Ações seguras: São as desempenhadas com obediência às regras de segurança em acordo com a legislação vigente. Isso, para afastar o incremento do risco e eventuais sinistros, que podem advir do desempenho de uma determinada atividade. Na seara da atuação das polícias, as ações seguras são também as previstas em orientações formais dos Corpos de Polícia aos membros da corporação. A Polícia Militar do Estado do Ceará (PMCE), por exemplo, promove junto aos seus policiais, um programa de orientação sobre condutas de segurança do policial no desempenho de sua função e mesmo em seu período de folga. A Secretaria de Segurança e Defesa do Estado do Ceará, informa o seguinte sobre esta iniciativa(11): “O programa será divido em duas fases. Na primeira, serão disponibilizadas informações sobre ações preventivas para os momentos em que o agente de segurança sair, ou retornar, para sua residência, quando estiver em locais públicos ou com a família. Dicas de como portar sua arma e como mantê-la sempre pronta para a ação. A Segunda fase, constará de instruções mais específicas, realizadas nas unidades, onde serão ensinadas técnicas de sobrevivência policial em automóveis, motocicletas e a pé.” Respaldo jurídico: É preciso que as ações policiais observem a lei, em sentido amplo, a constituição. Neste passo, o serviço policial deve sempre ter respaldo jurídico. Este respaldo possui dois vetores: proteção dos direitos dos indivíduos e legitimação da atuação do policial. Podemos expressar este raciocínio através da ilustração abaixo: Figura 10: Vetores do respaldo jurídico da atuação policial Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen. 44 O respaldo jurídico confere, portanto, que o policial atue nos limites da legalidade, pondo sempre a salvo os direitos fundamentais dos indivíduos. A lei surge neste cenário como um parâmetro de atuação policial. Assim, o policial só deve atuar nos limites do que ordena a legislação vigente e a Constituição da República. Esta atuação deve ser, portanto, de tal forma que não seja aquém que manda a lei, podendo ensejar uma conduta de prevaricação, nem além do que ordena a lei, podendo ensejar uma conduta de abuso de autoridade. Crime de prevaricação: O crime de prevaricação está esculpido no Código Penal do art. 319, caput, que diz: “Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.” Lei de abuso de autoridade: A lei 13869/2019, lei de abuso de autoridade, traz um rol de condutas que são consideradas abusivas como a que é esculpida no seu art. 18, nos seguintes termos: “Submeter o preso a interrogatório policial durante o período de repouso noturno, salvo se capturado em flagrante delito ou se ele, devidamente assistido, consentir em prestar declarações: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.” Com efeito, para a promoção da prestação de um serviço policial eficiente, nos termos da Carta Magna, e, portanto, com observância de ações técnicas, ações seguras e respaldo jurídico é necessário que haja um esforço institucional neste sentido. No conjunto de iniciativas que podem ser levadas a termo para alcançar esta eficiência no trabalho policial, destaca-se a capacitação sistemática dos policiais. Através de esforços de capacitação, a instituição policial com o escopo de promover otimização da sua atuação na prevenção e repressão criminal, tem como mais e melhor disseminar: a) doutrina e princípios; b) conhecimento técnico; e c) padronização de procedimentos. 45 Por intermédio da capacitação as instituições promovem melhores níveis de aperfeiçoamento profissional, de forma linear e em todos os níveis de organização, de seus quadros. Podemos citar como exemplo de capacitação o curso feito pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), realizado no âmbito da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher na cidade satélite de Ceilândia (DEAM II). Nesta oportunidade foi desenvolvida capacitação que, entre outras iniciativas, promoveu difusão protocolos atuação em face de público feminino que busca atendimento na DEAM. Além disso, o esforço de capacitação permite ao policial que ele pense (reflita) sobre o desempenho sua própria atuação individual. E, nesta esteira, dá ensejo à possibilidade de que ele possa contribuir com as instâncias de gestão da sua instituição com sugestões em prol de aprimoramento dos trabalhos policiais. Dessa forma, o órgão de Polícia consegue alcançar, como no dizer policial, “as pontas” . Vale dizer, alcançar os policiais que estão na vanguarda da execução do trabalho policial. Estes que estão no patrulhamento policial ostensivo diuturno ou que estão no cumprimento cotidiano de diligências investigativas e que enfrentam os desafios inopinados da consecução da missão policial. Aula 3 - Conceituando os temas que devem ser objeto de estudo nos cursos de formação “Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo”. Paulo Freire Conforme descrito pelos maiores autores do tema, a educação é uma ferramenta libertadora, transformadora e provedora de conceitos, atitudes, técnica, metodologia e resultados. O tema corrupção, no sentido amplo, vem sendo tratado com muita frequência nos meios acadêmicos, como também na mídia em geral e, até mesmo nas rodas de conversas informais. A sociedade brasileira vem evoluindo nesse sentido e a insatisfação com gestores e servidores que praticam atos de 46 corrupção, é cada vez maior, tanto que o número de cidadãos que denunciam irregularidades aos canais de denúncia aumenta a cada ano. Depois da “Operação Lava Jato” cidadãos com alto prestígio social e econômico envolvidos em esquemas de corrupção, foram presos, processados e julgados. Aumentando assim, o respeito popular pelas instituições policiais e judiciárias no país. Como um dos vetores dessa “maior confiança” e disposição em denunciar, temos os mecanismos de divulgação de informações, não sigilosas, por meio dos portais de transparência, pelos quais todas as esferas do Poder Público são incumbidas de divulgar informações sobre compras, contratação de serviços, gastos com pessoal, investimentos, etc. São ferramentas de controle disponibilizadas ao cidadão e aos meios de comunicação, que também são importantíssimos para trazer à tona as denúncias de irregularidades e viabilizar a responsabilização dos agentes pelos atos ilegais praticados. Além disso, nos últimos anos, foram criados sistemas informatizados onde os servidores públicos são obrigados a informar seus dados referentes à renda, patrimônio e endividamento, os quais são analisados anualmente, o que permite uma análise fiscal, como também, da evolução patrimonial do servidor. Ainda assim, com base no relatório da Organização não Governamental Transparência Internacional, o Brasil encontra-se estagnado em um patamar ruim, tendo em vista que, de 180 países avaliados, estávamos na 94ª posição em 2020. Segundo a instituição, o maior problema é a falta de apoioàs agendas anticorrupção. Dentre as diversas propostas desenvolvidas pela equipe de pesquisadores da ONG, temos: I- O fortalecimento do controle interno, II- A criação de programas de prevenção da corrupção, 47 III- O desenvolvimento de sistemas de declaração de bens e direitos de servidores públicos, IV- A auditoria patrimonial aleatória de agentes públicos, e V- A gestão de informações para detecção de corrupção de funcionários públicos. Dessas propostas, a União e diversos Estados e poucos municípios, conseguiram criar em suas estruturas, órgãos de controle competentes e equipados para tais atribuições. Para que possamos, dentro dos órgãos integrantes do Sistema Único de Segurança Pública (Susp), desenvolver projetos de criação, estruturação e atuação na prevenção e combate ao desvio de conduta, faz-se imperiosa a implantação de uma agenda educacional, que permeie os bancos escolares das instituições federais, estaduais e municipais, visando a capacitação dos agentes para atuarem com serenidade, técnica e imparcialidade por ocasião de flagrância em casos de corrupção, ainda que praticadas por “colegas” de trabalho, como também, fornecer subsídios aos agentes para uma correta reflexão e mudança de comportamento durante a sua atividade profissional. “Autonomia Intelectual - “Adaptabilidade do profissional, isto é, sua possibilidade de agir em situações diferentes, de gerir incerteza e de poder enfrentar as mudanças no exercício da sua profissão.” (PAQUAY et al., 2001, p. 32 apud ALTET, 1992), em Filho, Vagner Maia. Corrupção policial. 3.1 Temas importantes para a criação de uma mentalidade crítica e um comportamento técnico, ético e imparcial por parte dos agentes de Segurança Pública: 48 3.1.1 Sistema Único de Segurança Pública no Brasil Figura 11: Sistema Único de Segurança Pública Fonte: https://segpublica.com.br/o-que-e-o-susp/ Por meio da Lei 13.765/2018 o Governo Federal instituiu o Sistema Único de Segurança Pública – Susp, criando uma estrutura em âmbito nacional com o objetivo de compartilhar dados, promover ações integradas e permitir colaborações recíprocas nas estruturas de segurança pública federal, estadual e municipal, sem alterar as responsabilidades já previstas para cada âmbito. O órgão central do Susp é o Ministério da Justiça e Segurança Pública, que é integrado pela Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícias Civis, Polícias Militares, Força Nacional e Corpos de Bombeiros Militares. Além desses, fazem parte também, as Polícias Penais, Guardas Municipais e demais integrantes estratégicos e operacionais do segmento da segurança pública. Com ação integrada, baseada em um pacto federativo, os órgãos de segurança pública que integram o Susp, atuam de forma combinada em todo o território nacional com ações operacionais – ostensivas, investigativas, de inteligência e mistas, em ações preventivas - educativas, por meio da Secretaria de Gestão e Ensino em Segurança Pública (Segen), na promoção de cursos presenciais, intercâmbios entre instituições no Brasil e no Exterior, também com cursos na modalidade EaD com muito mais capilaridade, tendo como exemplo dessa integração, o presente curso, que foi 49 elaborado por um delegado da Polícia Federal e um Sargento da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. O conhecimento da estrutura do Susp e a interação com ele, permitirá ao policial entender a sua importância dentro da esfera de atribuição, podendo levar a uma maior capacidade de atuação, num contexto cada vez mais exigente. O conhecimento da estrutura do Susp e a interação com ele, permitirá ao policial entender a sua importância dentro da esfera de atribuição, podendo levar a uma maior capacidade de atuação, num contexto cada vez mais exigente. 3.1.2 Ética e Cidadania Figura 12: Ética e Cidadania Fonte: https://direitosedeveresdocidadao.wordpress.com/2013/11/08/cidadania/ 50 Seria impossível falar de conteúdo na formação dos servidores da segurança pública, sem abordar o presente tema. Num mundo cada vez mais conectado, integrado e digital, todos os comportamentos e atitudes estão passíveis de registro e poderão ser objeto de análise a qualquer tempo, seja por denúncia, divulgação em redes sociais, queixa do ofendido, ou até mesmo por mera observação durante uma ação preventiva dos órgãos correcionais. Vale lembrar que os profissionais de segurança pública, antes de ingressarem nas respectivas corporações, foram inseridos em grupos sociais, com diferenças de classes sociais, construção de valores pessoais e sofreram influências culturais. Ao entrar num centro de formação, o “cidadão” policial traz consigo uma “carga” cultural enraizada e precisa inverter o sentido de visão e postura a respeito da segurança pública. Como mero receptor do serviço, fica simples criticar e apontar defeitos, que nem sempre se traduzem por uma conduta própria do agente, mas por falta de estrutura de trabalho e formação adequada. Contudo, a partir do momento que a garantia da lei e da ordem passam para as mãos daquele que acabou de ingressar, o cenário muda totalmente, a responsabilidade cresce e, com ela, a necessidade de capacitação se torna imprescindível para os novos policiais. Estes agentes serão expostos a riscos, poderão cometer excessos e tudo poderá levar a uma responsabilização desde então. Conforme prevê o Decreto 1.171, de 22 de junho de 1994, que aprovou o código de ética do servidor público civil do Poder Executivo Federal, este não poderá jamais desprezar o elemento ético de sua conduta. Assim, não terá que decidir somente entre o legal e o ilegal, o justo e o injusto, o conveniente e o inconveniente, o oportuno e o inoportuno, mas principalmente entre o honesto e o desonesto, consoante as regras contidas no art. 37, caput, e § 4°, da Constituição Federal. Dentro desse escopo, a referida norma cria regras deontológicas, estabelece deveres, determina vedações e formaliza a criação de conselhos de ética. Em âmbitos estadual e municipal, teremos diversas leis e decretos tratando do tema, contudo, todos partem de um mesmo propósito e buscam um mesmo fim: a correção de postura e uma atuação moral irretocável por parte dos agentes de segurança pública. 51 3.1.3 Direitos Humanos Figura 13: Direitos Humanos Fonte: https://ead.sestsenat.org.br/cursos/nocoes-de-direitos-humanos-e-cidadania/ Antes mesmo da nossa Carta Magna ter sido promulgada em 05 de outubro de 1988, já havia sido editado em 17 de dezembro de 1979 pela Organização das Nações Unidas – ONU, o Código de Conduta para os funcionários responsáveis pela aplicação da lei, por meio da Resolução 34/169. De leitura simples, escrita em vários idiomas e amplitude mundial em políticas de preservação dos Direitos Humanos, com apenas oito artigos, a referida resolução define de forma abrangente, todos os cuidados que os agentes de segurança pública devem ter por norma sempre que estiverem em atuação. Ela usa o termo “funcionários”, tendo em vista que deve ser observada por todos os servidores dos órgãos que atuem preventivamente e coercitivamente na manutenção da ordem pública, sejam eles civis ou militares. De leitura imprescindível, apesar de não ser de conhecimento pleno dos servidores encarregados pela aplicação da lei, convém que sejam observados todos os seus preceitos: Artigo 1º - Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem sempre cumprir o dever que a lei lhes impõe, servindo a comunidade e protegendo todas as pessoas contra atos ilegais, 52 em conformidade com o elevado grau de responsabilidade que a sua profissão requer. Artigo 2º - No cumprimento do dever, os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem respeitar e proteger a dignidade humana, manter e apoiar os direitos
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