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A_PESQUISA_NORTE-AMERICANA

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1. A PESQUISA NORTE-AMERICANA 
i 
.~" " 
Car/os A/bertó Araú/ô* 
Os Estados Unidos abrigaram diferentes tradições de es­
tudo da comunicação. No início do séG.~lo, pesquisadores 
como Park, Burgess e Cooley, reunidos em tomo da Escola 
de Chicago, procediam a estudos com uni enfoque microsso­
ciológico de processos comunicativos, tendo a "cidade" 
como local privilegiado de' observação. No me.smo período, 
Charles Peirce "inaugura" a Semiótica, çampo de estudo 
preocupado com os processos de formação de significados a 
partir de uma perspectiva pragmática. Nos ànOs 30,.H. Blu­
mer, um dos membros da Escola de Chicago, a partir das 
idéias de G.H. Mead, inaugura o tenno "interacionismo sim­
bólico", dando início a um outro campo de pesquisas na área, 
com pressupostos teóriços próprios. Por fim, nos anos 40, 
vários autores da Escola de PaIo Alto, procedentes de áreas 
distintas como a Antropologia, a Lingüística, a Matemática, 
a Sociologia e a Psiquiatria, inauguram uma outra tradição 
de estudos em comunicação. Bateson, Goffman e Watzla­
wick, entre outros, propõem uma compreensão da comuni­
cação como processo social permanente, que deve ser estu­
dado a partir de um modelo circular. 
Todas essas correntes, no entanto, se desenvolveram de 
forma marginal nos Estados Unidos, constituindo campos de 
I ,; 
• Professor da UFMG. 1« i~ 
\ i~ 
_____________________,K!:il 
119 
'Pe3";;:~\i?a re's'tdtos às 'áreas em que se originaram e com pouca arch. Apesar da enorme variedade de correntes que abriga, 
'. ,in'11u6ncia nO resto do mundoft~ os anos 60. Todas essas tra­ ess~ grande campo de estudos pode ser dividido em três 
dições de estudo só foram retomadas nesse período, quando grandes grupos. 
então fizeram sentir sua in:O,ttência sobre o conjunto de estu:. o primeiro deles é a Teoria Matemática da Comunica­
dos ~m comunicação em tedo o mundo. ção, também conhecida como Teoria da Informação. Elabo­
Isso porque, entre os anos 20 e 60, os estudos norte-ame­ rada por dois engenheiros matemáticos, Shannon e Weaver, 
ricanos/oram marcados.pela hegemonia de um campo de es­ em 1949, essa teoria é menos um conjunto acabado de con- ~ 
tudos denominado Mas"s Communication Research: Essa tra­ ceitos e pressupostos teóricos, mas sim uma sistematização ~"\~}\. 
dição de estudos écomposta por abordagens e autores tão va­ do processo comunicativo a partir de uma perspectiva pura-C o(l,G 
riados que vão desde a engenharia das comunicações, pas­ mente técnica, com ênfase nos aspectos quantitativos. 
sando pela psicologia e sociologia, com pressupostos teóri­ Weaver l , descrevendo trabalho realizado por Claude Shan­
cos e mesmo resultados distintos e, em muitos casos, quase .. 
non, apresenta a seguinte representação de um sistema de co­inconciliáveis. , ,.. ~.'.... 
municação: 
" 
'.. 
Contudo, o que permite dar unidade a esse conjunto de 
Fonte de informação =:> Transmissor =:> Canal =:> Receptor =:> Destinoestudos são quatro características comuns. A primeira delas 
é a orientação empiricista dos estudos, tendendo, na maiori.a sinal· ruído sinal 
das vezes, para enfoques que privilegiam a dimensão quanti­ A comunicação é apresentada como um sistema no qual
tativa. A segunda é a orientação pragmática, mais política do 
uma fonte de infonnação seleçiona uma mensagem desejada a que científica, que determinou a problemática de estudos. As partir de um conjunto de mensagens possíveis, codifica esta pesquisas em coniunicação desta tradição de estudos têm 
mensagem transfonnando-a num sinal passível de ser enviada 
origem em demandas instrumentais do Estado, das Forças por um canal ao receptor, que fará o trabalho do emissor ao in­Armadas ou dos grandes monopólios da área de comunica­
verso. Ou seja, a comunicação é entendida como um processoção de massa, e têm por objetivo compreender como funcio­
de transmissão de uma mensagem por uma fonte de infonna­nam os processos comunicativos com o objetivo de otimizar 
ção, através de um canal, a um destinatário.seus resultados. A terceira característica é o objeto de estu­
'," \ 
dos: tratam-se de estudos voltados prioritariamente para a A problemática gira em tomo, de ,duas questões que se 
comunicação mediática. Por fim, a quarta diz respeito ao colocam à comunicação: a da complexidade em oposição à
," modelo comunicativo que fundamenta todos os estudos ­ simplificação; e a da acumulação do conhecimento em opo­
conforme a discussão a seguir. sição à racionalização dessa acumulação. 
Já nos anos 20, o Fundo Payne começou a financiar di­ Alguns conceitos correlatos são trabalhados por esta teo­
versos estudos empíricos sobre os efeitos da comunicação de ria. A noção de infonnação (ligada à incerteza, à probabili­
massa, inicialmente sobre a influência do cinema nas crian­ dade, ao grau de liberdade na escolha das mensagens), de en­
ças. Contudo, é a obra de Lasswell, Propaganda Techniques 
in the World War, publicada em 1927, que costuma seriden­
tificada como o marco inicial da Mass Communication Rese- J. W, Wcavcr c C. Shannoll, "A Icori'l matemática da comunicação", in: G. Cohn (org.), 
COilllmicaçlio e illdúslrÍlI Clt/lllm/, São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1978. 
121
120 \ ..-. ­
· . lP~~i,a (a .ji:(.1prc:-isfbilid.ad~, a desor~anização de uma m~n.sa­ campo de interesse de uma teoria dos meios de comunicação 
"rem a tendência dos elementos fugIrem da ordem), o COdIgO d-e massa, mas sim a dinâmica do sistema social. 
(que' orienta a escolha, atua:no' processo de produção da men­ A teoria sociológica de referência para estes estudos é o 
sagem), o ruído (interfel:§ncia que~atu.a sobre ~ ~~nal.e.atra­
 estrutural-funcionalismo. O sistema social na sua globalida­
palha a transmissão), e,.a redundancla (repetIçao utIhzad.a 
 de é entendido como um organismo cujas diferentes partes 
para garantir o perfeito entendimento). Todos esses concei­
 desempenham funções de integração e de manute'l'!ção do 
tos e os elementos do processo são encáixados em teoremas 
sistema. A natureza organísmica da abordagem funcionalista 
que litilizam matriz~s e logaritmos nUln estudo pur~ll1e?te 
 toma como estrutura o organismo do ser vivo, composto de 
matemático e quantitativo. O objeto de estudó, pOIS, e a 
 partes, e no qual cada parte cumpre seu papel e gera o todo, 
transmissão de mensagens através de canais mecânicos, e o 
 toma esse todo funcional ou não. 
objetivo é medir a quantidade de informação passível de se 
transmitir por um canal evitando-se as distorções possíveis Entre alguns modelos de funções, temos o de Wright, o 
de Lasswell e o de Lazarsfeld-Me1'ton. Lasswele apresentade ocorrer neste processo. . 
as seguintes funções: de vigilância (informativa, função de 
A comunicação é vista, aqui, não como processo, mas 
alanne); de cOITelação das partes da socieqade (integração); 
como sistema, com elementos que podem ser relacion~dos e e de transmissão da herança cultural (educativa). Wright 
montados num modelo. A proposta é de um modelo lmear, apresenta uma estrutura conceitual que prevê funções e dis­
em que os elementos são encadeados e não podem se dispor funções dos meios, sendo que essas funções podem ser laten­
de outra forma - há um enrijecimento da apreensão do fenô­ tes ou manifestas; às funções apresentadas por LassweI.l, 
meno comunicativo com sua cristalização numa forma fixa. acrescenta a função recreativa. Já Lazarsfeld e Merton3 apre­
A Teoria Matemática, como se pode ver, não está preo­ sentam outras funções: a atribuição de status (estabilizar e 
cupada com a inserção social da comunicação. Sua influên­ dar coesão à hierarquia da sociedade); a execução de normas 
cia sobre a pesquisa em comunicação está na definição de sociais (nonnatização); e o efeito narcotizante (que seria, de 
um modelo de fenômeno comunicativo, modelo esse que ser­ acordo com os aut<?res, uma disfunção). 
virá de "suporte" para todas as pesquisas que compõem a Uma das principais contribuições da Corrente Funciona­
Mass Communication Research. listapara a consolidação da Mass Communication Research 
O segundo grande grupo é a Corrente Funcionalista. Ori­ foi, assim como fez a Teoria Matemática, a ..tentativa de for­
ginada a partir dos estudos de Lasswell, es~a corrente tem malização do processo comunicativo, a partir da "ques­
sua motivação de pesquisa nas funções exercIdas pe~a COl~u­ tão-programa" de Lasswell, elaborada nos anos 30 e propos­
nicação de massa na sociedade. A Con'en:e ~~nclOnahsta ta em 1948. Trata-se de um modelo que problematiza - e so­
aborda hipóteses sobre as relações entre os mdrvlduos, ~ so­ luciona - a questão apontando que "uma maneira convenien­
ciedade e os meios de comunicação de massa. A partIr de te para descrever um ato de comunicação consiste em res­
uma linha sociopolítica, tem como centro de preocupações o 
equilíbrio da sociedade, na perspectiva do funcionam~nt~ d~ 2. H. Lasswcll, "A cstrutura c a função da comunicação na sociedade", in: G. Cohn (org.),
sistema social no seu conjunto e seus componentes. Ja nao e COI/lllllicaçcio e indústria cullltrol, São Paulo: Nacíonal, 1978. 
a dinâmica interna dos processos comunicativos que define o 	 3. P. Lazarsfcld e R. Mcrton, "Comunicação de massa, gosto popular c ação social organi. 
zada", in: G. Cohn (org.), Comunicação e il/dústria culfl/ral, São Paulo: Naciopal, 1978. 
123
122 	 \ 
.lOliÜ) filU<;jiO ","ui" 	 .. 
., 	 , 
, '. 	 p~ndei à~, ~eguipte~ perg.untas: QueT? Diz o quê? Em que 
çàm,i? Paúl quem? C0l11 qúe.efeito?" Es~e modelo teve uma 
graildc influência em tocla~a pesquis'ít americana, servindo 
de paradigma para as distj;'itas tendências de pesquisa e per­
manecendo durante muitQs anos como uma verdadeira "teo­
ria' da comunicação". Além disso; a "questão-programa" 
formalizou a estrutura do fenômeno' comunicativo, tornan­
do-a 'rígida e, a partir da decomposição dos elementos, 
abriu caminho para que os estudos científicos do processo 
comunicativo pudessem concentrar-se em uma ou outra 
dessas interrogações. Qualquer uma dessas variáveis defi­
ne e organiza um setor específico de pesquisa - entre os 
quais se destacaram as análises de conteúdo e, principal­
mente, os estudos sobre os efeitos. 
A fórmula de Lasswell possui uma estreita ligação com o 
outro modelo comunicativo dominante na Mass Communi­
cation Research, o da Teoria da Informação. Os dois mode­
los se caracterizam pela unidirecionalidade, pela pré-defini­
ção de papéis, pelo congelamento e simplificação do proces­
so. Se, no caso da Teoria da Informação, a preocupação inci­
de sobre a eficácia do canal- cálculo da quantidade de infor­
mação, entropia, ruído -, na "questão-programa" de Lass­
well o centro do problema está nos efeitos provocados pelas 
mensagens (ou pelos meios de comunicação), e a ênfase so­
bre a técnica é menor. 
Por fim, o terceiro e principal grupo que compõe a Mass 
Communication Research é a corrente voltada para o estudo 
dos efeitos da comunicação. É um setor de pesquisa que se 
originou na década de 20, composto por diversos estudos 
pontuais e que guardam certas características comuns. A maior 
parte destes estudos, sobre audiências, efeitos de campanhas 
políticas e propaganda, eram encomendados e financiados 
por entidades diretamente interessadas na otimização destes 
4. H. Lasswell. "A estrutura c a função da comunicação na sociedade", in: G. Cohn (org.). 
COlllllllicl/ç'(io 11 íl/lhíslría cultllral. São Paulo: Cia. Editora Nacional. 1978. 
124 
~ '" 	 ~ 
efeitos. Diferentemente da abordagem funcionalista, aqui o 
eixo·das preocupações é o indivíduo. 
As pesquisas que se desenvolvem nesta época e nas duas 
décadas seguintes têm em comum um mesmo modelo teórico 
. 	 ' denommado por vários autores "Teoria Hipodém1ica" (Wolf, 
1986; Mattelart, 1999), numa referência ao tem10 ':.aguU1a hi­
podénnica", criado por Lasswell para explicara natureza da 
ação dos meios de comunicação junto aos indivíduos. Outros· 
autores (De Fleur e Ball-Rokeach, 1993) vão apontar para a G{ 0 (;:, 
utiliZação de outras denominações, tais como "Teoria da Bala 
Mágica" ou "Teoria da Correia de Transmissão". Em qual­
quer dos casos, contudo, é importante;iestacar que 
A evolução teórica nos primeiros anos, pois foi descoor­
denada e mesmo caótica. Ela não acompanhou o modelo· 
ordeiro e preciso de uma ciência em desenvolvimento, 
onde investigadores subseqüentes sistematicamente tes-' 
tam as deixas dos que os precederam. Assim, diversas 
teorias citadas aqui - "bala mágica", "infh.iência seleti­
va" ( ... ) - são, em muitos casos, criações retrospectivas. 
Pelo menos alguns destes nomes não são encontrados na 
bibliografia do período inicial por não existirem então. 
Foram reunidos, sintetizados e rotulados post hoc (..l. 
Feita a ressalva, cabe identificar, a seguir, as principais 
características da Teoria Hipodénnica. São estudos ancora­
dos nas teorias da sociedade de massa (Le Bon e Ortega y 
Gasset), que viam a sociedade industrial do século XX como 
uma multidão onde os indivíduos estão isolados fisica e psi­
cologicamente (não existem relações interpessoais, ou elas 
não são importantes no processo), e nas teorias behavioristas 
(Watson) que entendiam a ação humana como resposta a um 
estímulo extem06• . . 
5. M. De Fleur c S. [Jall·Rokcach, Teorias da cOlllllliicação de massa. Rio de Janeiro: Za­
har. 1993, p. 187. 
6. Para uma discussão lobre a formação c a superação da Teoria Hipodérmica, ver: M. 
Wolf, Tcvrias da cO/lIl/llicaç(io, Lisboa, Hdilorial Presença, 1986 e. também, Armand Mat­
Idar! c Michóle Mnttclart.llislóría das /(!orias da cOllumicaçüo. São Paulo: Loyola, 1999. 
. 	 . 
125\ 
' 
' 
\ 
: 1972'p'01 !\l'.;,~:oll1bse·Sháw no artigo "The Agenda-Setting 
:f'uncucrâ ofMá'ss Media". Nas décildas de 70 e 80, diversos 
autores como Cook, T~ier, Goetz, Gordon e outros vão reali­
zar pesquisas e aperf\,':içoar os pressupostos da função de 
agendamento dos m(Ios de comunicação. 
Ao longo de mais de 60 anos, portanto, a Corrente Ame­
ricana dos Estudos sobre os Efeitos conheceu uma grande 
e-volução em termos do aparato teórico a ser qtilizado nos es­
tudos. De um modelo de máxima simplicidade, que previa 
um processo linear partindo dos meios, onipotentes, a recep­
tores passivos e isolados, determinando efeitos diretos, che­
gou-se a modelos que passaram a considerar a influência de 
diversos outros fatores: as características psicológicas dos 
receptores, as formas de organização das mensagens, a rede 
de relações interpessoais em que os indivíduos se inserem, 
elementos extramedia que atuam de forma concomitante nos 
meios de comunicação, os usos que as pessoas fazem destes 
meios, e a natureza da ação dos meios na sociedade. 
A evolução da pesquisa norte-americana é marcada, por­
tanto, pela consolidação de uma grande perspectiva teórica, 
fonnalizada pela Teoria Matemática e pela "questão-progra­
ma" de Lasswell, e que se desenvolve em estudos mais ope­
racionais (voltados para os elementos internos do processo 
comunicativo e sua otimização quantitativa), estudos preo­
cupados com as funções da comuni.cação (de orientação éti­
ca, voltados para a compreensão do todo social a partir de um 
modelo organísmico de inspiração biológica) e, sobretudo, 
preocupados com a questão dos efeitos, que têm origem no 
modelo hipodérn1ico e alcançam sua superação. É a partir" 
principalmente de correntes de estudo exteriores à Mass 
Communication Research que os estudos norte-americanos, 
vão desconstruir o paradigma hipodénnico, reabilitando cor~ " 
rentes de estudo com pressupostos diversos (tais como a 
Escola de Chicago e a Escola de PaIo Alto) e inaugurando' 
novas frentes de estudo (como as formulações do agenda 
setting e dos usos e gratificações). 
130 
" . 
2. A ESCOLA DE FRANKFURT 
Francisco ~üdiget 
Chama-se de Escola de Frankfurt ao coletivo de pen~­
.d~res e cientistas sociais alemães :t'bnnado, sobretudo, por 
TI!~odor Adorno, Max Horkheimer,l Eriçh Fromm e Herbert 
!0-J!IÇ)Js.e. Devemos aos d_()is primeiros~acriação de um con-=­
ceito que se tomou central p~lfa os estudos culturais e as aná:­
lises de m,ídia: o conceito de indústria,cultural~Walter Ben­
jamin e Siegfried Kracauer, embora situando-se na periferia 
daquele grupo, não são menos importantes, podendo ser con­
tados, junto com os demais, entre os criadores da pesquisa 
crítica em comunicação.' . 
Considerado atualmente como herdeiro espiritual dos 
fundadores e principal expoente da chamada segunda gera­
ção da Escola, .:!.ürgen Habemias também é autor que deve 
~erJ~.m.bx:iliio neste contexto não só ~studo, hoje ê'fáS­
sico, sQJJre..a esf~~blica como por sua am5ícÍosa tentativa 
de criar uma teoria gerãIãiiçãõ-comullicativa. -m 
• h_ Delmmos de lado, no que segue, essa seg~nda fase de ... 
sua trajetória de investigação. Referindo-nos aos pioneiros
. . ' 
o pnmeIro ponto que devemos levar em conta, para bem en­
tendê-los, é que nenhum deles pertenceu, de maneira autóc­
, ton~, ao campo da co~un~cação ..Igdo~l~ 
.r~Jngependentes, c.llJQs .mteresses se ~1endiaIn-por diver­
---=-----_.-...:-- -­
• Professor da PUCRS. 
131 
.. '. 
. Da ariic.ülaç.ào· .de~tas duas visões nasce o modelo comu­
'7.' nicati:"o da Teoria Hipgdém1.ica: a de um processo iniciado 
nos meios de comunioàçao, que atingem os indivíduos pro­
vocando determinad,.QS efeitos. Os meios são vistos como 
. 	onipotentes, causa única e suficiente dos efeitos verifica­
dos. Os indivíduos são vistos como seres indiferenciados e 
totalmente passivos, expostos ao estímulo vindo dos meios. 
O máximo que as primeiros estudos distinguiram, em ter­
mos de diferenciações entre o público, foi dividi-lo de acor­
do com grandes categorias como idade, sexo e classe socio­
econômica. Por fim, os efeitos eram entendidos como sen­
do diretos, isto é, se dão sem a interferência de outros fato­
res. Daí a concepção de que os meios agiam sobre a socie­
dade à maneira de uma "agulha hipodérmica". Os estudos 
mais numerosos desta época são aqueles que procuraram re­
lacionar a quantidade de mensagens de violência nos meios a 
atitudes violentas por parte do público, principalmente o pú·· 
blico infanto-juvenil. 
A partir da década de 40, os estudos subseqüentes no âm- . 
bito da Escola Americana dos Efeitos vão representar diretri­
zes distintas, em muitos aspectos interligadas ou sobrepostas.. 
Todas elas, contudo, de diversas fonnas e em variados setores, 
vão trazer contribuições para aperfeiçoar o modelo comunica­
tivo da Teoria Hipodérmica, apontando para uma realidade 
que é cada vez mais percebida em sua complexidade. 
Um primeiro campo de estudos a promover essa supera­
ção do modelo hipodénnico são as investigações empíri­
co-experimentais conhecidas como "abordagem da persua­
são". Ao se debruçarem sobre os fenômenos psicológicos in­
dividuais que constituem a relação comunicativa, os estudio­
sos desta corrente perceberam que, entre a ação dos meios e 
os efeitos, atuava uma série de processos psicológicos, tais .. 
como o interesse em obter determi,nada informação, a prefe­
rência por detenninado tipo de meio, a predisposição a deter­
minados assuntos, as diferentes capacidades de memoriza­
ção. Carl Hovland é o principal representante deste ramo de 
126 
, . 
. 
. 
J 
\ 
cY.fo (p ,.1 	 . . , " 
estud'os, com pesquisas sobre a eficácia da propaganda junt~ 
a soldados americanos. coP'l' P\.O'f 
"'""Glt-\fl.\.Embora o modelo teórico seja muito semelhante ao da 
Teoria Hipodénnica (a mesma concepção de causa-efeito, a 
mesma negligência em relação às relações interpessoais), aqui 
já se tem o desenho de um quadro analítico um.. pom~o mais 
complexo, na medida em que percebe que os efeitos não são 
diretos, a resposta ao estímulo se defronta com fatores psico­
lógicos, quebrando a idéia de linearidade do processo. 
Ainda dentro dessa corrente, um segundo campo de estu­
dos procurou estabelecer fatores para garantir uma organiza­
ção ótima das mensagens, de fonna..a atender às finalidades 
persuasivas. Percebeu-se que detenninados fatores da orga­
nização das mensagens (comQ. a credibilidade do comunica­
dor, a ordem,da argumentação; a integralidade das argumen­
tações e a explicitação de conclusões) interferem na~ficácia 
do processo e, portanto, na natureza dos efeitos obtidos. 
A segunda corrente de estudqs é denominada Teoria dos 
Efeitos Limitados. Trata-se de um ramo"de estudos que abri­
ga abordagens distintas, tanto psicológicas como sociológi­
cas. No primeiro ramo, o principal representante é Kurt Le­
win, interessado nas relações. dos indivíduos dentro de gru­
pos e seus processos de decisão, nos efeitos das pressões, 
nom1as e atribuiçõe's do grupo no comportamento e atitudes 
de seus membros. Um de seus discípulos, Leon Festinger, 
desenvolveu, em 1957, a Teoria da Dissonância Cognitiva, 
um conjunto de pressupostos acerca da natureza do compor­
tamento humano e suas motivações em relação ao mundo 
que é experienciado por cada indivíduo. 
Outros estudos dessa corrente, de natureza mais socioló­
gica, foram desenvolvidos sobretudo por Paul Lazarsfeld. 
Pesquisador de enonne influência nos Estados Unidos, La­
zarsfeld iniciou seus estudos preocupado com reações ime­
diatas da audiência dos conteúdos da comunicação de massa. 
Com o passar "aos anos, desenvolveu estudos de abordagem 
empírica de campo, procurando estudar os fatores de ~edia-
127 
--
.. 	 " 
, 	 .,' '. 'l. 
. , 
{ , 1 .,."\ 
r'"'" exisientés '~Iltre 'OS' 'Íi1di - ''lOS e Os meios de comunica-
ç~o de mass~. F~raÍn realizado,s div~rsos estudos sobre a 
composição diferenciada:âo'S públicos e dos seus modelos de 
consumo da comunicaçã.o de massa. Dois deles são de.cisi­
. 	vos para a evolução da{eorização norte-americana: The Peo­
ple's Choice, de 1944, e Personal Influence: The Part Pla­
yed by People in the Flow oJMass Communication, de 1955. 
Os resultados levaram àdescoberta do "líder de opinião", in­
dividuo que, no meÍo da malha social, influencia outros indi­
víduos na tomada de decisão. Criou-se então o modelo do 
"two-step flow ofcommunication", que entende a comuni­
cação como um processo que se dá num fluxo em dois níveis: 
dos meios aos líderes e dos líderes às demais pessoas. 
Trata-se da inclusão, nos estudos sobre a comunicação 
de massa, dos contextos sociais em que vivem os indivíduos. 
É o primeiro momento em que se percebe a influência das re­
lações interpessoais na configuração dos "efeitos" da comu­
nicação. Da idéia de efeitos diretos chega-se enfim à idéia de 
um processo indireto de influência. 
Uma variação desta corrente é o "enfoque fenomênico" . 
desenvolvido por Klapper, aluno de Lazarsfeld. Trata-se de 
um modelo teórico que prevê que os meios de comunicação 
não são causa única dos efeitos, mas, antes, acham-se envol­
vidos no meio de muitos outros fatores. Esta constatação obri­
ga que se incorpore cada vez mais fatores extramedia nos es­
tudos. Sobretudo, exige-se a incorporação da vivência das 
pessoas, da rede de relações interpessoais em que cada indi­
víduo se acha envolvido. 
Até os anos 60, as grandes evoluções por que passa a in­
vestigação sobre os Efeitos, nos Estados Unidos, devem-se 
ainda principalmente aos resultados contraditórios e com­
plexos encontrados nas pesquisas empíricas, que levavam 
constantemente a reformulações dos quadros teóricos utili­
zados pelos pesquisadores da época. A partir dos anos 60, 
essa grande corrente de estudos vai dialogar de forma mais 
consistente com diversas outras correntes de estudo, tanto 
128 
'I' 
norte-arnericJnas (aquelas antes relegadas à marginalidãde, 
coma. o Interacionismo Simbólico, a Semiótica e a Escola de 
PaIo Alto, e outras áreas de pesquisa como a Sociologia do 
Conhecimento) como européias (a Corrente Culturológica 
francesa, a Semiologia, os Cultural Studies de Birmingham). 
Desse diálogo resultam novas abordagens da problemática 
dos efeitos, que apontam para um quadro explicatiyo já.~as­
tante diferente do primeiro modelo a orientar os estudos da 
década de 30. 
Uma destasabordagens é a Corrente dos "Usos e Gratifi­
cações", trabalhada sobretudo por Katz, também discípulo 
de Lazarsfeld, nos anos 70, e outros COmo Blumler e Elliott. 
Aqui, o eixo das preocupações se desleca da pergunta "o que 
os meios fazem com as pessoas" para pensar no uso que as 
pessoas fazem dos meios. Surge a idéia de uma "leitura ne­
gociada", isto é, abre-se a investigação para a atividade de 
apropriação promovida pelos receptore3 das mensagens me­
diáticas. O receptor passa a ser visto como sujeito agelite, ca­
paz de praticar processos de interpretação e satisfação de ne­
cessidades. Essa corrente de estudos vai aperfeiçoar 'seus mé­
todos até 1990, ano em que Katz realiza uma grande pesqui­
sa em parceria com Tamar Liebes e uma equipe da Universi­
dade de Jerusalém: The Export oJMeaning. 
Outra abordagem t a hipótese do agenda setting, também 
conhecida como Teoria dos Efeitos a Longo Prazo. Trata-se 
de uma construção teórica que pensa a ação dos meios não 
como formadores de opinião, causadQres 'de efeitos diretos, 
mas como alteradores da estrutura cognitivà.d3s"pessoas. É o 
modo de cada indivíduo conhecer o mundo que é modificado 
a partir da ação dos meios de comunicação de massa - ação 
esta que passa a ser compreendida como um "agendamento", 
isto é, a colocação de temas e assuntos na sociedade. Ao mes­
mo tempo, essa corrente substitui a idéia de efeitos imediatos 
por efeitos que se espalham num período maior de tempo. 
Esse campo-de pesquisa teve origem em 1952, a partir de 
um trabalho de Kurt e Gladys Lang, sendo formulada em 
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