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1 VULVOVAGINITES, CERVICITES E DOENÇA INFLAMATÓRIA PÉLVICA (DIP) Gizelle Felinto VULVOVAGINITES INTRODUÇÃO ➢ CARACTERÍSTICAS GERAIS: • Atualmente, as Vulvovaginites são responsáveis por elevado número de consultas aos ginecologistas (aproximadamente 30% das consultas ginecológicas estão relacionadas às vulvovaginites) • A importância das Vulvovaginites e vaginose bacteriana não se restringe apenas à sintomatologia desconfortável que essas doenças podem causar, pois elas também acarretam complicações • A investigação e elucidação diagnóstica minuciosas devem ser realizadas, bem como o tratamento específico, pois a vulvovaginite e a vaginose bacteriana, assim como as Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), são fatores facilitadores na aquisição e transmissão do HIV ➢ PATOLOGIA: • Agentes Etiológicos → tem-se diversos agentes responsáveis pelas Vulvovaginites, como: ▪ Fungos ▪ Vírus ▪ Protozoários ▪ Bactérias... • A microbiota vaginal é constituída por um ecossistema extremamente delicado que facilmente pode sofrer alterações por fatores endógenos, exógenos e iatrogênicos • Desequilíbrio da Flora Vaginal x Vulvovaginite → em algumas situações, apenas o desequilíbrio dos constituintes habituais da flora vaginal pode causar um quadro clínico semelhante ao das Vulvovaginites, sendo importante a diferenciação de tais processos ➢ INFECÇÕES VAGINAIS MAIS FREQUENTES: • Vaginose Bacteriana • Candidíase • Tricomoníase ➢ COMPLICAÇÕES → as vulvovaginites e vaginoses bacterianas podem causar complicações ginecológicas e no ciclo gravídico- puerperal VAGINOSE BACTERIANA ➢ INTRODUÇÃO: • A vaginose é a principal causa de corrimento vaginal • Trata-se de uma síndrome clínica polimicrobiana caracterizada pela diminuição da quantidade e da qualidade dos lactobacilos e pelo aumento significativo de bactérias patogênicas ▪ Lactobacilos → fazem parte da flora vaginal normal, protegendo a região contra infecções • É uma doença associada à atividade sexual, embora não seja considerada uma IST • Mulheres virgens são raramente afetadas ➢ ETIOLOGIA → as principais bactérias envolvidas na vaginose bacteriana são: • Gardnerella vaginalis* • Prevotella sp • Bacteróides sp • Mobiluncus sp* • Atopobium vaginae • Ureaplasma sp • Mycoplasma sp *São as principais responsáveis pelas vaginoses → dessa forma, a presença desses dois patógenos indica a presença de uma vaginose bacteriana ➢ FATORES DE RISCO → vários fatores aumentam o risco da doença, como: • Múltiplos parceiros sexuais (de qualquer sexo) • Novo parceiro sexual • Maior frequência de relações sexuais • Raça negra • Tabagismo • Uso de duchas vaginais • Não utilização de preservativos ➢ QUADRO CLÍNICO: • Corrimento vaginal: ▪ Características: homogêneo, fino, branco-acinzentado, com microbolhas e não aderente à parede vaginal • Odor fétido → semelhante a “peixe podre” ▪ Essa carcterística decorre da produção de aminas (cadaverinas e putrecinas) ▪ Esse odor costuma exacerbar-se após o coito, pois o sêmen tem pH básico que propicia a volatilização das aminas • Sintomas inflamatórios → são menos frequentes de ocorrer ▪ Disúria ▪ Dispareunia ▪ Edema vaginal e vulvar ▪ Prurido e irritação vulvar ➢ DIAGNÓSTICO: • Diagnóstico Clínico: ▪ Baseia-se na presença de 3 dos 4 critérios de Amsel CRITÉRIOS DE AMSEL Corrimento Vaginal homogêneo, fino, branco-acinzentado, com microbolhas e não aderentes às paredes vaginais pH vaginal > 4,5 Odor vaginal característico (“peixe podre”) antes ou depois da adição de 1 gota de hidróxido de potássio (KOH) a 10% à secreção vaginal, conhecido como Whiff test Presença de células indicadoras (células vaginais serrilhadas, cujo citoplasma está recoberto pela microbiota anaeróbia; também conhecida como célula-pista ou células-guia ou clue cells) em exame microscópico “a fresco” Vaginose bacteriana = pelo menos 3 desses 4 critérios 2 VULVOVAGINITES, CERVICITES E DOENÇA INFLAMATÓRIA PÉLVICA (DIP) Gizelle Felinto ✓ Whiff test → pega-se um pouco do corrimento vaginal e coloca-se em uma lâmina. Dessa forma, adiciona-se uma gota de KOH a 10%, misturando- o com o corrimento na lâmina. Se for uma vaginose bacteriana, haverá um forte odor de “peixe podre”, pois haverá a volatilização das aminas • Exames Complementares: ▪ Bacterioscopia - Coloração de Gram (padrão-ouro): ✓ É interpretada pelos critérios de Nuget, sendo considerada padrão-ouro para o diagnóstico da vaginose bacteriana ▪ Cultura de Secreção Vaginal: ✓ É pouco específico, por isso não deve ser realizada ▪ Citologia Oncótica: ✓ Apresenta baixa sensibilidade, mesmo sendo capaz de identificar as clue cells ✓ Porém, a presença de clue cells na ausência de sintomas não tem indicação de tratamento ➢ TRATAMENTO: • Características: ▪ O tratamento está indicado para alívio dos sintomas e também apresenta benefício adicional de reduzir risco de contágio por outras ISTs ▪ Todos os esquemas escolhidos cursam com altas taxas de recorrência ▪ Citologia positiva sem presença de sintomas → não há indicação de tratamento nesses casos (na teoria)! ✓ Na prática clínica → pode-se tratar essas pacientes, pois, em algum momento no futuro, os sintomas irão aparecer • Esquemas de Tratamento de Primeira-Linha para Vaginose Bacteriana (CDC, 2015) → pode-se utilizar: METRONIDAZOL 500mg (comprimido): ✓ Dose: 1 comprimido de 500mg, via oral, de 12 em 12h, por 7 dias METRONIDAZOL Gel 0,75%: ✓ Dose: 1 aplicador vaginal (5g) à noite, durante 5 noites CLINDAMICINA Creme 2%: ✓ Dose: 1 aplicador vaginal (5g) à noite, por 7 noites ▪ Esquemas de Tratamento → pode-se usar um dos seguintes ✓ Apenas uma das medicações ✓ Metronidazol oral + Metronidazol gel → é o esquema mais indicado na prática ✓ Clindamicina creme • Esquemas Alternativos de Tratamento para Vaginose Bacteriana (CDC, 2015) → pode-se utilizar: TINIDAZOL 2g (comprimido): ✓ Dose: 1 comprimido de 2g, via oral, 1 vez ao dia, por 2 dias TINIDAZOL 2g (comprimido): ✓ Dose: 1 comprimido de 2g, via oral, 1 vez ao dia, por 5 dias CLINDAMICINA 300mg (comprimido): ✓ Dose: 1 comprimido de 300mg, via oral, de 12 em 12h, por 7 dias CLINDAMICINA Óvulos 100mg (intravaginal): ✓ Dose: aplicar 100mg intravaginal durante 3 dias • Gravidez e Lactação: ▪ As gestantes sintomáticas devem ser tratadas para alívio dos sintomas ▪ No 3º trimestre da gestação (principalmente a partir da 36ª semana), se a paciente for diagnosticada com vaginose bacteriana, independentemente de apresentar ou não sintomas, deve-se tratar → pois pode ocorrer uma contaminação e a paciente ter uma Rotura Prematura de Membranas e corioamnionite ▪ Esquemas de Tratamento para Vaginose Bacteriana na Gestação (CDC, 2015) → pode-se fazer uso de: METRONIDAZOL 500mg (comprimido): o Dose: 1 comprimido de 500mg, via oral, de 12 em 12h, por 7 dias METRONIDAZOL Gel 0,75%: o Dose: 1 aplicador vaginal (5g) à noite, por 5 noites METRONIDAZOL 250mg (comprimido): o Dose: 1 comprimido de 200mg, via oral, de 8 em 8h, por 7 dias CLINDAMICINA Creme 2%: o Dose: 1 aplicador vaginal (5g) à noite, por 7 noites CLINDAMICINA 300mg (comprimido): o Dose: 1 comprimico de 300mg, via ora, de 12 em 12 horas, por 7 dias CLINDAMICINA Óvulos 100mg (intravaginal): o Dose: aplicar 100mg intravaginal durante 3 noites • Seguimento: ▪ Não é necessária consulta de seguimento quando ocorre cura dos sintomas • Abordagem do(a) Parceiro(a): ▪ O tratamento do(a) parceiro(a) não aumenta as taxas de cura e/ou recorrência, não devendo ser realizado de rotina • Associação Vaginose-HIV: ▪ O tratamento da vaginose bacteriana em paciente infectada pelo HIV não difere dos esquemas habituais • Alergia e EfeitosColaterais: ▪ A associação de álcool com os Imidazólicos pode produzir reação alérgica intensa (Dissulfiram-like) → dessa forma, a abstenção de álcool deve ser preconizada até 24h após o tratamento com Metronidazol e até 72h após o tratamento com Tinidazol ✓ O tratamento com Metronidazol faz com que a paciente sinta um gosto de alumínio na boca 3 VULVOVAGINITES, CERVICITES E DOENÇA INFLAMATÓRIA PÉLVICA (DIP) Gizelle Felinto CANDIDÍASE ➢ INTRODUÇÃO: • Epidemiologia: ▪ É uma doença bastante comum e estima-se que 75% das mulheres apresentarão ao menos um episódio durante sua vida ▪ É a 2ª causa mais comum de corrimento vaginal • As diversas espécies de cândida podem ser encontradas colonizando a vagina e o reto, causando doença apenas de maneira oportunista ➢ ETIOLOGIA: • Cândida Albicans → é a responsável por causar a maior parte dos casos sintomáticos (a albicans é a mesma que se encontra na cavidade oral) • Cândida Glabrata* • Cândida Tropicalis* *Essas espécies estão aumentando sua incidência ➢ FATORES DE RISCO: • Gestação • Uso recente de antibióticos • Uso de corticoides • Uso de contraceptivos hormonais combinados • Diabetes • Estresse • Imunossupressão ➢ QUADRO CLÍNICO → os sintomas são mais frequentes no período pré-menstrual • Secreção/Corrimento Vaginal: ▪ Características: espessa, em grumos, brancacenta, inodora e aderente às paredes vaginais • Prurido • Queimação vulvovaginal • Edema vulvar • Escoriações vulvares → em decorrência do prurido • Disúria → devido a irritação periuretral • Dispareunia superficial ➢ DIAGNÓSTICO: • O quadro clínico e o exame a fresco são suficientes para o diagnóstico da maioria dos casos • Exames Complementares: ▪ Exame Microscópico a Fresco: ✓ Acrescenta-se 1 gota Hidróxido de Potássio (KOH) para dissolução de hemácias, leucócitos e células epiteliais, facilitando a identificação, ao microscópio, de longas fibras e micélios, que são típicos da infecção fúngica ▪ Citologia Oncótica: ✓ Apresenta baixa sensibilidade e especificidade ➢ TRATAMENTO: • Características gerais: ▪ Deve-se optar por esquemas curtos de tratamento, para que haja uma maior adesão das pacientes ▪ A via de administração, oral ou tópica, não modifica os resultados ▪ O uso de Nistatina tem sido abandonado, devido aos piores resultados e à menor adesão ao incômodo esquema posológico (pois o tratamento com Nistatina dura 7 a 14 dias) ▪ Antifúngico + Corticoide: ✓ A associação de antifúngico com corticoide fornece rápido alívio da sintomatologia vulvar, mas não tratam a infecção vaginal ✓ Se utilizadas, devem ser associadas a outros esquemas terapêuticos ✓ Seu uso pode piorar muito as infecções por herpes genital, portanto esse diagnóstico tem que ser afastado antes da utilização do Corticoide ▪ Além das medicações descritas a seguir, tem-se vários outros fármacos disponíveis no mercado brasileiro, como Isoconazol, Fenticonazol, Cetoconazol e Itraconazol ✓ Itraconazol (são 4 comprimidos, por via oral, sendo 2 comprimidos de 12/12h) • Esquemas de Tratamento para Candidíase (CDC, 2015) → pode-se utilizar um dos seguintes: BUTOCONAZOL Creme a 2%: ✓ Dose: 1 aplicador intravaginal (5g), dose única TERCONAZOL Creme a 0,4%: ✓ Dose: 1 aplicador intravaginal (5g) à noite, por 7 noites TERCONAZOL Creme a 0,8%: ✓ Dose: 1 aplicador intravaginal (5g) à noite, por 3 noites TERCONAZOL 80mg (supositório vaginal): ✓ Dose: 1 unidade intravaginal à noite, por 3 noites CLOTRIMAZOL Creme a 1%: ✓ Dose: 1 aplicador intravaginal (5g) à noite, por 7 a 14 noites CLOTRIMAZOL Creme a 2%: ✓ Dose: 1 aplicador intravaginal (5g) à noite, por 3 noites MICONAZOL Creme a 2%: ✓ Dose: 1 aplicador intravaginal (5g) à noite, por 7 noites MICONAZOL Creme a 4%: ✓ Dose: 1 aplicador intravaginal (5g) à noite, por 3 noites MICONAZOL 100mg (supositório vaginal): ✓ Dose: 1 unidade intravaginal à noite, por 7 noites MICONAZOL 200mg (supositório vaginal): ✓ Dose: 1 unidade intravaginal à noite, por 3 noites MICONAZOL 1200mg (supositório vaginal): ✓ Dose: 1 unidade intravaginal à noite, por 1 noite TIOCONAZOL Creme a 6,5%: ✓ Dose: 1 aplicador intravaginal (5g), dose única FLUCONAZOL 150mg (comprimido): ✓ Dose: 1 comprimido de 150mg, via oral, dose única • Gravidez e Lactação: ▪ São preferidos esquemas de tratamento de uso tópico, já que o tratamento oral está contraindicado 4 VULVOVAGINITES, CERVICITES E DOENÇA INFLAMATÓRIA PÉLVICA (DIP) Gizelle Felinto • Seguimento: ▪ Não é necessário consulta de seguimento quando ocorre a cura dos sintomas • Abordagem do(a) Parceiro(a): ▪ O tratamento do(a) parceiro(a) não está indicado rotineiramente, exceto nos raros casos de Balanite (inflamação da glande) • Associação Candidíase Vaginal e HIV ou outras Imunossupressões: ▪ Pacientes HIV positivas → estão mais sujeitas a apresentarem candidíase vaginal, bem como infecções por Cândida não albicans ▪ Tratamento de Candidíase em Pacientes Imunossuprimidas → deve ser realizado com utilização de esquemas com duração mais prolongada (7 a 14 dias) • Alergia e Efeitos Adversos: ▪ Tratamento oral → pode ocasionar: ✓ Náuseas ✓ Dor abdominal ✓ Cefaleia ✓ Elevação transitória das transaminases (raramente) ▪ Tratamento tópico → pode causar: ✓ Ardência ou irritação locais ✓ Enfraquecimento dos preservativos e diafragmas (deve-se informar isso à paciente ao se prescrever o tratamento tópico) ➢ CANDIDÍASE RECIDIVANTE/RECORRENTE: • Definição → presença de 4 ou mais episódios de candidíase vaginal ao ano • Epidemiologia: ▪ A candidíase recorrente atinge cerca de 5% das mulheres ▪ A espécie Cândida não albicans é encontrada em 10 a 20% das candidíases recorrentes → devido a isso, a realização de Cultura pode ser útil para avaliar a presença dessa espécie • Tratamento: 1. Tratamento do Episódio Agudo → utilizar um dos seguintes: ✓ Tratamento Tópico por 7 a 14 dias ou ✓ FLUCONAZOL no 1º, 4º e 7º dias 2. Tratamento Antifúngico de Manutenção → após a remissão dos sintomas do episódio agudo, deve-se fazer uso de um dos seguintes: ✓ FLUCONAZOL Oral (100, 150 ou 200mg) em dose única semanal por 6 meses → é o mais usado ✓ Tratamento tópico intermitente (dose única mensal no período pré-menstrual) por 6 meses → também é um esquema que se mostra efetivo ✓ As taxas de recorrência após a interrupção do tratamento antifúngico de manutenção variam de 30% a 50% ➢ Espécie Cândida não Albicans: • Não respondem bem aos esquemas padrões, principalmente ao Fluconazol, devendo-se optar por esquemas mais prolongados (7 a 14 dias), pior a resposta aos esquemas curtos • Tratamento → as recorrências podem ser tratadas com um dos seguintes: ÁCIDO BÓRICO: ✓ Dose: cápsulas de 600mg/dia, por 14 dias ANFOTERICINA B: ✓ Dose: supositórios vaginais (óvulo), 50mg/dia, por 14 dias NISTATINA: ✓ Dose: supositórios vaginais (óvulo), 100.000 UI/dia, por 3 a 6 meses TRICOMONÍASE ➢ INTRODUÇÃO: • É uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST) • O Trichomonas vaginalis é um protozoário anaeróbio que infecta preferencialmente o trato genital humano • A tricomoníase está associada a aumento das taxas de: ▪ HIV ▪ Ruptura Prematura das Membranas → induz o parto prematuro ▪ Prematuridade • 70% a 85% das pessoas infectadas são portadores assintomáticos e podem transmitir a doença aos parceiros sexuais ➢ QUADRO CLÍNICO: • Os homens sintomáticos apresentam: ▪ Uretrite ▪ Disúria ▪ Secreção uretral mucopurulenta • As mulheres sintomáticas apresentam: ▪ Corrimento Vaginal: ✓ Características: verde- amarelado, abundante, espumoso e malcheiroso ▪ Sintomas inflamatórios intensos, como: ✓ Prurido e irritação vulvares ✓ Disúria✓ Dispareunia ✓ Colpite focal (colo em morango ou Teste de Schiller em pele de onça) o Coloca-se o iodo no colo do útero e obtém-se essa imagem parecida com pele de onça ➢ DIAGNÓSTICO: • A associação do quadro clínico com o exame a fresco é a ferramenta mais utilizada para o diagnóstico da Tricomoníase • Exames Complementares: ▪ Exame Microscópico a Fresco: 5 VULVOVAGINITES, CERVICITES E DOENÇA INFLAMATÓRIA PÉLVICA (DIP) Gizelle Felinto ✓ É barato e de fácil execução, mas apresenta baixa sensibilidade (51% a 65%) ▪ Exame de Cultura: ✓ Tem sensibilidade de 75% a 96% e especificidade de 100% ▪ Citologia Oncótica: ✓ Ocasionalmente detecta a doença, podendo ocorrer falso-positivos e falso-negativos ➢ TRATAMENTO: • Características: ▪ O tratamento tem por base o uso de Imidazólicos em dose única por via oral e apresenta altas taxas de sucesso ▪ O tratamento tópico não deve ser utilizado, pois não proporciona níveis terapêuticos na uretra e nas glândulas parauretrais ▪ Durante o tratamento, as pacientes devem abster-se de atividade sexual • Esquema de Tratamento para Tricomoníase (CDC, 2015) → pode-se fazer uso de um dos seguintes: METRONIDAZOL 2g, via oral, dose única ou TINIDAZOL 2g, via oral, dose única • Gravidez e Lactação: ▪ Gestantes Sintomáticas → as gestantes sintomáticas devem ser tratadas para alivio dos sintomas com: METRONIDAZOL 2g, via oral, dose única o O uso de metronidazol é seguro na gestação (categoria B), não apresentando teratogenicidade em uma série de metanálises o O metronidazol em doses habituais é secretado em doses mínimas no leite, podendo ser usado na lactação ▪ Gestantes Assintomáticas → o benefício do tratamento das gestantes assintomáticas não foi estabelecido, exceto nas HIV positivas, pois elas apresentam maior taxa de transmissão vertical ✓ Porém, na prática, se a gestante for diagnosticada com tricomoníase, mesmo sendo assintomática, deve-se realizar o tratamento ▪ Tinidazol → seu uso não foi estudado, devendo ser evitado na gravidez e lactação • Seguimento: ▪ Em virtude de as taxas de reinfecção chegarem a 17%, sugere-se a reavaliação das pacientes em 3 meses, independentemente do tratamento do parceiro • Abordagem do(a) parceiro(a): ▪ O tratamento do(a) parceiro(a) está indicado, o que leva ao aumento das taxas de cura • Associação Tricomoníase-HIV: ▪ O seguinte tratamento da tricomoníase em pacientes infectadas pelo HIV apresenta melhores taxas de sucesso do que os esquemas em dose única: METRONIDAZOL 500mg, via oral, de 12 em 12h, por 7 dias • Alergia e Efeitos Adversos: ▪ A associação entre álcool e Imidazólicos pode produzir reação alérgica intensa (Dissulfiram-like), sendo fundamental alertar as pacientes para esse risco ▪ A abstenção do álcool preconizada é por até 24h após o fim do tratamento com Metronidazol e 72h após o fim do tratamento com Tinidazol ➢ TRICOMONÍASE RECORRENTE: • A resistência do Trichomonas vaginalis é de 5% ao Metronidazol e de 1% ao Tinidazol • Nos casos de resistência, opta-se por esquemas mais prolongados de tratamento (7 a 14 dias) • Esquema de Tratamento para Tricomoníase Resistente (CDC, 2015) → pode-se fazer uso de um dos seguintes: METRONIDAZOL 500mg (comprimido): ✓ Dose: 1 comprimido, via oral, a cada 12h, por 7 dias METRONIDAZOL 2g (comprimido): ✓ Dose: 1 comprimido, via oral, dose única diária, por 7 dias TINIDAZOL 2g (comprimido): ✓ Dose: 1 comprimido, via oral, dose única diária, por 7 dias TINIDAZOL 2 a 3g (via oral, dose única diária, por 14 dias) + TINIDAZOL Creme Vaginal CERVICITE INTRODUÇÃO ➢ DEFINIÇÃO: • A cervicite é a inflamação do epitélio colunar cervical (epitélio glandular) • Pode ter etiologia infecciosa ou não infecciosa • É classificada em aguda ou crônica ➢ EPIDEMIOLOGIA: • Está presente em cerca de 30 a 40% das pacientes em ambulatório de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) ➢ O diagnóstico e o tratamento precoces são essenciais → a importância da rápida identificação da cervicite e início do tratamento reside no risco de: • Ascensão do processo infeccioso, podendo resultar em: ▪ Endometrites ▪ Doença Inflamatória Pélvica (DIP), com suas vastas complicações • Transmissão sexual • Aumento significativo do risco de aquisição e disseminação do HIV ETIOLOGIA ➢ ETIOLOGIA INFECCIOSA: • Agentes etiológicos mais frequentes: ▪ Chlamydia trachomatis → Clamídia ▪ Neisseria gonorrhoe → Gonorreia 6 VULVOVAGINITES, CERVICITES E DOENÇA INFLAMATÓRIA PÉLVICA (DIP) Gizelle Felinto • Agentes etiológicos mais raros: ▪ Herpes simplex → Herpes ▪ Trichomonas vaginalis → Tricomoníase ▪ Mycobacterium tuberculosis ▪ Mycoplasma genitalium ➢ ETIOLOGIA NÃO INFECCIOSA: • Irritação mecânica → por pessário, tampão (Ex: absorvente OB), diafragma (para evitar gravidez)... • Irritação química → por látex, duchas ou espermicidas (é um spray que a mulher coloca na vagina após a relação sexual, para matar os espermatozoides) • Radioterapia • Doenças sistêmicas → Es: Síndrome de Behçet, Líquen plano... FATORES DE RISCO ➢ Idade < 25 anos → devido ao fato de que é nessa idade em que as mulheres apresentam o maior número de relações sexuais e de relações desprotegidas ➢ Idade precoce da primeira relação sexual ➢ Não uso de preservativos ➢ Novo parceiro sexual ➢ Paciente portadora de outras ISTs ➢ Passado de Doença Inflamatória Pélvica (DIP) ➢ Parceiro sexual com múltiplos parceiros ➢ Parceiro sexual com IST ➢ Uso de duchas QUADRO CLÍNICO ➢ Em Pacientes Sintomáticas: • Corrimento Genital Purulento ou Mucopurulento • Sangramento durante ou após o coito • Disúria (Uretrite) • Dispareunia • Irritação vulvovaginal ➢ Pacientes Assintomáticas → correspondem a 70 – 80% dos casos de cervicites DIAGNÓSTICO ➢ HISTÓRIA CLÍNICA → deve-se questionar sobre: • Tipo de corrimento vaginal • Sangramento vaginal → durante e após a relação sexual • Dor abdominal ou pélvica • Tempo dos sintomas • Estado estrogênico (ciclo menstrual) ➢ EXAME FÍSICO → a paciente pode apresentar: • Secreção mucopurulenta por endocérvice • Dor à mobilização do colo, útero ou anexos • Colo friável com aspecto variando de acordo com agente etiológico ➢ PATOLOGIAS E MANIFESTAÇÕES: • Cervicite Gonocócica ou por Clamídia: ▪ Cervicite mucopurulenta ▪ Colo uterino edemaciado e friável • Tricomoníase: ▪ Hemorragias pontuadas (colo em morando ou colpite difusa) • Cervicite por Herpes: ▪ Lesões vesiculares difusas ou ulcerações ➢ ACHADOS DE ALARME: • Suspeita de Doença Inflamatória Pélvica (DIP) → presença de: ▪ Sensibilidade à mobilização do colo uterino, útero e anexos ▪ Secreção endocervical purulenta • Lesões Cervicais Erosivas: ▪ Na presença dessas lesões, pode-se pensar em câncer de colo uterino (diagnosticado pelo Papanicolau e Biópsia) ➢ EXAMES COMPLEMENTARES: • A avaliação laboratorial tem alto custo e pode atrasar o início do tratamento • pH Vaginal e Microscopia Salina → são exames mais rápidos • Biologia Molecular (Teste de Amplificação de Ácido Nucléico - NAAT) → muito caro • Coloração pelo Gram → tem 30% de sensibilidade • Cultura para Gonococo em Meio Seletivo (Thayer-Martin Modificado) • Proteína C Reativa (PCR), Elisa e Captura Híbrida para Clamídia → são os mais utilizados TRATAMENTO ➢ CARACTERÍSTICAS: • Tratamento Empírico → para Gonorreia e Clamídia • A paciente deve realizar abstinência sexual por 7 dias • Deve-se tratar os parceiros ➢ GONORREIA: • Tratamento segundo o CDC 2015 → trata-se com a associação dos seguintes medicamentos: CEFTRIAXONA 250mg (via intramuscular em dose única) + AZITROMICINA 1g (via oral em dose única) • Tratamento segundo o Ministério da Saúde (MS) 2015 → trata-se comum dos dois primeiros medicamentos (Ciprofloxacino ou Ceftriaxona) associado à Azitromicina CIPROFLOXACINO 500mg (via oral, dose única) ou CEFTRIAXONA 500mg (via intramuscular, dose única) + AZITROMICINA 1g (via oral, dose única) ➢ CLAMÍDIA → trata-se com uma das seguintes medicações: AZITROMICINA 1g (via oral, dose única) ou DOXICICLINA 100mg (via oral, de 12 em 12h, por 7 dias) COMPLICAÇÕES ➢ COMPLICAÇÕES NA GESTAÇÃO: • Maior risco de Rotura Prematura de Membranas 7 VULVOVAGINITES, CERVICITES E DOENÇA INFLAMATÓRIA PÉLVICA (DIP) Gizelle Felinto • Maior risco de Parto Prematuro • Restrição de Crescimento Intrauterino • Endometrite Puerperal ➢ COMPLICAÇÕES NO RECÉM-NASCIDO: • Conjuntivite • Septicemia • Artrite • Abscessos em couro cabeludo • Pneumonia • Meningite • Endocardite • Estomatite DOENÇA INFLAMATÓRIA PÉLVICA (DIP) INTRODUÇÃO ➢ DEFINIÇÃO: • É o conjunto de sinais e sintomas secundários à ascensão e à disseminação, no trato genital superior, de microrganismos provenientes da vagina ou da endocérvice, podendo acometer útero, trompas, ovários e, por vezes, até outros órgãos pélvicos ✓ Exemplo: em uma cervicite não tratada pode ocorrer ascensão da infecção, que migra para o útero, trompas, ovários e órgãos pélvicos • ETIOLOGIA → a DIP é iniciada por um agente sexualmente transmissível • Neisseria gonorrhoeae* • Chlamydia trachomatis* • Mycoplasma genitalium • Infecção Polimicrobiana mista (facultativa e anaeróbica) *É causada principalmente por esses patógenos FATORES DE RISCO ➢ Múltiplos parceiros ➢ Infecções sexualmente transmissíveis em parceiros ➢ Idade < 25 anos ➢ História prévia de DIP ➢ Método contraceptivo ➢ Estado socioeconômico e estado civil → pois acredita-se que há menor incidência em mulheres casadas, que tem apenas um parceiro sexual ➢ Tabagismo ➢ Alcoolismo e Uso de drogas → estão associados a comportamentos de risco (Ex: relações sem proteção) ➢ Parceiro com uretrite MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ➢ ENDOMETRITE: • Pacientes Sintomáticas: ▪ Descarga vaginal purulenta (corrimento purulento) ▪ Dor abdominal infraumbilical ▪ Dor em topografia anexial → ao toque bimanual ▪ Dor à mobilização do colo uterino ▪ Febre ▪ Sangramento Uterino Anormal (SUA) ▪ Dispareunia ▪ Sintomas urinários • Também podem haver Pacientes Assintomáticas → Ex: paciente pode apresentar apenas o corrimento purulento, sem qualquer sintomatologia ➢ MANIFESTAÇÕES TUBÁRIAS: • Aderências • Oclusão do Lúmen Tubário → o que acarreta uma das principais complicações tardias da DIP, que é a Infertilidade • Abscesso Tubo-ovariano • Abscesso em Fundo de Saco de Douglas • Irritação Peritoneal ➢ SÍNDROME DE FITZ-HUGH-CURTS: • Pequenos abscessos em superfície hepática • Exsudato purulento na cápsula de Glisson • Aderências tipo corda de violino Aderências em forma de corda de violino DIAGNÓSTICO ➢ Não existe teste diagnóstico definitivo! ➢ CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS DA DIP: CRITÉRIOS MAIORES Dor abdominal infraumbilical ou dor pélvica Dor à palpação dos anexos Dor à mobilização uterina ou do colo uterino CRITÉRIOS MENORES Febre > 38,3°C Conteúdo vaginal ou secreção endocervical anormal Leucocitose Massa pélvica Proteína C Reativa (PCR) ou Velocidade de Hemossedimentação (VHS) elevadas > 5 Leucócitos por campo de imersão em secreção de endocérvice Comprovação laboratorial de infecção por Clamídia, Gonococo ou Micoplasma Cervicites - Colo em “pele de onça” → a tricomoníase também causa cervicite - As imagens mais escuras são a coloração pelo gram 8 VULVOVAGINITES, CERVICITES E DOENÇA INFLAMATÓRIA PÉLVICA (DIP) Gizelle Felinto CRITÉRIOS ELABORADOS Evidência histopatológica de endometrite Presença de abscesso tubo-ovariano ou de fundo de saco de Douglas em estudo de imagem (Ultrassonografia ou Ressonância) Videolaparoscopia com evidência de DIP • Para o diagnóstico, deve-se ter pelo menos um dos seguintes: 3 critérios maiores + 1 critério menor ou 1 critério elaborado ➢ Fatores que devem alertar o médico para que se tenha a DIP como hipótese diagnóstica: • Fatores de risco • Febre • Dor à mobilização do colo uterino • Dor anexial • Dispareunia • Corrimento vaginal mucopurulento • Queixas urinárias • Sangramento intermenstrual • Anorexia, náuseas e vômito ➢ EXAMES COMPLEMENTARES: • Teste de gravidez • Hemograma completo • Proteína C Reativa (PCR) e Velocidade de Hemossedimentação (VHS) • Sumário de Urina (EAS) ou Urocultura • Cultura Específica ou Teste de Amplificação de Ácido Nucléico (NAAT) → para saber se tem clamídia ou gonorreia, por exemplo • Sorologias para Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) • Ultrassonografia (USG) Transvaginal → para saber se há abscesso tubo-ovariano ou no fundo de saco de Douglas • Biópsia de Endométrio • Ressonância Nuclear Magnética (RNM) • Videolaparoscopia (VLSC) ESTADIAMENTO ESTADIAMENTO ESTÁGIO 1 Endometrite e Salpingite sem Peritonite ESTÁGIO 2 Salpingite com Peritonite ESTÁGIO 3 Salpingite e Abscesso Tubo-Ovariano ESTÁGIO 4 Abscesso Tubo-Ovariano roto com secreção purulenta em cavidade ou abscesso acima de 10cm ➢ Endometrite = inflamação do endométrio ➢ Salpingite = inflamação das tubas uterinas (trompas) ➢ Estágio 1 → se restringe ao endométrio e às trompas, sem acometer o peritônio ➢ Estágio 2 → acomete endométrio e peritônio ➢ Estágio 3 → já apresenta abscesso tubo-ovariano ➢ Estágio 4 → com abscesso tubo-ovariano roto ou > 10cm TRATAMENTO ➢ TRATAMENTO DA DIP SEGUNDO O MINISTÉRIO DA SAÚDE (MS) 2015: • Tratamento Ambulatorial → associação das seguintes medicações: CEFTRIAXONA 500mg (intramuscular, dose única) + DOXICICLINA 100mg (1 comprimido, via oral, de 12 em 12 horas, por 14 dias) + METRONIDAZOL 250mg (2 comprimidos, via oral, de 12 em 12 horas, por 14 dias) • Tratamento Hospitalar → associação das seguintes medicações: CEFOXITINA 2g (endovenoso, de 6/6 horas, por 14 dias) + DOXICICLINA 100mg (1 comprimido, via oral, de 12/12 horas, por 14 dias) ➢ CRITÉRIOS PARA TRATAMENTO HOSPITALAR (Internação): • Quando emergências cirúrgicas não podem ser excluídas • Presença de abscesso tubo-ovariano • Quadro grave com sintomas de peritonite, náuseas, vômitos ou febre alta • Gestantes com DIP • Pacientes imunocomprometidas • Ausência de resposta adequada ao tratamento ambulatorial após 72h → Ex: paciente do estágio 1 em que se iniciou o tratamento ambulatorial, mas não se obteve resposta adequada após 72h • Intolerância ou baixa adesão ao tratamento ambulatorial ➢ CRITÉRIOS PARA TRATAMENTO CIRÚRGICO: • Falha no tratamento clínico • Presença de massa pélvica que persiste ou aumenta mesmo após o tratamento clínico • Suspeita de rotura de abscesso tubo-ovariano • Hemoperitônio • Abscesso em fundo de saco de Douglas SEQUELAS TARDIAS DA DIP ➢ Infertilidade → pois a DIP pode obstruir as trompas ➢ Gravidez Ectópica → pois a DIP pode deixar o espaço das trompas mais “apertado”. Nesse caso, pode ocorrer a fecundação, mas o óvulo não migra para a cavidade endometrial, causando uma gravidez ectópica ➢ Dor Pélvica Crônica → mesmo com o tratamento, algumas pacientes podem apresentar dor pélvica crônica após serem curadas da DIP ➢ Dispareunia ➢ Recorrência de Doença Inflamatória Pélvica (DIP) ➢ Fase Crônica da Síndrome de Fitz-Hugh-Curtis
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