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Restrição de Crescimento Intra Uterino Uma primigesta de 28 anos é examinada no consultório com 33 semanas de gestação para uma visita pré-natal de rotina. A IG foi calculada a partir da ultrassonografia realizada com 8 semanas de gestação que se apresentou normal. A gravidez correu normalmente até o momento, embora ela continue a fumar um maço de cigarros ao dia. Ela afirma que tem sentido movimentos fetais normais e que não sente contrações uterinas. Ao exame, ela tem 1,67 m de altura, 53,5 kg e PA, 90/60 mmHg. A altura do fundo de útero é 26 cm. Qual é o diagnóstico mais provável? Quais outros itens importantes devem ser observados na ultrassonografia? Qual é o próximo passo no manejo dessa paciente? ⇒ O crescimento celular fetal pode ser dividido em 3 fases. 1) Da concepção até a 16° semana de gestação ( onde ocorre hiperplasia celular e rápido aumento do número de células) 2) Da 16° semana até a 32° semana (onde ocorre hiperplasia e hipertrofia celular). 3) Da 32° semana até o fim da gestação (o crescimento fetal ocorre principalmente por hipertrofia). ⇒ Restrição do crescimento fetal (RCF)/Crescimento intrauterino restrito (CIUR) são termos que se referem a impossibilidade do feto atingir o seu potencial de crescimento. ⇒ É uma importante causa de morbidade e mortalidade perinatal. Aproximadamente 43% de todos os óbitos fetais apresentam RCF. ⇒ O risco é ainda mais elevado quando esses casos não são identificados durante o pré-natal, com mortalidade de 19,8/1000 nascimentos, comparada a 9,7/1000 nascimentos quando a RCF foi detectada. ⇒ A CIUR está relacionada a possíveis consequências na idade adulta (maior risco de coronariopatia, hipercolesterolemia, infarto, hipertensão arterial e diabetes). Etiologia ⇒ É possível observar fatores de risco fetais, maternos ou placentários em 60% dos casos (sendo o restante de etiologia desconhecida). ⇒ Causas fetais: cromossomopatias (trissomia do 21, 18 e 13), síndromes genéticas e malformações fetais. ⇒ Causas placentárias: anormalidades na placenta (placenta prévia, corioangiomas, inserção velamentosa de cordão e artéria umbilical única). ⇒ Causas maternas: síndromes hipertensivas, infecções (rubéola, citomegalovírus, herpes, toxoplasmose), diabetes (com comprometimento vascular), colagenoses, nefropatias, doenças inflamatórias intestinais, trombofilias e consumo de álcool, cigarros e drogas. Tipos de CIUR ⇒ Simétrico/Tipo I (5 - 10% dos casos) = Quando ocorre agravo no início da gestação, comprometendo todo o crescimento do feto. # Ex: trissomias, infecções no 1° trimestre (toxoplasmose, rubéola), drogas. # Curva altura uterina x idade gestacional se encontra abaixo do percentil 10 desde o 1 trimestre. ⇒ Assimétrico/Tipo II (80 % dos casos) = Relacionado a insuficiência placentária (normalmente criança cresce o esperado até o 2 trimestre, ficando abaixo do percentil 10 a partir de então). # Ex: Insuficiência placentária ( DM, HAS, nefropatia, pneumopatia, cardiopatia). ⇒ Misto/Tipo III (raro) = Assimétrico e precoce. # Ex: pode ser causado por algumas cromossomopatias. Diagnóstico CIUR # 1° verificar idade gestacional (USG de 1° trimestre - 8 a 12 semanas). ⇒ Diagnóstico Clínico: A medida da altura uterina (AU) menor do que a esperada para a idade gestacional consiste no método clínico mais importante para se avaliar o crescimento fetal durante o pré-natal # Altura uterina (AU): Rastreio de CIUR para gestante de baixo risco. # Entre 18 e 30 semanas IG = AU. # Se AU estiver 3 cm abaixo do esperado para idade gestacional = suspeita de CIUR ou oligoidrâmnio. Diagnóstico CIUR ⇒ Diagnóstico ultrassonográfico: O diagnóstico provável da RCF é feito pela ultrassonografia, que é mais precisa que a medida da AU. ⇒ USG obstétrico com peso estimado inferior ao percentil 10 para IG = CIUR. # Para a estimativa do peso fetal é utilizado medidas do polo cefálico, do abdome e do fêmur. # relação fêmur/circunferência abdominal ou circunferência cefálica/ circunferência abdominal permite a classificação entre a restrição de crescimento em tipo I (simétrico) e tipo II (assimétrico). # Pacientes com alto risco para vasculopatia (sofrimento fetal crônico - Hipertensão arterial crônica, DM prévio, pré-eclâmpsia, lúpus, nefropata) a dopplerfluxometria (uterina e umbilical) deve fazer parte da rotina de pré-natal. Valores de referência para estimativa ultrassonográfica do peso fetal em gestações únicas. Dopplervelocimetria ⇒ Após o resultado de peso inferior ao percentil 10 na ultrassonografia, se faz necessário a realização de Doppler de artéria umbilical. ⇒ Valores anormais na dopplervelocimetria das artérias umbilicais indicam aumento da resistência no território placentário, ou seja, permitem diagnosticar a insuficiência placentária e sua gravidade. ⇒Feito o diagnóstico de insuficiência placentária, é importante que se avalie a resposta fetal à hipoxemia (comprometimento do território arterial e venoso fetal). ⇒ Quando encontramos dopplervelocimetria da artéria umbilical anormal se faz necessário avaliação da artéria cerebral média (a redistribuição do fluxo sanguíneo para territórios nobres, decorrente da hipoxemia, tem como consequência a vasodilatação cerebral). Dopplervelocimetria ⇒ No caso de centralização (vasodilatação da artéria cerebral) pode ocorrer vasoconstrição periférica intensa, aumento da pressão diastólica final nos ventrículos (especialmente no direito) e diminuição do fluxo sanguíneo no território venoso durante a sístole atrial, refletindo a alteração observada no Doppler de ducto venoso. ⇒ O doppler de ducto venoso é o último parâmetro a se alterar. Quando anormal, está associado com acidose fetal. ⇒ Doppler da Artéria uterina ⇒ Avalia circulação materna. Contudo pode auxiliar de maneira indireta na avaliação de CIUR. ⇒ Auxilia a acompanhar fenômenos adaptativos materno (invasões trofoblásticas - desaparecimento das incisuras diastólicas da artéria uterina). # Persistência da incisura bilateral por mais de 26 semanas = risco de ocorrer CIUR e Pré-eclâmpsia. # Quando a 2° onda de invasão trofoblástica não ocorre de forma adequada ⇒ temos assim uma maior resistência ⇒ menor fluxo sanguíneo = menor crescimento fetal. ⇒ Doppler Artéria Umbilical (avalia circulação placentária). # Normalmente ocorre redução de resistência na artéria umbilical, conforme avanço da gestação, possibilitando maior fluxo sanguíneo. # Caso ocorra aumento da resistência na artéria umbilical ⇒ ocorre, consequentemente, menor fluxo sanguíneo (indício de insuficiência placentária). # Se relação sístole/diástole se altere = avaliar adaptação do feto para essa nova condição (Dopplerfluxometria da Cerebral média). ⇒ Doppler da Cerebral Média (Circulação fetal) = Cerebral média normalmente é um vaso com alta resistência (vaso de baixo calibre). # Quando encontramos vasodilatação nesse vaso (menor resistência - vaso se abrindo) é provável que “esteja ocorrendo sequestro de sangue dos outros órgãos” (feto priorizando órgãos nobres - tentativa de se adaptar a baixo fluxo sanguíneo). # Órgãos nobres = cérebro, coração e adrenais. # Diagnóstico de centralização = # Quando temos centralização = Avalie possibilidade de realizar o parto (principalmente com > 34 semanas). Caso Feto apresente centralização + idade gestacional < 32 semanas: ⇒ Realizar Doppler de ducto venoso (avaliar se há a possibilidade de dar corticóide antes do parto - para diminuir complicações da prematuridade). # Onda A negativa = Risco iminente de morte (nao da tempo de fazer corticoide). Dopplerfluxometria de Ductovenoso normal. Onda A (normal é que fique positiva). Dopplerfluxometria de Ducto venoso Anormal. A Conduta (Febrasgo) ⇒ O acompanhamento da gestante com CIUR deve ser realizado em um centro terciário em razão das complicações perinatais e da necessidade de avaliações mais complexas. ⇒ Até o momento, não há tratamento para a CIUR, sendo que já foi sugerida a administração de ácido acetilsalicílico (AAS), oxigênio inalatório, drogas beta-adrenérgicas ou heparina como tratamento, porém nenhum desses mostrou resultados satisfatórios. ⇒ As orientações gerais para as gestantes com diagnóstico de CIUR são: fazer mais repouso, não fumar e receber dieta adequada. ⇒Nos casos em que se diagnostique a insuficiência placentária, a avaliação da vitalidade fetal será a principal ferramenta na indicação do momento do parto. Conduta (Febrasgo) ⇒ A partir da viabilidade (25 semanas), a conduta obstétrica inclui provas de vitalidade fetal uma vez por semana e ultrassonografia seriada a cada 14 dias. ⇒ Caso se opte pela resolução da gestação entre 25 e 34 semanas, a corticoterapia está indicada para minimizar os efeitos da prematuridade. ⇒ Diante do achado de Doppler de artéria umbilical anormal ( PI acima do percentil 95 para a IG) e na ausência de outras alterações das provas de vitalidade fetal, pode-se tentar levar a gestação até 37 semanas. ⇒Abaixo de 34 semanas, na presença de diástole zero, interna-se a gestante e realiza-se o Doppler de ducto venoso. Se o índice de pulsatilidade para veias (IPV) situar-se entre 1 e 1,5, faz-se um ciclo de corticoide (desde que entre 25 e 34 semanas) e interrompe-se a gravidez após 48 horas. Entretanto sua interrupção é imediata quando o IPV é superior a 1,5 Conduta (Febrasgo) ⇒ Nos casos de vitalidade fetal preservada e apresentação cefálica, a preferência é pela via vaginal. # Avaliar com atenção a vitalidade fetal intraparto pelo risco de sofrimento fetal agudo. ⇒ Quando houver sofrimento fetal ou apresentação pélvica, indica-se a cesárea. ⇒A interrupção da gestação também se impõe por indicação materna decorrente de doença com agravamento clínico. Orientação de conduta MS ⇒ manejo baseado em estágios de evolução da CIUR/RCF: ⇒ Estágio 1 = Doppler fetal normal (insuficiência placentária leve). Peso fetal estimado < percentil 3 sem alterações do Doppler materno-fetal, ou peso fetal estimado entre o percentil 3 e 10 com Doppler de artérias uterinas alterado. ⇒ Realizar avaliação do crescimento e vitalidade fetal a cada 15 dias (até 34 semanas de gestação) e após, semanalmente. # Parto com 38 semanas, podendo ser induzido (evitando o uso de prostaglandinas). Se o percentil de peso estimado for <1, considerar o parto com 37 semanas. Orientação de conduta MS ⇒ Estágio 2 = Restrição do crescimento fetal com insuficiência placentária moderada (com alterações do Doppler fetal) + Presença das seguintes alterações do Doppler: IP das artérias umbilicais >percentil 95, IP da artéria cerebral média < percentil 5, ou RCP <1. ⇒ A avaliação da vitalidade fetal (Doppler e perfil biofísico fetal) realizada semanalmente é aceitável. # Quando disponível, monitorar vitalidade fetal 2 a 3 x por semana. ⇒ Considerar a internação da paciente após 34 semanas para otimizar o controle clínico e realizar vitalidade diária. ⇒ Parto com 37 semanas, sendo a indução aceitável (evitando o uso de prostaglandinas). Orientação de conduta MS ⇒ Estágio 3 = Insuficiência placentária severa (Doppler da artéria umbilical com diástole zero). ⇒ Pode ser realizada monitorização fetal a cada 2 dias. ⇒ Para otimizar o controle do bem-estar fetal, as pacientes podem ser internadas, a partir da viabilidade, e avaliadas diariamente (Doppler, perfil biofísico fetal e cardiotocografia computadorizada). ⇒ O parto é recomendado com 34 semanas por cesárea eletiva, pois o risco de sofrimento fetal na indução de parto excede 50%. Orientação de conduta MS ⇒ Estágio 4 = deterioração fetal avançada (Doppler da artéria umbilical com diástole reversa ou ducto venoso com IP > percentil 95). # Alto risco de óbito fetal e de prejuízo no desenvolvimento neurológico. ⇒ É indicado Internação e monitorização da vitalidade fetal diariamente (Doppler, perfil biofísico fetal e cardiotocografia computadorizada). ⇒ O parto, em alguns protocolos na literatura, é recomendado a partir de 30 semanas. Em fetos <30 semanas, podemos utilizar o perfil biofísico fetal para avaliar a possibilidade de conduta expectante, pelo menos para realização de corticoterapia e transferência para serviço terciário Orientação de conduta MS ⇒ Estágio 5 = Quando há grande probabilidade de acidose fetal e alto risco de óbito fetal (Doppler do ducto venoso com onda A reversa, cardiotocografia computadorizada <3 ms ou desacelerações da frequência cardíaca fetal). ⇒ Parto por cesárea eletiva no momento do diagnóstico, a depender da viabilidade da UTI Neonatal. # Nas idades gestacionais mais precoces, os pais devem ser aconselhados sobre os riscos de sequelas, e a opinião deles deve ser levada em conta na decisão do parto ⇒ Nos casos dos fetos com insuficiência placentária grave (diástole zero no Doppler da artéria umbilical) e suspeita de acidose (Doppler da artéria umbilical com diástole reversa, alteração do Doppler do ducto venoso), recomenda-se cesárea. Referências Martinelli S, Zugaib M, Francisco RP, Bittar RE. Restrição do crescimento fetal. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO); 2018. (Protocolo FEBRASGO - Obstetrícia, no. 35/ Comissão Nacional Especializada em Medicina Fetal). BRASIL. Manual de Gestação de Alto Risco. Ministério da Saúde; 2022. Gardosi J, Madurasinghe V, Williams M, Malik A, Francis A. Maternal and fetal risk factors for stillbirth: population based study. BMJ. 2013;346:f108. Figueras F, Gratacós E. Update on the diagnosis and classification of fetal growth restriction and proposal of a stage-based management protocol. Fetal Diagn Ther. 2014;36(2):86–98. Interpretação do doppler obstétrico na avaliação da vitalidade fetal. Dr.Pixel. Campinas: Dr Pixel, 2016. Disponível em: https://drpixel.fcm.unicamp.br/conteudo/interpretacao-do-doppler-obstetrico-na-avaliacao-da-vitalidade-fetal. Acesso em: 16 Abr. 2022
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