Buscar

consultoria_em_seguranca (1)

Prévia do material em texto

ANDERSON PUGLIA
Para fazer frente às atuais ameaças, é necessário 
ter uma visão focada na excelência da prestação 
de serviços em segurança, tratando o tema como 
ciência. Nesse sentido, esta obra tem o objetivo 
de trazer um pouco da experiência profissional 
de quem atua na área há mais de trinta anos para 
assessorar aqueles que pretendem ou necessitam 
atuar como consultores em segurança para 
empresas particulares ou instituições públicas. 
 
Cada capítulo desta obra foi construído com 
as nuances intrínsecas a ambas as áreas. Cabe 
ressaltar a importância da transversalidade 
desses conhecimentos pelos operadores dos dois 
setores, pois, invariavelmente, um poderá precisar 
do outro em diversas situações. Desse modo, é 
preciso dominar informações sobre as atuações 
de maneira recíproca.
Código Logístico
59470
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6653-7
9 7 8 8 5 3 8 7 6 6 5 3 7
Consultoria em 
Segurança
Anderson Puglia
IESDE BRASIL
2020
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A.
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200
Batel – Curitiba – PR
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
© 2020 – IESDE BRASIL S/A.
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do 
detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: saicle/ 3ab2ou/EnvatoElements
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
P977c
Puglia, Anderson
Consultoria em segurança / Anderson Puglia. - 1. ed. - Curitiba [PR] : 
IESDE, 2020.
126 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6653-7
1. Segurança pública - Brasil. 2. Serviços de segurança privada - Brasil. 
3. Serviços de consultoria. I. Título.
20-64579 CDD: 658.47
CDU: 005.934:351.78
Anderson Puglia MBA em Administração Pública e Gestão Estratégica 
pelo Centro Universitário Unifacear. Especialista em 
Atendimento Pré-hospitalar em Combate pela Escola 
Superior de Polícia Civil. Graduado em Segurança 
Pública pela Academia Policial Militar do Guatupê. 
Cursando bacharelado em Direito pela Universidade 
Cruzeiro do Sul. Professor no ensino superior, 
ministrando as disciplinas de Gerenciamento de crises; 
Tiro policial; Munições, balística e proteções balísticas; 
Táticas para confrontos armados; Atendimento 
pré-hospitalar em combate. Atua também como chefe 
da 3ª Seção do Estado Maior da Polícia Militar do 
Paraná, responsável pelo planejamento operacional e 
estratégico da Corporação, pela análise criminal, pelo 
planejamento de instruções ao efetivo de todo o estado 
e pela produção de Doutrina PM.
SUMÁRIO
Agora é possível acessar os vídeos do livro por 
meio de QR codes (códigos de barras) presentes 
no início de cada seção de capítulo.
Acesse os vídeos automaticamente, direcionando 
a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet 
para o QR code.
Em alguns dispositivos é necessário ter instalado 
um leitor de QR code, que pode ser adquirido 
gratuitamente em lojas de aplicativos.
Vídeos
em QR code!
SUMÁRIO
Agora é possível acessar os vídeos do livro por 
meio de QR codes (códigos de barras) presentes 
no início de cada seção de capítulo.
Acesse os vídeos automaticamente, direcionando 
a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet 
para o QR code.
Em alguns dispositivos é necessário ter instalado 
um leitor de QR code, que pode ser adquirido 
gratuitamente em lojas de aplicativos.
Vídeos
em QR code!
1 Consultoria em segurança pública e privada 9
1.1 Conceitos básicos 9
1.2 O mercado da segurança no Brasil 17
1.3 Legislação pertinente ao tema 21
1.4 O consultor em segurança 29
1.5 O uso da força e os direitos humanos 35
2 Planejamento estratégico 45
2.1 Planejamento estratégico em segurança pública 45
2.2 Estratégias nas ações de polícia 51
2.3 Planejamento estratégico em segurança privada 56
2.4 Princípios da segurança privada 59
2.5 Consultoria empresarial na segurança privada 61
3 Análise de riscos em segurança e análise criminal 66
3.1 Identificação e prevenção de riscos 66
3.2 Ferramentas para análise de riscos 71
3.3 Por que fazer análise criminal? 77
3.4 Operacionalização da análise criminal 81
3.5 Sistemas de informação geográfica 83
4 Gestão de recursos humanos para a área de segurança 87
4.1 Recursos humanos para segurança: um gargalo a ser superado 87
4.2 Seleção e treinamento na segurança 89
4.3 Indicadores de desempenho e qualidade 92
4.4 Inteligência competitiva 94
4.5 A segurança no fluxo das informações 96
5 Segurança patrimonial e segurança pessoal 100
5.1 Proteção perimetral e segurança física 100
5.2 Restrições de acesso e ações de controle 103
5.3 Segurança contra incêndios 105
5.4 Segurança VIP 108
5.5 Estruturação de planos de segurança 114
Gabarito 124
As transformações sociais, políticas e econômicas que o nosso país sofreu 
nas últimas duas décadas, sem uma evolução significativa da legislação em 
relação à criação de dispositivos mais eficazes para o combate aos infratores da 
lei, favoreceram a atuação e o crescimento exponencial de grupos criminosos 
devidamente organizados, os quais desenvolveram novas estratégias para 
ampliar suas práticas delituosas e adquirir poderio bélico.
Com praticamente a totalidade do nosso planeta conectada à rede mundial 
de computadores e a possibilidade do compartilhamento de informações em 
velocidade e magnitude incomensuráveis, por meio das redes sociais, fazer 
segurança se tornou um grande desafio no Brasil, contribuindo para que o 
nível de profissionalismo dos atuantes nessa área seja maior.
A facilidade de acesso ao conhecimento traz muitos efeitos benéficos à 
sociedade, isso é fato. No entanto, também permite a exclusão do caráter 
sigiloso que existia em relação às técnicas e táticas policiais e militares, além 
de algumas utilizadas por guerrilheiros e terroristas, como conhecimentos 
aprofundados sobre armas e munições, proteções balísticas, manuseio 
de explosivos, construção de bombas, dentre outros que, anteriormente, 
só eram acessíveis em cursos especializados, restritos aos integrantes dos 
órgãos estatais de segurança. Isso faz com que indivíduos mal-intencionados 
aperfeiçoem seus métodos e aumentem seu potencial de perigo aos cidadãos 
e às forças de segurança.
Para fazer frente às atuais ameaças, é necessário ter uma visão focada na 
excelência da prestação de serviços em segurança, tratando o tema como 
ciência. Nesse sentido, esta obra tem o objetivo de trazer um pouco da 
experiência profissional de quem atua na área há mais de trinta anos para 
assessorar aqueles que pretendem ou necessitam atuar como consultores 
em segurança para empresas particulares ou instituições públicas.
Os integrantes das corporações de segurança pública – principalmente 
aqueles que ocupam cargos de comando, chefia, superintendência e 
outros, nos seus diversos níveis, seja operacional, tático ou estratégico – já 
exercem naturalmente a função de assessoria e consultoria de seus chefes/
comandantes durante suas carreiras, considerando que as suas instituições 
são prestadoras de serviço na área em que atuam. Por isso, são designados 
APRESENTAÇÃO
8 Consultoria em Segurança
para tais tarefas, sendo indispensável conhecerem várias ferramentas e 
padrões de trabalho que lhes serão úteis nessa missão.
Para a segurança privada a atuação é um pouco diferente, pois o 
profissional responsável por uma consultoria normalmente tratará do tema 
com pessoas leigas no assunto, que atuam em outro ramo, mas que precisam 
do serviço de segurança. Nesse aspecto, o profissional deve dominar muito 
bem sua área de atuação para demonstrar a importância do seu serviço aos 
consumidores e o quanto isso pode reduzir a possibilidade de riscos e perdas 
na empresa-alvo, apresentando planejamentos e métodos de análise técnica 
adequados, que inspirem confiança e coerência para os investimentos que 
deverão ser implementados nesse setor.Cada capítulo desta obra foi construído com as nuances intrínsecas a 
ambas as áreas. Cabe ressaltar, aqui, a importância da transversalidade desses 
conhecimentos pelos operadores dos dois setores, pois, invariavelmente, 
um poderá precisar do outro em diversas situações. Desse modo, é preciso 
dominar informações sobre as atuações de maneira recíproca.
Para essa abordagem holística de um campo tão vasto, buscamos trazer 
o que entendemos ser essencial ao estudo de cada tema, mas sem ser 
superficial, explorando cada um na proporção adequada ao entendimento e 
indicando algumas possibilidades de aprofundamentos julgados pertinentes 
e necessários.
Bons estudos!
Consultoria em segurança pública e privada 9
1
Consultoria em segurança 
pública e privada
Neste capítulo, para iniciar nossa jornada, abordaremos, por 
meio de alguns conceitos fundamentais, as diferenças básicas entre 
as duas áreas da segurança: a pública e a privada. Posteriormente, 
estudaremos as bases legais e doutrinárias que fornecerão o co-
nhecimento necessário para o desenvolvimento da profissão por 
parte dos futuros consultores.
1.1 Conceitos básicos 
Vídeo Os conceitos ligados à área de segurança pública e privada, bem 
como seus desdobramentos, são essenciais para que o consultor te-
nha, além do embasamento legal, conhecimento sobre os dispositivos 
que definem e regulamentam a área em que atua.
1.1.1 Segurança privada
A segurança privada é um conjunto de mecanismos e procedimen-
tos de segurança que tem por objetivo prevenir e reduzir perdas pa-
trimoniais e pessoais em um empreendimento ou nas vias públicas, 
durante deslocamentos (BARBOSA, 2011). É uma modalidade de segu-
rança voltada aos espaços e às pessoas, como observaremos em al-
guns conceitos dela derivados.
1.1.1.1 Segurança patrimonial
De acordo com Barbosa (2011), a segurança patrimonial é o ponto ini-
cial para todas as modalidades de segurança privada, buscando a interli-
gação delas para evitar perdas e prejuízos. Cabe ressaltarmos que não se 
trata de uma segurança voltada somente às organizações, pode ser dire-
10 Consultoria em Segurança
cionada, também, para soluções em segurança residencial e segurança 
VIP. Assim, o trabalho do consultor, no aspecto da segurança patrimonial, 
pode ser prestado a pessoas jurídicas (empresas e condomínios), bem 
como a pessoas físicas. Essa é a modalidade de segurança que centraliza 
todas as demais, como podemos observar na figura a seguir.
Figura 1
Organização das modalidades de segurança privada
Segurança 
patrimonial
Segurança 
da 
informação
Segurança 
eletrônica
Segurança do 
trabalho
Segurança de 
pessoas
Segurança 
física
Fonte: Barbosa, 2011.
1.1.1.2 Segurança física
A segurança física, por vezes, é confundida com a segurança patri-
monial. Entretanto, ela foca os procedimentos internos de proteção 
de uma edificação contra riscos naturais, não naturais e humanos no 
interior do local, como raios, alagamentos, desabamentos, incêndios, 
falhas em equipamentos, furtos, roubos, sabotagens, entre outros.
Segundo Barbosa (2011, p. 57), “é o conjunto de normas e medi-
das capazes de gerar uma condição favorável aos interesses vitais 
de um empreendimento, para que estejam livres de interferências e 
perturbações”.
Consultoria em segurança pública e privada 11
1.1.1.3 Segurança do trabalho
Para Barbosa (2011), segurança do trabalho é o conjunto de medi-
das que visa evitar acidentes de trabalho e minimizar doenças ocupa-
cionais, integrando o ambiente ao seu melhor uso pelos trabalhadores, 
evitando, assim, prejuízos no empreendimento.
A preocupação com as condições de trabalho dos colaboradores é 
essencial para o sucesso das empresas, tendo em vista que, indepen-
dentemente de os colaboradores atuarem com equipamentos mais 
modernos, as ações finais de intervenção são primordialmente reali-
zadas por pessoas, de modo que os recursos humanos precisam ter 
sempre boas condições de atuação.
1.1.1.4 Segurança empresarial
A segurança empresarial foca a preservação do bom nome da em-
presa ou do empresário, de sua imagem perante os clientes, colabo-
radores e fornecedores, buscando, ainda, a proteção ao crédito que 
possui no mercado e às informações.
Conforme Brasiliano (1999 apud BARBOSA, 2011, p. 62) “o conceito 
de segurança relacionado às empresas significa a redução ou elimina-
ção de certos tipos de riscos de perdas e danos a que a organização 
poderá estar exposta, dizendo ainda que a segurança empresarial deva 
ser entendida como um sistema integrado compreendendo um soma-
tório de recursos”.
Segundo Barbosa (2011, p. 62), o ramo da segurança avalia e proce-
de no sentido de proteger os interesses intangíveis do empreendimen-
to, preservando sua imagem, credibilidade e informações.
1.1.1.5 Segurança da informação
A segurança da informação está intimamente ligada à proteção 
de dados digitais, salvos em HDs de computadores ou em redes, 
contra vilões conhecidos como ciberpiratas. Atualmente, talvez, seja 
a área mais importante a ser protegida. Porém, vale lembrar que 
ela não funciona sem as demais modalidades e que a preocupação 
com o sigilo nas informações estratégicas não se resume apenas à 
segurança digital.
ciberpiratas: pessoa com 
profundos conhecimentos de 
informática que eventualmente 
os utiliza para violar sistemas ou 
exercer outras atividades ilegais; 
pirata eletrônico.
Glossário
12 Consultoria em Segurança
A segurança da informação tem a finalidade de estabelecer pro-
cedimentos para proteger informações e dados de computadores, 
garantindo privacidade, solidez, disponibilidade e integridade de 
programas e equipamentos tecnológicos (BARBOSA, 2011, p. 68).
1.1.1.6 Segurança pessoal
Segundo Meireles e Santos (2011, p. 170), a atividade de segurança 
pessoal é exercida com a finalidade de garantir a incolumidade física, 
psicológica e patrimonial das pessoas.
Trata-se de um serviço em que se transfere o uso lícito da força do 
Estado para trabalhos particulares, necessitando de profissionais mui-
to bem selecionados, com características específicas e que entendam 
por completo sua missão, considerando que o agente de segurança 
que atua nesse segmento acaba vivenciando diuturnamente a rotina 
do VIP 1 .
1.1.2 Segurança pública
A melhor definição do que é segurança pública está na própria le-
gislação vigente, Carta Magna, que diz: “a segurança pública, dever do 
Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para preserva-
ção da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio” 
(BRASIL,1988). Em outras palavras, é a ação coercitiva do Estado, por 
meio de suas organizações, fazendo cumprir os dispositivos previstos 
em lei pelas ações típicas de polícia, de modo a preservar os direitos da 
coletividade e limitar as liberdades individuais.
Em uma sociedade democrática de direito, a segurança pública 
é a garantidora dos direitos individuais e coletivos, bem como do 
cumprimento dos dispositivos legais, sendo, dentro da grande com-
plexidade da existência humana, a responsável pela manutenção da 
ordem e, consequentemente, por grande parcela da qualidade de 
vida dos cidadãos.
1.1.2.1 Poder de polícia
O poder de polícia, para Meirelles (2003, p.129), “é um poder amplo 
e peculiar, disseminado pela administração pública, a fim de cumprir o 
Acrônimo de Very Important 
Person (pessoa muito importan-
te), é um termo utilizado para 
definir o dignitário, a pessoa a 
ser protegida pela equipe de 
segurança.
1
Consultoria em segurança pública e privada 13
múnus público 2 ”. Em suma, é uma prerrogativa conferida aos agentes 
públicos, previamente autorizada por lei, que permite a intervenção na 
liberdade, propriedade e demais direitos individuais, restringindo-os 
em prol do interesse coletivo, de maneira a garantir a supremacia do 
interesse público.
1.1.2.2 Ordem pública
Conforme o jurista francês Louis Rolland (apud LAZZARINI, 1987, 
p. 19), “ordem pública é a tranquilidade pública, a segurança pública ea salubridade pública, asseverando que ordem pública engloba as três 
coisas. Em suma, ordem pública é de fato a situação oposta à desor-
dem, sendo essencialmente de natureza material e exterior”.
Com base nessa conceituação, entende-se que não bastam ações 
para redução de criminalidade, é necessário, também, haver a sensa-
ção de segurança e diminuição do medo do crime. Isso está ligado a 
questões subjetivas, como a possibilidade de frequentar locais públicos 
sem a interferência de infratores, o volume de notícias negativas que 
circulam pelos órgãos de comunicação, o tratamento percebido pelo 
cidadão em relação aos profissionais de segurança, entre outros.
1.1.3 A dicotomia da segurança pública no Brasil
Para ser um bom consultor em segurança no Brasil, é essencial 
compreender muito bem como funciona o sistema de segurança pú-
blica, a persecução criminal e o que seria ideal no que se trata de ciclo 
completo de polícia.
A organização administrativa e gerencial do padrão policial brasi-
leiro das polícias estaduais, que são as que agem com maior inten-
sidade na manutenção da ordem pública, divide-se em militar e civil, 
assim como as atribuições na questão do ciclo de polícia, sendo a 
polícia judiciária (civil) e polícia administrativa (militar). Nesse viés, 
define-se a missão de policiamento ostensivo fardado, para a pre-
venção e repressão de crimes, para a Polícia Militar (PM), enquanto a 
confecção do auto de prisão em flagrante delito 3 , inquérito policial 
e investigações pós-crime, são missões inerentes à Polícia Civil (PC).
Na prática, para os crimes comuns, a PM, quando se depara com 
um indivíduo praticando um crime, efetua sua prisão, inclusive pro-
ferindo a voz de prisão (momento em que ele fica ciente do motivo 
O múnus público é uma 
obrigação imposta por lei, em 
atendimento ao poder público, 
que beneficia a coletividade, e 
não pode ser recusado, exceto 
nos casos previstos em lei.
2
Documentação relativa aos 
procedimentos adotados na 
prisão de um infrator, com a 
descrição detalhada do fato 
típico, qualificação de todos os 
envolvidos e testemunhas, rea-
lizada em delegacias de polícia 
pela autoridade policial.
3
14 Consultoria em Segurança
de sua prisão e de seus direitos). Ato contínuo, a equipe PM encami-
nha o detido até a delegacia de polícia civil responsável pela área em 
que ocorreu o crime, uma delegacia especializada (dependendo do 
crime), ou ainda, nos períodos noturnos, em centrais de polícia civil 
responsáveis pelo recebimento de todos os detidos de determinada 
região. Na delegacia, os policiais militares confeccionam o devido 
boletim de ocorrência e entregam o detido aos cuidados da PC, mo-
mento em que é confeccionado o auto de prisão em flagrante delito.
Caso ocorra um crime e os responsáveis não sejam encontrados 
imediatamente pela PM, as vítimas podem solicitar o registro do bo-
letim de ocorrência (BO) para que, na sequência, a PC realize investi-
gações no intuito de tentar identificar e prender os criminosos.
Quando falamos em contravenções penais, existe uma diferença 
importante a ser comentada. A PM, ao constatar um fato tipificado 
como infração de menor potencial ofensivo, que consta da Lei de 
Contravenções Penais 4 , pode confeccionar um documento denomi-
nado Termo Circunstanciado de Infração Penal (TCIP), também conhe-
cido como Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO). Ao término, o 
documento é encaminhado ao Poder Judiciário e o infrator recebe 
de imediato um recibo com a data em que deverá comparecer pe-
rante o juiz para responder pelo ato que cometeu, encerrando aque-
le atendimento sem a necessidade de nenhum outro procedimento.
1.1.3.1 Persecução criminal
A persecução criminal é o caminho percorrido pelas autoridades 
constituídas para punir um infrator no momento em que o indivíduo 
é detido pela prática de um crime e é conduzido para que seja lavra-
do o auto de prisão em flagrante delito. Posteriormente, os autos 
são encaminhados ao Ministério Público, para análise e denúncia ou 
solicitação de arquivamento. Caso seja denunciado e o Poder Judi-
ciário recepcione, inicia-se a fase de instrução do processo e, em se-
guida, o julgamento. Se for condenado, o indivíduo é encaminhado 
ao sistema penal.
A persecução criminal pode ser dividida em duas fases, a 
pré-processual, momento em que é confeccionado o devido inqué-
rito policial; e a processual, quando o inquérito é remetido ao Mi-
nistério Público para oferecer ou não denúncia ao Poder Judiciário.
Decreto-Lei n. 3.688, de 3 de 
outubro de 1941.
4
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-1949/decreto-lei-3688-3-outubro-1941-413573-publicacaooriginal-1-pe.html
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-1949/decreto-lei-3688-3-outubro-1941-413573-publicacaooriginal-1-pe.html
Consultoria em segurança pública e privada 15
Existem instâncias de julgamento e vários recursos cabíveis nas 
ações penais. Porém, aqui, o intuito é apenas o entendimento de 
como as coisas se encaminham, de maneira resumida.
1.1.3.2 Ciclo completo de polícia
As atividades que antecedem a fase processual, praticadas pelos 
órgãos policiais, formam o conceito de ciclo completo de polícia. Po-
demos afirmar que existem três ações que compõem esse ciclo, são 
elas: a prevenção do crime, a repressão imediata quando ele ocorre 
e a formalização dos instrumentos necessários para subsidiar a de-
cisão do Ministério Público.
Como é possível perceber, nos conceitos anteriores, há um fra-
cionamento dessas atividades em alguns tipos de infrações penais, 
em que as duas polícias precisam interagir para se completar. Isso 
gera alguns transtornos para a administração pública de um modo 
geral, além de imobilizar equipes policiais por períodos prolongados 
em alguns casos.
Já nos casos das contravenções penais, em que uma equipe 
policial-militar realiza a prisão de um indivíduo e, em seguida, lavra 
o termo circunstanciado, expedindo data de apresentação em juízo, 
liberando, depois, o infrator, ocorre o que podemos chamar de ciclo 
completo de polícia, por uma única força policial. Devido à dicotomia 
de missões existente no Brasil, não só entre as polícias estaduais, 
mas também em relação à Polícia Rodoviária Federal (PRF) e à Polí-
cia Federal (PF), por exemplo. Existem, inclusive, demandas judiciais 
a respeito do tema, em que corporações brigam para dizer quem é 
competente e quem não é para a lavratura desse tipo de documen-
to. Entretanto, decisões judiciais já pacificaram essa questão e atual-
mente a lavratura do TCIP/TCO são aceitas amplamente no Brasil.
Apesar de a maior parte das PMs do Brasil já confeccionar o TCO, 
e quase que a totalidade dos magistrados aceitarem o documento 
como legítimo, com a decisão judicial anteriormente citada, não há 
mais dúvidas ou discussões a respeito da legalidade de uma ferra-
menta que traz tantos benefícios aos cidadãos de modo geral.
16 Consultoria em Segurança
1.1.4 Consultoria em segurança privada
A consultoria em segurança privada é o serviço de assessoramento 
voltado ao desenvolvimento ou aperfeiçoamento de soluções em se-
gurança empresarial e pessoal, de acordo com as necessidades espe-
cíficas de cada cliente, no sentido de propiciar a proteção de bens, de 
informações estratégicas e de pessoas muito importantes (VIP).
Com base em um diagnóstico, o consultor pode determinar o que 
precisa ser implementado em termos de equipamentos e pessoal, as 
possíveis mudanças necessárias em um sistema de segurança pree-
xistente, no que se refere a rotinas, treinamento de pessoal e normas 
gerais de ação, para que a segurança patrimonial e pessoal atinja o me-
lhor nível possível em relação às variáveis existentes e às possibilidades 
de ocorrência de sinistros.
Uma característica importante do segmento privado de segurança, 
em detrimento do público, é a questão de não haver limitadores le-
gais em questão aos gastos (orçamento), ou seja, depende apenas do 
quanto cada empresa/VIP deseja investir em sua segurança(e do con-
vencimento por parte do consultor). As limitações legais para aplicação 
de meios são poucas, considerando apenas tipos de armas, calibres e 
proteções balísticas que a legislação prevê para esse nicho. As tecnolo-
gias possíveis são quase infinitas, quando pensamos no acesso que te-
mos, atualmente, às informações globalizadas sobre recursos na área 
de segurança.
1.1.5 Consultoria em segurança pública
A consultoria em segurança pública é o serviço de análise das ações 
estatais, em termos da aplicação judiciosa dos meios de prevenção e re-
pressão da criminalidade, executada por instituições responsáveis pela 
segurança pública de uma localidade, voltada à atuação em geral por 
determinados períodos ou ações pontuais em situações específicas.
Esse serviço é primordial, quando prestado internamente por es-
pecialistas integrantes das próprias corporações em que atuam, para 
planejamento e aplicação dos processos mais adequados à efetividade 
do serviço de segurança pública, por meio da construção de novas dou-
trinas de acordo com a necessidade, modernização dos meios de aná-
lise criminal, treinamento continuado do efetivo e controle das ações.
Consultoria em segurança pública e privada 17
O profissional especialista nessa área também pode ser contratado 
para prestar serviços fora das organizações estatais, principalmente 
por órgãos de imprensa em geral, utilizando seus conhecimentos como 
subsídio para construir raciocínios a respeito de determinados aconte-
cimentos ou fenômenos sociais.
Faz-se necessário ressaltar que, conforme Caetano e Sampaio (2016, 
p. 55), qualquer organização pública tem uma finalidade pública, a qual 
busca atender aos anseios da população. Normalmente, essa necessi-
dade pública a ser atingida está definida na própria lei que embasa a 
instituição. Nesse prisma, o consultor precisa ter o entendimento de 
como está estruturada a instituição estatal sobre a qual fará sua análi-
se, conhecer o contexto social anterior e atual da localidade de atua-
ção, procedimentos adequados de análise criminal, técnicas e táticas 
policiais, entre outros fatores que serão tratados em capítulos específi-
cos desta obra, para somente depois construir um juízo de valor a res-
peito de qualquer questão ligada à segurança pública.
Para conhecer melhor os 
conceitos de segurança 
pública e privada, leia o 
livro Trajetória e evolução 
da segurança empresarial.
MEIRELES, N. R. de M.; SANTOS, V. L. 
dos. São Paulo: Sicurezza, 2011.
Saiba mais
A Organização Internacional de 
Normalização ou Organização 
Internacional para Padronização, 
popularmente conhecida como 
ISO, é uma entidade que congre-
ga os grêmios de padronização/
normalização de 162 países, com 
sede em Genebra, na Suíça.
5
ABNT NBR, também chamada 
apenas de NBR, é a sigla para 
Norma Brasileira aprovada pela 
Associação Brasileira de Normas 
Técnicas. As NBRs são normas 
estabelecidas de acordo com um 
consenso entre pesquisadores e 
profissionais da área e aprovada 
por um organismo nacional ou 
internacional, no caso, a ABNT.
6
1.2 O mercado da segurança no Brasil 
Vídeo Alguns fatores, como mudanças nas relações de 
trabalho e empresas demitindo grande número de 
colaboradores para enxugar o orçamento, fizeram 
com que as organizações passassem a precisar de 
pessoas que lhes resolvessem os problemas, mas 
que não representassem um custo fixo. Algumas ISO 5 , 
como a 31000 (gestão de riscos), 27000 (segurança 
das informações) e a NBR 6 15991(continuidade de 
negócios), trazem indicadores de qualidade muito 
importantes, e as empresas que desejem atingir 
os níveis indicados nessas normas, necessitam de 
profissionais com alto grau de conhecimento para 
auxiliar nessas adequações.
A realidade do ambiente externo, como o au-
mento da criminalidade e a criação de uma nova 
cultura de segurança em nosso país, é outro fa-
tor motivador para o aumento da procura por se-
gurança pessoal e patrimonial e, consequentemente, pela falta de 
conhecimento técnico, torna-se necessária a contratação de um 
18 Consultoria em Segurança
consultor para determinar o que é realmente válido em termos de 
custo/benefício.
A questão da competitividade entre as organizações gera a ne-
cessidade de gestão de perdas e de sistemas contingenciais, segu-
rança da informação e outros que o consultor deve dominar, pois 
podem ser requisitados nesses casos. Além disso, o mercado ligado 
aos treinamentos coletivos ou individuais vem crescendo muito no 
Brasil e gera, com isso, oportunidades na área de segurança.
O consultor também vem sendo requisitado pelo setor público, 
para a estruturação de forças de segurança, como guardas muni-
cipais e formação de agentes de trânsito urbano, estruturação de 
centros de vigilância por câmeras, formação de colaboradores para 
proteção de autoridades municipais, entre outros.
1.2.1 Características da prestação de serviço
Como a consultoria em segurança é um ramo iminentemente de 
prestação de serviços, torna-se de suma importância conhecer algu-
mas características que podem trazer diferenciais na atuação de fu-
turos profissionais, de qualquer área, que fornecerão mão de obra 
especializada.
Uma das definições mais utilizadas para serviços é a de Kotler e 
Armstrong (2006 apud MEIRELES; SANTOS, 2011, p. 39), que afirmam: “é 
uma ação ou desempenho, essencialmente intangível, que uma parte 
pode oferecer à outra e que não resulta na posse de nenhum bem. Sua 
execução pode ou não estar ligada a um produto físico”. Suas caracte-
rísticas principais são: intangibilidade, inseparabilidade, variabilidade, 
perecibilidade e heterogeneidade.
A intangibilidade se refere ao fato de que, diferentemente de 
uma mercadoria (produto), o serviço, assim que é adquirido, não é 
passível de uma inspeção visual e física, é necessário ter confiança 
no prestador e, somente depois, será possível saber se o serviço foi 
de qualidade.
A inseparabilidade se refere à relação íntima entre quem presta o 
serviço e o consumidor, pois, no caso de um produto material, não há 
uma grande preocupação a respeito de quem fabricou ou criou aquela 
mercadoria; já nos serviços, sim.
Consultoria em segurança pública e privada 19
A variabilidade está ligada ao padrão de serviço, quando se com-
pra uma caixa de leite integral, por exemplo, há a ideia de que todos 
são iguais, variando apenas o preço. Contudo, quando se fala em mão 
de obra, o conceito muda completamente, visto que todos querem 
um prestador especializado e a fiscalização na execução é intensa.
A perecibilidade representa a impossibilidade de estocar serviços, 
ou seja, o prestador só pode assumir compromissos que consiga hon-
rar no prazo determinado e não deve deixar de atender os clientes por 
pensar que não poderia dar conta do tempo. É preciso que o prestador 
conheça o mercado e sua capacidade.
A heterogeneidade recai como uma característica dos seres huma-
nos. Como serviços são prestados de pessoas para pessoas, é lógico 
pensar que, apesar de oferecer um mesmo padrão de produto, quan-
do se fala em serviços, temos sempre que considerar certo nível de 
personalização.
1.2.2 Por que se contrata o serviço de consultoria?
A consultoria é uma atividade constantemente presente na vida de 
todos. Quando uma criança aprende a andar de bicicleta, por exem-
plo, aquele que a ensina está prestando uma consultoria, passando um 
conhecimento que dificilmente a criança conseguiria adquirir sem aju-
da. Por analogia, uma empresa buscará os préstimos de um consultor 
quando tiver dificuldades em resolver problemas com seus próprios 
recursos, ou seja, problemas que superam sua capacidade administra-
tiva naquele momento.
A busca de um técnico externo para consultoria traz a certeza de 
uma decisão ou constatação sem a influência de emoções, imparcial, 
pois não estará envolvido afetivamente com nenhuma pessoa ou setor, 
podendo aplicar a sua visão crítica, com foco no que realmente pode 
fazer a diferença na solução de problemas.
A consultoriapode atuar de diversas formas, visto que pode abran-
ger a organização como um todo, alguma área espe cífica ou somente a 
proteção de uma pessoa. Além disso, os projetos podem ser de curta ou 
longa duração, bem como na forma de intervenções pontuais.
De modo geral, os objetivos da consultoria em segurança são:
20 Consultoria em Segurança
 • analisar o ambiente interno – identificar fraquezas e 
potencialidades;
 • analisar o ambiente externo – buscar oportunidades e ameaças;
 • auxiliar na tomada de decisões com imparcialidade;
 • buscar soluções tecnológicas para resolver todas as demandas 
de segurança.
São alguns casos que motivam a contratação:
Resolução de problemas sem contratações permanentes
Nesse caso, a contratação de um consultor pode ser por motivos de 
economia, mantendo o quadro de funcionários enxuto. Algumas em-
presas prezam por manter poucos colaboradores trabalhando e pre-
ferem trazer mão de obra técnica temporária para resolver problemas 
pontuais. Dessa forma. o profissional contratado dedica todo o seu 
tempo para a solução requisitada, sem interferir na rotina, somente 
pelo tempo necessário ao serviço.
No mesmo prisma, pode surgir algum problema de ordem técnica 
que suplante o conhecimento dos funcionários existentes. Porém, por 
ser algo muito pontual e esporádico, a melhor opção pode ser con-
tratar um consultor por um curto período, em vez de efetuar novas 
contratações.
Busca por excelência
Mesmo sem ter problemas específicos, empresas podem buscar 
opiniões externas de especialistas como estratégia de desenvolvimen-
to e crescimento no mercado. Um observador externo, com boa expe-
riência e especialização, pode identificar gargalos e riscos, em busca da 
qualidade total.
Treinamento
Um nicho que tem crescido rapidamente é o de treinamentos, prin-
cipalmente devido às últimas alterações da legislação brasileira relativa 
às armas de fogo e munições.
O consultor pode atuar em nível empresarial (preparação de cola-
boradores de determinada área de segurança de uma empresa), que 
é algo que já tinha boa demanda, mas que aumentou, também, seu 
fluxo. Ainda, pode atuar em nível pessoal, referente à legítima defesa, 
como nos casos daqueles que desejam adquirir armas de fogo para 
proteção pessoal e/ou tiro esportivo.
Consultoria em segurança pública e privada 21
Demandas específicas de segurança
A questão mais comum ligada à procura do consultor em segurança 
é, sem dúvida, o aumento do risco da ocorrência de crimes, como fur-
tos, roubos, invasões, sequestros (tanto do VIP quanto de pessoas da 
família), entre outros.
Normalmente, empresas ou pessoas, exceto aquelas que atuam na 
área de segurança, não possuem qualquer conhecimento em seguran-
ça, por isso o consultor se torna fundamental.
Atuação na administração pública
Existem verbas específicas em órgãos públicos para a contratação 
de consultoria externa, abrangendo todas as esferas – federal, estadual 
ou municipal – que podem necessitar da intervenção de um profissio-
nal experiente para o desenvolvimento de projetos e, nesse caso, a ad-
ministração pública pode recorrer a um consultor com conhecimento 
específico para a produção disso.
É importante entender e estudar as legislações sobre o tema e estar 
acompanhando a liberação desses tipos de recursos financeiros para 
poder oferecer esse serviço. Buscas constantes sobre notícias são fun-
damentais nesse aspecto, tanto nos principais canais oficiais do gover-
no federal quanto nas fontes midiáticas mais confiáveis.
Alguns municípios também costumam buscar a consultoria quan-
do necessitam criar organismos de segurança. Em algumas situações, 
o consultor em segurança pode ser convidado a ser efetivado como 
chefe dessa nova força de segurança, por exemplo, um secretário do 
município, como já ocorreu em alguns casos concretos.
O livro Gestão estratégica 
do sistema de segurança: 
conceitos, teoria, processos 
e prática é uma ótima 
maneira de aprender 
mais sobre mercado e 
conceitos ligados à pres-
tação de serviço.
MEIRELES, N. R. M. São Paulo: 
Sicurezza, 2011.
Livro
1.3 Legislação pertinente ao tema 
Vídeo Nesta seção, serão demonstradas e distinguidas as normas que 
estruturam e regulamentam os serviços de segurança pública e pri-
vada, bem como aquelas que amparam o emprego do uso da força 
ou de qualquer outro meio de proteção a pessoas e edificações. Em 
geral, com exceção de algumas especificidades, são as mesmas para 
ambas as áreas.
22 Consultoria em Segurança
1.3.1 Segurança privada
Com relação à legislação pertinente à segurança, faremos apenas 
a exposição a respeito das normas que estruturam e regulamentam o 
serviço de segurança privada, considerando que, com exceção de algu-
mas especificidades, as leis que amparam o emprego do uso da força 
ou de qualquer outro meio de proteção de pessoas e edificações são as 
mesmas que a da segurança pública.
1.3.1.1 Lei n. 7.102, de 20 de junho de 1983
Apesar de ser uma legislação consideravelmente antiga, ainda está 
em vigor e traz dispositivos importantes, que regem uma série de ques-
tões condicionantes para a possibilidade de abertura e funcionamen-
to de estabelecimentos de segurança privada ou que dela dependem, 
conforme segue:
dispõe sobre segurança para estabelecimentos financeiros, esta-
belece normas para constituição e funcionamento das empresas 
particulares que exploram serviços de vigilância e de transporte 
de valores, e dá outras providências. (BRASIL, 1983b)
Todo o teor dessa lei traz informações essenciais ao consultor, mas 
julgamos que alguns tópicos merecem maior destaque:
 • veda o funcionamento de estabelecimentos financeiros que te-
nham guarda de valores ou movimentação de numerários sem 
um sistema de segurança aprovado pela PF. Um profissional que 
seja contratado para consultoria precisa conhecer detalhada-
mente essas exigências;
 • determina de que forma devem ser feitas as vigilâncias ostensi-
vas e os transportes de valores;
 • prevê condições mínimas para a abertura de empresas de segu-
rança, bem como para o exercício da profissão de vigilante;
 • incumbe o Ministério da Justiça, por meio da PF, a expedir as au-
torizações, realizar fiscalizações, aprovar uniformes, fixar tipos 
e quantidades de armas e rever anualmente as autorizações 
concedidas;
 • determina penalidades a quem descumprir a norma.
Consultoria em segurança pública e privada 23
1.3.1.2 Decreto n. 89.056, de 24 de novembro de 1983
Trata-se do regulamento da lei citada na subseção anterior. Com-
plementando os quesitos da norma, o decreto especifica quais equipa-
mentos e condições mínimas de segurança as instituições financeiras 
devem ter obrigatoriamente. Além disso, regula o formato, o funciona-
mento e as avaliações obrigatórias dos cursos de segurança privada, 
entre outros detalhamentos (BRASIL, 1983a).
1.3.1.3 Portaria n. 3.233, de 10 de dezembro de 2012
Ao considerar a lei e o decreto que delegam ao Ministério da Jus-
tiça, por meio da PF, a regulação, a autorização e a fiscalização dos 
serviços de segurança privada, a Portaria n. 3.233 traz todos os de-
talhamentos, bem como define questões não abrangidas na lei e em 
seu regulamento – os requisitos para funcionamento de empresas de 
transporte de valores, escoltas armadas, segurança pessoal e como 
devem ser os cursos de formação, extensão e reciclagem na área de 
segurança privada, por exemplo. Entre os principais dispositivos, es-
tão (BRASIL, 2012):
 • determina quais são as unidades da PF que deverão atuar em 
cada área e em qual função, definindo todos os documentos ne-
cessários e os serviços disponíveis;
 • demonstra especificações de níveis de blindagem veicular.
 • esclarece como devem ser apresentados os planos de segurança 
das empresas, para que possam ser aprovados;
 • detalha as quantidades, os tipos de equipamentos e armamen-
tos que são permitidos em cada modalidade de segurança e os 
requisitos e processos para aquisição, bem como normas de ar-
mazenamento e transporte;• normatiza a utilização de semoventes (cães) para a segurança;
 • trata dos direitos e deveres da classe, condutas, transgressões e 
punições de vigilantes, além das mesmas questões relacionadas 
às empresas;
 • traz, em seus anexos, toda a programação mínima a ser atendida 
para os cursos de formação, extensão e reciclagem na área de 
segurança privada.
24 Consultoria em Segurança
1.3.2 Segurança pública
Existem muitos dispositivos legais relacionados à segurança pública, 
tanto em um aspecto geral quanto específico, mas para que esta obra 
seja mais direta, serão pontuados aqueles julgados como principais.
1.3.2.1 Constituição Federal
O artigo 144 da Constituição Federal (BRASIL, 1988) define o que é 
segurança pública e, em todos os seus incisos e parágrafos, determina 
quais são os órgãos responsáveis por sua execução e a destinação/mis-
são de cada um deles.
O artigo 42 é, também, um importante dispositivo a ser estudado 
detalhadamente, pois caracteriza os militares federais e estaduais, 
dando a diferenciação de regime de emprego deles em relação aos de-
mais agentes de segurança pública civis.
1.3.2.2 Sistema Único de Segurança Pública (SUSP)
A Lei n. 13.675, de 11 de junho de 2018, disciplina a organização 
e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pública, 
por meio de atuação conjunta, coordenada, sistêmica e integrada dos 
órgãos de segurança pública e defesa social da União, dos estados, 
do Distrito Federal e dos municípios, em articulação com a sociedade 
(BRASIL, 2018).
Em suma, essa lei foi criada para dar princípios, diretrizes e objeti-
vos bem delimitados, fomentando possibilidades para que os órgãos 
federais, estaduais e municipais de segurança pública possam traba-
lhar em conjunto.
1.3.4 Excludentes de Ilicitude
O Código Penal Brasileiro, em seu artigo 23 e seguintes, define quais 
são as situações em que o agente pratica um ato ilícito sem que isso 
seja considerado uma atividade criminosa, ou seja, o excludente é um 
mecanismo que permite que uma pessoa pratique uma ação que, nor-
malmente, seria considerada um crime.
É muito importante o entendimento de cada um, principalmente 
por agentes de segurança pública, para que saiba como relatar ade-
Consultoria em segurança pública e privada 25
quadamente no histórico de um BO, até mesmo em uma declaração 
em um inquérito policial ou auto de prisão em flagrante delito – se fez 
o emprego da força para conter a resistência ou respondeu à agressão 
de um meliante, por exemplo. Esses dispositivos legais se aplicam a 
todos os cidadãos, porém aqueles que têm o dever legal de agir, ao se 
deparar com a prática de atos delituosos, sempre estão mais sujeitos 
a ter que recorrer a eles, principalmente à legítima defesa, que será o 
único dispositivo a ser destacado por esta obra.
1.3.4.1 Legítima defesa
De acordo com o artigo 25 do Código Penal, “age em legítima defesa 
quem, usando moderadamente os meios necessários, repele injusta 
agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem” (BRASIL, 1940). 
Como ensina o professor Jeffrey Chiquini (2020), a legítima defesa é 
uma autorização legal para defender (a si próprio ou a terceiros), e não 
para matar. O especialista também trata da necessidade de entender 
a diferença de norma penal incriminadora e norma penal permissiva. 
O entendimento que a maioria das pessoas tem é que o direito penal 
somente dita leis criminalizando condutas e impondo sanções. Mas a 
norma penal também pode ser não incriminadora ou permissiva, que é 
o caso do excludente e ilicitude. Crime é um fato típico, ilícito e culpável, 
e considerando que o excludente descaracteriza o segundo item, não 
existe crime.
É importante que não ocorra a confusão entre legítima defesa e es-
trito cumprimento do dever legal. Um policial, ao atirar em um agressor 
armado, sempre agirá em legítima defesa, uma vez que não é seu dever 
atirar em pessoas. Uma condicionante do artigo 25 é que seja utilizado 
contra seres humanos. Por exemplo, durante uma perseguição a um 
meliante, ao entrar em um terreno, caso o agente de segurança tenha 
que atirar em um cão feroz que surja e o ataque, essa ação configura o 
que se denomina como estado de necessidade, que é previsto no artigo 
24; porém, se o cão é treinado e o suspeito comandar o cão a atacar, 
voltamos à legítima defesa, pois a ação foi de um humano fazendo com 
que o animal atacasse. Ainda sob a ótica do professor, os requisitos 
para aplicar o dispositivo são:
 • a agressão ser injusta, e não necessariamente criminosa. Por 
exemplo, se um inimputável, que pode ser um indivíduo com pro-
26 Consultoria em Segurança
blemas mentais, faz uso de uma arma de fogo contra o policial, 
mesmo não sendo considerada uma ação criminosa (esse indiví-
duo não pode ser punido perante a lei), é injusta, e pode ser re-
pelida. É importante observar que quem provoca uma agressão 
injusta não estará amparado;
 • a ação tem que ser atual ou iminente, ou seja, deve estar ocorren-
do ou com o agressor esboçando a real intenção de executá-la. 
Depois do término da injusta agressão, não se admite legítima 
defesa pretérita, trata-se, nesse caso, de uma execução;
 • aquele que, após cessada a agressão, permanece utilizando os 
meios de defesa, pode ser responsabilizado pelo excesso. Porém, 
existe o caso de excesso exculpante, quando praticado por per-
turbação de ânimo, medo ou susto, podendo ser desconsiderado 
se ocorrer nessas condições;
 • a legítima defesa putativa é outra variação do dispositivo, utiliza-
da nos casos em que o agente legal imaginou haver uma injusta 
agressão, que na verdade não existia, porém fez o uso da força. 
Um exemplo clássico é a utilização de um simulacro de arma por 
parte de um criminoso que o policial imagina ser uma arma real 
e, deparando-se com a situação, atira contra ele. Nesse caso, o 
policial estará amparado pela excludente;
 • o artigo 73 do CP traz um dispositivo importante que abrange os 
casos em que um policial, ao tentar atingir um marginal, erra o 
disparo e acerta um inocente. Mantém-se a intenção da legítima 
defesa, o policial não é responsabilizado penalmente, mas pode 
ser condenado civilmente a indenizar a família da pessoa que foi 
atingida. É um erro de execução. Pode, ainda, ser punido culposa-
mente, caso não tenha seguido alguma regra técnica e, por isso, 
colaborou para o erro.
O pacote anticrime, lançado no Brasil pelo então Ministro da Justiça, 
Sérgio Moro, trouxe algumas novidades para a legislação, entre elas, 
um acréscimo no artigo 25 do CP, em seu parágrafo único:
observados os requisitos previstos no caput deste artigo, con-
sidera-se também em legítima defesa o agente de segurança 
pública que repele a agressão ou risco de agressão a vítima man-
tida refém durante a prática de crimes. (BRASIL, 1940)
Esse dispositivo trouxe à legislação penal o risco de agressão. Isso 
é uma novidade que veio para preencher uma lacuna que existia na lei, 
Consultoria em segurança pública e privada 27
visto que muitas eram as discussões, por exemplo, sobre a ação de um 
atirador policial de precisão (sniper), quando era autorizado a efetuar 
um disparo contra um tomador de refém que apontava uma arma para 
a pessoa mantida no cárcere. Era uma execução sumária? Hoje não 
mais. Essa ação tornou-se legal, o agente de segurança pública age em 
legítima defesa de terceiros.
Outra questão muito importante é que, nesses casos, diferentemen-
te das ações já demonstradas, mesmo que o infrator não esteja com a 
arma apontada para o refém e esteja com ela na cintura ou tenha dei-
xado sobre uma mesa, ainda se considera o risco e ameaça iminente. 
Caso o criminoso se negue a soltar o refém e se entregar pacificamen-
te, pode ser escolhido o melhor momento para efetuar o disparo, sem 
incorrer em legítima defesa pretérita.
1.3.4.2 Uso da força por agentes públicos
Em nível mundial, a segurança pública também é regida por legis-
lações, pois, em qualquer parte do planeta, tem-se o entendimento 
deque, invariavelmente, em determinado momento, os responsáveis 
pela aplicação da lei terão que usar a força para manter a ordem, in-
dependentemente da legislação local, cultura etc. Trata-se do código 
de conduta para funcionários públicos responsáveis pela aplicação da 
lei, adotado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, pela resolução 
n. 34/169, de 17 de dezembro de 1979, em todos os seus artigos.
Seguindo as orientações dessa legislação internacional (ONU, 1979), 
o Brasil também criou, nos mesmos parâmetros, uma norma para o 
uso da força pelos responsáveis pela aplicação da lei, que é a Portaria 
Interministerial n. 4.226 (BRASIL, 2011).
1.3.4.3 Lei de abuso de autoridade
Recentemente, foi lançada a nova lei de abuso de autoridade, em 
substituição à legislação anterior sobre o tema, que era bastante anti-
ga. Trata-se da Lei n. 13.869, de 5 de setembro de 2019. É importante 
o aprofundamento em relação a esse dispositivo legal, uma vez que 
influencia diretamente a atividade da segurança. Abordaremos, aqui, 
apenas alguns pontos relevantes.
28 Consultoria em Segurança
Algumas questões são destacadas pelo professor Jeffrey Chiquini 
(2020):
 • essa lei abarca toda e qualquer função pública com remunera-
ção, não somente policiais;
 • é um crime que exige dolo específico do agente;
 • o policial, mesmo de férias ou de folga, se utilizar da função pú-
blica para qualquer ato ilegal previsto nessa lei, comete abuso de 
autoridade;
 • os crimes previstos nessa lei são de ação pública incondiciona-
da, ou seja, independem de manifestação de vontade da vítima, 
pois considera-se que eles são cometidos contra a administração 
pública;
 • expor o preso à curiosidade pública, situação vexatória ou de-
terminar que produza provas contra si mesmo, entre outras que 
eram muito comuns, hoje são previstas na nova lei;
 • condução coercitiva até delegacias de polícia não podem mais ser 
realizadas, somente em caso de prisão em flagrante ou manda-
dos judiciais;
 • a perda do cargo público como consequência de condenações 
acima de dois anos não é automática, o juiz é que vai decidir so-
bre a imposição ou não dessa questão como pena acessória.
Conhecer bem as limitações legais impostas à profissão do agente 
de segurança serve como escudo protetor durante a atuação e nos livra 
de aborrecimentos e gastos desnecessários.
1.3.4.3 Uso de algemas
A Súmula Vinculante n. 11, do Supremo Tribunal Federal, traz orien-
tações sobre o tema. Cabe ressaltar que, principalmente nesse caso, 
a teoria passa bem longe da prática. Isso se deve ao fato de que essa 
orientação legal trata o uso de algemas com uma exceção extrema, 
quando, na verdade, a regra é que a maioria das pessoas que são de-
tidas pelo cometimento de um crime trazem, normalmente, todos os 
riscos que permitem o uso de algemas. É o teor da Súmula do STF:
só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado 
receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, 
por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade 
Consultoria em segurança pública e privada 29
por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e 
penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou 
do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabi-
lidade civil do Estado. (BRASIL, 2008, grifos nossos)
É indispensável que o agente de segurança que necessite fazer uso 
de algemas, conste detalhadamente o motivo no BO, inclusive citando 
a referência da norma jurídica.
1.4 O consultor em segurança 
Vídeo Como a finalidade principal desta obra é a forja de profissionais que 
poderão atuar como consultores, tanto em segurança pública quanto 
privada, faremos um apanhado de características, qualidades e conhe-
cimentos indispensáveis para que, sem divagar a respeito, possamos 
descrever de maneira objetiva como deve ser o seu perfil.
Primeiramente, o mercado não aceita mais pseudoespecialistas em 
nenhuma área, principalmente em questão de segurança. Não há mais 
espaço para amadores. Graduações e pós-graduações específicas não 
são mais diferenciais, são pré-requisitos.
O consultor em segurança é o profissional que presta serviços em 
empresas e corporações de diversos setores, que podem ser públicas 
ou privadas, traçando diagnósticos em busca de falhas e/ou possibili-
dades de melhorias, para, posteriormente, recomendar as soluções em 
segurança que melhor se adéquem a cada realidade, bem como criar 
estratégias para minimizar riscos e dar suporte à tomada de decisões.
1.4.1 Formação e experiência profissional
Não existe nenhum dispositivo legal que define qual é a formação 
mínima para um consultor em segurança, porém já existem gradua-
ções, pós-graduações e extensões nesse segmento que, sem dúvida, 
é considerado, hoje, um campo de conhecimento científico. Os cursos 
de formação de oficiais policiais militares e bombeiros militares, por 
exemplo, há muitos anos são reconhecidos pelo Ministério da Educa-
ção (MEC) como de nível superior, são considerados bacharelados em 
segurança pública.
30 Consultoria em Segurança
Para se tornar um profissional desse ramo devidamente qualifica-
do, são condicionantes especializações em análise criminal, gestão em 
segurança, planejamento estratégico, entre outras que tratem sobre 
legislação aplicada, ferramentas de diagnóstico, gestão e análise de ris-
cos, gestão de recursos humanos e afins.
Pessoas com experiência operacional anterior na execução direta 
de procedimentos em segurança acabam tendo mais facilidades e 
vantagens sobre outras que já iniciaram em funções de gestão ou 
supervisão e nunca atuaram operacionalmente. Isso ocorre porque 
nem sempre um chefe consegue ser um líder, justamente por não 
saber ao que seu subordinado é submetido e por não saber como 
executar a função que deverá ensinar, orientar e corrigir. Um con-
sultor precisa saber onde costumam surgir os gargalos para poder 
ter referenciais em suas análises e seus diagnósticos.
1.4.2 Características e qualidades desejáveis
Os predicados que aqui serão elencados, apesar de subjetivos, 
pelo fato de existirem em cada ser humano com maior ou menor 
intensidade e em alguns nem se manifestar expressivamente, são 
muito importantes para profissionais da área da segurança. A ex-
periência demonstra que algumas pessoas nunca poderão ter tais 
características aqui citadas, e outras simplesmente não querem ter.
O caráter se molda quando ainda somos muito jovens e depende 
de uma série de experiências de vida para que seja direcionado de 
determinada forma. Funciona como um escudo do nosso ego, inclu-
sive para a preservação da nossa lucidez. Assim, caso as influências 
recebidas nas fases iniciais da vida não sejam tão positivas, torna-se 
difícil ter comportamentos adequados em determinadas carreiras 
profissionais. Por isso percebemos que algumas exigem testes psi-
cológicos rígidos, como é o caso dos policiais.
Alguns padrões de comportamento, porém, estão ligados ao 
autocontrole, à personalidade e à tomada de decisões, ou seja, o 
próprio indivíduo deve se policiar para não cometer determinados 
erros, a fim de ser um consultor com credibilidade no mercado de 
trabalho.
Consultoria em segurança pública e privada 31
1.4.2.1 Ética profissional
Estudos filosóficos sobre deontologia, por Jeremy Bentham (1834 apud 
VALLA, 2013, p. 6), tinham a pretensão de formular um tratado de deveres 
ou noções dos deveres e direitos das pessoas na concepção de que uma 
ação moralmente correta é a que produz maior prazer (bem) e/ou menor 
sofrimento (mal) para a maioria. Portanto, Bentham vinculou a ética ao 
utilitarismo dos atos como medida de toda a virtude.
Embora a doutrina filosófica não tenha prosperado, a terminologia 
vinculou-se à ética aplicada a um segmento específico do comporta-
mento humano e do dimensionamento da conduta. Tem-se, então, a 
deontologia profissional. Com base nesse enfoque, a deontologia, se-
gundo ensina a Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo (PEMC)do 
Ministério da Educação, define-se como “a ciência que estabelece nor-
mas diretoras da atividade profissional sob o signo da retidão moral ou 
da honestidade, sendo o bem a fazer e o mal a evitar no exercício da 
profissão” (ÁVILA, 1975, p. 213).
A dimensão ética da profissão é o objeto da deontologia profissio-
nal. Para Valla (2013), a deontologia, na dimensão ética da profissão, 
traça três linhas de conduta válidas a todas as profissões como normas 
gerais importantes para conferir a base ética de cada ocupação.
A primeira linha da deontologia
Concentra-se na profissão em si, cujo mandamento é relacionado 
com o bom nome e a reputação social. Trata da competência, como 
resultante da qualidade de quem se dedica com especial cuidado a 
certo estudo, ramo ou atividade, melhorando a imagem da profissão. 
Além disso, trata de honestidade, no sentido da probidade, que busca 
inspiração nos mais legítimos princípios da moralidade e na integrida-
de do caráter. Ambas as características são condicionantes para se ob-
ter credibilidade perante o público.
A segunda linha
Refere-se às relações profissionais em diferentes níveis de hierar-
quia e entre pares de profissão. O relacionamento sadio no ambiente 
de trabalho torna-se possível quando o sentimento de liderança, além 
de motivar a lealdade, a confiança e o respeito, atua como papel de 
32 Consultoria em Segurança
destaque no esforço cooperativo entre pessoas. Apesar da predomi-
nância dos valores e dos interesses das corporações, admite-se o es-
forço por resultados decorrentes de projetos pessoais, todavia, sem 
perder de vista o senso moral compatível com os limites de moralidade 
que presidem os procedimentos na hierarquia.
A terceira linha
Relativa à projeção do produto profissional de acordo com as expec-
tativas da clientela. Envolve três preocupações fundamentais:
A prestação de serviço: nesse sentido, está implícita a qualidade 
do serviço, revelada pela rapidez e eficiência, respaldadas por um alto 
nível de profissionalismo para se alcançar a excelência.
A contrapartida da remuneração: traduzida por meio de uma 
compensação digna e compatível, cujo objetivo, além da retribuição 
monetária, possa garantir boas relações de trabalho. Considerados os 
fatores que caracterizam o serviço ou a função (utilidade, qualidade, 
temporalidade, espacialidade, grau de risco e ambientalidade) e a es-
pecialidade contida, todo profissional tem o direito de receber, dentro 
dos parâmetros aceitáveis e suportáveis pela sociedade, remuneração 
justa pelas obrigações prestadas.
O sigilo profissional: esse preceito, além de uma das exigências da 
ética profissional, deve ser considerado, também, um direito-dever de 
todo profissional que, além de exercê-lo, deve defendê-lo em benefí-
cio de sua credibilidade e da corporação profissional à qual pertence. 
Não envolve apenas normas de abstenção em referir-se publicamente 
a assunto técnico ou de serviço, seja ou não de caráter sigiloso.
1.4.2.2 Discrição
Na sabedoria popular, é comum ouvir que quem fala mal de alguém 
para você, também falará mal de você a alguém. Essa máxima é um dos 
exemplos de indiscrição que, com certeza, pode provocar a perda de 
alguns possíveis futuros clientes aos profissionais de segurança. Ainda, 
por meio de comentários dessa natureza, deixa-se transparecer a inca-
pacidade de manter sigilo de informações, já tratado no item anterior.
Independentemente de o fato ser relevante, não se deve fazer co-
mentários com juízo de valor a respeito de outras empresas/pessoas 
ou outras unidades, e muito menos a respeito de informações que po-
Consultoria em segurança pública e privada 33
dem ser estratégicas, a não ser que sua profissão seja voltada à espio-
nagem, e não à consultoria.
1.4.2.3 Lealdade
Abrir as portas de sua própria empresa e entregar nas mãos de um 
profissional que não pertence a ela não é algo muito fácil, principal-
mente pelo fato de que o consultor terá acesso a questões sensíveis. 
Quando discorremos sobre ética e discrição, já pontuamos várias ques-
tões que estão ligadas à lealdade. Porém, essa qualidade está ligada 
à honra e probidade. É sobre ser fiel aos compromissos assumidos e 
entregar o produto que prometeu. Isso faz com que o consultor seja 
convidado mais vezes ao convívio daquele local e gerará sua indicação 
a outras empresas.
Ser leal com seu cliente parece algo óbvio, mas existe uma caracte-
rística que pode atrapalhar essa qualidade desejável, que é a ambição. 
Querer ganhar muito dinheiro em curto espaço de tempo é o principal 
fator para que se ofereça uma coisa e entregue menos do que o com-
binado, ou que se assuma compromissos além do que se pode cumprir 
com qualidade.
1.4.2.4 Empatia
Empatia é se colocar no lugar do outro, buscando entender sua vi-
são a respeito de determinado assunto ou problema. De acordo com 
Meireles e Césare (2005), essa característica, na área de segurança, é 
importante em relação ao cliente, aos colaboradores e aos infratores.
Cliente: para entender o que ele espera dos serviços que serão 
prestados e dos resultados que a consultoria trará.
Colaboradores: é necessário haver uma relação de confiança e res-
peito, com a finalidade de que as orientações e os treinamentos sejam 
colocados em prática, visto que a maior parte dos resultados de uma 
consultoria dependerá da mudança de atitudes desses atores, quando 
esse for o ponto focal a ser melhorado.
Infratores: ao se colocar no lugar do infrator, o consultor poderá 
perceber melhor as vulnerabilidades dos locais a serem analisados, 
planificando com mais precisão a segurança. Obviamente, nesse caso, 
não basta ter empatia, é necessário ter passado por setores operacio-
34 Consultoria em Segurança
nais para conhecer a criminalidade e estudar análise criminal, a fim de 
complementar as ações.
1.4.3 Principais áreas de atuação
Segundo Meireles (2005, p. 57), as principais áreas de atuação para 
consultoria empresarial são:
 • planejamento estratégico;
 • planejamento estratégico de TI;
 • reestruturação empresarial;
 • redesenho de processo/padronização;
 • análise de clima organizacional;
 • remuneração e incentivos;
 • recrutamento e seleção;
 • avaliação de desempenho;
 • gestão financeira;
 • gestão contábil/tributária;
 • marketing/comunicação;
 • logística;
 • análise de risco corporativo;
 • sistema de segurança empresarial.
Como é possível notar, alguns especialistas consideram um campo 
bastante vasto para o consultor, porém existem alguns nichos mais es-
pecíficos para a segurança, como:
 • treinamento em segurança;
 • análise de riscos e análise criminal;
 • construção de planos de segurança pessoal e patrimonial;
 • planejamento de segurança eletrônica;
 • segurança contra incêndios;
 • espionagem e contraespionagem;
 • inteligência.
É um mercado com infinitas possibilidades, no entanto, para ser um 
profissional competitivo, exige-se real experiência e muito estudo.
Para conhecer mais as ca-
racterísticas e qualidades 
desejáveis aos profissio-
nais da segurança, leia a 
obra Pequena enciclopédia 
de moral e civismo.
ÁVILA, F. B. Rio de Janeiro: FENAME, 
1975.
Livro
Consultoria em segurança pública e privada 35
1.5 O uso da força e os direitos humanos 
Vídeo Historicamente, conforme Tordoro (2019), grandes conflitos no 
mundo provocaram o surgimento de documentos relativos ao tema 
direitos humanos, como a Declaração de Virgínia (1776), na Revolução 
Norte-americana, e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão 
(1789), na Revolução Francesa. Contudo, merece especial destaque, 
dado o contexto e a contemporaneidade, a Declaração Universal dos 
Direitos Humanos, estabelecida em Assembleia Geral da Organização 
das Nações Unidas (ONU), em 1948.
Cabe salientar que a própria ONU foi criada em 10 de dezembro de 
1945, tendo como fomento um conflito, aliás o maior que já existiu, que 
foi a Segunda Guerra Mundial.
É notável que todos os documentos voltados à proteção daquilo 
que temos demais precioso só foram idealizados em meio a derrama-
mento de sangue e, o que é pior, mesmo depois de estabelecidos, com 
vários países como signatários, não passaram a ser respeitados com-
pletamente, vindo a Conferência Mundial sobre os Direitos Humanos a 
ser reconhecida formalmente quase 45 anos depois, na Convenção de 
Viena, em 1993.
Atualmente, segundo Alves (1999 apud TORDORO, 2019, p. 26), 
esses direitos se veem ameaçados por múltiplos fatores, os quais já 
existiam, continuam existindo e, provavelmente, continuarão. Entre 
eles estão o autoritarismo, os preconceitos arraigados e a exploração 
econômica. São ameaças antigas e atuais que vão se perpetuando ao 
longo da história pós-moderna.
Aqueles que trabalham com segurança pública e privada estão in-
timamente inseridos nesse contexto e são os mais cobrados pelo des-
cumprimento dessas regras, notadamente porque, quando precisam 
agir para repelir ameaças, fazem o uso da força em seus vários níveis 
e intensidades. Nesse sentido, estudaremos esse tema nesta seção, 
buscando dirimir dúvidas recorrentes dos profissionais dessas áreas, 
justamente para defender que a aplicação dos meios necessários para 
conter um agressor é justa, não fere os direitos humanos e, muito pelo 
contrário, é um direito humano do operador de segurança pública ou 
privada se defender de um ataque injusto quando precisar agir, inclusive 
amparado por lei, como já estudamos na legislação pertinente ao tema.
36 Consultoria em Segurança
1.5.1 Conceito de direitos humanos
Direitos humanos, segundo a ONU (2020), são os direitos que todo 
ser humano tem, desde o seu nascimento, sem nenhuma distinção, 
independentemente de qualquer condição econômica, social ou étnica. 
Para a organização, algumas das características mais importantes dos 
direitos humanos são:
 • o respeito pela dignidade e o valor de cada pessoa;
 • a aplicabilidade universal, sem distinção de qualquer espécie;
 • ninguém pode ser privado desses direitos, a não ser por circuns-
tâncias previstas em lei, como condenações judiciais, em que 
existe previsão de cerceamento da liberdade;
 • todos os direitos previstos pela organização são transversais, ou 
seja, não basta respeitar apenas alguns direitos humanos em de-
trimento de outros;
 • todos os seres humanos possuem igual valor perante a sociedade. 
1.5.2 Direitos humanos no Brasil
Os anais da história brasileira, assim como de outros países, trazem 
importantes lutas na questão dos direitos humanos. Entretanto, em 
nosso país, somente houve algo concreto nessa área com a Constituição 
Federal de 1988, notadamente em seu artigo 5°, com afirmação de que 
“todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a 
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e 
à propriedade” (BRASIL, 1988). 
Todos os incisos desse artigo tratam de direitos individuais dos ci-
dadãos brasileiros e, sem dúvida, os direitos humanos foram as vigas 
mestras da Carta Magna de 1988.
Segundo Mesquita e Pinheiro (1997 apud TORDORO, 2019, p. 40), o 
governo brasileiro e os estados da federação obrigaram-se a proteger 
não apenas os direitos humanos definidos nas constituições federal e 
estaduais, mas, igualmente, aqueles definidos em tratados internacio-
nais, reconhecidos como válidos para aplicação interna pela Constitui-
ção de 1988. Em 13 de maio de 1996, em meio ao trauma causado 
Consultoria em segurança pública e privada 37
pelo evento conflitoso em Eldorado dos Carajás, no Pará, houve o lan-
çamento do primeiro Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH) 7 
do Brasil. Depois desse, foram lançados mais dois, um em 2002 e outro 
em 2009, com uma alteração em 2010.
Conforme Adorno (2010 apud TORDORO, 2019), o maior foco do 
primeiro PNDH, até mesmo devido ao fato gerador, foi o combate às 
injustiças, à arbitrariedade e à impunidade, especialmente daqueles 
encarregados de aplicar a lei. Os principais resultados foram alcança-
dos na área da segurança pública, com a tipificação do crime de tor-
tura com penas mais severas (1995); a transferência da competência 
da justiça militar para a justiça comum (1996) e para o julgamento de 
policiais militares nos casos de crimes dolosos contra a vida; a regula-
mentação da escuta telefônica (1996); a criminalização do porte ilegal 
de armas de fogo (antes contravenção penal); a criação do Sistema 
Nacional de Armas (1997); e a criação da Secretaria Nacional de Direi-
tos Humanos (1997).
O segundo PNDH manteve as orientações do primeiro e ampliou 
alguns direitos, como livre orientação sexual, identidade de gênero e 
proteção aos ciganos; deu maior importância ao combate à violência 
familiar em ambiente doméstico, que resultou na Lei n. 11.340 de 2006 
(conhecida como Lei Maria da Penha), ao trabalho infantil e ao traba-
lho forçado, além disso atentou aos direitos de pessoas com deficiên-
cias. Todavia, o que mais marcou esse documento foi a incorporação 
dos direitos econômicos, sociais e culturais e os direitos dos afrodes-
cendentes, sendo a primeira vez que o Estado brasileiro reconheceu 
a existência do racismo e apontou iniciativas para promover políticas 
compensatórias e a igualdade de oportunidades.
Ainda de acordo com Adorno (2010 apud TORDORO, 2019), o tercei-
ro PNDH, comparado aos dois primeiros, é mais extenso e foi dividido 
em seis eixos:
 • interação democrática entre o Estado e a sociedade civil;
 • desenvolvimento e direitos humanos;
 • universalização de direitos em um contexto de desigualdades;
 • segurança pública, acesso à justiça e combate à violência;
 • educação, cultura e direitos humanos;
 • direito à memória e à verdade.
Primeiro programa do gênero na 
América Latina e o terceiro no 
mundo, elaborado em parceria 
com a sociedade civil.
7
38 Consultoria em Segurança
Nos anos subsequentes, foram feitos relatórios, por Alston (2010), a 
respeito da criminalidade no Brasil, os quais apontaram uma série de 
problemas nos padrões de ação dos policiais brasileiros, indicando que 
estes, em vez de investigar e prender, executavam os infratores envolvi-
dos em crimes. Os homicídios eram registrados como resistência à prisão 
por parte do suspeito, sendo que a sugestão foi que essas ocorrências 
fossem, também, registradas como homicídios, e não resistência, sendo 
investigadas com mais afinco para se chegar às causas de tanta força letal.
De acordo com Tordoro (2019), o problema não está na expressão 
que se utiliza, mas, fundamentalmente, nas práticas policiais no que 
tange ao uso da força e nas falsas contradições que existem sobre seu 
uso. Isso deve ser combatido com educação em direitos humanos, re-
formulação de currículos e preparação de professores civis e militares 
para as atividades de ensino nas academias de polícia espalhadas pelo 
Brasil, além de todas as escolas, do ensino fundamental ao superior, 
vencendo a ignorância sem nenhum viés ideológico.
Ao analisar as duas opiniões, nota-se, de imediato, que se adotásse-
mos no Brasil as indicações dos relatórios da ONU, agiríamos somente 
nos efeitos da violência, diferentemente da opinião de Tordoro (2019), 
que considera mais adequado tratar a causa principal. Prova-se, dessa 
forma, que quem conhece e pode melhorar a realidade brasileira são 
os profissionais brasileiros de segurança. Organizações interacionais 
nem sempre conseguem conhecer os sistemas como um todo, e quase 
sempre a solução sugerida é intensificar investigações e punir os res-
ponsáveis, nada além disso. Isso acaba se tornando um ciclo vicioso, 
que resulta na revolta daqueles que estão dia a dia diante da criminali-
dade. Não podemos defender a impunidade, mas há que se entender 
alguns fatores, como a descrença na persecução criminal, por exemplo.
Prender um infrator perigoso e encontrá-lo nas ruas no dia seguinte 
é frustrante para qualquer operador de segurança pública. Além de 
frustrante, denota impunidade, quebra na sequênciado seu trabalho 
e, o que é pior, gera perigos diretos às famílias dos profissionais, uma 
vez que a possibilidade de vingança é muito grande. Diferentemente 
daqueles que cumprem a lei, os infratores não respeitam nada, muito 
menos os direitos humanos, não seguem “regras justas para uma luta”, 
ou seja, eles agem da maneira que melhor lhes convém, sem medir 
esforços para atingir os seus intentos.
Consultoria em segurança pública e privada 39
Nada é justificativa para se fazer justiça com as próprias mãos, mas 
é preciso saber qual é a causa de uma doença para, então, administrar 
o remédio correto, a fim de curá-la, e não simplesmente amenizar os 
sintomas, pois isso pode agravar a doença, que continuará presente.
1.5.3 Criação de cultura diferenciada de direitos 
humanos
Como já mencionado, a educação é o caminho para uma mudan-
ça real nas ações e, consequentemente, nos resultados do sistema de 
segurança brasileiro. Como afirma Tordoro (2019), o uso devido da 
força, necessariamente, passa pela educação em direitos humanos. 
Ao tratar da formação policial e mecanismos de controle e monitora-
mento da violência policial, a Educação em Direitos Humanos (EDH) é, 
atualmente, um dos instrumentos mais importantes entre as formas 
de prevenção das violações desses direitos, pois educa na tolerância, 
na diversidade, na valorização da dignidade humana e nos princípios 
democráticos. Consiste em uma das principais ferramentas para supe-
rar as barreiras que impedem as mudanças culturais e ideológicas, que 
afetam sobremaneira as ações policiais no Brasil.
Ao analisar a opinião do professor, entende-se que a única solução 
viável é encarar o problema de frente e discutir isso com o profissional 
que está na “ponta da lança”, ou seja, o operador de segurança que 
está atuando na atividade-fim, trazê-lo constantemente aos bancos es-
colares para aprender e rever conceitos, principalmente daqueles com 
mais tempo de serviço, que iniciaram suas carreiras antes de várias das 
mudanças de legislação que tivemos nos últimos tempos e, por isso, 
precisam de atenção especial.
Além disso, essa é uma doutrina que deve ser estendida à popu-
lação em geral. Crianças que são educadas com valores cívicos bási-
cos serão, provavelmente, adultos bem preparados para um excelente 
convívio em sociedade.
Para Genevois (2007 apud TORDORO, 2019, p. 62), uma sociedade 
mais justa e democrática, aspiração de todos, precisa de uma mudança 
de mentalidades, o que somente acontecerá por meio da educação, 
que incuta valores, ética, justiça, tolerância e fraternidade.
40 Consultoria em Segurança
1.5.4 O uso da força
Como já abordado anteriormente, quando houver o descumpri-
mento de determinada regra interna de uma empresa ou mesmo o 
cometimento de um crime, o agente de segurança pública ou priva-
da, invariavelmente, terá que adotar medidas repressivas para conter 
aquela ação, ou seja, estará empregando algum nível de uso da for-
ça. Isso contraria os direitos humanos de alguma forma? Essa questão 
logo será apresentada, mas, antes, para um melhor entendimento, é 
preciso observar alguns conceitos básicos.
Força
Intervenção coercitiva imposta à pessoa ou grupo de pessoas por 
parte do agente de segurança pública, com a finalidade de preservar a 
ordem pública e assegurar o cumprimento da lei (BRASIL, 2011).
Uso seletivo ou diferenciado da força
Consiste na seleção adequada do nível de força necessária para 
controlar um infrator. Os níveis relacionados ao uso da força e as res-
postas esperadas podem ser elencados da seguinte forma:
 • presença do agente de segurança: situação de normalidade;
 • verbalização: tendência à colaboração;
 • controles de contato: resistência passiva;
 • controle físico: resistência ativa;
 • instrumentos de menor potencial ofensivo: agressão não letal;
 • força letal: agressão letal.
É importante o entendimento de 
que, apesar de os níveis serem es-
calonados da maneira como foram 
apresentados, a qualquer momento o 
agente de segurança pode passar de 
um nível baixo para o mais elevado, 
sem necessariamente utilizar os in-
termediários, visto que dependerá da 
reação do agressor.
Esse é um padrão utilizado por 
forças policiais do mundo todo, mui-
HABILIDADE OPORTUNIDADE
RISCO
FORÇA LETAL
Figura 2
Triângulo da força letal
Fonte: Elaborada pelo autor.
Consultoria em segurança pública e privada 41
to referenciado pelo FBI (Federal Bureau Investigation) para fins de 
interpretação didática e técnica dos fatores indispensáveis, com o in-
tuito de que o agente de segurança pública ou privada possa perceber 
em que momento deverá fazer uso de força letal. 
Cada lado do triângulo tem como base uma característica e/ou 
ação apresentada pelo agressor, que devem ser interpretadas da se-
guinte forma, sucessivamente: a habilidade, ao contrário do que mui-
tos imaginam ao ver a imagem, não se refere a condições de treino 
do agressor, mas, sim, da capacidade física de ferir alguém, o que 
pode ser concretizado por agressões físicas (agressor muito forte, por 
exemplo), com armas brancas ou armas de fogo (ter um desses ins-
trumentos à mão). A oportunidade diz respeito ao potencial momen-
tâneo de o suspeito usar aquilo que caracterizou a habilidade. Por 
exemplo, se está portando uma arma de fogo, mesmo em distâncias 
mais longas, esse fator já estará concretizado. No entanto, para es-
tabelecer a oportunidade com uma faca, ele necessitará iniciar uma 
aproximação a alguém que deseja atacar. Por fim, o risco que resulta 
da existência dos dois critérios iniciais, o que gerará a iminência de 
uma agressão.
Princípios essenciais para o uso da força
São princípios essenciais para o uso da força, constantes na Porta-
ria Interministerial n. 4.226 (BRASIL, 2011):
 • legalidade;
 • conveniência;
 • moderação;
 • necessidade;
 • proporcionalidade.
O paradoxo
Culturalmente no Brasil, a interpretação que vemos, principal-
mente nos noticiários mais sensacionalistas e, infelizmente, forma-
dores de opinião, é que o uso da força se contrapõe aos direitos 
humanos. Entretanto, de acordo com Tordoro (2019, p. 113), “não 
há nenhuma contradição em se usar a força e promover os direitos 
humanos. Em ser enérgico nas ações policiais e zelar pelos direitos 
humanos. Em ser um policial operacional e ser um agente educador 
em direitos humanos”.
42 Consultoria em Segurança
Considerando esse raciocínio, concluímos que o paradoxo só exis-
te nos pensamentos daqueles que desconhecem a legislação em geral 
e, principalmente, as específicas sobre os direitos humanos. Os dispo-
sitivos legais existentes em nosso país privilegiam a coletividade em 
detrimento da individualidade. Por exemplo, se um direito for lesado, 
qualquer um do povo que presenciar situação de crime em flagrante 
delito pode intervir, inclusive prendendo o infrator. No entanto, pelo 
mesmo dispositivo legal, os responsáveis pela aplicação da lei devem 
agir, sob pena de serem responsabilizados pelo crime de prevaricação, 
caso não façam a intervenção. 
Assim, mesmo que um agente de segurança necessite fazer o uso 
da força para que se faça cumprir um dispositivo legal, precisa respei-
tar os princípios já citados, exercitando tudo o que se apregoa nos di-
reitos humanos, defendendo um cidadão de um malfeitor, pois todos 
nós temos o direito de sermos protegidos dessa forma pelo Estado.
Sempre é prudente ressaltar que existe uma linha tênue que divide 
a questão de ser brando demais ou incisivo demais na aplicação da 
força. No primeiro caso, o profissional pode ser morto em ação; no se-
gundo, pode ser processado pelo excesso. Encontrar o equilíbrio é a 
parte mais difícil para quem trabalha com segurança.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As vigas mestras da atividade de segurança pública ou privada são: o 
conhecimento da doutrina (técnica e tática) e o amparo legal para uma 
atuação proba. Por não ser um assunto de fácil síntese, este capítu-
lo é bastante pesado para a leitura, porém seu peso se iguala em nível 
de

Continue navegando