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O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO SOB A CONCEPÇÃO DE MARIA MONTESSORI Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Pós-graduação em Alfabetização e Letramento pelo Centro Universitário Montes Belos, orientado pela professora Elba Siqueira Barbosa Sabino. SÃO LUIS DE MONTES BELOS – GO 2020 O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO SOB A CONCEPÇÃO DE MARIA MONTESSORI1 RESUMO: O presente artigo tem como finalidade descrever os desafios da alfabetização e letramento, bem como, o processo de alfabetização sob a concepção de vários autores em especial de Maria Montessori. Será analisado quando e porque o surgimento do letramento e da alfabetização, identificar os métodos facilitadores para a aprendizagem do aluno no processo de alfabetização, estabelecer a relação entre alfabetização e letramento e, por fim, analisar a contribuição do letramento para a construção da escrita e para a integração da criança na sociedade. Para tanto, conclui – se que os processos de alfabetização e letramento são indispensáveis no processo de alfabetização. Palavras chaves: Alfabetização, letramento, Maria Montessori. 1 Este trabalho é requisito parcial para conclusão do curso Pós - graduação em Psicopedagogia e traz como título: O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO SOB A CONCEPÇÃO DE MARIA MONTESSORI ABSTRAT: ABSTRACT: The purpose of this article is to describe the challenges of literacy and literacy, as well as the literacy process under the conception of several authors, especially Maria Montessori. It will be analyzed when and why the emergence of literacy and literacy, identify the facilitating methods for student learning in the literacy process, establish the relationship between literacy and literacy and, finally, analyze the contribution of literacy to the construction of writing and for the integration of children in society. Therefore, it is concluded that the processes of literacy and literacy are indispensable in the process of literacy. Keywords: literacy, literacy, Maria Montessori. INTRODUÇÃO O presente artigo trata – se de uma pesquisa desenvolvida com a finalidade de identificar as modificações conceituais e metodológicas diante dos processos de alfabetização e letramento. Pautada na abordagem qualitativa, esta pesquisa alicerça-se em autores pesquisadores que estudam e discutem a problemática abordada neste trabalho científico. Logo, partindo da premissa de que as séries iniciais tornam – se períodos propícios para o ensino e aprendizagem dos processos de alfabetização e letramento e, ainda, obtém grande importância na aprendizagem de outras formas de conhecimentos, o presente trabalho buscou abordar sobre o desenvolvimento do processo de alfabetização sobre a visão de autores que abordam e estudam a problemática, bem como na concepção da autora Maria Montessori. Desde modo, para aproximar – se deste mundo e, para de fato inserir – se no mesmo, é essencial que o processo de alfabetização e letramento ultrapasse todas as dificuldades, ou supere o ensino por meio de um método essencial que é o suporte de texto e/ou livro didático, embora o mesmo não precise ser descartado. Portanto, alfabetizar, considerando todas as novas exigências implicadas nos mesmos, exige que as metodologias priorizem a escrita e leitura dos estudantes, resultando desta maneira, atividades de escrita e leitura por meio de algo significativo, que desperte o interesse, prazer e gosto pelas mesmas. Para tanto, outros paradigmas devem ser quebrados, como por exemplo, planejar aulas pautadas por regras, em meio que, não irá proporcionar aprendizagem notáveis ao aluno, muito menos experiências, e sim havendo apenas perdas de interesse por parte do mesmo, uma vez que, acabarão se sentindo obrigados para a realização das atividades. Diante deste contexto, as problemáticas que nortearam este trabalho foram as seguintes: O contexto histórico do processo de alfabetização e o processo de alfabetização sob a concepção de Maria Montessori. Nesta perspectiva, esta pesquisa teve como objetivo geral: estabelecer métodos para ensino da escrita e leitura para integração da criança na sociedade. No que diz respeito ao objetivos específicos: descobrir quando e porque o surgimento do letramento na alfabetização relatar a importância da mesma na alfabetização, analisar quais os métodos facilitadores para aprendizagem, expor a relação entre alfabetização e letramento e, por fim mostrar a contribuição do letramento para a construção da escrita e para a integração na sociedade. Este tema é de grande relevância, pois o principal objetivo é repensar os métodos utilizados pelas escolas. Desta forma, a alfabetização e o letramento por serem processos que se correlaciona, são indissociáveis e devem acontecer de forma concomitante, afinal a entrada da criança no mundo da escrita e leitura deveria acontecer, tanto pelo alcance do sistema convencional de escrita, quanto pelo desenvolvimento de capacidade da utilização deste sistema em atividades de escrita e leitura, ligadas diretamente ás práticas sociais. Por fim, a metodologia utilizada na pesquisa será embasada em livros e pesquisas, na busca de compreender o assunto abordado neste trabalho científico. 1- CONTEXTO HISTÓRICO DO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO Estudando a origem da alfabetização é possível constatar que devido às necessidades da comunicação do dia a dia da humanidade é que surgiu a escrita e a leitura, e que ao inventar a escrita, o homem também fez surgir a necessidade de que ela continuasse a ser usada e passada para as novas gerações. Devido a essa necessidade surgiu à alfabetização, ou seja, processo inicial de transmissão de leitura e escrita. É importante ressaltar que foi em meados da década de 80 que emergiram discussões sobre os altos índices de analfabetismo e repetência no Brasil. Na busca por uma nova perspectiva sobre o processo que a criança percorre para começar a ler e escrever, Teberosky (1999) nos traz uma reflexão diante da problemática: alfabetização. Logo, frente á esta reflexão que ocorreu na época que o analfabetismo era muito frequente, tornou – se necessário encontrar um conceito que se referisse à condição ou estado controverso daquele que foi expresso pelo termo analfabetismo, isto é, um conceito que representasse um estado ou condição de quem está alfabetizado e/ou quem domina o uso da leitura e escrita. Observa – se que na produção acadêmica brasileira, as vertentes: alfabetização e letramento estão sempre associados. Uma das primeiras obras registradas sobre letramento foi de Tfouni (1988), em que a mesma, aproximou alfabetização e letramento, diferenciando os dois processos. Em seu livro posterior, houve uma aproximação dos dois conceitos, percebido inicialmente já pelo título “Letramento e Alfabetização” (1995). Esta mesma aproximação entre os dois conceitos também foi percebida por Rojo (1997), em que no seu livro “Alfabetização e letramento” propôs – se uma diferenciação entre os dois fenômenos, embora não condizentes com a proposta de Tfouni (1988). (SOARES, 2017). Soares (2017) traz alguns exemplos, que por sua vez, privilegiam obras conhecidas sobre a temática da tendência predominante na literatura especializada tanto no setor de lingüistas quanto na área de educação, afinal, a aproximação, ainda era de propor diferenças entre letramento e alfabetização, levando em consideração a concepção equivocada que os dois fenômenos se confundem e ao mesmo tempo se fundem. Deste modo, pode-se perceber que a relação entre alfabetização e letramento é inegável, pois além de ser necessária e ate mesmo obter imperícia ela, ainda que focalize divergências, acaba por diluir a especificidades de cada um dos dois fenômenos. Sabe – se que a invenção do letramento,entre os indivíduos, se deu por destinos diferentes daqueles que se aplicam a invenção do conceito em outros países, como a França e Estados Unidos. Enquanto que em outros países, a discussão da alfabetização, no Brasil, a discussão do letramento surge enraizada na concepção da alfabetização, levando, apesar da diferenciação da produação acadêmica proposta, uma inconveniente fusão dos dois, prevalecendo o conceito de letramento e conduzido a um apagamento da alfabetização que, com algum exagero, denomina-se como uma descaracterização de alfabetização (SOARES, 2017). Assim, entende – se que o neologismo pretende nomear a perda progressiva da especificidade do processo de alfabetização, uma vez que, o mesmo ocorre com muita freqüência nas escolas brasileiras no decorrer dos anos. Certamente, esta redução no processo de especificidade da alfabetização, por ser um fator explicativo no atual fracasso da aprendizagem e, portanto, também em um ensino da escrita nas escolas brasileiras, é considerado como um fracasso amplo, reiterado e denunciado. Segundo Soares (2017), vários são os fatores que podem ser apontados para a perda de especificidade do processo de alfabetização, limitando – se às causas de âmbito pedagógico, dentre outros, a reestruturação do tempo escolar com a implantação de um sistema de ciclos que, do lado dos aspectos positivos tem sem dúvida, uma diluição ou preterição de metas e finalidades a serem atingidos gradativamente ao longo do processo de escolarização. Se mal aplicado, resultam na falta de compromisso com o desenvolvimento sistemático e gradual de habilidades, conhecimentos e competências. Ainda segundo o autor, é necessário deixar claro que ao defender cada especificidade do processo de alfabetização, não significa retira- lo do processo de letramento. Todavia, o que lamentavelmente pode estar ocorrendo é que a percepção que se tem, são de que as crianças estão sendo, de certo modo, não alfabetizadas, ou seja, parecendo conduzir a solução de retorno á alfabetização como um processo independente, autônomo e totalmente anterior a ele. Conseqüentemente, dissociar a alfabetização e letramento é um equívoco, devido no atual quadro de concepções psicologias, lingüistas e psicolinguístas de leitura e escrita. Sendo assim, a inserção da criança no mundo da criança ocorre simultaneamente por estes dois processos: aquisição do sistema convencional de escrita e alfabetização e, pelo desenvolvimento de habilidades do uso do sistema em atividades de leitura e escrita, práticas sociais que envolvem estes dois processos e práticas sociais que envolvam a escrita e o letramento. Os dois não são processos independentes, mais interdependentes e indissociáveis, onde que a alfabetização desenvolve – se no contexto e através de práticas sócias de leitura e escrita, ou seja, atividades de letramento, em que este, por sua vez, desenvolve – se apenas no contexto e, por meio da aprendizagem das relações fonema-grafema, ou seja, em dependência da alfabetização. No decorrer dos anos, com o estudo de Maria Montessori e outros autores trouxeram um novo olhar sobre a psicogênese da aquisição da língua escrita no conceito de alfabetização. A partir destes estudos, o aprendizado da escrita não se limitava apenas a codificação e decodificação. Assim, acaba por surgir o termo letramento, que é “o resultado da ação de ensinar e/ou aprender a ler e escrever, como também, o resultado da ação de usar estas habilidades em práticas sociais”. Segundo Teberosky (1999), mesmo que não utilizado o termo letramento, o autor defendia a alfabetização como um processo indissociável do contexto do aluno e, ao mesmo tempo criticava práticas mecânicas, sem sentido ou repetitivas, ele também questionava a utilização de textos reais, que fizessem parte da realidade das crianças e, que pudessem deste modo, favorece a uma aprendizagem significativa. Na visão de Soares (1995) apud Grando (2012), o letramento é um conceito bastante atual no campo da educação brasileira. De acordo com o mesmo, o conceito foi utilizado pela primeira vez no ano de 1986 por Mary Kato, no livro “No mundo da escrita: uma perspectiva psicolingüística”. Como uma parte do título do livro, o conceito se firmou no ano de 1995 nos livros “Os significados do letramento”, organizado por Angela Kleiman e “Alfabetização e Letramento”. Soares (2009, p. 29) nos traz que: “a palavra analfabetismo não criou raízes na literatura da área e foi de forma progressiva, sendo substituída pelo conceito letramento”. Deste modo o termo letramento vem progressivamente substituindo o conceito analfabetismo, entretanto, pode – se ainda encontrar o termo analfabetismo em uma lietratura especializada. Segundo Tfnoui, em seu livro “Letramento e Alfabetização” (2010) p. 32 afirma que: “A necessidade de se começar a falar em letramento surgiu, creio eu, da tomada de consciência que se deu, principalmente entre os lingüistas, de que havia alguma coisa além da alfabetização, que era mais ampla, e até determinante desta. Refletindo sobre o surgimento do termo letramento, argumenta que o conceito de letramento [...] começou a ser usado nos meios acadêmicos como tentativa de separar os estudos sobre a alfabetização, cujas conotações destacam as competências individuais no uso e na prática da escrita.” (TFOUNI, 2010, p. 32). Portanto, a alfabetização é um aprendizado e compreende um domínio ativo e sistemático de habilidades ao ler e escrever o que acontece dentro da instituição escolar. Então, o letramento é um processo de aprendizagem social e histórica de leitura e escrita, em seus contextos informais e para usos utilitários, isto é um conjunto de práticas sociais. (MARCUSCHI, 2007). Segundo Rios (2015) uma nova concepção do ensino da escrita trouxe várias contribuições para a prática pedagógica dentro do âmbito de alfabetização. A visão é o processo pelo qual a criança aprende, não obtendo mais o professor como seu principal transmissor do conhecimento. Deste modo, estas contribuições para a educação acabaram exigindo dos profissionais, uma busca por maiores competências para o ensino, ocasionando em uma mudança no pensamento mecanicista. Ainda conforme Rios (2015) é função do professor alfabetizar a criança dentro de um contexto, por meio do processo do letramento, afinal é durante este processo que o alfabetizar deve despertar no educando, o gosto pela leitura. Por fim as questões reflexivas sobre este assunto nos levam a pensar que é por meio destes tipos de práticas que a criança é introduzida na escrita. Elas possibilitam meios que as crianças construam o conhecimento juntamente com o educador, para que, não distanciem as crianças da aprendizagem, tornando – se apenas espectadores, portanto, isto não se trata apenas de um novo método novo de alfabetização, mais sim pela maneira que a escrita é introduzida, resultando na reestruturação das práticas e no pensar da criança como um ser capaz de aprender, isto é, a prática pedagógica, em suma, é uma ação realizada pelo docente em sala de aula, como foco no aprendizado do educando. É necessário rever as práticas e pensar na criança como alguém capaz de aprender. Dentre os pontos positivos que podemos compreender referente à alfabetização na proposta de Marchschi (2007), o primeiro encontra – se relacionado á evidência, em que se coloca, no plano de treinamento e análise, a linguagem oral, uma modalidade ainda pouco favorece nas salas de aula de português. No Brasil, as pesquisas sobre a temática letramento surgiram primeiramente em campos das lingüística aplicada e da educação em livros e artigos de (KLEIMAN, 1995; TFOUNI, 2000; SOARES, 2004). Elas enfatizam que, embora escolarizadas, crianças e adultos não fazem uso do conhecimento da leitura e escrita de uma maneira funcional. Por isto, por volta dos anos 90. Houve uma retomadada discussão, começam a perceber que, embora escolarizados, crianças e adultos não fazem uso de seu conhecimento de leitura e escrita de modo funcional. Diante disso, por volta dos anos 1990, houve uma retomada da discussão. Complementando a citação anterior, Tfouni (2010) ainda afirma que não deve haver a redução do significado de letramento ao significado de alfabetização frente ao ensino formal, uma vez que, para ela o letramento é um processo amplo em que a alfabetização deve ser empreendida em sua totalidade como um processo histórico. Conforme Tfouni (2000), a palavra letramento surgiu para nomear a busca pelo registro de usos e funções do modo de escrita em seus processos sociais de comunicação e para designar a relação que os indivíduos e comunidades estabelecem com a escrita frente às interações sociais. Desta forma, a relação é condicionada pelo uso amplo e/ou restrito, que as pessoas fazem da escrita em suas variadas situações sociais, pelo conhecimento que elas têm sobre as situações, pelas relações de poder que envolvem o uso social da escrita e, dentre outros fatores, o valor que a comunidade atribui à modalidade da língua. Street (2010) e Marinho (2010) complementam a citação anterior, defendendo o letramento como um fenômeno social que é influenciado pelas condições locais no que se referem aos aspectos socioeconômicos, culturais, históricos, políticos e educacional, de forma, que cada comunidade, bem como seus membros, apresente diferentes práticas de letramento. Klein (2002) evidencia a discussão sobre os problemas pertinentes à alfabetização, onde que, por sua vez, encontra – se de forma harmonicamente articulada com uma compreensão da realidade educacional brasileira, afinal, considera – se que o fracasso escolar é significativamente acentuado em séries iniciais, em meio que, defende – se a tese de que este fracasso é, antes de qualquer coisa, um declínio no processo de alfabetização da clientela oriunda de classes consideradas populares. Alfabetizar “é levar ao alfabeto, ou seja, ensinar o código da língua escrita ensinar as habilidades para ler e escrever. É necessário, que a criança e/ou adulto compreenda que a língua escrita não é mera representação da língua falada, pois, o discurso oral e o discurso escrito são organizados de forma diferente. Assim, entende – se por alfabetizado o indivíduo que aprendeu a ler e a escrever, que adquiriu as habilidades da leitura e da escrita, o que possibilita a este codificar e decodificar em língua escrita”. (SOARES, 2004 P.26). Em seu livro “Letramento: um tema em três gêneros”, Soares (1998) nos traz que: a palavra letramento é uma tradução para o português da palavra Literacy “condição do ser letrado”. Deste modo, é denominado como um estado e/ou condição de quem responde adequadamente às demandas pelo uso amplo e diferenciado de leitura e da escrita. Deste modo, há uma evidente relação entre letramento e escolarização, ou que a escolarização se torne um fator decisivo na promoção desta prática, já que, por influência da antiga organização do ensino, tem – se tradicionalmente considerado à conclusão da 4ª série do Ensino Fundamental, como uma etapa obrigatória e suficiente para a formação do cidadão, e corresponde à um nível satisfatório de letramento (SOARES, 2003). A escola é o principal, senão a única, forma de acesso ao letramento que é valorizado pela sociedade burocrática. Ele enfatiza também que, vincular á alfabetização á escolarização é ignorar que mesmo que comprovadas as numerosas pesquisas, aprende – se também a ler e escrever em instâncias não escolares seja na comunidade, trabalho, família, igreja, ainda assim, é a alfabetização escolar que legitima qualquer atividade que objetive á aprendizagem da leitura e escrita. Complementando a visão que Soares (2003), tem sobre alfabetização e letramento, Lerner (2002) afirma que a escola ensina a ler e escrever como uma única finalidade de que os alunos aprendam a fazê – lo, pois caso contrário, eles não aprenderão a ler e a escrever para cumprirem outros objetivos (finalidades que a leitura e escrita cumprem na vida social). Em seguida, se a escola abandona os propósitos didáticos e os assume diante da prática social, estará abandonando ao mesmo tempo sua função de ensinar. Diante deste contexto, sabe – se que a escola é constituída por regras e normas que acabam por ordenar o processo de ensino - aprendizagem, isto é, os alunos são separados e organizados conforme a faixa etária, determinando tratamentos específicos para cada grupo distinto. Este processo é denominado como escolarização, um processo inevitável que constitui e institui a essência da escola. 2- O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO SOB A CONCEPÇÃO DE MARIA MONTESSORI Atualmente a alfabetização tem passado por constantes mudanças, fazendo se necessário a busca por identificar as contribuições do método de Maria Montessori nesse processo. Compreende-se que a criança tem direito à apropriação da alfabetização e que esse é um processo fundamental para o exercício da autonomia e cidadania do indivíduo, segundo Soares (2008, p.60): [...] para que a cidadania seja plenamente garantida a todos, é necessário que se assuma vigorosamente a reflexão sobre a alfabetização no quadro mais amplo de seu significado social, político, cultural e de sua essência ideológica resultando na conexão entre a alfabetização e cidadania. Quais as contribuições do método Maria Montessori no processo de alfabetização? Este presente artigo científico tem o objetivo de identificar quais são as contribuições do método montessoriano no processo de alfabetização. Montessori (1987) enfaticamente, defendeu, a infância como um período fértil no qual de acordo com cada faixa etária, as potencialidades podiam se desenvolver rapidamente e adequadamente. Ao considerar que a criança é um pequeno explorador do mundo ao seu redor, proporcionou de maneira enfática a liberdade de ação nessa interação, propondo a educação dos sentidos como um elemento essencial na prática do professor. Ainda como médica, Montessori passou a tratar dos até então chamados excepcionais. Esse trabalho com os excepcionais, fez com que Montessori se aprofundasse na educação dos deficientes, levando-a ao encontro de alguns estudiosos da área como, os franceses Jean Itard e Édouard Seguin, especialistas na educação de crianças deficientes e surdas, que acreditavam ser possível educar essas crianças de outras maneiras, assim como também Friedrich Froebel. Montessori começou a vislumbrar a partir desse princípio de seus estudos, a substituição dos hospícios por escolas especiais. Voltando à universidade para cursar Pedagogia, indignou-se suas práticas curriculares com a organização das escolas, convencendo-se cada vez mais de que os métodos que utilizava com as crianças deficientes, através da educação sensorial, que parte da experiência concreta, em um ambiente organizado, que dentre as possibilidades proporciona a livre escolha, autonomia e o ritmo de cada indivíduo, poderiam ser adaptados às escolas regulares. O surgimento da Casa das Crianças, criada por Montessori, tirou o caráter somente do cuidado e do ensino baseado na repetição dado até então às crianças. O propósito era que as crianças através da liberdade, escolhessem o que queriam explorar e o percebessem através da tentativa, o acerto e o erro. Os materiais sensórios, advindos a partir de suas vivências, se tornaram parte fundamental do método, criando com eles indiretamente habilidades para a escrita. Segundo Pollard (1993), Montessori identificou com suas pesquisas o período sensitivo da criança, que é a faixa etária anterior ao atualmente chamado, anos iniciais da vida escolar, período em que a mente da criança tem uma receptividade diferente a aprendizagem. Montessori se dedicou a descobrir entãoum método para ensinar a leitura e escrita, tendo em vista os processos mecânicos existentes até então. A metodologia montessoriana na educação infantil proporciona implicitamente, mas de modo favorável o processo de leitura, escrita e lógica matemática, conceitos dentro do foco dessa faixa etária, visando a percepção sensorial, a ordem e o movimento. No método há o entendimento de que as potencialidades de aprendizagem se desenvolvem naturalmente, ao seu tempo, por isso o processo não pode ser rígido. Nesse sentido, a alfabetização montessoriana se dá através do método fônico. As propostas de atividades seguem uma sequência, inicialmente a professora apresenta os materiais, colocando com detalhes o significado a ele, fazendo com que a criança os perceba, para então poder fazer suas tentativas, e esse é o momento para a professora perceber se a criança consegue desenvolver a proposta, para posteriormente desenvolver novas etapas. O método de alfabetização parte do som das letras acrescentado ao uso dos sentidos, iniciados no primeiro ano através das letras em lixa, acrescidas de cores que diferenciam consoantes e vogais, sequenciado pelo alfabeto móvel juntamente com o ditado mudo que é composto por figuras de conhecimento da criança para a composição das respectivas palavras. Em seguida a criança passa para o quadro negro as palavras que aprendeu, o quadro ao invés do caderno, pois ele não tem tantas delimitações quanto a folha, a criança não tem ainda noções de limite da sua letra. Quando já está segura, passa a escrever na folha de tarja, para posterior leitura e cópia das cartilhas. Estando esses materiais ao alcance das crianças, ao chegarem à sala de aula sabem o que devem pegar para realizar o seu trabalho do dia, o respeito ao ritmo de cada um possibilita ver no mesmo espaço de tempo cada criança realizando uma atividade. A autonomia afirmada e utilizada como parte do método, não minimiza o papel do professor, que é um observador e mediador constante, até mesmo por esse motivo quando na maioria das vezes as crianças estão realizando as atividades, são feitas em círculo no chão ou nas carteiras também em forma circular, mais facilmente assim acompanhado pelo professor. Se Tratando de alfabetização, diferentes correntes teóricas vão valorizar e defender a sua forma de obter sucesso nesse processo, mas ainda é um problema decidir se a melhor maneira de alfabetizar consiste em começar pelas letras, passando às palavras e às frases, ou o inverso. Essas tentativas e algumas confusões entre teoria e prática, por vezes acabam em fracasso escolar. Existem diferentes formas de se alfabetizar, os métodos de alfabetização vão orientar as ações do professor, trazendo implicitamente o que o professor pode atingir. Por vezes, acaba-se confundindo conceitos com métodos, e por esse motivo a alfabetização tem sido objeto de estudo constante. Estudos feitos por Emília Ferreiro do final da década de 1980, são muito relevantes para a área, mas existe uma diferença entre teoria e prática, e por esse motivo a escola não pode reinterpretar teoria como métodos de ensino indevidamente. Mas sim como ferramentas indispensáveis de entendimento do trabalho alfabetizador e potencializador do método, que só será eficaz se atingir o aprendiz de forma que ele possa utilizá-la em seu contexto. Escrever é apenas uma decorrência do fato de uma pessoa saber ler (CAGLIARI, 1999, p. 134). Mas saber ler, não quer dizer que existe a interpretação da leitura, e para interpretar é necessário um conhecimento geral da língua e do contexto. Existe um consenso em dizer que a linguagem falada é antecedente a leitura, parte-se do que se ouve e se fala para então chegar ao que se escreve e se vê, se constrói o pensamento a partir da oralidade, a leitura de mundo antecede a leitura da palavra, por isso deve se ter a consciência de que a alfabetização é construída sobre uma base previamente existente. Referindo-se a alfabetização, Capovilla (2007), com base nos seus estudos de pesquisas experimentais, acredita que desenvolver a consciência fonológica e ensinar a correspondência entre grafemas e fonemas, possibilita reafirmar na prática a importância dos mesmos, para aquisição da leitura e escrita alfabética, essa proposta é chamada de método fônico. O ensino, não pode se acomodar, acerca da alfabetização existe um momento de novidade para o alfabetizando e expectativa para os adultos, por isso o contexto vai exigir um olhar atento para o caminho que vai se trilhar a alfabetização. Nesse sentido, Leite, Colello e Arantes (2010, p. 17) explicitam: [...] uma profunda mudança teórica na área, possibilitou a superação do modelo cartilhesco de alfabetização; que o trabalho pedagógico deve ser inspirado no conhecimento acumulado por diversas áreas; que o trabalho pedagógico deve estar vinculado à questão do letramento; que é possível desenvolver o processo de alfabetização numa perspectiva crítica, que a dimensão afetiva é um dos componentes fundamentais do processo de alfabetização escolar; que a organização coletiva do trabalho pedagógico é essencial para o sucesso do processo de alfabetização. Ressaltando a necessidade de se alfabetizar letrando, delineia-se assim que a alfabetização deve ser organizada de acordo com a necessidade, a qual se deseja atingir objetivos, que precisam ser constantemente avaliados e se esses estiverem claramente obsoletos as ações e escolhas devem ser repensadas, e não exteriorizadas à fatores que não estão ao alcance da escola. A responsabilidade da sistematização do trabalho pedagógico desenvolvido em sala de aula, está nas mãos do professor alfabetizador e que esse perceba a importância da função social da fala, da leitura e escrita, pois alfabetizar-se não é apenas aprender o código escrito. Um dos aspectos mais presentes na educação montessoriana é a organização do ambiente, ele é preparado para a criança, proporcional às suas necessidades, sendo assim ela consegue agir com independência. Com essa organização as crianças têm a liberdade de escolher o material que vai usar para desenvolver o seu trabalho, o que lhe propicia desenvolvê-lo com autonomia. Quando os alunos chegam à sala, as orientações do professor já terão acontecido, para que a criança tenha a possibilidade e liberdade para suas escolhas. Materiais concretos, visam a possibilidade da criança elaborar as ideias abstratas e também possibilita o controle do erro, não no sentido de perfeição, mas com a possibilidade de fazer diferente, perceber e corrigir por si e assim se sentir mais seguro, até mesmo porque errar é uma das condições para se aprender. Para que a liberdade que a sala de aula propicia não seja confundida com desordem, fazer o que quiser da forma que quiser, existem as orientações prévias do professor, como já colocado, e também momentos específicos para atividades com movimentos corporais e mínima fala, em um momento de bastante tranquilidade para que a criança se perceba. Dessa forma consegue-se um ambiente que mantenha maior ordem e silêncio, promovendo o autocontrole de cada um e uma maior facilidade de concentração no que se está fazendo, propiciando a disciplina sem ter que deixar essa criança imobilizada. Ela vai ter como limite o espaço que divide com o outro, sem o prejudicar, conseguindo perceber os momentos que exigem a disciplina, mesmo fazendo tudo que for necessário, mas em ordem. Montessori (2004, p. 104) afirma, O caráter de todas as crianças muda nesse ambiente onde podem trabalhar sem serem incomodadas, elas se tornam calmas e capazes de se concentrar. O professor está presente, o material disponível, ela já sabe como e para quê utilizá-lo, se o próprio material não a fizer perceber, a chegar no seu objetivo, o olhar atento do professor fará a intervenção, ou o aluno poderá procurá-lo quando achar necessário,e por isso esse momento é interessante, o aluno tem a oportunidade de saber o que errou para ter a chance de construir um aprendizado com aquele erro. Todos os materiais de uso individual são divididos pelo grupo, também disponibilizados ao alcance de todos. A aparência dos materiais é única, desse material é cobrado o cuidado e organização de cada um, pois ao final do uso ele é devolvido para que o outro possa utilizá-lo posteriormente, ao final de cada atividade cada um é responsável pela organização do espaço utilizado e do ambiente. Os princípios do método são o de uma educação sensorial, baseada na liberdade, autonomia e ritmo próprio de cada indivíduo, a fase da alfabetização acontece devido a preparação indireta anterior, representada pelos exercícios com o material sensorial, tendo em vista que essa preparação para a alfabetização acontece em um período sensitivo, o ato de pensar exige lembrar e para crianças muito pequenas é muito mais presente pensar no que é concreto, no que se vivenciou do que pensar abstrato. Todos os materiais idealizados por Montessori têm o intuito de que a criança utilize diferentes sentidos, fixando sua atenção e imaginação, criando habilidades para essa alfabetização. É essencial a postura do professor, para que como educador possa respeitar as características de cada aluno, fazendo com que cada um a seu modo e no seu tempo encontre gradativamente superar-se. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante de tudo que foi abordado no decorrer deste trabalho sobre os desafios da alfabetização e letramento na visão do método montessoriano, quais são as contribuições do método montessoriano no processo de alfabetização, tendo como recurso para tal estudo, as referências bibliográficas aqui citadas, percebe -se que, dentro da história do método, o olhar prioritário à criança originou o ponto de partida e permanência do método. Foi a partir desse contexto, que se percebeu a possibilidade e a necessidade de fortalecer o processo de educação das crianças de uma forma inovadora, fazendo com que esse processo se tornasse um grande complemento no processo de alfabetização. Pela pesquisa realizada é possível opinar com propriedade como a alfabetização montessoriana facilita a aprendizagem, normaliza comportamentos e respeita o educando. Propiciando de forma consensual a autonomia, organização e tranquilidade, questões essas possíveis de se deparar através do crescimento e desenvolvimento dos alunos. No método o professor cada vez mais passou a ser um observador, e o aluno foi permitido cada vez mais a fazer sozinho, com autonomia, a criança é considerada o centro de todo o processo. Compreende – se neste trabalho que os objetivos de compreender os desafios encontrados na busca da alfabetização e letramento nas séries iniciais foram atingidos com êxito, podendo entender com clareza as dificuldades de alfabetização nas séries iniciais, compreendendo como o termo alfabetização e letramento surgiram, como acontece e se atualmente seus objetivos tem sido alcançado. Conclui – se, portanto, é valido afirmar que a alfabetização e o letramento devem ocorrer de maneira conjunta dando a criança um aprender significativos e abrangentes. E deve – se salientar a importância desse tema para um curso de Pós – Graduação para professores, pois a alfabetização e o letramento fazem parte da sua vida profissional, e, portanto, deve se compreender e entender este assunto de modo pleno. REFERÊNCIAS CAGLIARI, GladisMassini, CAGLIARI, Luiz Carlos. Diante das letras: a escrita na alfabetização. São Paulo: Fafesp, 1999. CAPOVILLA, Fernando C.; CAPOVILLA, Alessandra G. S. Alfabetização: Método Fônico. 4 ed. São Paulo: 2007. POLLARD, Michael. Personagens que mudaram o mundo. Os grandes humanistas: Maria Montessori.São Paulo: Globo, 1993. KLEIMAN, Ângela B. Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinhas: Mercado das letras, p. 15-61. 1995. KLEIN, Lígia Regina. A alfabetização: quem tem medo de ensinar? Campo Grande: Editora da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. 2002. LERNER, Deila. Ler e escrever na escola: O real e o Possível e o Necessário. Porto Alegre: Artes Medicas, 2002. 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