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Rio de Janeiro, 17 de abril de 2022 Lucas Barreto Rodrigues1 SYLVESTER, Christine. Experiências de Guerra: teoria e prática. Millennium - Journal of International Studies. v. 40; n. 3: 2012. APRESENTAÇÃO DO TRABALHO O objetivo do texto de Christine Sylvester é tentar compreender a Guerra a partir de uma visão empírica de seus cientistas. A autora propõe uma tentativa de inversão metodológica da análise da guerra, isto é, pensando o fenômeno a partir das experiências de seus cientistas sobre ele e não tentando compreendê-lo como parte de uma proposta etérea institucional. Ou, em outras palavras, a autora muda o foco da visão da Guerra a partir dos indivíduos e não das instituições que a compõem. Centraliza a análise nos impactos do evento sobre os agentes e não partindo das motivações dos Estados e demais atores. (2012, p. 484) As pessoas comuns, de acordo com a autora, possuem impactos na dinâmica das Relações Internacionais, embora sejam escanteadas pelas análises da disciplina; isto é, tratadas como elementos mais passivos do que ativos. Baseado em trabalhos de Realistas como John Mearsheimer e Stephen Walt; na corrente das Novas Guerras de Mary Kaldor; nos estudos pós-coloniais de Tarak Barkawi e Shane Brighton; no construtivismo acerca do trauma individual e coletivo segundo Karin Fierke; no pós-estruturalismo de Michael Shapiro; e no feminismo das Relações Internacionais de Megan Mackenzie, Maria Eriksson Baaz e Maria Stern, a autora finaliza a discussão apresentando problemáticas acerca de ideias fortemente contestadas sobre corpo e experiências da guerra diante das análises tradicionais do pensamento sobre o fenômeno. (2012, p. 486) CONCEITOS DE EXPERIÊNCIA E CORPO Sobre esses conceitos, a autora explica que, a base principal para sua elaboração fundamenta-se na literatura do feminismo nas Relações Internacionais. (2012, p. 495) As experiências vividas por um agente em uma guerra variam e podem possuir reflexos físicos em seu corpo, não apenas por vítimas diretas da guerra, como vemos a partir dos estudos sobre combatentes multilados ou estupros como arma, mas, doenças neurológicas causadas, por exemplo, em pessoas próximas aos agentes em conflitos ou, mesmo, em espectadores distantes que se comovem com o noticiário. 1Graduado em Defesa e Gestão Estratégica Internacional - UFRJ; Mestre e Doutorando em Ciências Militares pelo Instituto Meira Mattos - Escola de Comando e Estado-Maior do Exército. Shane Brighton (apud SYLVESTER, 2012, p. 497) argumenta a importância de compreender a fenomenologia das experiências em função da sua capacidade de transformar a informação, o significado e, até mesmo, a identidade das pessoas de maneira imprevisível. “A guerra confronta aqueles que a vivenciam com a necessidade de criar e contestar seu significado de uma maneira que promove sua perenidade.” O corpo, nesse contexto, age como um receptáculo da experiência. EM SUMA A guerra é um fenômeno de múltiplas experiências onde várias conclusões se tornam claras: 1 - Partimos do pressuposto que um conflito armado é uma violência coletiva que visa ferir corpos. 2 - Existem experiências de guerra que, na maioria das vezes, são ignoradas pela construção de teorias da guerra, embora, do ponto de vista da autora, sejam importantes. 3 - Há variáveis em relação à distância dos indivíduos sobre as experiências prejudiciais da guerra. 4 - Há uma ampla gama de estudos de caso na guerra que, eventualmente, são concentrações de poder ignoradas pelas teorias das Relações Internacionais. 5 - Em se tratando de metodologia, faz sentido investigar as experiências em campo para evitar a abstração do pensamento sobre guerra a partir das experiências de seus inseridos. Ao fim, a autora segue sua lista de problemas úteis a partir da análise sobre a guerra partindo de experiências: Como uma instituição baseada em pessoas opera ao longo do tempo, através de culturas e em diferentes sistemas econômicos e políticos. Como as identidades e os papéis afetados por um conjunto de experiências de guerra podem afetar as pessoas futuramente e suas percepções de guerra e paz. Quais experiências e identidades são afetadas pela guerra e de que maneira isso ocorre. Que processos conectam corpo, mente, sociedade e a política da guerra.
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