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A FOME E AS OPÇÕES BRASILEIRAS DE PACTO E PROTEÇÃO SOCIAL

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17
		SERVIÇO SOCIAL
nome do (s) autor (es) em ordem alfabética
A FOME E AS OPÇÕES BRASILEIRAS DE PACTO E PROTEÇÃO SOCIAL
Cidade
2021
nome do (s) autor (es) em ordem alfabética
A FOME E AS OPÇÕES BRASILEIRAS DE PACTO E PROTEÇÃO SOCIAL
Trabalho apresentado à Universidade Norte do Paraná - UNOPAR, ao Curso de Serviço social como requisito parcial para a obtenção de média bimestral nas disciplinas de Antropologia,  Ciência Política,  Fund. Hist. Teór. e Met. do Serviço Social II, Sociologia crítica.
Professores: Elias Barreiros
Maria Gisele Alencar
Paulo Sérgio Aragão
Stefanny Feniman
Cidade
2021
SUMÁRIO
1	INTRODUÇÃO	3
2	DESENVOLVIMENTO	4
2.1	PASSO 01	4
2.2	PASSO 02	5
2.3	PASSO 03	6
2.4	PASSO 04	7
2.5	PASSO 05	8
3	CONCLUSÃO	9
REFERÊNCIAS	10
INTRODUÇÃO
A proposta de Produção Textual Interdisciplinar em Grupo (PTG) terá como temática “A fome e as opções brasileiras de pacto e proteção social”.
Os sistemas de proteção social foram implantados inicialmente em alguns países europeus com o objetivo de atender demandas sociais que cresciam com a expansão do sistema de produção capitalista, especialmente após a maturação da revolução industrial e consolidação da divisão social do trabalho. Tal sistemas se propuseram a disponibilizar um conjunto de serviços públicos com a função de melhorar a condição social das pessoas.
A trajetória desses sistemas é extremamente complexa, uma vez que incorporam ações e políticas nem sempre idênticas ao longo do tempo. Historicamente, pode-se mencionar as iniciativas inglesas das Poor Laws e os seguros sociais alemães do tempo de Bismarck até o moderno Estado de Bem-Estar Europeu do pósguerra que, de uma maneira geral, explicitam mais amplamente um conjunto de políticas públicas de proteção social. Isso significa a existência de diversas formas de construção e expansão de políticas, em sua maioria de cunhos sociais, e que pretendiam e buscavam ser universalizantes.
Desta forma, para se compreender melhor a trajetória das políticas brasileiras de proteção social, que sequer chegaram a formar um verdadeiro sistema de proteção, discute-se inicialmente a trajetória desses sistemas em termos mundiais e também no âmbito da América Latina. 
DESENVOLVIMENTO
As organizações formais e complexas, específicas da modernidade e enquanto sistemas construídos pelos atores sociais, revestem formas históricas ao mesmo tempo semelhantes e dissemelhantes. Elas podem e devem ser estudadas na sua realidade complexa, a partir de diferentes ângulos disciplinares. 
Assim, todas as Ciências Humanas e Sociais se têm preocupado em estudar e em compreender o mundo das organizações. A história das diferentes teorias e escolas da organização, desde as clássicas, passando pela escola das relações humanas e do comportamento organizacional, até às perspectivas contingenciais, e estratégicas, sem esquecer a perspectiva da cultura e da identidade organizacional, é a história da busca incessante de lógicas e de modelos nacionalizadores e compreensivos da ação organizada, ao mesmo tempo racional, estruturada em ordem a fins estabelecidos, como também informal, anárquica, não-racional e emotiva.
Como multidisciplinar que é, o estudo e as teorias das organizações poderão ser enquadrados por dois paradigmas fundamentais, para utilizar a linguagem de Kuhn, a saber, o paradigma estrutural-funcionalista e o paradigma crítico e radical.
O paradigma estrutural-funcionalista, sistematizado e desenvolvido na sequência da Sociologia parsoniana, privilegia a concepção da organização como um sistema racional, ordenado e integrado. A organização, na sua conceção sistémica e sincrónica, é vista como um corporate group, como uma coletividade, como um sistema cooperativo, ou então como um sistema social. 
O conflito, as contradições estruturais, a historicidade e as estratégias dos diferentes profissionais, como as lógicas do poder, estão naturalmente desvalorizados no quadro deste modelo de análise. Por sua vez, a perspectiva crítica coloca em destaque as contradições estruturais, os fenómenos de conflito e de tensão, a inadequação e a descoordenação funcional, bem como os aspetos políticos da organização, o poder, sem esquecer as mudanças sistémicas que perpassam, sobretudo hoje, as organizações.
O paradigma crítico e radical, como hipótese de análise social, sem esquecer a sociologia dialética, é sobretudo tributário dos homens que fizeram a Escola de Frankfurt, como H. Marcuse e J. Habermas. A tentação clássica de se encontrar uma "boa" teoria da organização, one best way, ou um modelo de racionalidade optimal e crescente, está definitivamente ultrapassada. A organização é uma estrutura sistémica, um quadro organizado e estável de meios adequados a fins, como um processo histórico e social no seio do qual os atores sociais desenvolvem as suas estratégias, negoceiam os seus interesses, constroem as suas identidades profissionais. 
O futuro da teoria organizacional aponta para a valorização dos processos de mudança, de adaptação contínua ao meio, de desestruturação da ação coletiva e de precariedade dos quadros normativos e formais. O "emagrecimento" organizacional, a desconcentração espacial, a flexibilização funcional e departamental estarão na ordem do dia. 
O paradigma da mudança e da não diferenciação funcional, como a valorização dos aspetos não racionais, será talvez uma hipótese mais operacional para orientar a compreensão das organizações.
O mundo do trabalho vem passando, nas últimas décadas, por diversas 
mudanças e, consequentemente novas formas de organização do trabalho surgem, 
chegando a ocorrer o desmantelamento de empregos que seriam permanentes. 
Concomitantemente, aparecem novas tecnologias e outros modelos de organização 
do trabalho. 
Assim, diante de tantas transformações, falar em significado do trabalho é envolver conceitos e valores. Transformações estas que, precarizam as relações de 
trabalho, resultando em um “universo do não-trabalho, o mundo do desemprego” 
(Antunes, 2005, p.139). Os que encontram trabalho o exerce muitas vezes, de forma 
temporária, precária, flexível, desregulamentada, força de trabalho intensificada, 
com perdas de direitos trabalhistas e sociais, trazendo aos trabalhadores uma vida 
de labor instável, tensa, podendo acarretar comprometimento à sua saúde. Também, na esfera pública, a gestão calcada no modelo gerencialista as palavras de ordem no processo de trabalho são: qualidade, produtividade, autonomia, criatividade, versatilidade e flexibilidade. 
Albornoz (1994) afirma que, em português, os termos labor e trabalho, encontram na palavra trabalho ambas significações: a de realizar uma obra que o expresse, que dê reconhecimento social e permaneça além da tua vida; e a do esforço rotineiro e repetitivo, sem liberdade, de resultado consumível e incômodo 
inevitável. 
Marx, em sua compreensão sobre o trabalho, afirma que, o trabalho é 
presumido em uma forma que o caracteriza como ser exclusivo do Ser Humano, 
caracterizado por uma qualidade específica sendo diferente de um simples labor 
animal. (ANTUNES, 2005, p.140). Ainda, como define no Capítulo V, de O capital: “o 
trabalho é, assim, uma condição de existência do homem, independente de todas as 
formas sociais, eterna necessidade natural de mediação do metabolismo entre 
homem e natureza e, portanto, da vida humana.” (MARX, 2013, p. 255). Porém, sob 
o ditame da mercadoria, o significado de condição de existência, de atividade vital 
para a existência humana transfigura-se em ação “imposta, extrínseca e exterior, 
forçada e compulsória”. (ANTUNES, 2005, p. 138). 
Ao trazer a dimensão contraditória presente no mundo do trabalho na atualidade, Antunes (2005) nos refere que o trabalho é fonte de criação e ao mesmo tempo “subordina, humaniza e degrada, libera e escraviza, emancipa e aliena”. E,diante de todas as transformações vivenciadas no mundo do trabalho neste século, a questão em xeque é darsentido ao trabalho, no entanto, fazendo com que a vida tenha sentido fora do trabalho. 
Ao consideramos o trabalho como “o momento fundante da sociabilidade humana como ponto de partida do processo de seu processo de humanização, pode afirmar também que na sociedade capitalista, o trabalho se torna assalariado, assumindo a forma de trabalho alienado. Aquilo que era uma finalidade básica do ser social – a busca de sua realização produtiva e reprodutiva no e pelo trabalho – transfigura-se e se transforma. O processo de trabalho se converte em meio de subsistência e a força de trabalho se torna, como tudo, uma mercadoria especial, cuja finalidade vem a ser a criação de novas mercadorias objetivando a valorização do capital. (ANTUNES, 2005, p. 69). 
No escopo das mudanças vivenciadas no mundo trabalho, esse autor enfatiza que resultado disso é um grande índice de desemprego, levando os trabalhadores à busca de realização de trabalhos parciais, precários, temporários como alternativa à sua sobrevivência, á sua dignidade enquanto ser social e, consequentemente traz sérios prejuízos à sua condição de vida refletindo diretamente na saúde deste trabalhador. 
Há de se considerar que, mesmo dentro dessa fragilidade vivenciada, Antunes (2005, p. 139) não acredita que estejamos “na finitude do trabalho” e o desafio é entender o que denomina por “nova morfologia ou a nova polissemia do trabalho”, pois a partir daí será possível trazer à tona as relações que são exteriorizadas no mundo do labor tratando da sua centralidade, sociabilidade apesar de expressar formas “dominantes de estranhamento e alienação”. 
No entanto, chama a atenção quando a vida humana é representada tão somente pelo trabalho. Se assim for 
ela frequentemente se converte num esforço penoso, alienante, aprisionando os indivíduos de modo unilateral. Se, por um lado, necessitamos do trabalho humano e reconhecemos seu potencial emancipador, devemos também recusar o trabalho que explora, aliena e infelicita o ser social. Essa dimensão dúplice e dialética, presente no trabalho, é central quando se pretende compreender o labor humano. O que nos diferencia enormemente dos críticos do fim ou mesmo da perda de significado do trabalho na contemporaneidade. (ANTUNES, 2005, p. 139). 
Hoje, o computador, o celular, o micro-ondas, a televisão de tela plana, o refrigerador, entre tantos outros aparelhos eletrônicos fazem parte de nosso cotidiano, a ponto de não imaginarmos mais nossas vidas sem a comodidade que eles nos proporcionam. Porém, até meados do final da primeira metade do século XX, esta não era a realidade da sociedade brasileira.
Predominava no Brasil uma população rural, voltada ao trabalho do campo e a uma vida simples, com quase nenhuma tecnologia à disposição, com exceção de alguns raros aparelhos de rádio. As concentrações urbanas como conhecemos hoje não haviam se formado ainda, pois, embora já existissem cidades como São Paulo, o processo de industrialização ainda era incipiente. Já havia muitas indústrias em São Paulo no início do século passado, mas a ideia de pujança econômica, de progresso, de modernização da produção, apenas seria realidade em meados da década de 50, fato que se comprova na instalação de grande parque industrial, principalmente da indústria automobilística na região do ABC paulista.
Nos anos 50 vivemos os governos de Getúlio Vargas (que se matou em 1954) e de Juscelino Kubitschek, os quais, em linhas gerais, fomentaram o processo de industrialização nacional pela substituição de importações (iniciado por Vargas); pela abertura ao capital externo para investimento; pelo planejamento estratégico (como no caso de JK.); pela construção de uma infraestrutura como rodovias, hidroelétricas, aeroportos; pela promoção da indústria de base e de produção de bens de capitais, fundamentais para produção nacional. Um dos símbolos maiores deste processo de modernização foi a construção de Brasília, nova capital do país inaugurada no início dos anos 60.
Do ponto de vista da cultura e do imaginário social, acreditava-se que o Brasil estava a caminho de se tornar uma nação moderna, principalmente ao adotar um padrão de vida ao mesmo tempo muito diferente da vida rural e muito próximo ao modelo consumista do capitalismo norte-americano. No cotidiano das donas de casa estavam presentes toda a sorte de “aparelhos modernos” como liquidificador, batedeira, fogão a gás, televisores, enceradeiras, sem contar os produtos industrializados como alimentos, bebidas, artigos de higiene pessoal e beleza etc. Além disso, os meios de comunicação como o cinema, a televisão e o rádio difundiam-se cada vez mais, sendo fundamentais na disseminação de uma pensamento nacionalista e da ideologia de um país rumo ao progresso.
Todas estas transformações econômicas foram acompanhadas, obviamente, por outras tantas transformações sociais. Exemplo disso está o forte processo de êxodo rural daquela mesma população outrora concentrada no campo, a qual, em busca de trabalho, chegou aos grandes centros urbanos. Este processo de urbanização geraria mais tarde, como sabemos, o inchaço das cidades, acarretando em problemas sociais que até hoje são enfrentados pelo Estado, como falta de moradia, assistência social (saúde e educação), de transporte coletivo de qualidade, isso sem falar dos níveis de desemprego.
A despeito disso, é inegável que os anos de 1950 sejam de fato um divisor de águas para compreensão de nossa história, de nossa sociedade. Os rumos tomados pela nação neste período não apenas se diferenciavam do passado como certamente refletiriam na construção do futuro.
Nos anos 1940 e 1950, o Serviço Social brasileiro recebe influência norteamericana. Marcado pelo tecnicismo, bebe na fonte da psicanálise, bem como da sociologia de base positivista e funcionalista/sistêmica. Sua ênfase está na ideia de ajustamento e de ajuda psicossocial. Neste período há o início das práticas de Organização e Desenvolvimento de Comunidade, além do desenvolvimento das peculiares abordagens individuais e grupais. Com supervalorização da técnica, considerada autônoma e como um fim em si, e com base na defesa da neutralidade científica, a profissão se desenvolve através do “Serviço Social de Caso”, “Serviço Social de Grupo” e “Serviço Social de Comunidade”.
Nos anos 1960 e 1970, há um movimento de renovação na profissão, que se expressa em termos tanto da reatualização do tradicionalismo profissional, quanto de uma busca de ruptura com o conservadorismo.
O Serviço Social se laiciza e passa a incorporar nos seus quadros segmentos dos setores subalternizados da sociedade. Estabelece interlocução com as Ciências Sociais e se aproxima dos movimentos “de esquerda”, sobretudo do sindicalismo combativo e classista que se revigora nesse contexto.
Profissionais ampliam sua atuação para as áreas de pesquisa, administração, planejamento, acompanhamento e avaliação de programas sociais, além das atividades de execução e desenvolvimento de ações de assessoria aos setores populares.
Cresce o questionamento da perspectiva técnico-burocrática, por ser esta considerada como instrumento de dominação de classe, a serviço dos interesses capitalistas. Com os ventos democráticos dos anos 1980, inaugura-se o debate da ética no Serviço Social, buscando-se romper com a ética da neutralidade e com o tradicionalismo filosófico fundado na ética neotomista e no humanismo cristão.
Assume-se claramente, no Código de Ética Profissional aprovado em 1986, a ideia de “compromisso com a classe trabalhadora”. O Código traz também outro avanço: a ruptura com o corporativismo profissional, inaugurando a percepção do valor da denúncia (inclusive a formulada por usuários).
Fica claro, hoje, que o Estado brasileiro, ao contrário das nações européias, nunca foi capaz de expressar sua própria história e que tem sido, antes de mais nada, um receptor aberto da história do Ocidente desenvolvido. Com efeito, a compreensão da especificidade histórica do país é condição indispensável para reconceituar o sentido da políticae a natureza das relações sociais aí existentes. 
Frequentemente se constata, na bibliografia sobre a evolução do Estado no Brasil, e com certa razão, a influência de um passado de instabilidade política e econômica, bem como de um legado autoritário que tem obstaculizado a construção de uma cultura política verdadeiramente democrática no País. 
Uma perspectiva teórica que dominou o pensamento político brasileiro por muito tempo dizia respeito ao impacto dos fatores étnico-culturais na formação da sociedade brasileira. Essa abordagem, denominada culturalista, trabalhando no plano simbólico-ideológico, examinou de que forma se institucionalizou o poder político no Brasil. Dessa perspectiva procurava encontrar as raízes do caráter nacional da nação. 
Entre os autores mais significativos associados a esta linha de pensamento encontram-se Joaquim Nabuco, Alberto Torres, Oliveira Viana, Azevedo Amaral, Gilberto Freire, Guerreiro Ramos e Francisco Campos. O ponto de convergência entre eles está na tentativa de resgatar as matrizes estruturais da sociabilidade brasileira. O fator preponderante desta linha de análise é a influência do clientelismo, o personalismo e a incapacidade do povo na suposta incapacidade da sociedade em se mobilizar autonomamente para fiscalizar e modificar o processo político. A forma de evolução do Estado teria propiciado a socialização de valores de distanciamento e apatia tornando sua influência na política improvável. Essa tendência não participativa era consequência de governos e de uma estrutura social que favoreciam muito mais a desmobilização e a inércia do que a participação cidadã. Estabeleceu-se um consenso generalizado de que o país não tinha capacidade de reformar efetivamente as estruturas tradicionais do Estado, gerando um descompasso entre um acelerado desenvolvimento econômico e uma estagnação do desenvolvimento político, materializado na ausência de uma cidadania organizada e eficaz na defesa de seus interesses, o que somou uma deficiente mediação entre Estado-sociedade e partidos. 
Tais elementos deram suporte ao surgimento da tecnocracia, que serviria de eixo catalisador do "desenvolvimento" do País a partir dos anos 50, colocando a participação popular como algo secundário. 
A tecnocracia surge, portanto, como o principal ator da industrialização no Brasil. Assim, enquanto o núcleo das decisões estatais ficou a cargo dos técnicos insulados nas agências estatais, deixou-se o espólio do sistema para o uso da política de clientela e do corporativismo; práticas que seriam realizadas, aí sim, pela classe política situada no parlamento. Como o parlamento passa a desempenhar um papel historicamente secundário na esfera das grandes decisões estatais no Brasil, decorrente dessa dinâmica, a hipertrofia do poder Executivo passa a ser uma característica prevalecente no Brasil. 
Uma das consequências desse tipo de pensamento culturalista, por exemplo, foi a sugestão de Oliveira Viana e de seus seguidores de que somente um sistema autoritário e centralizador poderia construir o verdadeiro Estado nacional. 
Nesse sentido, o Estado, dominado pela tecnocracia e por procedimentos clientelísticos, personalistas e corporativistas, propicia a institucionalização do chamado Estado Patrimonialista (Uricoechea, 1978). 
Quanto ao patrimonialismo, encontra-se na obra de Raymundo Faoro (1989) um dos principais trabalhos acerca desse tema. Para o autor, o atraso político brasileiro, do ponto de vista da incorporação da sociedade civil, tem a ver com a forma de estruturação da burocracia no país. Fruto do avanço sistemático do poder político no controle da economia e da diferenciação social, o patrimonialismo ou o mercantilismo estatal destruiu a institucionalização dos direitos individuais. Os burocratas da corte passaram a ter status maior do que os da fidalguia, que perdem seu poder econômico durante o processo de expansão comercial. 
Esse conjunto de fatores da sociabilidade brasileira propiciou, segundo Buarque de Holanda (1992), o estabelecimento de quatro elementos que caracterizaram a organização social brasileira: ausência da tendência de autogoverno, a qual significava a ausência de solidariedade comunitária e de maneiras espontâneas de auto-organização política; virtudes inativas, ou seja, o ser social não reflete ativamente para transformar a realidade, mas procura uma razão externa a sua existência; e razão reflexiva, a qual provoca um pensamento que impede rompimentos, sustenta uma consciência conservadora e um domínio dos interesses pelas paixões. 
De acordo com essa concepção, a sociabilidade brasileira nasceu influenciada pela pirâmide familiar, tendo como fundamento a organização patriarcal, a fragmentação social, as lutas entre as famílias, as virtudes inativas e a Ética da aventura. Originalmente o caudilhismo e, posteriormente, o coronelismo, que implicava a existência de lideranças carismáticas, substituíam a racionalidade dos interesses individuais e estabeleciam a matriz sobre a qual a organização social e as fundações da política e do Estado foram delineadas. 
Com efeito, na medida em que as relações afetivas ou familiares precederam a constituição do espaço público, o poder público incorporou uma dimensão personalista em que o carisma-onipotente e a dependência do homem comum geraram uma atitude instrumental em relação à política. 
Nos anos 80, a abordagem culturalista solidifica-se com a obra de Roberto DaMata (1993) em sua análise dos fenômenos sociais e da linguagem, examinando as causas da desigualdade e das formas de hierarquia existentes no Brasil. Já no exame das representações sociais e das concepções de cidadania, verifica-se o confronto da autoridade social, baseada, de um lado, no personalismo e na identidade vertical, e, de outro, na lei positiva. Nesse contexto, segundo DaMata, enquanto o conhecido medalhão determina as iniciativas da ação coletiva, o personalismo, como modelo típico desse tipo de relações sociais, institucionaliza-se. 
A conclusão do autor é a de que a sociedade brasileira pode ser caracterizada como sendo híbrida, pois combina uma identidade horizontal, tipicamente ocidental e baseada no direito natural, com uma identidade vertical, característica das sociedades não-ocidentais, nas quais predominam as tradições e a continuidade cultural. 
Perspectiva diferente, na dimensão institucional, apresenta Raymundo Faoro na obra Os donos do poder (1989), em que caracterizava o Estado no Brasil como uma extensão do patrimonialismo ibérico, um poder imposto a uma sociedade dominada pela política de manutenção do poder vigente. 
Nesse sentido, pode-se dizer que a experiência política brasileira tem se caracterizado pela predominância de formas autoritárias de governo, gerando, como conseqüência, uma restrição às possibilidades de uma participação política mais efetiva. O impacto do autoritarismo, ao longo das últimas décadas, não permitiu que se desenvolvesse um cenário no qual a ingerência da sociedade civil no Estado fosse significativa. Após 1974, com o processo de abertura política, o país atravessaria fases com amplas manifestações de massa, dentre elas a marcha pelas diretas, em 1984; as manifestações pelo impeachment do presidente Collor; a CPI dos anões, e as várias CPIs que têm se instalado ao longo do tempo. Esses acontecimentos, entretanto, que em outras circunstâncias poderiam constituir matrizes capazes de catalisar modalidades de participação mais duradouras e objetivas, acabam sendo relegados a um segundo plano em relação às crises econômica e social que vêm abalando o país, apesar da existência de indicadores estatísticos que mostram uma expansão industrial e uma recuperação da economia. 
Desse modo que a formação política nacional impactou no agravamento das desigualdades profundas, neste contexto de pandemia, e historicamente, os instrumentos necessários para uma construção democrática caracterizada pela participação política estavam ausentes ou funcionavam de maneira precária ou com predisposições ideológicas determinadas.Um dos instrumentos de grande impacto, nesse sentido, são os meios de comunicação. Ao lado disso, o(s) sistema(s) partidário(s) frágil(eis) e com pouca credibilidade não têm constituído um instrumento de canalização, de mobilização e de participação política. Nesse contexto, os pleitos eleitorais têm se caracterizado, ao longo do tempo, por apelos subjetivos, emocionais, personalistas e clientelistas. 
O problema da fome no Brasil neste início do século XXI está relacionado com uma insuficiência de demanda efetiva, que inibe a maior produção de alimentos por parte da agricultura comercial e da agroindústria do País. As razões que determinam essa insuficiência da demanda efetiva ¾ concentração excessiva da renda, baixos salários, elevados níveis de desemprego e baixos índices de crescimento, especialmente daqueles setores que poderiam expandir o emprego ¾ não são conjunturais. Ao contrário, são estruturais, ou seja, endógenas ao atual padrão de crescimento e, portanto, resultados inseparáveis do modelo econômico vigente. Forma-se, assim, verdadeiro ciclo vicioso e acumulativo, causador em última instância do aumento da fome no País, qual seja, desemprego, queda do poder aquisitivo, redução da oferta de alimentos, mais desemprego, maior queda do poder aquisitivo, maior redução na oferta de alimentos. 
Para romper esse ciclo perverso, é preciso a intervenção do Estado com um autêntico programa keynesiano, de modo a incorporar ao mercado de consumo de alimentos aqueles que estão excluídos do mercado de trabalho e/ou que têm renda insuficiente para garantir uma alimentação digna a suas famílias. 
Trata-se, em suma, de criar mecanismos ¾ alguns emergenciais, outros permanentes ¾ no sentido de: baratear o acesso à alimentação para a população de mais baixa renda, em situação de vulnerabilidade à fome; incentivar o crescimento da oferta de alimentos baratos, mesmo que seja através do autoconsumo e/ou da produção de subsistência; e, finalmente, incluir as famílias através do aumento da renda, da universalização dos direitos sociais e do fornecimento de direitos de compra de alimentos, dado que o acesso à alimentação básica é direito inalienável de qualquer ser humano, para não falar do direito de cidadão, que deveria ser garantido a todos os brasileiros. 
Para o equacionamento definitivo do problema da fome, é necessário, conforme foi dito, um novo modelo econômico que privilegie o crescimento do mercado interno e que diminua a extrema desigualdade de renda existente no País. Enquanto isso é buscado, pode-se implementar uma série de políticas que promovam melhorias na renda das famílias, barateamento da alimentação, aumento da oferta de alimentos básicos e, simultaneamente, forneçam de forma emergencial alimentos à população vulnerável à fome. 
Esquema de uma Política Integrada de Combate à Fome: 
Melhoria da Renda ¾ As iniciativas de fornecimento de renda para as famílias carentes (através de programas de renda mínima, bolsa-escola e previdência social universal) são importantes para a melhoria da renda familiar, mas sozinhas não conseguem solucionar o problema alimentar de segmentos importantes da população carente. Associam-se, também, a este grupo, programas de geração de emprego e renda, a reforma agrária, com o papel fundamental de fornecer "casa, comida e trabalho" às famílias rurais mais pobres, e políticas de estímulo à produção de alimentos para o autoconsumo, como fornecimento de mudas, sementes, insumos, matrizes de pequenos animais, etc. 
Barateamento da Alimentação ¾ As iniciativas dos restaurantes populares, que fornecem refeições prontas a preço baixo (R$ 1,00 a R$ 2,00) à população trabalhadora que mora nas periferias das grandes cidades, têm tido sucesso no barateamento da alimentação que é realizada fora de casa. Outra iniciativa importante é a dos canais alternativos de comercialização, como varejões, feiras livres, sacolões, feira do produtor, compras comunitárias que fornecem alimentos de qualidade e de baixo custo, pela redução da intermediação. A formação de centrais de compras nas periferias em parcerias com o poder público, agregando pequenos supermercados para racionalizar a logística e diminuir seus custos, visando à redução dos preços finais, é alternativa a ser incentivada. Parcerias com as redes de varejo de vizinhança são possíveis em programas como os cupons-alimentação, como será apresentado nas ações emergenciais. Por fim, é preciso ampliar o Programa de Alimentação do Trabalhador ¾ PAT, de modo a atender também os empregados das micro e pequenas empresas. 
Ações Específicas ¾ Paralelamente às ações já apontadas, é necessário atender, de forma emergencial, as famílias que já sofrem o efeito da fome e/ou que sejam vulneráveis a ela, por não ter renda para se alimentar adequadamente. Esses programas específicos devem atender todas as famílias com renda insuficiente para alcançar a segurança alimentar. A exemplo do programa americano Food Stamp, que fornece às famílias pobres selos (ou vales) para compra de alimentos no comércio local, propõe-se que sejam fornecidos cupons de alimentação para as famílias completarem sua renda até o valor correspondente ao da Linha de Pobreza de cada região do País. Esses cupons poderão ser trocados por alimentos em estabelecimentos cadastrados, e podem ser geridos conjuntamente pelo governo federal e por governos estaduais e municipais. Além de fornecer meios para as famílias se alimentarem, o programa visa incentivar o comércio local (através de parcerias com os estabelecimentos cadastrados) e o consumo de produtos naturais (através de centrais de compras em parceria com associações de produtores agrícolas), permitindo, ao mesmo tempo, que cada família construa o próprio cardápio. O programa de cestas básicas deve ser mantido, mas assumindo caráter exclusivamente emergencial, para aqueles segmentos da população atingidos por calamidades naturais (secas e enchentes) e para os novos assentados de reforma agrária, até que se desenvolva o comércio local e as famílias possam ser atendidas pelo programa do cupom-alimentação. O fornecimento das cestas básicas emergenciais poderá ser garantido pela instituição de estoques públicos de segurança alimentar, conforme defendido por organismos internacionais como a FAO, desvinculados dos estoques agrícolas destinados a evitar oscilações de preços. Além desses, devem-se manter programas nas áreas de saúde, com o acompanhamento da situação nutricional de crianças e adultos e o fortalecimento da ação do Sisvan (Sistemas de Vigilância Nutricional) nos municípios, de forma a monitorar a situação de carência alimentar das famílias de baixa renda. 
Combate ao Desperdício ¾ Especialmente nas grandes cidades, verifica-se a existência de uma rede de produção e desperdício de alimentos prontos ou não que, mesmo em boas condições, são jogados fora. A criação dos Bancos de Alimentos é uma forma de aproveitamento dessas sobras, atuando no recolhimento e distribuição a associações beneficentes ou diretamente a famílias carentes. Iniciativas como essa funcionam em São Paulo (Programa Mesa São Paulo, do Sesc, e na Prefeitura de Santo André, por exemplo) e em várias outras capitais. 
Aumento da Oferta de Alimentos Básicos ¾ A implantação conjunta dos programas de melhoria na renda, barateamento da alimentação e das ações emergenciais irá, certamente, aumentar muito a demanda por alimentos no País. Nesse caso, serão necessários programas de estímulo aos agricultores familiares, através do redirecionamento de créditos agrícolas, do incentivo à agricultura urbana com programas de zoneamento que permitam aproveitar terrenos para implantação de hortas. Através da criação de canais de venda dos produtos, compras institucionais (merenda, hospitais, presídios e programas do cupom-alimentação) e parceiras com supermercados (estímulo a compras de produtores locais), pode-se incentivar o acesso dos agricultores familiares aos mercados locais. 
CONCLUSÃO
Ao longo do texto vimos que a trajetória de implementação do Sistema de ProteçãoSocial caminhou no sentido de promover melhorias nas condições de vida da população, especialmente da classe trabalhadora. Assim, foram constituídos em várias partes do mundo, particularmente no pós-guerra, sistemas que foram capazes de atender as demandas sociais da população pobre, de tal forma que a pobreza e a exclusão passaram a ter uma tendência regressiva.
No caso brasileiro nota-se a lenta trajetória de organização de um sistema mínimo de proteção social forjado até a década de 1980. A partir desse período, a crise econômica, por um lado, e a ideologia neoliberal, por outro, colocaram em xeque até mesmo os desígnios do capítulo dos Direitos Sociais presentes na Constituição de 1988. Com isso, verificamos que um sistema com características universalizantes não conseguiu ser estabelecido no país, além do que os problemas de financiamento desse sistema permaneceram recorrentes, ao mesmo tempo em que a diversidade de demandas sociais do país não pôde ser atendida.
É nesse contexto que deve ser compreendida a ação do governo Temer que visa reintroduzir no cenário nacional a concepção de Estado Mínimo. A Emenda Constitucional 95 (BRASIL, 2016b), aprovada pelo Congresso Nacional em 2016, é o maior exemplo de regressão social, uma vez que congela os gastos primários do governo (saúde, educação, assistência social, cultura, esporte, defesa nacional etc.) por um período de vinte anos, o que significa, na prática, o adeus ao desenvolvimento social do País. Isto porque estima-se que para os próximos 10 anos (2016-2025), somente nas áreas de saúde e educação, deverá ocorrer uma redução dos gastos per capita da ordem de 6%. O fato é ainda mais grave se considerarmos que o ritmo de crescimento populacional, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2018), deverá ser de 0,8% ao ano nesse período, o que significa que mais de 20 milhões de pessoas estarão demandando serviços sociais governamentais.
Além disso, a mudança constitucional atingiu fortemente a política de valorização do salário mínimo que estava em curso no país desde 2004. Com isso, busca-se desvincular as correções do salário mínimo das taxas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), como forma de reduzir as despesas previdenciárias e assistenciais e, ao mesmo tempo, garantir o aumento das taxas de lucros das empresas. Na prática, essas medidas irão reduzir efetivamente o poder de compra da classe trabalhadora e, em consequência, provocar a ampliação da desigualdade social.
REFERÊNCIAS
PFEFFER, Renato Somberg. Cultura política patrimonialista e assistência social no Brasil: uma abordagem teórica. Mosaico – Volume 9 – Número 15 – 2018. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/6774483.pdf Acesso em ago. 2021.
ABRAMIDES, Maria Beatriz Costa. 80 anos de Serviço Social no Brasil: organização política e direção social da profissão no processo de ruptura com o conservadorismo. Serviço Social & Sociedade. N 127. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sssoc/a/sdGtjJNHNJQrfKn5zZKf4Sd/?lang=pt
CASTRO, Josué. “A fome”. Disponível em: <https://www.pjf.mg.gov.br/conselhos/comsea/publicacoes/artigos/arquivos/art_fom
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MENDONÇA, Marina Gusmão. “Fome e pandemia: a atualidade de Josué de Castro”. In:
Nexo Políticas Públicas [online]. Publicado em 11 de junho de 2021, 15h28. Disponível
em: <https://pp.nexojornal.com.br/opiniao/2021/Fome-e-pandemia-a-atualidade-de-
Josu%C3%A9-de-Castro> Acesso: ago. 2021.

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