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1 • INTRODUÇÃO O que vamos relembrar de fisiologia: tenho 5 termorreguladores, e faço uma termorregulação habitualmente. O hipotálamo é responsável por produzir calor. E como vou regular isso? Tenho uma temperatura basal, 35,5ºC, 36ºC, 36,5ºC, que é o padrão da pessoa, e que eu preciso manter de acordo com o momento. Estou com uma vestimenta, em um ambiente com ar-condicionado, e lá fora com a mesma vestimenta é a temperatura ambiente, e a minha produção de calor é uma e lá fora é outra, por uma temperatura ambiente maior que outra. Quem é responsável por isso? Meu hipotálamo. Temos maneiras de perder calor. Evaporação, condução, radiação, convecção. o Evaporação: seria por meio da transpiração o Condução: eu peguei na mesa e estou sentindo mais gelado, porque a temperatura do meu corpo é maior que a da mesa. o Radiação: é a que mais a gente modifica, porque a gente usa muito. o A convecção: vou ficar embaixo do ar-condicionado e o vento do ar vai elevar meu calor e eu vou perdendo calor. Produzir calor eu produzo de três maneiras principais. Com atividade física, quando eu me movimento eu vou aumentar minha produção de calor. Os alimentos que eu como, vão gerar calor. Por último a função hormonal. Vou produzir calor através dessas três situações. • FEBRE O que é a febre? Alterar a minha termorregulação o controle do hipotálamo através de pirógenos. O que vem antes do hipotálamo vai ser pirógeno exógeno. E eu posso ter a produção desses pirógenos exógenos por causas infecciosas e causas não infecciosas. Infeccioso é mais fácil, são os vírus, bactérias e fungos. E o que vai acontecer? Eles entraram no meu organismo, estão passeando e encontram minhas células de defesa chamadas macrófagos. Meu macrófago vai chegar e abraçar ele e dizer fica aqui comigo, e quando ele faz isso vai liberar interleucinas, TNF, e todas aquelas citocinas inflamatórias para fazer a cascata de resposta. Essas ILs e TNFs vão lá no hipotálamo e dizer que está acontecendo um problema e precisa que ele sinalize. E ele vai liberar os pirógenos endógenos, que vão ser as prostaglandinas e todo aquele processo de produzir os ativos da resposta inflamatória. Quando eu fizer isso, eu vou ter a febre. A febre não é ruim, porque quando aumento a temperatura, eu vou sinalizar as minhas outras células de defesa que é pra irem para aquele lugar que o macrófago sinalizou, e lá eles vão abraçar o que tá fazendo mal. Seja um processo inflamatório, redução de um hematoma, seja um agente infeccioso, eles vão pra lá para corrigir o que tá errado. Além disso, esse aumento de temperatura vai mudar a estrutura da membrana celular das células de defesa. Elas vão ficar mais permeáveis para poder reagir, ela sai de uma postura mais nativa para uma postura mais ativa. Um outro fator que eles vão estar modificando: eu tenho x quantidade de leucócitos totais, eu vou aumentar a minha produção porque eu estou precisando de mais. Então vai estimular a proliferação dessas células de defesa. Outra coisa que faz se eu tenho vírus e bactérias, eles gostam muito de ferro para produzir mais bactérias. Então eles utilizam ferro para sua proliferação. Ele vai fazer uma anemia transitória, eu vou impedir que o meu intestino absorva ferro, e por esta justificativa não se deve suplementar ferro para crianças doentes, porque não vai absorver, e se absorver quem vai utilizar é o vírus e a bactéria. Então a gente não suplementa, e bloquear o metabolismo do ferro. Então a criança que fica doente pode ter perda de 3 g/dL. Então se é uma criança de 11 g/dL e vai descer pra 9 g/dL, ta tudo bem, é uma anemia transitória que vai melhorar de 2 a 4 semanas. pediatria 2 Entenderam a quantidade de coisas boas que a febre faz? Ela não é negativa, é um sinal que tem que ocorrer. Óbvio que por conta do que a gente tem de conhecimento da sociedade quando a criança faz febre todo mundo fica desesperado, até pelo medo de crise convulsiva febril. • CRISE CONVULSIVA FEBRIL A crise convulsiva febril não é proporcional ao valor. Eu posso ter crise convulsiva com 38º, como posso ter com 39,5º e 40º. O que acontece nessa crise: estou no meu basal 36º e vou mudar minha temperatura muito rápido, o normal é a temperatura ir subindo para que eu faça essas modificações, se eu mudo muito rápido eu vou desnaturar as enzimas e não vou fazer todas as alterações. Então não é interessante essa mudança de temperatura muito rápida. O organismo vai restartar, e a criança convulsiona. A crise convulsiva febril é considerada uma crise convulsiva benigna, sem repercussão negativa para o organismo. Não é algo bonito de se ver, mas não vamos tratar como uma crise convulsiva comum com benzodiazepínicos, nós vamos tratar com antitérmico. Normalmente vai ocorrer até os 6/7 anos, e geralmente um episódio único na vida naquelas crianças que tem uma predisposição genética. É mais fácil ocorrer em uma criança que tem um familiar que teve crise convulsiva febril. • FEBRE SEM SINAIS LOCALIZATÓRIOS (FSSL) Dentro da pediatria a gente tem a febre que a gente vai avaliar a criança. Em ⅕ das crianças você não vai conseguir definir nem através da anamnese, nem através do exame físico alguma justificativa para a febre dela, a isso a gente dá o nome de febre sem sinais localizatórios, ou seja, é aquela febre que eu faço uma anamnese bem feita, completa, e um exame físico que eu viro a criança do avesso e não acho uma justificativa para a febre. Ela tem no máximo 7 dias. Porque em 7 dias você já investigou. Normalmente vamos ver se tem alguma coisa na anamnese ou no exame físico que justifique a febre, sintomas de vias aéreas superiores são mais comuns em crianças nessa faixa etária. Fui na anamnese e vi que a criança comeu um sanduíche vencido e fez uma diarreia com febre, é um quadro que no exame físico não tinha nada, mas na minha anamnese tinha. Ele comeu algo estragado que justificava. Mas eu fiz a anamnese na criança e a mãe me disse que era só febre, fui virar a criança do avesso e achei uma otite, ou seja, achei a localização. Mas anamnese normal, virei o menino do avesso e tá normal, e eu não achei nada, eu tenho uma FSSL. Eu espero 7 dias pra investigar? Não. Mas eu espero que ela se resolva em 7 dias, ou que eu ache a localização em 7 dias, porque eu vou partir pra exames complementares, a depender da idade e da evolução em algum momento para investigar. Essa febre é difícil de ocorrer em adultos. O principal agente etiológico são as doenças virais, e não é comum ver essa repercussão para adultos. • FEBRE PROLONGADA DE ORIGEM OBSCURA (FPOO) OU FEBRE DE ORIGEM INDERTEMINADA (FOI) Febre acima de 7 dias que eu já fiz a investigação inicial e não achei a localização. Vou ter anamnese normal, exame físico normal, e uma investigação já realizada e tá tudo normal, a criança continua fazendo febre. A criança faz muita febre e fica 3 a 5 dias e vai embora do nada, a gente nao tem como dizer uma resposta, primeiro porque a criança tava bem e nao justifica fazer exames, e segundo nao e da nossa cultura fazer painel viral. É até um termo pejorativo que virou, mas é um termo real, 90% das febres são por causas virais, e são chamadas de viroses. Hoje em dia quando você vira pra alguém e fala que é uma virose é quase um xingamento, aí você pode dizer que é Doença Viral Benigna Autolimitada, que é um nome bonito de virose, e talvez a mãe aceite, mas é porque a maioria é causada por vírus. Ela vai começar e vai embora do mesmo jeito que veio, e a gente não vai saber o que foi. Qual é a resposta que a mãe queria saber: o nome do bicho. E o nome a gente não dá, e o que é pior, você vai tratar com sintomáticos, não vai usar antibiótico. Isso é bom do covid, que entenderamfinalmente que antibiótico não é pra vírus. Vamos ter ⅕ dos pacientes com febre vai ser FSSL. 3 • EPIDEMIOLOGIA Temos 3 faixas etárias mais comuns: os recém-nascidos, as crianças de 28 dias até 3 meses e os acima de 3 meses que são os adultos da pediatria. Os recém-nascidos vão ter uma resposta imune mais débil, esse processo de identificar um foco é mais difícil nos RN e a gente não tem tempo para esperar, porque o RN vai piorar muito mais rápido que uma criança de 2 anos. O olhar que vou ter para um RN é diferente, ele é muito mais cauteloso e mais assertivo do que uma criança de 2 anos que posso avaliar a condição clínica. Um RN vai piorar mais rápido. ¼ dos neonatos vai ser febre e mais nada, de 6 a 15% é a queixa principal de pacientes de 1 mês a 3 meses, e de 5 a 7% de 3 a 36 meses. É importante? Sim. Porque esses 7% podem estar diante de uma doença bacteriana grave, e a morbimortalidade pra essa criança vai ser mais elevada, então preciso ter um pouco de cautela. Acima dos 3 anos já tenho uma imunocompetência maior, e uma capacidade de verbalização maior, de me dizer o que está sentindo e de localização. Acima dos 3 anos não e que não tem importância, mas conseguimos diagnosticar melhor. • HISTÓRIA CLÍNICA E EXAME FÍSICO O que é importante perguntar na história clínica? Tudo. Ao construir a HMA tem que destrinchar tempo, periodicidade, temperatura máxima, resposta a medicação e outros sintomas associados. Se eu tenho uma febre que veio, um dia que teve só um pico e no outro teve dois picos, e uma febre que vem de 4 em 4 horas é a mesma coisa? Tem uma intensidade maior. Se eu tenho uma febre que eu dou a medicação e fica sem essa febre até pelo menos um período de ação da medicação de 6 horas, eu vou raciocinar da mesma maneira que uma febre mais insistente que vem de 3 em 3 horas? A resposta a medicação é mais para eu ver quão frequente ta sendo essa elevação de temperatura. Significa que seja algo ruim? Não necessariamente, mas se eu tiver um processo infeccioso ou inflamatório mais intenso eu vou ter essa elevação de temperatura de maneira mais intensa, então meu olhar vai ficar um pouquinho mais cauteloso. O valor da temperatura não prediz gravidade nem prognóstico, só prediz que tem algo acontecendo, mas aquela que é mais insistente vou ter o olhar mais cauteloso. Na minha HMA vou destrinchar os meus sintomas. Eu estou na emergência, eu preciso saber antecedentes? Sim. Vamos dar exemplos: Antecedentes neonatais, vou tratar igual um prematuro e uma criança a termo? Nos antecedentes patológicos uma criança cardiopata e uma criança hígida? Algumas doenças eu tenho recorrências, exemplo otite, ITU, então é importante eu saber? Sim. Então infelizmente diante de uma FSSL eu tenho que perguntar. Eu preciso saber dos antecedentes familiares por exemplo se já teve crise convulsiva febril? Preciso. Eu vou mudar a forma de medicar por isso? Não, eu vou orientar a mãe sobre o que é crise convulsiva febril, mas não mudo a conduta. Vou perguntar sobre as condições do ambiente? Sim, porque na pediatria a gente tem uma coisa chamada "cuidador", que eu preciso saber se ele e LOTE (lúcido e orientado no tempo e espaço), capaz de administrar uma medicação, porque se ele não for: internamento social. E isso ocorre, principalmente no SUS. Então a minha anamnese tem que ser completa, mas ela vai ser mais rápida porque vai direcionar aquilo que a gente vai precisar saber. Eu não vou perguntar se tem cachorro em casa, mas alguns pontos importantes eu tenho que saber. E dentro da minha anamnese vou perguntar sobre algo muito importante: cartão de vacina. Porque vai influenciar na minha conduta o nível de vacinação que essa criança tiver. Meu exame físico é do fio da cabeça até o dedinho do pé, e eu vou virar essa criança pelo avesso procurando tudo. Vou olhar o ouvido, boca, genitália, tudo. Num RN e pequeno lactente abaixo de 1 ano eu vou olhar garganta? Porque ele não tem amígdalas, então não espero amigdalite, mas posso ter alguma lesão, então vou olhar de qualquer forma. Criança de 2 anos e criança de 8 meses vão fazer os mesmos sinais de meningite? Não. Mas o que é sinal de meningite? Aumento da pressão liquórica, e aí vou ter os sinais, irritabilidade, rigidez na nuca, vômitos. Numa criança de 8 meses vou ter fontanela aberta, então não vai ter esse aumento da pressão. Então vai fazer uma fontanela mais aumentada, mais rígida, um choro inconsolável em que a criança não aceita mamar, não aceita colo, não quer ficar quieta, então mudam os sinais. A gente tem essas 4 peculiaridades. Espera-se que até 2 anos a fontanela já tenha fechado. Acima dos 3 anos temos uma verbalização melhor, diz onde é a dor, diz onde ta sentindo e como, fala do xixi, e no pequenininho a gente não vai ver, vai ser mais difícil. A gente precisa avaliar se tem lesão na genitália para justificar uma uretrite, um processo infeccioso naquela região. • PRINCIPAIS AGENTES ETIOLÓGICOS DAS DOENÇAS BACTERIANAS GRAVES Para pensar em doença bacteriana, que é o que preocupa a gente, o que temos que pensar, agente etiológico. E aí eu poderia dividir em até 28 dias, até 3 meses, até 3 anos, acima de 5 anos, mas o que a gente vai ter: os abaixo de 3 meses, e os acima de 3 meses até 3 anos. E pensar nas principais bactérias. Os abaixo de 3 meses a gente tem que relembrar que teve uma via de parto ali, então vamos pensar incluindo bactérias de canal de parto (enterococos, staphylococcus) alguns agentes do trato intestinal que pode ter contato com a criança em si. Quando passa de 3 a 36 meses a gente já não vai mais lembrar dessas bactérias de canais de parto, mas a gente vai ter que fazer algumas considerações. Antes da vacinação a gente tinha Neisseria meningitidis, Haemophilus influenzae, e um pneumococo como carro chefe de longe das infecções bacterianas, uma frequência muito elevada, e com a vacinação isso mudou, e outras bactérias, principalmente as de origem do trato intestinal passaram a não ser mais frequentes, além de bactérias de pele. Pensando em vacinação, a do SUS não é a mesma do particular. Pneumococo antigamente a gente fazia 3 doses, hoje fazemos 2, porque financeiramente falando o nível com proteção com 2 doses está ótima pro governo. A da pneumococo existem 3 vacinas, a 10 valente, 13 valente e 23 valente, só vai diferenciar o número de cepas que você vai ter. A do SUS é a 10 valente, a do particular é a 13 valente. A 23 valente é indicada para pacientes que têm algum problema respiratório ou idosos. O pneumococo 19A vem crescendo na sua ocorrência de pneumonia, porque ele está na vacina pneumocócica 13 valente, mas não está na 10 valente, então ele se sobressai aos outros sorotipos, e isso vai influenciar na prevalência. • DOENÇAS BACTERIANAS GRAVES o Infecção do trato urinário (ITU) A mais frequente na FSSL é a ITU. Todas as vezes que a gente pensar num paciente com FSSL, automaticamente pensar em ITU. E isso tem a ver com o fato da criança usar fralda? Não necessariamente, é o fato da criança fazer xixi e coco e estar em contato com a genitália, é uma higiene pior que uma criança que é desfraldada. A principal bactéria de ITU é a Escherichia coli que vem do intestino, o principal fato é o uso de fraldas, mas não a fralda em si, e sim a higienização. Tanto que os pacientes que são circuncidados têm uma menor frequência de ITU. Como vou dar esse diagnóstico? A grande questão é a coleta de urina. Eu tenho 4 métodos de coleta. A padrão ouro é a punção suprapúbica, mas apesar disso a aplicabilidade da técnica não é a mais adequada. Jato médio: uma criança que usa fralda o ambiente é quente e úmido, e as bactérias, vírus e fungos adoram esse ambiente, e aí vão proliferar ali, e tem umacolonização daquela região. Posso usar jato médio para crianças desfraldadas porque vou lavar e pegar o primeiro jato médio limpo. Mas se usar fralda tenho duas formas. Posso usar o saquinho coletor? Tenho que higienizar o saco coletor, colo, daqui 15 minutinhos retorno, higienizo e colo. A pele vai danificar e não vai ser interessante, e fora que quando ta na emergência e a criança esquece do xixi. O que é recomendado pela SBP se chama "clean catch", mas o que a gente mais utiliza é o cateterismo. Clean catch eu pego o bebe, vou dar a fórmula, leite materno, suco, água, para essa criança ingerir, 20 minutos depois eu vou higienizar a genitália da criança e colocar ela em pé, as vezes nao precisa nem levantar a criança que ele faz xixi. Às vezes se solicita o cateterismo e quando está limpando a criança já fez xixi, então pode tentar o clean catch. A questão é que criança doente não ingere líquido, então muitas vezes vai para a cateterização. o Bacteremia oculta Examinei a criança, teve FSSL e fiz minha investigação. Na minha investigação tá lá "hemocultura positiva" e não achei mais nada. Eu tô diante de uma bacteremia oculta. Vou tratar aquela bactéria de acordo com o que vier na cultura. 5 A hemocultura vem positiva, a gente sabe que a bactéria cresceu no sangue, mas não dá pra afirmar onde ela está localizada. o Meningite Eu vou na minha investigação ter um líquor que vai ter a sua variação compatível com meningite, mas não necessariamente os sinais clínicos. o Pneumonia Infelizmente o paciente não segue livro. Então não vem escrito lá que tem que ter desconforto respiratório, tosse e febre. Às vezes a criança esquece os outros dois e faz só febre. O que acontece é que para ter uma localização eu tenho que ter um sistema imune que vai sinalizar, mas nessa faixa etária a gente tem um sistema imune meio débil. Quando eu for examinar o que acontece, meu estetoscópio vai na frente e atrás, mas estou diante de um órgão tridimensional, a depender da localização não vou auscultar. E a depender não vou ter alteração da saturimetria, e nao vou ter desconforto respiratório, e aí vou estar diante de uma pneumonia oculta. Porque eu fui lá, fiz raio-x, e apareceu a imagem. Chegou uma criança com febre, vou pedir raio-x pra todo mundo? Não, vamos usar critérios para fazer. • EXAMES COMPLEMENTARES Quais são os exames que a gente pode solicitar na investigação? Primeira coisa que temos que entender: emergência eu preciso definir conduta, e a minha investigação vai até o limite. Eu posso ter mil exames que podem ser feitos, mas preciso definir quais são os essenciais para a minha conduta naquele momento. HEMOGRAMA antes da vacinação ele tinha uma importância muito boa, depois da vacinação ela é uma importância relativa. A febre prolifera células de defesa, então eu espero que a minha contagem de leucócitos esteja mais alta. Se for uma bactéria, um vírus, um fungo, ele vai consumir minhas hemácias, vai ter uma anemia, isso vai me ajudar em muita coisa? E dentro dos meus leucócitos eu vou avaliar quem está predominando, todas as vezes que eu pensar em bactéria eu vou pensar em aumento de neutrófilos. Mas a gente precisa ter um ponto de corte para poder utilizar. Um hemograma que a gente vai considerar normal é com uma contagem de leucócitos totais em torno de 5 a 15 mil. Eu posso ter paciente, principalmente os pequenos, que vão fazer uma contagem de leucócitos abaixo de 5 mil, uma leucopenia, e eu posso ter uns pacientes e principalmente os maiores que vão fazer uma leucocitose, acima de 15 mil. Qual vai ser o meu ponto de corte pra eu achar que posso estar diante de uma doença bacteriana grave? A contagem de leucócitos totais acima de 20 mil, com a contagem de neutrófilos acima de 10 mil. Dentro dos neutrófilos eu tenho os segmentados e os bastões, e os bastões são as células jovens. Se eu tenho uma grande quantidade de células jovens eu to demandando um crescimento maior desse tipo de célula. Então a contagem de bastões acima de 1.500 também vai estar relacionado a uma doença bacteriana mais grave. SUMÁRIO DE URINA E UROCULTURA: O sumário de urina vai ser sugestivo de infecção urinária quando? A gente tem duas avaliações que a gente faz no sumário de urina, sedimentoscopia e a parte de bioquímica, que é proteína, nitrito (serão explicadas detalhadamente na aula de ITU). Na FSSL o que precisamos entender, a presença de mais de 10 leucócitos por campo numa coleta adequada eu tenho sumário de urina sugestivo para infecção urinária. Para a FSSL vamos ter em mente o número de leucócitos. Na urocultura, vão ser valores de 10⁵ e 10³ e levam de 3 a 5 dias, aí vou considerar as unidades formadoras de colônia. No caso o que mais prevalece é a Escherichia coli. Dentre os marcadores inflamatórios, a gente tem dois que estão mais associados com a doença bacteriana grave: a PROTEÍNA C REATIVA e a PROCALCITONINA. A Diferença entre as duas é que, as duas tem uma boa especificidade, mas tem picos de elevação diferentes. A proteína c reativa ela começa a ser produzida mais ou menos com 12 horas de doença, fazendo pico com 24 a 48 horas, e é daqui que sai a falácia que está no caso de vocês, de que a criança só pode ir para a emergência depois de 3 dias. Ela não tem que ir pra emergência depois de 3 dias, principalmente uma criança abaixo de 3 anos. Ela precisa de uma avaliação, preferencialmente com seu pediatra nas primeiras 24 horas. Porque ele vai avaliar outros fatores, que não a realização de exames e definir se precisa ou não de exames no primeiro momento, de acordo com a aparência da criança e seu exame físico. Se eu deixar uma criança com meningite 3 dias em casa chega um óbito na emergência. A febre tem que ser avaliada na emergência? Não. A gente tem uma cultura de pronto socorro, mas o que acontece num pronto socorro é que todo dia é um médico diferente com uma conduta diferente e não chega a uma linha de 6 raciocínio. O ideal é que essa criança seja avaliada por alguém que já conhece ela, o pediatra. Mesmo uma criança com febre pode ser avaliada pelo seu pediatra e ele pode definir se precisa ou não ir pra emergência complementar essa avaliação, mas não esperar 3 dias em casa. A procalcitonina é mais rápida, começa a ser produzida com 3 a 6 horas e faz o pico com 12 horas, mas ela não é disponível, nem no particular. Situações bem específicas no particular eles liberam. Então apesar de ser mais sensível e específica ele não está disponível. A gente tem RAIO-X, não é pra toda criança que se utiliza. O LÍQUOR, a gente tem uma criança pinotando na emergência, só que tá com febre, eu vou pedir o líquor? Não. Eu tenho que ter o mínimo de sugestão de que possa ser uma meningite. Se eu tiver a mínima suspeita de que seja, eu vou pedir o líquor. Outra situação que indubitavelmente irei pedir o líquor são pacientes toxemiados e RN, eles obrigatoriamente vão coletar o líquor, ou a depender dos critérios que terão mais pra frente, ver que é uma criança de alto risco. Quando eu faço febre eu tenho associado taquicardia, taquipneia, extremidades frias e irritabilidade. Quando tenho uma criança toxemiada tenho taquicardia, taquipneia, má perfusão, rebaixamento sensório ou irritabilidade. O melhor momento para avaliar se um paciente está toxemiado ou não é quando ele baixa a febre e mantém isso aí. Às vezes você não tem tempo de baixar a febre e manter isso aí, e isso vai muito do feeling de quem está atendendo de dizer que a criança é mais do que isso. E tem algumas coisas que a gente pode fazer se estamos suspeitando de toxemia antes da gente assumir que é uma: hidratar essa criança que às vezes com hidratação a temperatura vai baixar também e ele vai dar uma reagida. Mas se é uma criança que está irritada,com taquipneia, taquicardia, má perfundida, com coloração alterada a gente vai ter no triângulo pediátrico uma criança toxemiada, e aí vou pedir os exames e entrar com antibióticos, é uma criança grave. Vou entrar com protocolo sepse que vocês vão ver em emergências pediátricas. E aí minha conduta é um pouco mais rápida, até porque o meu antibiótico tem que entrar na primeira hora. No RN também não posso aguardar, vou coletar os exames e entrar com antibiótico, nos pacientes de alto risco a mesma coisa. Porque essas doenças bacterianas graves podem ter uma morbimortalidade alta e a gente não pode deixar chegar lá. Nessas crianças mais graves a punção liquórica está indicada mesmo que eu não tenha sinais de meningite. O RN independente de estar com febre ou não a nossa conduta será sempre investigar, a gente não pode esperar que essa criança faça um segundo pico porque ele pode ser tarde demais. HEMOCULTURA que na montagem do fluxograma a gente vai ver quando podemos solicitar. Ela não é disponível no SUS se ela não tiver internada e não é disponível no particular, e tem que pedir pra coletar em casa ou no laboratório pra coletar depois. A depender do hospital é liberado, mas diria que parte dos hospitais não coletam porque é glosado pelo plano, é considerado investigativo e na emergência você não investiga. • TRIANGULO PEDIÁTRICO É o olhar a e definir se ela é grave ou não é grave, e essa avaliação tem que ser feita em 30 segundos. É olhar para criança e definir se isso ou não é isso, essa criança tá bem, ou não está bem, e nessa avaliação vou olhar 3 coisas. Por exemplo: A mãe entrou no consultório, a criança olhou para você e chorou? A criança está ótima, pois é normal eles imaginarem ser vacina e tal, a não ser que o choro seja incontrolável, já entra na recepção no colo da mãe chorando a mãe não consegue acalmar… isso é um choro de dor, um choro de careta, um choro de que tem algo errado, é algo que devemos avaliar. Se ela olha para você e ela conversa, estamos vendo o que? APARÊNCIA desta criança, a consolabilidade dessa criança, o quanto ela está dentro do normal. Eu olhei e estava dentro do normal, ok! Mas se é uma criança mais sonolenta, mais chorosa, está no colo da mãe e não tá legal.. ela não está legal. RESPIRAÇÃO eu vou colocar esteto para fazer essa avaliação? Não precisa! O que vou olhar? A posição desta criança! Se é uma posição normal de criança, se está ofegante, se ela muda de posição. A COR desta criança vai me dizer? Vai!! Se estou com cianose. Vou olhar se a criança que está com algum ruído do tipo estridor ou sibilos, é uma criança que tem uma gravidade maior, então vou olhar para o padrão desta criança e falar se a respiração está normal e tem alguma coisa grosseiramente falando. Por último vou avaliar a COLORAÇÃO DA PELE, uma criança pálida olhamos normalmente para a boca, ou com cianose central, lembrando que cianose de extremidade pode ser frio, e se tem moteamento que é tipo colmeia de mel, as 7 linhas da colmeia do favor são rochas e o centro é pálido, isso é moteamento da pele, isso é sinal de gravidade. • FLUXOGRAMA Aí vamos montar nosso fluxograma, são crianças de 0 a 36 meses (até 3 anos), se passar de 3 anos não vou aplicar esse fluxograma. Olhei meu triângulo pediátrico e digo que ele está toxemiado, o que irei fazer? Protocolo Sepse, iniciar antibiótico na primeira hora, exames todos normais e agora? Suspende o antibiótico, não tem problema pois o melhor que poderia ter feito naquele momento era o protocolo sepse. Como identificar se a criança está toxemiada? Olhou seu triângulo pediátrico está alterado? Ele está toxemiado.Grosseiramente falando é uma criança que vi estar: instável, taquicardia, taquipneia e má perfundida- Então iremos associar toxemia a sepse. Não está com sinais de toxemia, iremos seguir o barco. E se for choque? Choque iremos definir se tivermos alteração na pressão, e ela estiver caindo. E se for um RN iremos fazer a mesma coisa, não posso esperar para investigar em um RN, 6 horas para um recém- nascido é muita coisa. Mas uma criança maior com 1 ano e 3 meses, começo a investigação, para isso tenho que definir se é alto risco ou baixo risco, e para isso preciso de exames complementares, não precisa de tempo de febre, sendo o primeiro dia de febre iremos investigar, aí defino com meus exames se ele é alto risco ou baixo risco. O que é baixo risco, é aqueles que o critério que vou usar para investigar. No critério de Rochester, irei usar em crianças que são acima de 28 dias e que não tem comorbidades, os exames que irei solicitar serão apenas hemograma e sumário de urina, se eu tiver diarreia eu ainda solicito leucócitos fecais. Não preciso do Líquor, mas no critério de Boston eu posso usar para os prematuros, no da Philadelfia precisa também de Rx. Obs: Nas fezes não tem que ter Leucócitos fecais, pois só irá aparecer no exame de fezes se estiver ocorrendo uma proliferação anormal bacteriana no estômago, que tem normalmente, mas para sair nas fezes seria um excesso. A sociedade Brasileira de pediatria indica os critérios de Rochester para ser usado: sumário de urina e hemograma. Normalmente não consegue aplicar o critério de Philadelphia aqui pelo nosso Sus. Obs: Os neonatos abaixo de 28 dias você irá internar não precisa definir se é baixo ou alto risco. O ponto de corte do Rochester, terei meu paciente normal, não tem gravidade, não foi prematuro e não tem nada que posso sugerir que têm gravidade, no meu exame físico está normal e nos exames laboratoriais normais, desta maneira ele será baixo risco, mas se alguma coisa saiu disso, ele é considerado alto risco. O ponto de corte de Rochester para exames leucócitos acima de 5.000 - 15.000/ul, sumário de urina maior do que 10 leucócitos por campo e leucócitos fecais menos de 5 por campo, porque se der mais de 5 por campo, então aí é positivo. E aí definimos, se baixo risco ele irá para casa com orientação do antitérmico, e reavaliação obrigatória em 24 horas. Alto risco, iremos coletar exames subsequentes que faltaram: hemocultura, Rx, cultura, líquor e inicia- se antibiótico, se definido como alto risco minha conduta será igual ao do RN, até 3 meses. Já com os lactantes preciso saber qual foi a temperatura mais alta, se foi abaixo de 39⁰ irei avaliar a realização ou não do sumário de urina, em que eu posso optar ou não, em caso de ter revirado o menino do avesso os exames todos ok, 8 cartão de vacina Ok? Vai para casa com antitérmico e reavaliação após 24 horas. No caso de temperatura acima de 39⁰, não tem relação com gravidade, mas precisamos estar mais atentos por que aí está é uma febre por produção de pirógenos endógenos e exógenos mais lata, então posso ter um estímulo mais alta. Então obrigatoriamente faço sumário de urina, pois pode ser infecção urinária, onde irei confirmar com urocultura mas meu sumario de urina já me ajuda então eu estou autorizada a tratar como infecção urinária, mas se o sumário veio normal eu irei prosseguir minha investigação, ai prossigo para meu hemograma, podendo pedir urocultura aqui, a questão é está disponível , e o hemograma já me ajuda, em caso de hemograma normal, irei liberar para ir para casa com antitérmico e voltar após 24 - 48 horas já que tenho sumário de urina normal e hemograma normal. Pergunta: Existe associação da temperatura mais alta com alguma infecção? Resposta: Não. Caso o sumário de urina venha normal mas o hemograma venha alterado vou realizar o Rx, por que esse paciente pode está com pneumonia oculta, de uma bactéria em via oculta, então eu preciso diferenciar, preciso de homocultura? Neste ponto seria essencial!! Rx com condensação, com infiltrado seria sugestivo de pneumonia oculta. Rx normal comhomocultura alterado seria bacteremia oculta, onde conduta seria definida pela minha caderneta de vacinacao, se eu tiver 3 doses de penta, 2 doses de pneumococo e 2 doses de meningite, ou seja vacinação de 6 meses completa eu vou mandar esse paciente para casa com antitérmico para casa e reavaliar com 24- 48 horas, caso o paciente não tenha vacinação completa eu vou entrar com antibiótico. Obs: Vacinação completa até 6 meses abaixo disso eu entro com antibiótico. O antibiotico preconizado, é o cefalosporina de 3 geracao, que é medicacao de amplo espectro, mas não é bem aceita por ser intramuscular e 3 doses, 1 x ao dia, sendo assim pode colocar uma penicilina por questão prática que estará dando alguma cobertura a essa criança até sair a cultura. O que poderia mudar o fluxograma, algo que eu conseguisse definir que é vírus, existem 4 maneiras de pesquisar vírus: o Cultura viral, que sai com 30 dias, então não ajuda, não é viável, então é mais para pesquisa. o Testes rápidos de detecção de antígenos: Se eu fizer teste rápido para covid e vier negativo significa que não tenho Covid? Não!! Então, ele tem uma baixa sensibilidade, não ajuda muito a aplicação dele na clínica. o Imunofluorescência Indireta: É feito que vai pegar, traduzir, vai pintar, colorir, tecnicamente é mais caro e necessita de pessoal treinado para fazer isso. o Reação em cadeia de Polimerase: O que está sendo mais utilizado por ser mais simples, pego o DNA e olho se tem vírus. O RT PCR (a partir do 3 dia) pego o RNA transformar em DNA e olho se tem o vírus, aumento a sensibilidade , o já RT qPCR eu ainda pinto para ver se realmente tem, aumentando sensibilidade (a partir do 1 dia). O que eu deveria pesquisar para esse faixa pediátrica, atualmente só se pesquisa covid, mas num mundo em particular, seria: Adenovirus, Influenza, Parainfluenza, Rhinovirus,VSR, HHV-6, Coxsackie, que são mais frequentes que vão causar febre sem sinais localizatórios, e no Sus só testa covid se a criança ficar internada O que muda? Se eu tenho 90% das infecções que vai ser Covid, e se eu consigo introduzir o painel viral, ele já entraria para os pacientes recém-nascidos de alto risco e os Toxemiados. Para pacientes de 1 a 3 meses o painel viral, entraria junto com Hemograma e Sumário de urina. A maior modificação seria em crianças de 3 a 6 meses por que terei que considerar se a vacinação é completa ou incompleta? Se for uma vacinação completa é mais provável ou improvável que seja vírus? É mais provável! Porque eu reduzo as chances de ter aquelas doenças bacterianas graves, então já começo com meu painel viral e posso avaliar a possibilidade de fazer sumário de urina. Já os que não tem o calendário completo eu tenho risco de doença bacteriana grave, então vou seguir o meu fluxo de temperatura, investigação, mas introduz também meu painel de doenças virais precocemente. 9 • FEBREFOBIA O medo de crises convulsivas leva o uso abusivo de antipirético, uso de prescrições de antibióticos desnecessário. Como se usa o antipirético? Todos eles vão inibir a Prostaglandina E2, vão agir no mesmo lugar, justificar intercalar? A gente tem cultura que a febre não pode passar de 37.8 e a gente tem que medicar!! Precisamos desconstruir e informar que a febre que a gente vai medicar é aquela que é desconfortável a criança, se a criança estiver com 38.5 bem eu não vou medicar, a febre só vai começar a fazer mal depois de 39.5 porque aí vai começar a desnaturar as enzimas, antes disso é o potencial benéfico dela. Na maioria das vezes a febre vai voltar antes das 6 horas, nas primeiras 24 - 48 horas de doença da criança, mas não necessariamente precisa medicar, só se for incomodativa, então o que iremos instruir? Roupas leves, se possível só cueca, calcinha ou roupinha mais leve que tiver, no caso de um a febre de 37.5 mas a criança está chorando, está incomodada você vai medicar independente disso. Não vamos intercalar porque se vamos bloquear prostaglandina, prostaglandina uma hora iremos fazer hipotermia. Na população geral eu não tenho diferença entre Paracetamol, Dipirona e Ibuprofeno, a questão é que temos drogas mais seguras e inseguras. O que acontece é que tenho drogas mais seguras e drogas menos seguras, tanto a dipirona e o ibuprofeno eles são em sua essência anti- inflamatórios e por consequência antipiréticos, por isso eles têm risco maior de fazer eventos adversos. O paracetamol tem na sua essência o antipirético com baixo poder analgésico e anti-inflamatório então acaba tendo efeitos adversos diferentes. De fato para: o Recém-nascidos: Paracetamol, com exceção dos cardiovasculares que usa ibuprofeno. o Recomendado Acima de 3 meses - Dipirona o Recomendado Maiores de 6 meses - Ibuprofeno Obs: O ibuprofeno é essencialmente muito mais antiinflamatório ele acaba tendo mais efeitos adversos principalmente em crianças que não ingerem líquidos. A questão é que damos medicação de forma errada, por exemplo dipirona, muitos dão 1 gota por quilo isso é superdosagem, 1 gota de dipirona tem 25 miligramas por gota, a dose da dipirona depende do q quer fazer com a dipirona, se quero efeito analgésico vc pode usar acima de 20 - 50 miligramas por quilo, mas dose antipirética 15 miligramas. Tylenol 10- 15 miligramas e a gota tem 18 miligramas. E na bula está a menor dosagem. Não é recomendado esfriamento, não tem benefício por perda de calor e vai voltar depois, só recomendado em febre acima de 40 graus com alterações neurológicas. • TRATAMENTO Antibioticoterapia para crianças com empirica para crianças com Febre sem sinais localizatórios: o Menor de 28 dias: Ampicilina + Gentamicina, Ampicilina + Cefotaxima* o 28 a 90 dias: Cefalosporina de 3 geração, Cefalosporina de 3 geração + Ampicilina o 3 a 36 meses: Cefalosporina de 3 geração