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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI O CURRÍCULO DA QUÍMICA GUARULHOS – SP 1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 3 2 A HISTÓRIA DA QUÍMICA NO BRASIL ................................................................. 4 3 REDES EM CONSTRUÇÃO E RECONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO ......... 12 3.1 Dialogando com autores sobre o currículo ....................................................... 13 3.2 Distintos significados de currículo .................................................................... 20 3.3 O currículo e o projeto político pedagógico ...................................................... 23 3.4 O currículo de Ciências (Química) e a reconstrução curricular ........................ 25 4 DISCURSOS CURRICULARES NA DISCIPLINA ESCOLAR QUÍMICA .............. 27 4.1 Apresentando as questões investigadas .......................................................... 27 4.2 A concepção de disciplina escolar ................................................................... 30 4.3 A disciplina escolar Química como um híbrido de discursos ............................ 33 5 COTIDIANO E CONTEXTUALIZAÇÃO NO ENSINO DE QUÍMICA ..................... 46 5.1 Cotidiano .......................................................................................................... 47 5.2 Contextualização .............................................................................................. 50 6 O ENSINO DE QUÍMICA POR MEIO DAS COMUNIDADES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM ..................................................................................................... 60 6.1 Pressupostos teóricos ...................................................................................... 61 6.2 A aprendizagem em comunidades ................................................................... 63 6.3 As comunidades virtuais de aprendizagem ...................................................... 64 6.4 O uso do Facebook como comunidade virtual de aprendizagem ..................... 65 6.5 O uso do Facebook em ações de aprendizagem em química .......................... 66 7 APRENDIZAGEM DE QUÍMICA EM GRUPOS COLABORATIVOS .................... 68 7.1 A Socialização como condição para aprendizagem ......................................... 69 7.2 Os sujeitos da aprendizagem: O professor e os alunos ................................... 70 2 7.3 Os Grupos Colaborativos ................................................................................. 72 7.4 O Trabalho em Grupos ..................................................................................... 74 8 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 76 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2 A HISTÓRIA DA QUÍMICA NO BRASIL Geralmente, os historiadores entendem que a química foi constituída como disciplina científica somente no século XVIII, em um processo que findaria com a obra de Lavoisier, entretanto, conhecimentos práticos conexos com a química já existiam. A descoberta e a exploração de novas terras a partir do século XV, ocasionou até a Europa muitas novidades nunca imaginadas, esses novos conhecimentos romperam com as verdades já prontas e disseminaram o espírito da dúvida inerente à procura do conhecimento científico. A Revolução Científica, que ocorreu na Europa dos séculos XVI a XVIII, foi um fenômeno histórico de tamanhos extraordinários. No Brasil, o exercício da ciência como atividade organizada e regular só nasceu tardiamente e foi extenso e penoso o caminho da institucionalização da ciência no país. Na carta de Pero Vaz de Caminha (1500) relataram, além da nudez das índias e de suas pinturas, alguns ouriços que os índios levaram aos portugueses. Esses ouriços eram o urucu (vermelho). As tinturas dos índios eram feitas com o corante extraído de suas sementes e a extração era feita na maioria das vezes com óleo de andiroba. Mais um corante bem usado pelos indígenas era adquirido da seiva do fruto do jenipapo que depois de reagir com as proteínas da pele produziam a cor preta. Contudo foi o pau-brasil foi o produto de maior valor levado para a metrópole, no início da colonização. O corante extraído da árvore foi utilizado tanto para tingir roupa como para tinta de escrever. No século XVII existiu uma relevante transição conexa à economia do Brasil. A produção do açúcar a partir da cana-de-açúcar substituiu a extração do pau-brasil. Essa transição ocasionou um conjunto de processos e operações químicas e físicas de natureza empírica, que determinavam conhecimentos técnicos. Atividades unidas a uma química de produtos naturais, orgânicos ou de origem mineral foram usadas no período colonial (OLIVEIRA; CARVALHO, 2006). O avanço da química durante o momento açucareiro foi quase insignificante, pois as técnicas colocadas na fabricação do açúcar duraram praticamente inalteradas por vários séculos. Os senhores de engenho não se atentavam em ter uma melhor tecnologia em suas terras, miravam somente os lucros. Várias obras foram publicadas na Europa nessa ocasião, mostrando de forma detalhada a produção, desde o plantio até os produtos gerados pela cana-de-açúcar. 5 Um certo tempo após o descobrimento, os portugueses começaram as expedições ao interior do continente. Foram várias as expedições científicas que chegaram às terras brasileiras. Essas expedições se depararam com uma diversidade enorme de matérias primas, algumas dessas bem requisitadas no mercado europeu. Diversas obras em relação à fauna, flora e outros aspectos do Brasil foram publicadas. Uma das mais relevantes obras, ricamente ilustrada, retratando o Brasil foi “História Natural do Brasil” escrita por Jorge Maregrave e Guilherme Piso e publicada na Holanda, no ano de 1648. Determinadas obras descritivas sobre plantas e outros elementos curativos influenciaram os conceitos europeus na área de farmacopéia. A ocupação holandesa no nordeste do Brasil foi relevante na divulgação da natureza tropical pelo velho mundo. No governo de Maurício de Nassau, representante da Holanda, ficou comprovado uma colonização cientificista que surgiu em todas as atividades administrativas do governo. Até a cidade de Mauriciópolis, capital de Pernambuco, foi erguida fundamentada em determinados saberes científicos (OLIVEIRA; CARVALHO, 2006). Os jesuítas constituíram uma rede de instituições de ensino ao longo da costa brasileira. Vários colégios jesuítas cediam graus de licenciado e mestre, mas sem validade legal, pois a Universidade de Coimbra não tinha consentido que as instituições brasileiras setornassem universidades. Em Salvador nos anos de 1670 a 1681, os jesuítas perpetraram várias tentativas de trazer uma universidade para a cidade, expedindo cartas ao rei de Portugal para que consentisse a ideia, mas não tiveram êxito. A relevância da indústria açucareira e a descoberta das minas de ouro e diamantes fizeram com que D. João V estimulasse o ensino da engenharia militar para garantir a posse da colônia. Essa modalidade de ensino começou em 1699, no Rio de Janeiro. Modernizações nas técnicas de mineralogia e metalurgia tornaram-se imprescindíveis com a descoberta das minas no sudeste do país. As técnicas de cultivo, colheita e produção foram trocadas pelas técnicas de escavação, purificação de metais e cunhagem, iniciando-se desta forma, o ciclo do ouro, que se coincidindo com o nascimento da química moderna na Europa, a chamada Revolução Química de Lavoisier. As Minas Gerais não foram diretamente atingidas pela ruptura no sistema educacional ocasionada pela expulsão dos inacianos em 1759, devido as ordens religiosas terem sido proibidas de se instalar na capitania. O mais importante centro 6 de estudos era o seminário de N. S. da Boa Morte, em Mariana. O cônego Luis Vieira da Silva, professor de filosofia no Seminário, era proprietário de uma das mais relevantes bibliotecas privadas do Brasil colonial, com diversas obras científicas. O rol desses livros fazer parte dos Autos da Devassa da Inconfidência Mineira, pois o cônego, tido como inconfidente, teve seus bens confiscados (OLIVEIRA; CARVALHO, 2006). https://clubedaquimica.com O século XVIII, no Brasil, foi apontado pelo advento dos primeiros químicos brasileiros. Nesse século foi instituído a Academia Científica (1772) destinada ao cultivo da ciência e a Sociedade Literária do Rio de Janeiro (1786). Determinados brasileiros deste século merecem evidência pelas suas pesquisas pioneiros relacionadas à química: - Vicente Coelho de Seabra Silva Telles (1764-1804) acendeu num momento de grande alvoroço iluminista e foi estimado um dos principais químicos da época no Brasil. Suas pesquisas e publicações se desenvolveram após começar seus estudos nas universidades europeias. Foi autor de várias obras sobre química, algumas de suma relevância na sociedade química europeia. Dentre suas obras a de maior destaque é Elementos de Química, (1º livro 7 de química redigido em língua portuguesa) onde ele explana seus conhecimentos sobre a história da química desde a alquimia e trata de outros tópicos como a influência do calor nas reações químicas e a nomenclatura das substâncias. Jamais teve reconhecimento, fama ou glória durante a sua vida. - João Manso Pereira foi um autodidata que publicou obras de riquíssimo valor histórico e científico da época. A sua primeira obra foi “Memória sobre a Reforma dos Alambiques ou de hum Próprio para a Distillação das Águas Ardentes”, impressa em Lisboa em 1797, onde ele menciona várias técnicas de como alcançar uma aguardente de boa qualidade e como edificar um bom alambique e de baixo custo. Ele também publicou duas obras a respeito do alcance de salitre que na época era muito usado na fabricação de pólvora e desenvolveu técnicas entre elas, a produção de sabão duro a partir de cinzas de plantas marinhas. - José Bonifácio de Andrada e Silva nasceu em Santos, em 1763, foi enviado para estudar em Portugal e formando-se na Universidade de Coimbra. Em Portugal, desenvolveu diversas atividades científicas em instituições de pesquisa e ensino. Teve um amplo fascínio pela ciência e pelos pensamentos iluministas, principalmente os de Voltaire. Desempenhou cargos relevantes na Corte, como o de Comandante do Corpo Militar Acadêmico de Coimbra, Secretário da Academia de Ciências de Lisboa e Diretor do Laboratório da Casa da Moeda de Portugal. Participou de viagens científicas a pedido do governo português por relevantes áreas de mineração da Europa Central e do Norte. Publicou no Annales de Chemie sobre os diamantes no Brasil e suas localizações no território brasileiro. Em 1819, retornou ao Brasil e fez uma viagem mineralógica pela província de São Paulo. Entrou na política, apoiou a monarquia luso-brasileira, era contrário a pompa, viveu e morreu pobre (OLIVEIRA; CARVALHO, 2006). - José Vieira Couto nasceu em 1752 e formando-se em Filosofia Natural pela Universidade de Coimbra em 1778. Foi empossado pela rainha, D. Maria I, para viajar a região ao norte da Capitania de Minas Gerais. Preparou diversos textos descrevendo as salitreiras localizadas e os aspectos da produção do salitre. Preocupado com a possibilidade de escassez do produto natural indicou a construção de salitreiras artificiais. Desenvolveu determinadas técnicas e pesquisava alguns compostos capazes de constituir o salitre. Segundo ele as principais “matérias primas” seriam o “pó” de sepultura e/ou urina (para aquisição do ácido nítrico) e árvores do mangue (ricas em potassa). 8 - João da Silva Feijó (1765-1815), nascido no Rio de Janeiro e também formado pela Universidade de Coimbra, publicou vários trabalhos, sendo um deles sobre a produção do salitre. Participou da instalação do Real Laboratório de Refinação do Salitre no Ceará, com alvo de produzir salitre de boa qualidade para o Brasil. Como os custos de produção permaneciam muito altos em comparando à qualidade do salitre, já que os estrangeiros custavam menos e tinham melhor qualidade, o governo, em 1806, decide o fim da exploração do salitre no laboratório. Quando D. João V resolveu estimular atividades de engenheiros militares, no Brasil, possibilitando máximo contato com a matemática, balística, construção civil e militar, fortificação, cartografia, etc. Fato que derivou nos primeiros matemáticos e engenheiros, juntamente com as primeiras obras sobres os temas relacionados. O século XIX foi um dos mais grandiosos para as pesquisas da ciência, uma vez que a ciência permanecia praticamente difundida por todo o planeta. Quando os franceses invadiram Portugal, coagindo o rei D. João VI a evadir-se com toda a Corte para o Brasil e aqui instaurar o império, de forma imediata foram emitidas uma série de Alvarás, Decretos, Leis, Decisões, Resoluções e Cartas Régias, responsáveis pelo começo da estruturação das atividades conexas com a ciência no país. O primeiro amplo feito a favor da ciência, no Brasil, foi a criação, em 1808, do Colégio Médico Cirúrgico da Bahia, instalado em Salvador. No Hospital de Vila Rica, em 1801, já havia uma instituição desse gênero que parou suas atividades em 1848. Outro colégio de medicina foi instalado no Rio de Janeiro, no mesmo ano (OLIVEIRA; CARVALHO, 2006). Ainda em Salvador, D. João VI assinou o decreto de abertura dos portos, retirando o país do isolamento. No Rio de Janeiro, além das primeiras manufaturas, foi acomodado uma Tipografia, a Biblioteca Nacional e o Jardim Botânico. A Academia Real de Artilharia se transformou na Academia Real Militar e a partir dessa transformação, o currículo de Engenharia começou a ter química, física, cálculo, mineralogia, história natural etc. Como consequência dessas mudanças, o Brasil adicionou o número de mão de obra especializada e calhou a publicar livros impressos. O primeiro livro impresso no Brasil foi escrito por Daniel Gardner intitulado “Syllabus, ou Compendio das Lições de Chymica” . Em 1812, foi instituído o Laboratório Químico-Prático do Rio de Janeiro, começando o desenvolvimento de processos de interesse industrial; este foi eliminado em 1819. Por volta dessa data começou também a produção de ferro no país, pelo 9 alemão Wilhelm Ludwig von Eschwege em Congonhas do Campo, Minas Gerais. Em 1818, foi constituído o Museu Real, que tinha um laboratório químico onde se desenvolvia pesquisas sobre o refino dos metais. D. Pedro II (1825-1891) estimulou o progressodo país. A sua dedicação em patrocinar a introdução de inovações tecnológicas no Brasil, como o telégrafo e o telefone, e o espírito empreendedor do Visconde de Mauá, beneficiaram a industrialização e o crescimento econômico do Império. Na segunda metade do século XIX, a exploração da borracha gerou a ocupação da Amazônia e aconteceu a expansão da cafeicultura. Foram edificadas as primeiras estradas de ferro, implementadas linhas de navegação a vapor, e lançado o cabo submarino que uniu o Império ao continente europeu (OLIVEIRA; CARVALHO, 2006). https://aventurasnahistoria.uol.com.br O imperador do Brasil se destacou nos estudos da química. A influência do seu tutor, José Bonifácio, acompanhado do seu professor de ciências, Alexandre Vandelli, foi decisivo pelo gosto do imperador pela química. Alexandre Vandelli era filho de Domingos Vandelli, que em Portugal fez vários estudos a favor da química, sendo o primeiro professor de Química em Coimbra. O interesse do imperador pela química o induzia para aulas, exames, encontros e debates científicos. 10 Em sua casa, D. Pedro II tinha um laboratório de química, onde ele estudava, executava experimentos e lia obras de Dalton, Laurent, e outros relevantes químicos europeus. Em suas viagens a Europa, o imperador visitou diversas instituições químicas e conheceu várias personalidades científicas como Pasteur, Berthellot entre outros. Passando por Paris, o imperador teve um encontro com o diretor da Escola de Minas de Paris e depois de voltar da viagem, determinou fundar uma Escola de Minas em Ouro Preto, em 1876. D. Pedro II também se atentava com a educação de suas filhas. A mais velha, Princesa Isabel ampliou uma afeição pelos estudos científicos. Entre os estudos indicados às suas filhas estavam: química, latim, português, literatura, francês, inglês, italiano, alemão, grego, álgebra, geometria, física, botânica, diversas disciplinas de história, divididas por país e por época, cosmografia, desenho e pintura, piano, filosofia, geografia, economia política, retórica, zoologia, mineralogia, geologia etc. A Princesa Isabel produziu várias anotações sobre a química inorgânica, nestes textos ela não distinguia com clareza átomo e molécula. Ao deixar o Brasil, com o término da monarquia, D. Pedro II legou à nação a sua imensa e valiosa biblioteca (OLIVEIRA; CARVALHO, 2006). O desenvolvimento da economia cafeeira, desde o começo estava empenhado com a escravidão. À medida que o café foi se tornando o centro da economia imperial e sua cultura se ampliou, o tráfico negreiro se intensificou. Mas, essa intensificação aconteceu num clima internacional avesso à escravidão. Com a extinção do tráfico negreiro em 1850, a questão da substituição do escravo pelo trabalhador livre calhou a ser avaliada por alguns cafeicultores. A cafeicultura estava crescendo no Oeste paulista. E foi essa situação histórica que permitiu aos fazendeiros paulistas lançarem mão da imigração europeia, trocando o trabalho escravo pelo trabalho livre e transformando a cafeicultura em uma economia capitalista. O capital até então agregado no comércio de escravos foi reinvestido em outras atividades econômicas, entre elas a indústria. O começo da industrialização do Brasil incidiu por volta de 1870, em estreita relação com a imigração em massa e a expansão do café em São Paulo. A abolição da escravatura e a chegada dos imigrantes - principalmente italianos trabalhando em regime de colonato, converteram-se em base tanto para a formação do mercado de trabalho, com provimento de mão-de-obra qualificada, quanto para a 11 formação do mercado interno, dando início às primeiras manufaturas, a criação de casas comerciais e oficinas. Até 1870, a produção industrial era realizada por pequenas oficinas artesanais espalhadas por diversas regiões. As primeiras indústrias tiveram o papel de substituir e concentrar as produções artesanais. Mais tarde, já na República, um novo surto industrial terá o papel de trocar os produtos importados. Em Minas Gerais, a atividade industrial concentrava-se na região central da Província, onde posicionavam-se as minas auríferas. Nesta região, três setores chamaram a atenção: a mineração aurífera subterrânea, a siderurgia e a indústria têxtil. Esta incipiente indústria atuava de forma rudimentar e com pequeno nível tecnológico, com exceção da mineração aurífera subterrânea (OLIVEIRA; CARVALHO, 2006). No fim do século XIX, foram acomodadas fábricas de sabão, de pólvora, de vidros, de papel, de velas, de ácido sulfúrico, de ácido nítrico, de ácido clorídrico e de cloro. Mas ainda dependíamos da importação de técnicos, ao pé com equipamentos e processos. https://querobolsa.com.br No Brasil, o desenvolvimento industrial ocorreu especialmente depois a década de 30. Devido a guerra, as importações de bens de consumo e a vinda de técnicos 12 especializados tornaram-se limitantes e difíceis, demonstrando que o país necessitava produzir e desenvolver produtos químicos e constituir técnicos especializados. A carência dos produtos no período da guerra impulsionou o desenvolvimento de processos químicos no Brasil. Em Pernambuco, foi produzido cloreto de sódio com elevado grau de pureza para fabricação de soro fisiológico. A partir dos minerais cromita, pirolusita e apatita foram produzidos cromatos, permanganatos e o fósforo, utilizado como fertilizante. O álcool anidro foi aproveitado como combustível. Em 1936, um laboratório pertencente aos Profs. Anibal de Mattos e Oswaldo Lima admitiu a análise química de solos e o progresso da produção do álcool e do açúcar. Foi aperfeiçoada a produção de lêvedos para a produção de acetona, ácido cítrico, ácido láctico etc. (OLIVEIRA; CARVALHO, 2006). O primeiro curso oficial de Química foi aprovisionado pelo Instituto de Química no Rio de Janeiro, em 1918. Em 1920, foi instituído o curso de Química Industrial Agrícola conexo à Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária, vindo a formar, em 1933, a Escola Nacional de Química no Rio de Janeiro. Hoje existe um amplo número de cursos de química oferecidos pelas instituições de ensino superior no Brasil. A distribuição dos cursos de graduação em Química é heterogênea: a região sudeste concentra 41% dos cursos e as regiões norte e centro-oeste representam, em conjunto, somente 10% do total. Em 2003, esses cursos deram cerca de 5.800 vagas e titularam aproximadamente 2.000 profissionais. As escolas vêm proporcionando facilidades laboratoriais e oportunidades para a iniciação científica, existe razoável disponibilidade de periódicos e de patentes e farto material em português (INTERNET) existe também um reconhecimento internacional de que diversas instituições no Brasil estão formando bons Químicos. 3 REDES EM CONSTRUÇÃO E RECONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO Este capítulo contém as descrições de alguns autores das definições do currículo. Fornece alguns materiais de referência para refletir o método usado na reunião do grupo de pesquisa do curso refletida no mapa da rede, seu histórico e a necessidade de conhecimento inter-relacionado. 13 3.1 Dialogando com autores sobre o currículo Para melhor posicionar a pesquisa, além do arcabouço curricular, são estudados os fundamentos jurídicos do ensino médio, incluídos nas Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – 9394/96 – LDB; as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCENEM); os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (PCNs) e etc. A complexidade do currículo tem levado autores de pesquisas a se cadastrarem sobre o tema e, de maneira geral, assim como alguns autores relacionados à ciência, a prioridade é dada às ciências químicas (PEREIRA, 2014). https://www.educamaisbrasil.com.br Para Moreira (1997), em torno dos anos 1970, o currículo adotou uma abordagemmais rigorosa, superando as regulamentações técnicas até então. Já nos Estados Unidos e na Inglaterra, o currículo é estimado como conhecimento escolar. A prática curricular visa compreender a relação entre estratificação do conhecimento e estratificação social, seleção do conhecimento escolar e pressupostos de organização, organização do ensino e os principais modos de controle e poder na sociedade. A teoria crítica do currículo analisa a relação entre o saber escolar e a estrutura social de poder e possibilita a construção de propostas curriculares pautadas 14 por interesses emancipadores. Nos Estados Unidos e no Brasil, acaba sendo considerada uma crise educacional nas teorias que se concentre dessas questões. Para ilustrar, pode-se citar a pesquisa realizada por Moreira (1997), que descreveu após entrevistas com especialistas em currículos, diz que: A visão que prevalece é que o avanço da teoria tem pouco efeito na prática docente e, embora haja debates acirrados sobre isso na academia, essas discussões raramente chegam à escola, sendo impossível cooperar para sua atualização. Também foi confirmado em Moreira (1997) que o movimento foi lançado no final da década de 1970. Nesse movimento, os especialistas em educação rejeitavam as principais características do currículo e defendiam a noção de que se não se faz referência ao currículo as escolas não podem avaliar os cursos e escolas. Abranger seu contexto mais amplo e acreditar na relevância das escolas no processo de construção de uma sociedade mais democrática e justa. Foi nesse movimento que se posicionou a teoria crítica do currículo americano (PEREIRA, 2014). Ao longo dos anos, o termo “currículo” teve múltiplos significados, o que torna sua definição muito ampla, abrangendo diversos aspectos da educação. O sentido mais comum do termo currículo pode estar vinculado ao conhecimento e à experiência de aprendizagem da escola. Isso reconhece que o currículo não se baseia apenas em disciplinas e conteúdos, ou seja, todas as atividades realizadas pela escola fazem parte do currículo (PEREIRA, 2014). Porém, para Morella (1997), o currículo está relacionado à transformação e renovação do conhecimento acumulado pelos alunos ao longo do processo de aprendizagem. Como o currículo desempenha um papel relevante na organização escolar, por meio do currículo o conhecimento pode ser socializado e discutido com todos os envolvidos no processo de ensino. Na década de 1980, assistiu-se ao desenvolvimento da teoria educacional, que proporcionou uma nova forma de compreender a conexão entre currículo e relações de poder na sociedade. Na década de 1990, o desenvolvimento da teoria educacional foi ampliado e reorganizado para tornar o currículo relevante para a sociedade, podendo-se dizer que o currículo está contextualizado na sociedade local (Moreira, 1997). Não há consenso sobre o que deve ser entendido como o termo currículo. O desacordo reflete questões complexas, principalmente por se tratar de um conceito: (a) É uma estrutura determinada pela cultura, história e sociedade; (b) Refere-se à 15 sua "prática" condicional e à sua teorização (Matos Vilar, 1994). O resultado de um grande número de definições é que produções próximos à área acabarão por envolver uma variedade de tópicos e questões (Moreira, 1997). Goodson (1995, apud Ferraço 2006, p.31) entende o curículo como: A palavra currículo vem da palavra latina scurree – correr – e se refere a curso ou carro de corrida”. Nesse mesmo texto o autor escreve que não é possível separar a ideia de currículo de conteúdo prescrito “o vínculo entre currículo e prescrição foi, pois, forjado desde muito cedo e, com o passar do tempo, sobreviveu e fortaleceu-se. Quando se pensa nas redes, surge a ideia dos fios ligados a alguns pontos comuns, esses fios são produzidos pelo sujeito envolvido, que é a comunidade escolar. Portanto, o currículo não pode ser considerado um documento que não pode ser alterado, pois depende do contexto de cada escola e dos seus sujeitos. Depende do interesse do responsável, das diferenças entre as aulas e dos interesses comuns de determinados alunos (PEREIRA, 2014). Hoje em dia, é impossível compreender o currículo como linear, que segue um percurso fixo e determinado, mas este conceito não é viável hoje, porque o currículo deve ser consistente com a situação real da escola e a situação real dos alunos. Não pode ser linear, podendo ser vista como uma rede de saberes e práticas, visão está enfatizada em Ferraço (2006). Segundo Costa (2005) o currículo contém um conjunto de regras e saberes, conduzidos por uma determinada ordem, constituída em um campo em que escolhem e transmitem representações, narrativas, significados sobre coisas e seres do mundo Entende-se que o currículo abrange a exposição de saberes e inclui um conjunto de experiências de aprendizagem que se destinam a capacitar o aluno a absorver e reconstruir esse conhecimento (Moreira, 1997). Assim, é possível refletir sobre uma escola reflexiva e aberta, na qual os professores tenham a certeza de que estão procurando uma escola diferente, essa é mais uma forma de desenvolver o conteúdo de uma determinada disciplina, para que possam desenvolver seu próprio Plano de Estudos e plano de trabalho. 16 https://www.todoestudo.com.br Segundo Silva (2000), o currículo se tornará o objeto antes da teoria, e está só entrará em cena para descobrir, descrever e explicar. É impossível separar a teoria dos efeitos da realidade simbólica e da linguagem. Portanto, o currículo nunca pode ser fechado, limitado, único e autêntico, pois deve ser arquitetado na realidade e levar em consideração o contexto relevante. Como o currículo precisa estar conectado à escola, é impossível desenvolver o currículo onde ele será desenvolvido. A organização do conteúdo do currículo deve ser estabelecida pelo professor. Nesse caso, a participação efetiva dos professores é fundamental para o desenvolvimento de projetos políticos de ensino (PEREIRA, 2014). Silva (1999) concorda que o pano de fundo de qualquer teoria de curso é saber o que deve ser ensinado. O que? As pessoas podem questionar e discutir a natureza humana, a natureza da aprendizagem ou do conhecimento, a natureza da cultura e da sociedade. O que eles ou elas deveriam saber? Qual saber ou conhecimento é considerado relevante, eficaz ou essencial para merecer ser avaliada parte do currículo? Ainda em Silva (1999), ele aponta que o currículo é sempre fruto de uma eleição, é um campo mais amplo dos conhecimentos, no momento em que determina, quais saberes devem ser selecionados. A teoria do currículo tenta explicar por que se 17 deve escolher esse tipo de conhecimento em vez daquele tipo de conhecimento. O que os alunos precisam ser? O que os alunos precisam se tornar? Ou seja, o currículo visa mudar as pessoas que o seguirão. Acredita-se que o currículo deve ser flexível de forma a contemplar os interesses dos alunos e assim ter sentido para a vida, podendo colaborar para a melhoria da qualidade de vida ao possibilitar-lhes compreender melhor o mundo implantado, quanto mais conhecimento, haverá maiores possibilidade de escolhas (PEREIRA, 2014). Em relação às considerações anteriores, pode-se referir-se à discussão de Saviani (2003) sobre como ensinar e o que ensinar, que, segundo o autor, nem sempre vem acompanhada de pensar o porquê e o que ensinar, e são poucas especificações do a quem se conduz o ensino. Ao considerar quais conhecimentos do currículo são legitimados, é necessário associar o currículo ao conhecimento da escola e quais são os padrões que constituem esse conhecimento. Portanto, percebi que esse assunto precisa de mais atenção dos educadores, pois não é uma coisa nova e sempre existe na discussão coletiva. Conforme afirma Tardif (2002,p.16), os saberes dos docentes são relevantes neste processo. Os saberes de um professor são uma realidade social materializada através de uma formação, de programas, de práticas coletivas, de disciplinas escolares, de uma pedagogia institucionalizada, etc., e são também, ao mesmo tempo, os saberes dele. Como se pode, então, pensar essa articulação entre “o que sabe um ator em atividade” e o fato de o seu próprio saber individual ser, ao mesmo tempo, um componente de um gigantesco processo social de escolarização que afeta milhões de indivíduos e envolve milhares de outros trabalhadores que realizam uma tarefa mais ou menos semelhante à sua? Os currículos escolares não devem ser homogêneos, não podem apresentar uma lista de conteúdos única para todas as escolas. Embora existam diretrizes para PCN e referências curriculares, elas não são iguais entre os currículos escolares, porque os próprios professores são diferentes. As formas e métodos de aprender as coisas são diferentes, então as pessoas não conseguem pensar em um currículo universal, que é o mesmo em todas as escolas. O conhecimento pode ser homogeneizado? (PEREIRA, 2014). O conhecimento do professor pode interferir em sua prática, mesmo que contenha um programa, uma lista de conteúdo e um currículo terá um impacto sobre 18 as pessoas que o utilizam, dependendo de sua visão de mundo e de sua interação com o ensino na prática. Tardif (2002) é plural e também temporal, pois é obtido no contexto da história de vida e da trajetória profissional do professor. Esse tipo de conhecimento temporal está relacionado ao pressuposto do ensino de aprender e dominar gradativamente os conhecimentos necessários para a ação docente. O professor pode utilizar os métodos que conhece para refletir, recuperar, reproduzir e reiterar seus conhecimentos, produzindo assim sua própria prática profissional. Tardif (2002) escreveu: Ensinar é disseminar uma ampla gama de conhecimentos, reutilizar o conhecimento no trabalho para adaptar e transformar o conhecimento e realizá-lo por meio do trabalho. É necessário dar prioridade ao trabalho que vem sendo realizado no ambiente escolar. O PCN pode orientar os professores a considerarem diferentes grupos em diferentes contextos na construção de seus projetos de ensino. Alguns conteúdos podem ser priorizados para determinados grupos de alunos, enquanto outros não. Falta conhecimento para valorizar diferentes formas de ler e pensar na concepção estrutural do currículo, como as questões sociais, pois existem diferenças de gênero, gênero, raça, sociedade, economia, etc. no grupo. Portanto, não há uma resposta única, nenhuma lista única, mas de acordo com a situação atual da escola, deve haver um projeto de política pedagógica em contínua reorganização. Compreensivelmente, o conhecimento do curso não tem um objetivo único, devendo estar preparado para lidar com o temporário com as diferenças. O currículo é um importante instrumento utilizado por diferentes sociedades, podendo ser utilizado para desenvolver, acumular e atualizar conhecimentos acumulados na história, e também para socializar crianças e jovens a partir de valores ideais. Devido à relevância desses processos, as discussões em torno do currículo estão cada vez mais reconhecendo a importância do conhecimento pedagógico (Moreira, 1997). Concorda-se que discutir sobre o currículo é importante para pensar em uma escola distinta. Tem havido muita discussão sobre a formação continuada de professores e talvez este seja o início de um amplo caminho que pode preparar os professores para encontrar currículos abertos e reflexivos centrados no aluno. A formação continuada proporciona ao educador a possibilidade de pensar coletivamente sobre o quê, como e para quem, a fim de encontrar alternativas para melhorar a qualidade do ensino. A organização do sistema escolar por níveis e modalidades, seu controle, a formação, a seleção e a nomeação do professorado, a seletividade social por meio do 19 sistema, a igualdade de oportunidades, a avaliação escolar, a renovação pedagógica do mesmo, os métodos pedagógicos, a profissionalização dos professores, etc. relacionam-se com a organização e desenvolvimento curricular (PEREIRA, 2014). Em Sacristán (2000), verifica-se que a pesquisa curricular é o centro de condensação e da interconexão de muitos outros conceitos e teorias de ensino, pois não possuem muitos temas e questões educacionais que não se relacionem com a disciplina. Acredita-se que a finalidade de incluir modelos científicos no currículo não se limita apenas à sua utilidade, mas também ao papel cultural que desempenham. Segundo Lima (2005), embora as questões gerais da ordem da ciência e da filosofia estejam distantes da experiência dos alunos, é necessário que eles provem a existência do currículo por meio de uma compreensão do que é ciência e de como o conhecimento científico interfere. Na nossa relação com a natureza, arquitetura e outras pessoas, é importante citar Moreira e Osterman (1993, apud Carvalho, 2004): “A produção do conhecimento científico é uma estrutura. Essas estruturas têm crises, rupturas e transformações profundas. O conhecimento hoje aceito pela ciência será superado amanhã. A ciência está viva. ' Nenhum livro de receitas pode lhe ensinar como melhorar o processo de ensino, mas uma estrutura curricular que enfoca a realidade e o histórico pode fornecer grande cooperação para uma educação significativa. Após as considerações anteriores, é necessário enfatizar a amplitude e a liberdade do currículo, e os professores geralmente não têm tempo para discutir com os colegas para avaliar sua prática e aprendizagem e buscar alternativas. Como todos sabemos, a reforma do sistema de ensino é necessária, e a mudança não pode ser feita de forma radical, mas isso precisa acontecer gradativamente com a reconstrução do saber docente dos professores, tornando essencial a trocar informações e experiências. A pesquisa visa desenvolver questionamentos de reconstrutivo para desenvolver a capacidade de restaurar o próprio currículo através da inovação e intervenção na realidade. Uma alternativa conveniente pode ser educar que na reflexão de Demo (1996, p.86) como um princípio científico e educacional, o cerne da questão. A pesquisa correlaciona a teoria com a prática para desenvolver capacidades emancipatórias. A partir dessa perspectiva, alunos e professores conduzem questões reconstrutivas para superar a conotação de apenas um professor que ensina e de um aluno que aprende (PEREIRA, 2014). 20 É preciso instrumentalizar o professor para organizar um processo satisfatório de pesquisa, incluindo sua própria elaboração, formular métodos de ensino e estabelecer sua imagem de pesquisador. Nas sugestões de Demo prevalecem a pesquisa em sala sobre a aula, o que contribui para o processo educacional e científico de formação das habilidades humanas. Destacam que a força motriz é a qualidade dos professores, que precisa ser atualizada permanentemente. É considerada educação pela pesquisa e vai ao encontro de Moraes (2002, p.127): “A educação pela pesquisa é uma forma de educação que visa a formação de um sujeito crítico e autônomo, capaz de interferir na realidade formal e da política”. Acreditamos que a possibilidade de fazer um plano pode ser alterada de acordo com as necessidades dos alunos. Portanto, acredita-se que a partir dos seguintes princípios, o currículo deve ser primeiramente produzido, discutido e refletido pelos indivíduos que irá utilizar o curso, pelo fato de que não é viável determinar o curso definido no início do ano letivo, podendo realizar mudança no processo. 3.2 Distintos significados de currículo O próprio significado do termo currículo mudou, entende-se que o currículo não está vinculado apenas à lista de conteúdos, que oprofessor deve ampliar com os alunos, mas é muito mais que isso. O currículo abrange a expressão do conhecimento e abrange um conjunto de experiências de aprendizagem que visam promover a absorção e reconstrução do conhecimento (Moreira, 1997). A partir dessa ideia de currículo, é possível pensar em constituir uma escola reflexiva e aberta, na qual os professores tenham a certeza de que procuram uma escola que ousa mudar, para formular seus próprios planos de aprendizagem e que ousem ser diferente. Sabemos que há muita informação em torno dos nossos alunos, e o que está sendo desenvolvido em sala de aula não interessa a eles, por isso precisamos utilizar diferentes métodos para atender às necessidades expressas pelos alunos (PEREIRA, 2014). 21 https://www.fundacred.org.br/ O currículo baseado em habilidades é concebido com parâmetros curriculares do ensino médio relacionados às tendências construtivistas e visa à superação do currículo da enciclopédia centrado no conteúdo, em nome de um ensino mais ativo, interdisciplinar e contextualizado. Contudo, também se relaciona à decomposição de atividades em elementos hipotéticos (como habilidades), podendo ser usados como indicadores para aferir atividades individuais (Lopes, 2004). Deve-se analisar que o currículo oculto são as regras e normas que norteiam as relações internas da escola, e não é mencionado. Portanto, trata-se de uma aprendizagem acidental, podendo proporcionar mais colaboração para as atividades sociais dos alunos do que os conteúdos ministrados. Esse aumento não significa apenas a área de excelência no controle social, mas também significa espaço onde são travadas lutas políticas e ideológicas, então é possível acolher intervenções que objetivam mudança social (Morella, 1997). As escolas ainda são a ferramenta ideológica da nação porque dentro das instituições chamadas escolas, os conflitos ocorrem nas áreas mais amplas. Podemos citar por exemplo: a eleição dos diretores, grêmio estudantil, sendo que no último os alunos não lutam mais por seus próprios desejos e direitos. Faz com que os alunos entendam que o conhecimento científico pode ser reconstruído e reestruturado, e os professores têm a importância de identificar o 22 contexto necessário para promover a interdisciplinaridade. Reflete que os educadores precisam estar em um processo contínuo de formação para que possam acreditar no próprio trabalho e saber lidar com a diversidade do cotidiano, para que os alunos entendam que a ciência não está pronta e pode ser completada, e que a teoria pode ser aceita por um determinado período de tempo, ou esclarecer certos eventos. Lima (2005) constatou que, embora as questões científicas e filosóficas gerais estejam longe da experiência dos alunos, elas são necessárias para a existência de currículo porque precisam ter uma compreensão do que é e como é a ciência e de como o conhecimento científico pode interferir em relações que se tem com o mundo natural, com o mundo edificado e com as outras pessoas (PEREIRA, 2014). Nenhum livro de receitas pode lhe ensinar como melhorar o processo de ensino, mas o ajuste da estrutura curricular que enfoca a realidade e o meio ambiente pode promover muito a cooperação docente e permitir que os alunos realmente participem do processo de ensino. Nesse processo, eles próprios são investigadores e mediadores, realizando uma aula com conteúdo que vá de encontro as necessidades dos alunos. Esta forma de ensino e aprendizagem é considerada muito benéfica. Você pode consultar Saviani (2003). O estudo da história do currículo é muito mais do que uma investigação da evolução do termo e seus diferentes usos. Você deve compreender a análise de questões complexas, incluindo seu processo de preparação, interpretação, implementação e avaliação. Em termos de complexidade, pode-se enfrentar leis e documentos oficiais, interpretações jurídicas, lista de disciplinas e sua distribuição (organização curricular e plano de estudos), regulamentos, desempenho acadêmico dos alunos, planos de formação e promoção de professores e funcionários. Esses aspectos, entre outras coisas, nos permitem demonstrar a complexidade do currículo e da estrutura organizacional da escola. Pode-se atentar aqui nos PCN sobre temas transversais, pois quem sabe essa pode ser uma forma de contextualizar o ensino, com foco no cotidiano, nos ambientes social, político e econômico. Aumentar a extensão tecnológica e ambiental do currículo, de forma a ter conhecimentos estruturados de química para explicar os fenômenos químicos. No mundo da química pode-se fazer uma aproximação com o cotidiano do aluno. Proporcionar conhecimentos de química científica, que fazem parte do ambiente escolar e do cotidiano dos alunos (PEREIRA, 2014). 23 3.3 O currículo e o projeto político pedagógico Ao construir planos de estudo e planos de trabalho, é essencial que os professores sejam capazes de habilitar opções que podem ser utilizadas em várias classes. Portanto, é preciso preparar o professor para entender como lidar com as diferenças, e ter a convicção de que seu sucesso depende primeiro do sucesso dos alunos. As escolas precisam estabelecer metas. Cada escola deve definir e preparar claramente seu programa de política de ensino e realiza-lo para a comunidade escolar e o mais relevante, que ela o conheça Nos Projetos Políticos Pedagógicos a escola determina quais são os objetivos da formação dos alunos e considera a situação real e contexto ao formular o currículo. Segundo Moreira (1997), os objetivos curriculares estão diretamente ligados aos objetivos educacionais das instituições de ensino. Na escola, não há nada para ensiná-lo a amar, ter amigos e encontrar um emprego. A escola não ensina a resolver os problemas do dia a dia dos alunos porque não está no âmbito do currículo. Esta pode ser uma das discussões maravilhosas que continuamos a ter quando falamos sobre educação, ao invés de apenas sermos conteudistas. Dessa forma, o ajuste da estrutura curricular é uma forma de construir uma escola centrada no aluno. Uma escola pensada para atender às necessidades socioambientais, e que está em linha com a realidade de alunos e professores. A rede entre afazeres e conhecimento deve estar relacionada com o todo, e essas redes devem estar conectadas pelas áreas de conhecimento e componentes curriculares. Segundo Saviani (2003), deve haver unidade entre o currículo e didática e o método de ensino a ser usado deve ser considerado na aprendizagem do conteúdo. Nas atividades de ensino e aprendizagem escolar, devemos ter em mente as questões relacionadas ao conhecimento, a geração e a disseminação (disseminação, absorção / apropriação) do conhecimento (PEREIRA, 2014). Obviamente, os projetos políticos pedagógicos requerem uma boa discussão e preparação. Como todos sabemos, contém todos os objetivos, ideias e propósitos da escola, por isso é necessário refletir e discutir, estudar novas teorias, novas sugestões metodológicas e diferentes visões entre os participantes, para que se possam preparar alguma coisa prática convicto do que se recomenda e do que foi sugerido realizar. A contextualização está presente interagindo com o dia-a-dia do aluno. Por meio de sua realidade, os professores podem fazer com que os alunos entendam o 24 significado e a aplicação dos conteúdos ministrados. Portanto, a relação entre conteúdos e métodos é essencial para um processo de ensino de alta qualidade, o que permite ao educador desenvolver planos de avaliação desses aspectos para uma aprendizagem significativa, de forma que os alunos possam compreender o conteúdo da pesquisa e suas aplicações. A maioria dos documentos oficiais indica claramente que os alunos devem estar preparados para a vida, o que é fundamental, como se pode verificar nos "ParâmetrosCurriculares Nacionais nas Áreas de Ciências da Natureza, Matemática e Tecnologia" (Brasil, 1999), página 208). [...] o aprendizado deve contribuir não só para o conhecimento técnico, mas também para uma cultura mais ampla, desenvolvendo meios para a interpretação de fatos naturais, a compreensão de procedimentos e equipamentos do cotidiano social e profissional, assim como para a articulação de uma visão de mundo natural e social. Deve propiciar a construção de compreensão dinâmica da nossa vivência material, de convívio harmônico com o mundo da informação de entendimento histórico da vida social e produtiva, de percepção evolutiva da vida, do planeta e do cosmos, enfim, um aprendizado com caráter prático e crítico e uma participação no romance da cultura científica, ingrediente essencial da aventura humana. É necessário desenvolver um currículo que transforme o currículo tradicional em um método de questionamento que possa ser apreendido por meio das ações dos alunos, para que possam enfrentar as incertezas causadas pela complexidade do mundo em que vivemos (PEREIRA, 2014). No ambiente escolar verifica-se a fragmentação do saber, marcada por ter vários curriculares, cada qual com seus conteúdos específicos, em pequenos espaços de tempo o que não possibilita a compreensão por parte dos alunos. Com o passar do tempo, ao avaliar os conteúdos, pode-se entender que o conhecimento é diversificado por influências econômicas e sociais e tem uma perspectiva paradigmática, portanto, o professor precisa entender a situação de forma plena e investir na formação continuada, sendo essencial para os profissionais e para os alunos. Tem havido muitas discussões sobre complexidade e pensamento sistêmico, então as aulas não podem se limitar a uma lista de conteúdos intimamente relacionados a elementos curriculares específicos sem ter relação com os demais compenetres curriculares, para que os alunos compreendam a importância do estudo de determinados conteúdos em detrimentos de outros. 25 Para contextualizar o ensino é necessário socializar o processo e, em conjunto com os professores, pensar que é possível gerar inovações gradativamente, de forma a realizar um trabalho focado na pesquisa e na investigação, e fazer com que os alunos se tornem protagonistas da sua história e os docentes passem a ser o protagonista do currículo. Isso pode ajudar a construir uma verdadeira escola e colaborar com cidadãos críticos que são realmente capazes de intervir em seu ambiente de vida, está escola pode construir um outro mundo, um mundo melhor. 3.4 O currículo de Ciências (Química) e a reconstrução curricular É necessário que os professores quebrem o paradigma científico único, com verdades únicas e entendam que, como escreveu Nascimento (2004), a ciência é humana, viva, sendo uma interpretação do ser humano, interpretando o mundo a partir do seu olhar. Aprender ciências extrapola o âmbito dos chamados conteúdos escolares: abrange a compreensão da ciência como produto social, a forma como explora e valida o conhecimento gerado pelo mundo e os saberes envolvidos (Lima, 2005). Portanto, é urgente trabalhar com os professores alternativas para desenvolver este currículo mais contextualizado e significativo. Castro (1993, apud Carvalho 2004, p.39) e preciso considerar uma ciência viva, provisória: Encarar a ciência como produto acabado confere ao conhecimento científico uma falsa simplicidade que se revela cada vez mais como uma barreira a qualquer construção, uma vez que contribui para a formação de uma atitude ingênua ante a ciência. Ao encararmos os conteúdos de ciência como óbvios, as diversas redes de construção, edificadas para dar suporte a teorias sofisticadas, apresentam-se como algo natural e, portanto, de compreensão imediata. Por exemplo, os cursos de ciências são divididos em biologia, física e química, ou seja, a partir de um curso, três cursos definem a formação de cada professor. O problema da fragmentação e delimitação dos currículos, pode ter sido influenciada pela separação dos cursos de licenciatura. Quem sabe, esse pode ser um dos motivos pelos quais os professores têm dificuldade em realizar um trabalho interdisciplinar (PEREIRA, 2014). 26 Outro problema é a distribuição de conteúdo com base em livros didáticos (Chassot 1990, p. 33) Os programas de Química são, usualmente, determinados pelos autores de livros textos e estes se sucedem num copismo fantástico que decreta a quase universalidade dos programas. Assim, o que se ensina no Rio Grande do Sul é igual 32 ao que se ensina no Rio Grande do Norte; o que se ensina no Brasil é o mesmo do que se ensina nos Estados Unidos ou na Tanzânia. Por que isso? A resposta simplista é porque a Ciência é universal. Não é por isso. É principalmente pela ditadura dos livros-textos e pela falta de originalidade. Segundo Moraes (2004), a reconstrução curricular deve ter participação dos alunos e dos professores, para teorizar e transformar a prática pedagógica podendo fazer uso do educar pela pesquisa e sua complexidade, desenvolvendo Unidades de Aprendizagem, como prováveis metodologias a serem analisadas e empregadas pelos professores. Segundo Moraes (2004), a reconstrução curricular deve envolver a participação de alunos e professores para teorizar e transformar as práticas de ensino, e utilizar a complexidade da pesquisa e do ensino para desenvolver unidades de aprendizagem como métodos que podem ser analisados e adotados pelos professores. Com base nas considerações do Chassot, é provável que se verifique o que aconteceu na sala de aula. Na maioria dos casos, o programa é executado, a prioridade do conteúdo é determinada, o professor se limita a um livro didático e o aluno acaba não conhecendo os aspectos relacionados à realidade, não sabem, ou não tiveram a oportunidade de saber, já que o professor se prendeu a uma listagem de conteúdos em que a realidade do aluno, o contexto em que está implantada a escola não faziam parte. Mesmo levando em consideração todas as reformulações da organização curricular que o Brasil Educação está passando, essa prática escolar continua. Portanto, é necessário refletir mais sobre o rol de conteúdos pré-estabelecido e resistência dos professores para fazer escolhas diferentes (PEREIRA, 2014). Nas escolas, como componente de sistemas complexos em constante modificações, faz-se precisa à contextualização constante de currículos, partindo-se das realidades onde estão sendo produzidos. Uma das maneiras de alcançar esta contextualização seria a inserção da dimensão ambiental no desenvolvimento do currículo, ou seja, no meio onde a escola está implantada. 27 4 DISCURSOS CURRICULARES NA DISCIPLINA ESCOLAR QUÍMICA 4.1 Apresentando as questões investigadas Primeiramente, de maneira ampla, ofereço determinadas contribuições da pesquisa em currículo para a pesquisa em ensino de Química, avaliando as abordagens teórico-metodológicas delas decorrentes. Por exemplo, a compreensão da disciplina escolar – sua composição sócio histórica, sua relação com discursos curriculares, determinados ou não na esfera de governo. Em segundo lugar, temos algumas conclusões da pesquisa na qual foi investigado a circulação de discursos e textos nas políticas de currículo para a área de ciências no nível médio. As discussões teórico-metodológicas são, assim sendo, inerentes a essa pesquisa específica, mas as duas propostas estão fortemente relacionadas. Como não poderia deixar de ser, meus critérios de seleção de apoios relevantes estão de forma direta conexos ao objeto de pesquisa. Igualmente, considera-se que a melhor maneira de argumentar em defesa da relevância de certos conceitos e teorizações é por intermédio de seu uso em questões concretas de pesquisa (LOPES, 2005). https://www.educamaisbrasil.com.br 28 Essasquestões decorrem da análise dos processos de organização e composição do conhecimento escolar (as disciplinas, a integração curricular e os processos de mediação que compõem esse conhecimento). Investiga-se, como textos da área de Ciências, produzidos fora da esfera de governo (livros didáticos, textos editoriais eletrônicos, trabalhos dirigidos aos professores), vêm incorporando o discurso sobre organização do conhecimento escolar das diretrizes e dos parâmetros curriculares nacionais para o Ensino Médio e como, nesse processo de incorporação, compõem eles mesmos um discurso curricular recontextualizado. Esse discurso, por sua vez, constituem as políticas de currículo para o Ensino Médio. Focando em Bernstein, e nas aproximações que Ball constitui entre Bernstein e Foucault, defino discurso como categoria na qual todo sujeito é colocado ou reposicionado, práticas que de forma sistemática formam os objetos dos quais elas falam, e determino texto como qualquer representação revela pela fala ou pela escrita, nas quais são concretizadas a produção e a reprodução culturais. Nesta investigação, privilegio como textos as representações pedagógicas demonstradas pela escrita, por compreender que esta forma ainda estabelece como predominante nas políticas de currículo. Não se desconsidera, apesar disso, ser possível uma investigação das imagens como outros textos constituintes de princípios da reforma (LOPES, 2005). A despeito de a organização curricular e a avaliação das consequências de ensino serem muito concentradas hoje em dia, avalia-se não ser possível interpretar os discursos curriculares como unicamente determinados pelas definições oficiais. Essas definições (como os parâmetros e as diretrizes curriculares) são produtos da recontextualização de outros textos, são híbridos de diversos discursos – discursos acadêmicos nacionais e internacionais, discursos das agências multilaterais de fomento, discursos das escolas. Os textos disciplinares, de forma geral, e para a área de ciências, em particular, são também produtos dessa recontextualização, hibridizando diversos discursos, não somente oriundos do contexto oficial. Dessa maneira, os princípios curriculares são refocalizados e ressignificados, sendo muitas vezes dirigidos para diversas finalidades daquelas constituídas inicialmente. O conjunto desses discursos e textos oficiais e não-oficiais constituem, não apenas, as políticas curriculares. Nesse sentido, o próprio adjetivo “oficial” sugere somente a origem governamental de um texto, sua autoria assinada e uma marca significativa difundida socialmente. Na medida em que os distintos contextos se interpenetram, os diferentes 29 atores nos contextos oficial e não-oficial interagem, suscitando uma interpenetração de textos e discursos. Desta forma, não existe uma separação absoluta entre o que é produzido no contexto oficial e em outros contextos (LOPES, 2005). Nos limites deste artigo, considera-se um aspecto pontual dessa problemática: a influência dos grupos em ensino de disciplinas específicas (daqui por diante denominados grupos disciplinares) na recontextualização de definições oficiais relativas à organização do saber escolar. Para os propósitos deste capítulo, é limitado como integrantes desses grupos os pesquisadores e/ou professores que vêm espalhando textos sobre ensino de uma disciplina específica no nível médio. Correlacionando com conclusões de Ball (BALL & BOWE, 1992; BALL, 1994), defendo que esses grupos disciplinares não são somente implementadores de orientações estabelecidas de forma prévia, mas formam uma instância atuante na produção das políticas curriculares. Tais grupos agem espalhando discursos que recontextualizam direções políticas do poder central e, de tal modo, continuam edificando tais políticas. Como maneira de desenvolver minha argumentação, focalizo de maneira especial o grupo disciplinar de ensino de Química. Encontro esse grupo como atuante nos processos de recontextualização representadas da disciplina escolar Química – produzindo textos dos parâmetros, livros didáticos que conduzem princípios dos parâmetros e das diretrizes, bem como trabalhos em congressos e em revistas para professores. Compreendo esse grupo disciplinar como um dos mediadores de discursos e textos na composição da disciplina escolar Química. Proponho-me a avaliar alguns dos discursos que estão sendo hibridizados na recontextualização que compõe essa disciplina escolar, a partir da publicação dos parâmetros curriculares nacionais para o Ensino Médio (PCNEM). Primeiramente, é relevante exibir as concepções teóricas, relativas às disciplinas escolares, de maneira que seja possível compreender a atuação dos grupos disciplinares. Salientando que não está sendo exposto uma concepção epistemológica de disciplina. As disciplinas, de maneira geral, compreendem conhecimentos com fundamentos epistemológicos mais ou menos explícitas, contudo não são esses fundamentos que definem a concepção de disciplina escolar. As disciplinas escolares acolhem a finalidades sociais que decorrem do projeto social da escolarização, não se compondo em simples reprodução de divisões de conhecimento da área científico. A identificação dessa diferença consente entender porque modificam as divisões disciplinares (os nomes das disciplinas e seus conteúdos), 30 porém conserva-se a divisão disciplinar em si. Permite também não naturalizar os conteúdos disciplinares, admitindo-os como construções sociais que têm uma história e, assim sendo, são atravessados por questões sociais, político-econômicas e culturais (LOPES, 2005). Nesse aspecto sócio histórica, trabalha-se com princípios teórico- metodológicos que se conectam e se amparam mutuamente, configurando o entendimento de que disciplinas escolares são distintas das disciplinas científicas e acadêmicas. De acordo com esses princípios, a disciplina escolar é: 1) uma construção sócia histórica; 2) uma tecnologia de organização curricular; 3) um produto da recontextualização de discursos; 4) um híbrido de discursos curriculares. 4.2 A concepção de disciplina escolar A compreensão de que a disciplina escolar é uma construção sócio histórica tem seu fundamento nos trabalhos em história das disciplinas escolares, especialmente os de Ivor Goodson. Como analisado em distintos trabalhos (LOPES, 1999, 2000a e 2000b; MACEDO & LOPES, 2002, FERREIRA, GOMES & LOPES, 2000, 2001), para Goodson (1983, 1996b) as disciplinas escolares são amálgamas mutáveis de subgrupos e tradições, nas quais os atores sociais envolvidos aplicam recursos ideológicos e materiais para desenvolverem suas missões individuais e coletivas. Tratando-se de uma construção histórica e, deste modo, social e política. O debate curricular, segundo Goodson, deve ser decifrado em termos de conflitos por status, recursos e território entre as disciplinas. Os atores sociais enredados com as disciplinas escolares lutam por recursos para suas ações, disputam o território ocupado pelas disciplinas (carga horária nas grades curriculares, investimentos, espaço e poder nas distintas ações curriculares) e defendem o status da sua área disciplinar, sendo cada uma dessas ações inter-relacionada com as demais. Segundo Goodson, essas ações são desenvolvidas, de maneira geral, pela construção de um perfil acadêmico para a área disciplinar, capaz, socialmente, de cooperar na garantia tanto do status, quanto de recursos e território para as disciplinas (LOPES, 2005). O foco nas disciplinas escolares justifica-se pelo fato de o currículo disciplinar, a despeito de todas as críticas a ele desenvolvidas ao decorrer dessa história, ser 31 avaliado a ideia pedagógica mais bem-sucedida da história do currículo. Tal episódio conserva o desenvolvimento do debate curricular com fundamento nas disciplinas. É por meiodas disciplinas escolares que os professores se aparelham em grupos, guiam sua formação e seu trabalho. É por meio da organização disciplinar que o trabalho de professores e alunos nas escolas é controlado: quem pode fazer o quê, quando, em que lugar, de que forma; qual conteúdo é ministrado em que horário, em que lugar, por quais professores e para quais alunos. Nesse aspecto, o currículo disciplinar pode ser entendido como uma tecnologia de organização curricular, controlando sujeitos, espaços, tempos e saberes (MACEDO & LOPES, 2002). https://brasilescola.uol.com.br A conservação das disciplinas escolares pauta-se assim com o atendimento os fins sociais da escolarização: os processos de seleção de alunos, a produção de diplomas para o sistema produtivo e a produção de padrões e tipificações sociais duráveis e legitimadas, capazes de serem trocados no mercado de identidade social (MEYER & ROWAN apud GOODSON, 1996a). É nos espaços disciplinares que professores e alunos podem acolher a esses padrões e tipificações sociais, via construção da carreira dos alunos, produção de retóricas legitimadas e legitimadoras das atividades concretizadas, garantia do status dos professores. Todos esses fins são distintos das finalidades sociais do mundo acadêmico e do mundo científico, 32 caracterizado por outros interesses, pelo atendimento a outras demandas sociais e composto por outra trajetória histórica (MACEDO & LOPES, 2002). Na constituição das disciplinas escolares, distintos textos são deslocados de outros contextos – academia, centros de pesquisa, órgãos oficiais, agências multilaterais, editoras – para o contexto escolar, neste incluindo-se as relações em volta da escolarização e do que é escolarizável. Os textos deslocados são reinterpretados, combinados entre si, refocalizados, segmentados. Em resumo, são recontextualizados (BERNSTEIN, 1996, 1998). Por intervenção da recontextualização é formado o discurso pedagógico. Esse discurso é determinado por Bernstein (1996, 1998) como um conjunto de regras para embutir e incluir dois outros discursos: o discurso instrucional (discurso especializado das ciências de referência a ser transmitido na escola) e o discurso regulativo (discurso anexo aos valores e aos princípios pedagógicos). Na constituição do discurso pedagógico, é sempre o discurso regulativo que contém o instrucional. A disciplina escolar, formada por um discurso pedagógico, não pode ser explanada segundo os princípios teóricos e metodológicos das disciplinas de referência. Os discursos das disciplinas de referência são sempre recontextualizados, conexos a um discurso regulativo, quando tirado para o contexto escolar. Os princípios e regras de organização curricular, expressos no texto das diretrizes e dos PCNEM, por exemplo, compõem um discurso regulativo capaz de dominar o instrucional relativo às disciplinas. Tais princípios e regras são compostos a partir das concepções de disciplina, interdisciplinaridade, contextualização, tecnologias como princípio integrador e pelo currículo por competências. No cenário atual, tais processos de recontextualização podem ser avaliados pela incorporação do caráter híbrido da cultura (BALL, 1998). Principalmente no campo curricular, uma produção cultural por excelência, é provável entender a recontextualização como desenvolvida por hibridismos. Apoiando em Ball (1998) e García Canclini (1998), que a recontextualização de textos curriculares com fundamento no hibridismo pode ser compreendida pelas novas coleções que são compostas, unificando discursos de matrizes teóricas diferentes. Os textos são deslocados das questões que induziram à sua produção e relocalizados em novas questões, novos desígnios educacionais. Os processos simbólicos são desterritorializados e os gêneros impuros se alargam. Com o acréscimo de processos de hibridização, as relações de poder não podem mais ser estudadas a partir de 33 modelos verticais. As relações de poder para García Canclini se entretêm de tal forma que a eficácia de cada relação é ressaltada em virtude desse entrelaçamento. A trama é de tal maneira complexa que as relações de poder não se superpõem umas às outras, mas adquirem maior eficácia em virtude de serem oblíquas. A recontextualização por processos híbridos, assim sendo, não deve ser explanada com um sentido negativo de adulteração de textos supostamente originais, mas de produção de novos sentidos cumprindo finalidades sociais diferentes. Compete questionar, apesar disso, a exaltação do hibridismo como capaz de ultrapassar hierarquias. Não existe somente a superposição de discursos ambivalentes que podem ser usados como se queira, sem que determinados sentidos prevaleçam em relação a outros em determinados contextos históricos e determinadas relações de poder. Compreender os textos recontextualizados como híbridos sugere conceber as ambivalências como obrigatórias, procurar identificar conceitos filiados a trajetórias teóricas diferentes, sendo trabalhados de maneira associada, e investigar os novos fins educacionais assumidos por esses conceitos híbridos. O entendimento da disciplina escolar como um híbrido de textos provenientes de distintos contextos abre a possibilidade de se investigar os discursos hibridizados em sua constituição e, especialmente, as finalidades em jogo nesse processo. 4.3 A disciplina escolar Química como um híbrido de discursos Um aspecto importante a ser considerado nesta análise é o fato de que muitos atores sociais participantes desse processo de recontextualização, no contexto oficial e fora dele, são pesquisadores com ampla experiência universitária, com produção significativa no campo de Ensino de Química e, por conseguinte, atuantes na construção de saberes acadêmicos diferentes dos conhecimentos escolares. Não se focaliza, apesar disso, a investigação de sua produção acadêmica, ainda que está subsidie sua produção didática. Interessa os textos por eles produzidos, junto a outros atores sociais, como mediações de discursos oficiais representados da disciplina escolar Química (LOPES, 2005). A despeito dessa produção acadêmica não ser considerada, sua condição de pesquisadores não pode ser desconsiderada. Não é por acaso que pesquisadores em Ensino de Química integraram a equipe oficial de elaboração dos parâmetros. 34 Definições curriculares oficiais precisam de legitimação simbólica – não têm como se estabelecer de forma exclusiva pela legislação ou pelo financiamento – e um dos processos de legitimação utilizado é a produção de documentos que incorporem discursos previamente legitimados no contexto educacional, acadêmico e neoacadêmico (BALL, 1994). De tal modo, mesmo avaliando as vinculações pessoais e institucionais entre o coordenador do campo de ciências dos parâmetros e os pesquisadores convidados para esse trabalho, não é provável desmerecer a legitimidade obtida pelos investigadores na área de Ensino de Química selecionados para o trabalho em questão. A produção da área de Ensino de Química é atualmente capaz de legitimar discursos sobre a disciplina escolar Química produzidos por grupos de pesquisa nessa área e reinterpretados por professores da Educação Básica. A acumulação de pesquisas em ensino de uma disciplina específica é também um aspecto a ser estimado no processo de recontextualização dos discursos oficiais. Se os integrantes do processo de recontextualização têm uma história de inovação curricular, um considerável volume de discussões sobre propostas curriculares, mais facilmente são capazes de desenvolver um senso de autonomia e de reinterpretar as diretrizes indicadas pelos órgãos oficiais (BALL & BOWE, 1992). No processo de produção dos PCNEM, os princípios curriculares como interdisciplinaridade, contextualização e currículo por competências, que unificam seu discurso regulativo,já permaneciam determinados antes mesmo de o trabalho das equipes disciplinares se ampliar, e foi com fundamento neles que o documento foi produzido. Têm que se considerar, assim sendo, a interação entre os discursos das distintas equipes disciplinares dos parâmetros e os discursos de forma previa constituídos no contexto oficial. Mesmo porque tais discursos colocados também são produtos da recontextualização, na esfera governamental (técnicos e consultores), de textos elaborados por outros governos com os quais o governo brasileiro sustenta acordos, pelas agências multilaterais (Unesco, BID, Banco Mundial), pela academia e pelas escolas. Essas interações não são assinaladas somente pelo confronto ou pela imposição de ideias que resultem na escolha de uma perspectiva em detrimento de outra. Na procura de sua legitimidade em distintos contextos sociais, os documentos tornam-se uma bricolagem de tendências curriculares ambivalentes: um híbrido de percepções diversas. Mesmo porque, os consultores dos grupos disciplinares participantes do processo também têm a expectativa de legitimar suas compreensões em uma esfera com poder distinto sobre a prática nas escolas (LOPES, 2005). 35 É provável identificar esse hibridismo no texto da disciplina Química dos PCNEM pela apreensão dos autores em estar relacionando as habilidades e competências aos conteúdos de química: As habilidades e competências que devem ser promovidas no ensino de Química devem estar estreitamente vinculadas aos conteúdo a serem desenvolvidos, sendo parte indissociável desses conteúdos, e devem ser concretizadas a partir dos diferentes temas propostos para o estudo de Química (...) (BRASIL, 1999, v. 3, p. 75, grifo meu). Várias competências e habilidades sugeridas ao decorrer do texto, no entanto, podem ser desenvolvidas por conteúdos os mais diversos e conservam-se sem vinculação efetiva com conceitos químicos, como por exemplo: (...) desenvolvimento de habilidades referentes ao reconhecimento de tendências e relações a partir de dados experimentais, de raciocínio proporcional, bem como de leitura e construção de tabelas e gráficos. (BRASIL, 1999, v. 3, p. 70) (...) são necessárias competências e habilidades de reconhecer os limites éticos e morais do conhecimento científico, tecnológico e suas relações. (BRASIL, 1999, v. 3, p. 72). Essa aparente contradição do texto é consequência da associação entre o discurso sobre as habilidades e competências, vinculadas às concepções instrumentais de currículo, e perspectivas cognitivistas do Ensino de Química. Na organização curricular por competências, os conteúdos não são o eixo organizador, pois precisam ser traduzidos em habilidades a serem explanadas em um saber-fazer. Distintos conteúdos disciplinares podem ser usados para formar as habilidades previstas que, em conjunto, miram expressar uma competência mais complexa a ser formada. A associação com o discurso cognitivista, que valoriza determinados saberes como fundamentais no processo formativo, ocasiona a produção desse discurso híbrido que pretende formar competências estreitamente conexas aos conteúdos disciplinares. Mais facilmente esse hibridismo se desenvolve, em virtude do grupo de ensino de Química ter um histórico de crítica aos currículos demasiadamente conteudistas. Ou seja, o currículo por competências no ensino de Química passa a ser encarado mais como uma maneira de se contrapor ao currículo enciclopédico do que como uma forma de organização curricular (LOPES, 2005). 36 No processo de incorporação dos PCN aos livros didáticos e manuais do professor, destacam-se poucos exemplares nos quais as competências são citadas de forma explícita. O livro de Tito e Canto, da Coleção Base da Editora Moderna, faz uma discussão introdutória sobre as competências, no momento em que a coleção afirma se fundamentar nas matrizes curriculares do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). O livro do Pesquisa, ainda que busque mostrar um distancia da formação para o mundo produtivo explanada nos parâmetros, em nome de uma formação para a cidadania planetária, também afere a formação de competências e habilidades, em nome de sua suposta utilidade ao planejamento didático e pela probabilidade argumentativa que proporciona contra o discurso conteudista da química escolar. O livro de Mortimer e Machado, da Coleção Parâmetros da Editora Scipione, não cita as competências, seja no exemplar de assessoria pedagógica ao professor, seja no exemplar no aluno. Os demais livros traduzem a compreensão das competências, de maneira implícita, em uma abordagem destacada das aplicações do conhecimento químico, como, por exemplo, Química, de Antonio Sardella, e Química: realidade e contexto, de Antonio Lembo. Desta forma, ressaltam o entendimento de competências em uma matriz instrumental – o “saber-fazer”, “o saber que se expressa em uma ação”, da mesma forma em que o associam à contextualização. Em todos os livros, as competências também estão subentendidas nas questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) inclusas como exercícios. Essas questões fundamentam-se em uma lista de cinco competências e vinte e uma habilidades não-disciplinares, conexas, principalmente, a aspectos comportamentais, e sua inserção reporta os alunos aos objetivos do exame. Os livros, porém, não mostram uma proposta efetiva com base na organização curricular por competências. Essa pode ser localizada somente no Manual do Professor de Química, da Editora do Brasil, preparado pela coordenadora dos PCNEM, Eny Maia, em conjunto com a coordenadora da área de linguagens e códigos, Zuleika Felice Murrie. Diferentemente, a organização curricular com fundamento nos conteúdos conservar-se privilegiada. As listas de competências parecem não ter a mesma capacidade diretiva que listagens de conteúdo, entretanto, por vezes, são estimadas precisamente pela sua capacidade de substituir as listagens de conteúdo (LOPES, 2005). Na síntese dos PCNEM, inclusa no sítio da Editora Scipione, os documentos disciplinares permanecem restritos às listas de competências (as demais orientações 37 são totalmente omitidas), compreendendo-se que essa lista efetivamente identifica o que deve ser lecionado. Quando divulga sua Coleção Base, a Editora Moderna registra que: (...) nem os parâmetros nem as diretrizes explicitam os conteúdos da base nacional comum ou, em outras palavras, não há descrição dos conteúdos que as disciplinas deverão abordar nas três áreas curriculares que compõem o Ensino Médio https://www.uerj.br Em seguida deixam claro que outro “documento relevante, em nosso ponto de vista, publicado pelo MEC/Inep, são as matrizes curriculares de referência para o Saeb”. Esses livros da editora diferenciam-se dos de editoras como a Scipione e a Ática por assegurarem seguir as matrizes curriculares de referência do Saeb, em vez dos parâmetros. Essa afirmação pode sugerir que, antes de procurar uma abordagem pedagógica nos PCN, essa editora voltou-se aos processos de avaliação, compreendendo-os como definidores do conteúdo a ensinar, legitimadores de seus produtos e garantidores de sua adequação à reforma (LOPES, 2005). De maneira geral, o currículo por competências vem sendo estimado no grupo disciplinar de ensino de Química sem maior debate sobre seus sentidos. Os artigos publicados em Química Nova na Escola, depois as publicações dos PCNEM não incorporam o conceito de competências. Entretanto, os Encontros Nacionais de 38 Ensino de Química concretizados depois as publicações dos parâmetros exibem um significativo acréscimo de trabalhos que referem as competências e habilidades. Nos anais do XI Encontro Nacional de Ensino de Química (XI Eneq), em 2002, somente três resumos publicados discutiam competências. Mas nos anais do XII Eneq existe um total de 29 trabalhos
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