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O art. 18, caput, da CF/88 preceitua que a organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos da Constituição Federal. A regra é a de que uma pessoa política não pode intervir em assuntos de outra pessoa política. Temos dois controles básicos do pacto federativo: 1. Controle da constitucionalidade; 2. Possibilidade de intervenção (federal e estadual). O objetivo é a mantença do pacto federativo ou o respeito a elementos considerados, pela Constituição, como essenciais à manutenção de certa “ordem” e permanência das instituições. No entanto, excepcionalmente, a CF prevê situações (de anormalidade) em que haverá intervenção, suprimindo-se, temporariamente, a aludida autonomia. Realmente, a intervenção surge como a punição política mais grave existente nos Estados federais. A intervenção de um ente em outro é verdadeira ruptura do sistema brasileiro de autonomia federativa A intervenção será sempre da pessoa política “maior” na “menor”, mas de pessoas subsequentes. Não pode a União intervir nos Municípios, em regra. ↪ Há uma exceção: a CF prevê a possibilidade de existência de territórios, que não são entes federativos, mas descentralizações administrativas do ente federativo União. E, ao se criarem Municípios no território, aí há possibilidade de intervenção federal nos Municípios. Na verdade, tais Municípios foram criados na União. A intervenção é ato político-administrativo. Isso significa que está orientada à manutenção do pacto federativo, independentemente da pessoa ou pessoas que sejam responsáveis pela violação que enseja a intervenção. Por esse motivo, e porque a intervenção não implica pena ao eventual detentor do cargo de Chefe do Executivo, a renúncia deste e a assunção do cargo por seu vice não impedem que a intervenção se ultime. O objetivo é, frise-se, restabelecer a ordem. A regra da intervenção seguirá o seguinte esquema: ↪ Intervenção federal: União, nos Estados, Distrito Federal (hipóteses do art. 34) e nos Municípios localizados em território federal (hipótese do art. 35); ↪ Intervenção estadual: Estados em seus Municípios (art. 35). Características básicas da intervenção: → É um ato político, porque só uma autoridade pode decretar a intervenção federal: o Presidente da República, mediante decreto federal (chamado decreto interventivo). Às vezes, tal decreto é discricionário, e às vezes é vinculado a uma causa. → É o oposto da autonomia, a exceção à autonomia é a intervenção. Só é possível a intervenção nos casos expressamente previstos nos sete incisos do art. 34. → É medida excepcional, por ser excepcional, contém limites, contidos no próprio decreto. A intervenção é sempre temporária, pelo prazo constante no decreto. Deve constar ainda em qual órgão se intervirá (Executivo, Legislativo). ● ESPÉCIES DE INTERVENÇÃO FEDERAL → Espontânea: A intervenção federal é de iniciativa ex officio do Presidente da República, ou seja, trata-se de ato inserido em sua esfera de discricionariedade, desde que dentro das hipóteses desenhadas constitucionalmente. ↪ A fase de iniciativa e decreto (político) existe para todas as intervenções. ↪ Oitiva dos Conselhos da República e da Defesa Nacional 1832. O Presidente pede a opinião desses Conselhos, mas esta não o vincula. ↪ O próprio Presidente decreta a intervenção nessa espécie. Não há fase judicial, portanto, da iniciativa ao chegar ao decreto interventivo diretamente. Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para: I - Manter a integridade nacional; II - Repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra; III - Pôr termo a grave comprometimento da ordem pública; IV - Garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação; V - Reorganizar as finanças da unidade da Federação que: (alíneas) VI - Prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial; VII - Assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais: (alíneas) Intervencao Federal É preciso analisar os casos constitucionalmente descritos como configuradores da intervenção federal (CF, art. 34, I, II, III e V). → Provocada Subdivide-se a intervenção provocada em duas: por solicitação e por requisição. A provocação pode vir por meio de pedido (solicitação) ou por ordem (requisição). Nesta, o ato do Presidente é vinculado à requisição, não se lhe outorgando qualquer discricionariedade de apreciação. → Por solicitação: Trata-se da hipótese contemplada no inciso IV do art. 34, combinado com o art. 36, I, primeira parte. Cabe, portanto, para “garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação”, ou seja, quando coação ou impedimento recaírem sobre o Poder Legislativo ou o Poder Executivo, impedindo o livre exercício dos aludidos Poderes nas unidades da Federação, a decretação da intervenção federal, pelo Presidente da República, dependerá de solicitação do Poder Legislativo ou do Poder Executivo coacto ou impedido. → Por requisição: Trata-se da hipótese contemplada no inciso IV do art. 34, combinado com o art. 36, I, segunda parte. Em caso de desobediência à ordem ou decisão, trata-se do inciso VI do art. 34, combinado com o art. 36, II. Quando o Poder coacto for o Judiciário, ou seja, quando ocorrer desobediência à ordem ou decisão judiciária, é hipótese de intervenção federal provocada por requisição. O Judiciário cuja decisão ou ordem houver sido desacatada pode solicitar ao STF, ao STJ ou ao TSE e esses tribunais, se assim entenderem, requisitam ao Presidente da República a decretação da intervenção federal. Verifica-se que, em tal situação, embora envolvido o Judiciário, não se fala em fase judicial da intervenção. Mesmo a requisição de um daqueles Tribunais indicados ocorre apenas no âmbito administrativo. Os casos de intervenções normativas (inc. VII do art. 34). São intervenções provocadas, decorrentes de processo judicial promovido pela apresentação de uma ação direta no STF. Quando houver o não cumprimento, pelo Estado- membro, de lei federal, a Constituição prevê uma ação de executoriedade de lei federal. A legitimidade é exclusiva do Procurador-Geral da República, perante o STF (e não mais o STJ, por força da EC n. 45/2004). Julgada procedente a ação, o STF requisita ao Presidente da República que expeça decreto interventivo. O processamento e julgamento é a chamada fase judicial. O decreto terá duas finalidades, uma jurídica (pelo cumprimento da lei federal, suspendendo a executoriedade do ato que a contrariou), e, apenas se estritamente necessário for, uma consequência política (quando o Estado se nega a cumprir a lei federal). É aqui que será necessária a intervenção no campo fático, no autogoverno do Estado (intervenção na autonomia estadual). Portanto, na hipótese de solicitação pelo Executivo ou Legislativo, o Presidente da República não estará obrigado a intervir, possuindo discricionariedade para convencer-se da conveniência e oportunidade. Por outro lado, havendo requisição do Judiciário, não sendo o caso de suspensão da execução do ato impugnado (art. 36, § 3.º), o Presidente da República estará vinculado e deverá decretar a intervenção federal, sob pena de responsabilização. → Ação direta interventiva por violação dos princípios federativos sensíveis Quando há desrespeito aos princípios sensíveis (art. 34, VII), é cabível a representação interventiva. O Estado ou o DF, no uso de sua competência legislativa ou administrativa, desrespeita um princípio sensível. A CF permite, nesses casos, a ação direta de inconstitucionalidade interventiva. A ação foi regulamentada pela Lei n. 2.271, de 22 de julho de 1954, e Lei n. 4.337, de 1º de junho de 1964, bem como pelo Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal (atualmente recepcionadocomo lei ordinária). Os princípios sensíveis, no art. 34, VII, se feridos pelo Estado, em sua competência remanescente, ensejarão o cabimento da ação interventiva. Só o Procurador-Geral da República poderá deflagrar tal ação. Será proposta perante o STF Uma vez proposta a representação interventiva, consoante o art. 351, I, do Regimento Interno do STF, o Presidente desse Tribunal deverá realizar gestões para eliminar a causa do pedido de intervenção. Se resultar infrutífera a tentativa de “conciliação”, serão solicitadas, agora judicialmente, informações à autoridade apontada como responsável pela infringência de princípio sensível. Julgada procedente, o STF oficia o Presidente da República, requisitando a decretação da intervenção. Discute-se sobre o grau de vinculação do Presidente à decisão emanada da Corte Suprema. Para determinada corrente, o Chefe do Executivo é obrigado a decretar a intervenção. Outros autores adotam essa corrente com certos temperamentos, admitindo que o Presidente possa controlar a regularidade formal da decisão. Por fim, há quem entenda que o ato é político, dependente do Chefe do Executivo, que poderá averiguar da oportunidade e conveniência em decretar a intervenção ● DECRETAÇÃO E EXECUÇÃO DA INTERVENÇÃO FEDERAL E A OITIVA DOS CONSELHOS DA REPÚBLICA E DE DEFESA NACIONAL Compete privativamente ao Presidente da República decretar e executar a intervenção federal (art. 84, X) de forma espontânea ou mediante provocação. Referida intervenção materializa-se por decreto presidencial de intervenção que especificará a amplitude, o prazo e as condições de execução e que, se couber, nomeará o interventor, devendo ser submetido ao posterior controle político do Congresso Nacional no prazo de 24 horas, sendo que, se este não estiver funcionando, será feita convocação extraordinária, no mesmo prazo de 24 horas, pelo Presidente do Senado Federal (art. 57, §6.º, I). A Constituição ainda prevê a oitiva dos órgãos superiores de consulta do Presidente da República, quais sejam, o Conselho da República (art. 90, I) e o Conselho de Defesa Nacional (art. 91, § 1.º, II), mediante convocação do Presidente da República, que os presidirá (art. 84, XVIII), sem haver qualquer vinculação do Chefe do Executivo aos aludidos pareceres, que serão meramente opinativos. Conforme se observa, compete ao Conselho da República pronunciar-se sobre a intervenção federal (art. 90, I) e ao Conselho de Defesa Nacional opinar sobre a sua decretação (art. 91, § 1.º, II). Apesar de não haver prescrição constitucional expressa sobre o momento das consultas, nem mesmo legal, a grande maioria da doutrina entende que estas deverão ser prévias, pois não haveria sentido ouvir os órgãos de consulta depois de já implementada a medida → Poderia haver dispensa da oitiva dos Conselhos? A regra é a oitiva prévia dos Conselhos. Contudo, em situações excepcionalíssimas, de extrema urgência, diante de justificativas próprias e decorrentes de circunstâncias específicas dos fatos, pode ser possível a decretação da intervenção sem a oitiva dos Conselhos. Neste caso de urgente decretação, contudo, para se respeitar o comando constitucional que estabelece a indispensabilidade da oitiva dos Conselhos, esta, necessariamente, deverá ser posterior e no menor prazo possível, até porque os pareceres a serem emitidos poderão reorientar o decreto interventivo e, por que não, em momento seguinte, diante de novas situações fáticas que justifiquem, permitir a sustação da medida em nova apreciação política, sustentando-se aqui um contínuo controle político. A efetiva dispensa da oitiva dos Conselhos significaria a banalização da disposição constitucional, pois, do contrário, não teria sentido a sua previsão para essa finalidade específica nas situações de grave crise constitucional previstas na Constituição. ● AFASTAMENTO DAS AUTORIDADES ENVOLVIDAS Por meio do decreto interventivo, que especificará a amplitude, prazo e condições de execução, o Presidente da República nomeará (quando necessário) interventor, afastando as autoridades envolvidas. Cessados os motivos da intervenção, as autoridades afastadas de seus cargos a estes voltarão, salvo impedimento legal (art. 36, § 4.º). A intervenção do Estado em Município de seu território encontra-se prevista constitucionalmente no art. 35. Quem intervém no Município é sempre o Estado, com a exceção do Município que está dentro de território, caso em que intervirá a União. Também é ato político, só que agora do Governador do Estado. É a antítese da autonomia municipal. Só pode ocorrer nas quatro hipóteses taxativamente previstas. É, também, medida excepcional. A decretação e execução da intervenção estadual é de competência privativa do Governador de Estado, por meio de decreto de intervenção, que especificará a amplitude, o prazo e as condições da execução e, quando couber, nomeará o interventor. Art. 91. O Conselho de Defesa Nacional é órgão de consulta do Presidente da República nos assuntos relacionados com a soberania nacional e a defesa do Estado democrático, e dele participam como membros natos: § 1º Compete ao Conselho de Defesa Nacional: II - opinar sobre a decretação do estado de defesa, do estado de sítio e da intervenção federal; Art. 90. Compete ao Conselho da República pronunciar-se sobre: I - intervenção federal, estado de defesa e estado de sítio. Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos Municípios localizados em Território Federal, exceto quando: I - deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por dois anos consecutivos, a dívida fundada; II - não forem prestadas contas devidas, na forma da lei; III - não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde; IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representação para assegurar a observância de princípios indicados na Constituição estadual, ou para prover a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial. Intervencao ESTADUAL ● ESPÉCIES DE INTERVENÇÃO ESTADUAL → Intervenção espontânea: Trata-se de intervenção ex officio do Governador (casos dos incs. I a III): 1º dívida fundada, não paga por dois anos consecutivos; 2º não prestadas contas na forma da lei; 3º não aplicado o percentual mínimo para a educação. → Intervenção provocada Existem três hipóteses de intervenção estadual provocada (inc. IV): 1ª Não dar provimento de ordem ou decisão judicial. O TJ requisita a intervenção. Guarda parâmetro com a intervenção federal (decreto); 2ª Não dar cumprimento à lei. Pode haver a chamada ação de executoriedade de lei em nível estadual, proposta pelo Procurador-Geral de Justiça no TJ, a que se der provimento, requisita ao Governador a intervenção (decreto); 3ª Ação direta de inconstitucionalidade interventiva estadual. Quando o TJ der provimento a representação para assegurar a observância de princípios indicados pela Constituição do Estado (decreto). Indaga-se quais seriam os princípios que a Constituição Federal poderia adotar, controvertendo-se sobre a necessidade de manter certa simetria com os princípios indicados na Constituição Federal. O Procurador-Geral de Justiça ingressa com a ação no TJ que se julgar procedente, requisita ao Governador que decrete a intervenção. Tal decreto terá dois efeitos: o jurídico e o político. Se bastar o efeito jurídico, a intervenção cessa. A Súmula 614 do STF, interpretando o art. 35, IV, estabelece que a legitimidade para a ação interventiva estadual é do Procurador-Geral de Justiça. A razão é que a estrutura da Constituição estadual deve guardar similitude com a estrutura da cb, e nesta só o Procurador-Geral é que pode ingressar com a ação interventiva. Portanto, no Estado, só o Procurador-Geral de Justiça é que poderá. ● CONTROLE POLITICO NAS INTERVENÇÕESNOS MUNICÍPIOS Só não haverá o controle político nas hipóteses do art. 35, IV. Só vale, portanto, nas intervenções espontâneas do Governador (I, II, III). Em 24 horas tem de ser convocada a Assembleia Legislativa, que terá de deliberar sobre a intervenção. Como a Constituição não diz nada, será por maioria simples (vale a regra geral do art. 47). Se ela não concordar com a intervenção, por decreto legislativo esta cessa, automaticamente, e os efeitos da cessação são ex nunc. Se o Governador desrespeitar a cessação decretada pela Assembleia Legislativa, a consequência é dupla: ↪ 1º será responsabilizado por infração administrativa. É crime de responsabilidade, julgado pelo Tribunal Especial dos arts. 48 e 49 da Constituição estadual, composto de 15 membros, sendo 7 Deputados Estaduais (eleitos para tanto), 7 desembargadores (por sorteio do órgão especial), presididos pelo Presidente do TJ, e desde que haja licença de 2/3 da Assembleia Legislativa; ↪ 2º desrespeitando tal decreto, o Governador estará desrespeitando a autonomia municipal, sem autorização constitucional para tanto, e tal autonomia é um princípio sensível. Com isso, dá ensejo à intervenção federal no Estado (pelo art. 34, VII, c).
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