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1. A PESQUISA NORTE-AMERICANA i .~" " Car/os A/bertó Araú/ô* Os Estados Unidos abrigaram diferentes tradições de es tudo da comunicação. No início do séG.~lo, pesquisadores como Park, Burgess e Cooley, reunidos em tomo da Escola de Chicago, procediam a estudos com uni enfoque microsso ciológico de processos comunicativos, tendo a "cidade" como local privilegiado de' observação. No me.smo período, Charles Peirce "inaugura" a Semiótica, çampo de estudo preocupado com os processos de formação de significados a partir de uma perspectiva pragmática. Nos ànOs 30,.H. Blu mer, um dos membros da Escola de Chicago, a partir das idéias de G.H. Mead, inaugura o tenno "interacionismo sim bólico", dando início a um outro campo de pesquisas na área, com pressupostos teóriços próprios. Por fim, nos anos 40, vários autores da Escola de PaIo Alto, procedentes de áreas distintas como a Antropologia, a Lingüística, a Matemática, a Sociologia e a Psiquiatria, inauguram uma outra tradição de estudos em comunicação. Bateson, Goffman e Watzla wick, entre outros, propõem uma compreensão da comuni cação como processo social permanente, que deve ser estu dado a partir de um modelo circular. Todas essas correntes, no entanto, se desenvolveram de forma marginal nos Estados Unidos, constituindo campos de I ,; • Professor da UFMG. 1« i~ \ i~ _____________________,K!:il 119 'Pe3";;:~\i?a re's'tdtos às 'áreas em que se originaram e com pouca arch. Apesar da enorme variedade de correntes que abriga, '. ,in'11u6ncia nO resto do mundoft~ os anos 60. Todas essas tra ess~ grande campo de estudos pode ser dividido em três dições de estudo só foram retomadas nesse período, quando grandes grupos. então fizeram sentir sua in:O,ttência sobre o conjunto de estu:. o primeiro deles é a Teoria Matemática da Comunica dos ~m comunicação em tedo o mundo. ção, também conhecida como Teoria da Informação. Elabo Isso porque, entre os anos 20 e 60, os estudos norte-ame rada por dois engenheiros matemáticos, Shannon e Weaver, ricanos/oram marcados.pela hegemonia de um campo de es em 1949, essa teoria é menos um conjunto acabado de con- ~ tudos denominado Mas"s Communication Research: Essa tra ceitos e pressupostos teóricos, mas sim uma sistematização ~"\~}\. dição de estudos écomposta por abordagens e autores tão va do processo comunicativo a partir de uma perspectiva pura-C o(l,G riados que vão desde a engenharia das comunicações, pas mente técnica, com ênfase nos aspectos quantitativos. sando pela psicologia e sociologia, com pressupostos teóri Weaver l , descrevendo trabalho realizado por Claude Shan cos e mesmo resultados distintos e, em muitos casos, quase .. non, apresenta a seguinte representação de um sistema de coinconciliáveis. , ,.. ~.'.... municação: " '.. Contudo, o que permite dar unidade a esse conjunto de Fonte de informação =:> Transmissor =:> Canal =:> Receptor =:> Destinoestudos são quatro características comuns. A primeira delas é a orientação empiricista dos estudos, tendendo, na maiori.a sinal· ruído sinal das vezes, para enfoques que privilegiam a dimensão quanti A comunicação é apresentada como um sistema no qual tativa. A segunda é a orientação pragmática, mais política do uma fonte de infonnação seleçiona uma mensagem desejada a que científica, que determinou a problemática de estudos. As partir de um conjunto de mensagens possíveis, codifica esta pesquisas em coniunicação desta tradição de estudos têm mensagem transfonnando-a num sinal passível de ser enviada origem em demandas instrumentais do Estado, das Forças por um canal ao receptor, que fará o trabalho do emissor ao inArmadas ou dos grandes monopólios da área de comunica verso. Ou seja, a comunicação é entendida como um processoção de massa, e têm por objetivo compreender como funcio de transmissão de uma mensagem por uma fonte de infonnanam os processos comunicativos com o objetivo de otimizar ção, através de um canal, a um destinatário.seus resultados. A terceira característica é o objeto de estu '," \ dos: tratam-se de estudos voltados prioritariamente para a A problemática gira em tomo, de ,duas questões que se comunicação mediática. Por fim, a quarta diz respeito ao colocam à comunicação: a da complexidade em oposição à ," modelo comunicativo que fundamenta todos os estudos simplificação; e a da acumulação do conhecimento em opo conforme a discussão a seguir. sição à racionalização dessa acumulação. Já nos anos 20, o Fundo Payne começou a financiar di Alguns conceitos correlatos são trabalhados por esta teo versos estudos empíricos sobre os efeitos da comunicação de ria. A noção de infonnação (ligada à incerteza, à probabili massa, inicialmente sobre a influência do cinema nas crian dade, ao grau de liberdade na escolha das mensagens), de en ças. Contudo, é a obra de Lasswell, Propaganda Techniques in the World War, publicada em 1927, que costuma seriden tificada como o marco inicial da Mass Communication Rese- J. W, Wcavcr c C. Shannoll, "A Icori'l matemática da comunicação", in: G. Cohn (org.), COilllmicaçlio e illdúslrÍlI Clt/lllm/, São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1978. 121 120 \ ..-. · . lP~~i,a (a .ji:(.1prc:-isfbilid.ad~, a desor~anização de uma m~n.sa campo de interesse de uma teoria dos meios de comunicação "rem a tendência dos elementos fugIrem da ordem), o COdIgO d-e massa, mas sim a dinâmica do sistema social. (que' orienta a escolha, atua:no' processo de produção da men A teoria sociológica de referência para estes estudos é o sagem), o ruído (interfel:§ncia que~atu.a sobre ~ ~~nal.e.atra estrutural-funcionalismo. O sistema social na sua globalida palha a transmissão), e,.a redundancla (repetIçao utIhzad.a de é entendido como um organismo cujas diferentes partes para garantir o perfeito entendimento). Todos esses concei desempenham funções de integração e de manute'l'!ção do tos e os elementos do processo são encáixados em teoremas sistema. A natureza organísmica da abordagem funcionalista que litilizam matriz~s e logaritmos nUln estudo pur~ll1e?te toma como estrutura o organismo do ser vivo, composto de matemático e quantitativo. O objeto de estudó, pOIS, e a partes, e no qual cada parte cumpre seu papel e gera o todo, transmissão de mensagens através de canais mecânicos, e o toma esse todo funcional ou não. objetivo é medir a quantidade de informação passível de se transmitir por um canal evitando-se as distorções possíveis Entre alguns modelos de funções, temos o de Wright, o de Lasswell e o de Lazarsfeld-Me1'ton. Lasswele apresentade ocorrer neste processo. . as seguintes funções: de vigilância (informativa, função de A comunicação é vista, aqui, não como processo, mas alanne); de cOITelação das partes da socieqade (integração); como sistema, com elementos que podem ser relacion~dos e e de transmissão da herança cultural (educativa). Wright montados num modelo. A proposta é de um modelo lmear, apresenta uma estrutura conceitual que prevê funções e dis em que os elementos são encadeados e não podem se dispor funções dos meios, sendo que essas funções podem ser laten de outra forma - há um enrijecimento da apreensão do fenô tes ou manifestas; às funções apresentadas por LassweI.l, meno comunicativo com sua cristalização numa forma fixa. acrescenta a função recreativa. Já Lazarsfeld e Merton3 apre A Teoria Matemática, como se pode ver, não está preo sentam outras funções: a atribuição de status (estabilizar e cupada com a inserção social da comunicação. Sua influên dar coesão à hierarquia da sociedade); a execução de normas cia sobre a pesquisa em comunicação está na definição de sociais (nonnatização); e o efeito narcotizante (que seria, de um modelo de fenômeno comunicativo, modelo esse que ser acordo com os aut<?res, uma disfunção). virá de "suporte" para todas as pesquisas que compõem a Uma das principais contribuições da Corrente Funciona Mass Communication Research. listapara a consolidação da Mass Communication Research O segundo grande grupo é a Corrente Funcionalista. Ori foi, assim como fez a Teoria Matemática, a ..tentativa de for ginada a partir dos estudos de Lasswell, es~a corrente tem malização do processo comunicativo, a partir da "ques sua motivação de pesquisa nas funções exercIdas pe~a COl~u tão-programa" de Lasswell, elaborada nos anos 30 e propos nicação de massa na sociedade. A Con'en:e ~~nclOnahsta ta em 1948. Trata-se de um modelo que problematiza - e so aborda hipóteses sobre as relações entre os mdrvlduos, ~ so luciona - a questão apontando que "uma maneira convenien ciedade e os meios de comunicação de massa. A partIr de te para descrever um ato de comunicação consiste em res uma linha sociopolítica, tem como centro de preocupações o equilíbrio da sociedade, na perspectiva do funcionam~nt~ d~ 2. H. Lasswcll, "A cstrutura c a função da comunicação na sociedade", in: G. Cohn (org.), sistema social no seu conjunto e seus componentes. Ja nao e COI/lllllicaçcio e indústria cullltrol, São Paulo: Nacíonal, 1978. a dinâmica interna dos processos comunicativos que define o 3. P. Lazarsfcld e R. Mcrton, "Comunicação de massa, gosto popular c ação social organi. zada", in: G. Cohn (org.), Comunicação e il/dústria culfl/ral, São Paulo: Naciopal, 1978. 123 122 \ .lOliÜ) filU<;jiO ","ui" .. ., , , '. p~ndei à~, ~eguipte~ perg.untas: QueT? Diz o quê? Em que çàm,i? Paúl quem? C0l11 qúe.efeito?" Es~e modelo teve uma graildc influência em tocla~a pesquis'ít americana, servindo de paradigma para as distj;'itas tendências de pesquisa e per manecendo durante muitQs anos como uma verdadeira "teo ria' da comunicação". Além disso; a "questão-programa" formalizou a estrutura do fenômeno' comunicativo, tornan do-a 'rígida e, a partir da decomposição dos elementos, abriu caminho para que os estudos científicos do processo comunicativo pudessem concentrar-se em uma ou outra dessas interrogações. Qualquer uma dessas variáveis defi ne e organiza um setor específico de pesquisa - entre os quais se destacaram as análises de conteúdo e, principal mente, os estudos sobre os efeitos. A fórmula de Lasswell possui uma estreita ligação com o outro modelo comunicativo dominante na Mass Communi cation Research, o da Teoria da Informação. Os dois mode los se caracterizam pela unidirecionalidade, pela pré-defini ção de papéis, pelo congelamento e simplificação do proces so. Se, no caso da Teoria da Informação, a preocupação inci de sobre a eficácia do canal- cálculo da quantidade de infor mação, entropia, ruído -, na "questão-programa" de Lass well o centro do problema está nos efeitos provocados pelas mensagens (ou pelos meios de comunicação), e a ênfase so bre a técnica é menor. Por fim, o terceiro e principal grupo que compõe a Mass Communication Research é a corrente voltada para o estudo dos efeitos da comunicação. É um setor de pesquisa que se originou na década de 20, composto por diversos estudos pontuais e que guardam certas características comuns. A maior parte destes estudos, sobre audiências, efeitos de campanhas políticas e propaganda, eram encomendados e financiados por entidades diretamente interessadas na otimização destes 4. H. Lasswell. "A estrutura c a função da comunicação na sociedade", in: G. Cohn (org.). COlllllllicl/ç'(io 11 íl/lhíslría cultllral. São Paulo: Cia. Editora Nacional. 1978. 124 ~ '" ~ efeitos. Diferentemente da abordagem funcionalista, aqui o eixo·das preocupações é o indivíduo. As pesquisas que se desenvolvem nesta época e nas duas décadas seguintes têm em comum um mesmo modelo teórico . ' denommado por vários autores "Teoria Hipodém1ica" (Wolf, 1986; Mattelart, 1999), numa referência ao tem10 ':.aguU1a hi podénnica", criado por Lasswell para explicara natureza da ação dos meios de comunicação junto aos indivíduos. Outros· autores (De Fleur e Ball-Rokeach, 1993) vão apontar para a G{ 0 (;:, utiliZação de outras denominações, tais como "Teoria da Bala Mágica" ou "Teoria da Correia de Transmissão". Em qual quer dos casos, contudo, é importante;iestacar que A evolução teórica nos primeiros anos, pois foi descoor denada e mesmo caótica. Ela não acompanhou o modelo· ordeiro e preciso de uma ciência em desenvolvimento, onde investigadores subseqüentes sistematicamente tes-' tam as deixas dos que os precederam. Assim, diversas teorias citadas aqui - "bala mágica", "infh.iência seleti va" ( ... ) - são, em muitos casos, criações retrospectivas. Pelo menos alguns destes nomes não são encontrados na bibliografia do período inicial por não existirem então. Foram reunidos, sintetizados e rotulados post hoc (..l. Feita a ressalva, cabe identificar, a seguir, as principais características da Teoria Hipodénnica. São estudos ancora dos nas teorias da sociedade de massa (Le Bon e Ortega y Gasset), que viam a sociedade industrial do século XX como uma multidão onde os indivíduos estão isolados fisica e psi cologicamente (não existem relações interpessoais, ou elas não são importantes no processo), e nas teorias behavioristas (Watson) que entendiam a ação humana como resposta a um estímulo extem06• . . 5. M. De Fleur c S. [Jall·Rokcach, Teorias da cOlllllliicação de massa. Rio de Janeiro: Za har. 1993, p. 187. 6. Para uma discussão lobre a formação c a superação da Teoria Hipodérmica, ver: M. Wolf, Tcvrias da cO/lIl/llicaç(io, Lisboa, Hdilorial Presença, 1986 e. também, Armand Mat Idar! c Michóle Mnttclart.llislóría das /(!orias da cOllumicaçüo. São Paulo: Loyola, 1999. . . 125\ ' ' \ : 1972'p'01 !\l'.;,~:oll1bse·Sháw no artigo "The Agenda-Setting :f'uncucrâ ofMá'ss Media". Nas décildas de 70 e 80, diversos autores como Cook, T~ier, Goetz, Gordon e outros vão reali zar pesquisas e aperf\,':içoar os pressupostos da função de agendamento dos m(Ios de comunicação. Ao longo de mais de 60 anos, portanto, a Corrente Ame ricana dos Estudos sobre os Efeitos conheceu uma grande e-volução em termos do aparato teórico a ser qtilizado nos es tudos. De um modelo de máxima simplicidade, que previa um processo linear partindo dos meios, onipotentes, a recep tores passivos e isolados, determinando efeitos diretos, che gou-se a modelos que passaram a considerar a influência de diversos outros fatores: as características psicológicas dos receptores, as formas de organização das mensagens, a rede de relações interpessoais em que os indivíduos se inserem, elementos extramedia que atuam de forma concomitante nos meios de comunicação, os usos que as pessoas fazem destes meios, e a natureza da ação dos meios na sociedade. A evolução da pesquisa norte-americana é marcada, por tanto, pela consolidação de uma grande perspectiva teórica, fonnalizada pela Teoria Matemática e pela "questão-progra ma" de Lasswell, e que se desenvolve em estudos mais ope racionais (voltados para os elementos internos do processo comunicativo e sua otimização quantitativa), estudos preo cupados com as funções da comuni.cação (de orientação éti ca, voltados para a compreensão do todo social a partir de um modelo organísmico de inspiração biológica) e, sobretudo, preocupados com a questão dos efeitos, que têm origem no modelo hipodérn1ico e alcançam sua superação. É a partir" principalmente de correntes de estudo exteriores à Mass Communication Research que os estudos norte-americanos, vão desconstruir o paradigma hipodénnico, reabilitando cor~ " rentes de estudo com pressupostos diversos (tais como a Escola de Chicago e a Escola de PaIo Alto) e inaugurando' novas frentes de estudo (como as formulações do agenda setting e dos usos e gratificações). 130 " . 2. A ESCOLA DE FRANKFURT Francisco ~üdiget Chama-se de Escola de Frankfurt ao coletivo de pen~ .d~res e cientistas sociais alemães :t'bnnado, sobretudo, por TI!~odor Adorno, Max Horkheimer,l Eriçh Fromm e Herbert !0-J!IÇ)Js.e. Devemos aos d_()is primeiros~acriação de um con-= ceito que se tomou central p~lfa os estudos culturais e as aná: lises de m,ídia: o conceito de indústria,cultural~Walter Ben jamin e Siegfried Kracauer, embora situando-se na periferia daquele grupo, não são menos importantes, podendo ser con tados, junto com os demais, entre os criadores da pesquisa crítica em comunicação.' . Considerado atualmente como herdeiro espiritual dos fundadores e principal expoente da chamada segunda gera ção da Escola, .:!.ürgen Habemias também é autor que deve ~erJ~.m.bx:iliio neste contexto não só ~studo, hoje ê'fáS sico, sQJJre..a esf~~blica como por sua am5ícÍosa tentativa de criar uma teoria gerãIãiiçãõ-comullicativa. -m • h_ Delmmos de lado, no que segue, essa seg~nda fase de ... sua trajetória de investigação. Referindo-nos aos pioneiros . . ' o pnmeIro ponto que devemos levar em conta, para bem en tendê-los, é que nenhum deles pertenceu, de maneira autóc , ton~, ao campo da co~un~cação ..Igdo~l~ .r~Jngependentes, c.llJQs .mteresses se ~1endiaIn-por diver ---=-----_.-...:-- - • Professor da PUCRS. 131 .. '. . Da ariic.ülaç.ào· .de~tas duas visões nasce o modelo comu '7.' nicati:"o da Teoria Hipgdém1.ica: a de um processo iniciado nos meios de comunioàçao, que atingem os indivíduos pro vocando determinad,.QS efeitos. Os meios são vistos como . onipotentes, causa única e suficiente dos efeitos verifica dos. Os indivíduos são vistos como seres indiferenciados e totalmente passivos, expostos ao estímulo vindo dos meios. O máximo que as primeiros estudos distinguiram, em ter mos de diferenciações entre o público, foi dividi-lo de acor do com grandes categorias como idade, sexo e classe socio econômica. Por fim, os efeitos eram entendidos como sen do diretos, isto é, se dão sem a interferência de outros fato res. Daí a concepção de que os meios agiam sobre a socie dade à maneira de uma "agulha hipodérmica". Os estudos mais numerosos desta época são aqueles que procuraram re lacionar a quantidade de mensagens de violência nos meios a atitudes violentas por parte do público, principalmente o pú·· blico infanto-juvenil. A partir da década de 40, os estudos subseqüentes no âm- . bito da Escola Americana dos Efeitos vão representar diretri zes distintas, em muitos aspectos interligadas ou sobrepostas.. Todas elas, contudo, de diversas fonnas e em variados setores, vão trazer contribuições para aperfeiçoar o modelo comunica tivo da Teoria Hipodérmica, apontando para uma realidade que é cada vez mais percebida em sua complexidade. Um primeiro campo de estudos a promover essa supera ção do modelo hipodénnico são as investigações empíri co-experimentais conhecidas como "abordagem da persua são". Ao se debruçarem sobre os fenômenos psicológicos in dividuais que constituem a relação comunicativa, os estudio sos desta corrente perceberam que, entre a ação dos meios e os efeitos, atuava uma série de processos psicológicos, tais .. como o interesse em obter determi,nada informação, a prefe rência por detenninado tipo de meio, a predisposição a deter minados assuntos, as diferentes capacidades de memoriza ção. Carl Hovland é o principal representante deste ramo de 126 , . . . J \ cY.fo (p ,.1 . . , " estud'os, com pesquisas sobre a eficácia da propaganda junt~ a soldados americanos. coP'l' P\.O'f "'""Glt-\fl.\.Embora o modelo teórico seja muito semelhante ao da Teoria Hipodénnica (a mesma concepção de causa-efeito, a mesma negligência em relação às relações interpessoais), aqui já se tem o desenho de um quadro analítico um.. pom~o mais complexo, na medida em que percebe que os efeitos não são diretos, a resposta ao estímulo se defronta com fatores psico lógicos, quebrando a idéia de linearidade do processo. Ainda dentro dessa corrente, um segundo campo de estu dos procurou estabelecer fatores para garantir uma organiza ção ótima das mensagens, de fonna..a atender às finalidades persuasivas. Percebeu-se que detenninados fatores da orga nização das mensagens (comQ. a credibilidade do comunica dor, a ordem,da argumentação; a integralidade das argumen tações e a explicitação de conclusões) interferem na~ficácia do processo e, portanto, na natureza dos efeitos obtidos. A segunda corrente de estudqs é denominada Teoria dos Efeitos Limitados. Trata-se de um ramo"de estudos que abri ga abordagens distintas, tanto psicológicas como sociológi cas. No primeiro ramo, o principal representante é Kurt Le win, interessado nas relações. dos indivíduos dentro de gru pos e seus processos de decisão, nos efeitos das pressões, nom1as e atribuiçõe's do grupo no comportamento e atitudes de seus membros. Um de seus discípulos, Leon Festinger, desenvolveu, em 1957, a Teoria da Dissonância Cognitiva, um conjunto de pressupostos acerca da natureza do compor tamento humano e suas motivações em relação ao mundo que é experienciado por cada indivíduo. Outros estudos dessa corrente, de natureza mais socioló gica, foram desenvolvidos sobretudo por Paul Lazarsfeld. Pesquisador de enonne influência nos Estados Unidos, La zarsfeld iniciou seus estudos preocupado com reações ime diatas da audiência dos conteúdos da comunicação de massa. Com o passar "aos anos, desenvolveu estudos de abordagem empírica de campo, procurando estudar os fatores de ~edia- 127 -- .. " , .,' '. 'l. . , { , 1 .,."\ r'"'" exisientés '~Iltre 'OS' 'Íi1di - ''lOS e Os meios de comunica- ç~o de mass~. F~raÍn realizado,s div~rsos estudos sobre a composição diferenciada:âo'S públicos e dos seus modelos de consumo da comunicaçã.o de massa. Dois deles são de.cisi . vos para a evolução da{eorização norte-americana: The Peo ple's Choice, de 1944, e Personal Influence: The Part Pla yed by People in the Flow oJMass Communication, de 1955. Os resultados levaram àdescoberta do "líder de opinião", in dividuo que, no meÍo da malha social, influencia outros indi víduos na tomada de decisão. Criou-se então o modelo do "two-step flow ofcommunication", que entende a comuni cação como um processo que se dá num fluxo em dois níveis: dos meios aos líderes e dos líderes às demais pessoas. Trata-se da inclusão, nos estudos sobre a comunicação de massa, dos contextos sociais em que vivem os indivíduos. É o primeiro momento em que se percebe a influência das re lações interpessoais na configuração dos "efeitos" da comu nicação. Da idéia de efeitos diretos chega-se enfim à idéia de um processo indireto de influência. Uma variação desta corrente é o "enfoque fenomênico" . desenvolvido por Klapper, aluno de Lazarsfeld. Trata-se de um modelo teórico que prevê que os meios de comunicação não são causa única dos efeitos, mas, antes, acham-se envol vidos no meio de muitos outros fatores. Esta constatação obri ga que se incorpore cada vez mais fatores extramedia nos es tudos. Sobretudo, exige-se a incorporação da vivência das pessoas, da rede de relações interpessoais em que cada indi víduo se acha envolvido. Até os anos 60, as grandes evoluções por que passa a in vestigação sobre os Efeitos, nos Estados Unidos, devem-se ainda principalmente aos resultados contraditórios e com plexos encontrados nas pesquisas empíricas, que levavam constantemente a reformulações dos quadros teóricos utili zados pelos pesquisadores da época. A partir dos anos 60, essa grande corrente de estudos vai dialogar de forma mais consistente com diversas outras correntes de estudo, tanto 128 'I' norte-arnericJnas (aquelas antes relegadas à marginalidãde, coma. o Interacionismo Simbólico, a Semiótica e a Escola de PaIo Alto, e outras áreas de pesquisa como a Sociologia do Conhecimento) como européias (a Corrente Culturológica francesa, a Semiologia, os Cultural Studies de Birmingham). Desse diálogo resultam novas abordagens da problemática dos efeitos, que apontam para um quadro explicatiyo já.~as tante diferente do primeiro modelo a orientar os estudos da década de 30. Uma destasabordagens é a Corrente dos "Usos e Gratifi cações", trabalhada sobretudo por Katz, também discípulo de Lazarsfeld, nos anos 70, e outros COmo Blumler e Elliott. Aqui, o eixo das preocupações se desleca da pergunta "o que os meios fazem com as pessoas" para pensar no uso que as pessoas fazem dos meios. Surge a idéia de uma "leitura ne gociada", isto é, abre-se a investigação para a atividade de apropriação promovida pelos receptore3 das mensagens me diáticas. O receptor passa a ser visto como sujeito agelite, ca paz de praticar processos de interpretação e satisfação de ne cessidades. Essa corrente de estudos vai aperfeiçoar 'seus mé todos até 1990, ano em que Katz realiza uma grande pesqui sa em parceria com Tamar Liebes e uma equipe da Universi dade de Jerusalém: The Export oJMeaning. Outra abordagem t a hipótese do agenda setting, também conhecida como Teoria dos Efeitos a Longo Prazo. Trata-se de uma construção teórica que pensa a ação dos meios não como formadores de opinião, causadQres 'de efeitos diretos, mas como alteradores da estrutura cognitivà.d3s"pessoas. É o modo de cada indivíduo conhecer o mundo que é modificado a partir da ação dos meios de comunicação de massa - ação esta que passa a ser compreendida como um "agendamento", isto é, a colocação de temas e assuntos na sociedade. Ao mes mo tempo, essa corrente substitui a idéia de efeitos imediatos por efeitos que se espalham num período maior de tempo. Esse campo-de pesquisa teve origem em 1952, a partir de um trabalho de Kurt e Gladys Lang, sendo formulada em 129
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