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SOFRIMENTO FETAL AGUDO DEFINIÇÃO E FISIOPATOLOGIA • Sofrimento fetal agudo é aquele que ocorre durante o parto • Caracterizado por qualquer fator que dificulte as trocas metabólicas entre sangue materno e fetal, prejudicando a disponibilidade de O2 para o feto e podendo, inclusive, levar à asfixia e estado de acidose metabólica ETIOLOGIA • Hiperatividade uterina o Pode ocorrer devido ao uso indiscriminado de ocitócitos e também decorrente de complicações obstétricas, como descolamento prematuro de membranas, polidrâmnio e período expulsivo prolongado • Hipotensão materna: o Pode ocorrer durante a anestesia, devido a hemorragias, e também pela compressão da veia cava inferior e da aorta no decúbito dorsal • Patologias funiculares o São alterações no cordão umbilical, como nós, circulares e prolapsos • Parto prolongado o Pode ocasionar, eventualmente, acidose metabólica materna, que acaba comprometendo também o feto AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA • Pode ser feita intraparto por cardiotocografia o Porém não está indicada em todas as gestações • Indicações de Cardiotocografia intraparto: o Gestação de alto risco materno fetal o Indução eletiva ou aceleração do trabalho de parto o Parto pré-termo o Parto gemelar o Desenvolvimento de fatores de risco materno fetais intraparto o Taquicardia, bradicardia ou desaceleração a ausculta clínica fetal 1ª Fase de parto: dilatação → ausculta clínica a cada 30 minutos – antes, durante e após contração uterina 2ª fase de parto: expulsivo → ausculta clínica a cada 15 minutos CARDIOTOCOGRAFIA (CTG) • Exame que monitora, através de dois sensores, a FC fetal e a contratilidade uterina • Alterações na FC fetal são categorizadas em basais, periódicas e episódicas (ou transitórias) • Gestação de alto risco? Fazer entre a 26ª e 28ª semana Alterações Basais • Frequência cardíaca fetal basal (FCF) o Corresponde à linha de base da cardiotocografia. o Valores normais: 110-160 bpm o Bradicardia fetal: <110 bpm o Taquicardia fetal: > 160 bpm • Variabilidade ou Oscilação o A variabilidade da FC fetal é determinada em janelas de 10 minutos, visualmente, e considerando as flutuações da FCF basal em bpm o Variabilidade moderada (6-25 bpm): Ausência de acidemia metabólica fatal Uma variabilidade menor que a moderada, isoladamente, não é um marcador confiável de hipoxemia ou acidose metabólica → Seguir com investigação o Uma variabilidade baixa, como nos primeiros 10 minutos do gráfico acima, pode corresponder a um período de sono fetal Cardiotocografia muito linear? • Checar posicionamento dos sensores – podem não estar captando bem a FCF • Estimulação fetal (feto pode estar em período de sono e não necessariamente por algum problema relacionado a hipoxemia) → Manobra do escalpo, que consiste na estimulação digital do couro cabeludo ou com pinça de Allis o Espera-se ao menos 1 aceleração na FCF nos próximos 20 a 40 minutos Bebês reativos: 2 acelerações ou 1 (em algumas literaturas) em um período de 20 a 40 minutos Alterações Transitórias • Acelerações o São aumentos transitórios da FCF de amplitude ≤ 15 bpm e duração ≥ 15 segundos, que ocorrem devido à movimentação fetal, estimulação ou contratilidade uterina • Desacelerações (DIPs) o São quedas temporárias da FCF. Divididas em: ▪ Dip I ou precoce: • Tem seu início, máximo de queda e recuperação coincidindo com a contração • Ocorre devido ao estímulo vagal decorrente da compressão da cabeça fetal durante a contração, sendo, portanto, fisiológico • Também chamado de Dip cefálico ▪ Dip II ou tardio • É o máximo de queda e recuperação que ocorrem de forma atrasada em relação à contração uterina • Relacionado ao sofrimento fetal agudo, principalmente devido à estase de sangue viloso, sendo encontrado na asfixia fetal por insuficiência uteroplacentária aguda ▪ Dip III ou variável • A desaceleração não tem correspondência com a contração uterina e as quedas variam de aspecto no decorrer do traçado • Chamados de Dips umbilicais, pois estão muito associados à compressão do cordão umbilical • Essa desaceleração pode apresentar características que indiquem se é uma desaceleração mais favorável ou não: o Favorável: há acelerações antes e após a desaceleração o Desfavorável: há desaceleração sem tais acelerações DIP III: Desfavorável DIP III: favorável • Padrão Sinusoidal o Associado à eritroblastose fetal (anemia fetal grave) o Corresponde a uma ondulação da linha de base Categorias da cardiotocografia baseadas na FCF Categoria I: alterações benignas e/ou fisiológicas Categoria III: quando apresentam alguma grande alteração patológica Categoria II: por exclusão 1. Qual patologia está relacionada ao padrão sinusoidal à CTG? 2. CTG categoria I é indicativo de parto imediato? 3. O que ocasiona a DIP precoce? 4. Acima de qual FC temos uma taquicardia fetal? 5. Abaixo de qual FC pensamos em bradicardia fetal? CONDUTA Profilaxia • Não acelerar o parto que progride normalmente • Só utilizar Ocitocina quando a evolução do parto é interrompida ou desacelerada por motivo de deficiência da contratilidade uterina • Se houver indicação médica para indução do parto, convém utilizar a menor dose de ocitócito capaz de fazê- lo iniciar e progredir TRATAMENTO • Baseado nas categorias da cardiotocografia o Categoria I: ▪ Conduta de rotina, manter acompanhamento/seguimento; o Categoria II ▪ Geralmente requer reanimação intrauterina e, se não melhorar, parto. ▪ Em caso de aceleração presente e variabilidade moderada (6-25 bpm), e conduta conservadora, continuar avaliação e considerar parto o Categoria III ▪ Preparar para o parto!!!! Pode ser tentada a reanimação intrauterina enquanto aguarda Objetivos da reanimação intrauterina • Reduzir a atividade uterina o Medidas: ▪ Descontinuar ocitocina/misoprostol; ▪ Tocolítico (terbutalina SC) ▪ Decúbito lateral (D/E) • Promover a oxigenação fetal e melhorar o fluxo uteroplacentário • Aliviar a compressão umbilical o Medidas: ▪ Reposicionamento materno ▪ Amnioinfusão ▪ Elevação da apresentação fetal aguardando cesárea (prolapso do cordão) Padrões na cardiotocografia • Tônus de contração sempre acima de 20 mmHg o Pensar em hipertonia uterina • Múltiplas contrações muito rápidas e ineficazes algumas com baixa pressão o Pensar em Distocia funcional ▪ Diagnóstico clínico, visto que consiste na dilatação do colo uterino inferior a 1 cm/h SOFRIMENTO FETAL CRÔNICO DEFINIÇÃO • É aquele que ocorre ao longo da gestação, devido às complicações por insuficiência placentária, cursando com CIUR restrito e oligodramnia CRESCIMENTO INTRAUTERINO RESTRITO (CIUR/RCIU/CIR) • É uma importante causa de mortalidade perinatal, ocorrendo 10x mais em fetos com CIUR que em fetos com crescimento normal • Definido como CIUR quando o peso fetal estimado estiver abaixo do percentil 10 para a idade gestacional Diagnóstico • Em gestações de baixo risco, o rastreio de CIUR pode ser feito apenas com a medida do fundo uterino, não sendo obrigatória a indicação de USG o A partir das 20 semanas de gestação, a medida uterina passa a ter uma correspondência com a idade gestacional Abaixo de 12 semanas: útero intrapélvico Entre 12 e 20 semanas: entre a cicatriz umbilical e sínfise púbica o A altura uterina menor que a esperada no terceiro trimestre de gestação é indicação de realização de USG obstétrica para avaliação do crescimento fetal, sendo utilizados os seguintes parâmetros: • Medida da cintura abdominal (melhor parâmetro) • Circunferência cefálica e; • Comprimento do fêmur Causas • Divididas em 2 grupos: o Fatores fetais intrínsecos: como aneuploidias e infecções congênitas o Fatores maternos: alteram a transferência de nutrientes e O2 para o feto,como pré-eclâmpsia, desnutrição materna grave, tabagismo e uso de drogas na gestação o Hipertireoidismo pode causar CIUR. Os anticorpos da doença de Graves atravessam a placenta e estimulam a tireoide fetal, aumentando a FC e o feto não cresce conforme esperado Tipos • Podemos dividir o CIUR em: o Simétrico: • Quando a circunferência cefálica, a circunferência abdominal e o comprimento do fêmur estão todos reduzidos • Geralmente associado às alterações que ocorreram quando o embrião ainda se desenvolvia por divisão celular o Assimétrico: • A circunferência cefálica continua a crescer normalmente para a idade gestacional, enquanto a circunferência abdominal e o comprimento do fêmur não a acompanham • A diferença se torna mais acentuada a partir de 28 semanas • Geralmente ocorre por consequência de fatores extrínsecos, relacionados à biodisponibilidade inadequada de substratos para o metabolismo fetal OLIGODRAMNIA → diminuição do vLA para a IG • Causada por filtração renal diminuída e um pulmão que produz menos secreção → Centralização fetal • É compatível com provável asfixia crônica • Identificada pela USG quando a medida do índice de líquido amniótico (ILA) é menor que 5 cm, ou o maior bolsão vertical (MBV) de líquido amniótico é menor que 2 cm • O ILA é calculado após a divisão do útero em 4 quadrantes ao nível da cicatriz umbilical, e medindo-se o MVB em cada um deles, livre de partes fetais e de cordão umbilical o O somatório dessas medidas consiste no ILA • A medida do MBV consiste na medida do maior diâmetro vertical do maior bolsão de LA encontrado através da USG, e livre de partes moles e de cordão umbilical o Atualmente é método mais aceito Causas • Causas maternas o Síndrome hipertensiva o Diabetes com vasculopatia o Síndrome antifosfolipide o Ingestão de fármacos (principalmente os iECA e os anti-inflamatórios) • Causas fetais o Sofrimento fetal crônico o RCIU o Malformações do sistema urinário fetal o Infecções congênitas o Cromossomopatias • Causas anexiais o Amniorrexe prematura o Insuficiência placentária o Prenhez prolongada o Deslocamento prematuro da placenta (crônico) Quando houver oligodramnio isolado, sem DHEG ou malformação fetal, a conduta é direcionada pela IG. Se > 37 semanas, indicar resolução da gestação. Se < 37 semanas, acompanhar por perfil biofísico fetal e doppler semanal 6. Qual o principal parâmetro ultrassonográfico para avaliação de CIR? 7. Em gestações de baixo risco como podemos fazer o rastreamento de CIR? 8. Qual valor de ILA indica oligodramnia? 9. Qual valor de MBV indica oligodramnia? Síndrome da Banda amniótica • É um conjunto de defeitos congênitos causado quando o âmnio sofre uma ruptura parcial e bandas fibrosas passam a flutuar no líquido amniótico, junto ao feto podendo gerar aprisionamento de partes fetais em bandas/bridas amnióticas fibrosas • Etiologia desconhecida, pode estar associada a teratógenos • Em geral, há contrições das partes afetadas pelas bandas, resultante em anéis de constrição ao redor de dedos, braços ou pernas; linfedema congênito; amputação congênita de membros e dedos; e deformidades do pescoço e da face • Desconfiar quando houver um RN com ausência congênita de membro cujo parto foi induzido por oligodramnio acentuado. POLIDRÂMNIO • É o excesso na quantidade de líquido amniótico e está associado à maior morbidade e mortalidade perinatais Diagnóstico • Volume de líquido amniótico > 2000 ml • Diâmetro do maior bolsão de líquido amniótico > 8 cm ou a classificação do volume do LA, de acordo com o índice do líquido amniótico, for maior que 18 cm Causas • Fetais: obstruções TGI, anomalias congênitas como as do SNC, arritmias cardíacas, infecções, hidropsia fetal não imune e tumores fetais • Maternas: DM e aloimunização • Placentárias: Síndrome da transfusão feto-fetal e corioangioma; idiopática • Idiopáticas • Doença hemolítica perinatal o Causa polidrâmnio pela hipóxia fetal • Diabetes gestacional o Causa polidrâmnio pela hiperglicemia materna e consequente diurese osmótica fetal • Anencefalia o Causa polidrâmnio pela deglutição fetal prejudicada, com redução da ingestão de líquido amniótico e consequente polidrâmnio. AVALIAÇÃO DA VITALIDADE FETAL • Indicada, principalmente, nas gestações que cursam com insuficiência placentária capaz de gerar sofrimento fetal crônico, muitas vezes associado ao CIUR • Principais testes utilizados: o Cardiotocografia o Perfil biofísico fetal o Doppler Perfil Biofísico Fetal (PBF) • É um teste de avaliação anteparto da vitalidade fetal, que observa 5 variáveis, sendo uma através da cardiotocografia, e as demais através da USG. São elas: o Frequência cardíaca fetal pela cardiotocografia o Movimento respiratório fetal (MRF) o Movimentação fetal o Tônus fetal → É A ÚLTIMA A SE ALTERAR o Volume de líquido amniótico (vLA) • Cada variável é avaliada de acordo com a tabela a seguir, e recebe uma nota de 0 a 2, sendo 0 quando o critério está ausente e 2 quando está presente Variável Critério 1. Aceleração da FC fetal (FCF) 2 acelerações 2. Movimentação respiratório fetal (MRF) 1 episódio contínuo com 30 s de duração 3. Movimento fetal 3 movimentos do corpo ou dos membros 4. Tônus fetal 1 episódio de extensão/flexão dos membros ou de tronco, ou abertura/fechamento das mãos 5. Volume do líquido amniótico (vLA) Bolsão vertical ≥ 2 cm - O somatório de 8 a 10 pontos é considerado normal, desde que o vLA receba 2 pontos - Pontuação de 6 é considerada equivocada - ≤ 4 é anormal Dopplerfluxometria • Doppler da artéria Uterina o Idealmente deve ser realizado entre 24-26 semanas o Útil porque é um preditor para pré-eclâmpsia e crescimento intrauterino restrito o O doppler da artéria uterina apresentando incisura protodiastólica bilateralmente está relacionado ao risco de pré-eclâmpsia • Essa alteração também pode estar relacionada ao sofrimento fetal crônico • Doppler da artéria umbilical Na gestação normal, a circulação umbilical apresenta baixa resistência, para permitir as trocar materno-fetais de forma apropriada. o A alteração mais precoce ao USG doppler no sofrimento fetal crônico é o aumento da resistência da artéria umbilical o Em uma situação que gere insuficiência placentária e curse com hipóxia faz com que a resistência nessa artéria aumente e haja redistribuição do fluxo sanguíneo, priorizando órgãos-alvo (cérebro, coração e adrenais) • Isso explica porque a resistência da artéria cerebral média está diminuída (permitindo que mais sangue se dirija a essa região) e o da umbilical está aumentada, para que mais sangue vá para região cefálica o Isso é chamado de centralização fetal, na qual o índice de resistência na artéria umbilical é maior que na cerebral média (U/C > 1) o Diástole reversa da artéria umbilical • O doppler vai se alterando conforme a resistência na artéria umbilical vai aumentando, e o quadro de sofrimento fetal vai piorando, até chegar a um ponto crítico em que temos a diástole zero, de tanta resistência • O fluxo sanguíneo naqueles vasos umbilicais está criticamente diminuído Diástole zero: é a ausência de diástole no USG com doppler da artéria umbilical Diástole reversa: fluxo reverso na artéria uterina durante a diástole → indica sofrimento metal o Qual a conduta quando temos alteração do Doppler da artéria umbilical? • Diástole zero: expectante se < 32-24 sem o parto cesáreo a partir de 32-34 semanas • Diástole reversa: ainda mais grave, deve-se interromper a gestação imediatamente por via cirúrgica • Precisamos saber também se o feto já está no seu último estágio de adaptação e se há necessidade de intervenção • Devemos fazer então a avaliação cardíaca fetal por meio do doppler do ducto venoso. Se houver presença de onda A negativa, fazer cesárea imediata, pois o fetoestá em iminência de morte Corioamnionite • Condições que sugerem Corioamnionite: o Febre materna (T > 37,8 ºC) o Taquicardia materna (FC > 100) o Taquicardia fetal (FC > 160 bpm) o Líquido amniótico com odor fétido/purulento o Sensibilidade uterina aumentada o Leucócitos > 15.000 • Conduta: Antibioticoterapia + indução do parto PREFERÊNCIA POR VIA VAGINAL NÃO SE FAZ CORTICOTERAPIA 10. Quais as 5 variáveis avaliadas no perfil biofísico fetal? 11. Qual a última variável do perfil biofísico fetal a se alterar? 12. Em caso de centralização fetal, o que ocorre com a resistência da artéria cerebral média? 13. Em caso de centralização fetal o que ocorre com a resistência da artéria umbilical? 14. Qual a primeira variável do perfil biofísico fetal a se alterar quando há hipóxia no sofrimento fetal agudo? 1. Eritroblastose fetal/anemia fetal 2. Não, indica alterações fisiológicas 3. Compressão do polo cefálico fetal durante a contração uterina 4. Acima de 160 bpm 5. Abaixo de 110 bpm 6. Circunferência abdominal 7. Medida do fundo uterino materno 8. Abaixo de 5 cm 9. Abaixo de 2 cm 10. Frequência cardíaca fetal pela cardiotocografia, movimento respiratório fetal (MRF), movimentação fetal, tônus fecal, volume de líquido amniótico (vLA) 11. Tônus fetal 12. Diminui 13. Aumenta 14. A cardiotocografia de repouso
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