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Brasília-DF. Fundamentos da Psicologia e da Psicanálise na HiPnose clínica Elaboração Jeferson de Souza Sá Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 5 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 6 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8 UNIDADE I SAÚDE MENTAL E PSICOLOGIA ............................................................................................................... 9 CAPÍTULO 1 SAÚDE MENTAL ......................................................................................................................... 9 CAPÍTULO 2 SURGIMENTO DA PSICOLOGIA ............................................................................................... 20 CAPÍTULO 3 PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO HUMANO ............................................................ 26 UNIDADE II PSICANÁLISE........................................................................................................................................ 40 CAPÍTULO 1 CONTEXTO HISTÓRICO DO SURGIMENTO DA PSICANÁLISE E O USO DA HIPNOSE .................... 40 CAPÍTULO 2 DESENVOLVIMENTO DAS CONCEPÇÕES FREUDIANAS SOBRE O APARELHO PSÍQUICO: A PRIMEIRA E SEGUNDA TÓPICAS .......................................................................... 46 CAPÍTULO 3 PSICOLOGIA E ESPIRITUALIDADE ............................................................................................. 50 UNIDADE III PSICOLOGIA EXPERIMENTAL ................................................................................................................ 59 CAPÍTULO 1 PSICOLOGIA EXPERIMENTAL ................................................................................................... 59 CAPÍTULO 2 COMPORTAMENTO VERBAL E NÃO VERBAL ............................................................................. 69 UNIDADE IV RELAÇÃO TERAPÊUTICA ....................................................................................................................... 74 CAPÍTULO 1 A IMPORTÂNCIA DA RELAÇÃO TERAPÊUTICA .......................................................................... 74 CAPÍTULO 2 TERAPIA COMPORTAMENTAL: A RELEVÂNCIA DA RELAÇÃO TERAPÊUTICA ................................. 79 PARA (NÃO) FINALIZAR ..................................................................................................................... 89 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 90 5 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 6 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 7 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 8 Introdução Olá caros alunos, sejam bem-vindos a Disciplina “Fundamentos da Psicologia e da Psicanálise na Hipnose Clínica. Esse material traz grandes contribuições para atuação da hipnose clínica no campo multiprofissional. Porém, antes de invadirmos o campo de conhecimento da hipnose, precisamos compreender sobre a importância da saúde mental, o processo de desenvolvimento e comportamento humano. Assim, será apresentada a parte da história das conquistas da saúde mental, o surgimento da psicologia como ciência, as escolas de pensamentos, a importância do processo de desenvolvimento humano e da relação familiar. Daremos ênfase à teoria psicanalítica desenvolvida por Freud que, no início de seus estudos, utilizava a hipnose para tratar pacientes histéricos. A Psicanálise é uma teoria importantíssima para psicologia. Até hoje, ela é usada para compreender o comportamento humano. Por meio dessa teoria, Freud descobre o funcionamento da psique humana, chamando nossa mente de aparelho psíquico, dividindo-a, primeiramente, em consciente, pré-consciente e inconsciente; e, posteriormente, em Id, ego e Superego. Além disso, conheceremos sobre a importância da espiritualidade nos atendimentos clínicos, bem como a inflência de uma boa relação terapêutica para adesão dos tratamentos do paciente. Portanto, abordar sobre a Psicologia e alguns conceitos da teoria psicanálitica proporcionará um maior entendimento do ser humano e de como é possível utilizar a hipnose como instrumento de atuação multiprofissional na area da saúde. Objetivos » Conhecer a história da psicologia como Ciência e as Escolas de Pensamento. » Conhecer a história de Freud em seus estudos com a hipnose. » Conhecer brevemente o surgimento da teoria Psicanalítica desenvolvida por Freud. » Conhecer alguns conceitos sobre o aparelho psíquico. » Conhecer a importância da Relação terapêutica. 9 UNIDADE ISAÚDE MENTAL E PSICOLOGIA CAPÍTULO 1 Saúde mental Para entender a Psicologia e a Hipnose, é necessário compreender o processo de evolução da saúde mental. Foi necessária toda uma trajetória de luta antimanicomial até chegarmos em um modelo psiquiátrico capaz de cuidar e preservar a saúde mental dos pacientes. Além de falarmossobre o processo de saúde mental de pacientes, vamos discutir também sobre a importância de se pensar na saúde do trabalhador. O início do processo da Reforma Psiquiátrica no Brasil é considerado, pela literatura, como recente, pois este movimento foi iniciado nos anos 1970. Buscava-se mudança de cuidado e gestão na atuação da saúde, tencionando uma saúde coletiva com equidade a todos. O Movimento social que defendia os direitos de pacientes psiquiátricos se iniciou no ano de 1978, formado por trabalhadores da área da saúde, familiares, sindicalistas e outros. Este movimento passa a denunciar violência ocorrida dentro dos manicômios, criticando a formas de tratamento da saúde mental da época. Após anos de luta em prol dos usuários encarcerados em hospitais psiquiátricos, deu-se a Reforma Psiquiátrica. Houve significativas mudanças associadas ao tratamento dos sujeitos com transtornos mentais. Antes, o tratamento submetia os indivíduos à exclusão social, além de serem submetidos a experimentos como choques, que acabavam mais denegrindo a saúde dos pacientes. Com a reforma psiquiátrica, várias mudanças e linhas de pensamentos salientam até hoje a importância de preservar a saúde mental, sendo necessária uma nova concepção de cuidado com esses portadores, buscando uma melhor qualidade de vida e retirando-os dos manicômios, devolvendo-os para a convivência em sociedade (FACCO et al., 2016). 10 UNIDADE I │ SAÚDE MENTAL E PSICOLOGIA No ano de 1987, aconteceu, no Brasil, a I Conferência Nacional de Saúde Mental. Neste mesmo período, ocorreu a implementação do primeiro Centro de Atenção Psicossociais – CAPS, no Brasil, apresentando um modelo interventivo de repercussão nacional que possibilitou a construção de uma rede de cuidados, substituindo um hospital psiquiátrico. Com a Constituição de 1988, é criado o Sistema Único de Saúde – SUS, formado pela articulação entre as gestões federal, estadual e municipal, sob o poder de controle social, exercido pelos “Conselhos Comunitários de Saúde. A reforma psiquiátrica brasileira é recente, com pouco mais de trinta anos, e tem como marca característica e basilar a luta pela cidadania do louco. Ainda que trazendo exigências políticas, administrativas, técnicas e teóricas bastante novas, a reforma insiste num argumento originário: os direitos do doente mental à sua cidadania e qualidade de vida. A cada ano, os transtornos mentais crescem deliberadamente, devido a fatores socioeconômicos, das estruturas familiares, físicos, psicológicos e toxicológicos, assim um número cada vez mais crescente necessitam de tratamento. Diante desta necessidade, o governo brasileiro criou o Centro de Atenção Psicossociais – CAPS, local de assistência a pessoas que têm a saúde mental abalada e precisam de tratamentos. Nesse contexto extra-hospitalar, a arte, a Hipnose e outras terapias holísticas assumem um papel de extrema importância para reestruturação da saúde das pessoas, viabilizando o processo de reabilitação e inclusão sociofamiliar dos portadores de transtornos mentais e priorizando o tratamento do paciente como um todo. Um marco no campo da psiquiatria foi a contribuição de médicos que reconheciam a necessidade de preservar e restaurar a saúde dos pacientes por meio de instrumentos alternativos. Assim, Nise da Sileira (figura 1), ao humanizar a relação sujeito e arte, foi quem deu-se visibilidade aos “loucos”. Figura 1. Nice da Silveira. Fonte: Jornal GNN (2015). 11 SAÚDE MENTAL E PSICOLOGIA │ UNIDADE I Doutora Nise, em 1981, escreveu o livro “Imagens do Inconsciente”, no qual expõe sua metodologia de trabalho, sua análise, respeito e cuidado com o ser humano, reconhecendo que a patologia e o doente mental estão arraigados no contexto social, cultural e econômico. Sob influência da Psicologia Analítica ou como Terapia Junguiana, desempenhou um trabalho no Centro Psiquiátrico Dom Pedro II, no Rio de Janeiro, cuja análise de trabalho procurou compreender as imagens que foram produzidas pelos pacientes. Nice percebeu que seus pacientes ficavam mais tranquilos quando se expressavam pela pintura de seus conflitos, traumas e frustrações, colaborando para adesão ao tratamento psiquiátrico. Dessa forma, conscientizamos que a utilização das terapias holísticas como forma de expressão para doentes mentais, possibilita ao indivíduo a manifestação de sentimentos inconscientes, assim como a organização de sentimentos que podem ser expressos por desenhos, pinturas, modelagem, meditação, hipnose, dança entre outros. É importante compreender que o CAPS tem se tornado um grande aliado para identificação e tratamento de pessoas com a saúde mental abalada, pois realiza grupos de apoio, de arte, atendimento médico, grupos de geração de renda, alimentação e acolhimento. Além do CAPS, outras instituições governamentais também colaboram para o atendimento e tratamento de pacientes com transtornos mentais, como Centro de Atenção Psicossocial destinado a tratamentos de álcool e outras drogas (CAPSad), Casa de Acolhimento e Cuidado, Unidade Básica de Saúde, entre outras. Essas instituições facilitam o acesso do paciente à promoção da saúde e prevenção de doenças. Elas fazem um diagnóstico e fazem os encaminhamentos necessários para que o sujeito possa ter uma atenção integral de sua saúde como um todo. Após a consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS), a partir de 1993, a atenção básica se estruturou como Política de Estado com o objetivo de tentar minimizar as desigualdades, facilitando o acesso a serviços de saúde por meio do Programa Saúde da Família (PSF), que, atualmente, é chamado de Estratégia Saúde da Família (ESF). A ESF trabalha com propósitos de reorganização, expansão e a consolidação da atenção básica no Brasil, implementando as políticas públicas que enfocam a atenção em saúde priorizando ações em equipe com a interprofissionalização fortalecendo o vínculo com as famílias, assim, esse modelo de atenção em saúde ganha força. A ESF, em sua formação básica possui um médico, um enfermeiro, um auxiliar ou técnico de enfermagem e os Agentes Comunitários da Saúde – ACS. Cada membro tem 12 UNIDADE I │ SAÚDE MENTAL E PSICOLOGIA suas atribuições definidas pela Portaria no 2.488, de 21 de outubro de 2011, sendo as do ACS (BRASIL, 2011): I - trabalhar com adscrição de famílias em base geográfica definida, a microárea; II - cadastrar todas as pessoas de sua microárea e manter os cadastros atualizados; III - orientar as famílias quanto à utilização dos serviços de saúde disponíveis; IV - realizar atividades programadas e de atenção à demanda espontânea; V - acompanhar, por meio de visita domiciliar, todas as famílias e indivíduos sob sua responsabilidade. As visitas deverão ser programadas em conjunto com a equipe, considerando os critérios de risco e vulnerabilidade de modo que famílias com maior necessidade sejam visitadas mais vezes, mantendo como referência a média de 1 (uma) visita/família/mês; VI - desenvolver ações que busquem a integração entre a equipe de saúde e a população adscrita à UBS, considerando as características e as finalidades do trabalho de acompanhamento de indivíduos e grupos sociais ou coletividade; VII - desenvolver atividades de promoção da saúde, de prevenção das doenças e agravos e de vigilância à saúde [...]; VIII - estar em contato permanente com as famílias, desenvolvendo ações educativas, visando à promoção da saúde, à prevenção das doenças, e ao acompanhamento das pessoas com problemas de saúde [...]; É permitido ao ACS desenvolver outras atividades nas unidades básicas de saúde, desde que vinculadas a essas atribuições mencionadas. Além dessas funções, que são grandes avanços na saúde, os ACSs devem morar na área em que trabalharam, assim, esse trabalhador agrega uma função dupla – morar na área e concomitantemente serem parte responsáveis pela boa saúde de todos os moradores dessa mesma área. 13 SAÚDE MENTALE PSICOLOGIA │ UNIDADE I A figura 2 apresenta as principais queixas relacionadas a saúde mental em uma pesquisa de Sampaio et al. (2015), que teve como objetivo analisar as estratégias de cuidado em saúde mental, praticadas por médicos(as) e enfermeiros(as), em Unidades de Saúde da Família de Salvador, no estado da Bahia. Figura 2. Prevalência das queixas em saúde mental nas Unidades de Saúde da Família, em 2014. Fonte. (SAMPAIO; ARAÚJO; BASTOS, 2015). DE acordo com a figura 2, podemos perceber que a depressão (31%) é a principal doença relatadas pelos profissionais da saúde das Unidades básicas de saúde, seguido da Ansiedade (19%), casos de Esquizofrenia (19%) e agitação (13%). Diante disso, a promoção da saúde mental da população se torna necessária para garantir o bem-estar e a qualidade de vida de todos. Promoção da Saúde Em 1986, a elaboração da Carta de Ottawa, na 1a Conferência Internacional de Promoção da Saúde, destacou a dimensão social da saúde determinando cinco estratégias. São elas: as políticas públicas, favorecimento de ambientes saudáveis, o apoio da ação comunitária, reorientação do serviço de saúde e concepção de habilidades pessoais. A Carta de Ottawa destaca principalmente a influência dos aspectos sociais na saúde da população, possibilitando a atuação por meio de um processo de capacitação da comunidade para agir beneficamente em sua qualidade de vida. 14 UNIDADE I │ SAÚDE MENTAL E PSICOLOGIA O entendimento de promoção da saúde acrescenta a educação em saúde presente na Carta de Ottawa. Uma nova concepção de saúde é destacada por meio da história do movimento de promoção da saúde em decorrências de debates do tema nas conferencias internacionais (BERNARDES et al., 2016). Na terceira idade, as ações da promoção da saúde são relevantes para prevenir doenças e agravos decorrentes do processo de envelhecimento. As principais causas de morbimortalidade no mundo são as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e seus custos para os sistemas de saúde em todo o mundo representam impacto crescente. Grande parte dessas doenças pode ser evitada por meio de uma abordagem de prevenção e controle. Contudo, as DCNT permanecem como um dos maiores desafios enfrentados pelos sistemas de saúde e as estratégias de promoção da saúde atuam no declínio dos fatores de riscos que se faz necessário. A partir da carta de Ottawa, com um foco político e técnico para o processo saúde- doença-cuidado, a promoção da saúde encontra-se em constante progresso, em decorrência das sucessivas conferências realizadas, em que se difundiu o conceito de saúde como um compromisso para todos. Com isso, identificou-se a necessidade do desenvolvimento de novas intervenções para o avanço das políticas públicas saudáveis não só nos cuidados em saúde, mas nos setores que não estão diretamente associados a ela. Nos tempos de hoje, amplia-se a compreensão de que a saúde não é apenas a ausência de doença, conceituação proposta pela OMS em meados da década de 1950, e avança na compreensão da saúde como um estado positivo, referindo-se a uma rede complexa de interdependências e inter-relações na qual não é possível estabelecer uma causalidade linear. Saúde é o bem-estar físico e emocional, o qual está inteiramente ligado ao aprendizado. Assim, a “saúde deve ser vista como um recurso para a vida, e não como objetivo de viver [...]”; ela “é um conceito positivo, que enfatiza os recursos sociais e pessoais, bem como as capacidades físicas de cada indivíduo” (BRASIL, 2002, pp. 19-20). Os determinantes e condicionantes políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais ganham espaço para se obter qualidade de vida no ambiente em que estes indivíduos estão inseridos. As emoções e afetividades podem mediar a integração da realidade imediata e os processos imaginativos. São apontadas como pertencentes de uma grande gama, na qual estão presentes o nojo, alegria, tristeza etc. 15 SAÚDE MENTAL E PSICOLOGIA │ UNIDADE I Na psicanálise freudiana, tem-se o amor e o ódio como grandes sentimentos básicos, sendo o segundo uma grande defesa original em relação à alteridade. As emoções parecem se aproximar mais de um sistema intuitivo do sujeito, sendo fundamentais para o direcionamento do raciocínio e a tomada de decisão. Com isto e o entendimento de que somos constantemente afetados pelo nosso entorno, pressupõem-se que a escolha de onde ir e o que vamos explorar, funciona em uma relação dialética entre o conteúdo idiossincrásico e os elementos aos quais somos apresentados durante o momento em questão. Inversamente, um ambiente pode ser projetado de forma que afete o organismo, provocando maior sonolência, tensão, prazer ou desprazer. Isto abriu portas para o que Roger Ulrich, em seus estudos de 1981, coloca como potencial de efeito restaurativo. Em trabalhos posteriores, 1984, Ulrich constatou os efeitos positivos na recuperação de pacientes que haviam visão de um ambiente natural por meio das janelas de seus quartos de hospitais. Foi registrada uma diminuição nos níveis de ansiedade, estresse, das doses de analgésicos administrados e do tempo de internação. De acordo com Scott et al. (2015), a falta de contato com o ambiente (natureza) pode estar levando a uma verdadeira extinção dessa experiência nas crianças. As consequências disso vão desde uma alienação da natureza a perda da intimidade que motiva a preocupação e a conservação ambiental, prejudicando inclusive sua saúde. Assim, privando os adolescentes dessa experiência, estaríamos estreitando cada vez mais o caminho para o apego e para o bem-estar do cidadão. É preciso, então, ações generalizadas que provoquem transformações nos sujeitos, e atuem de forma assertiva socialmente, , isto é, que atuem como cidadãos. Nesse sentido, a educação (institucional ou não) deve agir como uma forma de desenvolver o exercício da cidadania, para, desse modo, fortalecer atitudes que melhorem as condições de saúde e vida. Em dezembro de 2007, o presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva, e os ministros da educação e da saúde assinam o Decreto-Lei no 6.286, instituindo o “Programa de Saúde Escolar” 8 como parte integrante do Plano Nacional de Desenvolvimento da Educação (PNE), e, conforme parágrafo único do artigo 4: As equipes de saúde da família realizarão visitas periódicas e permanentes às escolas participantes do Programa Saúde na Escola (PSE) para avaliar as condições de saúde dos educandos, bem como para proporcionar o atendimento à saúde ao longo do ano letivo, de acordo com as necessidades locais de saúde identificadas. 16 UNIDADE I │ SAÚDE MENTAL E PSICOLOGIA Considerando a recente discussão das estratégias do setor saúde junto às escolas, pelo PSE, a sentença supracitada vem propor uma reflexão sob a ótica dos profissionais de educação, especificamente dos coordenadores pedagógicos, com relação à promoção de saúde do adolescente. Partiu-se do pressuposto de que, a partir da interlocução entre os setores saúde e educação, sua articulação será favorecida, buscando propiciar melhor qualidade de vida aos jovens. Além das ações inerentes ao setor educação, a escola se vê abarrotada por diversas demandas sociais e de saúde que nela vêm desembocar. Assim, depara-se com uma problemática referente à saúde do aluno. Essa problemática revela-se em rotina de manifestações e queixas dos alunos em horário de aula. Puccini e Bresolin (2003) comentam que, por meio de estudos realizados em diferentes partes do mundo, ficou demonstrado que as dores mais frequentes na adolescência são: a dor abdominal, a cefaleia e dor nos membros, o que determina significativa demanda nos serviços de saúde. A causa orgânica geralmente é baixa, podendo fazer com que a queixa possa perder a importância e determinar repercussões na vida do adolescente e das famílias. Portanto, não se deve excluir a análise dos aspectos emocionais, sociais, familiares e cognitivos, o conjunto de fatoresque exercem influência sobre as vidas desses alunos que recebemos nas instituições, envolvidos na gênese e na expressão clínica da dor. Saúde do Trabalhador A saúde no contexto de trabalho ao longo da história possuiu diferentes compromissos e atuações, o que gerou distintos modelos explicativos e interventivos do processo saúde-doença-trabalho. No Brasil, o setor de saúde do Estado ainda está inserindo sua atuação e intervenção no espaço de trabalho. Esta integração da saúde ao local de trabalho vem sendo prevista desde a Reforma Carlos Chagas, em 1920, sendo ineficaz, pois a partir da década de 1930 surge o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. Em 1978, foram implantados os Serviços Especializados em Segurança e Medicina do Trabalho – SESMT, mas, neste momento, ainda não se cumpria o dever de reconhecer, avaliar e controlar as causas de doenças ocasionadas no trabalho. Esta integração foi reforçada a partir da Carta Constitucional de 1988 regulamentada pela Lei no 8080/90. Chiavegatto e Algranti (2013) afirmam que a criação da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (Renast) como apoio à rede de saúde, especialmente 17 SAÚDE MENTAL E PSICOLOGIA │ UNIDADE I pelos dispositivos dos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest). Com a promulgação da Política Nacional de Saúde dos Trabalhadores e Trabalhadoras, busca-se fortalecer a responsabilização do Estado por meio de ações intersetoriais e interprofissionais para se referenciar e executar ações mais efetivas nesse campo. Na política de Saúde do Trabalhador, são contemplados três níveis norteadores de atenção: a. A vigilância: estão incluídas as ações destinadas à definição dos perigos e dos riscos inerentes a um processo de trabalho e à consequente promoção de medidas que visam ao adequado controle dos perigos e riscos e de controle médico, assim como um programa que permita a coleta e a análise dos dados gerados. b. A assistência à saúde: inclui serviços de acolhimento, atenção, condutas clínicas e ocupacionais e um sistema de benefícios justo. c. A abordagem e a conduta apropriadas aos determinantes sociais, individuais ou de grupos, que impactam negativamente na saúde da maioria dos trabalhadores. As Políticas Públicas em Saúde do Trabalhador adotam modelos capazes de identificar e intervir na saúde do trabalhador em sua dimensão concreta, complexa e social, diferenciando-se dos modelos da Medicina do Trabalho e da Saúde Ocupacional. A Medicina do Trabalho iniciou-se desde industrialização do país, quando o médico começou a exercer o seu trabalho em fábricas e empresas. Nestas, havia a necessidade do médico detectar os possíveis processos danosos à saúde para que a mão de obra dos trabalhadores pudesse ser recuperada. De forma tradicional, o modelo médico no trabalho se manteve com uma visão biologicista e individualizada, em um espaço reservado na empresa em busca de doenças e acidentes. A Medicina do Trabalho, centrada na figura do médico, orienta-se pela teoria da causalidade, ou seja, para cada doença, um agente etiológico. Transplantada para o âmbito do trabalho, ela vai se refletir na propensão a isolar riscos específicos e, dessa forma, atuar sobre suas consequências, medicalizando em função de sintomas e sinais ou, quando muito, associando-os a uma doença legalmente reconhecida. Conforme Gomez e Costa (1997), a Saúde Ocupacional baseia-se a partir da Higiene Industrial, referendando-se em um método que relaciona o ambiente de trabalho com o corpo do trabalhador. Centrado na teoria da multicausalidade, pauta-se em um 18 UNIDADE I │ SAÚDE MENTAL E PSICOLOGIA conjunto de fatores que podem possibilitar o surgimento da doença, a qual pode ser causada por questões biológicas, físicas e ambientais. Os referidos autores apresentam a Saúde do trabalhador como um terceiro modelo que tem referendado as Políticas Públicas brasileiras. Estas têm o compromisso com a mudança do quadro de saúde dos trabalhadores, intervindo pelos meios político, jurídico e técnico. Tem a preocupação voltada para visão do trabalhador, um sujeito de saberes indispensável para compor não só a compreensão do processo saúde-doença- trabalho, mas principalmente suas transformações no âmbito social e singular. Psicodinâmica do trabalho: a relação de prazer e sofrimento laboral A Psicodinâmica do Trabalho é uma abordagem criada na década de 1990 na França por Christophe Dejours, partindo de aspectos psicopatológicos relacionados ao trabalho. A Psicodinâmica busca entender a inter-relação entre trabalho e saúde a partir da dinâmica de contextos visíveis e invisíveis, objetivos e subjetivos, psíquicas, sociais, culturais, políticos e econômicos interferentes no processo de saúde e adoecimento. A Psicodinâmica do Trabalho tem como finalidade o estudo dos processos de subjetivação em relação às dinâmicas vivenciadas na organização do trabalho evidenciando nas experiências de prazer e sofrimento. Partindo desta concepção, o objeto de estudo da Psicodinâmica está associado à demanda, à mobilização e ao engajamento que a organização e suas relações exigem do sujeito trabalhador. Nesses termos, o sofrimento não somente expressa o conteúdo do sofrer como também promove o ato laborativo: “O trabalho não causa o sofrimento, é o próprio sofrimento que produz o trabalho” (DEJOURS, 1992, p. 103). Para conseguimos obter acesso a essas questões, partiremos da análise da fala e da escuta do sofrimento dos trabalhadores. Este espaço de escuta é a possibilidade de reconstrução dos processos de subjetivação e do coletivo, uma vez que falar do sofrimento leva o trabalhador a se mobilizar, pensar, agir e criar estratégias para transformar a organização do trabalho. Analisar o sofrimento pela fala permite ao sujeito resgatar o pensar sobre o trabalho, orientando e dando a conhecer ao próprio trabalhador os aspectos geradores de prazer e sofrimento. Essas são vias indispensáveis para que haja reapropriação e dominação do trabalho pelo sujeito que o realiza. Este percurso propicia construção de um 19 SAÚDE MENTAL E PSICOLOGIA │ UNIDADE I coletivo capaz de analisar e perceber sua realidade laboral com base na cooperação e nas mudanças da organização do trabalho, como aponta Mendes (2007, p. 36): [...] para psicodinâmica, o sofrimento no trabalho surge quando a relação do trabalhador com a organização do trabalho é bloqueada em virtude das dificuldades de negociação das diferentes forças que envolvem o desejo da produção e o desejo do trabalhador. Neste sentido, ao reconhecer o trabalho, ora como meio para se construir a identidade, ora como fonte de alienação, a psicodinâmica direciona o estudo do sofrimento para inter-relação dos trabalhadores com a organização do trabalho e para as estratégias defensivas que utilizam para lidar com o trabalho. Mendes (2007) apresenta, a partir de pesquisas em clínica do trabalho, a importância que a Psicodinâmica confere à fala do trabalhador, apontando a escuta como um instrumento básico para a análise (seja para o pesquisador quanto para o próprio trabalhador). Nesses termos, a linguagem do trabalhador é indispensável para acessar o real do trabalho e a relação de prazer e sofrimento. O uso da entrevista, nesse campo teórico, é indispensável, pois oportuna compreender detalhadamente os sentimentos, as crenças, as atitudes, os valores e as motivações em relação aos comportamentos do indivíduo no contexto laboral. Para termos uma análise mais consistente sobre o (des)encontro da organização do trabalho com o indivíduo, a Psicodinâmica do Trabalho fornece elementos investigativos para que distintas dimensões do real possam ser evidenciadas. Segundo Mendes (2007, p. 69) isto pode ser dito do seguinte modo: compreender o objeto de pesquisa sob a perspectiva dos entrevistados e entender como e porque eles têm essa perspectiva particular; investigar o significado e/ou processo de uma unidade sociale/ ou dos fenômenos para o grupo pesquisado; investigar a história individual; realizar estudos descritivos e/ou exploratórios; validar, clarear e ilustrar dados quantitativos para melhorar a qualidade da interpretação. Diante disso, é importante pensar a saúde mental como um todo, não só focado no paciente, mas no trabalhador que atua, sendo em qualquer contexto laboral. 20 CAPÍTULO 2 Surgimento da Psicologia Compreender o surgimento da Psicologia, o desenvolvimento humano e as escolas de pensamento se torna necessário para o nosso curso de Hipnose Clínica, pois, para conseguirmos acessar as informações, os conflitos e os traumas, por meio da hipnose, antes necessitamos conhecer e compreender o indivíduo por completo, analisando a mente e o comportamento humano. O comportamento e a mente humana sempre despertaram interesse e fascínio, especialmente dos filósofos e da medicina. O termo Psicologia surge apenas no século XVI, porém, antes disso, já se pensava nos mistérios na formação da mente humana. Mas afinal de contas, o que é Psicologia? A origem da palavra psicologia vem da compreensão da alma. É derivado do Grego em que psiqué significa alma e logos ciência/razão; sendo assim, a junção dos dois termos equivale ao que chamamos hoje de Psicologia. Grandes pensadores foram importantes para o desenvolvimento da psicologia, e um deles é o Aristóteles, que foi considerado como o primeiro autor a realizar estudos sobre a psicologia. O estudo da psicologia se deu, inicialmente, por influência de pensamentos da biologia e da filosofia, buscando descrever, analisar e compreender pensamentos, sentimentos e comportamentos da figura humana. Antes de 300 a.C., já se pensava no objeto de estudo da psicologia. O filósofo grego Aristóteles orientou sobre estudos da aprendizagem e memória, motivação e emoção, percepção e personalidade. A psicologia percorreu um grande caminho em busca de conquistar o reconhecimento como ciência. Ela tem suas raízes na Filosofia que, naquela época, o ser humano era pesquisado por meio de intuições, especulações e generalizações. Diante disso, foi necessário cortar as raízes da filosofia para se associar a métodos bem-sucedidos nas ciências físicas e biológicas. Isso permitiu que a psicologia pudesse ter um arsenal científico compreendendo a mente e o comportamento humano com mais eficiência. No processo histórico, um fato foi importante para caracterização e nascimento da Psicologia Científica. Em 1875, Wundt (figura 3) inaugura o primeiro laboratório de Psicologia experimental, na Universidade de Leipzig, na Alemanha. Neste laboratório, ele compreende que a consciência é o objeto de estudo por meio da introspecção. Desta maneira, o objetivo se pauta em conhecer os elementos que formam a consciência de cada indivíduo e os levam a pensar, sentir e agir. 21 SAÚDE MENTAL E PSICOLOGIA │ UNIDADE I Figura 3. Wundt. Fonte: Psicoativo (2016). Disponível em: https://psicoativo.com/2016/08/as-contribuicoes-de-wundt-para-psicologia.html. Acesso em: 4/6/2020. Após diversos experimentos propostos por Wundt, surgiram outros pesquisadores, principalmente nos Estados Unidos, que avançaram nas pesquisas da psicologia científica. Diante disso, diversas escolas de pensamento surgiram e consagrou a psicologia científica. As escolas de pensamentos nada mais são que grupos de pensadores e pesquisadores que ideologicamente e geograficamente se unem para compartilhar achados, pensamentos e orientação teórica que movimenta os estudos da Psicologia. As escolas são: » Estruturalismo. » Funcionalismo. » Associacionismo. » Behaviorismo. » Gestalt. » Psicanálise. O estruturalismo, funcionalismo e associacionismo são escolas de pensamentos originadas no final do século XIX, que impulsionam a elaboração da Psicologia como ciência e dão base as outras escolas de pensamento. O Estruturalismo foi criado por Titchner (1867-1927; figura 4). Esta escola tencionou seus estudos em analisar a formação e constituição da consciência a fim de determinar como ela se estrutura. Utilizava a introspecção qualitativa como método que consistia em descrever o estado consciente de indivíduos submetidos a diversos estímulos. https://psicoativo.com/2016/08/as-contribuicoes-de-wundt-para-psicologia.html https://psicoativo.com/2016/08/as-contribuicoes-de-wundt-para-psicologia.html 22 UNIDADE I │ SAÚDE MENTAL E PSICOLOGIA Figura 4. Titchner. Fonte: Avanços na História da Psicologia (2017). O Funcionalismo desenvolvido por William James (1820-1903; figura 5) propôs estudar as funções dos processos mentais dos sujeitos em se adaptar ao meio em que vivem, ou seja, como o ambiente interfere no processo de adaptação do sujeito e como o sujeito processa esta adaptação. Utilizava o método de observação introspectiva e outras técnicas como a pesquisa fisiológica, testes psicológicos, entrevistas e análise do comportamento. Figura 5. William James. Fonte: Psicoactiva (2013). Já o Thorndike (1874-1949; figura 6) propôs o Associacionismo, elaborando uma teoria objetiva e mecanicista da aprendizagem por meio do comportamento manifesto. Segundo ele, o objeto de estudo está fundamentado no comportamento aprendido, consistindo em formar conexões entre situações problemas e as respostas obtidas por determinado comportamento. 23 SAÚDE MENTAL E PSICOLOGIA │ UNIDADE I Figura 6. Thorndike. Fonte: Psicoativo (2016). No século XX, novas escolas de pensamento surgiram indicando tendências teóricas da psicologia que estão em evidência até hoje como o Behaviorismo, a Gestalt e a Psicanálise. O Behaviorismo é uma teoria focada na análise do comportamento. Diversos termos são utilizados para definir esta escola, como Comportamentalismo, Teoria Comportamental, Análise experimental do comportamento, entre outras. O objeto de estudo está centrado no comportamento observável por meio de métodos experimentais. Nesta teoria, a resposta de uma determinada situação é incentivada por um determinado estímulo, ou seja, ao descobrir o estímulo, é possível prever o comportamento. A Gestalt teve sua origem na Alemanha, tendo como objeto de estudo a percepção e o pensamento como totalidade, por meio de um método misto como a Introspecção e experimental. Diversos foram os pesquisadores que desenvolveram esta teoria, como Max Wertheimer (1880-1943), Wolfgang Kohler (1887-1967; figura 7) e Kurt Koffka (1886-1941). Eles defendiam que o comportamento humano não se soma a reações a estímulos, pois comportamento é organizado pelo mundo exterior e integrada na totalidade psicológica do sujeito, ou seja, entre o estímulo que o ambiente fornece e a resposta do indivíduo encontra-se a percepção. Figura 7. Wolfgang Kohler. Fonte: Facebook (2017). 24 UNIDADE I │ SAÚDE MENTAL E PSICOLOGIA Observe esta imagem: Figura 8. Figura e Fundo. Fonte: Psicoativo (2017). O que você vê nesta figura? Esta resposta está relacionada a percepção de cada sujeito, a forma como cada indivíduo percebe a figura ou uma determinada situação. Diante dessa teoria, alguns princípios devem se dar importância, como: proximidade, semelhança, figura-fundo e complementação. A forma como percebemos o outro, o ambiente e a si mesmo é o que é analisado por meio da Gestalt terapia. A Psicanálise é uma das escolas de pensamentos mais importante da psicologia, desenvolvida por Sigmund Freud (1956-1939). Tem como objeto de estudo o inconsciente pesquisado pelo método analítico e de associação livre que será explicado com maior profundidade na segunda unidade deste material. Até o período em que ocorreu a segunda guerra mundial, o Behaviorismo dominava como escola de pensamento da psicologia, principalmente nos Estados Unidos. Após segunda guerra, houve avanços na psicologia como ciência e ramificações das escolas de pensamento. No Behaviorismo, por exemplo, surgiu duas novas vertentes como a do Behaviorismo Radical, desenvolvida por Skinner, e o Neobehaviorismo, por AlbertBandura. Já na Escola Gestalt, houve a vertente da Fenomenologia criada por Heiddeger Pearls e a escola da Psicanálise desenvolveram novas teorias aliadas como a Psicologia Analítica, de Jung, a Psicologia Kleiniana, de Melanie Klein, e a Lacaniana, de Lacan. 25 SAÚDE MENTAL E PSICOLOGIA │ UNIDADE I A partir da década de 1960, novas perspectivas científicas na psicologia surgiram como a Psicologia Sócio-Histórica, desenvolvida por Vygotsky, e a Psicologia Humanista de Carl Rogers. Nos anos 1970, surgiu a psicologia Cognitiva e nos anos 1980 e 1990 a Neuropsicologia e Neurociências entram como ciência também pensada a psicologia. Durante todo este processo histórico, a Psicologia vem se desenvolvendo como ciência e profissão. Cada escola segue sua própria teoria e método, observando a natureza humana a partir de diferentes técnicas e pensamentos. A história da psicologia vem apresentando, no decorrer de sua evolução, que a atuação profissional do psicólogo não é neutra, pois contesta demandas relacionadas a contextos econômicos, culturais, políticos e sociais que interferem a percepção e o comportamento da mente humana. O homem é um animal essencialmente diferente de todos os outros. Não apenas porque raciocina, fala, ri, chora, opõe o polegar, cria, faz cultura, tem autoconsciência, e consciência de morte. É também diferente porque o meio social é seu meio específico. Ele deverá conviver com outros homens, numa sociedade que já encontra, ao nascer dotada de uma complexidade de valores, filosofias, religiões, línguas, tecnologias (TELES, 2003, p.19). Diante disso, a Psicologia se consagrou ciência, mas, por se tratar da psique humana, ela está constantemente em processo de construção, visto que não é só analisar a mente humana mas sim o processo histórico em que vivemos. 26 CAPÍTULO 3 Processo de desenvolvimento humano A psicologia também está atrelada a compreender o processo do desenvolvimento humano. Nossos comportamentos e personalidades estão estritamente relacionados com fatores psicossociais, como nossas relações familiares, social e ambientais. Compreender o processo do desenvolvimento humano nos permite ter uma melhor análise dos sofrimentos, dos conflitos, dos traumas e das frustrações que o indivíduo pode ter durante todo o seu ciclo de vida. Não só na identificação do problema, mas também para a criação de estratégias capaz de promover a saúde do sujeito. Figura 9. Ciclo da vida. Fonte: The Irish Times (2019). O desenvolvimento de cada indivíduo está intimamente condicionado às interações com seus pais. É condição vital que o bebê tenha um pai e uma mãe ou outra pessoa que os substitua, caso contrário, não sobreviverá. As relações entre o bebê e seus pais são pautadas em um grande número de sistemas reguladores que atuam em diferentes níveis de organização. Ressaltam-se aqui os três sistemas reguladores mais importantes do desenvolvimento: o biológico, o social e o afetivo (ZAVASCHI; COSTA; BRUNSTEIN, 2012). As interações com o biológico são preponderantes durante a embriogênese, quando mudanças no estado do fenótipo do organismo funcionam como gatilhos para o genótipo, desencadeando novas séries de fenômenos bioquímicos. Essas experiências são reguladas pelo ligar e desligar de várias atividades genéticas dirigidas à construção de um bebê humano viável. Esse processo continua depois do nascimento, e as 27 SAÚDE MENTAL E PSICOLOGIA │ UNIDADE I interações com o sistema social dominam a maior parte do período que vai da infância até a idade adulta (ZAVASCHI; COSTA; BRUNSTEIN, 2012). Percebemos o quão importante é a presença da mãe e do pai da criação da criança. Nos primeiros anos de vida, a criança é totalmente dependente da mãe; sem ela, a criança não teria os cuidados básicos para sobreviver; alimentação, higiene e carinho são fundamentais para garantir um bom desenvolvimento. Para Winnicott (2012), o cuidado materno adequado promove um ambiente acolhedor para o bebê no sentido de reconhecer a sua existência, promovendo o seu bem-estar físico e psicológico e o seu desenvolvimento. Dessa maneira, o bebê possui um sentido e adaptação de ser e existir, inicialmente existindo apenas na relação com a mãe. Parte- se do princípio de que a criança passa por um processo de desenvolvimento, partindo da dependência rumo à independência, da não integração à integração do seu ser. A teoria Winnicottiana defende três estágios de desenvolvimento que o bebê segue: a dependência absoluta, a dependência relativa e a independência relativa. Em cada um desses estágios naturais do desenvolvimento emocional do bebê, o que se espera é que as necessidades fundamentais do bebê sejam atendidas de forma satisfatória, como alimentação, higiene e conforto. Isso permite ao bebê estabelecer os limites do interno e do externo, que posteriormente irão caracterizá-lo enquanto ser e o que é o outro enquanto alguém diferente dele próprio. Falhas no cuidado com o bebê nesses três estágios iniciais podem caracterizar predisposições para transtornos psíquicos dos mais diversos, incluindo a psicose, esquizofrenia, depressão, tendências antissociais, dentre outros (WINNICOTT, 2012). Além do desenvolvimento das emoções, o processo do desenvolvimento infantil também ocorre por meio do desenvolvimento cognitivo da criança. Jean Piaget foi um dos grandes nomes que estudou o desenvolvimento da aprendizagem em crianças. Seu método avalia como o cognitivo da criança é estruturado e, por sua vez, desenvolvido por meio de estímulos da aprendizagem. É por meio do brincar, dos erros e acertos e da interação com o ambiente que a criança desenvolverá o aprendizado. Isso também pode ser compreendido a partir da teoria da Psicogenética desenvolvida por Piaget. Jean Piaget desenvolveu a teoria conhecida como “Epistemologia Genética”, que tem como fontes, de um lado, o conhecimento científico (epistemologia), e de outro, a gênese, ou seja, a origem desse conhecimento (genética). Assim, sua teoria tem como foco o sujeito epistêmico, o indivíduo em seu processo de construção de conhecimento. 28 UNIDADE I │ SAÚDE MENTAL E PSICOLOGIA Em sua teoria, abordou o processo de construção do conhecimento pelo sujeito, do nascimento até a idade adulta, mas seu enfoque principal foi o desenvolvimento infantil (PIAGET, 1975). Para Piaget (1975), o desenvolvimento cognitivo pode ser compreendido como um processo de equilibrações sucessivas, estruturado em etapas ou fases. Cada etapa define um momento de desenvolvimento ao longo do qual a criança constrói certas estruturas cognitivas. O autor denomina essas etapas do desenvolvimento da inteligência infantil da seguinte maneira: sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório formal. Cada um desses quatro períodos é marcado por avanços intelectuais que marcaram a vida da criança ao longo do processo de desenvolvimento da infância até a juventude. De forma sucinta, o primeiro estágio, denominado de sensório-motor, vai de 0 a 2 anos de idade. Nesse primeiro estágio, os bebês começam o seu aprendizado por meio da construção de esquemas de ações em que tentam compreender mentalmente o meio em seu redor. O segundo estágio é denominado de período pré-operatório e vai de 2 a 7 anos. Este, está dividido em dois períodos, o da inteligência simbólica (dos 2 aos 4 anos) e o período intuitivo (dos 4 aos 7 anos). Embora a criança não consiga fazer operações, já se utiliza da inteligência e do pensamento. Esse período é organizado pelo processo de assimilação, acomodação e adaptação, que, estando em equilíbrio, indica que houve uma aprendizagem. O terceiro estágio é o das operações concretas (7 aos 11 anos). Nessa fazia etária, a criança organiza o mundo de maneira lógica e operatória. É capaz de estabelecer compromissos, compreender as regras, podendo ser fiel a elas. O quarto estágio é das operações formais (11 aos 15 anos). É o período formal das estruturas cognitivasquando a criança tende a alcançar seu nível mais elevado de desenvolvimento, e fica apta a aplicar o raciocínio lógico a todas as classes de problemas (PIAGET, 1978). O processo de desenvolvimento afetivo e cognitivo da criança possibilita melhor interação dela com o ambiente. A relação de transferência a partir da afetividade possibilita melhor relação entre um sujeito, o outro e o ambiente, garantindo um aprendizado formado pelas relações e seus afetos. Wallon (1989) desenvolveu uma teoria que caracteriza o processo de desenvolvimento humano centrado no processo de relação entre quatro grandes núcleos funcionais 29 SAÚDE MENTAL E PSICOLOGIA │ UNIDADE I determinantes: a afetividade, a cognição, o movimento e a pessoa. Para o autor, o processo de desenvolvimento, que ocorre pela contínua interação entre esses núcleos, só pode ser explicado pela relação dialética entre os processos biológicos/ orgânicos e o ambiente social, ou seja, o biológico e o social são indissociáveis, estando dialeticamente sempre relacionados. A afetividade envolve um maior universo de manifestações, englobando as emoções (de origem biológica) e os sentimentos (de origem psicológica). É um conceito que, além de envolver um componente orgânico, corporal, motor e plástico – que é a emoção apresenta também um componente cognitivo, representacional, que são os sentimentos, e a paixão. Diante disso, a emoção e a cognição coexistem no indivíduo em todos os momentos, embora nas diversas etapas do desenvolvimento possa haver um predomínio alternado entre as duas funções. A inteligência não se desenvolve sem afetividade, e vice-versa, pois ambas compõem uma unidade a outra. A partir das contribuições de vários teóricos interacionistas que se debruçam sobre os processos de ensino, aprendizagem e desenvolvimento humano, como Winnicott, Piaget e Wallon, é possível construir uma compreensão psicopedagógica consistente e abrangente. Cada um desses autores oferece bases para a reflexão sobre diferentes aspectos inerentes à integração entre as habilidades cognitivas e socioemocionais. A psicanálise de Donald Winnicott contribui para o entendimento do papel das figuras parentais na constituição emocional dos sujeitos e as referências teóricas de Jean Piaget colaboram para pensar sobre o desenvolvimento cognitivo. Enquanto as contribuições de Henri Wallon dão subsídios para pensar o desenvolvimento do ser humano nas instâncias biológica, psíquica e social, uma vez que o autor propõe um modelo de desenvolvimento que integra as dimensões do ato motor, da afetividade e da inteligência humana. Afetividade Definir o conceito de afetividade possui certo nível de dificuldade, pois, na concepção de modo geral, o afeto está relacionado com sentimentos de ternura, carinho, simpatia. Porém, nas mais variadas literaturas, este termo se refere a emoção, motivação, estados de humor, sentimento, paixão, atenção, personalidade, temperamentos entre outros. Tais termos são definidos de acordo com cada linha de estudo realizado nas diferentes áreas de conhecimento cada qual com uma ótica e não possui uma estrutura interdisciplinar. 30 UNIDADE I │ SAÚDE MENTAL E PSICOLOGIA O afeto e a afetividade no contexto contemporâneo são fundamentais, especialmente, quando a sociedade e, consequentemente, educação estão em crise absoluta. Cada vez mais e mais intensamente se está criando uma lacuna entre o conhecimento e a produção de sentidos, o sujeito e o próprio sujeito, o professor e o estudante, a família e a escola. Muitas vezes os termos sentimentos, emoções e afetividade são empregados como sinônimos em nossa linguagem cotidiana. Do ponto de vista conceitual, porém, existe um razoável consenso entre os autores que dedicam a estudar o tema apontando para uma diferenciação entre seus significados e suas funções. A discussão é bastante complicada e, ao mesmo tempo que os diferencia, cada autor tende a adotar sua própria definição sobre o que são sentimentos, o que são emoções e o que é a afetividade (ARANTES, 2003 p. 253). Segundo Wallon (1979), a emoção é um componente biológico do Comportamento humano, ou seja, é uma reação de ordem física; já a afetividade possui um conceito mais amplo, possuindo maiores manifestações desde as mais básicas de ordem orgânica como as primeiras sensações de fome e saciedade, de dor e prazer, até as manifestações de ordem social, como sentimentos, paixão, humor, entre outros. A afetividade pode ser definida como conjunto de fenômenos psíquicos que se manifestam sob a forma de emoções, sentimentos e paixões, acompanhados sempre da impressão de dor ou prazer, de satisfação ou insatisfação, de agrado ou desagrado, de alegria ou tristeza. Diante destas concepções, é possível afirmar que a afetividade está diretamente ligada à emoção, estabelecendo formas de comunicação. Desde o nascimento, o recém- nascido começa estabelecer maneiras de se relacionar com o novo meio em que está sendo inserido, expressando assim seus sentimentos de medo, fome, dor, alegria, tristeza, desconforto entre outros. De acordo com o desenvolvimento da maturidade, a criança vai transformando sua comunicação por uma mais racional e menos emocional, aprendo a se relacionar com os outros construindo novas formas de saciar seus desejos. Assim, são estabelecidas novas formas de como este indivíduo visualiza o mundo e sua forma de se relacionar dentro dele, pois todos os acontecimentos vividos se farão presente em seu processo histórico como forma de recordações e experiências. Estes são fatores determinantes na sua formação e, com o desenvolvimento do sistema nervoso, é possível controlar as emoções, permitindo que o raciocínio faça parte das atitudes. 31 SAÚDE MENTAL E PSICOLOGIA │ UNIDADE I Nesse sentido, a afetividade pode ser conceituada como todo domínio da emoção, das experiências, dos sentimentos, da capacidade de entrar em contato com sensações referindo-se às vivências do indivíduo e as formas de expressão mais complexa da existência humana, de acordo com suas particularidades culturais, socioeconômicas e no desenvolvimento de sua aprendizagem. Piaget (1975) acredita que a afetividade é o agente motivador da atividade cognitiva. Assim, a afetividade e a razão constituiriam termos complementares: afetividade seria a energia, o que move a ação, enquanto a razão seria o que possibilitaria ao sujeito identificar desejos, sentimentos variados, como desejos, determinação, vingança, entre outros. Esses sentimentos poderão levá-lo a obter êxito nas ações pensadas e imaginadas. Nesse caso, não há conflito entre afetividade e razão, pois ambas se completam: não há sentimentos sem o pensamento, e o pensamento leva a sentimentos que não existem por si só. A afetividade para Piaget (1980) é funcional na inteligência, pois ela é a energia que propulsiona a inteligência. Assim sendo, para que ocorra o desenvolvimento cognitivo é necessário que trabalhe a afetividade antes, e assim conduzir para a busca do conhecimento. Diante disso, o educador deve ter em mente que a criança, para aprender, deve estar motivada. Os procedimentos que envolvem o ensino-aprendizagem não devem desconsiderar, portanto, a afetividade, ou seja, a relação afetiva entre educador e criança. As contribuições de Wallon, Piaget e Vygotsky estão sendo retomadas pelos educadores para entender a percepção intuitiva de pais e professores de que as experiências e os laços afetivos influenciam os processos de ensino aprendizagem. A afetividade é concebida como o conhecimento construído pela vivência; desse modo, perceber o sujeito como um ser intelectual e afetivo, que pensa e sente simultaneamente, e reconhecer a afetividade como parte integrante do processo de construção do conhecimento, implica outro olhar sobre a prática pedagógica, não restringindo o processo ensino-aprendizagem à dimensão cognitiva. A importância da relação familiar no desenvolvimento humano A famíliaou o meio em que a criança está inserida é o seu primeiro ambiente de aprendizagem; é nesse contexto que a criança aprende as primeiras habilidades sociais, como a comunicação entre seus semelhantes, assim como lhes são transmitidos os valores sociais da cultura em que esta família se insere, e suas expectativas. 32 UNIDADE I │ SAÚDE MENTAL E PSICOLOGIA A importância de se discutir a relação família/escola destaca a contribuição desta no processo ensino-aprendizagem, pois, a partir da percepção das crianças sobre a presença de seus responsáveis no ambiente escolar e a demonstração de interesse em seu aprendizado, suas relações, valorizando suas conquistas e desafios, fator que auxiliará a escola a atingir seu objetivo. Não se experimentou para a educação informal nenhuma célula social melhor do que a família. É nela que se forma o caráter. Qualquer projeto educacional sério depende da participação familiar: em alguns momentos, apenas do incentivo; em outros, de uma participação efetiva no aprendizado, ao pesquisar, ao discutir, ao valorizar a preocupação que o filho traz da escola. Por melhor que seja uma escola, por mais bem preparados que estejam seus professores, nunca vai suprir a carência deixada por uma família ausente. “Pai, mãe, avó ou avô, tios, quem quer que tenha a responsabilidade pela educação da criança deve dela participar sob pena de a escola não conseguir seu objetivo” (CHALITA, 2004, p.12). A educação vem de casa, a participação da família no incentivo, na vida afetiva, no aprendizado da criança é de suma importância para seu desenvolvimento. Portanto, em qualquer projeto educacional, a família deve participar, discutir, valorizar e se preocupar com que os filhos fazem na escola. Falar de família é sério, por que a família tem que ser transparente com os filhos. O ambiente familiar é um espaço em que as máscaras devem dar lugar à face transparente, sem disfarce, no qual o diálogo é do conhecimento. A família tem função indispensável na preparação emocional da criança, especialmente nos seus primeiros anos escolares. A escola, especialmente, e mais diretamente os professores também precisam estar preparados para situações de improviso em sala de aula. Muitas dificuldades de aprendizagem estão relacionadas com problemas afetivos, seja este no âmbito familiar ou escolar. Além disso, pode-se dizer que a violência verbal e física, a indisciplina e evasão escolar, dentre outros, têm origem em problemas afetivos. Assim, o fortalecimento da relação família/escola torna-se imprescindível no reconhecimento de problemas relacionados à afetividade, seja no âmbito familiar ou escolar, o que facilitará, na resolução deles da melhor maneira possível, favorecendo o desenvolvimento de forma ampla e adequada do indivíduo. 33 SAÚDE MENTAL E PSICOLOGIA │ UNIDADE I A família é a base da formação do ser humano, pois, é no contexto familiar que acontece às primeiras noções de vida social; são construídos alguns conceitos culturais, relações de comunicação, afetividade entre seus semelhantes. E ao entrar na instituição escolar, a criança traz consigo uma bagagem de conhecimentos que precisam ser considerados pelos professores, pois tais conhecimentos já adquiridos poderão entrar em conflito com os que a escola trabalha, fator este que poderá prejudicar a aquisição de novos conhecimentos; então, o aluno precisa estabelecer relação de vínculo tanto com sua família quanto com a escola. É importante ressaltar que o indivíduo, ao ingressar no sistema escolar, deve ser considerado o seu desenvolvimento global, pois mesmo sendo aluno não deixará de ser filho, irmão, neto, sobrinho etc. Atualmente, a necessidade da integração entre família e escola está se tornando cada vez maior, pois estamos vivendo com intensas transformações, pautadas no sistema capitalista, no qual o ter tem tomado proporção muito maior em relação ao ser, principalmente com as revoluções tecnológicas que vem exigindo cada vez mais do ser humano. Assim, destaca Chalita (2004), que apresenta uma constatação de Rousseau, sobre as transformações no modo de vida do homem moderno. O homem primitivo era absolutamente diferente do homem ambicioso. Era gente, vivendo com gente. Não havia a desenfreada competição que faz com que todos queiram o tempo ter o melhor de tudo. Se alguém está satisfeito com o que possui, basta ficar sabendo que o outro tem mais para que a insatisfação e o desejo de possuir mais lhe tomem pela mão. É a sociedade dos competitivos, do ser melhor em tudo, do ter o melhor carro, a melhor casa [...] (CHALITA, 2004, p. 14). Essa desenfreada competição acaba fazendo com que as famílias se tornem instituições fragilizadas e consequentemente, nas instituições escolares refletirá esta situação, são inúmeras as reclamações em torno de questões de indisciplinas, violência, uso de substâncias entorpecentes, aumento de casos de gravidez precoce, entre outros problemas. Portanto, a escola deve ser considerada uma instituição que complementa a família e juntas desenvolver estratégias visando atingir o objetivo maior, que é a garantia de um futuro melhor para nossos filhos e alunos, construindo assim uma sociedade mais digna, a formação destes personagens em questão que serão no futuro os nossos médicos, advogados, professores, vendedores, padeiros, motoristas, entre outros, o que é de extrema importância neste processo de formação de filhos, alunos, profissionais, 34 UNIDADE I │ SAÚDE MENTAL E PSICOLOGIA competentes, comprometidos, responsáveis com seus afazeres, conscientes de seus direitos e deveres. Como a família, a escola é uma instituição essencial na formação dos indivíduos. Tem como papel contribuir não só para aquisição de conhecimentos do campo cognitivo, mas também na construção do caráter e da personalidade, além proporcionar o vínculo afetivo entre todos. As escolas deveriam entender mais dos seres humanos e de amor do que conteúdos e técnicas educativas. Elas têm contribuído bastante para a construção de neuróticos por não entenderem de amor, de sonhos, de fantasias, de símbolos e de dores. Segundo Cury (2003, p. 59), “se não reconstruirmos a educação, as sociedades modernas se tornarão um grande hospital psiquiátrico. As estatísticas estão demonstrando que o normal é ser estressado, e o anormal é ser saudável.”. Diante desta colocação, podemos refletir um pouco mais sobre a importância da união entre família e escola, pois juntas serão mais fortes para cobrarem das autoridades competentes maior comprometimento com a educação de qualidade dos seus filhos e alunos, o que já está previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Da referida lei, podemos concluir que a educação é dever da família e do estado, ou seja, a garantia do ensino de qualidade, que visa o desenvolvimento cognitivo e afetivo depende do comprometimento de ambos, em busca desta tão sonhada educação de qualidade com o acesso e permanência de todos. O mundo hoje se tornou capitalista e individualista, e os pais se dedicam intensamente ao trabalho deixando de lado a instituição familiar, que é a base da formação do ser humano, passando está a ser considerada, quase que, algo sem importância. A preocupação do coletivo e do individual está focada, na violência, predominante na cidade, e, no campo, na realidade econômica, no progresso tecnológico e também no acúmulo de riquezas, no exercer várias funções, empregos ou, então, na sobrevivência. Esta realidade está levando a maioria dos pais a deixarem de lado o sentimento de afetividade entre seus membros familiares. E muitos pais desejam para seus filhos progresso físico e intelectual e uma escola que proporcione bons conteúdos de aprendizagem, acreditando que com isso todos os problemas estarão e serão resolvidos. Mas, eles esquecem que a educação das emoções não é menos importante do que a do corpo e da mente. “A família é essencial para que a criança ganhe confiança,para que se sinta valorizada, para que se sinta assistida”. (CHALITA, 2004, p..26). 35 SAÚDE MENTAL E PSICOLOGIA │ UNIDADE I Por isso, é de extrema importância criar um elo de comunicação entre a família e a escola, pois ambas necessitam uma da outra. A interação entre a família e a escola não deveria ser reduzida meramente a reuniões formais, nas quais há reclamações e contatos rápidos, mas ocorrer regularmente em momentos de maior troca de informações, nos quais a família pudesse efetivamente participar do dia a dia da escola. A escola não pode viver sem a família e a família não pode viver sem a escola; são instituições interdependentes e complementares. Algumas delas têm incluído os pais no programa de ensino, convidando-os a participar de eventos e discutindo com eles as questões dos jovens. Temos que ter sempre em mente que o que o jovem faz em casa, faz na escola; ele transfere para a escola coisas da casa, e isso constitui o maior fundamento para justificar a união constante e perpétua dessas únicas duas instituições de educação. A escola deve se conscientizar de que é uma instituição afetiva que complementa a família. Violência A compreensão da violência intrafamiliar configura-se como um desafio para os gestores e para os profissionais que atuam no campo da educação, pois é preciso considerar as várias formas de violência a que crianças ou adolescentes podem estar submetidos, como a violência física, a sexual e a psicológica que inclui negligência e abandono (SANTOS et al., 2015). A escola é uma instituição de extrema importância para a criança, tanto pelo papel de ensinar quanto pelo potencial para a construção de estratégias de enfrentamento da violência (CARLOS et al., 2014), pois a escola configura-se como ambiente favorável para a detecção de casos de maus-tratos infantis, na medida que abrange significativo percentual da população infantil. Nesse ambiente, as crianças passam muitas horas por dia convivendo com professores e outros profissionais, o que facilita a apreensão de indicadores de violência contra a criança, incluindo os de negligência, que servem de alerta à identificação de casos de maus-tratos infantil. O ambiente familiar influencia o comportamento que a criança expressa no ambiente escolar. As crianças e os adolescentes que testemunham a violência ou que são agredidos por seus familiares tendem a apresentar comportamentos agressivos e antissociais fora de casa, principalmente na escola. “Os padrões aprendidos pelos filhos tendem a se repetir, uma vez que a violência passa a ser a principal forma de 36 UNIDADE I │ SAÚDE MENTAL E PSICOLOGIA mediar as relações sociais entre os membros dessas famílias” (COSTA; TEIXEIRA, 2017, p. 27). Contrariando as expectativas sociais em relação ao papel de proteção que o núcleo familiar deveria desempenhar, muitas famílias apresentam-se como cenários de violência para inúmeras crianças e adolescentes. São consideradas vítimas tanto sujeitos que sofrem o abuso, quanto crianças e adolescentes que testemunham situações de abuso, principalmente de um progenitor ao outro. Preto e Moreira (2012) investigaram o aprendizado de crianças e relataram que os filhos de mulheres vítimas de violência doméstica obtiveram rendimento escolar inferior ao dos filhos de mulheres não vítimas, confirmando que a violência intrafamiliar é um fator gerador de deficiência no desenvolvimento da criança. É notório que crianças vítimas apresentam dificuldade de atenção e aprendizagem, assim como problemas de comportamento. Wang et al. (2016) analisaram 1.284 crianças de três a seis anos na área urbana de Lanzhou, China, e afirmaram que crianças vítimas de algum tipo de violência apresentaram maior taxa de problemas comportamentais quando comparadas àquelas que não foram expostas a atos violentos. Dessa forma, os problemas comportamentais em crianças pré-escolares foram correlacionados à violência intrafamiliar. Os efeitos da violência doméstica sobre o comportamento disciplinar e sobre o desempenho acadêmico de alunos vítimas de violência intrafamiliar foram relatados por professores na investigação realizada por Ristum (2014). Quanto ao aspecto disciplinar, o autor relatou comportamentos agressivos, desobediência, dificuldade de relacionamento, tendência ao isolamento ou agitação. Quanto ao aspecto acadêmico, por sua vez, foi descrito que a maioria possui baixo rendimento escolar, dificuldade de aprendizagem, desinteresse e desatenção. Outros comportamentos que podem indicar violência no âmbito familiar foram citados como distanciamento dos colegas, não conversar e não brincar, timidez, introversão, retraimento e distanciamento do convívio. Outro aspecto que deve ser considerado no contexto escolar é que a agressividade de crianças vítimas de maus-tratos familiar causa rejeição por parte dos colegas e dos professores, aumentando o descontrole emocional e afetando os processos de aprendizagem. A pesquisa feita por Silva (2014) investigou os efeitos da violência intrafamiliar sobre as relações interpessoais em sala de aula, indicando que a violência em sala de aula é reflexo da violência intrafamiliar. As famílias, por sua vez, responsabilizam a escola pelos atos de violência cometidos por seus filhos, entretanto os alunos que apresentam comportamento agressivo na escola relataram que sofrem violência física e/ou psicológica em casa por seus pais ou parentes, o que os deixam 37 SAÚDE MENTAL E PSICOLOGIA │ UNIDADE I revoltados e estimulados a praticar atos desagradáveis no ambiente escolar. Portanto, o comportamento agressivo de pais ou responsáveis interfere diretamente no processo educacional dos filhos, sendo projetado em sala de aula, estimulando a agressividade da criança tornando-a impaciente e revoltada. A violência familiar pode ser detectada em escolas a partir de alguns indicadores: ausência frequente do aluno, baixo rendimento, falta de atenção e de concentração e comportamentos como apatia, passividade, agressividade e choro. As crianças, de forma inconsciente, tendem a dar sinais de que estão vivenciando algum tipo de violência em seu meio familiar. Ristum (2014) investigou como os professores identificam a violência intrafamiliar e relatou que as crianças possuem diversas formas de demonstrar que são vítimas ou que presenciam a violência familiar, desde marcas ou ferimentos no corpo a comportamentos agressivos ou isolamento e retraimento, até sinais mais sutis como a projeção dos conflitos familiares nos desenhos e no brincar. As consequências de maus-tratos infantil podem ser consideradas um grave problema para o indivíduo, a família e a sociedade. O abuso infantil e a negligência podem causar mudanças hereditárias permanentes na resposta do organismo ao estresse que, por sua vez, inflige mudanças profundas no cérebro em desenvolvimento. Embora essas mudanças permitam que uma criança consiga conviver em um ambiente negligente, caótico e até mesmo violento, isso pode influenciar fortemente o funcionamento comportamental, cognitivo, físico e mental, assim como o seu bem- estar ao longo da vida. Os maus-tratos infantis podem gerar diversos resultados negativos para o desenvolvimento da criança no contexto escolar, como: evasão escolar, problemas de comportamento na escola, menor desempenho escolar, dificuldades em estabelecer amizades, problemas de aprendizagem em decorrência de fatores emocionais, transferência da agressividade vivenciada em casa para o ambiente escolar, dentre outros aspectos. O baixo rendimento escolar deve ser atribuído não só às características individuais da criança, mas também ao seu contexto familiar, escolar e social no qual a criança está inserida. Os problemas relacionados às questões pedagógicas da criança vítima de maus- tratos estão relacionados às seguintes dificuldades: expressão oral, emitir as próprias opiniões de forma verbal ou escrita, resolução de problemas, raciocínio lógico matemático, interpretaçãode textos com conceitos subjetivos, produção de textos organizados com uma sequência de fatos e coerência. As possíveis alterações advindas da violência intrafamiliar estão relacionadas com a ansiedade, sintomas depressivos, culpa, vergonha, ódio, medo, raiva, ideação e 38 UNIDADE I │ SAÚDE MENTAL E PSICOLOGIA comportamentos suicidas, baixa autoestima, comportamento agressivo e regressivo, isolamento social, comportamento sexual inadequado à faixa etária, furtos, fugas do lar, prejuízo no desempenho escolar, alterações do apetite, dentre outros. Uma pesquisa realizada por Bruce et al. (2013) evidenciou a associação entre maus- tratos e a presença de sintomatologia ansiosa. Crianças que sofreram violência apresentam uma maior vulnerabilidade a diversos transtornos de ansiedade ao longo da vida, incluindo agorafobia, transtorno do pânico, fobias específicas e fobia social. O tipo de abuso ou de negligência sofrido também impacta no tratamento ao transtorno de ansiedade, sendo que crianças que sofreram abuso sexual ou emocional apresentam maior sintomatologia de ansiedade social e dificuldades em aderir a um tratamento adequado. A metanálise realizada por Nanni et al. (2012) encontrou associação significativa entre maus-tratos na infância e risco elevado para episódios depressivos recorrentes ao longo da vida. O estudo demonstrou, ainda, que pessoas que sofreram maus-tratos na infância apresentaram pior prognóstico no tratamento para depressão, apresentando falta de resposta à terapia. Isso indica que os maus-tratos na infância podem gerar tanto uma maior vulnerabilidade à depressão quanto uma menor capacidade do paciente de estabelecer vínculo terapêutico e ter resultados positivos ao longo do processo terapêutico, gerando efeitos de longo prazo bastante deletérios para o indivíduo. Como já mencionado, os alunos que presenciam ou sofrem violência no ambiente familiar podem apresentar interferência em seu desenvolvimento emocional e comportamental, o que influencia na aprendizagem. Nesse contexto, é de suma importância retratar que a timidez e a apatia também foram citadas por professores como indicativos de que a criança está tendo algum tipo de problema familiar. Os educadores/professores estão bem posicionados para a identificação de uma ampla gama de casos de maus-tratos, devido ao fato de conviverem diariamente e entrarem em contato com um grande número de crianças, em diferentes atividades. Os educadores são capazes de observar mudanças de comportamentos e sinais físicos que funcionam como indicadores dos maus-tratos e, muitas vezes, também obtêm relatos infantis explícitos. Por essas razões, em muitos países, os profissionais da educação passaram a ser concebidos como atores fundamentais no sistema de proteção infantil. Em relação aos prejuízos cognitivos, vítimas de maus-tratos apresentam níveis de inteligência geral inferiores a outros sujeitos. Prejuízos intelectuais em vítimas de maus-tratos trazem sérias consequências, tendo em vista que há evidência de que a questão cognitiva é o principal preditor do rendimento acadêmico e laboral ao longo 39 SAÚDE MENTAL E PSICOLOGIA │ UNIDADE I da vida. O prejuízo na inteligência representa menor capacidade de lidar com eventos traumáticos, pois crianças com menor capacidade intelectual apresentam dificuldades de socialização, tais como habilidade em pedir ajuda ou solicitar atenção positiva de forma adequada. Diante dessa problemática, os profissionais da área educacional podem contribuir de forma efetiva para a intervenção em casos de maus-tratos infantis, fazendo as notificações e estando cientes da obrigatoriedade desse ato para que possam ser tomadas as medidas necessárias considerando as especificidades de cada caso. No entanto, é necessário que esses profissionais recebam treinamento adequado para identificar e notificar a violência contra a criança. Lolli et al. (2012) afirmaram que pesquisas em diversos países têm pontuado a necessidade de educação continuada para profissionais da área de assistência à saúde, educação e social, relacionada ao reconhecimento e relato de sinais e sintomas de violência infantil. Os educadores ainda mantêm uma posição de desinformação, indiferença, negação e temor em relação ao problema da violência contra a criança. A violência intrafamiliar interfere diretamente no processo educacional e nas relações estabelecidas no contexto escolar, estimulando a agressividade e outros comportamentos inoportunos nesse meio, podendo significar um verdadeiro reflexo do tratamento recebido no ambiente familiar. Os profissionais da área de educação devem estar atentos, sensibilizados e capacitados para identificar e atuar ao menor sinal dado pelas crianças. 40 UNIDADE IIPSICANÁLISE Chegamos em um momento importantíssimo da nossa disciplina! Vamos conhecer um pouco do que é a psicanálise e aprender alguns conceitos importantes como “inconsciente”, utilizado na atuação da psicanálise e na hipnose clínica. CAPÍTULO 1 Contexto histórico do surgimento da Psicanálise e o uso da Hipnose Neste capítulo, será apresentado brevemente a história de Sigmund Freud (figura 10) e sua trajetória na criação da psicanálise e sua experiência com a Hipnoses em seus estudos. Freud foi um dos maiores pesquisadores considerado até hoje em estudos e descobertas sobre a mente humana. Figura 10. Sigmund Freud. Fonte: National Geographic (2019). Freud nasceu em 1856 e morreu em 1939. Inicialmente, seus estudos eram em filosofia, porém, posteriormente, optou por estudar Medicina, em Viena, na Alemanha, mudando totalmente a maneira que era vista a vida psíquica daquela época. 41 PSICANÁLISE │ UNIDADE II Ele observava muito seus pacientes buscando compreender as regiões obscuras do psiquismo como as fantasias, os sonhos, os esquecimentos, a interioridade do homem, como problemas científicos. Estes estudos os levaram durante toda a carreira do Médico a criação de uma das maiores teorias para entendimento do psiquismo e comportamento humano, à Psicanálise. Freud como foi dito anteriormente, formou-se em Medicina na Universidade de Viena, em 1881, e especializou-se em Psiquiatria. Começou a clinicar atendendo pacientes com problemas nervosos. Com esta experiência, conseguiu uma bolsa de estudos em Paris, na França, onde trabalhou com Jean Charcot (figura 11), psiquiatra francês que tratava as histerias com hipnose. Freud conheceu a hipnose por meio de Charcot, em 1885, pois ainda era desconhecido a anatomia por parte das histéricas. Figura 11. Jean Charcot. Fonte: Biografías.Wiki (2015). Charcot graduou-se em Medicina na Universidade de Paris e seguiu os seus estudos na área da neurologia. Graças as sua prática e seus estudos, hoje é considerado um dos médicos que deu origem a neurologia moderna. Charcot atendia muitos pacientes psiquiátricos, os estudava, e Freud, que era seu aprendiz, o influenciou ao estudo da Histeria. Charcot usava a hipnose para atender esses pacientes. Colocava-os em estado hipnótico e dava instruções aos pacientes para que, ao acordar, o sujeito não apresentasse mais sintomas. Após as instruções o doente era despertado e o resultado era positivo, pois na maioria das vezes o sintoma desaparecia. 42 UNIDADE II │ PSICANÁLISE Diante disso, Freud compreendeu que se a hipnose era capaz de desaparecer os sintomas dos pacientes, então, a histeria não deveria ser compreendida como uma doença fisiológica, mas sim um mal psicológico. Antigamente, em meados do século XX, as doenças mentais eram compreendidas como patologias ligadas a transtornos físicos. Os sintomas da histeria são manifestados pela impossibilidade associativa e respostas representativa manifestada pelo corpo. Foi por meio da intersubjetividade que a metapsicologia se formou como um saber teórico que transcende o campo da consciência, diante de que construção da psicanálise e da psicologia se caracterizava como um saber da consciência (RUBIN, 2017).
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