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Lesão do tecido saudável pela resposta imune APRESENTAÇÃO Eventualmente, o nosso sistema imune engana-se e inicia respostas exageradas a antígenos inofensivos (hipersensibilidade) ou a elementos próprios (autoimunidade). Dentre as doenças mais representativas, dá-se grande destaque ao lúpus eritematoso sistêmico, doenças reumáticas, esclerose múltipla e diabetes tipo 1. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Contrastar as reações hipersensíveis às autoimunes;• Identificar os mecanismos que levam às reações autoimunes;• Indicar as principais doenças autoimunes.• DESAFIO A Artrite Reumatoide é uma doença crônica, inflamatória, cuja principal característica é a inflamação das articulações. Relacione os principais efeitos ambientais que podem levar ao surgimento dessa enfermidade. Acesse: Cartilha Artrite Reumatoide INFOGRÁFICO Veja o material que reúne uma série de lesões do tecido saudável que foram causadas pela resposta imune inadequada. https://www.reumatologia.org.br/download/artrite-reumatoide-2/ CONTEÚDO DO LIVRO As doenças conhecidas como doenças autoimunes e muitos tipos diferentes têm sido descritos. Elas não são raras; aproximadamente 5% da população dos países desenvolvidos apresentam uma ou mais dessas condições, e a sua incidência está aumentando. As doenças autoimunes podem ser causadas por anticorpos, que alteram a função fisiológica normal, ou por células T inflamatórias, que danificam as células ou os tecidos sadios, a uma taxa que está além da capacidade de reparo do organismo. Quando o tecido-alvo está envolvido em funções rotineiras essenciais, a doença autoimune pode se tornar uma ameaça para a vida. Para conhecer mais sobre este assunto, leia o capítulo selecionado "Lesão do tecido saudável pela resposta imune" presente na obra O Sistema Imune de Peter Parham (Artmed, 2011). �������� ��� �� ����������� ���� ��� Catalogação na publicação Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052 P229s Parham, Peter. O sistema imune [recurso eletrônico] / Peter Parham ; [tradução: Christian Viezzer ... et al.] ; revisão técnica: Denise Cantarelli Machado. – 3. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2011. Editado também como livro impresso em 2011. ISBN 978-85-363-2678-8 1. Imunologia. 2. Sistema imune. I. Título. CDU 577.27 Equipe de tradução: Christian Viezzer (Cap. 8) Biólogo. Mestre em Engenharia e Tecnologia de Materiais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Doutorando em Engenharia de Minas, Metalúrgica e Materiais – UFRGS. Denise C. Machado (Cap. 5, 6, 7, 11 e 16, iniciais, respostas, índice) Bióloga. Mestre em Genética – UFRGS. Doutora em Imunologia pela University of Sheffield, UK. Professora da Faculdade de Medicina e pesquisadora do Instituto de Pesquisas Biomédicas – PUCRS. Florencia María Barbé-Tuana (Cap. 14 e 15) Bioquímica. Mestre e doutora em Ciências Médicas: Nefrologia Básica – UFRGS. Gaby Renard (Cap. 10) Médica veterinária. Mestre e doutora em Ciências Biológicas: Bioquímica – UFRGS. Pesquisadora da Quatro G Pesquisa e Desenvolvimento Ltda, TECNOPUC. Lucien Peroni Gualdi (Cap. 9 e 12, glossário) Fisioterapeuta. Mestre e doutoranda em Pediatria e Saúde da Criança – PUCRS e Nationwide Children’s Hospital, Ohio State University. Paula Müssnich de Freitas (Cap. 13) Bióloga. Mestre e doutoranda em Gerontologia Biomédica – PUCRS e Università degli Studi di Napoli Federico II. Rivo Fischer (Cap. 1, 2, 3 e 4) Mestre e doutor em Genética e Biologia Molecular pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Vimos como a hipersensibilidade aos antígenos inócuos do meio ambiente leva à doença aguda ou crônica, dependendo do tipo de antígeno e da frequência de expo- sição a ele (ver Capítulo 12). Neste capítulo, outro conjunto de doenças crônicas será considerado, aquelas doenças causadas pela imunidade adaptativa que se tornam erroneamente dirigidas às células e aos tecidos sadios do organismo. As doenças conhecidas como doenças autoimunes e muitos tipos diferentes têm sido descritos. Elas não são raras; aproximadamente 5% da população dos países desenvolvidos apresentam uma ou mais dessas condições, e a sua incidência está aumentando. As doenças autoimunes podem ser causadas por anticorpos, que alteram a função fisiológica normal, ou por células T inflamatórias, que danificam as células ou os tecidos sadios, a uma taxa que está além da capacidade de reparo do organismo. Quando o tecido-alvo está envolvido em funções rotineiras essenciais, a doença au- toimune pode se tornar uma ameaça para a vida. As doenças autoimunes são causadas por respostas imunes adaptativas indeseja- das, representam falhas no mecanismo que mantém a autotolerância – impede o ataque às próprias células ou tecidos – nas populações de células B e T circulantes. Apesar de se saber muito a respeito dos efeitos das doenças autoimunes, pouco se sabe sobre os eventos que interrompem a tolerância e causam a resposta autoimu- ne. A primeira parte deste capítulo descreve algumas das doenças autoimunes mais comuns; a segunda parte discute alguns dos fatores para predisposição a doenças autoimunes e como eles podem levar a uma interrupção da tolerância e levar à doença. Doenças autoimunes Existem muitas doenças crônicas nas quais o sistema imune está ativo, com fre- quência fazendo com que o tecido afetado torne-se inflamado e anormalmente in- filtrado por linfócitos e outros leucócitos, mas no qual parece não haver infecção ati- va associada. Essas doenças são causadas pelo próprio sistema imune que ataca as células e os tecidos do organismo como se eles estivessem infectados, causando um comprometimento crônico dos tecidos e das funções dos órgãos. As doenças crôni- cas desse tipo são coletivamente conhecidas como doenças autoimunes, porque são causadas pelas respostas imunes dirigidas para o componente autólogo (próprio) do organismo. A resposta imune que produz uma doença autoimune é chamada de resposta autoimune e produz um estado de autoimunidade. As doenças autoimunes variam amplamente em relação aos tecidos que atacam e aos sintomas que causam. Algumas são localizadas em um determinado tipo celu- lar ou órgão, outras atacam sistemicamente. Na maioria das doenças autoimunes, a Capítulo 13 Lesão do tecido saudável pela resposta imune 400 Peter Parham incidência difere entre homens e mulheres, sendo as mulheres mais frequentemen- te afetadas. Uma característica típica dessas doenças é a presença de anticorpos e células T específicas para antígenos expressos pelo tecido-alvo. Estes antígenos são denominados autoantígenos e são um subtipo de antígenos próprios; os efetores da imunidade adaptativa que os reconhecem são conhecidos como autoanticorpos e células T autoimunes. O mecanismo de reconhecimento do antígeno e das funções efetoras na autoimunidade são os mesmos que aqueles usados para responder aos patógenos e aos antígenos ambientais; as respostas são prejudiciais devido a uma variedade de mecanismos efetores imunes. 13-1 Em indivíduos saudáveis, o sistema imune é tolerante aos antígenos próprios Ao longo do capítulo anterior, encontramos mecanismos que impedem as cé- lulas e os tecidos saudáveis do organismo de estimular a resposta imune ou de serem atacados pelos mecanismos efetores da resposta imune. Juntamente, es- ses mecanismos tornam o sistema imune autotolerante. As proteínas reguladoras no sangue e nas superfícies celulares impedem a fixação do complemento nas células humanas e o reconhecimento de moléculas da imunidade inata que fo- ram selecionados, há mais de cem milhões de anos, para distinguir componentes microbianos de componentes humanos (ver Capítulo 2). Para as células B e as células T da imunidade adaptativa, que aleatoriamente evoluíram novos recep- tores a todo momento, há uma grande variedade de mecanismos que eliminam ou inibem as células que expressamreceptores reativos aos antígenos próprios (Figura 13.1). A seleção negativa das células T no timo e das células B na medula óssea elimina os linfócitos portadores de receptores autorreativos antes que eles possam deixar os órgãos linfoides primários – o fenômeno de tolerância central (ver Capítulos 6 e 7). A eficiência da tolerância central é aumentada por proteínas tecido-específicas que participam da seleção negativa no timo, por meio da atividade do fator de transcri- ção AIRE (ver Seção 7-12, p. 202). Estas células autorreativas que escapam da dele- ção pela tolerância central e entram na circulação periférica podem se tornar não responsivas por meio da indução de um estado de anergia ou por meio da supressão ativa pelas células T reguladoras. Outro método que impede que a resposta imune seja produzida contra alguns antígenos próprios é que eles podem ser sequestrados para os sítios imunologi- camente privilegiados, que não são acessíveis aos leucócitos circulantes. Os exem- plos destes sítios são o cérebro, os olhos e os testículos. Durante a gravidez, o útero é um sítio imunologicamente privilegiado, onde o feto não é exposto aos leucóci- tos maternos. Na evolução dos mamíferos para reprodução placentária, esta foi uma necessidade, pois as células fetais expressam moléculas do HLA de classe I e II paternas, contra as células B e T maternas que têm o potencial de realizar uma forte resposta alorreativa. 13-2 Doenças imunes são causadas pela perda da tolerância aos antígenos próprios Sempre que as células efetoras e as moléculas do sistema imune entram em um teci- do infectado para combater um patógeno, há uma inevitável destruição das células não infectadas e lesão dos tecidos saudáveis. Uma considerável extensão de sinto- mas e patologia das doenças infecciosas é devido às atividades do sistema imune e não do patógeno, e muitos dos medicamentos que tomamos para aliviar os sinto- mas da doença são para inibir a inflamação e outras reações imunes. Normalmente, após eliminação bem-sucedida do patógeno, a resposta inflamatória é eliminada e as células T efetoras também morrem ou são inativadas para tornarem-se células de memória. No local da infecção, as células mortas e os restos celulares serão removi- dos, e o tecido reconstruído, processos nos quais as células do sistema imune, como os macrófagos e as células T γ:δ, estão intimamente envolvidas. Mecanismos que contribuem para a autotolerância imunológica Seleção negativa na medula óssea e no timo Expressão de proteínas tecido-específicas no timo Os linfócitos não têm acesso a alguns tecidos Supressão das respostas autoimunes pelas células T reguladoras Indução de anergia nas células B e T autorreativas Figura 13.1 Mecanismos que contri- buem para a autotolerância imuno- lógica. O Sistema Imune 401 As doenças autoimunes ocorrem quando alguns aspectos da autotolerância são perdidos, e a resposta imune adaptativa é direcionada contra os componentes nor- mais do organismo humano saudável. Em essência, a resposta luta para eliminar os antígenos-alvo do organismo e, até que esse objetivo seja atingido, o paciente mor- re ou ocorre uma inflamação crônica e infiltração de linfócitos nos tecidos onde os antígenos-alvo são expressos. Isso interfere profundamente com a função do tecido. Embora os mecanismos reguladores do sistema imune respondam a esta situação e possam promover um alívio temporário entre os episódios da doença, as doen- ças autoimunes são raramente resolvidas ou curadas. Elas são doenças crônicas nas quais a resposta imune permanece suspensa na sua fase destrutiva e nunca chega à reconstituição. 13-3 Mecanismos efetores da autoimunidade lembram aqueles que causam as reações de hipersensibilidade Assim como as reações de hipersensibilidade descritas no Capítulo 12, as doenças autoimunes podem ser classificadas de acordo com o tipo de mecanismo efetor imunológico que causa a doença (Figura 13.2). Três tipos de doenças autoimunes correspondem à hipersensibilidade do tipo de II, III e IV. Nenhuma doença autoi- mune é causada por IgE, a fonte das reações de hipersensibilidade do tipo I. As doenças autoimunes correspondentes à hipersensibilidade do tipo II (ver Seção 12-17, p. 386) são causadas por anticorpos dirigidos contra os componentes da su- perfície celular ou da matriz extracelular. Aqueles correspondentes à hipersensibili- dade do tipo III (ver Seção 12-19, p. 389) são causados pela formação de complexos imunes solúveis que se depositam nos tecidos, e aqueles correspondentes à hiper- sensibilidade do tipo IV (ver Seção 12-22, p. 392) são causados por células T efetoras. As doenças autoimunes desses três tipos estão descritas na Figura 13.2. A autoimunidade correspondente à reação de hipersensibilidade do tipo II é fre- quentemente dirigida contra as células sanguíneas. Na anemia hemolítica autoi- mune, os anticorpos IgG e IgM se ligam aos componentes da superfície dos eritró- citos, onde ativam o complemento pela via clássica, desencadeando a destruição das hemácias. A ativação completa da via clássica leva à formação do complexo de ataque à membrana e hemólise – lise das hemácias. Alternativamente, os eritróci- tos revestidos com anticorpos e C3b são eliminados da circulação, principalmente pelos receptores de Fc e receptores do complemento nos fagócitos do baço (Figura 13.3). Todos os mecanismos levam a uma redução na contagem das hemácias. Essa condição é denominada anemia, um termo derivado da palavra grega que significa “sem sangue”. Os leucócitos também podem ser alvo dos autoanticorpos e da ativação do comple- mento. Como as células nucleadas são menos suscetíveis que os eritrócitos à lise mediada pelo complemento, o principal efeito da ativação do complemento é faci- litar a eliminação dos leucócitos no baço mediada pelos fagócitos. Os pacientes que produzem anticorpos contra os antígenos de superfície dos neutrófilos apresentam números reduzidos de neutrófilos circulantes, um estado denominado neutrope- nia. As células sanguíneas que apresentam anticorpo e complemento ligados ainda são capazes de funcionar, de modo que o tratamento usado para pacientes com au- toimunidade crônica contra as células sanguíneas é a esplenectomia, que reduz a velocidade na qual as células opsonizadas são eliminadas do sangue. As respostas de anticorpos contra os componentes da matriz extracelular são raras, mas podem ser muito nocivas quando ocorrem. Na síndrome de Goodpasture, a IgG é produzida contra a cadeia α3 do colágeno tipo IV, o colágeno encontrado nas membranas basais de todo o organismo. Os anticorpos se depositam ao longo das membranas basais dos glomérulos e dos túbulos renais, desencadeando uma res- posta inflamatória no tecido renal (Figura 13.4). Essas membranas basais são parte essencial do mecanismo renal de filtração sanguínea e, à medida que IgG e as célu- las inflamatórias se acumulam, a função renal torna-se progressivamente reduzida, levando à insuficiência renal e à morte, se não for tratada. O tratamento envolve a troca de plasma para remover os anticorpos existentes e os fármacos imunossupres- 402 Peter Parham sores para prevenir a formação de novos anticorpos. Embora os autoanticorpos se- jam depositados nas membranas basais de outros órgãos, a alta pressão de filtragem do sangue pelos glomérulos renais é a função vital mais sensível aos seus efeitos. Na verdade, a lesão renal pelo sistema imune é responsável por um quarto de todos os casos de falência renal terminal. A glomerulonefrite também pode ser uma consequência de doenças autoimunes que produzem complexos imunes solúveis, como nas reações de hipersensibilida- de do tipo III. Na doença lúpus eritematoso sistêmico (LES), a IgG produzida con- tra macromoléculas intracelulares comuns forma complexos solúveis com esses Figura 13.2 Uma seleção de doenças autoimunes, os sintomas que elas cau- sam e os autoantígenos associados à resposta imune. As doenças autoimunes são classificadasnos tipos II, III e IV, pois os efeitos da lesão tecidual são similares àqueles das reações de hipersensibilidade do tipo II, III e IV (Capítulo 12). (snRNP, ribonucleoproteína nuclear pequena; scRNP, ribonucleoproteína citoplasmática pequena.) Doença de Graves Miastenia grave Diabetes tipo 2 (diabetes resistente à insulina) Hipoglicemia Receptor do hormônio estimulante da tireoide Receptor de acetilcolina Receptor de insulina (antagonista) Receptor de insulina (agonista) Hipertireoidismo Hiperglicemia, cetoacidose Hipoglicemia Antígenos da parede celular estreptocócica. Os anticorpos fazem reação cruzada com o músculo cardíaco Anemia hemolítica autoimune Púrpura trombocitopênica autoimune Pênfigo vulgar Febre reumática aguda Integrina plaquetária gpIIb: IIIa Caderina epidérmica Destruição das hemácias pelo complemento e fagócitos, anemia Sangramento anormal Formação de bolhas na pele Artrite, miocardite, fibrose tardia das válvulas cardíacas Glomerulonefrite, hemorragia pulmonar Fraqueza progressiva Síndrome de Goodpasture Domínio não colagenoso do colágeno tipo IV da membrana basal Antígenos do grupo sanguíneo Rh, antígeno I Diabetes tipo 1 (diabetes melito dependente de insulina) Artrite reumatoide Esclerose múltipla Antígeno de células β-pancreáticas Antígeno desconhecido da articulação sinovial Proteína básica da mielina, proteína proteolipídeo AutoantígenoDoença autoimune Anticorpo contra antígenos da superfície celular ou da matriz (tipo II) Consequência Destruição das células β Inflamação e destruição articular Degeneração cerebral, paralisia Doença mediada por células T (tipo IV) Doença por complexos imunes (tipo III) Endocardite bacteriana subaguda Crioglobulinemia essencial mista Lúpus eritematoso sistêmico Antígeno bacteriano Complexos de IgG para o fator reumatoide (com ou sem antígenos da hepatite C) DNA, histonas, ribossomas, snRNP, scRNP Glomerulonefrite Vasculite sistêmica Glomerulonefrite, vasculite, artrite O Sistema Imune 403 autoantígenos quando eles são liberados das células danificadas. A glomerulone- frite causada pela deposição de complexos imunes nos capilares sanguíneos dos glomérulos renais pode levar à morte. A imunidade mediada por células T do tipo observado nas reações de hipersensibilidade do tipo IV é responsável pelo dano causado ao pâncreas no diabetes tipo 1 (também conhecido como diabetes meli- to dependende de insulina, ou DMDI), às articulações na artrite reumatoide e ao cérebro na esclerose múltipla. Todas essas três doenças, assim como o LES, serão descritas em mais detalhes nas seções posteriores. 13-4 As glândulas endócrinas contêm células especializadas que são alvos da autoimunidade órgão-específica As propriedades características das glândulas endócrinas tornam-as particular- mente suscetíveis ao envolvimento nas doenças autoimunes. Primeiro, a função de uma glândula endócrina, a síntese e secreção de um determinado hormônio, envolve proteínas específicas do seu tecido, que não são expressas em outras células ou tecidos. Segundo, como elas secretam seus hormônios na circulação sanguínea, o tecido endócrino é bem vascularizado, o que facilita as interações com as células e as moléculas do sistema imune. A perda da função endócrina tem Figura 13.3 Três mecanismos destro- em as hemácias na anemia hemolítica autoimune. Figura 13.4 Autoanticorpos específicos para o colágeno tipo IV reagem com a membrana basal do glomérulo renal, causando a síndrome de Goodpasture. Os quadros mostram secções do corpús- culo renal em biópsia seriada retirada de um paciente com síndrome de Goodpasture. No quadro a, o glomérulo é corado por imunofluorescência detectando a deposição de IgG. Anticorpos contra a membrana basal glomerular são depositados de forma linear (corados em verde) ao longo da membrana basal glomerular. Os autoanticorpos causam a ativação local das células portadoras dos receptores Fc, a ativação do complemento e o influxo de neutrófilos. O quadro b mostra a coloração com hematoxilina e eosina de uma secção do corpúsculo renal, mostrando que o glomérulo é comprimido pela formação de uma crescente (C) proliferação de células mononucleares dentro da cápsula de Bowman (B) e que há um influxo de neutrófilos (N) para a zona glomerular. Imagens cortesia de M. Thompson e D. Evans. Ativação do complemento e células CR1+ no baço Fagocitose e destruição dos eritrócitos Fagocitose e destruição dos eritrócitos Células FcR+ no baço Lise e destruição dos eritrócitos Ativação do complemento e hemólise intravascular Os eritrócitos ligam os autoanticorpos antieritrócitos E a b C BN C BN Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. DICA DO PROFESSOR Acompanhe agora as dicas do professor! Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Qual o mecanismo falho que dá origem ao processo autoimune? A) a) Seleção positiva no timo B) b) Seleção duplo positiva no timo C) c) Seleção negativa no timo D) d) Hematopoiese na medula óssea E) e) Apresentação de antígenos por APC 2) Quais os anticorpos envolvidos nos processos destrutivos da anemia hemolítica autoimune? A) a) IgD e IgG B) b) IgM e IgD C) c) IgA e IgG D) d) IgA e IgM E) e) IgG e IgM 3) Na _____________, a resposta autoimune está focalizada na produção de anticorpos e os sintomas são causados por anticorpos que se ligam ao receptor do TSH. Mimetizando o ligante natural, os anticorpos ligados causam uma superprodução crônica de hormônios da tireoide. A) a) Doença de graves B) b) Doença de Hashimoto C) c) Síndrome de Goodpasture D) d) Pênfigo Vulgar E) e) N.D.A. 4) Em pacientes com diabetes tipo 1, as respostas de anticorpos e de células T são produzidas contra a insulina, a descarboxilase do acido glutâmico e outras proteínas especializadas da célula β pancreática. Ainda não se sabe qual destas respostas causa a doença. Acredita-se que as células _____ específicas para algumas proteínas exclusivas das células β mediam sua destruição, reduzindo gradualmente o número de células secretoras de insulina. A) a) β B) b) Linfócito B C) c) T CD4 D) d) T CD8 E) e) Natural Killer 5) Lisa Montague, dezessete anos, pratica piano de 3 a 4 horas por dia enquanto se prepara para audição da faculdade de música. Algumas de suas peças exigem atividade muscular com os braços sustentado, e ela começou a encontrar dificuldade em tocar, embora anteriormente tenha tido facilidade para isso. Quando também começou a ter dificuldade de deglutição e mastigação, ela avisou à mãe, que a levou para a emergência, onde o médico percebeu as pálpebras caídas e limitação da motilidade ocular. Um eletromiograma detectou uma deficiência de transmissão do nervo ao músculo. A administração de piridostigmina melhorou rapidamente os sintomas de Lisa. Qual dos seguintes resultados dos testes sanguíneos seria mais coerente com a sua condição? A) a) Fator reumatoide elevado B) b) Anticorpos antiproteína básica da mielina elevados C) c) Anticorpos antirreceptor da acetilcolina elevados D) d) Domínio não colagenoso do colágeno tipo IV da membrana basal E) e) Anticorpos anti-Rh elevados NA PRÁTICA O gene regulador autoimune AIRE promove a expressão de alguns antígenos tecido- específicos em células medulares tímicas, causando a deleção de timócitos imaturos que podem reagir a esses antígenos. Apesar de o timo expressar muitos genes e, assim, proteínas próprias, comuns a todas as células, não está claro como antígenos que são específicos a tecidos especializados, como a retina ou o ovário (primeira figura), acessam o timo para promover a seleção negativa de timócitos autorreativos imaturos. Recentemente, descobriu-se que um gene chamado AIRE promove a expressão de muitas proteínas tecido-específicasem células medulares tímicas. Alguns timócitos em desenvolvimento serão capazes de reconhecer esses antígenos tecido-específicos (segunda figura). Peptídeos dessas proteínas são apresentados a timócitos em desenvolvimento e sofrem seleção negativa no timo (terceira figura), causando a deleção dessas células. Na ausência de AIRE, essa deleção não ocorre, e, em vez disso, os timócitos autorreativos amadurecem e podem ser exportados para a periferia (quarta figura), onde podem causar doença autoimune. Além disso, pessoas e camundongos que falham em expressar AIRE desenvolvem uma síndrome autoimune chamada APECED, ou poliendocrinopatia autoimune, candidíase, distrofia ectodérmica. SAIBA + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Leia o capítulo "Autoimunidade e Transplante" do livro MURPHY, Kenneth. Imunobiologia de Janeway, 8th Edition. ArtMed, 01/2014. Também leiam da página 406 à 412 da obra PARHAM, Peter. O Sistema Imune. 3rd Edition. AMGH, 01/2011. Tratamento do pênfigo vulgar oral com corticosteróides tópico e sistêmico associados a dapsona e pentoxifilina. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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